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A Abelha

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A Abelha 
 
Lições de uma Apicultora por Acaso. 
 
 
C. Marina Marchese 
 
Ilustrações por Elara Tanguy 
 
 
 
 
 
 
Tradução C. A. Osowski 
 
 
M. Marchese 5 
 
 
 
 
Índice 
Índice ...................................................................................................................5 
Agradecimentos ..................................................................................................7 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................9 
I - Minha Vida como Abelha Operária ............................................................13 
II - Tornando-me Apicultora............................................................................17 
III - Apiologia: O Estudo das Abelhas ...............................................................29 
IV - Fundamentos da Apicultura......................................................................45 
V - Chegou a Rainha com suas Súditas ..........................................................53 
VI - Minhas Primeiras Observações como Apicultora Novata............................61 
VII - Apicultura e Mel Através da História. ........................................................73 
VIII - Da Colméia para a Mesa: Produzindo e Colhendo o Mel ............................83 
IX - Aula Magistral sobre Apicultura. ...............................................................93 
X - Abelhas no Outono: Preparação para o Inverno.......................................105 
XI - Apiterapia: Como as Abelhas Curam .......................................................121 
XII - Tudo Sobre Mel .......................................................................................129 
XIII - O Degustador de Mel: o Sabor do Mel......................................................139 
 
 
 
M. Marchese 7 
 
Agradecimentos 
Gratidão, elogios e reconhecimento para as seguintes pessoas 
com as quais tive o prazer de aprender e com as quais trabalhei 
nesta jornada pessoal: 
Meu representante, Coleen O'Shea, e sua parceira de negócio, 
Marilyn Allen, ambos foram abelhas-voluntárias desde o início deste 
projeto. Fico devendo ao autor Claire Garcia, por seu entusiasmo e 
aconselhamento e a Connie Pappas por instigar minha motivação. 
Becky Koh, editor extraordinário, que destemidamente me acom-
panhou até a colméia e também extraiu 10 kilogramas de mel. Sua 
orientação, revisão e visão brilhantes levaram meus conceitos à per-
feição. Muito obrigado! 
J. P. Laventhal que entendeu minha paixão pelas abelhas e todos 
de Black Dog & Leventhal que contribuíram para tornar este projeto 
um sucesso, incluindo Liz Hartman, diretor de comercialização e 
publicidade; Judy Courtade, diretor de vendas e True Sims, gerente 
de produção. Bem como a Susi Oberhelman pela maravilhosa edito-
ração do livro e Elara Tanguy pelas charmosas ilustrações. 
Howland Blackinston, que me acompanhou nos meus primeiros 
passos pelo mundo mágico das abelhas. Seus conselhos e espírito 
criativo foram a inspiração para este trabalho. Grazie Mille! 
À comunidade dos amáveis apicultores que encontrei em minhas 
andanças por este país e pelo mundo, que abriram suas colméias e 
generosamente compartilharam comigo sua admiração pelas abe-
lhas. À Back Yard Beekeepers Association e seus membros por me 
aceitar em sua colméia e enriquecer minha caminhada. A Apithe-
rapy Society, por me ensinar como as abelhas curam. Kim Flotum 
da revista Bee Culture, que me incentivou a escrever. Aos mestres 
apícolas Ann Harmon e Alan Lorenzo, terapeutas com veneno de 
abelha que leram e revisaram. Aos juizes de mel Robert Brewer e 
Michael Young, ambos despertaram minha reverência pelo mel. Bill 
e Royal Draper, por responderem todas minhas perguntas. Giovanni 
e Francesco da Bottega della Api, Siete molto gentili. Joe da Puglia 
Wine Imports. 
Vic, que pacientemente leu, perdeu as férias e alongou meu prazo 
final, ainda não enxameou e continua a criar abelhas. Minha irmã 
Nicole por ler. Minha irmã Andrea por envasar mel. Minha Mãe por 
suas receitas com mel, e meu pai, que agora é um verdadeiro apre-
ciador de mel. Sarah, meu grande e límpido copo de água. E, Brave! 
A todos os trabalhadores da Red Bee Honey que mantiveram a col-
8 A Abelha 
méia zunindo para eu poder escrever. 
Apicultores especiais, chefes e fiéis amantes do mel que me apoi-
aram generosamente ao longo do caminho. Muito obrigado, Nick, 
Taylor, Amy do Murray's Cheese; Erin do Artisanal Premium Cheese 
Center; Julian e Lisa Niccolini da The Four Seasons; e Marty Vaz da 
Speak Easy Cocktails. 
 
 
 
 
 
 
M. Marchese 9 
 
INTRODUÇÃO 
Meu Doce Encontro com as Abelhas 
 
Ainda que eu tenha sido apicultora por muito tempo, nunca es-
quecerei minha primeira prova de mel fresco direto da colméia. A 
cerca de dez anos um vizinho, Sr. B, convidou-me para visitar seu 
apiário a fim de conhecer suas abelhas. Fiquei apreensiva com o 
convite. Disse para mim "Sem dúvida, gosto de mel, mas não tenho 
tanta certeza se gosto de abelhas." Vi-me repentinamente rodeada 
por um enxame de centenas de abelhas zunindo. A idéia deixou-me 
em pânico, como penso deixa a maioria das pessoas. Contudo, es-
tava pronta para uma nova aventura, assim aceitei o convite do Sr. 
B. 
Era uma manhã perfeita de primavera quando apareci na casa do 
Sr. B para conhecer suas abelhas. No quintal de sua casa existiam 
três caixas altas que se pareciam com arquivos pintados de branco. 
Eram suas colméias. Assim que o Sr. B me cumprimentou ele me 
alcançou uma máscara de apicultor para vestir a fim de me prote-
ger. Em seguida ele vestiu sua própria máscara e caminhou em di-
reção das colméias. Enquanto o seguia, com o coração em sobres-
salto, ele explicou que as abelhas, embora dóceis, eram também 
criaturas muito curiosas. Elas gostavam de entrar em cantos e fen-
das e sobre nossas roupas. A máscara impedia que elas ferroassem 
nossa face. "Ferroar nossas faces?" Surpreendi-me de onde havia 
me metido. Assim que chegamos junto das colméias, eu já estava 
tremendo. O Sr. B acendeu o fumegador, um pequeno recipiente 
metálico um pouco parecido com um bule de café, e soprou algu-
mas baforadas de fumaça na entrada da primeira colméia. Em se-
guida ele levantou a cobertura para soprar fumaça diretamente 
dentro da colméia. Ele me explicou que a fumaça acalma as abelhas 
e as distrai de nossa presença. 
Em seguida ele removeu, com cuidado, a tampa da colméia e a 
colocou sobre o gramado. Espichei meu pescoço para perscrutar o 
interior, cuidando para não me aproximar demais. Centenas, talvez 
milhares, de abelhas fervilhavam no topo dos dez quadros de ma-
deira perfeitamente posicionados que pendiam verticalmente dentro 
da caixa. Fiquei completamente surpresa e relaxei ao ver que as a-
10 A Abelha 
belhas realmente eram um tanto calmas. Com suas mão sem luvas, 
o Sr. B removeu lentamente um quadro de madeira coberto de abe-
lhas. Maravilhada observei como as abelhas caminhavam pelos 
seus dedos, depois por suas mãos e sobre suas mangas. O Sr. B 
não dava a mínima. "Estas são abelhas Italianas," disse ele. Tive de 
sorrir. Como eu sou descendente de Italianos, agradou-me a idéia 
de abelhas Italianas. Não sei porque pensei em dizer a meus ami-
gos, "Eu crio abelhas Italianas." 
O Sr. B inspecionou o quadro e mostrou os diferentes tipos de 
abelhas: a abelha operária que recolhe néctar e produz mel e as a-
belhas macho, zangões, cuja função primordial é copular com a 
princesa. Ele me disse que existe uma rainha em cada colméia e 
que todas as atividades da colméia giram em torno de sua postura 
de ovos. 
Quando o Sr. B disse ser minha vez de segurar o quadro, eu re-
cuei. Mas o manuseio cuidadoso que ele devotava às abelhas eo 
comportamento calmo das abelhas de alguma forma deu-me cora-
gem a aceitar o quadro com minhas mãos sem luvas. As abelhas es-
tavam por todo lugar - dúzias delas caminhando sobre meus dedos 
e subindo em minhas mangas. Respirei fundo e segurei o quadro 
firmemente de modo a não fazer nenhum movimento brusco e per-
turbar as abelhas. "Eu posso fazer isso," disse a mim mesma. "Não 
estou com medo." 
Assim que apanhei o quadro, o Sr. B comentou sobre o favo per-
feitamente formado, feito de cera, que enchia o centro do quadro. O 
favo é o local onde a rainha depositava seus ovos e as operárias ar-
mazenam pólen e mel. Quando segurei o quadro contra a luz do sol, 
o favo pareceu como uma bela janela de vidro colorido. O Sr. B co-
locou seu dedo sobre os alvéolos em forma de hexágono. Dos alvéo-
los saiu um líquido âmbar que escorreu favo abaixo. O Sr. B colo-
cou o dedo sob a máscara e cuidadosamente lambeu o líquido pre-
cioso. Ele me convidou a fazer o mesmo. Com cuidado para não per-
turbar uma única abelha, enfiei meu dedo em outro alvéolo para 
expor mais do puro mel. Excitadamente levei meu dedo para a boca 
mas esqueci da máscara e lambuzei-a com mel. O Sr. B sorriu. A-
panhei outro bocado de mel cuidando agora para levar meu dedo 
sob a máscara. Seu sabor era maravilhoso e esquisito, divino e per-
feito. Era algo que nunca tinha saboreado. No momento, entendi 
que desejava criar abelhas Italianas que produzissem este tesouro 
divino chamado mel. 
Levei para casa um pote do mel puro do Sr. B, e orgulhosamente 
coloquei-o no peitoril da janela da minha cozinha. Depois disso toda 
M. Marchese 11 
manhã eu observava, através do pote âmbar, o brilho do sol me a-
cenando. Comecei a usar mel em vez de açúcar no café expresso e 
logo ele se passou a ser usado com torradas. Misturei aquele mel no 
tempero da salada do almoço e no escabeche da galinha do jantar e 
misturei ao sorvete com nozes para a sobremesa. Ao cabo de uma 
semana, usar mel se tornou um ritual hedonístico, e o peitoril da 
janela se tornou o altar do mel. Guardei aquele tesouro de pote e o-
ferecia migalhas apenas aos que valorizavam sua sensibilidade. 
Uma loucura isto se chamar mel, tornei-me obcecada com as inú-
meras formas de saboreá-lo. O favorito era o chá gelado de berga-
mota perfumado com hortelã do meu jardim e algumas colheradas e 
mel. 
------------------------------------- 
Chá Gelado de Bergamota com Mel Red Bee® - 4 porções 
Ingredientes: 
4 xícaras de água fervente 
2 saquinhos de chá Earl Grey 
¼ de xícara de mel silvestre Red Bee® 
½ xícara de folhas frescas de menta 
Leve a água à fervura. Mergulhe os saquinhos de chá na água por 
três minutos. Dissolva o mel e depois adicione a menta enquanto 
quente. Sirva com cubos de gelo quando frio. 
------------------------------------- 
A certa altura da semana ocorreu-me um pensamento excêntrico: 
É seguro comer mel direto da colméia? A colméia é limpa? O Sr. B e 
eu apenas abrimos a colméia e colocamos o dedo ali. O mel não de-
ve ser processado ou pasteurizado? Alguns dias mais tarde, quando 
falava com o Sr. B novamente, ele me assegurou que o mel in natu-
ra não contém bactérias por causa de seu baixo pH. Não conseguia 
imaginar outro alimento com tal qualidade. Disse-me ele também 
que as abelhas sempre mantêm sua colméia limpa. Ele descreveu 
como extraia o mel desses maravilhosos quadros com favos, como 
separava a cera filtrando através de tecido grosseiro de algodão ou 
através de meia feminina e depois, simplesmente, o envasava. Pen-
sei, "Humm, mel, direto da colméia para o pote - sem fervura, sem 
esterilização, sem resfriamento, sem nada. Podia ser tão fácil fazer e 
envasar mel?" 
Minha primeira visita ao apiário do Sr. B mudou o rumo de mi-
nha vida. Com o tempo, afundei-me na apicultura e mel. Descobri 
que existiam encontros em todo o país e até no mundo. Foi muito 
12 A Abelha 
antes de eu procurar lojas de alimento em busca de méis únicos e 
cada compra simbolizava uma cultura e experiência culinária com-
pletamente diferente. A apicultura me fornecia uma nova perspecti-
va de alimento e de iteração com a natureza. Comecei a introduzir o 
mel em minha dieta diária, usando-o em lugar do açúcar processa-
do e dos adoçantes artificiais. Minha saúde de um modo geral me-
lhorou muito. O mel ajudou-me a combater resfriados e aliviar mi-
nhas alergias. A noção da rainha reinando na colméia e a operária 
apanhando mel e produzindo mel despertou meu senso industrial e 
me estimularam a criar meu negócio de mel. Não tinha fim a sabe-
doria que as abelhas me forneciam. Estas pequenas criaturas são 
símbolo de habilidade, dedicação e perfeição e por todas suas lições 
sou eternamente grata. 
 
 
M. Marchese 13 
 
I - MINHA VIDA COMO ABELHA OPERÁRIA 
Na segunda-feira depois de minha primeira visita às abelhas, re-
tornei de minha casa em Connecticut para o escritório em Nova 
York. Eu era a diretora de criação de uma pequena companhia de 
artigos para presente, desenvolvendo presentes e produtos acessó-
rios para serem fabricados além mar, e depois retornarem aos Es-
tados Unidos para serem vendidos em feiras e em nossa loja em 
Greenwich Village. O melhor do meu serviço era a pesquisa e busca 
em lojas por novas idéias. Tinha uma considerável liberdade e me 
dar o luxo de viajar à China, que era como eu passava a forma mais 
mundana do meu dia a dia do trabalho. Ainda, muitas vezes os do-
nos da companhia jogavam fora minhas melhores propostas pois 
pensavam que as idéias eram muito bizarras ou não conseguiriam 
vendas suficientes para valer a pena o esforço de sua produção. Os 
produtos sempre seguiam as tendências e meu trabalho era seguí-
las, mas não muito de perto. Seguidamente meus projetos precisa-
vam ser enfraquecidos para se tornarem palatáveis do público em 
geral. Nosso maior desafio, como uma pequena companhia, era 
competir com as grandes lojas que conseguiam produzir mais arti-
gos, mais rápido e mais baratos. Era um processo exaustivo - podia 
rápida e facilmente embotar o espírito criativo. E eu estava ficando 
aborrecida com o trabalho. 
Enquanto estava na plataforma, na manhã ensolarada, esperan-
do o trem, compreendi que onde eu realmente queria estar era no 
apiário. A alegre experiência de intimidade com aquelas abelhas es-
tava ainda viva em minha lembrança. Repentinamente, desejei a vi-
da campesina, estar no jardim, trabalhando sob o sol, cuidando das 
minhas próprias abelhas Italianas. "O que na verdade se interpu-
nha em meu caminho?" Surpreendi-me. Na verdade, as obrigações 
do meu trabalho seguidamente me mantiveram longe de casa por 
várias semanas seguidas. Quem cuidaria das abelhas quando eu 
estivesse ausente: elas poderiam passar fome ou me esqueceriam? 
Elas precisariam de atenção especial? Sem dúvida precisava apren-
der mais. 
Naquela manhã o trem atrasou. Assim vagueei pela estação. Esta 
estação não dispunha de acentos, mas dispunha de livros comuni-
tários gratuitos que os transeuntes podiam apanhar e devolver 
14 A Abelha 
quando passassem novamente pela estação. Os livros conferiam à 
estação uma sensação de aconchego. Examinei a estante enquanto 
esperava e um livro vermelho com a palavra "apicultor" na capa 
chamou minha atenção. Para completar minha alegria, vi que tinha 
o título "O Aprendiz de Apicultor". Apanhei o velho e esfarrapado li-
vro de capa dura da estante para examinar. Ele se revelou ser um 
mistério de Sherlock Holmes, que, fiquei satisfeita em saber, criava 
abelhas. O livro era exatamente o remédio que eu precisava, uma 
pequena distração para o dia de trabalho que iniciava. 
Assim que entrei no trem, mergulhei direto no livro. Como grande 
admiradora de Sherlock Holmes, fiquei fascinada e cativada pela 
história na qual Holmes encontra uma jovem e intelectual, mulher 
que estudava o comportamentodas abelhas. Eles compartilharam 
as aventuras de investigação e apicultura. A vida imitando a arte: 
eu era igual à jovem aprendiz com meu próprio Holmes, o Sr. B. Se-
ria a história um sinal do que o futuro me reservava? O destino me 
chamava e eu começava a sentir que tinha de responder. 
* * * 
Durante as próximas semanas, continuei as idas e vindas da ci-
dade, trabalhando no projeto de novos produtos e vendendo-os na 
loja até que chegou a hora da minha viagem regular à China. Até 
então eu estive na China duas vezes por ano durante seis anos à 
procura de novas idéias e para inspecionar os fabricantes dos arti-
gos de nossa companhia. Eu estava trabalhando numa fábrica nu-
ma pequena e remota cidade nos arredores de Huangzhou forne-
cendo os últimos detalhes de alguns novos produtos. Era um dia 
abafado na China; a umidade estava nas alturas e o ar estava pesa-
do. Meu aliado o Sr, Wang se ofereceu para me levar à sua casa fa-
vorita de massas para almoçar. No caminho, reparei algumas ten-
das ao longo da estrada suja. Na frente de uma tenda havia uma 
dúzia de colméias. As estradas da China são sempre cheias de sur-
presas não esperadas e, se eu ainda não tivesse abelhas na mente, 
eu passaria adiante sem lhes dar a mínima. No entanto, parei e me 
fixei como se tivesse descoberto a oitava maravilha do mundo. 
"Sr. Wang, são colméias!" 
O Sr. Wang ficou perplexo com meu excitamento. Chegando mais 
perto pude ouvir o surdo zumbido das abelhas trabalhando. Per-
guntei ao Sr. Wang se eu podia olhar por alguns minutos. As col-
méias de madeira eram semelhantes às do Sr. B. Ferramentas e e-
quipamentos de todo tipo estavam empilhados ao lado das colméi-
as. Reconheci alguns fumegadores, mas em sua maior parte os i-
tens eram estranhos a meus olhos pouco treinados. Uma família de 
M. Marchese 15 
apicultores estava manuseando as colméias. Dois dos homens co-
meçaram a fumegar e abrir uma das colméias. Embora dúzias de 
abelhas estivessem voando em volta deles, eles não usavam roupas 
nem mascaras de proteção. Um deles segurava um quadro seme-
lhante ao que segurei no apiário do Sr. B, exceto que este estava 
perfeitamente limpo, não estava coberto nem de mel nem de abe-
lhas. O outro removeu um quadro coberto de abelhas da colméia e o 
segurou contra o sol. Olhando à luz do sol, o quadro estava obvia-
mente cheio do delicioso mel. O outro apicultor desceu seu quadro 
limpo na abertura onde estava o quadro coberto de mel. Antes de 
fecharem as colméias eles escovaram todas as abelhas que estavam 
no quadro cheio de mel de volta para o topo da colméia. Em seguida 
levaram o quadro com mel com algumas abelhas teimosas que os 
seguiam. Eles o enrolaram com jornal o colocaram numa caixa de 
madeira e fecharam a caixa. Uma mulher que estava junto da tenda 
recebeu a caixa com o mel e pagou por ele com dinheiro. O Sr. 
Wang disse-me que esta é a forma como muitos Chineses conse-
guem seu mel diretamente dos apicultores. 
"O mel é uma tradição antiga aqui, é usado graças a seus benefí-
cios à saúde. E as abelhas são respeitadas," disse ele. 
Antes de seguir para o restaurante, tirei algumas fotografias para 
recordar o que vi - e, sem dúvida, mostrar ao Sr. B. 
Agora que sabia existirem abelhas na China, tomei a resolução de 
comprar mel local. O Sr. Wang disse existir uma loja de mel não 
muito longe da fábrica e depois do almoço iríamos até lá. Ele me 
disse que lojas que vendem apenas mel e produtos do mel são co-
muns na China, e sua esposa compra mel regularmente para sua 
família, especialmente quando uma das crianças fica resfriada. 
Dobrando a esquina chegamos a uma pequena loja com uma lo-
gomarca de abelha chamativa em sua porta. O interior da loja esta-
va decorado como uma colméia. Existiam prateleiras engenhosa-
mente desenhadas na forma familiar do hexágono do favo, e cada 
um com um único pote de mel. Os méis tinham diferentes tonalida-
des de âmbar e ouro. Encontramos também abelhas verdadeiras em 
exposição dentro de uma caixa de vidro: essa caixa permitia os ob-
servadores invadirem o interior do santuário de uma colméia verda-
deira. Um leve zumbido era sentido na caixa de vidro quando milha-
res de abelhas atarefadas circulavam sobre o favo. O Sr. Wang e eu 
pudemos sentir o calor de seus pequenos corpos atravessando o vi-
dro e sentir o aroma inconfundível de mel e cera enquanto elas se 
ocupavam de suas tarefas. 
A atendente estava atrás do balcão enchendo um grande jarro 
16 A Abelha 
com mel de um tanque de aço inoxidável. Um freguês a observava 
atentamente, como se a compra de mel era uma incumbência ceri-
moniosa. Com o cuidado de não derramar uma única gota, a aten-
dente apanhou o mel com uma concha de aspecto primitivo e dei-
xou escorrendo dentro do tanque. Com o jarro cheio a atendente fe-
chou-o bem com a tampa, limpou o jarro com um pano e o levou 
para a registradora. Depois de breve conversação, o freguês pagou e 
saiu. 
Esperando minha vez, eu perscrutei no expositor de vidro do bal-
cão que exibia belos tipos de vários méis, todos com belas etiquetas 
que atiçaram meus olhos artísticos. Havia mel de nêspera, mel de 
mil-flores, mel de rosas e muitos outros que não tive condições de 
traduzir para o inglês. Vi também potes que continham um pedaço 
de favo e outros jarros que continham mel espesso e cremoso. Não 
fazia idéia que existissem tantos tipos de mel. Algum destes tipos de 
mel Chinês podia ter sabor muito diferente do mel do meu país? 
Precisava saber assim que optei por comprar um único jarro de mel 
de mil-flores, que mais tarde soube ser mais comumente chamado 
de mel silvestre. O Sr. Wang acenou para a atendente a fim de lhe 
mostrar qual o mel que queríamos. Ela embrulhou meu mel e o co-
locou numa sacola decorada com abelhas. 
Quando chegamos de volta à fábrica, o perpétuo bule de chá es-
tava fervendo. Não pude resistir uma taça do chá verde cultivado 
localmente e o batizei com meu mel recém comprado. Era de um 
âmbar dourado com leve tonalidade laranja, e escorreu da colher 
num fio grosso. O sabor era tão agradável quanto o mel do Sr. B, 
mas de forma diferente. Ele continha diferente tonalidade de sabor 
para o que não tenho palavra que descreva. Na minha opinião de 
amadora, era esquisito e um tesouro a ser saboreado. Mel de mil-
flores foi meu segundo jarro de mel "puro". Oficialmente comecei 
minha pesquisa para colecionar e armazenar mel. Aprendi também 
algo mais na China: aprendi que estava pronta para ser uma api-
cultora. 
 
M. Marchese 17 
 
II - TORNANDO-ME APICULTORA 
A decisão de começar com minhas próprias colméias foi um mo-
mento de libertação inesquecível. Com o sabor do mel Chinês ainda 
na língua, senti coragem e força para embarcar num novo hobby 
tão fora do padrão como a apicultura. Meus amigos e minha família 
certamente pensarão que perdi a consciência e meus vizinhos pen-
sarão que estou brincando. Mas não me alarmei. Provei do mel di-
vino e fui fisgada. Minha pequena cabana vermelha no sopé do 
Weston suplicava por um jardim em estilo romântico onde minhas 
abelhas podiam prosperar. Meu quintal podia ser um banquete de 
néctar e pólen, e minhas próprias abelhas poderiam visitar os sítios 
de flores ‘fauvistas’ para polinizar minhas flores e vegetais. Sabore-
ava a idéia de trabalhar ao ar livre com as abelhas, com as unhas 
sujas e ligada à natureza. O jardim teria sempre o perfume sedutor 
da cera. E, sem dúvida, haveria mel em todo lugar e todos os dias. 
Antes de mergulhar completamente em meu novo hobby, o Sr. B 
me recomendou assistir alguns encontros de associações apícolas 
locais para aprender mais. "Associações apícolas? pensei. "Será que 
realmente existe algo do gênero?" Sem dúvida, existe. É claro de os 
apicultores, assim como as abelhas que eles criam, são criaturas 
extremamente sociáveis. 
A Associação dos Apicultoresde Quintal (Back Yard Beekeepers 
Association) é uma das muitas associações de apicultores do estado 
de Connecticut. Existem mais de 350 membros no BYBA (como é 
conhecida localmente), todos eles criam e amam as abelhas e, sem 
duvida, o mel. Os membros da associação oferecem seu tempo e co-
nhecimento para promover esta habilidade antiga oferecendo mui-
tas oportunidades educacionais aos que querem começar a criação 
de abelhas ou apenas desejam aprender mais sobre estas fascinan-
tes criaturas. Percebi os membros da associação calorosos e de um 
entusiasmo eletrizante quando entrei no hall da igreja onde ocorria 
o encontro. 
Fui recebida na porta por um adorável casal de apicultores ven-
dendo números para seu sorteio mensal. Ambos vestiam camisetas 
com abelha; o homem usava um boné adornado com dúzias de bro-
ches de abelha e a mulher portava um par de brincos de abelhas 
18 A Abelha 
em suas orelhas. Dando as boas vindas à nova participante eles me 
ofereceram flâmulas sobre os encontros noturnos e me convidaram 
a comprar números da rifa. A mesa baixa atrás deles ostentava o 
prêmio: uma peça ímpar de equipamento apícola. Embora não fi-
zesse a mínima idéia do que era ou para que servia, paguei pela o-
portunidade de ganhá-lo. Com meu auspicioso ticket na mão entrei 
no hall. 
O interior fervilhava de apicultores. Numa das laterais havia uma 
mesa com comida, e sobre outra mesa havia livros oficiais sobre a-
picultura e livros para vender. Havia livros, filmes e panfletos e um 
livreiro estava mostrando para compradores interessados. Caminhei 
ao longo da mesa atenta aos muitos livros - novos e velhos, sérios e 
alegres. Os títulos incluíam Como Plantar um Jardim para Abelhas, 
Apicultura por Prazer e para Negócio e Biologia das Abelhas, e os tó-
picos variavam desde criação de abelhas passando pela jardinagem 
com abelhas e cozinhando com mel. Estava começando a me cons-
cientizar que o assunto abelha por todo lugar. Fiquei especialmente 
atraída pelos livros antigos com artísticas gravuras de abelhas e fo-
tografias históricas de colméias antigas. 
Espiei um livro para iniciação apícola; pareceu-me acessível e não 
complicado, e sabendo que precisaria de toda a ajuda que conse-
guisse, apanhei-o. Depois de pagar meu novo livro, me encaminhei 
para a mesa de quitutes para provar os petiscos artesanais, todos 
feitos com mel local. Biscoitos, ‘barbecue chips’, nozes - suficiente-
mente nobre para qualquer rainha e regiamente dispostos sobre 
uma toalha bordada com abelhas. Provei alguns biscoitos de mel. 
Enquanto isso ouvi, por acaso, um verdadeiro bate papo de api-
cultores. 
"Como estão suas abelhas, Tom?" perguntou uma mulher. 
"Duas de minhas colméias estão bem. Elas passaram o inverno 
muito bem. A outra enxameou na última semana e não consegui 
descobrir onde o enxame pousou." 
"É, é a estação da enxameação, nós também perdemos duas col-
méias. Agora estou providenciando uma nova rainha para uma de 
minhas colméias." 
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Biscoitos de Mel de Amêndoas 
36 biscoitos - Tempo de preparo: 25 minutos 
Ingredientes 
½ xícara de manteiga sem sal ou margarina 
M. Marchese 19 
¾ xícara de mel de trevo Red Bee® 
2 ovos grandes 
1 colher de chá de extrato de baunilha 
3 ½ xícaras de farinha 
2 colheres de chá de sementes de anis 
2 colheres de sopa de canela moída 
½ colher de chá de fermento 
½ colher de chá de sal 
¼ colher de bicarbonato de sódio 
¼ colher de chá de ‘cranberries’ 
¾ xícara de amêndoas silvestres secas 
Aquecer o forno a 350°F. 
Bater a manteiga numa batedeira; adicionar aos poucos o mel, os 
ovos e a baunilha, batendo até homogeneizar. Num pequeno recipi-
ente misturar farinha, sementes de anis, canela, fermento, sal e bi-
carbonato de sódio; juntar aos poucos à mistura do mel misturando 
bem. Juntar as ‘cranberries’ e as amêndoas. 
Formar dois bolos de 25 x 7 x 2,5 cm sobre uma forma untada. 
Assar durante 20 minutos ou até adquirir a cor marrom dourada. 
Remover do forno para uma tela e esfriar por 5 minutos. Reduzir a 
temperatura do forno para 300°F. Transferir os bolos para uma tá-
bua de cortar. Cortar cada bolo em fatias de 12 mm. Arranjar os 
pedaços numa folha de assar. Assar por 20 minutos ou até torrar. 
Esfriar na tela. 
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Pelo alto-falante foi avisado que o encontro começaria. Um ho-
mem sobre o estrado se apresentou como o presidente da associa-
ção. A multidão produzia um surdo zumbido enquanto os apiculto-
res encontravam seus lugares. Apanhei outro biscoito de mel e sen-
tei na fileira de trás com alguns folhetos e meu novo livro. Ao olhar 
em volta, percebi que a platéia era realmente uma mistura de pes-
soas de todas as idades. Sempre que ouvia a palavra "apicultor", 
imaginava um homem de idade avançada com grandes mãos, usan-
do um chapéu de palha e um macacão. Peter Fonda, em O Ouro de 
Ulisses, vinha de imediato na minha lembrança. Mas este grupo era 
repleto de homens e mulheres, jardineiros e fazendeiros, profissio-
nais e negociantes, artistas e outras almas criativas. 
O presidente anunciou as próximas inspeções de colméias e mui-
tas outras oportunidades de aprendizado sobre abelhas que esta-
vam abertas aos membros. Todos estes eventos e muitos outros 
constavam na página da associação. Alguns que se encontravam no 
20 A Abelha 
fundo da sala lembravam o grupo que haveria uma troca de mel 
aquela noite depois da palestra. Troca de mel! Era algo que definiti-
vamente desejava ver. 
Finalmente o palestrante convidado foi apresentado. Era um mui 
respeitado entomologista e pesquisador que falou sobre as abelhas 
e o papel vital que elas desempenham na polinização de nosso ali-
mento. Escutei com muita atenção toda sua palestra. Eram muitas 
novidades e informações interessantes a serem absorvidas. 
A. POLINIZAÇÃO: PORQUE NÃO PODEMOS VIVER SEM ELA? 
Antes das plantas poderem crescer elas precisam ser polinizadas. 
A polinização é a primeira etapa necessária na fertilização de todas 
as plantas através da transferência do pólen, poeira grudenta e a-
marela produzida pela flor da planta. As abelhas são responsáveis 
pela polinização de mais de 100 culturas agrícolas nos Estados U-
nidos, incluindo frutas, vegetais, sementes, legumes e dezesseis ti-
pos de espécies de flores. 
 
 
As abelhas fazem pelo menos doze vôos de forrageamento num 
M. Marchese 21 
único dia, visitando milhares de flores. Tentadas pelas cores bri-
lhantes e pelo perfume agradável do néctar, as abelhas são recom-
pensadas com o pólen. O processo de polinização começa com os 
minúsculos grãos de pólen produzidos pela parte reprodutiva da 
flor, que é chamada de antera. Quando este pólen é transportado 
para a parte feminina da planta, chamada de estigma, ocorre a po-
linização. Estes grãos de pólen são transferidos ao grudarem no 
corpo coberto de pêlos da operária durante suas visitas a cada 
planta. Embora existam diversas formas de transferência do pólen - 
borboletas, mamangavas, traças, beija-flor, morcego e mesmo o 
vento pode transportar pólen - as abelhas estão entre os polinizado-
res mais eficientes porque seus corpos cobertos de pêlos atraem o 
pólen e o distribuem enquanto elas estão forrageando. 
Depois da polinização, o pólen masculino se une com o ovo femi-
nino dentro do ovário da planta. Ali ele cresce, ou germina. Esta e-
tapa final do processo é chamada de fertilização. Uma vez ocorrida a 
fertilização no ovário, a flor morre, suas pétalas caem do pedúncu-
lo’0 e são produzidos o fruto e a semente. As sementes são espalha-
das e novas flores aparecem.Algumas espécies de plantas podem 
ser fertilizadas pelo pólen de flores das mesmas plantas ou de um 
cultivar similar da mesma espécie. No entanto, estas plantas auto-
polinizadas podem providenciar seu próprio pólen, maselas ainda 
precisam das abelhas para transferir o pólen para outra flor da 
mesma planta. Outras espécies de plantas exigem pólen de cultivar 
diferente para a fertilização, e este processo é chamado de poliniza-
ção cruzada. Muitas destas flores têm parte masculina e feminina, 
mas a natureza não permite que estas plantas sejam fertilizadas pe-
lo seu próprio pólen. A polinização cruzada somente é possível 
quando ambas as plantas estão floridas ao mesmo tempo. 
Uma abelha costuma visitar o mesmo tipo de flor repetidamente 
enquanto colhe pólen. Outras abelhas da mesma colônia podem es-
tar visitando flores de outros tipos, mas cada abelha visitará repeti-
damente o tipo por ela escolhido. Esta fidelidade é chamada cons-
tância floral, e é outra razão de as abelhas serem polinizadoras tão 
boas. 
As flores também produzem néctar, substância líquida clara 
normalmente encontrada no centro da maioria das flores, local 
chamado de nectário. A operária apanha néctar das flores e o carre-
ga para a colméia para transformá-lo em mel. As abelhas conso-
mem o pólen para atender sua necessidade de proteína, vitaminas e 
gordura e o mel sua necessidade de carboidrato. Como compensa-
ção a abelha fornece polinização para as plantas que ela visita. 
22 A Abelha 
------------------------------------- 
Termos utilizados em polinização 
Cultivar: Cultura de uma variedade de plantas de mesma espécie 
que recebe o mesmo nome e raça por suas características desejá-
veis. 
Variedade: Variação dentro da mesma espécie. 
Auto-polinização: Transferência do pólen da parte masculina de 
uma flor para a parte feminina da mesma flor ou de outra flor da 
mesma planta. Também chamada "flores perfeitas". 
Polinização cruzada: Transferência do pólen da parte masculina 
de uma flor para a parte feminina da flor de outro cultivar. 
Polinizador: Agentes como as abelhas, traças, borboletas e outros 
insetos, vento e os humanos que, fisicamente, transferem o pólen 
da antera para o estigma da flor. 
Polinizada: Planta que é fonte de pólen. 
------------------------------------- 
Produtos que não foram apropriadamente polinizados ficam des-
figurados e subdesenvolvidos. Pelo seu aspecto parecem não sabo-
rosos. Um pepino perfeitamente polinizado cresce reto e redondo, se 
ele não for perfeitamente polinizado, ficará torto e curvado. Melão 
firme, pesado e suculento foi polinizado adequadamente, assim co-
mo também as maçãs grandes e que permanecem em pé sem apoio. 
As sementes da melancia nos dizem muito sobre a polinização. As 
sementes pretas foram polinizadas, mas a brancas não. Quanto 
mais sementes pretas, mais doce será a melancia. As sementes po-
linizadas produzem os hormônios que fazem as frutas e os vegetais 
amadurecerem e serem saborosos. Colheitas pobremente poliniza-
das estragam rapidamente e seguidamente provocam problemas di-
gestivos. Muitas lojas especializadas e donos de restaurantes não 
aceitam produtos subdesenvolvidos pois eles sabem que os consu-
midores os rejeitarão. 
Apicultura ambientalmente consciente é empreendimento agríco-
la completamente sustentável. As abelhas garantem a sustentabili-
dade através da polinização ajudando no ciclo de vida natural das 
plantas, que provê a rica variedade de flora e fauna numa dada re-
gião geográfica, e ao mesmo tempo contribuindo para a vida selva-
gem. Enquanto isso, o mel produzido pelas abelhas é um produto 
comestível que não prejudica o meio ambiente, não cria resíduo e 
mantém o ecossistema. A produção de mel pode ser sinal da saúde 
da biodiversidade de uma área geográfica. Grande número de plan-
M. Marchese 23 
tas saudáveis indica meio ambiente saudável. Preferir consumir mel 
de sua região geográfica local é escolha sustentável. Consumindo 
mel local, você estará não apenas apoiando seus apicultores locais 
mas também ajudando a agricultura e a manutenção dos pequenos 
negócios. 
Um terço dos alimentos produzidos no mundo - ou um de cada 
três bocados de qualquer coisa consumida pelo homem - depende, 
de alguma forma das abelhas. Abelhas saudáveis significam não 
somente mais mel mas também ampla variedade de alimentos em 
nossa mesa. Sem abelhas, nosso suprimento de alimento fresco fi-
cará severamente limitado. 
Os apicultores alugam populações de abelhas aos fazendeiros em 
todo o país que confiam às abelhas a polinização de suas planta-
ções. Os fazendeiros buscam este serviço através de contratos de 
polinização. As abelhas são arrendadas anualmente e o pagamento 
é por colméia. Em 2008, pagava-se $135 a $190 por colméia. Os a-
picultores seguidamente conseguem mais recursos alugando suas 
colônias para polinização do que vendendo mel. Você se sentirá bem 
comprando mel porque você sabe que aquele pote representa não 
apenas o trabalho despendido pelas abelhas para produzi-lo mas 
também o benefício que ele representa para a agricultura, fazendei-
ros e é o alimento que você come todos os dias. 
Estima-se que existam cerca de 2,4 milhões de colônias de abe-
lhas nos Estados Unidos, e a cada ano dois terços delas são trans-
portadas pelo país para polinizar plantações. A estação típica come-
ça na Califórnia onde 580.000 acres de plantação de amêndoas de-
pendem inteiramente das abelhas para a polinização. (A Califórnia 
fornece 100 por cento das amêndoas do país e 80 por cento das 
amêndoas do mundo). Todos os anos, em Fevereiro, 1,5 milhões de 
colônias de abelhas são transportadas, em caminhões, para a poli-
nização da plantação de amêndoas do estado. Esta colossal opera-
ção é o maior evento de polinização do mundo, comprometendo 
mais da metade de todas as abelhas dos Estados Unidos! As abe-
lhas são depois levadas para o Norte para trabalharem nas flora-
ções de cereja e maçã. O estado de Nova York, por exemplo, neces-
sita de 30.000 colméias para polinizar a plantação de maçã. A pró-
xima parada é a plantação de laranja na Flórida, seguida das frutas 
vermelhas em Nova Jersey e Massachusetts. Depois as abelhas via-
jam para os campos de trevo de Dacota do Norte e finalmente para 
Maine, que necessita cerca de 50.000 colméias para o mirtilo. 
A polinização das abelhas acrescenta de $15 bilhões a $20 bi-
lhões por ano à produção agrícola dos Estados Unidos. Seu valor 
24 A Abelha 
para a economia não pode ser subestimado. Os produtores de a-
mêndoas estimam que em 2012 serão necessárias 2 milhões de 
colméias para polinizar os estimados 800.000 acres de amêndoas. 
Outras culturas - como melão, abacate, melancia, cantalupe, todas 
as variedades de frutas cítricas e pepinos - também exigem várias 
visitas de abelhas antes de produzirem frutos. 
As abelhas desempenham um valioso papel no suprimento de 
carne, leite, queijo e outros laticínios. Os fazendeiros confiam pesa-
damente nas abelhas para a polinização de grande parte das plan-
tações de alfafa e trevo. Ambos são ricos em proteína e representam 
cerca de um terço da dieta do gado. O gado pode ser alimentado 
com grama e grãos mas estes alimentos não têm muita proteína. 
Gado bem alimentado significa carne, leite e queijo mais saborosos. 
A Häagen-Dazs afirma que 40 por cento dos ingredientes do sabor 
do seu sorvete dependem das abelhas. 
Coco, oliva, amendoim, colza, soja e girassol também exigem abe-
lhas para a polinização a fim de produzir graxas e óleos que neces-
sitamos para nossa dieta. Oitenta por cento do algodão para a fa-
bricação das roupas que vestimos, sem mencionar outros itens do-
mésticos, como tapetes, roupa de cama e móveis confiam nas abe-
lhas, assim como a plantação de algodão também precisa ser polini-
zada. Os cereais do café da manhã, nozes, biscoitos, tortas de fru-
tas e sucos, sem mencionar o ketchup e salada, também dependem 
das abelhas porque elas polinizam muitos dos ingredientes ali utili-
zados, tais como caju, nozes, ameixas, pomelo, pêssegos, cerejas, 
canela,tomates e cebolas. 
B. O DESAPARECIMENTO DA POPULAÇÃO DE ABELHAS NOS 
ESTADOS UNIDOS. 
De onde vieram as abelhas? 
O Departamento de Agricultura dos USA estima que existam en-
tre 140.000 e 212.000 apicultores nos Estados Unidos. A maioria é 
amadora com algumas a várias dúzias de colméias. Existem apro-
ximadamente 1.600 apicultores comerciais operando nos Estados 
Unidos que produzem 60 por cento do mel do país. 
A demanda por abelhas cresce anualmente, mas a população de 
colméias manejadas caiu de 3,5 milhões em 1989 para 2,3 milhões 
em 2008. Isto é um decréscimo de 34 por cento desde a década de 
1980 quando o ácaro da Varroa foi descoberto nos Estados Unidos. 
O parasita marrom avermelhado se prende à abelha durante sua 
metamorfose dentro do alvéolo. Alimentando-se do sangue da abe-
M. Marchese 25 
lha, o ácaro transmite vírus às abelhas que enfraquecem as colô-
nias e provocam pesadas perdas a cada ano. O ácaro da Varroa é 
um grande perigo para as colônias de abelhas e para o sustento dos 
apicultores que as manejam. 
Outro grande problema para a comunidade apícola foi relatado 
pela primeira vez por um apicultor comercial em Outubro de 2006. 
É conhecido como Colony Collapse Disorder (CCD). A CCD é identi-
ficada pelo súbito desaparecimento da população adulta da colméia. 
Em alguns casos somente a rainha e algumas abelhas adultas, a-
lém da cria, permanecem na colméia. Os apicultores comerciais a-
brem suas colméias e as encontram vazias sem sinal de abelha. As 
perdas financeiras resultantes são devastadoras. As colônias de a-
belhas desaparecendo e os apicultores sem condições de fornecer as 
abelhas necessárias para a polinização das culturas, a produção de 
alimento pelos fazendeiros cai. Os consumidores, por sua vez, não 
mais dispõem de produtos frescos e outros alimentos para suas 
mesas e, conseqüentemente, os preços dos produtos disponíveis 
aumenta. 
Apicultores e cientistas estão perplexos em busca das causas 
dessa nova desordem. Algumas das muitas teorias a respeito da 
CCD dizem ser ela causada pela saúde debilitada das abelhas e es-
tress de abelhas com trabalho excessivo. Patógenos, parasitas e 
pesticidas também são considerados como causas possíveis. Outros 
afirmam que as perdas pelo CCD se devem a inseticidas - especifi-
camente produtos químicos chamados neonicotinoides. Alemanha, 
Itália, Slovênia e França baniram o uso destes produtos desde que 
eles foram ligados às perdas maciças de abelhas. Também se con-
cluiu que o uso abusivo de outros químicos e antibióticos compro-
metem o sistema imunológico da abelha. 
Estão sendo feitos muitos esforços para criar uma abelha higiêni-
ca ou quase perfeita que tenha as qualidades para resistir às doen-
ças, pestes e pesticidas. Mas até estes esforços obterem sucesso o 
declínio da população de abelhas causada pela CCD e aumento do 
custo de manutenção das abelhas apenas aumenta as dificuldades 
que os apicultores comerciais já enfrentam. Por exemplo, a prática 
desonesta de embarcar mel de qualidade inferior e falsificado, que 
na verdade não é puro, de países como Canadá, Argentina, Austrá-
lia e China. Em 2008, muitos atacadistas e usuários comerciais de 
mel compraram toneladas de mel Chinês por $0,20 a libra, enquan-
to, para o apicultor doméstico, ele custa cerca de $1,00. Quem con-
segue competir? 
* * * 
26 A Abelha 
Muitas dessas informações, incluindo detalhes da polinização, 
papel vital que as abelhas desempenham na agricultura dos Esta-
dos Unidos e os desafios enfrentados pelos apicultores comerciais 
eu as consegui durante os anos dos palestrantes nos encontros do 
BYBA. Não faço idéia quanto mais as abelhas têm a oferecer aos 
humanos e ao planeta. Durante a palestra que assisti no primeiro 
encontro, fiz anotações sobre a polinização, juntamente com alguns 
desenhos de flores e abelhas. Um desenho foi uma rainha portando 
uma coroa e segurando um cetro. Suas atendentes deslizavam à 
sua volta e pela colméia. Estes foram os primeiros de muitos dese-
nhos e notas que eu incluiria na minha revista. 
Uma mulher à minha esquerda lançou um olhar sobre meus de-
senhos. Trocamos sorrisos e, depois da palestra, ela se apresentou 
como Mary. Disse-lhe que eu era uma ilustradora convertida em a-
picultora; ela disse ser uma contadora convertida em apicultora. 
Rimos as duas ao constatar que cada uma era uma alma desencan-
tada com seu trabalho "nine-to-five". Mary me disse estar criando 
abelhas há três anos e ainda se considerava uma iniciante. Ela fa-
lou também de como as abelhas lhe trouxeram paz espiritual e que 
os apicultores são um grupo apaixonado e instruído que está sem-
pre disposto a estender a mão e oferecer ajuda com base em sua 
própria experiência. Esta boa vontade é contagiosa e Mary se en-
controu ela própria oferecendo seu conhecimento como mentora de 
novos apicultores. "Quanta generosidade e amabilidade," pensei eu. 
Num mundo de negociantes, aqui era um lugar onde algumas pes-
soas eram abnegadas. Pareceu-me que a natureza e as abelhas têm 
esse efeito nos humanos. Percebi que existia um verdadeiro sentido 
de compartilhamento dentro dessa comunidade de pessoas com tal 
espírito. 
Perguntei a Mary onde ocorreria a troca e fui encaminhada a uma 
velha mesa de madeira, onde sete apicultores rodavam e observa-
vam potes de mel de várias formas e tamanhos. As cores dos méis 
também variavam do claro ao médio e escuro. Alguns tinham tons 
vermelhos, e outros verdes. Todos eles tinham sido colhidos por a-
picultores locais que eram membros da associação. Os rótulos feitos 
a mão e caprichados ostentavam o nome do apicultor ou fazendeiro. 
Muitos mostravam motivos típicos de abelhas e flores, enquanto ou-
tros mostravam colméias estilizadas. Achei engraçado um que dizia: 
"One Pound Golden Hoard Honey" (Uma Libra de Mel da Reserva 
Dourada). Nossas abelhas forrageiam exclusivamente em backcoun-
try Greenwich. Elas não visitam Stamford, Armonk. Port Chester ou 
outros locais semelhantes." Os Apicultores realmente são criativos, 
M. Marchese 27 
habilidosos e, definitivamente, não lhes falta senso de humor. 
 
As regras de troca eram simples. Qualquer apicultor que contri-
buísse com um pode de mel podia escolher um pote em troca. Olha-
va cada vez que um pote era levantado por pouco tempo e gostaria 
de possuir algum mel meu para trocar. Mary, que trouxe um pote, 
escolheu um mel muito escuro de trigo mouro. Ela me disse que 
mel mais escuros tem ferro e antioxidantes. Também, o mel tinha 
28 A Abelha 
qualidades das plantas de cujas flores as abelhas coletaram néctar 
- neste caso, trigo mouro. Um gentil apicultor percebeu meu inte-
resse em todas as amostras de mel e ofereceu-me um dos três potes 
que ele apanhara da mesa. Aceitei com grande prazer. 
"Você é nova aqui, não é?" perguntou ele. Quando confirmei que 
era, disse ele, "Continue vindo aqui e você aprenderá muito sobre 
abelhas. E fará alguns amigos." 
Antes de a noite terminar fui ao encontro do Sr. B que me apre-
sentou para outros amigos apicultores. "Nova-abelha" é o nome uti-
lizado para descrever novos apicultores, e assim eu era tratada. Fui 
convidada a me associar e participar de uma inspeção de colméia 
no sábado seguinte. Sem hesitar, aceitei o convite e anotei meu en-
dereço. 
Meu primeiro encontro de apicultura foi como abrir as portas pa-
ra todo um mundo novo que não fazia a mínima idéia que existia. 
Olhando para trás, a associação de apicultores era como uma soci-
edade secreta, completa, com seus próprios encontros e até mesmo 
com seu vocabulário próprio. Através da BYBA pude encontrar pes-
soas de todo tipo de vida, mas todos compartilhavam a mesma pai-
xão pelas abelhas. Eles podiam ensinar-me como manejar minhas 
abelhas e como colher e envasar meu mel. Eles estariam ali à mi-
nha disposição como mentores vitalícios,fazendo-me uma ótima a-
picultora. Não foi muito antes de eu ficar mais envolvida com a or-
ganização, mas foi depois de eu trabalhar na diretoria, que soube 
que o Sr. B tinha sido presidente. 
 
 
 
M. Marchese 29 
 
III - APIOLOGIA: O ESTUDO DAS ABELHAS 
Sabendo que a inspeção de colméias me esperava no Sábado, o 
restante da semana de trabalho, depois do primeiro encontro no 
Back Yard Beekeepers, custou a passar. A despeito de toda a liber-
dade criativa que meu trabalho me oferecia, o projeto e busca repe-
titiva de produtos começou a perder seu charme. Minha afeição pe-
las abelhas e o imenso mundo de sabedoria que elas me abriram 
era excitante. Ocorreu-me que eu era apenas uma operária, mas 
que cobiçava ser rainha. 
Finalmente chegou o Sábado e levantei cedo. Como eu ainda não 
possuía a tradicional jaqueta de proteção de apicultor e a máscara, 
me recomendaram ir de mangas longas e cores claras. As abelhas 
toleram cores claras e tem a vantagem adicional de serem mais 
frescas ao trabalhar sob sol forte. Assim, vesti uma camiseta branca 
de mangas longas, jeans e minhas familiares botas de vaqueiro. Sal-
tei em meu jipe e dirigi até o apiário onde ocorreria a inspeção. 
------------------------------------- 
Classificação científica da Abelha 
Reino: Animal 
Filo: Artrópodes 
Classe: Insetos 
Subclasse: Pterygota 
Classe inferior: Neoptera 
Super-ordem: Endopterygota 
Ordem: Himenópteros 
Sub- ordem: Apocrita 
Família: Apidae 
Sub-familia: Apinae 
Tribo: Apini 
Gênero: Apis 
Em 1758, Carolus Linnaeus forneceu o nome científico da abelha, 
Apis mellifera. Em Latim significa literalmente "abelha carregadora 
de mel". Em 1761foi introduzido um nome mais preciso, A. mellifica, 
30 A Abelha 
"abelha produtora de mel". O nome dado por Linnaeus permaneceu 
por causa das regras que orientam a nomenclatura científica, mas 
A. mellifica é usada ocasionalmente em literatura mais antiga rela-
cionada com apicultura. 
------------------------------------- 
O apiário não ficava a mais de vinte e cinco minutos de minha 
casa e localizado um pouco afastado da estrada de chão batido, 
longe de outras casas. Às onze em ponto cheguei ao final de uma 
estrada cheia de curvas e empoeirada para encontrar os apiculto-
res, vestidos a rigor e com formão e fumegador à mão, amontoados 
ao lado de uma parede de pedra coberta de hera. O lugar era um 
paraíso para os polinizadores, açafrão, narciso e galanto em flor em 
todas as direções até onde a vista alcançava. O jardim explodia de 
flores. Os apicultores me cumprimentaram e o anfitrião, chamado 
Billy, ofereceu-me uma máscara e um formão, um pedaço de metal 
que parecia um pequeno pé de cabra. Billy disse ao grupo, "Caso 
vocês forem ao apiário sem formão e sem fumegador voltem para 
buscá-los. É impossível tentar abrir uma colméia sem eles." Era a 
experiência de um antigo apicultor falando. Em seguida ele condu-
ziu o grupo ao longo da parede de pedra e através de um pomar de 
maçã. Enquanto caminhávamos, ele mostrou-nos o black locust e a 
tulipa, que as abelhas gostam, além das flores de maça. 
 
Billy mostrou uma velha cisterna cheia de água ali colocada es-
pecialmente para saciar a sede das abelhas. É curioso como as abe-
lhas bebem água, desviei para dar uma olhada. As abelhas flutua-
vam caprichosamente sobre folhas e gravetos sugando a água com 
sua longa língua. Algumas abelhas tinham caído na cisterna e se 
debatiam inutilmente na água tentando se agarrar a um graveto ou 
folha em busca de socorro. Imaginei que podia ajudá-las. Ofereci 
meu formão. Uma a uma, elas se agarraram no formão com as seis 
patas e pude deixá-las em segurança numa folha que flutuava. 
As colônias de abelhas necessitam de água assim como necessi-
tam de néctar e pólen, e elas bebem alguns galões de água por dia. 
A água é usada na diluição do mel ao preparar a comida da cria e 
para resfriar a colméia. É recomendado que os apicultores provi-
denciem uma fonte de água para as colméias. Uma tina rasa cheia 
M. Marchese 31 
de água, colocada perto das colméias evitará que as abelhas visitem 
a piscina do vizinho ou suguem água das roupas estendidas no va-
ral para secarem. Colocando estrategicamente alguns gravetos so-
bre a água as abelhas terão algo em que pousar. 
Enquanto as abelhas de Billy bebiam água na cisterna eu obser-
vei atentamente seus pequenos corpos. 
A. ANATOMIA DE UMA ABELHA 
O corpo da abelha está composto de três partes: cabeça, parte in-
termediária ou tórax e abdômen. A abelha está coberta da cabeça 
aos pés com finos pêlos que facilmente magnetizam partículas de 
pólen. Duas antenas estão presas à sua cabeça que tem forma tri-
angular. As antenas estão equipadas com pêlos sensoriais onde re-
sidem os sentidos do tato, paladar e olfato da abelha. Estes sentidos 
são importantes, uma vez que a maior parte dos trabalhos da abe-
lha é feita dentro da colméia vagamente iluminada. 
------------------------------------- 
Tipos Mais Populares de Abelhas 
As abelhas não são nativas dos Estados Unidos. No entanto as 
abelhas existem há mais de trinta milhões de anos. Elas chegaram 
a este continente com os colonizadores na virada do século. 
Abelha Preta Alemã: (Apis mellifera mellifera). Muito provavel-
mente é a primeira abelha a chegar nos Estados Unidos. No entanto 
ela é tida como agressiva e lenta no aumento da população na pri-
mavera. 
Abelha Italiana (Apis mellifera ligustica). Tornou-se popular nos 
Estados Unidos por ser boa produtora de mel e resistente à maioria 
das doenças. Originária do sul da Itália, atualmente é a mais co-
mum de todas as espécies de abelhas nos Estados Unidos. Ela é de 
cor dourada a marrom avermelhado. Ela tem tendência à pilhagem 
e consome seu próprio mel rapidamente. 
Abelha Carniolana (Apis mellifera caucásica). Originária da área 
perto dos mares Negro e Cáspio. É dócil, enxameadora e pratica-
mente solda sua colméia com própolis. 
Abelha Russa. Originária da região Primorsky Krai do sul da 
Rússia. Esta linhagem é considerada dócil e boa coletora de néctar. 
------------------------------------- 
A abelha tem cinco olhos com um total de sete mil facetas que de-
tectam movimento, cor e luz. Dois olhos compostos grandes são 
sensíveis ao movimento e cor, enquanto três olhos pequenos, locali-
32 A Abelha 
zados acima dos olhos compostos e chamados de ocelos, são sensí-
veis à luz, mas não vêem imagens. Seriam estas lentes com forma 
hexagonal as responsáveis pela forma como as abelhas constroem o 
favo com forma hexagonal? Muito gostaríamos de saber, mas ainda 
não descobrimos a resposta. 
 
Para mastigar e moldar a cera em favo, as abelhas têm as mandí-
bulas ou queixadas. Para sugar o mel e água a abelha usa a língua 
ou probóscide. 
Dois conjuntos de asas e seis pernas estão ligados ao tórax. As 
asas das abelhas são finas e claras e têm veias em toda sua exten-
são. Elas batem 180 vezes por segundo, em média, e uma abelha 
pode voar a 15 milhas por hora. Durante o vôo as asas se prendem 
uma à outra através de delicados ganchos, chamados de hanuli, e-
xistente nas asas traseiras. Todas suas seis pernas são segmenta-
das e usadas para caminhar e se limpar. As pernas traseiras pos-
suem cestas de pêlos que as abelhas utilizam para carregar pólen. 
No abdômen da abelha estão seus órgãos de reprodução e sistema 
digestivo, bem como seu ferrão e glândulas produtoras de cera. 
Como a maioria dos insetos as abelhas não têm ossos, mas em vez 
disso tem uma dura e protetora cobertura chamada exoesqueleto. 
As abelhas têm sangue, mas não têm veias em seus corpos, apenas 
uma simples aorta que transporta o sangue do seu coração com 
quatro câmaras até a cabeça. Dali ele circula livremente pelo abdô-
men. Elas também não têm pulmões. O ar chega a cada célula em-M. Marchese 33 
purrado através de um sistema traqueano de pequenos tubos. 
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Torta de Maçã Polinizadas pelas Abelhas com Mel 
Ingredientes 
2 crostas de torta de 20 cm 
5 xícaras de maçã Granny Smith e Macintosh descascadas, 
sem sementes e em fatias 
1 xícara de mel silvestre Red Bee® 
1 colher de chá de canela 
1 colher de chá de baunilha 
2 colheres de sopa de manteiga sem sal 
Coloque a grade na terça parte inferior do forno e pré-aqueça a 
400°F. Encha a crosta de torta com as fatias de maçã. Derrame o 
mel sobre as maças e borrife a canela e a baunilha. Coloque 
pequenas porções de manteiga. Cubra enchendo com a segunda 
crosta de torta e abra buracos de ventilação na crosta superior. 
Asse por 15 minutos. Em seguida reduza a temperatura para 
350°F. Continue a assar até a crosta de cima ficar levemente 
marrom e se notar que esteja borbulhando, 40 a 45 minutos. Sirva 
quente e derrame mais mel. 
------------------------------------- 
Continuando a caminhada através do pomar do Billy. Ele citou 
que muitas fazendas no estado de Connecticut produzem frutas e 
bagos que vendem exclusivamente nos mercados locais e para pa-
darias que fazem deliciosas tortas de frutas. Frutas, nozes e bagos 
começavam a florescer. Se as abelhas não polinizarem as flores, es-
tas nunca se transformarão em maçãs, pêras, mirtilo, amora, abó-
boras, oxicoco, pêssegos, avelãs, castanhas, amêndoas e polpas que 
encontramos em muitas boas tortas. Caso queiramos saborear es-
sas gulodices de padaria, alertou Billy, devemos continuar a criar 
abelhas. Durante sua locução, tudo em que pensava era, o que eu 
faria sem a torta de maçã da minha mãe? Criando abelhas eu esta-
ria realmente ajudando Mom a salvar as maçãs do mundo. 
34 A Abelha 
 
O grupo circulou pelos pomares até chegar ao apiário, formado 
por seis colméias ao todo. Billy disse ao grupo que ele cria abelhas 
há quatro anos e a apicultura é o hobby mais recompensador que 
ele conheceu. A visita de hoje da colméia seria uma inspeção geral 
de primavera para identificar os habitantes da colméia: rainha, ope-
rárias e zangões. Poderíamos aprender a identificar os pequenos o-
vos dentro do ninho da cria. 
Usando um papel prensado facilmente inflamável, chamado de 
combustível do fumegador, Billy acendeu seu fumegador. Enquanto 
o fazia, explicou que caso o fumegador apagar, não podemos perder 
tempo tentando acendê-lo com a colméia aberta e exposta aos ele-
mentos externos. O combustível do fumegador se mantém em com-
bustão continuamente sem que precisemos perder tempo com pre-
parativos. Papel prensado feito de fibra de algodão prensada pode 
ser comprado nas lojas de produtos apícolas. 
Gratos por estas pequenas dicas, seguimos o Billy até a primeira 
colméia, onde todos ouvimos atentamente enquanto Billy falava so-
bre a hierarquia dentro da colméia. Para mim, uma colméia viva, 
com sua rainha e suas atendentes, operárias que fazem todas as ta-
refas, e zangões bonachões, soava como um conto de fadas. 
B. A VIDA NA COLMÉIA 
Uma colméia típica de abelhas, no auge do verão, tem uma colô-
nia de aproximadamente 80.000 abelhas, a maioria das quais são 
operárias femininas. Cada colméia tem uma rainha, que é a mãe de 
M. Marchese 35 
todas as abelhas da colméia e a única fêmea desenvolvida sexual-
mente. Todas as atividades da colméia giram em torno da rainha e 
sua postura de ovos. A rainha é a maior abelha dentro da colméia e 
pode ser identificada por suas pernas longas e abdômen esbelto. É 
mais longo do que o abdômen das operárias e mais fino do que o 
dos zangões. Seguidamente o apicultor marca a rainha usando tin-
tas especiais à prova d'água, com um ponto colorido em seu tórax. 
Esta marca tem dois propósitos. Primeiro, fica mais fácil localizar a 
rainha numa colméia de 80.000 abelhas e, segundo, a cor do ponto 
indica o ano em que a rainha nasceu. O conjunto de cores, usado 
pelos apicultores de todo o mundo, é: 
Azul: anos terminados em 0 e 5. 
Branco: anos terminados em 1 e 6 
Amarelo: anos terminados em 1 e 7 
Vermelho: anos terminados em 3 e 8 
Verde: anos terminados em 4 e 9. 
Para marcar a rainha os apicultores usam uma ferramenta especial 
chamada agarrador de rainha, um pequeno grampo com mola (pa-
recido com um grampo de cabelo), para apanhar delicadamente a 
rainha. Ela é então induzida a entrar num pequeno tubo de plástico 
claro de marcar rainha. A outra extremidade do tubo está fechada 
por uma tela. O êmbolo coberto por uma esponja é empurrado pelo 
lado aberto do tubo e pressiona a rainha contra a tela. Quando su-
as costas ficam contra a tela, o apicultor apanha o marcador de ra-
36 A Abelha 
inha e, através da tela, marca o dorso do seu abdômen.1 A tinta leva 
alguns segundos para secar e depois a rainha é colocada de volta 
na colméia. 
 
1. A RAINHA E A REPRODUÇÃO DAS ABELHAS 
Todas as abelhas fêmeas começam sua vida da mesma forma: 
como ovo fertilizado. Os ovos são postos no ninho da cria. O ninho 
da cria se encontra normalmente nos quadros internos da colméia, 
é formado por um conjunto de alvéolos, cada um contendo um ovo, 
formando um padrão de postura com formato oval. Uma pequena 
área de alvéolos, em forma de arco, acima do ninho da cria contém 
pólen. Acima do pólen outro arco, que se estende aos dois cantos do 
quadro, contém mel. Somente o ovo posto pela rainha dentro da re-
aleira se desenvolverá em rainha. As realeiras são maiores do que 
os alvéolos nos quais são criados as operárias e zangões e ficam 
penduradas na vertical dentro do ninho da cria. O apicultor identi-
fica as realeiras porque elas sobressaem como amendoim no ninho 
da cria. 
 
Durante os três primeiros dias de vida como larva, todas as abe-
lhas - rainhas, operárias e zangões - são alimentadas com geléia re-
al, uma secreção protéica produzida pelas glândulas hipofaringea-
 
1 Embora a autora tenha escrito "abdômen" temos marcado normalmente no tórax. 
N. T. 
M. Marchese 37 
nas localizadas na cabeça das operárias maduras. Durante o res-
tante do estágio larval, e pelo resto de suas vidas, somente rainhas 
em potencial continuam a ser alimentadas com geléia real, enquan-
to operárias e zangões são alimentados com pólen e néctar. A geléia 
real é o que possibilita que a rainha se desenvolva em fêmea sexu-
almente madura. 
No sétimo dia do estágio larval a larva da rainha se transforma em 
pupa, e nesse momento as operárias fecham a realeira com uma 
tampa de cera. A jovem princesa emerge aproximadamente dezes-
seis dias mais tarde2 fazendo um corte circular na parede da realei-
ra até que a ponta se abra como uma porta. Algumas operárias se 
tornam suas atendentes e despendem o resto de suas curtas vidas3 
alimentando-a e cortejando-a, limpando suas fezes e a seguindo pe-
la colméia. A rainha verdadeiramente vive uma vida de realeza. Ela 
não recolhe néctar ou pólen, sequer toma conta da cria. Estas são 
tarefas das operárias. A rainha só deixa a colméia copular com os 
zangões ou num enxame. 
Durante a primeira se-
mana, a recém emersa 
princesa deixa a colméia 
pela primeira vez para o 
que é chamado de vôo 
nupcial. Este evento dra-
mático entre a princesa e 
zangões de outras colméi-
as acontece no ar, bem a-
cima da colméia e do traje-
to de vôo normal das ope-
rárias. Os zangões se reú-
nem nas zonas de congre-
gação de zangões. Não é 
sabido como essas áreas 
são escolhidas, sabe-se 
apenas que são locais lon-
ge da colméia onde os 
zangões se encontram e 
esperam pela princesa. Os 
zangões mais rápidos con-
seguem pegar a princesa e 
 
2 A princesa emerge da realeira quize a dezesseis dias após a postura do ovo. N. T. 
3 As operárias fazem a corte da rainhado sexto ao décimo primeiro dia de suas vi-
das. N. T. 
38 A Abelha 
copular com ela. Para atrair os zangões, a princesa secreta feromô-
nios em sua glândula mandibular, chamados substância da rainha. 
A princesa pode copular com até vinte zangões. Ela faz apenas um 
vôo de fecundação em sua vida e neste vôo ela é suprida com es-
perma para toda a vida. Ela armazena o esperma na espermateca, 
seu órgão feminino que recebe e carrega o esperma. Ao retornar à 
colméia a rainha começa a postura de ovos. 
Depois de fecundada, as glândulas da rainha amadurecem e co-
meçam a trabalhar, produzindo feromônios que regulam todas as 
tarefas da colméia. Os feromônios são mensagens químicas essen-
ciais para a comunicação das abelhas, que provocam certos tipos de 
atividades na colméia. As atendentes da rainha distribuem estes fe-
romônios para as demais abelhas da colméia tocando as operárias 
com as antenas e batendo suas asas. Estas operárias, por sua vez, 
tocam outras abelhas e assim por diante. A rainha é a abelha mais 
importante dentro da colméia, e toda abelha dentro da colméia sen-
te sua influência. Caso a rainha desaparecer ou deixar a colméia, 
não demora muito para que seu feromônio desapareça e as operá-
rias percebam a falta de sua rainha. 
 
Durante os meses de verão uma rainha bota um ovo a cada vinte 
M. Marchese 39 
segundos, dia e noite, com uma parada a cada vinte minutos. Ela 
deve botar até dois mil ovos por dia - quantidade que é aproxima-
damente igual a seu próprio peso. Rainhas saudáveis e produtivas 
depositam um ovo em cada alvéolo no ninho da cria e deixam ape-
nas alguns alvéolos vazios. Isto é considerado um padrão normal de 
cria. Pode ser difícil para o iniciante identificar os ovos; eles se pa-
recem como pequenos grãos de arroz verticais ao fundo do alvéolo, e 
existe apenas um dentro de cada alvéolo. No estágio larval se pare-
cem como pequenas e brilhantes larvas encurvadas na forma de "C" 
flutuando sobre geléia real. Assim que os alvéolos são operculados, 
a larva tece o casulo de seda, se espicha novamente e se transforma 
em pupa. Opérculos são as coberturas convexas de cera feitas pelas 
operárias para cobrir os alvéolos. Assim que os alvéolos são opercu-
lados as larvas começam a se parecer com abelhas. 
Nem todos os ovos são fertilizados. Ovos não fertilizados geram 
machos ou zangões, enquanto os fertilizados geram fêmeas ou ope-
rárias. Caso a rainha não copular ou, em outras palavras, não for 
fecundada, todos seus ovos gerarão zangões e ela deve ser substitu-
ída pelo apicultor. Uma rainha pode viver até cinco anos, mas sua 
produção de ovos começa a cair depois de dois a três anos. Por esta 
razão os apicultores devem substituir as rainhas de suas colméias. 
A substituição anual das rainhas garante que a colméia terá uma 
jovem e saudável rainha. Rainha forte, por sua vez, significa colônia 
forte que garante produção máxima de mel. 
A rainha tem ferrão, mas esse não dispõe de fisgas como da ope-
rária. Ela é capaz de ferroar repetidas vezes, mas reserva seu ferrão 
para os momentos de desespero no combate com outras rainhas. 
Ela não o usa para defender a colméia. 
Quando abrimos as colméias de Billy, observamos várias abelhas 
abanando suas asas. Este comportamento é conhecido como venti-
lação e, além de distribuir os feromônios da rainha, provoca a circu-
lação do ar a fim de controlar a temperatura e umidade dentro da 
colméia. Durante o desenvolvimento da cria a temperatura do ninho 
da cria é mantida entre 32 a 35°C, mesmo que a temperatura ex-
terna esteja acima de 38°C ou abaixo de zero. Como as abelhas me-
tabolizam mel para gerar o calor necessário para aquecer a colméia, 
o mel deve estar sempre presente na colméia. 
A presença da rainha é essencial para a vida da colméia. A colô-
nia criará uma nova rainha por três diferentes razões: se a rainha 
existente for removida ou morta acidentalmente por erro do apicul-
tor; ou se perder durante o vôo de fecundação; ou se a rainha velha 
está falhando e sua produção da substância da rainha e postura de 
40 A Abelha 
ovos está caindo. 
Rainha morta, removida ou perdida será substituída pela colônia 
com uma rainha de emergência. As colônias selecionam um ovo fer-
tilizado ou larva de operária jovem que não tenha mais de três dias 
de idade. Este ovo ou larva especialmente selecionado está num al-
véolo comum de operária que será transformado em realeira para 
acomodar o corpo maior da rainha. 
Rainha que estiver falhando será substituída por outra rainha pe-
lo processo de substituição na presença da rainha. A rainha botará 
um ovo fertilizado na realeira. Quando a nova princesa emerge, a 
velha rainha é peloteada pelas operárias. Peloteamento é o processo 
no qual as operárias se amontoam em volta da rainha até ela mor-
rer por superaquecimento. 
Rainhas criadas na presença da rainha normalmente são mais 
fortes e melhor cuidadas do que rainhas de emergência uma vez 
que elas não são criadas em situação de pânico e recebem maior 
quantidade de alimento (geléia real) durante o desenvolvimento. 
2. OPERÁRIAS 
As operárias são todas fêmeas e elas formam o maior grupo den-
tro da colméia. Elas são sexualmente subdesenvolvidas e não põem 
ovos em condições normais. No entanto, as operárias fazem tudo o 
restante, desde alimentar e cortejar a rainha a coletar pólen e néc-
tar e cuidar da cria. Elas também guardam e limpam a colméia e, o 
mais importante, produzem mel. 
 
A operária inicia sua vida como ovo fertilizado que eclode em lar-
va. À medida que a larva cresce ela tece um casulo e, pelo processo 
de metamorfose, se transforma em pupa. Neste processo de matu-
M. Marchese 41 
ração a larva é completamente dependente dos cuidados das operá-
rias adultas. 
As operárias estão completamente desenvolvidas e emergem do 
alvéolo no vigésimo dia, que é quatro dias a menos do que o zangão 
leva para atingir o desenvolvimento completo. 
Em média uma operária vive de quatro a seis semanas na prima-
vera ou verão e até seis meses no inverno. Cada operária passa por 
especializações em tarefas específicas em cada estágio de sua vida. 
Os primeiros dias depois da emergência do alvéolo ela atua na lim-
peza dos alvéolos. Ela inspeciona, limpa e deixa o alvéolo polido no 
qual a rainha botará os ovos. Depois ela começa seu trabalho de a-
limentar as larvas mais velhas com pólen e néctar trazido para a 
colméia pelas operárias mais maduras, bem como com a substância 
chamada "pão de abelha" que é uma mistura de pólen fermentado e 
mel. Do décimo ao décimo sexto dia suas glândulas atingem a ma-
turidade e ela começa a secretar a geléia real para alimentar as lar-
vas jovens. Quando as glândulas do abdômen tiverem se desenvol-
vido ela também secreta cera e usa suas mandíbulas para moldá-la 
em favo, uma série de alvéolos de cera que constituem o ninho da 
cria e nos quais é armazenado néctar e pólen. Esta cera é também 
usada para opercular os alvéolos que contém as larvas ou que este-
jam cheios de mel. Neste estágio a operária também ajuda a reparar 
favo que tenha sido destruído. Entre outras atividades ela também 
abana as asas para circular o ar e ventilar o interior da colméia pa-
ra auxiliar na remoção da umidade do néctar trazido pelas forrage-
adoras para produzir o mel. 
Por volta do vigésimo dia de vida a operária se torna guarda da 
entrada da colméia. As guardas permitem apenas a entrada das a-
belhas que pertencem à colméia. Toda abelha deve carrega o fero-
mônio da rainha para poder entrar na colméia. As guardas também 
rejeitam abelhas velhas ou doentes e expulsam os zangões no outo-
no. A tarefa de guarda é o último trabalho da operária dentro da 
colméia antes de ela se tornar uma forrageadora. Nesta altura as 
glândulas da operária estão completamente desenvolvidas e sua ta-
refa é defender a colméia. Aabelha morre depois de aplicar seu fer-
rão. 
A operária não começa a forragear pólen e néctar antes de ter três 
semanas de idade. Nesta altura ela deixa a colméia para coletar 
néctar para produzir mel, pólen para alimentar, água para beber e 
própolis, mistura resinosa utilizada para vedar frestas e outros es-
paços não desejados na colméia. Em média, uma única operária faz 
somente 1/12 de uma colher de chá ao longo de sua vida. 
42 A Abelha 
Com todas essas atividades a operária realmente trabalha até a 
morte, seja porque suas asas estão destruídas ou porque atingiu a 
exaustão. Não é raro a abelha adulta morrer dentro da colméia. 
Quando isto ocorre as operárias removem o cadáver. 
3. ZANGÕES 
Os zangões são as abelhas macho, e eles perfazem no máximo 10 
a 15 por cento do total de abelhas da colméia. Os zangões são cria-
dos da mesma forma que a rainha e as operárias, exceto que eles se 
originam de ovos não fertilizados. Os alvéolos de zangão são encon-
trados na parte inferior do ninho da cria, são maiores do que os das 
operárias para acomodar o corpo do macho que é maior e os opér-
culos se parecem com a ponta de uma bala. Os ovos dos zangões e-
clodem em três dias e emergem do seu estado larval em cinco a seis 
dias. O estágio de pupa dos zangões é cinco dias maior do que da 
operária. Gordos e atarracados em estatura, os zangões adultos 
emergem de seus alvéolos completamente desenvolvidos em vinte e 
quatro dias e tem poucas atividades dentro da colméia. Eles não re-
colhem pólen ou néctar e não produzem mel. Não limpam a colméia 
nem cuidam da cria. Eles não se alimentam nem se limpam. Por 
não terem ferrões, os zangões não podem nem mesmo defender a si 
mesmo ou a colméia. No entanto, os zangões são importantes para 
a hierarquia da colméia. 
------------------------------------- 
Ciclo de Gestação das Abelhas 
 Eclosão Larva Pupa Emergência 
 da larva 
Rainha 3 dias 5,5 dias 7 dias 16 dias 
Operária 3 dias 6 dias 11,5 dias 20 dias 
Zangão 3 dias 6,5 dias 14,5 dias 24 dias 
 
BEE LINING 
Como o Homem Antigo Encontrava Mel 
Antes de o homem domesticar as abelhas, ‘bee lining’ era a forma 
de localizar um ninho natural de abelha, para alojá-las em colméias 
ou apenas em busca do mel como doce, O que se conseguia 
seguindo a forrageadora de volta para sua casa. Hoje, esta prática 
antiga, também chamada de caça à abelha, é ainda uma atividade 
divertida para um belo dia ensolarado com colegas apicultores. Eu 
participei de uma caça ao participar de um encontro de apicultores. 
M. Marchese 43 
Começa-se localizando algumas abelhas num sítio de flores ou 
numa poça de água. Depois o objetivo é tentar enganá-las com 
xarope de açúcar para uma caixa. Uma vez que elas estejam na 
caixa você marca todas as abelhas com um ponto de tinta em seu 
tórax de forma semelhante como você marca a rainha da colméia. 
As abelhas retornarão normalmente para sua colméia assim que 
tiverem se enchido com xarope de açúcar a fim de recrutarem 
outras forrageadoras para a fonte. Depois que as abelhas estiverem 
todas marcadas e estiverem cheias de açúcar você pode liberar cada 
abelha em diferente área e observar como elas retornam para sua 
colméia. A direção na qual as abelhas voam indica a direção em que 
fica sua colméia natural. Se você conseguir encontrou ou não o 
ninho, você pode se certificar pelo ponto com que as abelhas foram 
marcadas. Se o sol estiver em ângulo, como no início da manhã ou 
no final da tarde, ele será refletido pelas abelhas que partem, 
tornando mais fácil segui-las enquanto elas estiverem em vôo e 
assim determinar a direção de sua viagem. 
Os antigos caçadores de mel, para apanhar o mel, tinham que 
subir em árvores perigosas ou montanhas e sem proteção adequada 
eles deviam suportar muitas ferroadas. Bee lining pode ser um 
desafio nas primeiras vezes, e é mais fácil consegui-lo quando a 
temperatura está amena e as abelhas estão a campo forrageando 
com força total. 
As abelhas não permitem que os zangões passem o inverno na 
colméia pois eles podem comer toda a reserva de mel. Assim, tris-
temente, os zangões são forçados a abandonar a colméia no outono 
e normalmente morrem de fome ou frio. Não é raro o apicultor ver 
cadáveres de zangões na entrada da colméia no final do outono. 
* * * 
A única responsabilidade do zangão é fecundar a princesa de ou-
tra colméia, e a fecundação é a única razão da existência do zangão. 
Os zangões esperam na zona de congregação de zangões - algo co-
mo ponto de reunião de zangões - pela princesa para copular com 
ela em pleno vôo. Os zangões mais rápidos e mais fortes conseguem 
fecundar, copulando com a princesa por trás num encontro rápido 
e violento. O ato de cópula termina com a genitália do zangão sendo 
arrancada de seu abdômen quando então ele cai para a morte. (Pa-
rece um ato de ópera, não é verdade?) 
No meu retorno para casa do apiário do Billy, vi uma única abe-
lha zumbindo atrás do meu Jeep. Ela tentava encontrar algo e esta-
va agora numa viagem só de ida através da cidade. Senti-me terrível 
sabendo que ela não conseguiria fazer a viagem de volta à noite, ou 
44 A Abelha 
talvez nunca mais conseguisse voltar para casa. O que poderia ela 
fazer? Onde ela poderia dormir? Imediatamente, baixei o vidro de 
traz, na esperança que ela pudesse sair e voltar para a colméia. Ela 
foi succionada pelo vento e nunca saberei se ela voltou para casa 
em segurança. Foi algo que acontece a toda hora, mas eu nunca 
pensei sobre o assunto pela perspectiva da abelha até aquele dia. 
Como as abelhas são insetos sociais, aprendi com Billy, elas confi-
am na colônia como um todo para sobreviver. Elas retornam para 
casa todas as noites, mas nesta noite para onde ela irá? 
Mais tarde, lembrei de perguntar ao Sr. B sobre o incidente. O Sr. 
B me garantiu que se existisse uma colméia em distância razoável, 
sua chance de ser aceita poderia aumentar se ela entrasse com 
uma oferta de pólen ou néctar. Podia apenas esperar que ela encon-
trasse uma colméia que a aceitasse aquela noite. 
 
 
M. Marchese 45 
 
IV - FUNDAMENTOS DA APICULTURA 
Alguns dias depois da inspeção da colméia, o Sr. B me telefonou 
perguntando se eu estava pronta para instalar minha primeira col-
méia. Caso estivesse eu poderia encomendar minha colônia de abe-
lhas nos próximos dias. Isto era final de Abril e o tempo para eu 
tomar a decisão estava passando. Os criadores de abelhas não po-
deriam remeter abelhas nos dias quentes do verão por causa do es-
tress das abelhas e as perdas por causa do calor. Naquele momento 
mergulhei completamente na criação de abelhas. Estava pronta co-
mo nunca desejava estar e sabia que o Sr. B estaria lá em todas as 
etapas do caminho. Oficialmente me tornei uma apicultora. 
Agora por ser apicultora preciso de uma colméia. Existem muitos 
fornecedores de equipamentos apícolas pelo país, e é possível en-
comendar equipamento pela Internet ou através de um de seus 
muitos catálogos. Apanhei alguns catálogos nos encontros apícolas 
para verificar o que havia disponível. 
Existem muitos estilos de colméias dentre os quais escolher e 
uma infinidade de acessórios. Optei por um kit para iniciante, que 
incluía uma colméia de madeira padrão Langstroth e todas as fer-
ramentas básicas do apicultor. Mais tarde poderia acrescentar mais 
itens à minha coleção sempre que necessário. 
A. COLMÉIA LANGSTROTH 
A colméia Langstroth é o estilo de colméia que a maioria dos api-
cultores dos Estados Unidos utiliza atualmente. Antes da introdu-
ção da colméia Langstroth, as abelhas eram criadas em troncos de 
madeira, chamados gum; em potes de cerâmica ou em skep trança-
do. Com qualquer uma destas colméias primitivas, era difícil para 
os apicultores manejarem suas abelhas, encontrar a rainha e pre-
venir doenças. A colheita de mel

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