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26 HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br Só este ano, a área de produtos digi- tais do grupo brasileiro de comunica- ção RBS já utilizou a ferramenta Bu- siness Model Generation duas vezes. A primeira foi para um novo negócio que vem sendo concebido por meio do convênio de pesquisa entre a RBS e a Faculdade de Comunicação da PUC do Rio Grande do Sul. A segunda tra- tou de um produto já existente que será relançado com enfoque novo. “Reunimos várias pessoas em torno dos canvas em workshops e, assim, conseguimos construir uma versão de modelo de negócio melhor e mais clara para todos”, conta Diana Corrêa, analista de negócios digitais do grupo RBS. A empresa de comunicação de origem gaúcha vem utilizando desde 2011 o canvas que o suíço Alex Os- terwalder criou em meados dos anos 2000, quando terminava seu doutora- do na célebre HEC Lausanne. O canvas é a tela esquemática que materializa a Business Model Gene- ration (BMG), ferramenta de geração de modelos de negócio que vem tendo um sucesso espantoso. Em um mundo com informações em excesso e pulve- rizadas, e que oferece uma série de ferramentas visuais, o livro Business Model Generation vendeu, em três anos, 750 mil cópias em 26 idiomas (no Brasil, foi lançado pela editora Alta Books) e a ferramenta teve mais de 1 milhão de downloads na internet. Su- cesso entre empresas como GE, P&G e 3M, também é bastante aplicada em mercados orientais, especialmente China, Coreia e Japão. Em entrevista exclusiva a HSM Management, Osterwalder atribui grande parte do êxito ao fato de a fer- ramenta ter interface muito amigável aos usuários. Mas ele não ignora que a maioria das empresas não gosta de fazer experiências e testes, nem do risco de fracassar, e que, para elas, o canvas funciona como um protótipo que autoriza os gestores a fazer outro protótipo mais sofisticado e em escala. O depoimento de Diana Corrêa, da RBS, comprova a ideia da garan- tia: “O canvas nos fez enxergar vi- O “canvas” do modelo de negócio REPORTAGEM HSM MANAGEMENT FOCALIZA A FERRAMENTA QUE O SUÍÇO ALEX OSTERWALDER CRIOU PARA PROMOVER A INOVAÇÃO E QUE VEM MUDANDO A FORMA DE TRABALHAR DAS EMPRESAS. ELA É CONHECIDA PELA SIGLA BMG (QUE SIGNIFICA, EM INGLÊS, GERAÇÃO DE MODELO DE NEGÓCIO) A reportagem é de Adriana Salles Gomes, editora-chefe de HSM MANAGEMENT, e Viviana Alonso, colaboradora da revista. INOVAÇÃOINOVACÃO SINOPSE O Quando o paradigma do setor de fotografias mudou de filme celuloide para digital, a Kodak adotou rapidamente a nova tecnologia, lançando as câmeras digitais, mas ainda assim quebrou. Faltou ter um modelo de negócio que lhe permitisse obter margens similares às dos filmes. O Uma ferramenta de gestão surgiu com o objetivo de evitar que essa história se repita. Cada vez mais adotado (até no Brasil), o canvas, ou BMG, é um esquema visual que permite às pessoas cocriar modelos de negócio com nove elementos. O Hoje, com quebras de paradigmas repentinas, as empresas precisam revisar constantemente seus modelos. Alex Sandro Barreto Rodrigues Texto sualmente o resultado de meses de pesquisa, e isso permitiu que encon- trássemos diversos pontos do mode- lo de negócio que ainda precisavam ser aprofundados, além de ter novas ideias que aprimoraram a visão do produto”, relata a analista. Para Osterwalder, modelos de negó- cio superados são o que explica a ruína de tantas companhias dos ramos de música, cinema, fotografia e editorial. Quando o paradigma desses setores mudou, as empresas tentaram mudar tecnologicamente, mas sem alterar os modelos de negócio. Não funcionou. Para o criador da BMG, usar sua criatura só quando o novo paradigma já estiver instalado não é o mais acon- selhável. “Principalmente quando têm sucesso, as organizações só pensam em crescer e executar melhor o mo- delo, esquecendo-se de que a validade desse modelo pode expirar. Se a empre- sa não faz experimentos com modelos de negócio, para gerar novos ou atuali- zá-los, enquanto as coisas ainda cami- Fo to : A rq ui vo p es so al Ele é a própria mente sintetizadora do fu- turo definida pelo psicólogo das inteligên- cias múltiplas Howard Gardner, porque reúne grandes quantidades de conteú- do, identifica seus padrões e as simplifi- ca. Mas o suíço Alex Osterwalder, nascido em 1974, define-se sobretudo como em- preendedor. Sua tese de doutorado virali- zou na internet em meados dos anos 2000 e, em 2010, virou o best-seller traduzido no Brasil como Business Model Genera- tion (ed. Alta Books). Osterwalder é sócio de várias empre- sas, como a Arvetica, firma de consul- toria especializada no setor bancário, a BusinessModelDesign.com e a stra- tegyzer.com, desenvolvedora de soft- ware. Também participa da rede global sem fins lucrativos The Cons- tellation, que combate doenças como a ma- lária e a aids. SAIBA MAIS SOBRE OSTERWALDER HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br 27 INOVAÇÃOINOVACÃO 28 HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br PARCEIROS ESTRATÉGICOS Quem são nossos parceiros-chave? Quem são nossos fornecedores-chave? Que recursos-chave obtemos dos parceiros? Que atividades-chave os parceiros realizam? MOTIVAÇÃO PARA AS PARCERIAS . Otimização e economia . Redução de riscos e incertezas . Acesso a determinados recursos e atividades ESTRUTURA DE CUSTOS Quais são os custos mais importantes inerentes a nosso modelo de negócio? Quais são os recursos-chave mais caros? Quais são as atividades-chave mais caras? SUA EMPRESA É MAIS: . Voltada para os custos (estrutura de custos enxuta, preço baixo, máxima automação, alta terceirização) . Voltada para o valor (focada em criação de valor, preço premium) ATIVIDADES-CHAVE Que atividades-chave nossas propostas de valor requerem? Nossos canais de distribuição? As relações com os clientes? Os fluxos de receitas? CATEGORIAS . Produção . Solução de problemas . Plataforma/rede RECURSOS-CHAVE Que recursos-chave nossas propostas de valor requerem? Nossos canais de distribuição? As relações com os clientes? Os fluxos de receitas? TIPOS DE RECURSOS . Físicos . Intelectuais (marca, patentes, direitos, dados) . Humanos . Financeiros PROPOSTAS DE VALOR Que valor entregamos ao cliente? Qual problema do cliente ajudamos a resolver? Que pacotes de produtos e serviços estamos oferecendo a cada segmento de clientes? Que necessidades do cliente satisfazemos? CARACTERÍSTICAS . Novidade . Desempenho . Customização . “Fazer acontecer” . Design . Marca/status . Preço . Redução de custos . Redução do risco . Acessibilidade . Conveniência/facilidade de uso O CANVAS DO IPOD/ITUNES . GRAVADORAS . FORNECEDORES D E EQUIPAMENTOS . PESSOAS . PRODUÇÃO . MARKETING E VENDAS . PESSOAS . MARCA APPLE . CONTEÚDO E ACORDOS DE CONTEÚDO . HARDWARE IPOD . SOFTWARE ITUNE S . EXPERIÊNCIA CONTÍNUA COM MÚSICA . DESIGN DE HARDWARE . MARKETING O iPod/iTunes veio antes da BMG, em 2001, mas o livro de Osterwalder e Pigneur utiliza seu modelo de negócio para ilustrar a ferramenta. Os nove blocos são explicados e exemplificados Fo nt e: w w w .b us in es sm od el ge ne ra tio n. co m TIPO DE CUSTOS . Fixos (salários, aluguéis, serviços públicos) . Variáveis . Economia de escala . Economia de escopo 29HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br FLUXO DE RECEITA Que valor nossos clientes estão realmente dispostos a pagar? Quanto pagam hoje? Como pagam? Como prefeririam pagar? Em que medida cada fonte de receita contribui para a receita total? RELAÇÕES COM O CLIENTE Quetipo de relação cada um de nossos segmentos de clientes espera que estabeleçamos e mantenhamos com eles? Quais delas nós já estabelecemos? Como se integram ao restante do modelo de negócio? Quanto nos oneram? EXEMPLOS . Assistência personalizada . Autosserviço . Serviços automatizados . Comunidades . Cocriação CRIADO PARA: EM: ____/ ____/ _____ CRIADO POR: INTERAÇÃO: CANAIS Por meio de que canais queremos chegar aos segmentos de clientes? Como estamos chegando a eles? Nossos canais estão integrados? Quais funcionam melhor? Quais são os mais eficientes em termos de custos? . Pensar no que o canal deve cumprir: ser conhecido, ajudar a perceber valor, fazer comprar, entregar, atender pós-venda SEGMENTOS DE CLIENTES Para quem estamos criando valor? Quem são nossos clientes mais importantes? CATEGORIAS . Mercado de massa . Mercado de nicho . Segmentado . Diversificado . Multiplataforma . VAREJO . APPLE STORE . SITE APPLE.COM . ITUNES STORE . GRANDES RECEIT AS COM HARDWARE . ALGUMAS RECEIT AS COM MÚSICA . MARCA AMADA . CUSTO DE MUDAN ÇA . MERCADO DE MAS SA nham bem, será obrigada a fazê-lo na pressa da mudança de paradigma, e o mais provável é que seja tarde demais.” A aplicação do canvas tem ido além de gerar novos modelos de negócio ou revisar e atualizar os existentes. O próprio Osterwalder conta que al- gumas companhias o usam para che- car a realidade, como quando, por exemplo, veem-se em processo de fusão ou aquisição e querem saber se o modelo de negócio da outra em- presa é compatível com o delas. Uma finalidade ainda mais diferente é o uso para gestão, em diversos depar- tamentos da empresa –conhecem-se aplicações na área financeira e na de recursos humanos, entre outras. Segundo o consultor de empresas Francisco Albuquerque, cofundador da Agência de Cocriação, o canvas funciona muito bem, se utilizado com ferramentas complementares, para engajar os funcionários de seus clien- tes no alinhamento da estratégia com a gestão operacional. “Historicamen- te, alinhar estratégia com operação é um grande desafio e, quando realiza- mos esse tipo de ação, fica bem mais fácil”, afirma Albuquerque. Um caso de empresa que recorreu a esse uso alternativo do canvas é o grupo SCR Tecnologia, que atua no mercado B2B de soluções em automação e tec- nologia. De acordo com Ricardo Fer- raz, sócio-diretor do SCR, o canvas os levou a gerar maneiras de melhorar o relacionamento com clientes-chave e a redefinir uma estratégia de vendas alinhada com a proposição de valor do grupo, além de possibilitar melhor percepção dos recursos-chave e maior comprometimento da equipe. “E, no campo dos modelos de negócio, con- seguimos visualizar um novo negócio que permitirá a diversificação de nos- sos serviços”, diz Ferraz. Osterwalder aprova novos usos não pensados por ele e declara-se fascinado com a receptividade da ferramenta no Brasil. “Os brasileiros são o segundo grupo que mais visi- ta nosso site, perdendo apenas para o dos Estados Unidos, e também sei TIPOS DE RECEITAS . Venda de ativos . Tarifa por uso . Taxa de assinatura . Aluguel/leasing/empréstimo . Licenciamento . Intermediação . Publicidade . Por volume PREÇOS DINÂMICOS . Negociação (barganha) . Gerenciamento de receitas . Em tempo real O “canvas” do modelo de negócio INOVAÇÃOINOVACÃO 30 HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br que o canvas vem despertando o in- teresse tanto de startups brasileiras como de PMEs [pequenas e médias empresas], corporações locais e sub- sidiárias de multinacionais.” CONTANDO A HISTÓRIA O canvas do modelo de negócio come- çou a nascer quando Alex Osterwalder preparava sua tese de doutorado em sistemas de informação gerencial na prestigiosa escola de negócios HEC, de Lausanne, na Suíça. Ele buscava o melhor modo de descrever o modelo de negócio de uma companhia. “Que- ríamos ver, meu orientador e eu, se era factível criar uma linguagem vi- sual que resultasse útil para represen- tar qualquer modelo de negócio”, re- lembra. Após a defesa, Osterwalder publicou a tese na internet, como tan- tos fazem, mas sem muita esperança de que alguém se interessasse em ler um conteúdo acadêmico daqueles. Em pouco tempo, porém, ele teve uma surpresa. Começaram a baixar o documento incessantemente; tornou- -se um equivalente do mundo corpo- rativo para o fenômeno viral musical Justin Bieber. “Comecei a perceber que, em muitos casos, os que baixavam meu trabalho eram empresas e executivos, mas não fiz nada ”, recorda o autor. Certo dia, uma companhia de tele- comunicações da Colômbia que incor- porou a metodologia de Osterwalder por meio da internet o convidou a dar um curso de capacitação e ele notou que havia demanda para o serviço. “Entendi, então, que valeria a pena es- crever um livro sobre o tema e me as- sociei a meu professor Yves Pigneur.” Juntos, publicaram, em 2010, o título que em português foi traduzido como Business Model Generation – Inovação em Modelo de Negócios. “Primeiro, reunimos tudo o que se falava sobre estratégia, projetos e como chegar ao mercado –lembro- -me da enorme gama de conceitos pregados em meu escritório. O passo seguinte foi depurar o tema, identifi- car os conceitos obrigatórios quando se trata de modelo de negócio; reduzi- mos a lista a nove elementos. Alguns eram conceitos correntes para as pes- soas, mas de outros quase ninguém falava.” O resultado foi que, apesar de os nove elementos conceituais usados não serem novos individualmente, a maneira integrada com que os anali- saram foi inovadora. Antes de o livro ser apresentado ofi- cialmente, contudo, Osterwalder e Pig- neur resolveram testá-lo no mercado. “Isso é incomum, porque, em geral, as pessoas lançam a ideia primeiro e de- pois a testam para ver se realmente funciona. Mas nós demos um jeito de nos reunir, presencialmente e a dis- tância, com 470 gestores e consultores de 45 países, para colocar nosso mode- lo sob seu escrutínio. Queríamos saber se o canvas lhes permitiria criar seus próprios modelos de negócio e enta- bular discussões melhores nas reu- niões da empresa”, diz Osterwalder. A resposta veio em larga escala e eles aprenderam muito, modificando o produto final. O especialista perdeu a conta de quantas vezes ouviu comen- tários como: “Consigo descrever esse projeto muito bem, mas, para aquele, parece faltar algo”. O canvas do mo- delo de negócio foi submetido à prova várias vezes e finalmente lançado em 2010. E, embora a primeira impressão tenha sido de algo muito diferente de toda a literatura gerencial, os leitores o abraçaram. OS NOVE ELEMENTOS Em seu livro, Osterwalder e o coau- tor Pigneur desdobram os clientes, a oferta, a infraestrutura e as finanças de um modelo de negócio em nove blocos construtores essenciais, dos segmentos de clientes à estrutura de custos [veja a figura que os esquema- tiza e explica na página 28]. O livro traz ainda padrões de mo- delos de negócio, tipos de usuários mais frequentes e ferramentas de de- sign que podem ser utilizadas com- plementarmente. Os padrões de mo- delos de negócio listados são cinco: negócios desagregados (uma organi- zação tem três, por exemplo, e um é ba- O WORKSHOP TÍPICO DA BMG TALVEZ SE TRANSFORME UM DIA NO MODELO DE REUNIÃO DO SÉCULO 21, PARA DISCUTI R MODELO DE NEGÓCIO, ESTRATÉGIA E PRODUTOS 31HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br seado em relacionamento com os clientes, outro em inovação em pro- duto e o terceiro em eficiência em custos), cauda longa (oferta de mais produtos de nicho e venda de quan- tidades menores), plataformas mul- tilaterais (facilitam a interaçãoentre diferentes grupos de consumidores), grátis (ofertas gratuitas são financia- das por outros clientes ou produtos –nesse caso, há o “isca e anzol”, em que o produto gratuito exige que se compre um complemento para ser usado) e modelos abertos (frutos de colaboração com parceiros externos e comunidades). Os personagens que devem ser en- volvidos no uso do canvas são o exe- cutivo sênior (focado em estabelecer um novo modelo de negócio em um setor maduro), o intraempreendedor (ajuda a explorar os últimos avanços tecnológicos em conjunto com o novo modelo de negócio), o empreendedor (identifica necessidades não satisfei- tas dos clientes e constrói modelos de negócio em volta delas), o investidor (investe nas companhias que tenham os modelos de negócio mais competi- tivos), o consultor (ajuda seus clientes a questionar o modelo de negócio exis- tente e pensar em alternativas), o de- signer (encontra o modelo de negócio adequado a um produto inovador) e o empreendedor consciente (gera mu- dança social positiva por meio da ino- vação em modelos de negócio). Entre as ferramentas complemen- tares aparecem insights dos clientes (usando um “mapa da empatia”), idea- ção (com perguntas do tipo “e se?”), pensamento visual (por imagens, ras- cunhos, diagramas e post-its), storytel- ling (narrativas para introduzir o novo, pensar o futuro, motivar e engajar pes- soas), prototipagem (em diferentes es- calas –no guardanapo, no canvas, com um case ou teste de campo) e cenários (descrevendo tipos diferentes de clien- tes ou panoramas futuros). REUNIÃO PÓS-MODERNA Há muitas maneiras de pôr o canvas em uso, segundo seu criador. “Eu su- giro sempre imprimir um em tama- nho grande, pendurá-lo na parede da sala e começar a completá-lo em conjunto com outras pessoas”, ensi- na. Se for o canvas de um modelo de negócio existente, conforme Oster- walder, prepare-se para a decepção: mesmo os mais experientes executi- vos da mais consolidada das empre- sas terão dúvidas no preenchimento. “Isso é compreensível, na verdade: em geral, cada pessoa é especialis- ta em determinado campo, e muito poucos têm a imagem completa do que a organização faz.” Osterwalder descreve uma reu- nião hipotética: “Você deseja lan- çar um produto no mercado. Chama para a sala de reuniões um grupo de seis pessoas, pendura quatro painéis vazios na parede para montar qua- tro modelos de negócio bem distin- tos para o produto: em um deles, é possível, por exemplo, imaginar um sistema sem custos fixos; em outro, simula-se que o produto seja grátis, como se fosse baixado na internet, e pensa-se como seria o modelo de ne- gócio final para haver renda; e assim por diante. Em quatro horas de work- shop, você terá um esboço de cada um para o mesmo produto”. O workshop típico da BMG talvez se transforme um dia no modelo de Indiscutivelmente, o canvas de Alex Osterwalder e Yves Pigneur reduz a complexidade da literatura gerencial sobre modelos de negócio, que é particularmente árida, e fun- ciona como uma excelente ferramenta para gerar nas empresas ideias novas e experi- mentação. Porém o gestor também deve ser capaz de criar seus próprios métodos de design ou adaptá-los das inúmeras ferramentas de design existentes, entre as quais o canvas. Elas esperam para ser apropriadas. Uma fonte de inspiração, por exemplo, é o livro Designing for Growth (ed. Columbia Uni- versity Press), de Jeanne Liedtka e Tim Ogilvie. Conheci Jeanne em um workshop de de- sign thinking na Darden School of Business e me encantei com sua modelagem de “quatro perguntas e dez ferramentas” que “costuram” três importantes perspectivas na resolução sistemática de problemas: humana (desejável), tecnológica (possível) e negócios (viável). Destaco ainda um recente trabalho do professor Vijay Kumai, do Illinois Institute of Technology, que compila 101 métodos ou ferramentas de design que podem constituir “auxílio luxuoso” ao processo empresarial de inovação –alguns já conhecidos, outros mais contemporâneos–, organizados em sete categorias: (1) Sense intent (construção de significado, compreensão da mudança, desenvolvi- mento e tendências). (2) Know context (contexto e circunstâncias). (3) Know people (compreender pessoas e stakeholders em suas interações cotidianas). (4) Frame insights (estruturar o aprendizado alcançado nas etapas anteriores). (5) Explore concepts (como um brainstorming para identificar oportunidades e explo- rar novos conceitos). (6) Frame solutions (construir as soluções desenvolvidas nas etapas anteriores). (7) Realize offerings (avaliação para a decisão de implementação). De alguns métodos o leitor nunca terá ouvido falar, e eu tive conhecimento só recen- temente, nos cem dias como convidado da University of Hong Kong. São “offering-acti- vity-culture map”, “eras map”, “POEMS, “asymmetric clustering matrix” etc. Por fim, busque refletir sobre as razões de a representação visual, o design e a inova- ção se (re)apresentarem com tanto vigor nos negócios. E crie sua ferramenta! APROPRIE-SE DA FERRAMENTA, POR RIVADÁVIA DRUMMOND O “canvas” do modelo de negócio INOVAÇÃOINOVACÃO 32 HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br reunião do século 21. “Pense em quan- tas reuniões improdutivas são feitas em sua empresa. Isso acontece por- que boa parte das reuniões visa discu- tir modelos de negócio, ou estratégia corporativa, ou novos produtos, e difi- cilmente consegue-se falar dessas coi- sas só na base da conversa”, explica o criador do canvas. É preciso visualizar –e cada coisa em seu lugar. A duração da sessão e o número de pessoas envolvidas variam, embora haja as premissas de fazer sessões con- centradas e incluir profissionais de ou- tras funções e olhares, para enriquecer o debate. Voltando aos exemplos da RBS, Diana Corrêa conta que, para o proje- to novo, foram feitos dois workshops de duas horas cada um e compareceram oito pessoas, da PUC e da RBS –seis já faziam parte do grupo de pesquisa, mas duas eram novas, o que proporcionou insights interessantes. Já para discutir o produto a relançar, houve uma reunião de três horas com três participantes, um deles novato no tema. Às vezes, o período de tempo investi- do é mais longo. O consultor Francisco Albuquerque conduziu um workshop de oito horas com o grupo Systemcred/ Backseg, de empresas de recuperação de crédito e outsourcing de seguros, durante as quais se trabalharam três canvas: o do negócio, o do setor finan- ceiro atual e o do futuro do segmento. Todo o time da alta gestão e área finan- ceira se envolveu, e parceiros inter- nos relevantes também foram convo- cados, segundo a executiva do grupo, Nilva Berzote. No caso do grupo SCR Tecnologia, por exemplo, houve várias sessões ao longo de nove meses. REMÉDIO DE PRATELEIRA O mundo empresarial é repleto de “re- médios de prateleira” para a gestão, que costumam tratar os sintomas, mas ig- norar as causas de uma doença. Como diz o professor e consultor Rivadávia Drummond, reitor do Centro Univer- sitário de Belo Horizonte (UNIBH), é comum especialistas prescreverem so- luções baseadas simploriamente em correlações do tipo “se um spin-off pos- Inspirado na SAP, que criou um sistema para gerenciar as operações de uma empre- sa, Alex Osterwalder vem trabalhando no “SAP da estratégia”. Esse é um dos projetos em que está envolvido atualmente o criador do canvas, conforme conta a seguir,em entrevista exclusiva a Adriana Salles Gomes. Osterwalder estará no Brasil no Fórum HSM Inovação e Competitividade 2013, em agosto, para “mexer com os executivos, que tendem a ancorar-se nos modelos de negócio existentes, porque se sentem mais confortáveis fazendo o mesmo de sempre”. Quão diferente seu canvas é do pensamento do design de uma Ideo,por exemplo, ou de ferramentas visuais afins? Se é diferente ou não, não importa, essa é uma discussão acadêmica. O que real- mente importa é se ele ajuda a comunidade de negócios a fazer um trabalho me- lhor. Você pode criar um conceito genial, mas, se os gestores não o adotarem em larga escala, provavelmente significará que ele não é suficientemente prático. Nossa equipe despende uma quantidade inacreditável de tempo e energia para fazer com que nossos conceitos sejam os mais simples e aplicáveis para os pro- fissionais das empresas. E funciona, o que é comprovado pela venda de 750 mil cópias de nosso livro. A simplicidade é o que explica o sucesso da ferramenta? Meu time e eu acreditamos que toda ferramenta de negócios contém uma interfa- ce com o usuário e lhe proporciona uma experiência, exatamente como acontece com um website. Se você acerta nesses dois aspectos, as pessoas estarão mais dispostas a usar sua ferramenta. É claro que o conceito também precisa ser rele- vante, mas isso não significa apenas ser estimulante intelectualmente. Há muitos conceitos intelectualmente sofisticados que não são suficientemente relevantes no dia a dia dos gestores. Meu time e eu acreditamos que juntar negócios, design, pensamento visual e diversão pode tornar nosso trabalho mais acessível e mais relevante para a vida das pessoas. Vocês criaram a BMG para quem não gosta de ler? Vocês gostam de ler? Basicamente tentamos criar coisas que nós compraríamos. Na época, não havia no mercado nenhum livro visual, prático e inspirador sobre modelos de negócio; então, criamos um. Sobre eu gostar de ler, digo que não fico mais feliz com um conteúdo que seja apenas texto. Sinto-me atraído pelo pensamento visual, porque ele me ajuda a entender as coisas mais facilmente, e, às vezes, textos me desco- nectam. Sobre o gosto dos outros pela leitura, só posso especular: talvez a internet já tenha nos acostumado inteiramente à linguagem multimídia. Tem algo que você faria diferente em seu livro? Talvez um livro separado sobre o ambiente em que se insere o modelo de negócio, que é o tema dos últimos dois capítulos do livro, sobre estratégia e processos. Não porque eu ache que o resultado seria melhor, mas porque chamaria mais a atenção. A maioria das pes- soas foca apenas o canvas do modelo de negócio, porém o contexto em que você desenha o modelo de negócio é tão importante quanto; não é possível desenhá-lo no vácuo. Quais são seus próximos passos? Estamos tentando fazer um software disso tudo, o SAP da estratégia –se consegui- remos isso, é outra história. Estamos construindo a Strategyzer.com, nossa startup de software. E sempre trabalhamos em duas ou três ideias de livro ao mesmo tempo. É difícil gerenciar as prioridades [risos]. 5 PERGUNTAS A OSTERWALDER 1 2 3 4 5 33HSM Management 99 • JULHO-AGOSTO 2013 hsmmanagement.com.br sibilitou sucesso em uma nova unida- de de negócios, se fizermos da mesma forma em todas, teremos sucesso em todas”. Segundo ele, também esque- cem com frequência que problemas organizacionais não respeitam barrei- ras funcionais ou disciplinares. “Um problema de marketing raramente é só um problema do marketing, mas sistê- mico”. Para Drummond, assim, não se acha a relação de causa e efeito. Esse caráter inadequado de remé- dio de prateleira vem sendo minimiza- do pela BMG, graças ao fato de o can- vas ser preenchido caso a caso e muitas vezes por um grupo multifuncional de pessoas, ultrapassando barreiras orga- nizacionais, o que faz com que o con- texto e a contingência mencionados por Drummond sejam mais levados em conta. Como diz Diana Corrêa, “o canvas é um ponto de partida, não um plano imutável. É um conjunto de hi- póteses que têm de ser testadas e que, certamente, sofrerão modificações”. No entanto, Drummond alerta que é preciso refletir acerca dos limites de sua utilização, que vem acontecendo no Brasil de modo indiscriminado. Segundo ele, é preciso que as empre- sas se façam perguntas: quando a fer- ramenta não se mostra adequada? Por quê? Trata-se de um instrumento efi- caz também para desenhar os proces- sos que darão suporte ao recém-cria- do modelo de negócio? Apresenta a amplitude necessária para o aprofun- damento da execução? É mesmo ra- zoável usá-la para se pensar a estraté- gia ou a concorrência? Para Tennyson Pinheiro, especialista em design de serviços da firma de con- sultoria live:work, o interessante do canvas é induzir o pensar coletivo, por ser uma maneira de cocriar um busi- ness plan. “Basicamente, Osterwalder organizou as áreas do bom e velho bu- siness plan em um painel para que as pessoas as visualizem e consigam pen- sar juntas a seu respeito”, afirma. “O problema acontece, no entan- to, quando os gestores começam a se apoiar demais na ferramenta, es- perando que a combinação post-it e quadrantes resulte em inovação por si só. Apoiar-se demais em ferramen- tas, aliás, é um velho hábito da cultu- ra corporativa e uma das causas de as organizações terem se debilitado cria- tivamente ao longo dos anos”, enfati- za Tennyson. Para ele, o ideal é os ino- vadores desenvolverem suas próprias ferramentas, mesmo que estas te- nham o canvas como ponto de partida. “FAÇA VOCÊ MESMO” Questionado sobre se há o risco de a BMG repetir o que foi a reengenharia na década de 1990, como remédio para todos os males, Alex Osterwalder não hesita: “É apenas uma das muitas fer- ramentas disponíveis para os gestores. É curioso como, no campo da estraté- gia e da inovação, tende-se a promover uma bala de prata para resolver todos os problemas”. Ele garante: “Eu e meu time não acreditamos nisso”. O especialista em inovação cita como prova dessa postura seu “can- vas das propostas de valor” e o “canvas de posicionamento de marca”, que ele criou como ferramentas “plugin” para ser adicionadas ao canvas do modelo de negócio com base nas necessida- des dos clientes. “A ideia é incentivar que novas ferramentas sejam acopla- das à BMG, seja pelos próprios usuá- rios, seja por fornecedores como nós. Somos como ferramenteiros; plane- jamos criar muitas ferramentas nos próximos anos.” Essa lição parece estar sendo ra- pidamente aprendida pelo mundo empresarial, brasileiro inclusive: no grupo RBS, por exemplo, a intenção é pôr em uso, nos próximos meses, três novos canvas, segundo Diana Corrêa: “canvas de hipóteses”, “canvas de tes- tes” e “lean canvas” –o último é dedi- cado ao empreendedorismo enxuto. PERIGO NA ESQUINA Hoje, que empresas precisariam de canvas com mais urgência? Para Os- terwalder, as de saúde, porque teriam entrado na fila das quebras de paradig- ma desde que surgiu o site 23andMe, que faz um mapa genético dos clien- tes em troca de uma amostra de saliva. “Um canvas talvez mostre que o im- portante não é mais o que faz o departa- mento de pesquisa e desenvolvimento da companhia, e sim o que ele faz com os dados do DNA das pessoas.” HSM Management O “canvas” do modelo de negócio “É CURIOSO COMO, NO CAMPO DA ESTRATÉGIA E DA INOVAÇÃO, TENDE-SE A PROMOVER UMA BALA DE PRATA PARA RESOLVER TODOS OS PROBLEMAS. EU E MEU TIME NÃO ACREDITAMOS NISSO”
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