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APOSTILA DIREITO PENAL I PARTE GERAL

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Artigos 01 ao 31 do Código Penal
	FONTES, PRINCÍPIOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS
	01
	DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
	18
	TEORIA GERAL DO CRIME
	31
	DO CRIME
	43
	DA CULPABILIDADE
	64
	DO CONCURSO DE AGENTES
	80
PROFESSOR: WILLIAM RICARDO DE ALMEIDA MARCHI
1º SEMESTRE / 2011
	Trata-se o presente trabalho de uma simples compilação das obras enumeradas nas referências bibliográficas, efetuada pelo autor acima mencionado, com o objetivo de melhor transmitir aos seus alunos, os diferentes posicionamentos dos mais renomados doutrinadores penais brasileiros.
CAPÍTULO 1– FONTES, PRINCÍPIOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS
DENOMINAÇÃO
A moderna doutrina penal tem procurado substituir a denominação Direito Penal pela de Direito Criminal, supostamente de maior espectro. Em vão. É que, concretizando-se a mudança, ocorreria, sem dúvida, radical diminuição da matéria e do objeto do Direito Penal. 
Ademais, o Direito Criminal, cujo adjetivo deriva do crime, possui menor alcance, uma vez que não abrange as contravenções, mas, tão somente, os crimes. Nesse aspecto, nossas Constituições Republicanas têm consagrado, ao longo de um século, a denominação Direito Penal.
CONCEITO
Direito Penal é a reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança. Em caráter secundário, o Direito Penal deseja evitar o cometimento de crimes que afetam de forma intolerável os bens jurídicos penalmente tutelados.[2: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2001. v. 1, p. 21.][3: Ibid., p. 23.]
Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica.[4: NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 27.ed. São Paulo: Saraiva, 1990. v. 1, p. 04.]
Direito Penal é o ramo do Direito Público interno que, definindo infrações penais, estabelece, concomitantemente, penas e medidas de segurança.[5: QUEIROZ, Carlos Alberto Marchi de. Mini Manual de Direito Penal: Parte Geral. São Paulo: Iglu, 1994.]
Direito Penal é o conjunto das prescrições emanadas do Estado que ligam-se ao crime, como fato, e à pena, como conseqüência. (Von Liszt)[6: RANGEL, Joaquim de Lourdes Airosa. Direito Pena: Parte Geral Resumida. 6ª ed. Aparecida/SP: Santuário, 1983, op. cit., p. 10.]
Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, ligando ao delito, como pressuposto, a pena como consequência.[7: E. MEZGER, Tratado de Direcho Penal. Trad. Rodriguez Munoz, 2. ed., v. 1, p. 27.]
Direito Penal é o ramo do Direito Público que define as infrações penais, estabelecendo as penas e medidas de segurança.[8: FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo. FUHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de Direito Penal: Parte Geral. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.]
DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO
3.1 Direito Penal Objetivo:é o conjunto das normas repressivas que descreve infrações penais, penas e medidas de segurança. Consequentemente, o Direito Penal Objetivo é uma garantia do cidadão, pois, ninguém poderá ser condenado por infração penal não descrita pelo ordenamento jurídico. 
3.2 Direito Penal Subjetivo: é o poder de punir privativo do Estado, enquanto pessoa jurídica de Direito Público submetida ao império da Lei e do Direito.
CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
Cometida a infração penal, o Estado torna-se, automaticamente, credor do ius puniendi. De plano, contrapõe-se ao iuslibertatis do sujeito ativo. Surge, nesse momento, uma relação entre o Estado e o delinqüente, ocupando posições antagônicas.
Exclusivo detentor do ius puniendi, o Estado passa, de imediato, a revelar, por meio do Direito Penal, outras características, apresentando-se como direito complementar, sancionador ou até subsidiário.
Nesse instante, o ilícito penal manifesta-se sempre após o ilícito civil ou extrapenal. Apresenta-se, então, o Direito Penal como verdadeiro reforço de tutela, de certos bens previamente protegidos por normas extrapenais.
Assim, ensina Nelson Hungria que “um fato ilícito punível não é um fato contrário exclusivamente ao Direito Penal, senão a todo o Direito”.[9: RANGEL, Joaquim de Lourdes Airosa. Direito Pena: Parte Geral Resumida. 6ª ed. Aparecida/SP: Santuário, 1983, op. cit., p. 11.]
HISTÓRIA DO DIREITO PENAL OBJETIVO BRASILEIRO
5.1 Direito Penal Indígena: Na época que antecedeu à chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, os silvícolas, que aqui viviam em diferentes graus de cultura pré-histórica, solucionavam problemas penais através das regras naturais do Direito Costumeiro. Predominavam, então, o talião, a vingança privada e a coletiva. Nenhuma influência tiveram na legislação posterior trazida pelos colonizadores e pela Igreja.
5.2 Ordenações do Reino: Durante o período do Brasil Colônia vigoraram no país as Ordenações do Reino. As Afonsinas, até 1512. As Manuelinas, até 1569, substituídas pelo Código Sebastiânico, até 1603, quando o Brasil passou a ser regido pelas Ordenações Filipinas (sob o domínio Espanhol), onde regras morais, penais e religiosas confundiam-se de tal forma que difícil era distinguir o crime do pecado, punido com penas infamantes após processo secreto. Tiradentes é exemplo típico de acusado em crime de lesa-majestade.
5.3 Código Criminal do Império de 1830: Com o advento da independência em 1822, elaborou-se, por força de dispositivo constitucional, o Código Criminal do Império, sancionado em 16/09/1830, até hoje o único diploma penal resultante de regular processo legislativo. Individualizou a pena, previu atenuantes e agravantes, e deu ênfase à pena de morte como forma de diminuição da criminalidade dos escravos.
5.4 Código Penal Republicano de 1890: Proclamada a República, o Governo Provisório editou, às pressas, o Código Penal Republicano em 11/10/1890. Mal sistematizado em razão do afogadilho em que foi elaborado, apresentava falhas gritantes. Aboliu a pena de morte, instituindo, em seu lugar, modelar sistema penitenciário.
5.5 Consolidação das Leis Penais de 1932: A precária sistematização do Código Penal de 1890 e a confusão causada por inúmeras leis penais especiais posteriores, levaram o Desembargador Vicente Paragibe, devidamente autorizado pelo Chefe do Poder Executivo, a reuni-las na Consolidação das Leis Penais, decretada em 14/12/1932, em plena época Vargas.
5.6 Código Penal de 1940: Hoje vigora o Código Penal de 1940, Decreto-lei 2848 de 07/12/1940, com alterações recebidas em 24/05/1977 pela Lei 6416/77. Em 1984 a Lei 7209/84 reformulou sua Parte Geral. Outras inúmeras alterações, tanto na Parte Geral como na Parte Especial do Código Penal foram realizadas por leis ordinárias, até os dias atuais.
5.7 Código Penal de 1969: Em 1969 foi promulgado pelo Decreto-lei 1004 de 21/12/69 um novo Código Penal, o qual não chegou a entrar em vigor, definitivamente revogado em 1978 pela Lei de 11/10/1978.
O Direito Penal Objetivo brasileiro é, ainda, integrado por diversas leis penais especiais, tais como a Lei de Contravenções Penais, Lei Maria da Penha, Estatuto do Desarmamento, Estatuto do Idoso, Código de Defesa do Consumidor, Lei de Combate a Entorpecentes, dentre outros.
DIREITO PENALX OUTROS RAMOS DO DIREITO
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o Direito Penal, como uma das partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos das ciências jurídicas.
Existem, também, ciências que, sem se destinarem propriamente ao estudo do crime, trazem subsídios e esclarecimentos a certas questões da doutrina e elementos científicos indispensáveis, sobretudo, à aplicação da lei penal (Filosofia, Biologia, Sociologia).
6.1 Relações do Direito Penal com o Direito Administrativo:O Direito Penal relaciona-se com o Direito Administrativo já que a funçãode punir é eminentemente administrativa. Principalmente, porque a todos compete observar a lei penal. Aliás, é a própria Administração Pública que estabelece cargos públicos, disciplinando serviços e respectivos estatutos. Sob tal passo, o Direito Penal tutela a Administração Pública, principalmente a partir do artigo 312 e seguintes do Código Penal.
6.2 Relações do Direito Penal com o Direito Civil: O Direito Civil trata da capacidade, da personalidade, do domicílio, dos bens, dos atos e fatos jurídicos, das nulidade, das coisas, das obrigações, das prescrições, enfim, das múltiplas relações entre pessoas físicas e jurídicas. O Direito Penal mantém contatos com esse ramo do Direito Privado, principalmente ao tutelar a posse e a propriedade nos Crimes Contra o Patrimônio, previstos nos artigos 155 e seguintes do Código Penal.
6.3 Relações do Direito Penal com o Direito Constitucional: O Direito Constitucional estrutura o Estado sob o aspecto político e fixa linhas fundamentais em torno de vários ramos do Direito Público e Privado. O artigo 5º da CF e respectivos incisos, revela normas programáticas de Direito Penal que, descumpridas, conduzem à inconstitucionalidade.
6.4 Relações do Direito Penal com o Direito Internacional Público: O Direito Penal relaciona-se com o Direito Internacional Público principalmente no conflito internacional de leis. Às vezes, determinados crimes, como o Tráfico Internacional de Drogas e Falsificação de Dinheiro, interessam, concomitantemente, a mais de um país, em evidente conflito de leis penais no espaço. Crime ocorrido a bordo de um navio esclarece bem a questão. Enquanto em alto mar, o fato estará ao abrigo da lei do pavilhão. Atracado ou em águas nacionais, o crime estará sob competência da Justiça local, exceto em embarcação de guerra, circunstância que a torna, por ficção legal, extensão do respectivo território nacional.
6.5 Relações do Direito Penal com o Direito Processual Penal: O Direito Penal relaciona-se com o Direito Processual Penal. O Estado, ainda que detentor do ius puniendi (do direito de punir) não o aplica, e muito menos o concretiza, de maneira arbitrária. Para atingir tal objetivo, deve vir a juízo, através de Promotor de Justiça, apresentando pretensão através de processo presidido por Juiz de Direito que, em última análise, é o próprio Estado, provocado a manifestar-se sob a procedência ou improcedência do pedido. O Direito Penal não funciona sem o Direito Processual Penal e vice-versa. Um é o trem e o outro é a linha. Um é o líquido e o outro é a seringa.
EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL
Embora a história do Direito Penal tenha surgido com o próprio homem, não se pode falar em um sistema orgânico de princípios penais nos tempos primitivos. Nos grupos sociais dessa era, envolto em ambiente mágico e religioso, a peste, a seca e todos os fenômenos naturais maléficos eram tidos como resultantes das forças divinas (totem) encolerizadas pela prática de fatos que exigiam reparação. Para aplacar a ira dos Deuses, criaram-se séries de proibições (religiosas, sociais e políticas), conhecidas por “tabu”, que, não obedecidas, acarretavam castigo. A infração totêmica ou a desobediência tabu levou a coletividade à punição do infrator para desagravar a entidade, gerando-se assim o que, modernamente, denominamos “crime” e “pena”. O castigo infligido era o sacrifício da própria vida do transgressor ou a oferenda por este de objetos valiosos (animais, peles e frutas) à divindade, no altar montado em sua honra. 
A pena na sua origem remota, nada mais significava senão a vingança, revide à agressão sofrida, desproporcionada com a ofensa e aplicada sem preocupação de justiça.
Várias foram as fases de evolução da “vingança penal”, etapas essas que não se sucederam sistematicamente, com épocas de transição e adoção de princípios diversos, normalmente envolvidos em sentido religioso. 
Para Magalhães Noronha, por exemplo, as fases se dividem em vingança privada, vingança divina e vingança pública. Ressalvando que a classificação diversifica entre os doutrinadores, seguem algumas das fases dessa evolução:
Fase da vingança privada: foi um período de violência excessiva e desproporcional. Cometido um crime ocorria a reação da vítima, dos parentes e até do grupo social (tribo), que agiam sem proporção à ofensa, atingindo não só o ofensor como também o seu grupo.
Pena de Talião: foi a época da proporcionalidade entre a lesão e a vingança. É o tempo do olho por olho, dente por dente. Tal ofensa, tal pena.
Wergeld: Instituto germânico, representa o período da composição pecuniária. É, efetivamente, o pagamento de determinada importância em dinheiro como contraprestação da ofensa sofrida pelo direito alheio, previamente estabelecida em lei. Tendo o Estado como intermediário, representou indiscutível avanço em direção à humanização da pena.
Monopólio do direito de punir: é o momento em que o Estado assumiu, histórica e definitivamente, o monopólio do direito de punir, como exclusivo detentor do ius puniendi. Assim, agindo, buscou evitar lutas recíprocas entre clãs, grupos ou tribos, que sempre redundavam em prejuízo da coletividade. O período caracterizou-se pela crueldade dos castigos impostos pelo Estado. Os infratores da lei penal eram submetidos à forca, ao fogo, ao suplício da roda, ao ferro em brasa; penas francesas típicas no ano de 1700. A guilhotina viria muito tempo depois.
Fase pré-clássica da elaboração penal: conhecida também como Período Humanitário permitiu aos Iluministas tentar minimizar os efeitos das penas. Surge, então, o pequeno grande livro Dos Delitos e das Penas, escrito pelo Marquês de Beccaria, publicado em 1764. Objetivando evitar perseguições políticas e religiosas, preconizou a fixação das penas em lei. Investindo contra as provas, proclamou a certeza da lei penal, até então incerta (as penas devem ser fixadas em lei, as leis não devem ser obscuras, a interpretação não deve ser arbitrária, as acusações não devem ser secretas, não deve haver tortura nos interrogatórios, não deve haver pena de morte, não deve haver pena infamante, a pena deve ser certa e rápida, as provas não devem ter seu valor pré-estabelecido em lei). Em 1770 o inglês John Howard publicou, na esteira de Beccaria, o livro The StateofPrisions in England procurando evidenciar a condição humana do condenado, reclamando tratamento compatível com sua dignidade e natureza.
Período atual: No presente, a pena prevista vem pré-fixada em lei. Pune-se, somente, de acordo com a norma. Não há crime sem prévia definição legal. É o princípio da Reserva Legal, da legalidade, do nullumcrimen, nullapoenasinepraevia lege, de Feuerbach. Através da pena o Estado estabelece um clima de tranqüilidade social, procurando, dessa forma, recuperar o criminoso.
CIÊNCIAS PENAIS
Os estudiosos do Direito Penal costumam dizer que seu conteúdo é o crime. E a pena, sua conseqüência. Também a pessoa do delinqüente. 
O conjunto de ciências que estudam o conteúdo do Direito Penal, seguindo métodos de pesquisa cujo objetivo é definir o fenômeno natural do crime, em suas causas e suas conseqüências, é identificado como Ciências Penais ou Criminológicas.
A Antropologia Criminal é a primeira delas. Estuda o homo delinquens em seus aspectos anatômico e fisiológico.
A Biotipologia Criminal classifica os criminosos, biológica e tipologicamente, visando uma correta aplicação da pena.
A Criminologia, por seu turno, define fatores genéticos da criminalidade, correlacionando crime e criminoso.
A Estatística Criminal compila dados criminológicos interpretando-os à luz de outros elementos.
A Penologia pesquisa a pena desde os seus primórdios, buscando averiguar sua validade na recuperação ou no castigo do criminoso.
A Política Criminal fornece orientações e normas a fim de que o combate ao crime seja realizado em bases racionais.
A Psicologia Criminal examina o criminoso no tocante às suas tendências e caráter.
A Psiquiatria Criminal investiga os distúrbios mentais do delinqüente.
A Sociologia Criminalperquire os fatores exógenos do crime e que contribuem para o surgimento do criminoso, principalmente os decorrentes do desnível econômico e social.
A Vitimologia, finalmente, que avalia a vítima e sua contribuição para a eclosão do crime, hoje totalmente consagrada pelo artigo 59 do CP.
DISCIPLINAS AUXILIARES
São Disciplinas auxiliares do Direito Penal a Medicina Legal, a Polícia Científica, a Psicologia Judiciária e a Psiquiatria Forense.
A Medicina Legal fornece, através de laudos médico-legais, a causa mortis das vítimas e a extensão e descrição das lesões sofridas pelos sobreviventes.
A Polícia Científica ou Técnia, ministra, através de laudos periciais, as respostas necessárias sobre a eficácia vulnerante dos instrumentos do crime. Seus laudos, assim como os médicos-legais, são conhecidos, também, como “testemunhas silenciosas“.
A Psicologia Judiciária avalia o valor das provas testemunhais, dos documentos, e da forma através da qual o juiz deve prolatar sentenças.
A Psiquiatria Forense, por derradeiro, que aponta os distúrbios mentais à luz das questões judiciárias, principalmente em casos de crimes passionais praticados mediante violenta emoção.
 DOUTRINAS PENAIS
As doutrinas penais classificam-se em três grupos: absolutas, relativas e mistas.
Doutrinas Absolutas: consideram a pena como simples conseqüência do crime. Ao mal do crime deve corresponder o mal da pena (Malumpassionis quod infligitumproptermalumactions). O grande filósofo alemão Emmanuel Kant disse, certa feita, puniturquiapeccatum est, ou seja, pune-se porque se errou.
Doutrinas Relativas: Atribuem à pena caráter menos prático. Jeremy Bentham, filósofo inglês, à semelhança de Kant, mas à sua maneira, afirmou, puniturnepeccetur (pune-se para que outros não pequem).
Doutrinas Mistas: (que vigora) – sustentam a punição porque se infringiu a lei. Enfim, puniturquiapeccatum est et ne peccetur. Surge, então, a intimidação ou prevenção. Geral ou Especial. Geral, quando dirigida à comunidade como um todo. Especial, quando alcança os violadores da lei.
 ESCOLAS PENAIS
Não confundir Escolas com Doutrinas. São duas as escolas penais: A Escola Clássica e a Escola Positiva.
Escola Clássica: sustenta que a finalidade da pena é salvaguardar os bens jurídicos. A Escola Clássica entende que a imputabilidade moral impõe a responsabilidade penal, procurando amparar o homem contra a prepotência dos detentores do poder. Inspirada no Iluminismo, dá ênfase ao princípio individualista, esquecendo-se da sociedade.
Escola Positiva: Proclamando-se Socialista, contrapôs-se à Escola Clássica, tendo como objetivo primordial a defesa social. Os positivistas entendem que o Direito brota da sociedade. 
Escolas Intermediárias: outros estudos merecem atenção pela sua importância. São as Escolas Intermediárias, mesclando doutrinas clássicas e positivas.
12. FONTES DO DIREITO PENAL
A fonte primordial do Direito Penal é a lei.
Muito embora chamadas de fontes indiretas ou mediatas, o costume, a equidade, a moral, a doutrina e a jurisprudência são unicamente meio inspiradores do processo legislativo, nunca fontes, uma vez que a lei é a fonte única. A expressão fonte indireta ou mediata, cunhada sem rigor técnico, deve ser assimilada com reservas.
Para alguns doutrinadores, as fontes do Direito Penal subdividem-se em fontes materiais (substanciais ou de produção) e em fontes formais (de conhecimento ou de cognição).
As fontes materiais indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento só a União possui competência legislativa para criar normas penais (art. 22, I, da CF). No entanto, o parágrafo único do mesmo dispositivo autoriza os Estados e o Distrito Federal legislar, desde que norma complementar autorize e que seja sobre questões específicas.
As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas.
imediatas: somente a lei. Por quê? Por determinação da Constituição – princípio da reserva legal (CF, art. 5º, XXXIX):
Emenda constitucional: em tese, porque é fruto do Poder Constituinte Derivado ou Reformador, pode criar lei penal,já que nada veda expressamente, embora não seja tradicional (Nucci e FMB); 
Lei complementar: pode legislar sobre matéria penal, pois tem processo legislativo mais complexo do que a lei ordinária. Ex.: art. 10 da Lei Complementar 105/2001: “A quebra de sigilo...” (Nucci e FMB). Em sentido contrário, sustentando que o rol da Lei complementar é exaustivo, está Luiz Vicente Cernicchiaro e Paulo José da Costa Jr;
Lei ordinária: criar crime e cominar penas é tarefa precípua dessa espécie normativa;
Lei delegada: não pode. Por quê? Pois o art. 68 § 1º II veda a delegação em matéria de direitos individuais. Estando o princípio da legalidade previsto no art. 5º da CF, trata-se de direito fundamental, alheio à lei delegada;
Medida provisória: não pode, por vedação expressa constitucional, cf. art. 62, § 1º, I, “b”. Nota: há leis de cunho penal que foram criadas por tal via. Exs: Lei 7.960/89 (prisão temporária) e Lei 7.679/88 (proibição de pesca explosiva). Ressalta-se, também, que sucessivas MP’s alteraram o prazo de registro e entrega de armas de fogo (arts. 30 e 32 da Lei 10.826/03), ocorrendo a chamada aboli tio criminis temporária ou anistia temporária no que tange aos crimes de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. Para FMB, o princípio da reserva legal não se aplica às normas penais não incriminadoras, já que se admite causa supra legal de exclusão da antijuridicidade (consentimento da vítima). Assim, MP e lei delegada podem versar sobre normas penais não incriminadoras. Apesar da CF, art. 62, § 1º, I, b, proibir a edição de MP sobre matéria de direito penal, deve-se interpretá-la restritivamente, pois disse mais do que queria, circunscrevendo-se a proibição às normas penais não incriminadoras.
Mediata: são os costumes e os princípios gerais do direito.Os costumes são um conjunto de normas de comportamento a que pessoas obedecem de maneira uniforme e constante pela convicção de sua obrigatoriedade. Os princípios gerais do direito são premissas éticas que são extraídas, mediante indução, do material legislativo.
 LEI PENAL X NORMA PENAL
Lei penal designa o fato descrito e a pena a ele cominada. Ex: no homicídio a lei é “matar alguém”.
Norma penal refere-se ao comando normativo implícito na lei, isto é, a norma de conduta imposta a todos. Ex: no homicídio a norma é “não matarás”.
13.1 Espécies de norma penal: Incriminadora e não incriminadora.
A Incriminadora compreende todos os dispositivos penais que descrevem condutas e lhes cominam pena. 
A não incriminadora subdivide-se em explicativa ou complementar (fornece parâmetros para a aplicação de outras normas, ex.: art. 327, do CP) e permissiva (quando aumenta o âmbito de licitude da conduta, ex. art. 23, do CP).
 ILÍCITO CIVIL E ILÍCITO PENAL
Basicamente, inexiste distinção entre ilícito civil e ilícito penal. Em essência, o ato ilícito é uno, pois atenta contra o ordenamento jurídico em vigor.
Todavia, o ilícito civil distingue-se do ilícito penal por suas peculiares conseqüências. O ilícito civil gera a obrigação de restituir, de indenizar, de uma execução forçada ou a declaração de nulidade do ato. Enfim, o ilícito civil produz uma coação patrimonial. 
O ilícito penal, além de poder acarretar todas essas conseqüências, vai mais além, determinando uma coação pessoal (a pena) ou ainda, uma medida de segurança.
A INTERVENÇÃO PENAL
15.1 Princípio da Intervenção Mínima: “ultima ratio”
O crime não se distingue das infrações extra penais de forma qualitativa, mas apenas de forma quantitativa. Como a intervenção do Direito Penal é requisitada por uma necessidade mais elevada de proteção à coletividade, o delito deve consubstanciar em um injusto mais grave e revelar uma culpabilidade mais elevada, devendo ser uma infração merecedora da sanção penal.
O Princípio da Intervenção Mínima é adotado por nosso Direito Penal. Sempre que possível, para a proteção de determinado bem jurídico,deverá recorrer-se a uma sanção não incriminadora, deixando esta, para tratamento das condutas que lesem bens jurídicos mais graves e/ou perigosas.
O Princípio da Legalidade estipula limites ao Judiciário, mas não ao legislador, que por sua vez, pode criar tipos penais com sanções desumanas e incompatíveis com a conduta do agente. Assim, sendo, o Princípio da Intervenção Mínima, também conhecido como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado. Por isso, torna-se inadequada e não recomendável a criminalização de uma conduta, quando suficiente outro tipo de sanção ou controle social.
O Princípio da Intervenção Mínima faz com que o Direito Penal somente atue na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis para a paz entre as pessoas, que não permitem sua defesa de forma mais amena.
Por outro lado, o uso excessivo da sanção criminal não garante uma maior proteção de bens; ao contrário, condena o sistema penal a uma função meramente simbólica e negativa.
15.2 Princípio da Fragmentariedade: Insignificância ou Bagatela
A fragmentariedade do Direito Penal é corolário do princípio da intervenção mínima e da reserva legal. Esse princípio impõe que o Direito Penal deverá tratar apenas de bem jurídico realmente relevante, e não de bagatelas, sendo causa de exclusão da tipicidade a insignificância da conduta. 
Tendo-se em vista que o crime deverá ser “criado” somente para a proteção de bem jurídico de extrema importância, necessário a observância do Princípio da Insignificância ou de Bagatela, o qual permite excluir do tipo penal, os danos de pouca importância. Nos casos de ínfima afetação do bem jurídico, o conteúdo do injusto é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o pathos ético da pena.
Importante esclarecer, que a excludente da tipicidade (do injusto) pelo Princípio da Insignificância ou Princípio da Bagatela, que a doutrina e a jurisprudência vêm admitindo, não está inserta na lei brasileira, mas é aceita por analogia, ou interpretação extensiva (interativa), desde que contra legem. Não há como confundir, por exemplo, pequeno valor da coisa subtraída, com valor insignificante ou ínfimo. No primeiro caso há apenas um abrandamento da pena e no segundo a exclusão da tipicidade.
15.3 Princípio da Subsidiariedade
A subsidiariedade do Direito Penal apresenta-se sob três aspectos: 
Defende o bem jurídico somente de ataques de especial gravidade;
Tipifica somente parte das condutas que outros ramos do Direito consideram antijurídicas e
Deixa, em princípio, de punir condutas meramente imorais, como a mentira.
Assim, o Direito Penal assume uma feição subsidiária e sua intervenção se justifica quando outros ramos do Direito tornam-se ineficazes na proteção dos bens jurídicos, ou seja, antes de recorrer-se ao Direito Penal, deverá esgotar-se todos os meios não penais de controle social.
15.4 Princípio da Expansão Penal e Adequação Social
Não basta a tipificação dada pelo Direito Penal, é também necessário que o Poder Judiciário dê a resposta punitiva adequada a cada conduta, devendo a pena ter a severidade de acordo com a gravidade do ato criminoso, dentro da cominação legal.
Por outro lado, a teoria da Adequação Social defende que uma conduta prevista como crime, assim não deverá ser considerada, se esta for aceita pela sociedade, ou seja, considerada uma atitude normal que não ofenda a nenhum bem jurídico, estando a tipificação em desacordo com a vontade e costumes da população, ou seja, somente as condutas que tenham certa relevância social deverão ser tipificadas pelo Direito Penal.
 NORMA PENAL EM BRANCO
Trata-se da lei cujo preceito primário é incompleto, embora o preceito secundário seja determinado. Tal lei tem de ser complementada por outra, já existente ou futura, da mesma hierarquia ou de hierarquia diferente. 
Suas espécies são:
Homogênea (sentido lato), cujo complemento se encontra descrito numa fonte formal da mesma hierarquia da norma incriminadora – lei ordinária X lei ordinária. Ex.: art. 237 do CP (impedimentos para o casamento) X art. 1521 c.c. o art. 1548, II do CC/02; e
Heterogênea (sentido estrito), cujo complemento está descrito em fonte formal distinta daquela do tipo penal incriminador – lei ordinária X portaria. Ex.: os tipos penais da Lei de Drogas, complementador pela portaria da ANVISA. 
 LEI PENAL INCOMPLETA
Dá-se o nome de lei penal incompleta ao fenômeno inverso da lei penal em branco, ou seja, àquela lei determinada no preceito primário e indeterminada no preceito secundário. Ex.: os crimes de genocídio.
 ANALOGIA
A questão da analogia, é por vezes tratada a propósito da interpretação das leis penais. Entretanto, muito mais que um meio utilizável de interpretação, a analogia é um meio de ampliação e extensão do âmbito da norma jurídica: aplica-se a um fato, não previsto por lei, uma lei destinada a prever fatos semelhantes.
Admitida no Direito Privado (previsto no Código Civil) analogia é o intuito de abranger fatos semelhantes, não previstos em lei.
Não se admite sua aplicação no Direito Penal. Entretanto, a analogia pode ser utilizada no âmbito penal quando favorecer o acusado. Sob esse prisma, a analogia in bonam partem é admitida para: exclusão de crime, isenção de pena, atenuação da pena e extinção da punibilidade.
PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REU”
Para alguns doutrinadores só se aplica no campo da apreciação das provas, nunca para a interpretação da lei.
Mas para a maioria, esgotadas todas as atividades interpretativas sem que se tenha conseguido extrair o significado da norma, a solução é dar a interpretação mais favorável ao acusado.
CAPÍTULO 2 – DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL
(Artigos 1 ao 12 do Código Penal)
ANTERIORIDADE DA LEI
	Anterioridade da Lei 
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
	Artigo 1º CP.
	Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal
	Artigo 5º XXXIX CF.
	Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal
	Artigo 5º XL CF.
	A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu
São os princípios da reserva legal ou legalidade e o da anterioridade inscrita no artigo 1º do Código Penal.
A palavra crime compreende também as contravenções e a palavra pena compreende também a medida de segurança.
O princípio da reserva legal consagrou-se no início do século XX, na Alemanha, por Anselmo Feuerbach, através da fórmula latina “nullumcrimen, nullapoenasinepraevia lege”.
Duas, portanto, são as conseqüências do princípio da reserva legal:
Proibição da retroatividade da lei penal incriminadora, através do princípio da irretroatividade
Proibição da analogia para criação de novos tipos, através do princípio da taxatividade
Sob este aspecto, toda conduta proibida deve encontrar perfeita definição na lei penal. Isso significa, em linhas mais simples, que o legislador, por ocasião do processo legislativo, deve estabelecer, taxativamente, no tipo, tudo aquilo que for típico ou atípico.
Consequentemente proíbe-se o uso de analogia maléfica ou in malam partem, para imposição de penas, visto que a liberdade do cidadão correria indiscutível perigo.
Não obstante, admite-se a analogia benéfica ou in bonam partem para beneficiar o acusado, e a interpretação analógica intra legem, quando o texto legal determinar sua aplicação em relação a alguma circunstância, como a substância de efeitos análogos do álcool, a que se reporta o inciso II do artigo 28 do CP, ou o artifício ardil ou qualquer outro meio fraudulento, do artigo 171 do CP.
Logo, de acordo com o princípio da reserva legal, toda conduta que não esteja definida na lei penal incriminadora é lícita. O princípio, todavia, não se aplica em relação às normas penais não incriminadoras da Parte Geral do CP. Pode o intérprete, neste caso, valer-se do auxílio da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do Direito.
Vimos, então, que o Princípio da Legalidade está inscrito no artigo 1o. doCódigo Penal, como segue: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.
O Princípio da Legalidade, também conhecido como Princípio da Reserva Legal, defende que somente a lei, em seu sentido mais estrito, pode definir crimes e cominar penalidades. Em matéria penal, o Princípio da Legalidade reserva para o estrito campo da lei a matéria penal. Para a lei, esta reserva significa que a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, ou seja, o Poder Legislativo.
Somente a lei em sentido estrito, vinda do Poder Legislativo, obedecido o procedimento adequado, poderá criar tipos penais e impor penas. Nenhuma outra fonte poderá fazê-la, nem mesmo a Medida Provisória pode dispor sobre matéria penal, criando crimes e impondo penas, pois Medida Provisória não é lei, uma vez que não nasce no Legislativo.
No mesmo artigo temos o Princípio da Anterioridade, onde há a necessidade da existência de lei prévia quando da prática do crime, ou melhor, que essa lei já esteja em vigor.
Como corolários dos citados Princípios, temos a irretroatividade e a taxatividade da lei penal.[10: Efeitos, consequências]
Quanto à irretroatividade da lei, podemos dizer que a lei penal é editada para o futuro e não para o passado. A proibição da retroatividade não se restringe às penas, mas a qualquer norma de natureza penal, ainda que da Parte Geral do Código Penal. Não atinge apenas os crimes, mas também as Contravenções e Medidas de Segurança. As Medidas de Segurança não são penas, possuindo caráter essencialmente preventivo, no entanto, resta-lhes um certo caráter aflitivo pelo que, diante da inexistência de norma expressa a respeito, sujeitam-se ao Princípio da Reserva Legal e da anterioridade, ao contrário do que dispunha o artigo 75 da antiga Parte Geral do Código Penal.
Pela taxatividade, a lei penal deve ser precisa, uma vez que um fato só será considerado criminoso se houver perfeita correspondência entre ele e a norma que o descreve. Este efeito veda o emprego da analogia em matéria de norma penal incriminadora, posto que esta encontra-se delimitada pelo tipo legal a que corresponde. O fundamento de tal proibição é a segurança do réu, evitando-se a criação de outros crimes e penas, além dos taxativamente expressos em lei. Porém, se a finalidade é a proteção do acusado, nada impede que empregue a analogia em seu benefício, restringindo o alcance da norma incriminadora e o “jus puniendi”, conhecida como analogia “in bonam parte”.
Dessa forma, somente haverá pena quando houver perfeita correspondência entre a conduta praticada e a previsão legal (efeito da taxatividade). Tal aspecto criou força com a teoria de Binding, segundo a qual as normas penais incriminadoras não são proibitivas, e sim descritivas, de modo que, quem pratica um crime não age contra a lei, mas de acordo com esta, pois os delitos encontram-se pormenorizadamente descritos em modelos legais, chamados de tipos. 
O Princípio da Legalidade é assegurado pela Constituição Federal, que prevê no inciso XXXIX do artigo 5o, essa garantia fundamental ao homem.
O Princípio da Legalidade surgiu pela primeira vez na Magna Carta de João Sem Terra, em 1215, e posteriormente foi introduzida na Declaração Universal dos Direitos do Homem, na revolução francesa, de 1789.
Em decorrência do Princípio da Legalidade, a doutrina tem reconhecido inúmeros outros Princípios, como o da Intervenção Mínima, onde o Direito Penal somente deve intervir na preservação dos bens jurídicos mais importantes, deixando os demais para outro ramo do Direito, Princípio da Proporcionalidade, onde a penalidade é compatível com a ação do agente, Princípio da Humanidade, onde o sentenciado deve receber ajuda da sociedade, objetivando seu restabelecimento social quando do término da pena (e proibição de penas degradantes ou cruéis – artigo 5º CF), e Princípio da Culpabilidade, sendo indispensável que a pena seja imposta ao agente por sua própria ação (culpabilidade de fato) e não por eventual defeito de caráter adquirido culpavelmente pela sua vida pregressa (culpabilidade pela forma de vida).
Outros Princípios ainda, foram formulados pela Constituição Federal de 1988, previstos em seu artigo 5o., consagrados entre os direitos e garantias fundamentais, como segue: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, serão assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; ninguém será considerado culpado sem o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (Princípio da Presunção da Inocência ou Estado de Inocência), ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária; etc.
Por fim, a lei só pode ser aplicada pelo juiz com jurisdição (nemojudexsine lege), pois a Constituição Federal estabelece que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”, prevendo os Órgãos Judiciários para a aplicação da lei penal, e determinando ainda que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”. Continua assegurando o Princípio de Juiz Natural (Juiz Legal, Juiz Constitucional), Órgão abstratamente considerado, cujo poder jurisdicional emana da Constituição.
LEI PENAL NO TEMPO
	Lei penal no tempo
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. 
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
A lei penal no tempo, portanto, regula-se por dois princípios:
Na cabeça do artigo encontra-se o princípio da irretroatividade da lei incriminadora e
No parágrafo único, o princípio da retroatividade da lei benéfica.
A hipótese do caput, aliás, é conhecida como abolitio criminis ou novatio legis, que por sua vez pode ser in pejus ou in mellius.
Em princípio, a lei penal é irretroativa, não se aplicando a fatos anteriores à sua vigência. Contudo, poderá retroagir, se mais benéfica para o acusado, nos termos do inciso XL do artigo 5o da Constituição Federal.
Basicamente, de acordo com o princípio tempus regitactum, a lei penal rege fatos ocorridos durante seu período de vigência. Entretanto, se modificada durante o curso do processo crime, ou até mesmo durante a fase de execução da pena, prevalecerá, sempre, a mais favorável, pouco importando se anterior ou posterior.
Embora exista uma corrente doutrinária contrária, o entendimento dominante (doutrinário e jurisprudencial) é de que somente se aplica a lei anterior ou posterior, sendo vedada qualquer espécie de combinação ou mescla.
A regra da lexmitior, da lei mais favorável, não se aplica às normas penais em branco, uma vez que a ultratividade ou retroatividade benéfica só atingem o preceito principal, nunca o complementar. Assim, as infrações consistentes no descumprimento de tabelamento de preços não são desconstituídas por nova tabelas.
Importante ressaltar que, apesar de cessados os efeitos penais da sentença condenatória, perduram os efeitos civis da decisão.
PRINCÍPIO DA ULTRA-ATIVIDADE:
	Lei excepcional ou temporária
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
Lei Excepcional é a norma promulgada para viger durante determinada circunstância excepcional ou situação de emergência, como calamidade pública, estado de sítio, guerra,revolução, terremoto, etc.
Lei temporária é a norma promulgada ad tempus, a fim de vigorar até determinada data.
Ambas são ultra-ativas e auto-revogáveis, persistindo seus efeitos sobre os fatos ocorridos dentro do respectivo período de vigência.
O Brasil registra algumas delas na época Vargas, durante a Segunda Guerra Mundial.
Tanto a lei excepcional como a lei temporária são ultra-ativas, ou seja, regulam os fatos ocorridos durante sua vigência mesmo após sua revogação, persistindo seus efeitos sobre os fatos ocorridos dentro do respectivo período de vigência. Não fosse assim, não haveria razão para a existência das mesmas, pois em regra, são leis de curta duração que perderiam toda a sua força intimidativa se não tivessem a ultra-atividade.
TEMPO DO CRIME
	Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Tempo do crime é o momento em que ele se considera cometido. 
Nesse aspecto, o CP adota a teoria da atividade, mais ampla que a teoria do resultado ou a teoria mista. 
A teoria da atividade considera cometido o delito no momento de sua ação ou omissão, aplicando-se a lei vigente à época da realização. Já a teoria do resultado considera cometido o delito no momento da produção do resultado, enquanto a teoria mista ou da ubiquidade considera o crime cometido tanto no momento da realização como no momento do resultado.
LUGAR DO CRIME
	Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
O dispositivo em foco, decisivo na solução da competência internacional, determina o lugar em que o crime considera-se praticado. 
São três as teorias que procuram resolver a questão espacial do crime que se desenrola em lugares diferentes:
Teoria da atividade ou da ação: considera lugar do crime aquele no qual o sujeito ativo desenvolve a atividade criminosa, praticando atos executores.
Teoria do resultado, do efeito ou do evento: considera local da infração o lugar da produção do resultado.
Teoria da ubiqüidade, mista ou da unidade: considera lugar do crime aquele no qual se realiza qualquer um dos momentos do iter, sejam executórios ou de consumação. Esta é a teoria adotada pelo Código Penal.
PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE
	Territorialidade
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. 
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
A questão da eficácia da lei penal no espaço interessa, de perto, ao Direito Penal Internacional, sonho quimérico dos juristas diante da ação cosmética da ONU.
Pelo princípio da territorialidade aplica-se a lei brasileira em todo território nacional. Não obstante, admitem-se outros critérios, como o da defesa, o da justiça penal universal, o da nacionalidade ativa, e o da representação.
Compõem o território brasileiro a superfície e o subsolo, limitados pelas fronteiras secas e molhadas, pelo mar territorial de duzentas milhas, e pelo espaço aéreo, excluindo o espaço cósmico, que, sem ser res nullius é res communisomnium.
Integram, ainda, o território nacional, por ficção jurídica, ou por extensão, ou por ampliação, as embarcações e as aeronaves. 
Conforme o artigo 5o do Código Penal, o legislador adotou, em regra, o princípio da territorialidade, que, não obstante, comporta exceções em função da possibilidade de renúncia de jurisdição estatal através de convenções, tratados e regras de direito internacional.
PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE
	Extraterritorialidade
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: 
I - os crimes: 
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; 
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
II - os crimes: 
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. 
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: 
a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
Certos crimes praticados no estrangeiro sofrem a eficácia da lei nacional. É a chamada extraterritorialidade da lei penal brasileira.
Existem duas formas de extraterritorialidade:
Extraterritorialidade Incondicionada: são as hipóteses previstas no inciso I do artigo 7º. Diz-se incondicionada porque não se subordina a qualquer condição para atingir um crime cometido fora do território nacional.
Extraterritorialidade Condicionada: são as hipóteses do inciso II e do § 3º. Nesses casos, a lei nacional só se aplica ao crime cometido no estrangeiro se satisfeitas as condições indicadas no § 2º e nas alíneas a e b do § 3º.
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO
	Pena cumprida no estrangeiro 
Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.
O artigo compreende, evidentemente, duas regras. 
A primeira versa sobre a atenuação obrigatória da pena imposta no Brasil em relação à pena cumprida no estrangeiro, ficando a dosimetria a critério do Juiz nacional.
A segunda impõe ao magistrado a obrigação de descontar, na sentença, a quantidade de tempo cumprido no exterior.
Porém, se idênticas, ou inferior, nenhum pena será aplicada.
EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA
	Eficácia de sentença estrangeira
Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para: 
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; 
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único - A homologação depende: 
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; 
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. 
Sentenças estrangeiras, em regra, não podem ser executadas no Brasil, sob pena de violação da SOBERANIA e do PRINCÍPIODA TERRITORIALIDADE.
Compete ao STF homologá-las, de acordo com os termos do artigo 102 I “h” da Constituição Federal, atendidos os requisitos do parágrafo único do artigo em exame. Regulam-na, também, os artigos 787 a 790 do CPP.
Todavia, medidas de segurança impostas no exterior contra brasileiros imputáveis não poderão ser executadas no Brasil. Após a Reforma Penal de 1984, somente inimputáveis e semi-imputáveis submetem-se a elas.
CONTAGEM DO PRAZO
	Contagem de prazo
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum. 
O Direito Penal inclui o dia do começo no cômputo do prazo, sendo dias, meses e anos contados pelo calendário comum, ao contrário dos prazos processuais, que, conforme o artigo 798 § 1º do CPP, não inclui o dia do começo.
Caso o CPP e o CP tratem da mesma questão, como em casos de decadência, prevista, simultaneamente, pelos artigos 38 do CPP e 103 do CP, efetua-se a contagem de acordo com o regrado pelo artigo 10 do CP, de modo a favorecer-se o acusado, incluindo-se o dia do começo.
Não interessa a que horas do dia o prazo começou a correr, conta-se o dia todo para efeito de contagem. Assim, se a pena começou a ser cumprida às 23h55min, os cinco minutos restantes são contados como um dia inteiro. Do mesmo modo, não importa se o prazo começou em domingo ou feriado, computando-se um ou outro como primeiro dia.
Um mês equivale a um mês e não a 28, 30 ou 31 dias. Os anos são contados da mesma forma, sendo irrelevante se o ano é bissexto ou não.
Os prazos de natureza penal são fatais e improrrogáveis, mesmo que terminem em domingos e feriados.
FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA
	Frações não computáveis da pena
Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.
Horas são frações de dias e centavos são frações de cruzeiro, hoje, de real. Ambos são sumariamente afastados na aplicação da pena.
LEGISLAÇÃO ESPECIAL (PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE)
	Legislação especial 
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.
É o princípio lógico existente há milênios. Lex specialisdrrogatlegigenerali, ou seja, a lei especial derroga a lei geral. É uma das espécies do Conflito Aparente de Normas.
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
Quatro princípios, atualmente, solucionam o conflito aparente de normas:
Princípio da Especialidade
Princípio da Subsidiariedade
Princípio da Consunção
Princípio da Alternatividade
Princípio da Especialidade: faz com que a norma especial exclua a norma geral. O infanticídio afasta o homicídio, por ser norma especial.
Principio da Subsidiariedade: faz com que uma norma seja aplicável caso a outra não o seja. Assim, o furto qualificado pelo arrombamento em casa de moradia compreende o dano e a invasão de domicílio, ficando excluída, em razão desse princípio, a punição de um e de outro, ou seja, do dano e da invasão de domicílio.
Princípio da Consunção (ou da Absorção): aplicam-se quando o crime anterior é forma imperfeita do posterior, sendo consumido por esta. Nesse aspecto, as lesões corporais são consumidas pelo homicídio, se forem passagens daquelas para este. Encontra o princípio freqüente aplicação nos crimes progressivos e nos crimes complexos (os quais serão estudados futuramente).
Princípio da Alternatividade: relaciona-se, intimamente, com os crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado (os quais serão estudados futuramente), nos quais o tipo contém dois ou mais núcleos, sendo o sujeito ativo punido por uma única conduta. Quem viola o artigo 33 da Lei 11343/06 não comete dezoito crimes, mas um só deles. Quem instiga suicida, auxiliando-o, comete, de acordo com o artigo 122 do CP, um só crime, e não dois ou três (instigação, auxílio e induzimento).
CAPÍTULO 3–TEORIA GERAL DO CRIME
CONCEITO DE CRIME:
O crime, ou delito, comporta três conceitos: material, legal e formal.
1.1 Conceito material de Crime: é aquele que busca estabelecer a essência do conceito, isto é, o porquê de determinado fato ser considerado criminoso ou não. Sob esse enfoque, crime pode ser conceituado como “todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social”.
1.2 Conceito Legal de Crime: o conceito legal de crime é dado pela Lei de Introdução ao Código Penal. Diz o artigo 1º do Decreto-Lei 3914/41: “considera-se crime a infração que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”.
1.3 Conceito Formal de Crime: é aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. Sob esse ângulo “crime é todo fato típico e antijurídico”.
ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CRIME
São Elementos essenciais ou constitutivos (elementar) do crime, a tipicidade e a antijuridicidade. Isso significa que para que exista um crime, e conseqüente punição do sujeito ativo, necessário se torna a ocorrência desse indispensável binômio jurídico.
Faltando um desses elementos, inexistirá infração penal, como em caso de homicídio praticado em legítima defesa em que, apesar da existência do fato típico, morte, a conduta do agente é inteiramente jurídica, posto que autorizada pela lei natural.
ELEMENTARES X CIRCUNSTÂNCIAS 
Para saber a distinção de uma elementar de uma circunstância, usa-se o critério de exclusão, de acordo com dois princípios:
1º Princípio: quando, diante da figura típica, excluindo-se determinado elemento, o crime desaparece ou surge outro, estamos em face de uma elementar. A ausência da elementar causa dois efeitos: 
Atipicidade absoluta: a ausência da elementar exclui o crime de que se trata e não surge nenhum outro crime.
Atipicidade relativa: a ausência da elementar exclui o crime de que se trata, surgindo outro crime. Exemplo: no crime de peculato, excluída a qualidade de funcionário público do autor, desaparece o delito considerado, aparecendo o crime de apropriação indébita.
2º Princípio: quando excluindo certo dado, não desaparece o crime considerado, não surgindo outro, estamos em face de uma circunstância. Se esta tem função de aumentar ou diminuir a pena, a sua ausência não exclui o delito e nem faz surgir outro, permanecendo o crime considerado em sua forma fundamental. Exemplo: suponha que um homicídio pratica por motivo de relevante valor moral; excluindo-se o motivo, o tipo permanece em sua forma fundamental.
Circunstância deriva de circumstare (estar em redor).
Tratando-se de crime, circunstância é todo fato ou dado que se encontra ao redor do delito. É um dado eventual, que pode existir ou não, sem que o crime seja excluído.
As circunstâncias são determinados dados acessórios que, agregados à figura típica fundamental, aumentam ou diminuem a pena. As circunstâncias são accidentalia delicti e não essentialia delicti.
As elementares são consequentemente, circunstâncias do tipo e não do crime, tornando-o mais ou menos grave em função das mudanças sofridas pelo typusregens.
OBJETO DO CRIME
O objeto do crime pode ser: jurídico ou material
Objeto Jurídico: é o bem ou o interesse juridicamente tutelado pela lei penal. Nesse sentido, a vida é o objeto jurídico no crime de homicídio.
Objeto Material: é a pessoa ou a coisa sobre a qual incide a ação do delinquente.
TIPO (Fato Típico)
Tipo é a descrição dos elementos constitutivos da infração penal. é o fato definido como crime nos artigos da Parte Especial do Código Penal ou Dos Crimes em Espécies da Leis Especiais. Assim, o furto descrito pelo artigo 155 do CP, é um tipo.
Conhecido como fattispecie no Direito Italiano e tatbestandno Direito Alemão.
É o tipo que realiza e garante o Princípio da Reserva Legal (artigo 1º CP e 5º XXXIX CF). Consiste na descrição abstrata da conduta humana feita pormenorizadamentepela lei penal e corresponde a um fato criminoso. É, portanto, como um molde criado pela lei, que está descrito o crime com todos os seus elementos, de modo que as pessoas sabem que só cometerão algum delito se vierem a realizar uma conduta idêntica à constante no modelo legal.
Em outras palavras “tipo é o modelo descritivo das condutas humanas criminosas, criado pela lei penal com a função de garantia do direito de liberdade.
5.1 Composição do Tipo (Fato Típico):
O tipo é composto por quatro elementos:
Conduta: compreende a ação ou a omissão.
Resultado (só nos crimes materiais) : constante na maioria dos crimes, é a modificação operada no mundo exterior.
Relação de causalidade (só nos crimes materiais) : é a relação de causa e efeito entre conduta e resultado.
Tipicidade: é a adequação do fato ao tipo. É o enquadramento ou a real correspondência de uma conduta praticada no mundo real ao modelo (tipo) descrito na lei.
5.2 Elementos do Tipo:
O tipo contém elementos objetivos, subjetivos e, eventualmente normativos:
Elementos Objetivos do Tipo: também conhecido como elementos descritivos do tipo. Referem-se à materialidade do fato. É o núcleo do tipo. É o verbo do tipo: matar, subtrair, seduzir, exigir, etc.
Elementos Subjetivos do Tipo: também conhecido como elementos subjetivos do injusto. Referem-se a determinados detalhes psíquicos da própria ação: fim de lucro – artigo 141, intenção de matar – artigo 121, fim libidinoso – artigo 213, conhecimento de que o objeto é produto de crime – artigo 180, motivo torpe ou fútil – artigo 121, etc.
Elementos Normativos do Tipo: aqueles cuja compreensão exige do intérprete uma particular apreciação, determinado juízo de valor, podendo apresentar-se sob formas de expressões jurídicas ou culturais, como: ato obsceno, cheque, documento, indevidamente, mulher honesta, sem autorização, sem justa causa, etc.
5.3 Outras Classificações dos Tipos:
Existem, ainda, na doutrina, outras classificações dos tipos, tais como:
Fundamental, qualificado e privilegiado
Permissivo e dependente
Normal e anormal
Fechado e aberto
Simples e misto
De fato e de autor
Em sentido amplo e em sentido estrito
Total de injusto
ANTIJURIDICIDADE (ILICITUDE)
Antijuridicidade ou ilicitude é a relação de antagonismo entre um fato e uma norma legal, abstraída a culpabilidade do agente. É o ato ilícito, contra ius, que afronta a ordem jurídica.
O conceito de antijuridicidade é obtido por exclusão. De tal sorte, será antijurídico o fato, comissivo ou omissivo, não justificado penalmente pelos incisos do artigo 23 do Código Penal.
CULPABILIDADE
A culpabilidade, apoiada em três elementos fundamentais, vêm se modificando aos longos dos anos. Tais elementos fundamentais são:
Imputabilidade: é a capacidade do autor, no momento da ação ou da omissão, de entender o caráter criminoso do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Consciência Potencial da Ilicitude: é a conclusão a que chega o agente, através de algum esforço ou cuidado, de que o fato é ilícito. Consciência do que é certo ou errado. 
Exigibilidade de Conduta Diversa: é o conhecimento de que, se nas circunstâncias, seria exigível que o agente atuasse de forma diferente, inexistindo, portanto, pena.
Determinados autores, a esse respeito, entendem que somente a coação moral irresistível ou a obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal configuram a únicas causas legais de exclusão de culpabilidade.
Todavia, doutrinadores do porte de Francisco de Assis Toledo e Damásio E. de Jesus, admitem, como causa de exclusão da culpabilidade, a exigibilidade de conduta diversa, desde que aplicada de forma excepcional, independentemente de expressa previsão legal.
SUJEITO ATIVO
Sujeito ativo, ou agente, é quem pratica a infração penal. Só o ser humano pode sê-lo.
Menores de 18 anos, segundo o artigo 27 do CP, são penalmente inimputáveis.
As sociedades não podem delinqüir. Societas delinquere non potest, diziam os práticos medievais. Crimes societários são atribuídos aos dirigentes estatutários que praticarem o ato.
Vale consignar que a Constituição Federal de 1988, dispõe no artigo 225 § 3º que as condutas e atividade consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Aqui, abre-se uma possibilidade de responsabilizar penalmente a pessoa jurídica.
SUJEITO PASSIVO
Sujeito Passivo da infração penal é o ser humano, ou a pessoa jurídica que suporte suas conseqüências.
DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES:
A doutrina classifica o crime da seguinte forma:
Segundo a gravidade
Quanto à conduta
Quanto ao resultado
Quanto ao momento consumativo
Quanto ao sujeito ativo
Quanto aos bens ou interesses jurídicos tutelados
Quanto ao elemento subjetivo
10.1 Classificação dos crimes segundo a gravidade:
A distinção entre crime e contravenção é dada pelo artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal – Decreto-Lei 3914/41, e reside na natureza da pena cominada:
Reclusão ou detenção: para crimes
Prisão simples: para contravenções
Com o advento da Lei 9.099/95 e 10.259/01, todos os crimes apenados com pena restritiva de liberdade não superior a dois anos e todas as contravenções penais, são considerados Crimes de Menor Potencial Ofensivo, não se perfazendo, na prática, diferença entre um ou outro. Porém, processualmente a diferença ainda deve persistir pois, caso o agente se recuse a proceder de acordo com os procedimentos previstos na Lei 9099/95, deve ser autuado de acordo com o Código de Processo Penal, em flagrante, arbitrando-se fiança criminal (se crime) ou livrando-se solto (se contravenção penal).
No Brasil as expressões crime e delito guardam sinonímia. Outros países, não obstante, adotam classificação tripartida. Dividem, as infrações penais em crimes, delitos e contravenções. Há crime se houver lesão à bem jurídico fundamental (como a vida, liberdade), há delito se houver lesão a bem ou interesse criado pela sociedade (como a propriedade) e há contravenção quando houver desobediência a regulamentos administrativos ou policiais. A classificação tripartida é adotada pela Áustria, Bélgica, Grécia e Japão.
Nosso ordenamento jurídico adota a classificação bipartida ou bicotômica. Acompanha, nesse sentido, a Dinamarca, a Finlândia, a Holanda, a Itália, a Noruega, o Peru e a Suíça. Em nosso e naqueles países, as expressões crime e delito se equivalem, podendo ser utilizadas, indiferentemente, com o mesmo sentido.
10.2 Classificação dos crimes quanto à conduta:
Crimes unis subsistentes: se aperfeiçoam com uma única ação, não admitindo tentativa: injúria, ato obsceno, falso testemunho.
Crimes pluris subsistentes: cuja ação se desdobra em vários atos. Admitem tentativa: redução à condição análoga à de escravo.
Crimes comissivos: que decorrem de uma ação positiva, como o homicídio.
Crimes omissivos próprios: (ou omissivos puros) que decorrem de uma ação negativa, de um nihilfacere. O agente responderá apenas pela omissão. Ex: omissão de socorro.
Crimes omissivos impróprios: (ou comissivos por omissão) que só podem ser praticados por determinadas pessoas, que os doutrinadores espanhóis chamam de garantes (fiador). O agente tinha o dever de evitar o resultado e por isso por ele responderá. Ex: mãe que deixa de amamentar o filho e este morre – responderá por homicídio culposo. Salva-vidas que na posição de garantidor, por negligência deixa de salvar o banhista. 
Crimes de forma livre: o núcleo do tipo permite ao sujeito ativo agir de forma inespecífica: lesão corporal e homicídio.
Crimes de ação múltipla: (ou crimes de conteúdo variado) apresentam uma variedade de núcleos de tipo, e mesmo que sejam praticados duas ou mais ações o crime será único: instigação, induzimento e auxílio ao suicídio ou tráfico de entorpecente.
Crimes de forma vinculada: são aqueles de ação múltipla restrita. Exemplo: explosão.
Crimes de mão própria: exige do agenteuma qualidade pessoal, de tal sorte que somente ele poderá cometê-lo. Não admitem co-autoria mas admite participação. Ex: falso testemunho. É diferente do crime próprio onde é permitida a co-autoria: infanticídio e peculato.
10.3 Classificação dos crimes quanto ao resultado:
Crimes materiais: (ou crimes de resultado) são aqueles que exigem um resultado no mundo físico, destacado da conduta. Exemplos: Homicídio, lesão corporal.
Crimes formais: são aqueles em que a ação do agente ou sua vontade bastam para a produção do resultado. Ex: ameaça injúria, difamação. São os crimes de perigo abstrato.
Crimes de mera conduta: (ou de simples atividade) são aqueles cujo tipo não descreve qualquer resultado naturalístico da ação. Ex: ato obsceno, omissão de notificação de doença, violação de domicílio.
Crimes de dano: provocam destruição, inutilização ou deterioração da coisa. Exemplo: dano.
Crimes de perigo: são aqueles em que a probabilidade de dano sempre existe. Exemplo: periclitação de vida – artigo 132 CP – expor em risco a vida ou a saúde de outrem.
10.4 Classificação dos crimes quanto ao momento consumativo (ou modo de execução):
Crimes tentados: (ou crimes falhos) são aqueles que não se consumam por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Crimes consumados: são aqueles em que a conduta amolda-se ao tipo
Crimes instantâneos: são aqueles que esgotam-se com o evento que os condiciona. Ex: o furto se consuma no momento da subtração.
Crimes permanentes: são aqueles cujo momento consumativo se prolonga no tempo. É sempre crime comissivo: seqüestro, cárcere privado, receptação, quadrilha ou bando.
Crimes instantâneos de efeitos permanentes: cujo efeito são duradouros, não podendo ser alterados pelo próprio sujeito ativo, como os crimes de homicídio e bigamia.
Crimes habituais: exigem a reiteração da mesma conduta enquanto modo de vida socialmente reprovável. Ex: exercício ilegal da medicina, casa de prostituição, curandeirismo.
Crimes progressivos: são aqueles cuja descrição engloba outro de natureza menos grave. Ex: no furto pode ocorrer a violação de domicílio e no homicídio a lesão corporal, que serão absorvidos. Não confundir crime progressivo com progressão criminosa, onde o sujeito ativo decide praticar um crime mais grave.
Crimes continuados: o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie que, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem, na condição de subseqüentes, ser considerados como continuação do primeiro. Ex: o caixa que diariamente furta o patrão ou o empregado de uma fábrica de bicicleta que todo dia subtraiu uma peça para montar uma em casa.
10.5 Classificação dos crimes quanto ao sujeito ativo:
Crimes monos subjetivos: praticados por um único agente.
Crimes pluris subjetivos: (ou de concurso necessário) praticados por vários agentes: quadrilha
Crimes bilaterais: (ou crimes de encontro) exigem um concurso de vontades entre os participantes. Ex: sedução.
Crimes comuns: praticados por qualquer pessoa penalmente imputável
Crimes próprios: cuja autoria limita-se a agentes dotados de determinadas qualidades, como aquelas específicas de médicos, mães, funcionários públicos, advogados, estrangeiros. Admite-se a co-autoria. Não deve ser confundido com os crimes de mão-própria.
Crimes funcionais: são os praticados por funcionários públicos no exercício da função. É uma modalidade do crime próprio. Ex: peculato, corrupção passiva, concussão.
Crimes de responsabilidade: em sentido estrito, são os crimes praticados por determinados políticos, como Ministros e presidente da República. Em sentido amplo, também englobam os crimes funcionais.
10.6 Classificação dos crimes quanto aos bens ou interesses jurídicos tutelados:
Crimes simples: são aqueles cujo tipo descreve uma única ação punível, como o furto simples, por exemplo.
Crimes complexos: são aqueles cuja descrição típica é integrado, pelo menos, por dois outros delitos que, conjugados, formam outra infração penal distinta, como o latrocínio, resultante de um furto ou roubo seguido de morte.
10.7 Classificação dos crimes quanto ao elemento subjetivo:
Crimes dolosos: são os crimes intencionais, aleivosos.
Crimes culposos: são os crimes não intencionais, informados pela imprudência, negligência ou imperícia.
Crimes preterdolosos: são os delitos informados pelo dolo no antecedente e culpa no conseqüente.
10.8 Outras classificações dos crimes:
Crime principal: existe independente de outro.
Crime acessório: depende de outro para existir. Ex: Receptação.
Crime multitudinário: crime praticado pela multidão. Ex: linchamento.
Crime putativo: (ou imaginário ou erroneamente suposto) o agente pensa que cometeu um crime, mas, na verdade, realizou um irrelevante penal.
Crime de dupla subjetividade passiva: é aquele que tem, necessariamente, mais de um sujeito passivo, como é o caso do crime de violação de correspondência, onde o remetente e destinatários são os ofendidos.
Crime exaurido: após atingir o momento consumativo, o agente prossegue atingindo o mesmo bem jurídico, cuja lesão posterior é irrelevante penal. Ex: após furtar um carro o agente o destrói.
Crime de ímpeto: o cometido em um momento de impulsividade.
Crime a distância: (ou de espaço máximo ou de trânsito). A execução do crime ocorre em um país e a consumação em outro.
Crime plurilocal: a execução ocorreu em um local e o resultado em outro, no mesmo país.
CAPÍTULO 4 - DO CRIME 
(Artigos 13 ao 25 do Código Penal)
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE. TEORIA DO CONDITIO SINE QUA NON
	Relação de causalidade
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 
Relevância da omissão
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
1.1 Relação de Causalidade – artigo 13 “caput” :
Quanto ao nexo causal, o legislador de 1940 adotou a teoria da conditio sinequa non, mais conhecida como teoria da equivalência dos antecedentes causais, cuja amplitude é mitigada pela tipicidade.
O artigo em exame não se faz com a simples ocorrência material do resultado. Exige, conforme o caso, dolo e culpa, de sorte que, não fosse a causalidade temperada, o fabricante de uma arma, poderia, a final, vir, também, a ser condenado por homicídio.
A leitura do artigo permite antever em sua segunda parte a causalidade na omissão. Não obstante, predomina na doutrina o entendimento de que inexiste nexo causal entre omissão e resultado, mas simples avaliação normativa. Consequentemente, o agente acaba punido por não ter agido no sentido de evitar o resultado. Nunca, por causar um resultado.
Porém, caso o resultado venha a ocorrer, de qualquer maneira, a omissão não pode ser imputada ao agente, mesmo agindo.
1.2 Superveniência de Causa Independente – artigo 13 § 1º :
Aplica-se no caso descrito no parágrafo primeiro a teoria da conditio sinequa non, pois há nesse caso a necessidade de avaliar a preponderância das causas. A doutrina recomenda ao intérprete a utilização da linha de desdobramento físico ou anátomo-patológico.
Exemplo: “A” é ferido por “B”. Conduzido, rapidamente, a um hospital, vem a sucumbir, ali, em decorrência do desabamento de uma encosta sobre o prédio, solapada por fortes chuvas. Ou em decorrência de infecção hospitalar.
Na primeira situação, “B” é afastado da imputabilidade, posto que o falecimento nãodecorra das lesões, mas do desabamento.
Na segunda, não se exclui a imputação, visto que a infecção hospitalar está na linha de desdobramento físico da conduta inicial.
1.3 Relevância da omissão – artigo 13 § 2º :
Os sujeitos indicados nas três alíneas do parágrafo segundo do artigo 13 do CP, são os chamados de garantes (espanhol) ou fiadores (português).
Na alínea “a” podemos antever os parentes próximos, como a mãe que deixa de amamentar o bebê, por exemplo.
Na alínea “b” o capitão do navio ou o enfermeiro, a título de ilustração.
Na alínea “c” o nadador, que incentivou o amigo a atravessar o rio com ele, mas o abandonou no meio do longo nado. É um exemplo típico de criação prévia do perigo ou da ingerência segundo a doutrina.
CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO
Para que possamos definir se o crime foi consumado ou restou somente tentado, necessário se faz o estudo do momento em que a ação do agente passou a ser considerada crime. Para que isso ocorra, imprescindível o estudo das fases do crime.
2.1 Fases do crime:
O corte histológico do crime permite antever quatro fases distintas, também conhecida como iter criminis, ou caminho do crime:
Cogitação (cogitatio): não interessa ao Direito Penal, vez que somente a vontade exteriorizada tem reconhecida relevância jurídica.
Atos Preparatórios (conatusremotus): são, em regra, atípicos já que não lesam, e muito menos, põem em perigo, bens ou interesses tutelados pela lei penal. Não obstante, existem atos preparatórios como no crime de petrechos para falsificação de moedas, que por si sós, configuram fato típico pela implícita potencialidade do dano.
Começo de execução (conatusproximus): é a atividade executiva que não se amolda, totalmente ao tipo.
Consumação (consumatio): é a final, a realização integral do tipo.
	Art. 14 - Diz-se o crime:
Crime consumado 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
2.2 Crime Consumado – artigo 14 I CP :
Dá-se, portanto, a consumação de um crime quando estão reunidos, concretamente, todos os elementos de sua definição legal.
Todavia, não se deve confundir consumação com exaurimento. O crime é exaurido quando o sujeito ativo, após a consumação, alcança o fim visado. No crime de concussão, por exemplo, o exaurimento dá-se com o recebimento da quantia exigida.
2.3 Crime tentado – artigo 14 II CP :
Concretizam-se a tentativa quando, por motivos independentes da vontade do infrator, incorre a consumação, ficando o resultado aquém da sua intenção. 
A tentativa, segundo os modernos penalistas apresenta-se como perfeita ou imperfeita, recebendo, ambas, igual tratamento por parte do Código Penal:
Tentativa perfeita: (ou crime falho) ocorre quando o sujeito ativo, apesar de praticar todos os atos necessários à consumação, não consegue chegar à meta desejada, apesar de esgotar sua potencialidade ofensiva.
Tentativa imperfeita: (ou norma de extensão) decorre da interrupção do iter criminis, não esgotando o agente sua potencialidade ofensiva.
2.4 Pena na tentativa – artigo 14 § único CP :
Trata-se de solução intermediária para o conatus (tentativa), punindo-se a tentativa de maneira abrandada, cuja pena será diminuída de um a dois terços.
2.5 Crimes de tentativa impossível:
Não se admitem tentativa os crimes:
Culposos: cujo resultado não é desejado (exceto culposo impróprio)
Crimes de mera conduta
Crimes formais
Crimes de atentado ou de consumação antecipada
Crimes omissivos próprios
Crimes unissubsistentes
Crimes habituais
Crimes preterdolosos
Contravenções penais
DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
	Desistência voluntária e arrependimento eficaz
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
São espécies de tentativa abandonada ou qualificada. Nelas o resultado não se produz por força da vontade do agente, ao contrário da tentativa, em que atuam circunstâncias alheias a essa vontade. São incompatíveis com os crimes culposos, uma vez que se trata de uma tentativa que foi abandonada. Pressupõe um resultado que o agente pretendia produzir, mas, em um segundo momento, desistiu ou se arrependeu.
Tanto a desistência voluntária como o arrependimento eficaz tornam ATÍPICOS os atos de execução do sujeito ativo e que configurariam tentativa. Todavia, o agente responde pelos atos praticados, desde que penalmente relevantes.
Von Liszt considerava a desistência voluntária como a ponte de ouro que o Código Penal estende ao criminoso, incentivando-o a retroceder no iter criminis. É, também, chamada de tentativa qualificada porque os atos até então praticados são punidos por si só. Na desistência voluntária o agente interrompe a execução do crime, impedindo, desse modo, a sua consumação. Exemplo: o agente tem um revólver municiado com seis cartuchos intactos. Efetua dois disparos contra a vítima, não a acerta e, podendo prosseguir atirando, desiste por vontade própria e vai embora.
O arrependimento eficaz, por sua vez, vincula-se, intimamente, à tentativa perfeita. O agente, após encerrar a execução do crime, impede a produção do resultado. Só é possível nos crimes materiais, nos quais há resultado naturalístico. Arrepende-se eficazmente quem, com intenção homicida, após lançar alguém que não sabe nadar, nas águas revoltas de um rio, atira-se na correnteza e o salva.
A diferença entre a desistência voluntária e o arrependimento eficaz é que na desistência voluntária o agente interrompe a execução e no arrependimento eficaz a execução é realizada inteiramente, mas o resultado é que vem a ser impedido.
Em ambos os casos não há redução de pena, se não configurar outro crime os atos até então praticados, o agente não responderá por nenhum delito.
É necessária apenas a voluntariedade do agente, não importando se a desistência ou o arrependimento se deu por sugestão de terceiro.
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
	Arrependimento posterior
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.
O arrependimento posterior é uma causa obrigatória de redução de pena (um a dois terços) que ocorre nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa, até o recebimento da denúncia ou queixa.
O arrependimento posterior é uma espécie de arrependimento eficaz que acontece após a consumação. É uma inovação do legislador de 1984. Conforme a própria Exposição de Motivos, a novidade constitui providência de Política Criminal e é instituída menos em favor do agente do crime do que da vítima. É efetivamente, estímulo à reparação do dano nas infrações penais cometidas sem violência ou grave ameaça à pessoa.
No arrependimento posterior também basta a voluntariedade do agente, não sendo obrigatório sua espontaneidade.
Traz o artigo 16 que o arrependimento posterior até o recebimento da denúncia ou queixa é causa obrigatória de diminuição de pena (1 a 2 terços). Porém, se o arrependimento posterior foi após o recebimento da denúncia ou da queixa, não fará jus à diminuição, mas incorrerá na “diminuição” da pena por tratar-se de atenuante genérica, disposto no artigo 65 III “b” do CP.
Diferentemente da desistência voluntária e do arrependimento eficaz, o arrependimento posterior aplica-se aos crimes dolosos e culposos, tentados e consumados, simples, privilegiados ou qualificados.
O Juiz deve reduzir a pena de um terço a dois terços. Como a reparação do dano ou da coisa deve sempre ser integrais, esse não pode ser o critério

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