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RESUMO TATAGIBA

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ICP – LUCIANA TATAGIBA
- 1984,1992 e 2013. Sobre ciclos de protestos e democracia no Brasil
- Os protestos de junho de 2013 foram um daqueles momentos nos quais a capacidade de intervenção da sociedade sobre a política se amplia, essa capacidade ainda se reverberou nas eleições presidenciais de 2014 em que condensou a energia liberada pelo povo na rua com seu contraditório e multifacetado “desejo de mudança”.
- O objetivo é explorar a forma que a mobilização assumiu e como a assumiu por três eixos de análise 1) a construção simbólica dos protestos 2) a infraestrutura de mobilização 3) as performances confrontacionais.
- A abordagem estimula e requer análise cuidadosa da interação entre os diferentes atores que tomam parte na cena política contenciosa, em contextos marcados por oportunidades e ameaças coletivas.
- Ao envolver o conjunto da sociedade no conflito, a dinâmica do ciclo exige uma resposta das autoridades, as quais tendem a combinar, em níveis variados, repressão e incorporação das demandas.
- A característica-chave dos ciclos é o efeito de difusão da ação coletiva dos setores mais mobilizados para outros grupos.
- O vínculo entre mobilização coletiva e política institucional é a chave para a compreensão dos ciclos de protesto. As dinâmicas de mobilização e desmobilização internas ao ciclo podem provocar mudanças nas relações entre autoridades e desafiadores, abrindo espaço para a expressão de novos atores e discursos, que podem causar impacto sobre a política institucionalizada.
- Embora haja bastante semelhanças entre as mobilizações em questão, há diferenças significativas que expressam uma nova configuração entre política institucional e contestatória forjada, por sua vez, profundas mudanças nos padrões de interação entre movimentos sociais, Estado e partidos ao longo dos últimos 30 anos.
I- A CONTRUÇÃO SIMBÓLICA DOS PROTESTOS 
- Um ponto comum nessa análise sobre o protesto de junho de 2013 é a ideia de diversidade de reivindicações. A organização de fato iniciou esse movimento a favor do passe livre para estudantes e depois ampliada a uma demanda universal. Essa demanda pela tarifa zero está associada à agenda de reforma urbana na situação de mobilidade social principalmente em grandes cidades e para as pessoas mais marginalizadas.
- A convocação dos protestos foi mediante a luta por 20 centavos, porém com a escala do movimento foi aumentada causando um processo de incorporação de novos atores e demandas diversificando os cenários institucionais implicados no confronto. A indignação nas ruas teve muitas faces o que não conseguiu conferir uma unicidade a diversidade de atores, somente o tema de estopim.
- Os protestos de Diretas já “quero votar para presidente” e fora Collor “ética na política” também tiveram pluralismo de ressignificações dos temas centrais reivindicações dentro da própria estrutura do movimento, sendo necessário “uma costura” para ligar os interesses de todas as lideranças partidárias.
- Esse fato diferenciou-se do protesto de junho de 2013 que, além do desejo da redução da tarifa buscava como lema a ideia de “cada pessoa um cartaz”. Por exemplo, houveram reivindicações a situações de militarização, redução da maioridade penal, legalização do aborto. Essa pluralidade de demandas, as vezes opostas, com a nacionalização do protesto acabava dividindo espaço no mesmo movimento.
- Nos três protestos, houveram sempre uma simbologia nacional para representar a nação Diretas já “grito preso na garganta”, fora Collor “verás que o filho teu não foge à luta” e em junho de 2013 com “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor” “o gigante acordou” e a grande presença de bandeiras nacionais, execução do hino.
- Os protestos de junho, frente a situação de gastos exacerbados à copa do mundo, mudou também o rumo do movimento destinando também a corrupção política do país. Esse tema já se discorria desde as primeiras eleições pós-ditadura que encaminhou a criação de partidos como o PT que tinham como definição a ideia de “nova forma de fazer política” sendo a principal exigência aos candidatos “ser honesto”
- O enquadramento de “combate a corrupção” encontra forte ressonância popular, o que o tornou uma bandeira poderosa de mobilização à esquerda e à direita ao longo desses 30 anos pós-ditatoriais. O que quase acarretou na não reeleição de Lula com o escândalo do mensalão, de Dilma com os escândalos da Petrobras e de Collor em seu impeachment.
2 – A INFRAESTRUTURA DO PROTESTO
- Há diferenças marcantes quando comparados os protestos de 1984, 1992 e 2013 principalmente na relação das redes sociais com a mobilização e recrutamento e o deslocamento da centralidade dos partidos.
- No caso das Diretas Já e Fora Collor, a estrutura de mobilização estava na formação suprapartidária que contava com a participação de diferentes organizações como CUT, CNBB entre outras. Considerada importante para garantir a legitimidade das demandas distanciando o caráter partidário ao protesto, e também levar adiante o difícil trabalho de mobilização, o que garantia os recursos financeiros necessários, produção e distribuição de material impresso. Esses partidos participantes as vezes eram totalmente divergentes ideologicamente, mas se agrupavam numa situação de enfrentar o problema juntos.
- Nas jornadas de junho quase toda a infraestrutura de mobilização estava assentada em outras bases. Além disso os partidos não tiveram nenhum papel efetivo no recrutamento e organização das mobilizações crescendo o nível de hostilidade em relação à presença dos partidos e dos militantes partidários nos protestos.
- A organização dos protestos de 2013 foi a MPL que é um movimento social, vinculado à esquerda, independente e horizontal, não há presidente, dirigentes e nem chefes, todos têm a mesma voz e poder de decisão. O papel de mobilização e recrutamento foi desempenhado principalmente pelas redes sociais, e esse foi um fato decisivo para a conformação das suas características com a produção e difusão de informações alternativas e a massificação de adeptos aos movimentos.
- Obviamente não se trata de reduzir o recrutamento às interações virtuais. As redes face a face e a infraestrutura tradicional de mobilização ainda acontecia. As redes sociais foram um incremento de peso dessa infraestrutura nova, principalmente para o público jovem.
3- AS PERFORMANCES DA CONFRONTAÇÃO
- Na campanha das Diretas Já, as festas-comícios faziam parte do centro do repertório de confrontação. Eram realizadas mediante acordos entre governadores, lideranças partidárias e organizações de movimentos sendo realizadas em capitais. Eram eventos públicos pagos pela direção dos partidos e por governadores comprometidos com a causa. Chegou em sua maior apresentação a reunir mais de um milhão e quinhentas pessoas. Os eventos iniciavam com passeata por diferentes pontos da cidade e se encontravam em locais indicados participando da comissão de frente os governadores, presidentes de partidos, parlamentares e lideranças da sociedade civil. Contavam também com as “caravanas das Diretas” que levavam a campanha às cidades de interior.
- Na campanha pelo Impeachment de Collor, a descontração foi marca também importante do processo, iniciou-se a partir de atos com presenças de partidos de oposição, entidades sindicais e movimentos sociais e tomou corpo efetivo a partir da integração dos estudantes. A principal mostra do movimento era as caras pontadas dos jovens de verde e amarelo, passeatas seguidas de comícios, carreatas em diversas cidades, houve a presença de artistas e cantores animando a multidão. Houve também o pedido de Collor para que o povo saísse de verde e amarelo para apoiar o seu mandato e todos saíram de preto. 
- Já em junho de 2013, houveram imagens semelhantes às das duas outras campanhas: A massa nas ruas ocupando o centro do capitalismo no Brasil, em passeatas marcadas pela alegria e descontração, rostos jovens predominavam como no “fora Collor”, e bandeiras vermelhas se misturaram com o verde e amareloda nossa bandeira. Sendo essas as únicas semelhanças.
- Nas jornadas de junho não houve comício, carro de som e tampouco artistas para animar a plateia. Não houve liderança partidária e nem apoio de governadores e prefeitos. Diferente das duas campanhas passadas que visavam a influência do legislativo que poderiam efetivar as suas demandas, a dessa se vinculava ao executivo com manifestações sucessivas em intervalos curto, impedimento de trafego de vias principais causando o maior impacto possível e sempre a mensagem “amanhã vai ser maior”.
- Talvez a principal diferença desse protesto para os outros tenha sido as estratégias violentas de confrontação, a estética da violência se destacou nas ruas e na cobertura de imprensa. Pneus e latas incendiadas, carros de emissoras atacados, tentativas de invasão de sede dos governos e do legislativo, confronto aberto com a polícia, e a principal imagem do protesto se deu com a ocupação a fachada do congresso nacional.
4 – CICLOS DE PROTESTO E DEMOCRACIA: ALGUMAS REFLEXÕES PARA INICIAR O DEBATE
- A lógica de “cada pessoa um cartaz” foi uma expressão eloquente da crise de representação das democracias contemporâneas. Essa crise se dá a partir da negação da política e participação direta como forma de solução de problemas.
- Houve um medo por parte dos manifestantes em ficar contra a presidente, principalmente pelas inegáveis conquistas sociais que o PT conseguira e pelo medo da capitalização pela direita em cima desses protestos.
- “O jogo está sendo jogado e a atual incapacidade das elites políticas e dos partidos políticos de esquerda de dialogar com esse novo e complexo ator coletivo e buscar encaminhar suas demandas por dentro das instituições sugere que a radicalização, a polarização e o uso da violência como estratégia podem ter vindo pra ficar”

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