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A Abelha Lições de uma Apicultora por Acaso. C. Marina Marchese Ilustrações por Elara Tanguy Tradução C. A. Osowski M. Marchese 5 Índice Índice ...................................................................................................................5 Agradecimentos ..................................................................................................7 INTRODUÇÃO ......................................................................................................9 I - Minha Vida como Abelha Operária ............................................................13 II - Tornando-me Apicultora............................................................................17 III - Apiologia: O Estudo das Abelhas ...............................................................29 IV - Fundamentos da Apicultura......................................................................45 V - Chegou a Rainha com suas Súditas ..........................................................53 VI - Minhas Primeiras Observações como Apicultora Novata............................61 VII - Apicultura e Mel Através da História. ........................................................73 VIII - Da Colméia para a Mesa: Produzindo e Colhendo o Mel ............................83 IX - Aula Magistral sobre Apicultura. ...............................................................93 X - Abelhas no Outono: Preparação para o Inverno.......................................105 XI - Apiterapia: Como as Abelhas Curam .......................................................121 XII - Tudo Sobre Mel .......................................................................................129 XIII - O Degustador de Mel: o Sabor do Mel......................................................139 M. Marchese 7 Agradecimentos Gratidão, elogios e reconhecimento para as seguintes pessoas com as quais tive o prazer de aprender e com as quais trabalhei nesta jornada pessoal: Meu representante, Coleen O'Shea, e sua parceira de negócio, Marilyn Allen, ambos foram abelhas-voluntárias desde o início deste projeto. Fico devendo ao autor Claire Garcia, por seu entusiasmo e aconselhamento e a Connie Pappas por instigar minha motivação. Becky Koh, editor extraordinário, que destemidamente me acom- panhou até a colméia e também extraiu 10 kilogramas de mel. Sua orientação, revisão e visão brilhantes levaram meus conceitos à per- feição. Muito obrigado! J. P. Laventhal que entendeu minha paixão pelas abelhas e todos de Black Dog & Leventhal que contribuíram para tornar este projeto um sucesso, incluindo Liz Hartman, diretor de comercialização e publicidade; Judy Courtade, diretor de vendas e True Sims, gerente de produção. Bem como a Susi Oberhelman pela maravilhosa edito- ração do livro e Elara Tanguy pelas charmosas ilustrações. Howland Blackinston, que me acompanhou nos meus primeiros passos pelo mundo mágico das abelhas. Seus conselhos e espírito criativo foram a inspiração para este trabalho. Grazie Mille! À comunidade dos amáveis apicultores que encontrei em minhas andanças por este país e pelo mundo, que abriram suas colméias e generosamente compartilharam comigo sua admiração pelas abe- lhas. À Back Yard Beekeepers Association e seus membros por me aceitar em sua colméia e enriquecer minha caminhada. A Apithe- rapy Society, por me ensinar como as abelhas curam. Kim Flotum da revista Bee Culture, que me incentivou a escrever. Aos mestres apícolas Ann Harmon e Alan Lorenzo, terapeutas com veneno de abelha que leram e revisaram. Aos juizes de mel Robert Brewer e Michael Young, ambos despertaram minha reverência pelo mel. Bill e Royal Draper, por responderem todas minhas perguntas. Giovanni e Francesco da Bottega della Api, Siete molto gentili. Joe da Puglia Wine Imports. Vic, que pacientemente leu, perdeu as férias e alongou meu prazo final, ainda não enxameou e continua a criar abelhas. Minha irmã Nicole por ler. Minha irmã Andrea por envasar mel. Minha Mãe por suas receitas com mel, e meu pai, que agora é um verdadeiro apre- ciador de mel. Sarah, meu grande e límpido copo de água. E, Brave! A todos os trabalhadores da Red Bee Honey que mantiveram a col- 8 A Abelha méia zunindo para eu poder escrever. Apicultores especiais, chefes e fiéis amantes do mel que me apoi- aram generosamente ao longo do caminho. Muito obrigado, Nick, Taylor, Amy do Murray's Cheese; Erin do Artisanal Premium Cheese Center; Julian e Lisa Niccolini da The Four Seasons; e Marty Vaz da Speak Easy Cocktails. M. Marchese 9 INTRODUÇÃO Meu Doce Encontro com as Abelhas Ainda que eu tenha sido apicultora por muito tempo, nunca es- quecerei minha primeira prova de mel fresco direto da colméia. A cerca de dez anos um vizinho, Sr. B, convidou-me para visitar seu apiário a fim de conhecer suas abelhas. Fiquei apreensiva com o convite. Disse para mim "Sem dúvida, gosto de mel, mas não tenho tanta certeza se gosto de abelhas." Vi-me repentinamente rodeada por um enxame de centenas de abelhas zunindo. A idéia deixou-me em pânico, como penso deixa a maioria das pessoas. Contudo, es- tava pronta para uma nova aventura, assim aceitei o convite do Sr. B. Era uma manhã perfeita de primavera quando apareci na casa do Sr. B para conhecer suas abelhas. No quintal de sua casa existiam três caixas altas que se pareciam com arquivos pintados de branco. Eram suas colméias. Assim que o Sr. B me cumprimentou ele me alcançou uma máscara de apicultor para vestir a fim de me prote- ger. Em seguida ele vestiu sua própria máscara e caminhou em di- reção das colméias. Enquanto o seguia, com o coração em sobres- salto, ele explicou que as abelhas, embora dóceis, eram também criaturas muito curiosas. Elas gostavam de entrar em cantos e fen- das e sobre nossas roupas. A máscara impedia que elas ferroassem nossa face. "Ferroar nossas faces?" Surpreendi-me de onde havia me metido. Assim que chegamos junto das colméias, eu já estava tremendo. O Sr. B acendeu o fumegador, um pequeno recipiente metálico um pouco parecido com um bule de café, e soprou algu- mas baforadas de fumaça na entrada da primeira colméia. Em se- guida ele levantou a cobertura para soprar fumaça diretamente dentro da colméia. Ele me explicou que a fumaça acalma as abelhas e as distrai de nossa presença. Em seguida ele removeu, com cuidado, a tampa da colméia e a colocou sobre o gramado. Espichei meu pescoço para perscrutar o interior, cuidando para não me aproximar demais. Centenas, talvez milhares, de abelhas fervilhavam no topo dos dez quadros de ma- deira perfeitamente posicionados que pendiam verticalmente dentro da caixa. Fiquei completamente surpresa e relaxei ao ver que as a- 10 A Abelha belhas realmente eram um tanto calmas. Com suas mão sem luvas, o Sr. B removeu lentamente um quadro de madeira coberto de abe- lhas. Maravilhada observei como as abelhas caminhavam pelos seus dedos, depois por suas mãos e sobre suas mangas. O Sr. B não dava a mínima. "Estas são abelhas Italianas," disse ele. Tive de sorrir. Como eu sou descendente de Italianos, agradou-me a idéia de abelhas Italianas. Não sei porque pensei em dizer a meus ami- gos, "Eu crio abelhas Italianas." O Sr. B inspecionou o quadro e mostrou os diferentes tipos de abelhas: a abelha operária que recolhe néctar e produz mel e as a- belhas macho, zangões, cuja função primordial é copular com a princesa. Ele me disse que existe uma rainha em cada colméia e que todas as atividades da colméia giram em torno de sua postura de ovos. Quando o Sr. B disse ser minha vez de segurar o quadro, eu re- cuei. Mas o manuseio cuidadoso que ele devotava às abelhas eo comportamento calmo das abelhas de alguma forma deu-me cora- gem a aceitar o quadro com minhas mãos sem luvas. As abelhas es- tavam por todo lugar - dúzias delas caminhando sobre meus dedos e subindo em minhas mangas. Respirei fundo e segurei o quadro firmemente de modo a não fazer nenhum movimento brusco e per- turbar as abelhas. "Eu posso fazer isso," disse a mim mesma. "Não estou com medo." Assim que apanhei o quadro, o Sr. B comentou sobre o favo per- feitamente formado, feito de cera, que enchia o centro do quadro. O favo é o local onde a rainha depositava seus ovos e as operárias ar- mazenam pólen e mel. Quando segurei o quadro contra a luz do sol, o favo pareceu como uma bela janela de vidro colorido. O Sr. B co- locou seu dedo sobre os alvéolos em forma de hexágono. Dos alvéo- los saiu um líquido âmbar que escorreu favo abaixo. O Sr. B colo- cou o dedo sob a máscara e cuidadosamente lambeu o líquido pre- cioso. Ele me convidou a fazer o mesmo. Com cuidado para não per- turbar uma única abelha, enfiei meu dedo em outro alvéolo para expor mais do puro mel. Excitadamente levei meu dedo para a boca mas esqueci da máscara e lambuzei-a com mel. O Sr. B sorriu. A- panhei outro bocado de mel cuidando agora para levar meu dedo sob a máscara. Seu sabor era maravilhoso e esquisito, divino e per- feito. Era algo que nunca tinha saboreado. No momento, entendi que desejava criar abelhas Italianas que produzissem este tesouro divino chamado mel. Levei para casa um pote do mel puro do Sr. B, e orgulhosamente coloquei-o no peitoril da janela da minha cozinha. Depois disso toda M. Marchese 11 manhã eu observava, através do pote âmbar, o brilho do sol me a- cenando. Comecei a usar mel em vez de açúcar no café expresso e logo ele se passou a ser usado com torradas. Misturei aquele mel no tempero da salada do almoço e no escabeche da galinha do jantar e misturei ao sorvete com nozes para a sobremesa. Ao cabo de uma semana, usar mel se tornou um ritual hedonístico, e o peitoril da janela se tornou o altar do mel. Guardei aquele tesouro de pote e o- ferecia migalhas apenas aos que valorizavam sua sensibilidade. Uma loucura isto se chamar mel, tornei-me obcecada com as inú- meras formas de saboreá-lo. O favorito era o chá gelado de berga- mota perfumado com hortelã do meu jardim e algumas colheradas e mel. ------------------------------------- Chá Gelado de Bergamota com Mel Red Bee® - 4 porções Ingredientes: 4 xícaras de água fervente 2 saquinhos de chá Earl Grey ¼ de xícara de mel silvestre Red Bee® ½ xícara de folhas frescas de menta Leve a água à fervura. Mergulhe os saquinhos de chá na água por três minutos. Dissolva o mel e depois adicione a menta enquanto quente. Sirva com cubos de gelo quando frio. ------------------------------------- A certa altura da semana ocorreu-me um pensamento excêntrico: É seguro comer mel direto da colméia? A colméia é limpa? O Sr. B e eu apenas abrimos a colméia e colocamos o dedo ali. O mel não de- ve ser processado ou pasteurizado? Alguns dias mais tarde, quando falava com o Sr. B novamente, ele me assegurou que o mel in natu- ra não contém bactérias por causa de seu baixo pH. Não conseguia imaginar outro alimento com tal qualidade. Disse-me ele também que as abelhas sempre mantêm sua colméia limpa. Ele descreveu como extraia o mel desses maravilhosos quadros com favos, como separava a cera filtrando através de tecido grosseiro de algodão ou através de meia feminina e depois, simplesmente, o envasava. Pen- sei, "Humm, mel, direto da colméia para o pote - sem fervura, sem esterilização, sem resfriamento, sem nada. Podia ser tão fácil fazer e envasar mel?" Minha primeira visita ao apiário do Sr. B mudou o rumo de mi- nha vida. Com o tempo, afundei-me na apicultura e mel. Descobri que existiam encontros em todo o país e até no mundo. Foi muito 12 A Abelha antes de eu procurar lojas de alimento em busca de méis únicos e cada compra simbolizava uma cultura e experiência culinária com- pletamente diferente. A apicultura me fornecia uma nova perspecti- va de alimento e de iteração com a natureza. Comecei a introduzir o mel em minha dieta diária, usando-o em lugar do açúcar processa- do e dos adoçantes artificiais. Minha saúde de um modo geral me- lhorou muito. O mel ajudou-me a combater resfriados e aliviar mi- nhas alergias. A noção da rainha reinando na colméia e a operária apanhando mel e produzindo mel despertou meu senso industrial e me estimularam a criar meu negócio de mel. Não tinha fim a sabe- doria que as abelhas me forneciam. Estas pequenas criaturas são símbolo de habilidade, dedicação e perfeição e por todas suas lições sou eternamente grata. M. Marchese 13 I - MINHA VIDA COMO ABELHA OPERÁRIA Na segunda-feira depois de minha primeira visita às abelhas, re- tornei de minha casa em Connecticut para o escritório em Nova York. Eu era a diretora de criação de uma pequena companhia de artigos para presente, desenvolvendo presentes e produtos acessó- rios para serem fabricados além mar, e depois retornarem aos Es- tados Unidos para serem vendidos em feiras e em nossa loja em Greenwich Village. O melhor do meu serviço era a pesquisa e busca em lojas por novas idéias. Tinha uma considerável liberdade e me dar o luxo de viajar à China, que era como eu passava a forma mais mundana do meu dia a dia do trabalho. Ainda, muitas vezes os do- nos da companhia jogavam fora minhas melhores propostas pois pensavam que as idéias eram muito bizarras ou não conseguiriam vendas suficientes para valer a pena o esforço de sua produção. Os produtos sempre seguiam as tendências e meu trabalho era seguí- las, mas não muito de perto. Seguidamente meus projetos precisa- vam ser enfraquecidos para se tornarem palatáveis do público em geral. Nosso maior desafio, como uma pequena companhia, era competir com as grandes lojas que conseguiam produzir mais arti- gos, mais rápido e mais baratos. Era um processo exaustivo - podia rápida e facilmente embotar o espírito criativo. E eu estava ficando aborrecida com o trabalho. Enquanto estava na plataforma, na manhã ensolarada, esperan- do o trem, compreendi que onde eu realmente queria estar era no apiário. A alegre experiência de intimidade com aquelas abelhas es- tava ainda viva em minha lembrança. Repentinamente, desejei a vi- da campesina, estar no jardim, trabalhando sob o sol, cuidando das minhas próprias abelhas Italianas. "O que na verdade se interpu- nha em meu caminho?" Surpreendi-me. Na verdade, as obrigações do meu trabalho seguidamente me mantiveram longe de casa por várias semanas seguidas. Quem cuidaria das abelhas quando eu estivesse ausente: elas poderiam passar fome ou me esqueceriam? Elas precisariam de atenção especial? Sem dúvida precisava apren- der mais. Naquela manhã o trem atrasou. Assim vagueei pela estação. Esta estação não dispunha de acentos, mas dispunha de livros comuni- tários gratuitos que os transeuntes podiam apanhar e devolver 14 A Abelha quando passassem novamente pela estação. Os livros conferiam à estação uma sensação de aconchego. Examinei a estante enquanto esperava e um livro vermelho com a palavra "apicultor" na capa chamou minha atenção. Para completar minha alegria, vi que tinha o título "O Aprendiz de Apicultor". Apanhei o velho e esfarrapado li- vro de capa dura da estante para examinar. Ele se revelou ser um mistério de Sherlock Holmes, que, fiquei satisfeita em saber, criava abelhas. O livro era exatamente o remédio que eu precisava, uma pequena distração para o dia de trabalho que iniciava. Assim que entrei no trem, mergulhei direto no livro. Como grande admiradora de Sherlock Holmes, fiquei fascinada e cativada pela história na qual Holmes encontra uma jovem e intelectual, mulher que estudava o comportamentodas abelhas. Eles compartilharam as aventuras de investigação e apicultura. A vida imitando a arte: eu era igual à jovem aprendiz com meu próprio Holmes, o Sr. B. Se- ria a história um sinal do que o futuro me reservava? O destino me chamava e eu começava a sentir que tinha de responder. * * * Durante as próximas semanas, continuei as idas e vindas da ci- dade, trabalhando no projeto de novos produtos e vendendo-os na loja até que chegou a hora da minha viagem regular à China. Até então eu estive na China duas vezes por ano durante seis anos à procura de novas idéias e para inspecionar os fabricantes dos arti- gos de nossa companhia. Eu estava trabalhando numa fábrica nu- ma pequena e remota cidade nos arredores de Huangzhou forne- cendo os últimos detalhes de alguns novos produtos. Era um dia abafado na China; a umidade estava nas alturas e o ar estava pesa- do. Meu aliado o Sr, Wang se ofereceu para me levar à sua casa fa- vorita de massas para almoçar. No caminho, reparei algumas ten- das ao longo da estrada suja. Na frente de uma tenda havia uma dúzia de colméias. As estradas da China são sempre cheias de sur- presas não esperadas e, se eu ainda não tivesse abelhas na mente, eu passaria adiante sem lhes dar a mínima. No entanto, parei e me fixei como se tivesse descoberto a oitava maravilha do mundo. "Sr. Wang, são colméias!" O Sr. Wang ficou perplexo com meu excitamento. Chegando mais perto pude ouvir o surdo zumbido das abelhas trabalhando. Per- guntei ao Sr. Wang se eu podia olhar por alguns minutos. As col- méias de madeira eram semelhantes às do Sr. B. Ferramentas e e- quipamentos de todo tipo estavam empilhados ao lado das colméi- as. Reconheci alguns fumegadores, mas em sua maior parte os i- tens eram estranhos a meus olhos pouco treinados. Uma família de M. Marchese 15 apicultores estava manuseando as colméias. Dois dos homens co- meçaram a fumegar e abrir uma das colméias. Embora dúzias de abelhas estivessem voando em volta deles, eles não usavam roupas nem mascaras de proteção. Um deles segurava um quadro seme- lhante ao que segurei no apiário do Sr. B, exceto que este estava perfeitamente limpo, não estava coberto nem de mel nem de abe- lhas. O outro removeu um quadro coberto de abelhas da colméia e o segurou contra o sol. Olhando à luz do sol, o quadro estava obvia- mente cheio do delicioso mel. O outro apicultor desceu seu quadro limpo na abertura onde estava o quadro coberto de mel. Antes de fecharem as colméias eles escovaram todas as abelhas que estavam no quadro cheio de mel de volta para o topo da colméia. Em seguida levaram o quadro com mel com algumas abelhas teimosas que os seguiam. Eles o enrolaram com jornal o colocaram numa caixa de madeira e fecharam a caixa. Uma mulher que estava junto da tenda recebeu a caixa com o mel e pagou por ele com dinheiro. O Sr. Wang disse-me que esta é a forma como muitos Chineses conse- guem seu mel diretamente dos apicultores. "O mel é uma tradição antiga aqui, é usado graças a seus benefí- cios à saúde. E as abelhas são respeitadas," disse ele. Antes de seguir para o restaurante, tirei algumas fotografias para recordar o que vi - e, sem dúvida, mostrar ao Sr. B. Agora que sabia existirem abelhas na China, tomei a resolução de comprar mel local. O Sr. Wang disse existir uma loja de mel não muito longe da fábrica e depois do almoço iríamos até lá. Ele me disse que lojas que vendem apenas mel e produtos do mel são co- muns na China, e sua esposa compra mel regularmente para sua família, especialmente quando uma das crianças fica resfriada. Dobrando a esquina chegamos a uma pequena loja com uma lo- gomarca de abelha chamativa em sua porta. O interior da loja esta- va decorado como uma colméia. Existiam prateleiras engenhosa- mente desenhadas na forma familiar do hexágono do favo, e cada um com um único pote de mel. Os méis tinham diferentes tonalida- des de âmbar e ouro. Encontramos também abelhas verdadeiras em exposição dentro de uma caixa de vidro: essa caixa permitia os ob- servadores invadirem o interior do santuário de uma colméia verda- deira. Um leve zumbido era sentido na caixa de vidro quando milha- res de abelhas atarefadas circulavam sobre o favo. O Sr. Wang e eu pudemos sentir o calor de seus pequenos corpos atravessando o vi- dro e sentir o aroma inconfundível de mel e cera enquanto elas se ocupavam de suas tarefas. A atendente estava atrás do balcão enchendo um grande jarro 16 A Abelha com mel de um tanque de aço inoxidável. Um freguês a observava atentamente, como se a compra de mel era uma incumbência ceri- moniosa. Com o cuidado de não derramar uma única gota, a aten- dente apanhou o mel com uma concha de aspecto primitivo e dei- xou escorrendo dentro do tanque. Com o jarro cheio a atendente fe- chou-o bem com a tampa, limpou o jarro com um pano e o levou para a registradora. Depois de breve conversação, o freguês pagou e saiu. Esperando minha vez, eu perscrutei no expositor de vidro do bal- cão que exibia belos tipos de vários méis, todos com belas etiquetas que atiçaram meus olhos artísticos. Havia mel de nêspera, mel de mil-flores, mel de rosas e muitos outros que não tive condições de traduzir para o inglês. Vi também potes que continham um pedaço de favo e outros jarros que continham mel espesso e cremoso. Não fazia idéia que existissem tantos tipos de mel. Algum destes tipos de mel Chinês podia ter sabor muito diferente do mel do meu país? Precisava saber assim que optei por comprar um único jarro de mel de mil-flores, que mais tarde soube ser mais comumente chamado de mel silvestre. O Sr. Wang acenou para a atendente a fim de lhe mostrar qual o mel que queríamos. Ela embrulhou meu mel e o co- locou numa sacola decorada com abelhas. Quando chegamos de volta à fábrica, o perpétuo bule de chá es- tava fervendo. Não pude resistir uma taça do chá verde cultivado localmente e o batizei com meu mel recém comprado. Era de um âmbar dourado com leve tonalidade laranja, e escorreu da colher num fio grosso. O sabor era tão agradável quanto o mel do Sr. B, mas de forma diferente. Ele continha diferente tonalidade de sabor para o que não tenho palavra que descreva. Na minha opinião de amadora, era esquisito e um tesouro a ser saboreado. Mel de mil- flores foi meu segundo jarro de mel "puro". Oficialmente comecei minha pesquisa para colecionar e armazenar mel. Aprendi também algo mais na China: aprendi que estava pronta para ser uma api- cultora. M. Marchese 17 II - TORNANDO-ME APICULTORA A decisão de começar com minhas próprias colméias foi um mo- mento de libertação inesquecível. Com o sabor do mel Chinês ainda na língua, senti coragem e força para embarcar num novo hobby tão fora do padrão como a apicultura. Meus amigos e minha família certamente pensarão que perdi a consciência e meus vizinhos pen- sarão que estou brincando. Mas não me alarmei. Provei do mel di- vino e fui fisgada. Minha pequena cabana vermelha no sopé do Weston suplicava por um jardim em estilo romântico onde minhas abelhas podiam prosperar. Meu quintal podia ser um banquete de néctar e pólen, e minhas próprias abelhas poderiam visitar os sítios de flores ‘fauvistas’ para polinizar minhas flores e vegetais. Sabore- ava a idéia de trabalhar ao ar livre com as abelhas, com as unhas sujas e ligada à natureza. O jardim teria sempre o perfume sedutor da cera. E, sem dúvida, haveria mel em todo lugar e todos os dias. Antes de mergulhar completamente em meu novo hobby, o Sr. B me recomendou assistir alguns encontros de associações apícolas locais para aprender mais. "Associações apícolas? pensei. "Será que realmente existe algo do gênero?" Sem dúvida, existe. É claro de os apicultores, assim como as abelhas que eles criam, são criaturas extremamente sociáveis. A Associação dos Apicultoresde Quintal (Back Yard Beekeepers Association) é uma das muitas associações de apicultores do estado de Connecticut. Existem mais de 350 membros no BYBA (como é conhecida localmente), todos eles criam e amam as abelhas e, sem duvida, o mel. Os membros da associação oferecem seu tempo e co- nhecimento para promover esta habilidade antiga oferecendo mui- tas oportunidades educacionais aos que querem começar a criação de abelhas ou apenas desejam aprender mais sobre estas fascinan- tes criaturas. Percebi os membros da associação calorosos e de um entusiasmo eletrizante quando entrei no hall da igreja onde ocorria o encontro. Fui recebida na porta por um adorável casal de apicultores ven- dendo números para seu sorteio mensal. Ambos vestiam camisetas com abelha; o homem usava um boné adornado com dúzias de bro- ches de abelha e a mulher portava um par de brincos de abelhas 18 A Abelha em suas orelhas. Dando as boas vindas à nova participante eles me ofereceram flâmulas sobre os encontros noturnos e me convidaram a comprar números da rifa. A mesa baixa atrás deles ostentava o prêmio: uma peça ímpar de equipamento apícola. Embora não fi- zesse a mínima idéia do que era ou para que servia, paguei pela o- portunidade de ganhá-lo. Com meu auspicioso ticket na mão entrei no hall. O interior fervilhava de apicultores. Numa das laterais havia uma mesa com comida, e sobre outra mesa havia livros oficiais sobre a- picultura e livros para vender. Havia livros, filmes e panfletos e um livreiro estava mostrando para compradores interessados. Caminhei ao longo da mesa atenta aos muitos livros - novos e velhos, sérios e alegres. Os títulos incluíam Como Plantar um Jardim para Abelhas, Apicultura por Prazer e para Negócio e Biologia das Abelhas, e os tó- picos variavam desde criação de abelhas passando pela jardinagem com abelhas e cozinhando com mel. Estava começando a me cons- cientizar que o assunto abelha por todo lugar. Fiquei especialmente atraída pelos livros antigos com artísticas gravuras de abelhas e fo- tografias históricas de colméias antigas. Espiei um livro para iniciação apícola; pareceu-me acessível e não complicado, e sabendo que precisaria de toda a ajuda que conse- guisse, apanhei-o. Depois de pagar meu novo livro, me encaminhei para a mesa de quitutes para provar os petiscos artesanais, todos feitos com mel local. Biscoitos, ‘barbecue chips’, nozes - suficiente- mente nobre para qualquer rainha e regiamente dispostos sobre uma toalha bordada com abelhas. Provei alguns biscoitos de mel. Enquanto isso ouvi, por acaso, um verdadeiro bate papo de api- cultores. "Como estão suas abelhas, Tom?" perguntou uma mulher. "Duas de minhas colméias estão bem. Elas passaram o inverno muito bem. A outra enxameou na última semana e não consegui descobrir onde o enxame pousou." "É, é a estação da enxameação, nós também perdemos duas col- méias. Agora estou providenciando uma nova rainha para uma de minhas colméias." ------------------------------------- Biscoitos de Mel de Amêndoas 36 biscoitos - Tempo de preparo: 25 minutos Ingredientes ½ xícara de manteiga sem sal ou margarina M. Marchese 19 ¾ xícara de mel de trevo Red Bee® 2 ovos grandes 1 colher de chá de extrato de baunilha 3 ½ xícaras de farinha 2 colheres de chá de sementes de anis 2 colheres de sopa de canela moída ½ colher de chá de fermento ½ colher de chá de sal ¼ colher de bicarbonato de sódio ¼ colher de chá de ‘cranberries’ ¾ xícara de amêndoas silvestres secas Aquecer o forno a 350°F. Bater a manteiga numa batedeira; adicionar aos poucos o mel, os ovos e a baunilha, batendo até homogeneizar. Num pequeno recipi- ente misturar farinha, sementes de anis, canela, fermento, sal e bi- carbonato de sódio; juntar aos poucos à mistura do mel misturando bem. Juntar as ‘cranberries’ e as amêndoas. Formar dois bolos de 25 x 7 x 2,5 cm sobre uma forma untada. Assar durante 20 minutos ou até adquirir a cor marrom dourada. Remover do forno para uma tela e esfriar por 5 minutos. Reduzir a temperatura do forno para 300°F. Transferir os bolos para uma tá- bua de cortar. Cortar cada bolo em fatias de 12 mm. Arranjar os pedaços numa folha de assar. Assar por 20 minutos ou até torrar. Esfriar na tela. ------------------------------------- Pelo alto-falante foi avisado que o encontro começaria. Um ho- mem sobre o estrado se apresentou como o presidente da associa- ção. A multidão produzia um surdo zumbido enquanto os apiculto- res encontravam seus lugares. Apanhei outro biscoito de mel e sen- tei na fileira de trás com alguns folhetos e meu novo livro. Ao olhar em volta, percebi que a platéia era realmente uma mistura de pes- soas de todas as idades. Sempre que ouvia a palavra "apicultor", imaginava um homem de idade avançada com grandes mãos, usan- do um chapéu de palha e um macacão. Peter Fonda, em O Ouro de Ulisses, vinha de imediato na minha lembrança. Mas este grupo era repleto de homens e mulheres, jardineiros e fazendeiros, profissio- nais e negociantes, artistas e outras almas criativas. O presidente anunciou as próximas inspeções de colméias e mui- tas outras oportunidades de aprendizado sobre abelhas que esta- vam abertas aos membros. Todos estes eventos e muitos outros constavam na página da associação. Alguns que se encontravam no 20 A Abelha fundo da sala lembravam o grupo que haveria uma troca de mel aquela noite depois da palestra. Troca de mel! Era algo que definiti- vamente desejava ver. Finalmente o palestrante convidado foi apresentado. Era um mui respeitado entomologista e pesquisador que falou sobre as abelhas e o papel vital que elas desempenham na polinização de nosso ali- mento. Escutei com muita atenção toda sua palestra. Eram muitas novidades e informações interessantes a serem absorvidas. A. POLINIZAÇÃO: PORQUE NÃO PODEMOS VIVER SEM ELA? Antes das plantas poderem crescer elas precisam ser polinizadas. A polinização é a primeira etapa necessária na fertilização de todas as plantas através da transferência do pólen, poeira grudenta e a- marela produzida pela flor da planta. As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 100 culturas agrícolas nos Estados U- nidos, incluindo frutas, vegetais, sementes, legumes e dezesseis ti- pos de espécies de flores. As abelhas fazem pelo menos doze vôos de forrageamento num M. Marchese 21 único dia, visitando milhares de flores. Tentadas pelas cores bri- lhantes e pelo perfume agradável do néctar, as abelhas são recom- pensadas com o pólen. O processo de polinização começa com os minúsculos grãos de pólen produzidos pela parte reprodutiva da flor, que é chamada de antera. Quando este pólen é transportado para a parte feminina da planta, chamada de estigma, ocorre a po- linização. Estes grãos de pólen são transferidos ao grudarem no corpo coberto de pêlos da operária durante suas visitas a cada planta. Embora existam diversas formas de transferência do pólen - borboletas, mamangavas, traças, beija-flor, morcego e mesmo o vento pode transportar pólen - as abelhas estão entre os polinizado- res mais eficientes porque seus corpos cobertos de pêlos atraem o pólen e o distribuem enquanto elas estão forrageando. Depois da polinização, o pólen masculino se une com o ovo femi- nino dentro do ovário da planta. Ali ele cresce, ou germina. Esta e- tapa final do processo é chamada de fertilização. Uma vez ocorrida a fertilização no ovário, a flor morre, suas pétalas caem do pedúncu- lo’0 e são produzidos o fruto e a semente. As sementes são espalha- das e novas flores aparecem.Algumas espécies de plantas podem ser fertilizadas pelo pólen de flores das mesmas plantas ou de um cultivar similar da mesma espécie. No entanto, estas plantas auto- polinizadas podem providenciar seu próprio pólen, maselas ainda precisam das abelhas para transferir o pólen para outra flor da mesma planta. Outras espécies de plantas exigem pólen de cultivar diferente para a fertilização, e este processo é chamado de poliniza- ção cruzada. Muitas destas flores têm parte masculina e feminina, mas a natureza não permite que estas plantas sejam fertilizadas pe- lo seu próprio pólen. A polinização cruzada somente é possível quando ambas as plantas estão floridas ao mesmo tempo. Uma abelha costuma visitar o mesmo tipo de flor repetidamente enquanto colhe pólen. Outras abelhas da mesma colônia podem es- tar visitando flores de outros tipos, mas cada abelha visitará repeti- damente o tipo por ela escolhido. Esta fidelidade é chamada cons- tância floral, e é outra razão de as abelhas serem polinizadoras tão boas. As flores também produzem néctar, substância líquida clara normalmente encontrada no centro da maioria das flores, local chamado de nectário. A operária apanha néctar das flores e o carre- ga para a colméia para transformá-lo em mel. As abelhas conso- mem o pólen para atender sua necessidade de proteína, vitaminas e gordura e o mel sua necessidade de carboidrato. Como compensa- ção a abelha fornece polinização para as plantas que ela visita. 22 A Abelha ------------------------------------- Termos utilizados em polinização Cultivar: Cultura de uma variedade de plantas de mesma espécie que recebe o mesmo nome e raça por suas características desejá- veis. Variedade: Variação dentro da mesma espécie. Auto-polinização: Transferência do pólen da parte masculina de uma flor para a parte feminina da mesma flor ou de outra flor da mesma planta. Também chamada "flores perfeitas". Polinização cruzada: Transferência do pólen da parte masculina de uma flor para a parte feminina da flor de outro cultivar. Polinizador: Agentes como as abelhas, traças, borboletas e outros insetos, vento e os humanos que, fisicamente, transferem o pólen da antera para o estigma da flor. Polinizada: Planta que é fonte de pólen. ------------------------------------- Produtos que não foram apropriadamente polinizados ficam des- figurados e subdesenvolvidos. Pelo seu aspecto parecem não sabo- rosos. Um pepino perfeitamente polinizado cresce reto e redondo, se ele não for perfeitamente polinizado, ficará torto e curvado. Melão firme, pesado e suculento foi polinizado adequadamente, assim co- mo também as maçãs grandes e que permanecem em pé sem apoio. As sementes da melancia nos dizem muito sobre a polinização. As sementes pretas foram polinizadas, mas a brancas não. Quanto mais sementes pretas, mais doce será a melancia. As sementes po- linizadas produzem os hormônios que fazem as frutas e os vegetais amadurecerem e serem saborosos. Colheitas pobremente poliniza- das estragam rapidamente e seguidamente provocam problemas di- gestivos. Muitas lojas especializadas e donos de restaurantes não aceitam produtos subdesenvolvidos pois eles sabem que os consu- midores os rejeitarão. Apicultura ambientalmente consciente é empreendimento agríco- la completamente sustentável. As abelhas garantem a sustentabili- dade através da polinização ajudando no ciclo de vida natural das plantas, que provê a rica variedade de flora e fauna numa dada re- gião geográfica, e ao mesmo tempo contribuindo para a vida selva- gem. Enquanto isso, o mel produzido pelas abelhas é um produto comestível que não prejudica o meio ambiente, não cria resíduo e mantém o ecossistema. A produção de mel pode ser sinal da saúde da biodiversidade de uma área geográfica. Grande número de plan- M. Marchese 23 tas saudáveis indica meio ambiente saudável. Preferir consumir mel de sua região geográfica local é escolha sustentável. Consumindo mel local, você estará não apenas apoiando seus apicultores locais mas também ajudando a agricultura e a manutenção dos pequenos negócios. Um terço dos alimentos produzidos no mundo - ou um de cada três bocados de qualquer coisa consumida pelo homem - depende, de alguma forma das abelhas. Abelhas saudáveis significam não somente mais mel mas também ampla variedade de alimentos em nossa mesa. Sem abelhas, nosso suprimento de alimento fresco fi- cará severamente limitado. Os apicultores alugam populações de abelhas aos fazendeiros em todo o país que confiam às abelhas a polinização de suas planta- ções. Os fazendeiros buscam este serviço através de contratos de polinização. As abelhas são arrendadas anualmente e o pagamento é por colméia. Em 2008, pagava-se $135 a $190 por colméia. Os a- picultores seguidamente conseguem mais recursos alugando suas colônias para polinização do que vendendo mel. Você se sentirá bem comprando mel porque você sabe que aquele pote representa não apenas o trabalho despendido pelas abelhas para produzi-lo mas também o benefício que ele representa para a agricultura, fazendei- ros e é o alimento que você come todos os dias. Estima-se que existam cerca de 2,4 milhões de colônias de abe- lhas nos Estados Unidos, e a cada ano dois terços delas são trans- portadas pelo país para polinizar plantações. A estação típica come- ça na Califórnia onde 580.000 acres de plantação de amêndoas de- pendem inteiramente das abelhas para a polinização. (A Califórnia fornece 100 por cento das amêndoas do país e 80 por cento das amêndoas do mundo). Todos os anos, em Fevereiro, 1,5 milhões de colônias de abelhas são transportadas, em caminhões, para a poli- nização da plantação de amêndoas do estado. Esta colossal opera- ção é o maior evento de polinização do mundo, comprometendo mais da metade de todas as abelhas dos Estados Unidos! As abe- lhas são depois levadas para o Norte para trabalharem nas flora- ções de cereja e maçã. O estado de Nova York, por exemplo, neces- sita de 30.000 colméias para polinizar a plantação de maçã. A pró- xima parada é a plantação de laranja na Flórida, seguida das frutas vermelhas em Nova Jersey e Massachusetts. Depois as abelhas via- jam para os campos de trevo de Dacota do Norte e finalmente para Maine, que necessita cerca de 50.000 colméias para o mirtilo. A polinização das abelhas acrescenta de $15 bilhões a $20 bi- lhões por ano à produção agrícola dos Estados Unidos. Seu valor 24 A Abelha para a economia não pode ser subestimado. Os produtores de a- mêndoas estimam que em 2012 serão necessárias 2 milhões de colméias para polinizar os estimados 800.000 acres de amêndoas. Outras culturas - como melão, abacate, melancia, cantalupe, todas as variedades de frutas cítricas e pepinos - também exigem várias visitas de abelhas antes de produzirem frutos. As abelhas desempenham um valioso papel no suprimento de carne, leite, queijo e outros laticínios. Os fazendeiros confiam pesa- damente nas abelhas para a polinização de grande parte das plan- tações de alfafa e trevo. Ambos são ricos em proteína e representam cerca de um terço da dieta do gado. O gado pode ser alimentado com grama e grãos mas estes alimentos não têm muita proteína. Gado bem alimentado significa carne, leite e queijo mais saborosos. A Häagen-Dazs afirma que 40 por cento dos ingredientes do sabor do seu sorvete dependem das abelhas. Coco, oliva, amendoim, colza, soja e girassol também exigem abe- lhas para a polinização a fim de produzir graxas e óleos que neces- sitamos para nossa dieta. Oitenta por cento do algodão para a fa- bricação das roupas que vestimos, sem mencionar outros itens do- mésticos, como tapetes, roupa de cama e móveis confiam nas abe- lhas, assim como a plantação de algodão também precisa ser polini- zada. Os cereais do café da manhã, nozes, biscoitos, tortas de fru- tas e sucos, sem mencionar o ketchup e salada, também dependem das abelhas porque elas polinizam muitos dos ingredientes ali utili- zados, tais como caju, nozes, ameixas, pomelo, pêssegos, cerejas, canela,tomates e cebolas. B. O DESAPARECIMENTO DA POPULAÇÃO DE ABELHAS NOS ESTADOS UNIDOS. De onde vieram as abelhas? O Departamento de Agricultura dos USA estima que existam en- tre 140.000 e 212.000 apicultores nos Estados Unidos. A maioria é amadora com algumas a várias dúzias de colméias. Existem apro- ximadamente 1.600 apicultores comerciais operando nos Estados Unidos que produzem 60 por cento do mel do país. A demanda por abelhas cresce anualmente, mas a população de colméias manejadas caiu de 3,5 milhões em 1989 para 2,3 milhões em 2008. Isto é um decréscimo de 34 por cento desde a década de 1980 quando o ácaro da Varroa foi descoberto nos Estados Unidos. O parasita marrom avermelhado se prende à abelha durante sua metamorfose dentro do alvéolo. Alimentando-se do sangue da abe- M. Marchese 25 lha, o ácaro transmite vírus às abelhas que enfraquecem as colô- nias e provocam pesadas perdas a cada ano. O ácaro da Varroa é um grande perigo para as colônias de abelhas e para o sustento dos apicultores que as manejam. Outro grande problema para a comunidade apícola foi relatado pela primeira vez por um apicultor comercial em Outubro de 2006. É conhecido como Colony Collapse Disorder (CCD). A CCD é identi- ficada pelo súbito desaparecimento da população adulta da colméia. Em alguns casos somente a rainha e algumas abelhas adultas, a- lém da cria, permanecem na colméia. Os apicultores comerciais a- brem suas colméias e as encontram vazias sem sinal de abelha. As perdas financeiras resultantes são devastadoras. As colônias de a- belhas desaparecendo e os apicultores sem condições de fornecer as abelhas necessárias para a polinização das culturas, a produção de alimento pelos fazendeiros cai. Os consumidores, por sua vez, não mais dispõem de produtos frescos e outros alimentos para suas mesas e, conseqüentemente, os preços dos produtos disponíveis aumenta. Apicultores e cientistas estão perplexos em busca das causas dessa nova desordem. Algumas das muitas teorias a respeito da CCD dizem ser ela causada pela saúde debilitada das abelhas e es- tress de abelhas com trabalho excessivo. Patógenos, parasitas e pesticidas também são considerados como causas possíveis. Outros afirmam que as perdas pelo CCD se devem a inseticidas - especifi- camente produtos químicos chamados neonicotinoides. Alemanha, Itália, Slovênia e França baniram o uso destes produtos desde que eles foram ligados às perdas maciças de abelhas. Também se con- cluiu que o uso abusivo de outros químicos e antibióticos compro- metem o sistema imunológico da abelha. Estão sendo feitos muitos esforços para criar uma abelha higiêni- ca ou quase perfeita que tenha as qualidades para resistir às doen- ças, pestes e pesticidas. Mas até estes esforços obterem sucesso o declínio da população de abelhas causada pela CCD e aumento do custo de manutenção das abelhas apenas aumenta as dificuldades que os apicultores comerciais já enfrentam. Por exemplo, a prática desonesta de embarcar mel de qualidade inferior e falsificado, que na verdade não é puro, de países como Canadá, Argentina, Austrá- lia e China. Em 2008, muitos atacadistas e usuários comerciais de mel compraram toneladas de mel Chinês por $0,20 a libra, enquan- to, para o apicultor doméstico, ele custa cerca de $1,00. Quem con- segue competir? * * * 26 A Abelha Muitas dessas informações, incluindo detalhes da polinização, papel vital que as abelhas desempenham na agricultura dos Esta- dos Unidos e os desafios enfrentados pelos apicultores comerciais eu as consegui durante os anos dos palestrantes nos encontros do BYBA. Não faço idéia quanto mais as abelhas têm a oferecer aos humanos e ao planeta. Durante a palestra que assisti no primeiro encontro, fiz anotações sobre a polinização, juntamente com alguns desenhos de flores e abelhas. Um desenho foi uma rainha portando uma coroa e segurando um cetro. Suas atendentes deslizavam à sua volta e pela colméia. Estes foram os primeiros de muitos dese- nhos e notas que eu incluiria na minha revista. Uma mulher à minha esquerda lançou um olhar sobre meus de- senhos. Trocamos sorrisos e, depois da palestra, ela se apresentou como Mary. Disse-lhe que eu era uma ilustradora convertida em a- picultora; ela disse ser uma contadora convertida em apicultora. Rimos as duas ao constatar que cada uma era uma alma desencan- tada com seu trabalho "nine-to-five". Mary me disse estar criando abelhas há três anos e ainda se considerava uma iniciante. Ela fa- lou também de como as abelhas lhe trouxeram paz espiritual e que os apicultores são um grupo apaixonado e instruído que está sem- pre disposto a estender a mão e oferecer ajuda com base em sua própria experiência. Esta boa vontade é contagiosa e Mary se en- controu ela própria oferecendo seu conhecimento como mentora de novos apicultores. "Quanta generosidade e amabilidade," pensei eu. Num mundo de negociantes, aqui era um lugar onde algumas pes- soas eram abnegadas. Pareceu-me que a natureza e as abelhas têm esse efeito nos humanos. Percebi que existia um verdadeiro sentido de compartilhamento dentro dessa comunidade de pessoas com tal espírito. Perguntei a Mary onde ocorreria a troca e fui encaminhada a uma velha mesa de madeira, onde sete apicultores rodavam e observa- vam potes de mel de várias formas e tamanhos. As cores dos méis também variavam do claro ao médio e escuro. Alguns tinham tons vermelhos, e outros verdes. Todos eles tinham sido colhidos por a- picultores locais que eram membros da associação. Os rótulos feitos a mão e caprichados ostentavam o nome do apicultor ou fazendeiro. Muitos mostravam motivos típicos de abelhas e flores, enquanto ou- tros mostravam colméias estilizadas. Achei engraçado um que dizia: "One Pound Golden Hoard Honey" (Uma Libra de Mel da Reserva Dourada). Nossas abelhas forrageiam exclusivamente em backcoun- try Greenwich. Elas não visitam Stamford, Armonk. Port Chester ou outros locais semelhantes." Os Apicultores realmente são criativos, M. Marchese 27 habilidosos e, definitivamente, não lhes falta senso de humor. As regras de troca eram simples. Qualquer apicultor que contri- buísse com um pode de mel podia escolher um pote em troca. Olha- va cada vez que um pote era levantado por pouco tempo e gostaria de possuir algum mel meu para trocar. Mary, que trouxe um pote, escolheu um mel muito escuro de trigo mouro. Ela me disse que mel mais escuros tem ferro e antioxidantes. Também, o mel tinha 28 A Abelha qualidades das plantas de cujas flores as abelhas coletaram néctar - neste caso, trigo mouro. Um gentil apicultor percebeu meu inte- resse em todas as amostras de mel e ofereceu-me um dos três potes que ele apanhara da mesa. Aceitei com grande prazer. "Você é nova aqui, não é?" perguntou ele. Quando confirmei que era, disse ele, "Continue vindo aqui e você aprenderá muito sobre abelhas. E fará alguns amigos." Antes de a noite terminar fui ao encontro do Sr. B que me apre- sentou para outros amigos apicultores. "Nova-abelha" é o nome uti- lizado para descrever novos apicultores, e assim eu era tratada. Fui convidada a me associar e participar de uma inspeção de colméia no sábado seguinte. Sem hesitar, aceitei o convite e anotei meu en- dereço. Meu primeiro encontro de apicultura foi como abrir as portas pa- ra todo um mundo novo que não fazia a mínima idéia que existia. Olhando para trás, a associação de apicultores era como uma soci- edade secreta, completa, com seus próprios encontros e até mesmo com seu vocabulário próprio. Através da BYBA pude encontrar pes- soas de todo tipo de vida, mas todos compartilhavam a mesma pai- xão pelas abelhas. Eles podiam ensinar-me como manejar minhas abelhas e como colher e envasar meu mel. Eles estariam ali à mi- nha disposição como mentores vitalícios,fazendo-me uma ótima a- picultora. Não foi muito antes de eu ficar mais envolvida com a or- ganização, mas foi depois de eu trabalhar na diretoria, que soube que o Sr. B tinha sido presidente. M. Marchese 29 III - APIOLOGIA: O ESTUDO DAS ABELHAS Sabendo que a inspeção de colméias me esperava no Sábado, o restante da semana de trabalho, depois do primeiro encontro no Back Yard Beekeepers, custou a passar. A despeito de toda a liber- dade criativa que meu trabalho me oferecia, o projeto e busca repe- titiva de produtos começou a perder seu charme. Minha afeição pe- las abelhas e o imenso mundo de sabedoria que elas me abriram era excitante. Ocorreu-me que eu era apenas uma operária, mas que cobiçava ser rainha. Finalmente chegou o Sábado e levantei cedo. Como eu ainda não possuía a tradicional jaqueta de proteção de apicultor e a máscara, me recomendaram ir de mangas longas e cores claras. As abelhas toleram cores claras e tem a vantagem adicional de serem mais frescas ao trabalhar sob sol forte. Assim, vesti uma camiseta branca de mangas longas, jeans e minhas familiares botas de vaqueiro. Sal- tei em meu jipe e dirigi até o apiário onde ocorreria a inspeção. ------------------------------------- Classificação científica da Abelha Reino: Animal Filo: Artrópodes Classe: Insetos Subclasse: Pterygota Classe inferior: Neoptera Super-ordem: Endopterygota Ordem: Himenópteros Sub- ordem: Apocrita Família: Apidae Sub-familia: Apinae Tribo: Apini Gênero: Apis Em 1758, Carolus Linnaeus forneceu o nome científico da abelha, Apis mellifera. Em Latim significa literalmente "abelha carregadora de mel". Em 1761foi introduzido um nome mais preciso, A. mellifica, 30 A Abelha "abelha produtora de mel". O nome dado por Linnaeus permaneceu por causa das regras que orientam a nomenclatura científica, mas A. mellifica é usada ocasionalmente em literatura mais antiga rela- cionada com apicultura. ------------------------------------- O apiário não ficava a mais de vinte e cinco minutos de minha casa e localizado um pouco afastado da estrada de chão batido, longe de outras casas. Às onze em ponto cheguei ao final de uma estrada cheia de curvas e empoeirada para encontrar os apiculto- res, vestidos a rigor e com formão e fumegador à mão, amontoados ao lado de uma parede de pedra coberta de hera. O lugar era um paraíso para os polinizadores, açafrão, narciso e galanto em flor em todas as direções até onde a vista alcançava. O jardim explodia de flores. Os apicultores me cumprimentaram e o anfitrião, chamado Billy, ofereceu-me uma máscara e um formão, um pedaço de metal que parecia um pequeno pé de cabra. Billy disse ao grupo, "Caso vocês forem ao apiário sem formão e sem fumegador voltem para buscá-los. É impossível tentar abrir uma colméia sem eles." Era a experiência de um antigo apicultor falando. Em seguida ele condu- ziu o grupo ao longo da parede de pedra e através de um pomar de maçã. Enquanto caminhávamos, ele mostrou-nos o black locust e a tulipa, que as abelhas gostam, além das flores de maça. Billy mostrou uma velha cisterna cheia de água ali colocada es- pecialmente para saciar a sede das abelhas. É curioso como as abe- lhas bebem água, desviei para dar uma olhada. As abelhas flutua- vam caprichosamente sobre folhas e gravetos sugando a água com sua longa língua. Algumas abelhas tinham caído na cisterna e se debatiam inutilmente na água tentando se agarrar a um graveto ou folha em busca de socorro. Imaginei que podia ajudá-las. Ofereci meu formão. Uma a uma, elas se agarraram no formão com as seis patas e pude deixá-las em segurança numa folha que flutuava. As colônias de abelhas necessitam de água assim como necessi- tam de néctar e pólen, e elas bebem alguns galões de água por dia. A água é usada na diluição do mel ao preparar a comida da cria e para resfriar a colméia. É recomendado que os apicultores provi- denciem uma fonte de água para as colméias. Uma tina rasa cheia M. Marchese 31 de água, colocada perto das colméias evitará que as abelhas visitem a piscina do vizinho ou suguem água das roupas estendidas no va- ral para secarem. Colocando estrategicamente alguns gravetos so- bre a água as abelhas terão algo em que pousar. Enquanto as abelhas de Billy bebiam água na cisterna eu obser- vei atentamente seus pequenos corpos. A. ANATOMIA DE UMA ABELHA O corpo da abelha está composto de três partes: cabeça, parte in- termediária ou tórax e abdômen. A abelha está coberta da cabeça aos pés com finos pêlos que facilmente magnetizam partículas de pólen. Duas antenas estão presas à sua cabeça que tem forma tri- angular. As antenas estão equipadas com pêlos sensoriais onde re- sidem os sentidos do tato, paladar e olfato da abelha. Estes sentidos são importantes, uma vez que a maior parte dos trabalhos da abe- lha é feita dentro da colméia vagamente iluminada. ------------------------------------- Tipos Mais Populares de Abelhas As abelhas não são nativas dos Estados Unidos. No entanto as abelhas existem há mais de trinta milhões de anos. Elas chegaram a este continente com os colonizadores na virada do século. Abelha Preta Alemã: (Apis mellifera mellifera). Muito provavel- mente é a primeira abelha a chegar nos Estados Unidos. No entanto ela é tida como agressiva e lenta no aumento da população na pri- mavera. Abelha Italiana (Apis mellifera ligustica). Tornou-se popular nos Estados Unidos por ser boa produtora de mel e resistente à maioria das doenças. Originária do sul da Itália, atualmente é a mais co- mum de todas as espécies de abelhas nos Estados Unidos. Ela é de cor dourada a marrom avermelhado. Ela tem tendência à pilhagem e consome seu próprio mel rapidamente. Abelha Carniolana (Apis mellifera caucásica). Originária da área perto dos mares Negro e Cáspio. É dócil, enxameadora e pratica- mente solda sua colméia com própolis. Abelha Russa. Originária da região Primorsky Krai do sul da Rússia. Esta linhagem é considerada dócil e boa coletora de néctar. ------------------------------------- A abelha tem cinco olhos com um total de sete mil facetas que de- tectam movimento, cor e luz. Dois olhos compostos grandes são sensíveis ao movimento e cor, enquanto três olhos pequenos, locali- 32 A Abelha zados acima dos olhos compostos e chamados de ocelos, são sensí- veis à luz, mas não vêem imagens. Seriam estas lentes com forma hexagonal as responsáveis pela forma como as abelhas constroem o favo com forma hexagonal? Muito gostaríamos de saber, mas ainda não descobrimos a resposta. Para mastigar e moldar a cera em favo, as abelhas têm as mandí- bulas ou queixadas. Para sugar o mel e água a abelha usa a língua ou probóscide. Dois conjuntos de asas e seis pernas estão ligados ao tórax. As asas das abelhas são finas e claras e têm veias em toda sua exten- são. Elas batem 180 vezes por segundo, em média, e uma abelha pode voar a 15 milhas por hora. Durante o vôo as asas se prendem uma à outra através de delicados ganchos, chamados de hanuli, e- xistente nas asas traseiras. Todas suas seis pernas são segmenta- das e usadas para caminhar e se limpar. As pernas traseiras pos- suem cestas de pêlos que as abelhas utilizam para carregar pólen. No abdômen da abelha estão seus órgãos de reprodução e sistema digestivo, bem como seu ferrão e glândulas produtoras de cera. Como a maioria dos insetos as abelhas não têm ossos, mas em vez disso tem uma dura e protetora cobertura chamada exoesqueleto. As abelhas têm sangue, mas não têm veias em seus corpos, apenas uma simples aorta que transporta o sangue do seu coração com quatro câmaras até a cabeça. Dali ele circula livremente pelo abdô- men. Elas também não têm pulmões. O ar chega a cada célula em-M. Marchese 33 purrado através de um sistema traqueano de pequenos tubos. ------------------------------------- Torta de Maçã Polinizadas pelas Abelhas com Mel Ingredientes 2 crostas de torta de 20 cm 5 xícaras de maçã Granny Smith e Macintosh descascadas, sem sementes e em fatias 1 xícara de mel silvestre Red Bee® 1 colher de chá de canela 1 colher de chá de baunilha 2 colheres de sopa de manteiga sem sal Coloque a grade na terça parte inferior do forno e pré-aqueça a 400°F. Encha a crosta de torta com as fatias de maçã. Derrame o mel sobre as maças e borrife a canela e a baunilha. Coloque pequenas porções de manteiga. Cubra enchendo com a segunda crosta de torta e abra buracos de ventilação na crosta superior. Asse por 15 minutos. Em seguida reduza a temperatura para 350°F. Continue a assar até a crosta de cima ficar levemente marrom e se notar que esteja borbulhando, 40 a 45 minutos. Sirva quente e derrame mais mel. ------------------------------------- Continuando a caminhada através do pomar do Billy. Ele citou que muitas fazendas no estado de Connecticut produzem frutas e bagos que vendem exclusivamente nos mercados locais e para pa- darias que fazem deliciosas tortas de frutas. Frutas, nozes e bagos começavam a florescer. Se as abelhas não polinizarem as flores, es- tas nunca se transformarão em maçãs, pêras, mirtilo, amora, abó- boras, oxicoco, pêssegos, avelãs, castanhas, amêndoas e polpas que encontramos em muitas boas tortas. Caso queiramos saborear es- sas gulodices de padaria, alertou Billy, devemos continuar a criar abelhas. Durante sua locução, tudo em que pensava era, o que eu faria sem a torta de maçã da minha mãe? Criando abelhas eu esta- ria realmente ajudando Mom a salvar as maçãs do mundo. 34 A Abelha O grupo circulou pelos pomares até chegar ao apiário, formado por seis colméias ao todo. Billy disse ao grupo que ele cria abelhas há quatro anos e a apicultura é o hobby mais recompensador que ele conheceu. A visita de hoje da colméia seria uma inspeção geral de primavera para identificar os habitantes da colméia: rainha, ope- rárias e zangões. Poderíamos aprender a identificar os pequenos o- vos dentro do ninho da cria. Usando um papel prensado facilmente inflamável, chamado de combustível do fumegador, Billy acendeu seu fumegador. Enquanto o fazia, explicou que caso o fumegador apagar, não podemos perder tempo tentando acendê-lo com a colméia aberta e exposta aos ele- mentos externos. O combustível do fumegador se mantém em com- bustão continuamente sem que precisemos perder tempo com pre- parativos. Papel prensado feito de fibra de algodão prensada pode ser comprado nas lojas de produtos apícolas. Gratos por estas pequenas dicas, seguimos o Billy até a primeira colméia, onde todos ouvimos atentamente enquanto Billy falava so- bre a hierarquia dentro da colméia. Para mim, uma colméia viva, com sua rainha e suas atendentes, operárias que fazem todas as ta- refas, e zangões bonachões, soava como um conto de fadas. B. A VIDA NA COLMÉIA Uma colméia típica de abelhas, no auge do verão, tem uma colô- nia de aproximadamente 80.000 abelhas, a maioria das quais são operárias femininas. Cada colméia tem uma rainha, que é a mãe de M. Marchese 35 todas as abelhas da colméia e a única fêmea desenvolvida sexual- mente. Todas as atividades da colméia giram em torno da rainha e sua postura de ovos. A rainha é a maior abelha dentro da colméia e pode ser identificada por suas pernas longas e abdômen esbelto. É mais longo do que o abdômen das operárias e mais fino do que o dos zangões. Seguidamente o apicultor marca a rainha usando tin- tas especiais à prova d'água, com um ponto colorido em seu tórax. Esta marca tem dois propósitos. Primeiro, fica mais fácil localizar a rainha numa colméia de 80.000 abelhas e, segundo, a cor do ponto indica o ano em que a rainha nasceu. O conjunto de cores, usado pelos apicultores de todo o mundo, é: Azul: anos terminados em 0 e 5. Branco: anos terminados em 1 e 6 Amarelo: anos terminados em 1 e 7 Vermelho: anos terminados em 3 e 8 Verde: anos terminados em 4 e 9. Para marcar a rainha os apicultores usam uma ferramenta especial chamada agarrador de rainha, um pequeno grampo com mola (pa- recido com um grampo de cabelo), para apanhar delicadamente a rainha. Ela é então induzida a entrar num pequeno tubo de plástico claro de marcar rainha. A outra extremidade do tubo está fechada por uma tela. O êmbolo coberto por uma esponja é empurrado pelo lado aberto do tubo e pressiona a rainha contra a tela. Quando su- as costas ficam contra a tela, o apicultor apanha o marcador de ra- 36 A Abelha inha e, através da tela, marca o dorso do seu abdômen.1 A tinta leva alguns segundos para secar e depois a rainha é colocada de volta na colméia. 1. A RAINHA E A REPRODUÇÃO DAS ABELHAS Todas as abelhas fêmeas começam sua vida da mesma forma: como ovo fertilizado. Os ovos são postos no ninho da cria. O ninho da cria se encontra normalmente nos quadros internos da colméia, é formado por um conjunto de alvéolos, cada um contendo um ovo, formando um padrão de postura com formato oval. Uma pequena área de alvéolos, em forma de arco, acima do ninho da cria contém pólen. Acima do pólen outro arco, que se estende aos dois cantos do quadro, contém mel. Somente o ovo posto pela rainha dentro da re- aleira se desenvolverá em rainha. As realeiras são maiores do que os alvéolos nos quais são criados as operárias e zangões e ficam penduradas na vertical dentro do ninho da cria. O apicultor identi- fica as realeiras porque elas sobressaem como amendoim no ninho da cria. Durante os três primeiros dias de vida como larva, todas as abe- lhas - rainhas, operárias e zangões - são alimentadas com geléia re- al, uma secreção protéica produzida pelas glândulas hipofaringea- 1 Embora a autora tenha escrito "abdômen" temos marcado normalmente no tórax. N. T. M. Marchese 37 nas localizadas na cabeça das operárias maduras. Durante o res- tante do estágio larval, e pelo resto de suas vidas, somente rainhas em potencial continuam a ser alimentadas com geléia real, enquan- to operárias e zangões são alimentados com pólen e néctar. A geléia real é o que possibilita que a rainha se desenvolva em fêmea sexu- almente madura. No sétimo dia do estágio larval a larva da rainha se transforma em pupa, e nesse momento as operárias fecham a realeira com uma tampa de cera. A jovem princesa emerge aproximadamente dezes- seis dias mais tarde2 fazendo um corte circular na parede da realei- ra até que a ponta se abra como uma porta. Algumas operárias se tornam suas atendentes e despendem o resto de suas curtas vidas3 alimentando-a e cortejando-a, limpando suas fezes e a seguindo pe- la colméia. A rainha verdadeiramente vive uma vida de realeza. Ela não recolhe néctar ou pólen, sequer toma conta da cria. Estas são tarefas das operárias. A rainha só deixa a colméia copular com os zangões ou num enxame. Durante a primeira se- mana, a recém emersa princesa deixa a colméia pela primeira vez para o que é chamado de vôo nupcial. Este evento dra- mático entre a princesa e zangões de outras colméi- as acontece no ar, bem a- cima da colméia e do traje- to de vôo normal das ope- rárias. Os zangões se reú- nem nas zonas de congre- gação de zangões. Não é sabido como essas áreas são escolhidas, sabe-se apenas que são locais lon- ge da colméia onde os zangões se encontram e esperam pela princesa. Os zangões mais rápidos con- seguem pegar a princesa e 2 A princesa emerge da realeira quize a dezesseis dias após a postura do ovo. N. T. 3 As operárias fazem a corte da rainhado sexto ao décimo primeiro dia de suas vi- das. N. T. 38 A Abelha copular com ela. Para atrair os zangões, a princesa secreta feromô- nios em sua glândula mandibular, chamados substância da rainha. A princesa pode copular com até vinte zangões. Ela faz apenas um vôo de fecundação em sua vida e neste vôo ela é suprida com es- perma para toda a vida. Ela armazena o esperma na espermateca, seu órgão feminino que recebe e carrega o esperma. Ao retornar à colméia a rainha começa a postura de ovos. Depois de fecundada, as glândulas da rainha amadurecem e co- meçam a trabalhar, produzindo feromônios que regulam todas as tarefas da colméia. Os feromônios são mensagens químicas essen- ciais para a comunicação das abelhas, que provocam certos tipos de atividades na colméia. As atendentes da rainha distribuem estes fe- romônios para as demais abelhas da colméia tocando as operárias com as antenas e batendo suas asas. Estas operárias, por sua vez, tocam outras abelhas e assim por diante. A rainha é a abelha mais importante dentro da colméia, e toda abelha dentro da colméia sen- te sua influência. Caso a rainha desaparecer ou deixar a colméia, não demora muito para que seu feromônio desapareça e as operá- rias percebam a falta de sua rainha. Durante os meses de verão uma rainha bota um ovo a cada vinte M. Marchese 39 segundos, dia e noite, com uma parada a cada vinte minutos. Ela deve botar até dois mil ovos por dia - quantidade que é aproxima- damente igual a seu próprio peso. Rainhas saudáveis e produtivas depositam um ovo em cada alvéolo no ninho da cria e deixam ape- nas alguns alvéolos vazios. Isto é considerado um padrão normal de cria. Pode ser difícil para o iniciante identificar os ovos; eles se pa- recem como pequenos grãos de arroz verticais ao fundo do alvéolo, e existe apenas um dentro de cada alvéolo. No estágio larval se pare- cem como pequenas e brilhantes larvas encurvadas na forma de "C" flutuando sobre geléia real. Assim que os alvéolos são operculados, a larva tece o casulo de seda, se espicha novamente e se transforma em pupa. Opérculos são as coberturas convexas de cera feitas pelas operárias para cobrir os alvéolos. Assim que os alvéolos são opercu- lados as larvas começam a se parecer com abelhas. Nem todos os ovos são fertilizados. Ovos não fertilizados geram machos ou zangões, enquanto os fertilizados geram fêmeas ou ope- rárias. Caso a rainha não copular ou, em outras palavras, não for fecundada, todos seus ovos gerarão zangões e ela deve ser substitu- ída pelo apicultor. Uma rainha pode viver até cinco anos, mas sua produção de ovos começa a cair depois de dois a três anos. Por esta razão os apicultores devem substituir as rainhas de suas colméias. A substituição anual das rainhas garante que a colméia terá uma jovem e saudável rainha. Rainha forte, por sua vez, significa colônia forte que garante produção máxima de mel. A rainha tem ferrão, mas esse não dispõe de fisgas como da ope- rária. Ela é capaz de ferroar repetidas vezes, mas reserva seu ferrão para os momentos de desespero no combate com outras rainhas. Ela não o usa para defender a colméia. Quando abrimos as colméias de Billy, observamos várias abelhas abanando suas asas. Este comportamento é conhecido como venti- lação e, além de distribuir os feromônios da rainha, provoca a circu- lação do ar a fim de controlar a temperatura e umidade dentro da colméia. Durante o desenvolvimento da cria a temperatura do ninho da cria é mantida entre 32 a 35°C, mesmo que a temperatura ex- terna esteja acima de 38°C ou abaixo de zero. Como as abelhas me- tabolizam mel para gerar o calor necessário para aquecer a colméia, o mel deve estar sempre presente na colméia. A presença da rainha é essencial para a vida da colméia. A colô- nia criará uma nova rainha por três diferentes razões: se a rainha existente for removida ou morta acidentalmente por erro do apicul- tor; ou se perder durante o vôo de fecundação; ou se a rainha velha está falhando e sua produção da substância da rainha e postura de 40 A Abelha ovos está caindo. Rainha morta, removida ou perdida será substituída pela colônia com uma rainha de emergência. As colônias selecionam um ovo fer- tilizado ou larva de operária jovem que não tenha mais de três dias de idade. Este ovo ou larva especialmente selecionado está num al- véolo comum de operária que será transformado em realeira para acomodar o corpo maior da rainha. Rainha que estiver falhando será substituída por outra rainha pe- lo processo de substituição na presença da rainha. A rainha botará um ovo fertilizado na realeira. Quando a nova princesa emerge, a velha rainha é peloteada pelas operárias. Peloteamento é o processo no qual as operárias se amontoam em volta da rainha até ela mor- rer por superaquecimento. Rainhas criadas na presença da rainha normalmente são mais fortes e melhor cuidadas do que rainhas de emergência uma vez que elas não são criadas em situação de pânico e recebem maior quantidade de alimento (geléia real) durante o desenvolvimento. 2. OPERÁRIAS As operárias são todas fêmeas e elas formam o maior grupo den- tro da colméia. Elas são sexualmente subdesenvolvidas e não põem ovos em condições normais. No entanto, as operárias fazem tudo o restante, desde alimentar e cortejar a rainha a coletar pólen e néc- tar e cuidar da cria. Elas também guardam e limpam a colméia e, o mais importante, produzem mel. A operária inicia sua vida como ovo fertilizado que eclode em lar- va. À medida que a larva cresce ela tece um casulo e, pelo processo de metamorfose, se transforma em pupa. Neste processo de matu- M. Marchese 41 ração a larva é completamente dependente dos cuidados das operá- rias adultas. As operárias estão completamente desenvolvidas e emergem do alvéolo no vigésimo dia, que é quatro dias a menos do que o zangão leva para atingir o desenvolvimento completo. Em média uma operária vive de quatro a seis semanas na prima- vera ou verão e até seis meses no inverno. Cada operária passa por especializações em tarefas específicas em cada estágio de sua vida. Os primeiros dias depois da emergência do alvéolo ela atua na lim- peza dos alvéolos. Ela inspeciona, limpa e deixa o alvéolo polido no qual a rainha botará os ovos. Depois ela começa seu trabalho de a- limentar as larvas mais velhas com pólen e néctar trazido para a colméia pelas operárias mais maduras, bem como com a substância chamada "pão de abelha" que é uma mistura de pólen fermentado e mel. Do décimo ao décimo sexto dia suas glândulas atingem a ma- turidade e ela começa a secretar a geléia real para alimentar as lar- vas jovens. Quando as glândulas do abdômen tiverem se desenvol- vido ela também secreta cera e usa suas mandíbulas para moldá-la em favo, uma série de alvéolos de cera que constituem o ninho da cria e nos quais é armazenado néctar e pólen. Esta cera é também usada para opercular os alvéolos que contém as larvas ou que este- jam cheios de mel. Neste estágio a operária também ajuda a reparar favo que tenha sido destruído. Entre outras atividades ela também abana as asas para circular o ar e ventilar o interior da colméia pa- ra auxiliar na remoção da umidade do néctar trazido pelas forrage- adoras para produzir o mel. Por volta do vigésimo dia de vida a operária se torna guarda da entrada da colméia. As guardas permitem apenas a entrada das a- belhas que pertencem à colméia. Toda abelha deve carrega o fero- mônio da rainha para poder entrar na colméia. As guardas também rejeitam abelhas velhas ou doentes e expulsam os zangões no outo- no. A tarefa de guarda é o último trabalho da operária dentro da colméia antes de ela se tornar uma forrageadora. Nesta altura as glândulas da operária estão completamente desenvolvidas e sua ta- refa é defender a colméia. Aabelha morre depois de aplicar seu fer- rão. A operária não começa a forragear pólen e néctar antes de ter três semanas de idade. Nesta altura ela deixa a colméia para coletar néctar para produzir mel, pólen para alimentar, água para beber e própolis, mistura resinosa utilizada para vedar frestas e outros es- paços não desejados na colméia. Em média, uma única operária faz somente 1/12 de uma colher de chá ao longo de sua vida. 42 A Abelha Com todas essas atividades a operária realmente trabalha até a morte, seja porque suas asas estão destruídas ou porque atingiu a exaustão. Não é raro a abelha adulta morrer dentro da colméia. Quando isto ocorre as operárias removem o cadáver. 3. ZANGÕES Os zangões são as abelhas macho, e eles perfazem no máximo 10 a 15 por cento do total de abelhas da colméia. Os zangões são cria- dos da mesma forma que a rainha e as operárias, exceto que eles se originam de ovos não fertilizados. Os alvéolos de zangão são encon- trados na parte inferior do ninho da cria, são maiores do que os das operárias para acomodar o corpo do macho que é maior e os opér- culos se parecem com a ponta de uma bala. Os ovos dos zangões e- clodem em três dias e emergem do seu estado larval em cinco a seis dias. O estágio de pupa dos zangões é cinco dias maior do que da operária. Gordos e atarracados em estatura, os zangões adultos emergem de seus alvéolos completamente desenvolvidos em vinte e quatro dias e tem poucas atividades dentro da colméia. Eles não re- colhem pólen ou néctar e não produzem mel. Não limpam a colméia nem cuidam da cria. Eles não se alimentam nem se limpam. Por não terem ferrões, os zangões não podem nem mesmo defender a si mesmo ou a colméia. No entanto, os zangões são importantes para a hierarquia da colméia. ------------------------------------- Ciclo de Gestação das Abelhas Eclosão Larva Pupa Emergência da larva Rainha 3 dias 5,5 dias 7 dias 16 dias Operária 3 dias 6 dias 11,5 dias 20 dias Zangão 3 dias 6,5 dias 14,5 dias 24 dias BEE LINING Como o Homem Antigo Encontrava Mel Antes de o homem domesticar as abelhas, ‘bee lining’ era a forma de localizar um ninho natural de abelha, para alojá-las em colméias ou apenas em busca do mel como doce, O que se conseguia seguindo a forrageadora de volta para sua casa. Hoje, esta prática antiga, também chamada de caça à abelha, é ainda uma atividade divertida para um belo dia ensolarado com colegas apicultores. Eu participei de uma caça ao participar de um encontro de apicultores. M. Marchese 43 Começa-se localizando algumas abelhas num sítio de flores ou numa poça de água. Depois o objetivo é tentar enganá-las com xarope de açúcar para uma caixa. Uma vez que elas estejam na caixa você marca todas as abelhas com um ponto de tinta em seu tórax de forma semelhante como você marca a rainha da colméia. As abelhas retornarão normalmente para sua colméia assim que tiverem se enchido com xarope de açúcar a fim de recrutarem outras forrageadoras para a fonte. Depois que as abelhas estiverem todas marcadas e estiverem cheias de açúcar você pode liberar cada abelha em diferente área e observar como elas retornam para sua colméia. A direção na qual as abelhas voam indica a direção em que fica sua colméia natural. Se você conseguir encontrou ou não o ninho, você pode se certificar pelo ponto com que as abelhas foram marcadas. Se o sol estiver em ângulo, como no início da manhã ou no final da tarde, ele será refletido pelas abelhas que partem, tornando mais fácil segui-las enquanto elas estiverem em vôo e assim determinar a direção de sua viagem. Os antigos caçadores de mel, para apanhar o mel, tinham que subir em árvores perigosas ou montanhas e sem proteção adequada eles deviam suportar muitas ferroadas. Bee lining pode ser um desafio nas primeiras vezes, e é mais fácil consegui-lo quando a temperatura está amena e as abelhas estão a campo forrageando com força total. As abelhas não permitem que os zangões passem o inverno na colméia pois eles podem comer toda a reserva de mel. Assim, tris- temente, os zangões são forçados a abandonar a colméia no outono e normalmente morrem de fome ou frio. Não é raro o apicultor ver cadáveres de zangões na entrada da colméia no final do outono. * * * A única responsabilidade do zangão é fecundar a princesa de ou- tra colméia, e a fecundação é a única razão da existência do zangão. Os zangões esperam na zona de congregação de zangões - algo co- mo ponto de reunião de zangões - pela princesa para copular com ela em pleno vôo. Os zangões mais rápidos e mais fortes conseguem fecundar, copulando com a princesa por trás num encontro rápido e violento. O ato de cópula termina com a genitália do zangão sendo arrancada de seu abdômen quando então ele cai para a morte. (Pa- rece um ato de ópera, não é verdade?) No meu retorno para casa do apiário do Billy, vi uma única abe- lha zumbindo atrás do meu Jeep. Ela tentava encontrar algo e esta- va agora numa viagem só de ida através da cidade. Senti-me terrível sabendo que ela não conseguiria fazer a viagem de volta à noite, ou 44 A Abelha talvez nunca mais conseguisse voltar para casa. O que poderia ela fazer? Onde ela poderia dormir? Imediatamente, baixei o vidro de traz, na esperança que ela pudesse sair e voltar para a colméia. Ela foi succionada pelo vento e nunca saberei se ela voltou para casa em segurança. Foi algo que acontece a toda hora, mas eu nunca pensei sobre o assunto pela perspectiva da abelha até aquele dia. Como as abelhas são insetos sociais, aprendi com Billy, elas confi- am na colônia como um todo para sobreviver. Elas retornam para casa todas as noites, mas nesta noite para onde ela irá? Mais tarde, lembrei de perguntar ao Sr. B sobre o incidente. O Sr. B me garantiu que se existisse uma colméia em distância razoável, sua chance de ser aceita poderia aumentar se ela entrasse com uma oferta de pólen ou néctar. Podia apenas esperar que ela encon- trasse uma colméia que a aceitasse aquela noite. M. Marchese 45 IV - FUNDAMENTOS DA APICULTURA Alguns dias depois da inspeção da colméia, o Sr. B me telefonou perguntando se eu estava pronta para instalar minha primeira col- méia. Caso estivesse eu poderia encomendar minha colônia de abe- lhas nos próximos dias. Isto era final de Abril e o tempo para eu tomar a decisão estava passando. Os criadores de abelhas não po- deriam remeter abelhas nos dias quentes do verão por causa do es- tress das abelhas e as perdas por causa do calor. Naquele momento mergulhei completamente na criação de abelhas. Estava pronta co- mo nunca desejava estar e sabia que o Sr. B estaria lá em todas as etapas do caminho. Oficialmente me tornei uma apicultora. Agora por ser apicultora preciso de uma colméia. Existem muitos fornecedores de equipamentos apícolas pelo país, e é possível en- comendar equipamento pela Internet ou através de um de seus muitos catálogos. Apanhei alguns catálogos nos encontros apícolas para verificar o que havia disponível. Existem muitos estilos de colméias dentre os quais escolher e uma infinidade de acessórios. Optei por um kit para iniciante, que incluía uma colméia de madeira padrão Langstroth e todas as fer- ramentas básicas do apicultor. Mais tarde poderia acrescentar mais itens à minha coleção sempre que necessário. A. COLMÉIA LANGSTROTH A colméia Langstroth é o estilo de colméia que a maioria dos api- cultores dos Estados Unidos utiliza atualmente. Antes da introdu- ção da colméia Langstroth, as abelhas eram criadas em troncos de madeira, chamados gum; em potes de cerâmica ou em skep trança- do. Com qualquer uma destas colméias primitivas, era difícil para os apicultores manejarem suas abelhas, encontrar a rainha e pre- venir doenças. A colheita de mel
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