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Restauro Villa Empain

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
LUCIANA TAVARES 
 
 
 
 
 
 
 
PROJETO DE RESTAURO DA VILLA EMPAIN NA BÉLGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE 
2018 
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
LUCIANA TAVARES 
 
 
 
 
 
 
 
PROJETO DE RESTAURO DA VILLA EMPAIN NA BÉLGICA 
Trabalho realizado pela disciplina de Projeto de 
Revitalização e Reutilização, ministrado pelo 
Professor Marco Antônio Gomiero Oricolli, 
referente a compensação de ausência do 
semestre 2017.B, no período definido por 08 de 
novembro à 08 de dezembro de 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAMPO GRANDE 
2018 
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SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO...........................................................................04 
2. TEORIAS DE RESTAURO............................................................04 
2.1. Viollet Le Duc e o Restauro Estilístico.........................................04 
2.2. John Ruskin e o Restauro Romântico.........................................05 
2.3. Cesare Brandi e o Restauro Crítico.............................................05 
3. CARTAS PATRIMONIAIS............................................................06 
3.1. Carta de Atenas 1931 e 1933.....................................................06 
3.2. Carta de Veneza 1964...............................................................07 
4. VILLA EMPAIN..........................................................................09 
4.1. Histórico...................................................................................07 
4.2. Restauração..............................................................................09 
4.3. Análise Crítica...........................................................................10 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
Nas Cidades contemporâneas, temos o espaço urbano como um reflexo das 
transformações espaciais do agente centralizador de relações humanas, conflitos, 
manifestações, ocupações e diversos condicionantes que tornaram cada vez mais difícil 
a organização e configuração dessas áreas. Diante desse fato, a Arquitetura e o 
Urbanismo tenta responder as necessidades e exigências desses espaços, com suas 
variáveis e condicionantes sociais, culturais, econômicas, políticas, e essencialmente, 
ambientais. Portanto, há uma necessidade de se estudar e analisar certos espaços, de 
modo a sanar ou minimizar as problemáticas atuais urbanas, que muitas vezes, tomam 
formas de Projetos de Intervenção, caracterizando-se como: Reconstruções, 
Reabilitações, Revitalizações, Requalificações, ou até mesmo um Retrofit. 
O presente trabalho tem por objetivo, apresentar um projeto de restauro com 
intervenção crítica, analisando seus aspectos e fazendo uma relação aos Teóricos Viollet 
Le Duc, John Ruskin e Cesare Brandi, bem como, ao conteúdo das Cartas Patrimoniais 
de Athenas e Veneza. E para tanto, o objeto de análise escolhido foi a Villa Empain, uma 
casa de 2.500m² construída pelo arquiteto Michek Polak no ano de 1934, onde sofreu o 
processo de restauro no ano de 2007, localizada na Cidade de Bruxelas na Bélgica. 
 
2. TEORIAS DE RESTAURO 
 
2.1. Viollet Le Duc e o Restauro Estilístico 
 
Essa teoria tem como base a linha de pensamento da reconstituição formal do 
edifício, ou seja, visa construir o monumento na sua forma primitiva, o que a caracteriza 
em dois aspectos: a busca da unidade estilística do edifício e a “depuração” do 
monumento através da remoção dos acréscimos em busca do estilo “puro”; Isso, 
objetivando a recomposição do monumento, tendo a unidade estilística como diretriz, 
consequentemente, o monumento é avaliado principalmente pelo estilo que se 
predomina, exaltando uma valorização excessiva da Instância Estética em detrimento 
da Instância Histórica. 
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2.2. John Ruskin e o Restauro Romântico 
 
John Ruskin detinha uma postura ideológica que ia de frente aos conceitos da 
produção industrial, pois acreditava que a arte tinha que ser feita pelo homem e não 
por maquinas, assim como, também ia de encontro com os ideais de Le Duc, uma vez 
que esse acreditava na autenticidade como forma e proporção e Ruskin, por sua vez, 
defendia que a autenticidade da matéria é que traz as marcas do tempo, e com o passar 
do tempo é que se acrescenta a esterilidade. Ruskin se mostrava muito 
conservador, pois defendia que o restauro era a pior destruição que o edifício poderia 
sofrer, acompanhada da falsa descrição da coisa que perdemos. O intuito desse 
arquiteto, era deixar o monumento tal como se apresentava, revelando uma antipatia 
total a qualquer tipo de “ação cirúrgica” à qual os arquitetos restauradores estão 
sujeitos a praticar. 
 
2.3. Cesare Brandi e o Restauro Crítico 
 
Cesare Brandi fazia distinção entre restauração de produtos industrializados, 
voltados para recuperação da sua funcionalidade e, entre a restauração de obras de 
arte, que levava em consideração seus aspectos estéticos e históricos. Para Brandi, a 
obra de arte só poderia ser considerada como tal, se houvesse o reconhecimento da 
mesma em um determinado lugar, momento e cultura por alguém, defindindo então, 
duas linhas de ação: a estética, ligada a artisticidade; e a histórica, relacionada a uma 
produção humana que se encontra em um dado tempo ou lugar; Sendo assim, ele afirma 
que é a obra de arte que condiciona a restauração e não o contrário, definindo o 
conceito de restauração como: O restauro constitui o momento metodológico do 
reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade 
estética e histórica, com vistas à sua transmissão ao futuro. 
 
 
3. CARTAS PATRIMONIAIS 
 
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3.1. Carta de Atenas 1931 e 1933 
 
No que diz respeito à Carta de Atenas, principalmente a de 1933, é a 
preocupação que se tem em relação a arquitetura em um período de grande 
crescimento urbano. Há aí dois seguimentos diferentes a serem levados em conta: os 
arquitetos voltados designadamente à ação de conservação do patrimônio 
arquitetônico e urbano e os domínios voltados as propostas de inovação do chamado 
Movimento Moderno. 
O principal objetivo da carta de 1931 é trazer para pauta os aspectos legais, os 
técnico-construtivos e os princípios norteadores da ação de conservação. O documento 
alega a necessidade de concepção e fortalecimento de organizações nacionais e 
internacionais, de modo operativo e consultivo, voltadas à preservação e restauro do 
patrimônio. A Carta de 1933 resume a visão do “Urbanismo Racionalista”, tendo como 
principais aspectos debatidos a necessidade de planejamento regional e infra urbano, a 
implantação do zoneamento, através da separação de usos em zonas distintas, de modo 
a evitar o conflito de usos incompatíveis, a submissão da propriedade privada do solo 
urbano aos interesses coletivos, a verticalização dos edifícios situados em amplas áreas 
verdes, a industrialização dos componentes e a padronização das construções. 
A principal diferença entre as duas Cartas de Atenas, são os objetivos específicos 
que cada documento traz: a Carta de 1931 foi criada por profissionais da restauração 
com o intuito de estabelecer uma orientação; já a Carta de 1933 trata-se das resoluções 
de um congresso reunido para debater e impulsionar os novos rumos para a cidade 
moderna. 
 
3.2. Carta de Veneza 1964 
 
A carta de Veneza foi criada em 1964, no II Congresso Internacional de Arquitetos 
Técnicos de Monumentos Históricos, onde seu conteúdo divide-se em 7 temascom 16 
artigos. Esse documento apresenta as seguintes resoluções: passa a reconhecer 
monumentos e sítios, ou seja, tanto a edificação isolada como também os conjuntos 
urbanos ou rurais edificados; recomenda a conservação de vários estratos históricos 
presentes no monumento, admitindo que a unidade de estilo não é a finalidade da 
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restauração; admite o emprego de técnicas e materiais modernos na conservação e 
restauro, desde que a eficácia seja comprovada pela experiência, recomendando-se 
também, que a intervenção moderna distinga-se do conjunto, porém integrando-se a 
ele; exige aplicação de normas para escavações conforme a UNESCO recomenda; e por 
fim, inicia um trabalho para formulação de documentação dos trabalhos executados a 
partir de textos, fotos, desenhos, entre outros. 
 
4. VILLA EMPAIN 
 
4.1. Histórico 
 
Depois da morte do Barão Édouard Louis Joseph 
Empain, seu filho herdou riqueza industrial e decidiu voltar a 
Bruxelas depois de estar um tempo viajando. Com apenas 21 
anos, o jovem Barão Louis Empain decidiu construir uma 
casa para mostrar sua posição na classe social Bélgica, e para 
isso, ele escolheu um lugar em um bairro privilegiado e 
contratou um arquiteto estrangeiro, Michel Polak, 
demonstrando a sua não dependência dos costumes 
bélgicos. O projeto da Villa apresenta os conceitos de Avant-
Garde e Art Deco, como também, os melhores materiais 
para exaltar a posição de Barão Empain. 
Desde o início, a casa levantou muita curiosidade e entusiasmo, por apresentar 
uma aparência moderna e luxuosa. Na sua construção, além do uso de materiais de alta 
qualidade, nota-se que foi dado grande importância para a consistência estilística e os 
detalhes eram baseados em linhas simples. 
Em 1937, Louis Empain, um grande amante da arte, doou a propriedade para a 
Bélgica com o objetivo de criar um museu de arte contemporânea no prédio, porém não 
foi exatamente assim que os eventos viraram. A casa virou um espaço para exposições 
até o ano de 1943, depois disso, ficou sob o domínio do exército alemão, daí então, 
servindo como refúgio para os aliados e mais tarde, se tornou a embaixada da URSS. 
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Com os desejos de Louis Empain não realizados, a casa foi vendida em 1973 e em 
seguida, foi alugada pela televisão RTL por cerca de dez anos. 
A partir dos anos noventa, a casa foi praticamente abandonada. Em 2000 foi 
comprado pelo empresário belga Stephan Jourdain que demoliu várias partes do edifício 
sem as autorizações necessárias. Em julho de 2001, a comissão de conservação de 
monumentos e locais de Bruxelas, pararam estas obras a fim de preservar a Villa. Mais 
tarde, em 2006, a casa foi adquirida pela Fundação Boghossian. Isso, mais o fato de que 
em março de 2007 a vila foi listada como um edifício de valor histórico pelo governo 
belga, o que fez pensar que o Villa iria ter um futuro melhor. 
A moradia foi reaberta em 21 de abril de 2010 e hoje cumpre o papel de ser um 
centro de diálogo entre as culturas do Oriente e do Ocidente. Em 2011 ela ganhou o 
prêmio de Europa Nostra para o Património Cultural Europeu. Na Fundação Boghossian 
a Villa Empain detém exposições de arte, passeios, palestras, passeios, workshops, 
concertos e outras atividades. 
 
 
Fachada Frontal da Casa – 1934 Fachada Posterior da Casa – 1934 
 
Fachada posterior da Casa – 1934 Interior da Casa - 1934 
 
4.2. Restauração 
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 A restauração surgiu após a compra da moradia pela Fundação Boghossian e a 
recomendação do arquiteto Philippe De Bloos. As primeiras abordagens para o plano de 
reforma foram baseadas em um estudo feito em 1995 pelo arquiteto Stéphane 
Dusquesne a da Universidade Katholieke Leuven. O estúdio Dusquesne ficou 
responsável por este documento, incluindo uma investigação sobre a história da cidade 
e uma coleção de fotografias da edificação, antes de sua destruição parcial no ano de 
2000. 
A primeira fase da restauração foi baseada em documentos históricos 
disponíveis, tais como fotografias, planos, contas, correspondência, etc. Esta informação 
foi recolhida durante seis meses por Carlo Chapelle, contratado pelo arquiteto Francis 
Metzger. Além desta documentação, foi realizado um estudo in loco do edifício e uma 
investigação sobre o tempo e os estilos, para preencher as lacunas na investigação e 
trazer para o prédio, um estado tão perto do original, mas que também tenha em linha 
as necessidades modernas. Por isso, foi feito um grande trabalho no edifício para 
identificar a construção de sistemas, materiais, cores, técnicas, etc. As amostras 
recolhidas para o laboratório para criar paletas de cores foram tiradas. Este trabalho 
estava nas mãos do Real Instituto do Patrimônio Cultural. 
Com base em todos estes dados, é realizado o plano de reforma, que teve de ser 
conciliado com as exigências da Fundação Boghossian e da Comissão Real dos 
Monumentos e Sítios. A proposta feita por MA2 foi submetido a Bruxelas, e o trabalho 
começou em 2007. 
Por conta dos materiais de alta qualidade utilizados na decoração da casa, teve 
que se contratar artesãos qualificados para restaurar. Os contratantes Valens e Jacques 
Delens se juntaram posteriormente a empresa Dimension 7 para restaurar a piscina e as 
áreas ao redor do jardim. Ressaltando aqui, que alguns dos pontos mais difíceis da 
restauração foram: a substituição do telhado de cobre; o restauro das janelas de vitral 
e ferro forjado; o mármore Bois Jourdan e Escalette de Nóz, Pau-Rosa e Manilcara; após 
dois anos de trabalho, A Villa Empain brilha novamente como originalmente. 
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Visão da piscina – 2007 Interior da casa deteriorado – 2007 
 
Fachada lateral da casa – 2007 Andaimes de reforma do processo de restauro – 2007 
 
 Restauro dos ladrilhos do teto – 2007 Casa em processo de reforma para o restauro – 2007 
 
4.3. Análise Crítica 
 
 Esse projeto definitivamente apresenta os conceitos de restauro que foi definido 
por Cesare Brandi, o Restauro Crítico ou Restauro Criativo, onde defende-se o debate à 
cultura atual, inserindo a obra no presente, uma ideia de que tudo deve pertencer a um 
contexto, seja ele cultural, histórico ou outro. A restauração deste edifício apresenta 
uma lealdade significativa à forma e aos materiais utilizados outrora, porém quando não 
se faz possível o uso de alguns desses materiais, o projeto se adapta de maneira mais 
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moderna, mas ainda assim, esses acréscimos e reconstruções que se diferenciam, 
respeitam o conceito e a unidade da obra em si. 
 Certamente tem referência à Carta de Atenas, uma vez que reforça a 
necessidade do fortalecimento dos órgãos responsáveis pela restauração e conservação 
de edifícios, o que nos mostrou ser importante, dado ao histórico dessa edificação. 
Como também, a referência à Carta de Veneza, pois esse projeto apresenta algumas 
resoluções definida, como por exemplo, o uso de técnicas e materiais mais modernos 
no restauro, ou, a formulação de base de documentos antecedente a execução da obra. 
 
 
 Fachada Frontal da casa após reforma – 2010 Fachada posterior da casa após reforma – 2010 
 
 Interior da casa após reforma – 2010 Interior da casa após reforma – 2010 
 
 Interior da casa após reforma – 2010 Interior da casa após reforma – 2010

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