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O desafio da conservação cap.23

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v
parte v
o desafio da conservação
dos recursos naturais
 na região
23.
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
Vânia Regina Pivello
Vânia Korman 
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
298
O cerrado é um dos biomas brasileiros que mais têm sofrido pressão para a ocupação de suas terras - 
especialmente com extensas monoculturas - em razão 
dos terrenos relativamente planos que ocupam e que 
facilitam a agricultura mecanizada. Graças ao desen-
volvimento tecnológico, os solos quimicamente pobres 
dos cerrados passaram a ser corrigidos por meio de in-
sumos agrícolas e os investimentos em mecanização 
acabam compensando sua baixa fertilidade. Ainda nos 
dias de hoje, o cerrado é visto como “celeiro do mundo” 
ou “área de expansão da fronteira agrícola”, recebendo 
estímulo oficial para sua substituição.
No estado de São Paulo, onde as pressões para 
o desmatamento e a ocupação das terras têm sido in-
tensas há mais de um século, os raros fragmentos de 
cerrado que ainda restam são alvos constantes do de-
sejo de agricultores, devido também à proximidade dos 
centros consumidores. Assim, muito pouco resta dos 
14% da área do Estado que era originalmente recoberta 
por diferentes fisionomias de cerrado - encontrando-se 
principalmente na região centro-norte, nas proximida-
des de Campinas, Ribeirão Preto, Franca e Altinópolis 
(Kronka et al., 1998; SMA, 1997), porém em alto grau 
de fragmentação, descaracterização de seus ambientes 
e empobrecimento da flora e fauna. Também poucas e 
pequenas são as unidades de conservação para prote-
ger o cerrado paulista, que também se encontram mal 
distribuídas, isoladas, sob constante pressão humana 
e, portanto, ineficientes em sua função de proteção da 
biodiversidade. 
Por serem os únicos restantes, entretanto, esses 
fragmentos de cerrado desempenham papel vital na 
preservação da biodiversidade. Os cerrados marginais, 
como os do estado de São Paulo, têm características 
peculiares que os diferem dos cerrados nucleares, tan-
to em termos de diversidade ambiental como genética, 
uma vez que mesclam componentes dos domínios mor-
foclimáticos vizinhos. Dessa forma, é grande a impor-
tância destes ecossistemas marginais na manutenção 
da variabilidade biológica e ambiental.
Face ao quadro de fragmentação, ocupação e 
descaracterização dos ecossistemas naturais - resul-
tando em grandes perdas de recursos - e também à 
recente disseminação do conhecimento acerca dos 
serviços essenciais que os ambientes naturais sadios 
desempenham, diversos segmentos da sociedade têm, 
nas últimas décadas e de forma crescente, pressiona-
do os governos e sistemas de produção a adotarem 
formas mais racionais de utilização dos recursos e a 
incluírem entre suas metas de desenvolvimento parâ-
metros sociais, ecológicos, culturais e estéticos, além 
dos econômicos. Sabe-se, hoje, que a preservação da 
biodiversidade, além de ser uma obrigação moral da 
Humanidade, é fundamental para garantir o suprimen-
to das necessidades humanas, tanto de matéria-prima, 
para os mais diversos fins, como para garantir melhor 
qualidade de vida às pessoas.
O estabelecimento de unidades de conservação 
- públicas ou privadas - tem sido uma das principais 
estratégias para a conservação da natureza e manu-
tenção da biodiversidade. A conservação in situ é re-
conhecidamente o método mais eficaz para se manter 
a complexa estrutura dos ecossistemas e a dinâmica 
das interações entre as espécies e, em conseqüência, a 
continuidade dos processos evolutivos que originam a 
biodiversidade (Santos Filho, 1995).
No entanto, apenas a criação de unidades de con-
servação não garante o patrimônio natural. Essas pe-
quenas “ilhas naturais” não conseguirão assegurar a 
manutenção dos processos ecológicos essenciais e da 
biodiversidade se não forem amenizadas as pressões 
em seus entornos e os problemas advindos de seu iso-
lamento. São, portanto, necessárias medidas de manejo 
nessas áreas, bem como em toda a paisagem onde estão 
inseridas. Intervenções nos ecossistemas protegidos são 
necessárias para direcionar seus processos e evitar ou 
remediar problemas que os levem à deterioração, espe-
cialmente em paisagens altamente fragmentadas.
Esse é, então, o grande desafio que se apresen-
ta: como garantir a conservação da biodiversidade em 
ecossistemas naturais remanescentes, inseridos em ma-
trizes antropizadas e altamente alteradas? A resposta a 
essa questão é complexa e, assim como requer tempo 
entender os processos vitais necessários à manutenção 
dos ecossistemas naturais e de toda a paisagem, neces-
sita-se de rapidez nas decisões e ações que assegurem 
a continuidade das poucas ilhas de biodiversidade que 
ainda restam.
299CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
A biodiversidade na 
Gleba Pé-de-Gigante
Capítulos anteriores deste livro mostram que a Gleba Cer-
rado Pé-de-Gigante se encaixa na situação aqui descrita: 
um fragmento nativo imerso em matriz de monocultu-
ras, tendo sido identificadas diversas práticas agrícolas 
inadequadas ao seu redor (vide Capítulos 2 e 21). 
Isoladamente, as dimensões da Gleba não são su-
ficientes para manter grande parte das espécies carac-
terísticas da região. Entretanto, a riqueza florística e 
faunística que apresenta é surpreendentemente grande 
(vide Partes II e IV), até mesmo inesperada para uma 
região tão próxima a grandes centros urbanos e tão 
utilizada por agricultura de alta tecnologia. Quase 500 
espécies vegetais foram identificadas na Gleba (vide 
Capítulo 6) e, entre os grupos animais, destacam-se 
os mamíferos, aves e insetos como bem representados 
(vide Capítulos 9, 10, 16 e 18). Espécies ameaçadas de 
extinção também são encontradas, especialmente ma-
míferos exigentes de grandes territórios e/ou que per-
tencem a níveis tróficos superiores. Em conseqüência, 
surge a seguinte dúvida: o que estaria mantendo essa 
biodiversidade? 
Embora, aparentemente, a situação da Gleba seja 
semelhante à de outros fragmentos nativos do Estado, 
uma análise mais atenta revela que a estrutura da pai-
sagem onde se encontra - ditada pela quantidade, tipos 
e tamanhos de fragmentos nativos, sua distribuição es-
pacial e os tipos de matrizes - confere ao Pé-de-Gigan-
te uma condição favorável em relação à maioria dos 
outros fragmentos de cerrado em São Paulo. Existem, 
próximos, diversos outros fragmentos de vegetação 
nativa - não somente cerrado, mas florestas e ambien-
tes úmidos-, alguns com tamanho superior a 3.000 ha 
(vide Capítulos 2 e 20), que atuam como área de vida 
para muitas espécies. Os fragmentos pequenos, por sua 
vez, têm sua importância como elementos de ligação 
entre outros fragmentos. A própria Gleba, ao agregar 
uma grande diversidade de fitofisionomias - e, portan-
to, de habitats diversificados - favorece a diversidade 
biológica. Ainda, comparativamente a outros tipos de 
culturas agrícolas, a matriz fornecida por silvicultura 
de eucaliptos apresenta-se, sob certos aspectos, como 
um fator benéfico: ao propiciar proteção eficiente con-
tra incêndios e caça, ao exigir freqüência relativamen-
te baixa na aplicação de biocidas e insumos agrícolas, 
ao fornecer maior proteção aos solos contra a erosão. 
Pelo menos para os mamíferos de maior porte, os reflo-
restamentos com eucaliptos mostraram-se permeáveis, 
facilitando sua locomoção entre fragmentos nativos. 
Dessa forma, essas características espaciais da região 
(discutidas em detalhe nos Capítulos 2 e 20) confirmam 
ainda haver uma boa qualidade ambiental na região, 
apontada pela biota. 
Por outro lado, as florestas de eucaliptos reve-
laram-se ambientes um tanto inóspitos à maioria dos 
pequenos mamíferos e aves (vide Capítulos 9 e 10). 
Também foram evidenciados grandes impactos nega-
tivos aos recursos naturais remanescentes em virtude 
de manejoagrícola inadequado, especialmente com 
relação às culturas de cana-de-açúcar da região (vide 
Capítulos 2 e 21). Problemas sérios de invasão bioló-
gica, especialmente por gramíneas africanas e abelhas 
européias, ameaçam a biodiversidade nativa (vide Ca-
pítulos 21 e 22). Sem dúvida, decisões e ações efetivas 
de manejo para a conservação dos preciosos recursos 
naturais da região do Cerrado Pé-de-Gigante são ne-
cessárias e urgentes.
Algumas sugestões para 
proteger a biodiversidade da 
Gleba Pé-de-Gigante e região
Os recursos naturais remanescentes só são passíveis de 
conservação se considerados na escala da paisagem. 
Uma unidade de conservação é um fragmento de vege-
tação natural, com sua fauna associada e suporte abió-
tico, mas que mantém trocas e fluxos com o ambiente 
circundante. Portanto, a proteção de seus recursos só é 
possível se for considerada não como unidade isolada, 
mas como entidade maior, incluindo os arredores com 
os quais interage e os processos peculiares de uso e 
ocupação do entorno.
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
300
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
(SNUC), instituído em 18 de julho de 2000, pela Lei 
Federal 9.985, reconhece a necessidade de se estabele-
cer uma zona de amortecimento ao redor das unidades 
de conservação, para a qual são definidas normas e 
limites de uso. As normas de uso para o entorno, bem 
como toda e qualquer ação de manejo numa unida-
de de conservação, devem estar previstas e embasadas 
em seu plano de manejo. Esse documento é o principal 
instrumento administrativo para o gerenciamento da 
unidade e do qual todas as unidades de conservação 
devem dispor. 
O plano de manejo implica em duas partes fun-
damentais: o zoneamento, no qual são designados os 
setores ou zonas mais apropriados para cada tipo de 
uso ou atividade no interior da unidade de conserva-
ção e na zona de amortecimento; e a segunda parte, 
voltada diretamente às ações de manejo, organizadas 
em programas e subprogramas, dentro de temas - uso 
público, conhecimento, integração com a área de influ-
ência, manejo do meio ambiente e operacionalização 
(IBAMA, 1996, 2002). Ambas as partes devem contem-
plar a unidade de conservação e seu entorno.
A seguir, serão apresentadas sugestões de ações 
para a conservação e o manejo ecológico da Gleba Cer-
rado Pé-de-Gigante que, apenas com finalidade didáti-
ca, foram separadas em sugestões voltadas ao fragmento 
em si e sugestões voltadas ao entorno. Cabe antes res-
saltar que o Cerrado Pé-de-Gigante ainda não possui 
um plano de manejo. Embora tenha sido elaborado um 
“plano conceitual de manejo” para o Parque Estadual 
de Vassununga (Bertoni et al., 1986), esse trabalho não 
considera a Gleba Pé-de-Gigante, mas apenas as outras 
cinco glebas cobertas por floresta semidecídua. Além 
disso, esse texto também não é adotado como plano de 
manejo para o Parque. 
Para a Gleba Pé-de-Gigante, uma proposta de 
zoneamento foi apresentada por Pivello et al. (1998), 
porém elaborada anteriormente ao estabelecimento do 
convênio para a gestão da área (discutida na Apresen-
tação deste livro), quando ainda não estava definida 
a categoria de unidade de conservação do Cerrado 
Pé-de-Gigante. Então, com base nas características de 
unidades de paisagem dentro da Gleba e nas suas fra-
gilidades face às alterações antropogênicas, foram deli-
mitadas quatro zonas de uso: “de preservação integral”, 
“de pesquisas intensivas”, “administrativa e de apoio 
logístico” e “em recuperação”.
Conclui-se, dessa forma, que o primeiro passo 
para garantir ações de manejo no Cerrado Pé-de-Gi-
gante é elaborar o plano de manejo do Parque, com 
destaque diferenciado às glebas florestais e de cerrado, 
em razão de suas características peculiares. As propos-
tas apresentadas a seguir pretendem contribuir ao plano 
de manejo a ser realizado na área e foram baseadas nos 
impactos ambientais negativos identificados na Gleba 
e em seu entorno, especialmente aqueles descritos no 
Capítulo 21. Também deve ser ressaltado que a elabora-
ção de um bom plano de manejo de nada vale se as me-
didas propostas não forem implantadas. Para implantar 
o plano de manejo, são necessários o envolvimento e 
a colaboração da comunidade - proprietários agrícolas, 
empresários, moradores, educadores, membros de coo-
perativas e associações - e de órgãos governamentais 
diversos, como prefeituras e órgãos públicos ligados ao 
planejamento e ao meio ambiente.
Propostas de conservação 
e manejo voltadas à 
Gleba Pé-de-Gigante
Lixo e restos de cultura
 
O descarte de embalagens de insumos agrícolas, es-
pecialmente nas bordas da Gleba, é um problema 
constante que pode ser facilmente resolvido pelo es-
clarecimentos dos moradores da vizinhança e o esta-
belecimento de acordos. Também seria por meio desse 
método o convencimento dos funcionários das empre-
sas reflorestadoras a não deixarem restos de alimentos 
para os animais, esclarecendo-lhes sobre os problemas 
advindos dessa prática.
301CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
Invasões biológicas 
Esse problema é sério na Gleba e de difícil solução. 
Afeta diretamente as populações de espécies nativas, 
por competição, ameaçando-as de extinção local e, em 
conseqüência, perda direta de biodiversidade. Há, na 
Gleba, forte invasão por gramíneas africanas - espe-
cialmente Melinis minutiflora e Brachiaria decumbens 
- e por abelhas européias (Apis mellifera).
O processo de invasão biológica por gramíneas 
africanas, especialmente Melinis minutiflora, foi bem 
detalhado no Capítulo 22. Estudando aspectos da bio-
logia dessa espécie e seus efeitos ecológicos, Freitas 
(1999; Capítulo 22) ressalta seu alto poder competitivo 
em relação às nativas. Prováveis efeitos competitivos 
entre Melinis minutiflora e Brachiaria decumbens e as 
herbáceas nativas, com perigo de exclusão destas, já 
foram verificados na Gleba Cerrado Pé-de-Gigante por 
Pivello et al. (1999). 
Os efeitos nocivos das gramíneas exóticas, porém, 
não se dão apenas por competição com plantas nati-
vas. A fauna também pode ser afetada, especialmente 
por substituição de espécies vegetais que lhes serviam 
como fonte de alimento ou por modificação de habi-
tat. Por exemplo, no Capítulo 9, os autores citam que 
a patativa-verdadeira (Sporophila plumbea), ave típica 
de beira de mata e vegetação ribeirinha e que ocorre no 
Pé-de-Gigante, alimenta-se de sementes de gramíneas, 
mas não das gramíneas invasoras, e não se adapta às 
áreas invadidas pelas gramíneas exóticas, encontran-
do-se, hoje, em perigo de extinção local.
Quanto aos métodos para o controle das gramí-
neas invasoras, estudos específicos e experimentos que 
apontem soluções estão apenas iniciando. Uma vez que 
essas espécies são de interesse econômico, os estudos 
disponíveis têm o objetivo oposto, ou seja, o aumento 
de sua produtividade em pastagens no cerrado. É, por-
tanto, urgente a necessidade de experimentação in loco 
e em laboratório para se testar técnicas de controle das 
forrageiras africanas.
Algumas possíveis técnicas são apresentadas a se-
guir, classificadas em mecânicas, químicas, biológicas 
e de arranjo espacial. Todas apresentam vantagens e 
desvantagens. Sua eficácia pode variar de local para 
local, dependendo das características da comunidade e 
do ambiente físico, porém quase nada ainda foi testado. 
Sem experimentos que elucidem a questão, as invasões 
vão progredindo rapidamente nos cerrados.
Entre as técnicas mecânicas, o arranquio, o corte 
raso, o sombreamento e a queima podem ser opções, 
embora adequadas para situações diferentes. O arran-
quio manual ou mecanizado tem a grande desvantagem 
de revolver o solo, o que, para várias dessas espécies, 
pode estimular aindamais sua disseminação, uma vez 
que se observa seu estabelecimento em áreas preferen-
cialmente perturbadas (Coutinho, 1982; Freitas, 1999). 
Entretanto, pode ser aplicado em focos pequenos e iso-
lados, tomando-se o cuidado de exercer perturbações 
mínimas.
A opção pelo corte raso tem por princípio a retira-
da de nutrientes por meio da biomassa epígea e o conse-
qüente enfraquecimento da planta. Devem ser testadas 
a melhor época e freqüência de aplicação. Imagina-se 
que o sombreamento também promova enfraqueci-
mento e morte das gramíneas invasoras, especialmente 
por terem metabolismo C
4
 (Klink & Joly, 1989; Mozeto 
et al., 1996). O grau de sombreamento, porém, deve ser 
testado e balanceado para que não afete severamente 
as espécies nativas.
O fogo pode ser outra alternativa para o controle 
de gramíneas exóticas. No caso de Melinis minutiflora, 
observou-se que queimadas periódicas, principalmente 
se conduzidas durante sua floração, reduzem seu vigor 
e favorecem as herbáceas nativas do cerrado (Pivello, 
1992). Essa estratégia de manejo da comunidade visa, 
portanto, aumentar a capacidade competitiva das nati-
vas em relação a essa invasora. No caso de Brachiaria 
decumbens, ao contrário, o fogo parece estimular seu 
crescimento. Essa espécie tem se mostrado extrema-
mente agressiva em fragmentos de cerrado do estado 
de São Paulo, formando grandes manchas monoespe-
cíficas onde se estabelece. Em casos assim, e cientes de 
todos os riscos ambientais possíveis numa unidade de 
conservação, acredita-se que o controle químico, por 
meio de herbicidas de baixo efeito residual, seja uma 
das pouquíssimas opções para o controle dessa inva-
sora (Pivello, 1992; Durigan et al., 1998). Certamente, 
todas as precauções devem ser tomadas para se evitar 
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
302
poluição do solo e corpos d´água ou envenenamento de 
animais. Também merecem ser testadas técnicas mistas, 
com a combinação de fogo e herbicida, ou fogo e corte.
Entre as técnicas biológicas, o tradicional contro-
le por meio de parasitas (bactérias, vírus inoculados) 
ou de insetos predadores não seria possível no caso das 
forrageiras africanas, uma vez que essas espécies são 
de grande importância para a pecuária e essa técni-
ca poderia causar consideráveis prejuízos econômicos. 
Entretanto, em situações onde a gramínea invasora se 
estabelece em grandes manchas monoespecíficas, es-
pecialmente nas bordas da unidade de conservação 
- como é o caso de Brachiaria decumbens na Gleba 
Pé-de-Gigante -,outra possibilidade é o uso de gado 
bovino em condição de superpastejo. Os animais de-
verão ser lavados e alimentados somente com ração, 
durante os dias que antecedem sua colocação na área, e 
confinados aos locais específicos de grande infestação 
da gramínea invasora.
As técnicas aqui denominadas “de arranjo es-
pacial” são principalmente preventivas, envolvendo 
a manipulação de elementos da paisagem. Incluem a 
instalação de “cortinas verdes” - de preferência com 
lenhosas nativas - ao redor de unidades de conserva-
ção para diminuir a chegada das sementes anemocó-
ricas das invasoras, bem como o planejamento de uso 
das terras no entorno, com o estabelecimento de zo-
nas-tampão, preferencialmente ocupadas por espécies 
arbóreas perenes e o distanciamento de pastagens im-
plantadas das unidades de conservação.
Cabe ressaltar que foi observado um grande au-
mento na dispersão de Melinis minutiflora dentro da 
Gleba a partir de 1995, durante os anos em que se vêm 
realizando as pesquisas no Cerrado Pé-de-Gigante. Os 
próprios pesquisadores podem carregar em suas roupas 
e calçados sementes dessa espécie. Medidas simples, 
entre as quais a utilização de perneiras e calçados de 
couro liso, ou a colocação de sacos plásticos sobre a 
perna, para dificultar a aderência de sementes, podem 
ser exigidas dos pesquisadores e visitantes, ao entrarem 
na área. Deve-se lembrar, ainda, que, somado às técni-
cas de controle das invasoras, deve ser feito um escla-
recimento detalhado às pessoas sobre os danos que a 
introdução de espécies exóticas podem causar. Também 
um maior planejamento quanto a essas introduções e 
legislação específica para seu transporte, introdução e 
contenção necessitam ser providenciados pelas esfe-
ras governamentais, assim como a fiscalização de seu 
cumprimento (vide Pivello et al., 1999). 
Quanto às invasões biológicas por animais, detec-
tadas na Gleba, o pior problema refere-se à abelha Apis 
mellifera. A fauna de abelhas nativas na área é muito rica 
e constitui o principal grupo de polinizadores do cerrado 
(vide Capítulo 18). A abelha européia introduzida, além de 
oferecer perigo às pessoas que trabalham no local, pro-
vavelmente compete com as espécies nativas. Embora 
as colméias introduzidas na Gleba tenham sido retira-
das, as Apis estabeleceram novos ninhos pelas árvores e 
no solo, e precisam ser retiradas dentro do possível. A 
retirada dos ninhos pode ser feita por meio de diversas 
caixas-isca, que devem ser espalhadas pela Gleba. 
Mata ciliar do córrego Paulicéia 
A mata ribeirinha que acompanha o córrego Paulicéia, 
no interior da Gleba, apresenta-se danificada, como 
apontado no Capítulo 6, com grande quantidade de in-
divíduos mortos e de lianas. Entretanto, as lianas tam-
bém têm funções importantes na dinâmica e no ciclo 
de regeneração da vegetação, oferecendo recursos ali-
mentares à fauna (Capítulo 7). Assim sendo, as lianas 
devem ser parcial e gradualmente retiradas, mas nunca 
eliminadas da comunidade.
A recuperação da vegetação ribeirinha também 
deve estar sendo dificultada pela grande densidade de 
gramíneas invasoras no local - as quais, por cobrirem 
densamente o solo, dificultam a germinação de sementes 
e o estabelecimento das plântulas - e talvez por dificul-
dades na chegada de propágulos, uma vez que poucas 
matas ribeirinhas ainda existem na região. O controle 
das invasoras deverá melhorar as condições para o es-
tabelecimento de espécies nativas. Junto com o controle 
de invasoras, recomenda-se o plantio de mudas de arbó-
reas nativas das matas ribeirinhas da região. 
Trilhas 
Há grande quantidade de trilhas dentro do Cerrado Pé-
de-Gigante, algumas bem antigas. É preciso disciplinar 
303CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
o uso dessas trilhas, verificando-se quais são neces-
sárias para o acesso ao interior da Gleba - seja para a 
realização de pesquisas científicas ou para segurança 
-, e quais deverão ser mantidas, e impedir o acesso às 
outras, a fim de que a vegetação possa regenerar-se. As 
trilhas a serem mantidas deverão ser periodicamente 
limpas de vegetação.
Propostas de conservação 
e manejo voltadas ao 
entorno e região 
Técnicas ou estratégias de conservação in-situ não 
serão suficientes para garantir a manutenção dos re-
cursos naturais do Cerrado Pé-de-Gigante e de suas 
funções ambientais se alterações nos usos das terras 
de seu entorno, somadas ao aumento ou à restauração 
de habitats naturais da região não forem analisadas e 
implantadas. Deve-se buscar, entre os diferentes seg-
mentos da sociedade, um ponto de equilíbrio em que 
prevaleça o uso das terras de forma sustentável, pro-
movendo o desenvolvimento socioecômico da região, 
mas, ao mesmo tempo, resgatando ou preservando a 
biodiversidade regional. 
Assim como no item anterior, as propostas de 
manejo e de alteração do uso das terras para o en-
torno da Gleba Cerrado Pé-de-Gigante têm o objetivo 
de relacionar sugestões nos âmbitos técnico, social e 
legal para proteger a biodiversidade da Gleba e a re-
gião. Ressalta-se aqui a necessidade de investimentos e 
pesquisas sobre os temas abordados.
Áreas de preservação permanente 
(APPs) dos mananciais 
As zonas ribeirinhas têm importância estratégica para 
a manutenção ou oincremento do fluxo gênico e a 
proteção dos recursos hídricos. Porém, mesmo prote-
gidas por legislação própria (Código Florestal e ou-
tras), encontram-se degradadas nas áreas ao redor do 
Pé-de-Gigante (vide Capítulo 21). Também as faixas de 
preservação permanente ao longo dos cursos d’água, 
apesar de estreitas, são consideradas corredores, com 
importantes funções ecológicas, como a proteção da 
qualidade da água, o provimento de habitat para a fau-
na e a facilitação do movimento de organismos entre 
unidades remanescentes de habitats nativos (Collinge, 
1998; Rodrigues & Leitão Filho 2000). Dessa forma, a 
recuperação da vegetação ribeirinha é procedimento 
prioritário para a conservação da diversidade biológica 
da região e de suas funções ambientais. 
Analisando-se a rede hidrográfica na região, per-
cebe-se que quase todas as glebas do PEV podem ser 
interligadas - entre si e a outros fragmentos - pelas 
áreas de preservação permanente dos corpos d’água 
(Fig.23.1), (vide Korman, 2003). No entanto, a maior 
parte dessas APPs não está regularizada, e são ocupa-
das com atividades agropecuárias ou com a vegetação 
ripária degradada, sendo necessária a sua recuperação 
(vide capítulo 21). Essa recuperação pode ser realizada 
por meio do reflorestamento com espécies arbóreas na-
tivas da região ou regeneração natural, em locais onde 
esse processo já esteja ocorrendo (algumas áreas aban-
donadas e com banco de sementes próximo).
Por estarem protegidas pela legislação ambien-
tal vigente, a recuperação das zonas ripárias cabe aos 
proprietários ou responsáveis pelas áreas agrícolas, 
mediante o reflorestamento com espécies nativas de 
ocorrência no ecossistema. Também lhes cabe a con-
servação e restauração das várzeas, pelo papel que 
exercem como habitat (área de nidificação e reprodu-
ção de muitas espécies da fauna), no controle de vazão 
no período das cheias e na manutenção da qualidade 
da água. É importante que a recuperação das matas 
ciliares e várzeas seja uma operação conjunta e que 
os proprietários ou responsáveis possam receber apoio 
técnico e logístico dos órgãos ambientais públicos e de 
institutições de pesquisa. 
Conservação do solo 
O carreamento de solo e sedimentos na área de estudo em 
direção aos corpos d’água, mananciais e remanescentes 
de vegetação nativa tem colaborado para sua degrada-
ção, aumentando o desenvolvimento de espécies invaso-
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
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Fig. 23.1 – Proposta de interligação das glebas do PEV, por meio da implementação das áre-
as de preservação permanente (APP) dos mananciais, estabelecidas na legislação ambiental.
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Conservação e Manejo
da Biodiversidade
ras. Esse processo de destruição decorre principalmente 
do descaso com a conservação do solo e/ou a aplicação 
de técnicas inadequadas, como o mau dimensionamento 
dos terraços e o plantio de culturas temporárias em solos 
suscetíveis à erosão ou em áreas com declive acentuado. 
Técnicas de conservação do solo devem ser emergencial-
mente implantadas, incluindo o redimensionamento 
dos terraços, plantio em curvas de nível e a implan-
tação de culturas adequadas à capacidade de uso das 
terras como, por exemplo, a substituição de culturas 
anuais por perenes ou sistemas agroflorestais.
Estradas e vias de acesso (“carreadores”) 
Outro fator que agrava os processos de erosão acele-
rada e causa impactos à fauna e à flora da região é 
o atual sistema viário. O mau dimensionamento e o 
planejamento do sistema de escoamento das águas plu-
viais, feito para escoar a enxurrada diretamente para as 
glebas do Parque e fragmentos florestais nativos, tem 
provocado a destruição de nascentes e o assoreamen-
to dos corpos d’água. Outros problemas decorrentes do 
sistema viário, apontados nos Capítulos 10 e 21, são os 
riscos de atropelamento de animais silvestres, incên-
dios, barulho e poluição. 
Alguns procedimentos técnicos emergenciais que 
podem reverter os principais impactos decorrentes do 
sistema viário atual são: (1) estabelecimento de limites 
rígidos de velocidade na rodovia Anhangüera e outras 
estradas de escoamento das safras agrícolas; (2) pla-
nejamento técnico de carreadores, para evitar erosão 
e assoreamento; (3) implantação de bacias de conten-
ção de enxurradas ao longo das estradas, evitando o 
direcionamento das águas pluviais para as glebas do 
Parque e outros fragmentos de vegetação nativa; e (4) 
implantação de dispositivos de proteção ao trânsito da 
fauna silvestre, como túneis e pontes, associados a re-
des ou grades de proteção.
Outra proposta, mais complexa, e do mesmo nível 
de importância, é a transformação da rodovia Anhan-
güera em “estrada-parque” no trecho próximo às Gle-
bas Capetinga Leste e Oeste. Apesar da complexidade 
e prováveis dificuldades advindas dessa ação, é impor-
tante que estudos sejam realizados e que se atribua uma 
condição “ideal” e adequada para a região - não ape-
nas para a conservação dos fragmentos nativos e a di-
minuição dos atropelamentos de animais, porém como 
mais um instrumento de conscientização ambiental e 
divulgação do PEV. 
Lixo 
A deposição de lixo e resíduos agrícolas nas bordas da 
Gleba Pé-de-Gigante é comum, como já comentado, e 
repete-se por toda a região, em beiras de estradas, de 
corpos d´água e dos fragmentos naturais remanescen-
tes. A educação da população, em geral, e um trabalho 
de conscientização dos funcionários das empresas e fa-
zendas, além da coleta regular de lixo doméstico e de 
lixo específico (resíduos de agroquímicos, por exemplo) 
são procedimentos necessários para solucionar ou ate-
nuar o problema.
Práticas agrícolas 
Diversas atividades de manejo agrícola ou tipos de uso 
das terras que colocam em risco a conservação dos re-
cursos naturais identificados na região, relatadas no 
Capítulo 21, precisam ser rapidamente alteradas. Por 
exemplo, o uso de fogo para a queima de talhões de 
cana e áreas de pastagens deve ser banido, por aumentar 
o risco de incêndios na vegetação nativa e nos próprios 
reflorestamentos. Recomenda-se a colheita mecânica 
em locais passíveis de mecanização e, em áreas onde 
a colheita mecânica não for possível, a alteração do 
atual uso das terras por culturas perenes, silvicultu-
ra ou outros projetos compatíveis com a conservação 
ambiental, como os projetos voltados ao turismo rural 
ou ecológico, embasados em estudo técnico e socioe-
conômico. Também em relação ao risco de incêndios, 
deve ser interrompida a técnica de empurrar restos de 
cultura e terra na direção dos fragmentos, formando 
um cordão compacto que dificulta eventuais operações 
de controle de incêndios e agrava os efeitos de borda.
Outra medida importante é a implantação de fai-
xas de proteção ao redor das áreas de cultivo agrícola, 
formada por espécies arbóreas nativas da região, rústi-
cas, e de rápido crescimento. Essa faixa de proteção e 
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
306
a manutenção de aceiros de dez metros sempre limpos, 
são procedimentos importantes para mitigar os efeitos 
de borda, aumentar a conectividade entre fragmentos e 
diminuir os riscos de ocorrência de incêndios.
Mais uma prática comum na região, que coloca 
em risco a preservação da biodiversidade dos ecossis-
temas, é a pulverização aérea de biocidas - ou mesmo 
a pulverização terrestre, próxima aos fragmentos flo-
restais -, promovendo riscos de contaminação da flora, 
fauna e dos recursos hídricos, além da perda de espé-
cies. Portanto, dispositivos legais devem ser aprovados 
para proibir a prática de pulverizações aéreas ao redor 
de unidades de conservação. Outras práticas agrícolasque melhorariam a estrutura da paisagem serão trata-
das a seguir. 
Estrutura da paisagem 
Os elementos estruturais de uma paisagem fragmenta-
da (matriz, unidades de habitat e elementos de ligação) 
podem ter importâncias diferentes para a conservação 
da biota e possibilitar graus variados de interação na 
comunidade. Em geral, é desejado um alto grau de 
conectividade entre os elementos, a fim de facilitar 
o movimento dos organismos, reduzindo a extinção 
de espécies e prevenindo a depressão endogâmica em 
fragmentos isolados (vide Capítulo 20). Alguns proce-
dimentos que possibilitariam uma maior conectividade 
na paisagem e diminuiriam o processo de degradação 
das glebas do Parque Estadual de Vassununga (PEV), 
além dos já descritos estão apresentados a seguir e, 
quando pertinente, apontados na figura 23.2, que cons-
titui uma proposta mais elaborada que a anteriormente 
apresentada (Fig. 23.1) para promover a melhoria das 
condições ambientais na região:
• proibição, por meios legais e por processos de 
conscientização ambiental , de quaisquer práticas que 
aumentem a fragmentação da paisagem, como desma-
tamentos, abertura de trilhas e estradas, aberturas de 
frentes de mineração, entre outras;
• desenvolvimento de políticas públicas que as-
segurem a preservação dos remanescentes de vegeta-
ção nativa existentes na região e o desenvolvimento de 
estratégias e incentivos para o aumento dessas áreas, 
como a criação de reservas legais individuais ou co-
letivas ou a criação de RPPNs - Reservas Particulares 
do Patrimônio Natural (proteção de áreas ambiental-
mente valiosas pela iniciativa privada). Algumas des-
sas reservas legais poderiam ser implantadas em áreas 
contíguas às glebas do PEV, ampliando suas áreas e 
promovendo sua interligação com outros fragmentos 
menores (Fig. 23.2); 
• promoção da interligação das glebas do PEV 
por meio de corredores que poderiam ser implanta-
dos mediante a restauração de áreas degradadas com 
o plantio de espécies nativas, propiciando também a 
proteção dos recursos hídricos (corredores ribeirinhos, 
por exemplo), o aumento da percentagem de habitat 
para a fauna silvestre - principalmente as que requerem 
amplas áreas de território -, proteção ao solo e outros 
benefícios associados a funções ambientais (Fig. 23.2);
• implantação de trampolins biológicos (pontos 
de ligação ou stepping stones) em meio às áreas agrí-
colas e reflorestamentos homogêneos, os quais podem 
exercer múltiplas funções ambientais na paisagem, 
como o aumento da conectividade, o provimento de 
recursos alimentares, abrigo etc. (Fig. 23.2). Como são 
pequenas áreas, sua implantação poderia ser negocia-
da com os proprietários, mediante, por exemplo, aba-
timento de impostos. Seria mais apropriado que esses 
trampolins biológicos fossem constituídos de espécies 
arbóreas florestais, formando pequenos capões de mata, 
uma vez que, segundo Silva & Bates (2002), as aves do 
cerrado mantêm forte dependência das florestas.
Diversas estratégias de manejo em áreas silvicul-
turais também podem contribuir muito no aumento da 
conectividade da paisagem. Os Capítulos 9 e 10 mos-
traram que as culturas de eucalipto têm servido como 
condutoras para a mastofauna de maior porte, mas, 
contrariamente, oferecem barreira à mastofauna de pe-
queno porte e a muitas espécies de aves. A manutenção 
de um sub-bosque nativo nos eucaliptais, pelo menos 
em parte dos talhões ou em faixas, poderá servir para o 
fornecimento de recursos alimentares para a fauna em 
geral e locais de nidificação para aves. Ainda, segundo 
Lima (1996), a manutenção de sub-bosque nos talhões 
de eucalipto ajuda a controlar pragas e facilita a cicla-
gem de nutrientes. De acordo com P. F. Develey (comu-
nicação pessoal), a criação de corredores de vegetação 
307CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
Fig. 23.2 – Proposta de interligação das glebas do PEV e melhoria nas condições ambientais da região.
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
308
nativa bem estratificada, com sub-bosque desenvolvido 
entre os talhões de eucalipto, também poderia ser uma 
medida eficiente para aumentar o número de espécies 
de aves capazes de se deslocar dentro dos talhões, utili-
zando esses corredores como pontos de alimentação ou 
até mesmo para reprodução. 
Por fim, nessas áreas de reflorestamento inten-
samente utilizadas pela mastofauna de maior porte, o 
corte da madeira deve ser feito em sistema de rotação 
de talhões, para manter diversos estádios sucessionais, 
propiciando, assim, maior diversidade de recursos à 
fauna. 
Fiscalização 
Atualmente, o PEV conta com apenas dois funcioná-
rios efetivos para a fiscalização das suas seis glebas e 
realizar outras tarefas relativas à manutenção. É fun-
damental que as autoridades públicas direcionem re-
cursos humanos e materiais, aumentando o quadro de 
funcionários técnicos e administrativos do Parque. 
Em relação aos órgãos de fiscalização e licen-
ciamento ambiental públicos, a escassez de recursos 
humanos, financeiros, técnicos e materiais também 
comprometem a segurança do Parque e dos ecossis-
temas nativos da região. Uma fiscalização ambiental 
melhor qualificada e com mais recursos humanos e 
materiais certamente poderá coibir os procedimentos 
inadequados verificados em campo, como o uso irregu-
lar das APPs, a caça, a má conservação do solo, entre 
outros (vide Capítulo 21). 
A eficiência da fiscalização deve ir além do ca-
ráter punitivo, considerando, também, a orientação e 
conscientização da comunidade. Para isso, o corpo téc-
nico de fiscalização deve receber treinamento quanto 
aos aspectos ambientais (importância dos ecossistemas 
a serem protegidos), às técnicas e estratégias eficientes 
de fiscalização, ao combate a incêndios ou acidentes 
ambientais. As equipes devem ser supridas de equi-
pamentos de suporte adequados, como equipamentos 
de comunicação (rádios), GPS, máquinas fotográficas 
e veículos tracionados (com disponibilidade de com-
bustível e assistência mecânica), para que possam, de 
fato, fiscalizar o cumprimento da legislação ambiental, 
e atuarem como agentes multiplicadores do conheci-
mento e da consciência sobre a importância da Gleba 
Pé-de-Gigante e demais glebas do PEV para a região.
Educação e conscientização ambiental 
Devem ser criados para a região programas de edu-
cação e conscientização ambiental que contemplem a 
integração com a comunidade do entorno (moradores, 
proprietários agrícolas, empresários, técnicos etc.), a 
realização de manejo ou administração participativa, 
cursos que despertem a consciência ambiental sobre a 
importância dos recursos naturais da região, cursos téc-
nicos sobre manejo sustentável dos recursos, e outros 
mais. Essa participação e conscientização da comuni-
dade do entorno, e determinados incentivos públicos 
- como premiação e/ou isenção de impostos para os 
empresários ou proprietários que utilizam os recursos 
naturais de forma sustentável - certamente poderão 
mitigar alguns dos impactos que ocorrem na área de 
estudo. 
Convênios 
Também é importante o estabelecimento de convênios 
de cooperação entre o PEV, os órgãos públicos de fisca-
lização e as instituições de pesquisa. Esse tipo de coo-
peração visa propiciar o intercâmbio de conhecimento 
e, dessa forma, otimiza os processos de fiscalização, 
licenciamento e conservação ambiental. 
Criação de APA 
Pelas peculiaridades da região em que se insere a Gleba 
Pé-de-Gigante - especialmente devido à estrutura da 
paisagem onde se encontra, conferindo-lhe uma boa 
qualidade ambiental -, relatadas no início deste capítu-
lo, essa região merece ser transformadaem APA -Área 
de Proteção Ambiental Estadual. Nessa categoria de 
unidade de conservação de uso sustentável, constitu-
ída por terras públicas ou privadas, são determinadas 
restrições ao uso das terras, a fim de compatibilizar 
as atividades produtivas com a conservação ambien-
tal, assegurando o uso sustentável dos recursos natu-
309CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
rais (SNUC, Lei Federal 9.985; SMA 2001). A criação de 
uma APA na região facilitaria, ou contribuiria sobre-
modo para a implantação de muitos dos procedimentos 
propostos neste capítulo.
As sugestões expostas, que se referem especifica-
mente à Gleba Pé-de-Gigante, ou ao seu entorno, de 
forma alguma esgotam as ações de manejo necessá-
rias à região. Elas se encontram aqui para contribuir 
com o futuro plano de manejo do Parque de Vassu-
nunga, que necessita ser elaborado com urgência. A 
realização de um plano de manejo é tarefa detalhada e 
minuciosa, que envolve equipe multidisciplinar e deve 
seguir os moldes previstos na Lei Federal 9.985 (SNUC) 
e em documentos técnicos específicos (IBAMA, 1996, 
2002). Sugere-se ainda que o plano de manejo do PEV 
(assim como outros planos de manejo) contenha es-
pecificações detalhadas quanto aos procedimentos das 
propostas apontadas, como, por exemplo, a indicação 
planialtimétrica dos corredores potenciais de interliga-
ção das glebas do Parque, fornecendo, assim, subsídios 
para o licenciamento ambiental e para o correto uso 
das terras.
A elaboração do plano de manejo e a implantação 
das medidas propostas já seriam uma grande conquis-
ta para a conservação dos recursos naturais da região. 
Entretanto, também é necessária a verificação periódi-
ca da adequação e efetividade das medidas de manejo 
implantadas, por meio de monitoramento ambiental.
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Conservação e Manejo 
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311CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo
da Biodiversidade
Autores das fotos de abertura dos capítulos
Cap. 1 – Vânia R. Pivello
Cap. 2 – Elenice M. Varanda
Cap. 3 – João Batista Baitello
Cap. 4 – Elenice M. Varanda
Cap. 5 – João Batista Baitello
Cap. 6 – Marco Antônio Batalha (Palicourea rigida)
Cap. 7 – Veridiana de Lara Weiser (Pyrostegia venusta)
Cap. 8 – Alex Luiz de Andrade Melo (Tabebuia ochracea)
Cap. 9 – Édson Endrigo (Ramphastos toco)
Cap. 10 – Maria Carolina Lyra Jorge (Cebus apella)
Cap. 11 – Alex L. A. Melo e Alexandre C. Ribeiro (Characidium gomesi)
Cap. 12 – Vânia R. Pivello
Cap. 13 – João Batista Baitello
Cap. 14 – Marcio R. Martins
Cap. 15 – Yumi Oki (larva de Lepidoptera sobre Banisteriopsis pubipetala)
Cap. 16 - Yumi Oki (Callicore sorana)
Cap. 17 - Elenice M. Varanda (galha sobre Caryocar brasiliense)
Cap. 18 - Sidnei Mateus (Centris scopipes sobre Banisteriopsis malifolia)
Cap. 19 - Maria Cristina Gaglianone (Apoica pallens)
Cap. 20 - Vânia Korman
Cap. 21 - Vânia Korman
Cap. 22 - Glauco Kimura de Freitas (Brachiaria decumbens)
Cap. 23 - Marco Antonio Batalha (Xylopia aromatica)
 
CAPÍTULO 23
Conservação e Manejo 
da Biodiversidade
312
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