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EA
D
6
Bizâncio: A Relação entre 
o Oriente e o Ocidente na 
Idade Média
1. OBJETIVOS
•	 Apresentar	as	características	do	Império	Bizantino	e	sua	
contribuição	para	a	História	do	Ocidente.
•	 Identificar	 as	 principais	 diferenças	 entre	 a	 perspectiva	
cristã	ocidental	e	a	oriental.	
•	 Conhecer	as	visões	que	o	Ocidente	construiu	a	respeito	
de	Bizâncio.
2. CONTEÚDOS
•	 A	formação	político-cultural	de	Bizâncio.
•	 Prestígio	e	rivalidade	entre	o	Ocidente	e	Bizâncio.
•	 A	luta	pelas	imagens	e	o	triunfo	da	ortodoxia	cristã.
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
158
3. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Lembre-se	 de	 que	 sugestões	 de	 leitura	 são	 sempre	
bem-vindas.	 Aproveite	 essa	 dica	 e	 aperfeiçoe	 seus	 co-
nhecimentos	acerca	do	Império	Bizantino.	Observe	que,	
mesmo	sendo	uma	decorrência	do	Império	Romano	do	
Ocidente,	 o	 Império	 Bizantino	 apresentou	 algumas	 di-
ferenças	essenciais	em	relação	ao	seu	contraponto	oci-
dental.	
2)	 A	historiografia	sobre	Bizâncio	conta	com	a	produção	de	
autores	 como	Michel	 Angold,	Michel	 Balard	 e	Warren	
Treadgold,	cujas	obras	são	encontradas	nas	Referências 
Bibliográficas.	 Preliminarmente,	 sugerimos	 a	 leitura	 a	
seguir	para	aprofundamento	do	tema:
BALARD,	M.	Bizâncio	visto	do	Ocidente.	In:	LE	GOFF,	J.;	
SCHIMITT,	 J.	 (Coord.).	Dicionário temático do Ocidente 
medieval.	São	Paulo.	Edusc:	Imprensa	Oficial	São	Paulo,	
2002,	p.	129	-137.	v.	1.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Chegamos	à	última	unidade	da	disciplina	História Medieval I.	
Até	aqui,	você	estudou	as	principais	características	da	formação	políti-
co-cultural	do	Ocidente	na	Antiguidade	Tardia	e	na	Alta	Idade	Média.	
Como	você	viu,	mesmo	com	a	instalação	dos	povos	germâni-
cos,	continuou	reinando	no	Ocidente	o	interesse	pela	restauração	
da	antiga	unidade	política	legada	pelo	Império	Romano.	A	estru-
turação	 do	 Império	 Carolíngio	 materializou	 esse	 interesse,	 mas	
ao	mesmo	tempo	deu	início	a	uma	relação	de	disputas	e	conflitos	
com	o	Império	do	Oriente,	que	se	considerava	o	único	herdeiro	da	
tradição	imperial	latina.	
Esse	relacionamento	entre	os	impérios	do	Oriente	e	do	Oci-
dente	foi	marcado,	de	um	lado	e	de	outro,	por	momentos	de	res-
159© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
peito	 e	 valorização,	mas	 também	por	momentos	 de	 indiferença	
e	desprezo.	Ao	longo	da	Alta	Idade	Média,	o	Império	do	Oriente	
deixou	de	ser	um	aliado	poderoso,	referência	ao	legado	greco-ro-
mano,	para	tornar-se	um	oponente	perigoso	que	ignorava	a	supe-
rioridade	latina	ocidental.	
Para	que	possamos	entender	os	motivos	que	desencadearam	
esse	processo,	precisamos	conhecer	um	pouco	mais	a	respeito	do	
Império	Bizantino,	ou	melhor,	do	 Império	Romano	do	Oriente,	e	
sua	dispersão	durante	a	Alta	 Idade	Média.	Utilizaremos	o	termo	
"Império	Bizantino"	para	nomear	a	porção	oriental	do	Império	Ro-
mano	que	se	manteve	durante	a	Idade	Média,	distinguindo-o	do	
Império	Romano	existente	na	Antiguidade.	Entretanto,	essa	por-
ção	territorial	era	tradicionalmente	conhecida	apenas	como	Impé-
rio	Romano	do	Oriente.	
Chegou	a	hora	de	acompanhar	mais	uma	volta	ao	passado!	
Vamos	lá?
5. A FORMAÇÃO POLÍTICO-CULTURAL DE BIZÂNCIO 
Bizâncio	era	o	nome	de	uma	antiga	polis grega,	que,	segun-
do	Angold	 (2002),	durante	muito	 tempo	não	 teve	grande	desta-
que	durante	a	Antiguidade.	Mas,	a	partir	de	330,	essa	cidade	re-
velou-se	fundamental	para	o	Império	Romano.	Naquele	ano,	por	
vontade	do	então	Imperador	Constantino,	ela	se	transformou	na	
nova	capital	do	Império,	sob	o	nome	de	Constantinopla	(cidade	de	
Constantino).	
Foi	a	partir	da	guinada	ao	Oriente,	promovida	pela	expansão	
do	Império	Romano,	que	Bizâncio	assumiu	a	condição	de	local	es-
tratégico	na	conciliação	entre	o	projeto	de	ampliação	e	o	projeto	
de	manutenção	da	centralidade	do	Império.	Em	razão	das	dificul-
dades	 latentes	para	garantir	essa	unidade	a	partir	de	Roma,	aos	
poucos	Bizâncio	tornou-se	uma	esperança	para	a	sobrevivência	do	
mundo	romano.
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
160
Essa	esperança	se	alimentava	da	boa	expectativa	em	relação	
a	sua	posição	geográfica	–	entre	os	mares	de	Mármara,	Negro	e	
Egeu	–,	que	a	colocava	como	um	entreposto	comercial	importante	
para	a	continuidade	das	trocas	entre	Ocidente	e	Oriente.	Além	dis-
so,	garantia	sua	proteção	com	as	barreiras	naturais	representadas	
pelos	mares	Negro	e	Mármara.	
Com	 a	 Dinastia	 Constantiniana,	 a	 antiga	 cidade	 grega	 ad-
quiriu	as	feições	de	uma	cidade	romana.	Constantino	I,	o	Grande,	
dotou-a	de	um	Senado	e	ministérios	cívicos,	além	de	fortalecer	o	
componente	cristão	de	sua	cultura	com	o	início	da	construção	da	
Igreja	dos	Santos	Apóstolos.	
O	filho	de	Constantino,	Constâncio	I,	herdeiro	das	províncias	
orientais	do	Império,	após	a	vitória	nas	guerras	civis	contra	seus	
irmãos,	 confirmou	Constantinopla	 como	a	 capital	 imperial	 (toda	
vez	que	fazermos	referência	à	cidade	de	Constantinopla,	estamos	
falando	de	Bizâncio).	Ampliou	seu	Senado	(tornou-o	equiparável	
ao	de	Roma),	finalizou	as	obras	da	Igreja	dos	Santos	Apóstolos	e	
construiu	a	Catedral	Santa	Sofia.	
No	entanto,	foi	somente	com	Justiniano	I	(527-565)	que	se	
estabeleceu	a	 supremacia	de	Constantinopla.	Esse	 imperador	 ti-
nha	claras	intenções	a	respeito	da	restauração	do	Império	Romano	
na	porção	ocidental.	Dentre	suas	principais	ações	a	caminho	dessa	
restauração,	destacamos	a	expansão	a	oeste,	em	direção	a	Roma,	
a	proposta	de	unificação	da	Igreja,	a	reorganização	legislativa	e	o	
desenvolvimento	estrutural	de	Constantinopla.	
As	conquistas	territoriais	foram	significativas	se	comparadas	
às	de	seus	antecessores,	mas	não	conseguiram	ultrapassar	as	regi-
ões	mediterrâneas.	
De	Cartago	(533),	passou	pela	Sicília,	pelo	sul	da	Itália,	até	
chegar	a	Ravena.	Os	exércitos	de	Justiniano	combateram	os	vân-
dalos	(534)	e	os	ostrogodos	(536/540/553	e	554),	com	o	propósito	
de	fazer	renascer	(renovatio)	o	Império	Romano	Cristão,	dessa	vez	
tendo	como	centro	a	cidade	de	Constantinopla.	Para	compreender	
a	rota	destas	conquistas	observe	a	Figura	1.
161© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
Figura	1	Mapa da evolução do Império Bizantino sob o governo de Justiniano I.
De	acordo	com	Angold	(2002,	p.	32),	"o	senso	de	romanida-
de	de	Justiniano	era	produto	de	uma	nova	Roma",	cujos	impulsos	
ideológicos	estavam	mais	próximos	de	uma	realeza	cristã	do	que	
da	nostalgia	de	uma	organização	senatorial	antiga	ou	augusta.	
Na	base	dessa	nova	ideologia	estava	a	ação	imperial,	com-
prometida	com	a	disseminação	do	cristianismo.	Essa	disseminação	
se	tornou	tão	 intensa	que	alguns	relatos	enfatizam	a	vida	quase	
monacal	de	 Justiniano:	 "bebia	pouca	coisa	além	de	água,	 comia	
com	parcimônia	e	se	satisfazia	com	o	mínimo	de	sono"	(ANGOLD,	
2002,	p.	33).
Foi	por	 levantar	o	estandarte	do	cristianismo	que	 Justinia-
no	 se	dedicou	à	 instauração	da	unidade	eclesiástica,	 inexistente	
desde	484	em	virtude	do	estado	de	cisma	provocado	pelo	édito 
imperial de Zenão I.	
Esse	édito,	conhecido	como	henotikon, apesar	de	não	anular	
os	cânones	promulgados	no	concílio	geral	de	Calcedônia	de	451	
(cujas	 formulações	 giravam	em	 torno	 do	 debate	 sobre	 como	 se	
relacionavam	as	naturezas	humana	e	divina	de	Cristo),	insistia	que	
os	elementos	divinos	e	humanos	de	Cristo	se	fundiam	em	uma	só	
natureza.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
162
Em	Calcedônia,	os	partidários	da	solução	monofisista	 (Ale-
xandria),	 que	 admitia	 em	Cristo	 a	 fusão	 das	 duas	 naturezas	 em	
uma	só,	foram	vencidos	pela	posição	(Roma	e	Antióquia)	que	reco-
nhecia	a	distinção	entre	a	humanidade	de	Cristo	e	sua	divindade.
Nabusca	pela	paz	da	Igreja,	Justiniano	reabriu	o	diálogo	en-
tre	monofisistas	e	a	Igreja	romana,	por	meio	da	convocação	de	ou-
tro	Concílio	Geral	em	Constantinopla	(553).	No	Concílio,	de	acordo	
com	Angold	 (2002,	p.	 33),	 Justiniano	 "coagiu	o	papa	a	aceitar	a	
fórmula	de	que	Cristo	poderia	ser	homem	perfeito	e	Deus	perfeito,	
distintos,	mas	inseparáveis".	
Esse	fato	acabou	por	fortalecer	a	visão	monofisista	na	região	
e	singularizar	ainda	mais	esse	império	frente	à	memória	do	antigo	
Império	Romano.	
Para	boa	parte	da	historiografia	sobre	Bizâncio,	a	principal	
realização	de	Justiniano	foi	a	codificação	da	Lei	Romana.	O	Corpus 
Iuris Civilis Romani (Corpo	de	Direito	Civil	Romano)	 ficou	pronto	
por	volta	de	529	e	foi	complementado	pelo	Digesto e	pelas	Insti-
tutas	em 533.	
O	Digesto	era	um	livro	de	jurisprudência	que	continha	a	có-
pia	de	fragmentos	de	jurisconsultos	clássicos	e	pequenas	interpo-
lações	de	seus	compiladores.	As	Institutas	eram	um	manual	de	Di-
reito,	destinado	ao	ensino.	Angold	(2002,	p.	34)	afirma:
Embora	apresentada	como	um	retorno	às	raízes	da	lei	romana	clás-
sica,	a	obra	de	Justiniano	remodelou	a	lei,	para	que	fundamentasse	
uma	monarquia	cristã.	Ele	próprio	redigiu	a	maior	parte	da	legisla-
ção	relacionada	com	a	Igreja	e	a	religião.	
Por	mais	que	Justiniano	tenha	se	empenhado	em	estabele-
cer	uma	unidade	e	em	preservar	a	herança	do	antigo	Império,	suas	
ações	levaram	a	um	distanciamento	cada	vez	maior	entre	Oriente	
e	Ocidente.	
Como	vimos,	a	obra	de	 Justiniano	à	 frente	do	 Império	Ro-
mano	do	Oriente	 garantiu	 a	 preservação	da	memória	 do	 antigo	
Império	Romano	no	que	se	refere	à	expansão	militar	e	legislativa.	
163© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
Seu	governo	permitiu	que	Constantinopla	(a	antiga	Bizâncio)	man-
tivesse,	mesmo	que	sobre	outras	bases,	a	vinculação	com	o	legado	
clássico.	
Além	disso,	suas	realizações	fixaram	um	conceito	de	poder	
segundo	o	qual	a	autoridade	 imperial	era	um	“reflexo	da	ordem	
divina”.	O	imperador	passa	a	ser	considerado	a	encarnação	da	lei	
e	da	ordem.	
Os	efeitos	da	obra	de	Justiniano	foram	sentidos	muito	além	
do	espaço	político	dominado	por	Bizâncio.	As	regiões	mediterrâ-
neas	foram	as	primeiras	a	materializarem	referências	à	cultura	bi-
zantina,	especialmente	referências	artísticas	–	com	destaque	para	
a	arquitetura.	
Contudo,	à	época	de	Justiniano	a	cultura	bizantina	ainda	não	
estava	completamente	configurada.	Ao	longo	do	século	7º,	as	fron-
teiras	bizantinas	sofriam	pressão	persa	(sassânida)	e	islâmica	(omí-
ada).	A	dinastia	sassânida	foi	uma	linhagem	real	que	governou	a	
Pérsia	entre	224	e	651	d.C.	Extinguiu-se	quando	o	último	xá	sas-
sânida,	Yezdegerd	III,	perdeu	uma	luta	de	quatorze	anos	contra	o	
Califado,	o	primeiro	dos	impérios	islâmicos.	
Já	em	relação	aos	omíadas,	Angold	(2002,	p.	60)	afirma:	"Os	
omíadas	 eram	uma	 família	 de	Meca	 que,	 após	 a	 conquista	 islâ-
mica,	passaram	a	dominar	a	Síria,	onde	fizeram	de	Damasco	sua	
capital".	
Além	dos	conflitos	nas	fronteiras,	as	conquistas	de	polos	signi-
ficativos	dentro	do	Império	(Damasco,	Cartago	e	Jerusalém)	marca-
ram	profundamente	o	delineamento	da	cultura	dessa	região.	
Certamente,	a	cultura	bizantina	exerceu	muita	influência	so-
bre	a	nascente	cultura	islâmica.	Porém,	a	necessidade	de	gerar	sua	
identidade	fez	com	que	o	Islã	construísse	seu	próprio	vocabulário	
religioso,	a	fim	de	manifestar	sua	superioridade	em	relação	àquela	
tradição	mais	antiga.	Vejamos,	a	seguir,	o	mapa	da	expansão	Islâ-
mica	(Figura	2).
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
164
Figura	2	Mapa da expansão Islâmica entre o século VII e VIII.
Como	afirma	o	historiador	André	Grabar	(1984),	várias	 ini-
ciativas	foram	adotadas	pelos	representantes	islâmicos	para	criar	
um	sistema	de	ícones	especificamente	muçulmano.	Entre	as	prin-
cipais	iniciativas,	destacamos:	
•	 o	emprego	do	Árabe	como	linguagem	administrativa	nos	
territórios	bizantinos	que	haviam	sido	conquistados;	
•	 a	cunhagem	de	moedas	com	textos	básicos	do	Corão	e	a	
condenação	do	uso	de	imagens	de	mártires	e	santos	nas	
moedas;	
•	 o	desenvolvimento	de	uma	arquitetura	que,	como	ocorria	
no	cristianismo,	materializasse	os	fundamentos	religiosos	
do	Islã.	
Esses	elementos	passaram	a	exercer	 forte	 influência	 sobre	
os	territórios	conquistados.	Mesmo	sem	destituir	a	autoridade	im-
perial	em	Bizâncio,	eles	conseguiram	afetar	uma	prática	corrente	
no	cristianismo	oriental:	o	culto	às	imagens.	
Segundo	Angold	(2002),	o	desenvolvimento	do	iconoclasmo	
(condenação	do	culto	às	 imagens)	em	território	bizantino	pode-
165© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
ria	 ser	uma	reação	à	crítica	muçulmana	 feita	pelo	califa	Omar	 II	
ao	então	imperador	Leão	III.	Apesar	de	o	imperador	inicialmente	
rejeitá-la,	acabou	compactuando	com	ela:	em	730,	baixou	um	de-
creto	imperial	contra	as	imagens.
O	que	seria	isso?	Um	sinal	da	influência	político-cultural	do	
Islã?	É	o	que	veremos	a	seguir.	
6. A LUTA PELAS IMAGENS: O DISTANCIAMENTO EN-
TRE BIZÂNCIO E O OCIDENTE
A	historiografia,	quando	trata	da	questão	do	iconoclasmo	bi-
zantino,	reconhece-o	como	prática	recorrente	a	partir	do	governo	
de	 Leão	 III	 (717-741).	Mas	o	debate	em	 torno	das	origens	 e	do	
caráter	dessa	iconoclastia	ainda	não	cessou.	
O	próprio	historiador	Michel	Angold	(2002,	p.	69)	 faz	refe-
rência	 ao	paradoxo	presente	na	política	 imperial	 de	 Leão	 III,	 le-
vantando	a	hipótese	de	que	"nem	sequer	é	certo	que	o	Imperador	
se	considerasse	um	iconoclasta,	embora	seus	adversários,	sem	a	
menor	dúvida,	assim	o	faziam".	
Diante	 dessa	 afirmação,	 você	 deve	 ter	 ficado	 em	 dúvida:	
como	foi	possível	que	Leão	adotasse	uma	prática	de	combate	às	
imagens,	 nada	 corrente	 entre	 seus	 antecessores,	 se	 ele	mesmo	
não	se	considerava	iconoclasta?
Há	algumas	hipóteses	que	 justificam	sua	ação.	A	primeira,	
defendida	pelo	próprio	Angold	(2002,	p.	70),	afirma	que	os	bizan-
tinos	 eram	 sensíveis	 às	 críticas	muçulmanas	 e	 que	 "por	 trás	 do	
iconoclasmo,	 via-se	 um	 reconhecimento	 do	 esmagador	 sucesso	
islâmico".	
Outra	hipótese,	um	pouco	mais	reconhecida,	afirma	que	um	
dos	motivos	para	Leão	III	(e,	mais	tarde,	Constantino	V)	impulsionar	
a	iconoclastia	foi	a	busca	pelo	fortalecimento	da	autoridade	mo-
ral	que	sustentava	a	Igreja	e	os	monges	no	Oriente	(TREADGOLD,	
2001).	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
166
Como	um	herdeiro	da	tradição	do	Império	universal	de	Jus-
tiniano	 I,	 Leão	 III	 tinha	um	alto	 conceito	do	cargo	 imperial	e	de	
suas	atribuições.	Colocando-se	como	sacerdote	e	 imperador,	ele	
acreditava	que	lhe	cabia	a	função	de	deliberar	não	apenas	sobre	os	
assuntos	terrenos,	mas	também	sobre	as	questões	“divinas”.	
Frente	a	isso,	era	legítimo	interferir	nas	deliberações	do	pa-
triarca	por	meio	de	concílios	imperiais,	principalmente	quando	ha-
via	questões	que	influíam	diretamente	na	ordem	interna	e	na	po-
lítica	externa	do	Império.	“Patriarca"	era	a	denominação	dada	ao	
servidor	da	Igreja	responsável	por	cada	região	do	Império.	Como	
relatou	 o	 patriarca	Germano	 I,	 havia	 uma	 considerável	 agitação	
contra	imagens	de	santos	por	parte	daqueles	que	estavam	na	fren-
te	de	batalha	 contra	os	 árabes.	Os	próprios	 soldados	bizantinos	
atacavam	as	imagens,	demonstrando	sua	insatisfação	com	aqueles	
ícones	que	haviam	deixado	de	protegê-los	das	 investidas	bélicas	
muçulmanas.	
De	certa	forma,	as	vitórias	muçulmanas	no	território	da	Ásia	
Menor	despertavam	entre	os	bizantinos	algumas	dúvidas:	qual	era	
a	vontade	de	Deus,	e	quais	eram	os	motivos	que	O	levaram	a	que-
rer	puni-los.	O	culto	às	imagens	passou	a	ser	encarado	por	alguns	
como	uma	idolatria	que	deveria	ser	combatida,	por	ser	considera-
da	uma	prática	herege.
Entretanto,	para	a	maioria	dos	cristãosbizantinos,	os	ícones	
(imagens	e	símbolos	cristãos)	eram	meios	úteis	para	chegar	a	Cris-
to	e	os	santos	eram	intermediários	reais	e	presentes.	
Parece	provável	que,	embora	sofresse	uma	pressão	islâmica	
sobre	a	forma	de	encarar	o	culto	cristão,	o	que	de	fato	influiu	nas	
escolhas	políticas	de	Leão	III	foi	o	interesse	de	fazer	valer	a	ideia	
de	um	império	universal,	sustentado	pela	figura	imperial	e	por	sua	
ligação	com	Deus.	
Essa	política	 imperial	 teve	 sérias	 consequências	 para	 a	 re-
lação	entre	o	papado	e	o	patriarcado	bizantino.	A	principal	delas	
foi	 a	divisão	da	 Igreja	em	duas:	uma	 Igreja	no	Ocidente	e	outra	
no	Oriente.	Mesmo	retomando	sua	unidade	disciplinar	e	litúrgica	
167© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
tempos	depois	(século	9º),	as	duas	frações	tenderiam	ao	estabele-
cimento	de	caminhos	doutrinais	distintos,	que	as	levariam	à	rup-
tura	definitiva	em	1054.	
O	comprometimento	das	boas	relações	entre	Roma	e	Bizân-
cio	 começou	 com	a	 imposição	 de	 taxas	 e	 impostos	 a	 territórios	
papais	do	sul	da	Itália	por	parte	do	imperador	Leão	III	e	agravou-se	
muito	após	o	decreto	"iconoclasta"	de	730.	
Como	a	oposição	em	solo	bizantino	e	romano	foi	imediata,	
Leão	III,	para	afirmar	sua	superioridade,	mandou	perseguir	bispos	
e	patriarcas	que	se	colocassem	contrários	a	suas	disposições.	Além	
disso,	em	represália	ao	papado	revoltado,	mandou	confiscar	todos	
os	bens	pontificais	situados	na	Sicilia	e	na	Calábria,	territórios	que	
naquela	época	estavam	sob	domínio	bizantino.	
Até	 aquele	 momento,	 a	 presença	 de	 imagens	 e	 ícones	 do	
cristianismo	era	comum,	tanto	em	território	romano-latino	quanto	
em	terreno	grego-bizantino.	Como	você	pode	observar	na	Figura	3,	
quadros,	imagens,	relíquias	e	símbolos	ocupavam	um	lugar	legítimo	
no	culto	cristão,	sendo	recursos	úteis	para	a	evangelização.	
Figura	 3	 Ícone de Cristo de 
Sta. Catarina Sinai. Fim do 
século VI.
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
168
Isso	 fez	com	que	houvesse,	dentro	do	 Império,	 forte	oposi-
ção	do	próprio	clero	(monges	e	bispos)	e	do	próprio	povo	na	ação	
de	destruição	desse	acervo	simbólico	empreendida	pelo	imperador	
bizantino.	A	maioria	dos	eclesiásticos	bizantinos	contrários	à	icono-
clastia	refugiou-se	em	Roma	ou	em	episcopados	ligados	a	ela.	
Esse	decreto	de	Leão	III	ofendeu	profundamente	a	religiosida-
de	romana.	Além	de	questionar	a	tradição	corrente	de	culto	aos	íco-
nes,	recusava	a	autoridade	do	Papa	Gregório,	o	Grande,	que	validou	
o	uso	da	arte	religiosa	como	meio	educativo	para	analfabetos.	
Em	duas	de	suas	cartas	ao	Bispo	Sereno	de	Marselha,	escri-
tas	respectivamente	em	599	e	600,	Gregório	afirmava:	"os	quadros	
são	exibidos	em	igrejas	por	esse	motivo,	para	que	os	analfabetos	
possam	 ler	 vendo	nas	 paredes	 o	 que	 não	 sabem	 ler	 nos	 livros"	
(ANGOLD,	2002,	p.	90).	
Para	seus	sucessores	romanos	e	bizantinos,	as	cartas	do	Papa	
Gregório	ajudaram	a	fundamentar	toda	uma	tradição	de	culto	aos	
ícones,	que	não	poderia	ser	simplesmente	descartada,	como	que-
riam	Leão	III	e	seu	sucessor	Constantino	V	(imperador	bizantino	de	
741	a	775).	
Diante	 disso,	 a	 reação	 do	 papado	 romano	 à	 controvérsia	
iconoclasta	 começou	 com	 uma	 condenação	 oficial	 às	 inovações	
propostas	pelo	imperador	bizantino	no	sínodo	de	731.	Buscaram	
também	 apoio	 de	 forças	 laicas,	 especificamente	 as	 francas,	 no	
combate	às	blasfêmias	dos	imperadores	bizantinos.	O	resultado	da	
disputa	culminou	no	projeto	romano	de	restauração	do	império,	
encabeçado	por	Carlos	Magno.	
Como	você	deve	ter	percebido,	a	busca	pela	supremacia	im-
perial	em	Bizâncio	determinou	um	distanciamento	entre	as	duas	
partes	–	oriental	e	ocidental	–	que	representavam	a	antiga	unidade	
cultural	do	Império	Romano.	Da	antiga	unidade,	restara	a	ambas	o	
legado	cristão.	A	partir	de	agora,	você	irá	acompanhar	as	principais	
imagens	de	Bizâncio	veiculadas	no	Ocidente	cristão	durante	a	Alta	
Idade	Média.	
169© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
7. O PRESTÍGIO E A RIVALIDADE ENTRE O OCIDENTE 
E BIZÂNCIO 
Ao	longo	da	leitura	desta	unidade,	você	deve	ter	percebido	
que	as	relações	entre	Bizâncio	e	o	Ocidente	passaram	por	momen-
tos	 de	 tensão,	 especificamente	 em	 relação	 aos	debates	 sobre	 a	
ortodoxia	cristã.	Chamamos	de	ortodoxia	cristã	os	grupos	ou	ver-
tentes	que	seguiram	os	preceitos	cristãos	sancionados	no	Primeiro	
Concílio	de	Niceia	de	325.	
No	entanto,	apesar	dessa	tensão	presente,	a	história	das	re-
lações	entre	Bizâncio	e	o	Ocidente	é	marcada	por	momentos	de	in-
tercâmbio	e	respeito,	que	culminaram	na	divulgação	de	uma	fama	
prestigiosa	por	parte	de	Bizâncio.	Mas	até	quando	isso	durou?	E	
por	que	essa	conformidade	não	se	manteve?
Em	sua	condição	de	homens	cultos,	os	bizantinos	não	ignora-
vam	seu	pertencimento	à	“romanidade”.	Reprodutores	da	mentali-
dade	romano-centrista,	eles	se	reconheciam	como	os	herdeiros	do	
Império	Romano.	Durante	algum	tempo,	precisamente	até	o	início	
do	século	8º,	os	ocidentais	também	partilharam	essa	perspectiva	
com	os	bizantinos.	Era	tão	grande	o	prestígio	de	Bizâncio	que,	em	
476,	o	rei	ostrogodo	Odoacro	lhe	restituiu	as	insígnias	imperiais.
O	respeito	a	Bizâncio	era	tão	grande	que	em	nenhum	mo-
mento	da	estruturação	dos	reinados	germânicos	no	Ocidente	se	
questionou	a	dignidade	única	do	soberano	bizantino.	Por	isso,	na	
Gália,	na	Espanha	e	na	Itália	os	chefes	germânicos	comemoravam	
o	recebimento	das	insígnias	consulares	pelo	Imperador	do	Orien-
te.	Este	foi	o	caso	da	dinastia	franca,	que	de	Clóvis	a	Dagoberto	se	
relacionou	pacificamente	com	Bizâncio,	chegando	a	prestar	servi-
ços	ao	Império	Bizantino.	
Foi	desfrutando	dessa	legitimidade	imperial	em	solo	Ociden-
tal	 que	 Justiniano	 invadiu	partes	do	 território	ostrogodo	e,	pos-
teriormente,	lombardo,	dominando	as	cidades	e	territórios	entre	
Ravena	e	Roma.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
170
Mesmo	o	papado	e	os	bispos	ocidentais	reconheciam	a	"po-
sição	eminente	de	um	imperador	que	preside	os	concílios	ecumê-
nicos	 e	 transforma	 seus	 cânones	 em	 leis	 do	 Império"	 (BALARD,	
2002,	p.	130),	como	fez	Justiniano	II	(imperador	bizantino	que	go-
vernou	entre	685	e	695	e	entre	705	e	711).	Entretanto,	como	afir-
ma	Balard	(2002,	p.	131):
[...]	a	 idéia	de	uma	romanidade	cristã	englobando	Oriente	e	Oci-
dente	e	unida	sob	a	autoridade	do	soberano	de	Constantinopla	não	
resistiu	ao	choque	das	invasões	–	muçulmanas	no	Oriente	e	carolín-
gias	na	Itália	–,	às	evoluções	culturais	divergentes,	aos	sobressaltos	
das	heresias	orientais	em	face	das	quais	o	papa	apareceu	como	o	
mais	 importante	da	ortodoxia	do	Concílio	de	Nicéia.	Na	primeira	
metade	do	século	7º,	Bizâncio	deixa	de	ser	para	o	Ocidente	um	po-
der	tutelar.	
Essa	mudança	de	perspectiva	veio	alimentada	sobretudo	por	
fatores	político-culturais.	Em	termos	culturais,	a	disputa	iconoclas-
ta	veio	coroar	o	caráter	divergente	que	já	marcava	a	interpretação	
cristã	bizantina.	Desde	os	debates	em	torno	do	monofisismo,	ver-
tente	que	defendia	a	fusão	das	duas	naturezas	(divina	e	humana)	
de	Cristo,	as	disputas	em	torno	da	ortodoxia	cristã	estavam	laten-
tes.	Apenas	precisavam	de	um	motivo	para	eclodir.	
Esse	motivo	veio	com	o	Édito	 Imperial	de	Leão	 III	em	730.	
Apesar	de	Bizâncio	viver	depois	alguns	momentos	de	condenação	
à	 iconoclastia,	a	reaproximação	com	o	Ocidente	foi	ficando	cada	
vez	mais	difícil.	
A	emergência	do	estranhamento	político	estava	relacionada	
à	distinção	cultural	operada	pelos	caminhos	divergentes	seguidos	
pelo	Ocidente	e	por	Bizâncio.	Ao	mesmo	 tempo,	esse	estranha-
mento	veio	alimentar	e	corroborar	a	distinção	cultural.	
Segundo	Balard	(2002),	o	acontecimento	decisivo	para	o	iní-
cio	das	disputas	entre	eles	 foi	 a	 intervenção	 carolíngia	na	 Itália.	
Pepino,	o	Breve,	acolhendoo	pedido	de	socorro	do	Papa	Estevão	
II,	expulsou	os	lombardos	do	entorno	de	Roma	e	confirmou	a	su-
premacia	papal	naquele	território.
171© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
Nesse	 contexto,	 surgiu	 em	Roma	a	 célebre	 falsificação	 co-
nhecida	 como	 "Doação	de	Constantino",	 como	 vimos	na	Unida-
de	4.	Para	rememorar	o	tema	tratado	por	este	documento,	preste	
atenção	às	palavras	de	Balard	(2002,	p.	131):
[...]	no	momento	em	que	partiu	para	fundar	Constantinopla,	Cons-
tantino	teria	transferido	ao	papa	Silvestre	todo	o	poder	sobre	Roma	
e	a	 Itália.	A	 idéia	essencial	do	documento	é	excluir	os	bizantinos	
da	península	e	estabelecer	os	direitos	do	papa	à	sua	sucessão,	fa-
zendo	do	pontífice	o	receptor	das	insígnias	imperiais,	praticamente	
identificando-o	com	o	imperador.	
Mas	não	pense	que	o	desprezo	do	Ocidente	por	Bizâncio	ter-
minou	ali.	Na	realidade,	com	a	coroação	imperial	de	Carlos	Magno,	
as	disputas	políticas	pela	herança	imperial	só	haviam	começado.	
Encarada	 como	 um	 ato	 de	 rebeldia,	 essa	 coroação,	 no	 entanto,	
obedeceu	a	algumas	convenções,	tais	como	o	fato	de	Carlos	Mag-
no	não	se	intitular	 Imperator Romanorum	 (imperador	dos	roma-
nos),	como	o	imperador	bizantino,	que	seguia	a	tradição	romana.	
Porém,	o	cuidado	de	Carlos	Magno	não	se	refletiu	nas	ações	
de	seus	sucessores,	que	negaram	ao	imperador	bizantino	o	título	
de	imperador	dos	Romanos,	localizando	na	Igreja-mãe	de	Roma	a	
fonte	do	poder	imperial.	
As	rivalidades	só	se	acentuaram	no	decorrer	da	Baixa	Idade	
Média,	a	ponto	de	Constantinopla	se	tornar	foco	de	uma	cruzada	no	
século	12.	Mas	esses	temas	nós	abordaremos	com	mais	cuidado	na	
disciplina	História Medieval II	–	a	Baixa	Idade	Média.	
8. TEXTO COMPLEMENTAR
A	temática	da	separação	entre	Ocidente	e	Oriente	propor-
ciona	algumas	reflexões	a	respeito	do	que	entendemos	por	cultura	
e	por	elementos	culturais	particulares.	Leia	atentamente	os	frag-
mentos	a	seguir	e	procure	elaborar	um	texto	com	suas	próprias	
impressões	 acerca	do	que	 foi	 exposto.	 Lembre-se	 sempre	de	 se	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
172
despojar	de	opiniões	pré-concebidas.	Permita-se	refletir	com	base	
no	que	está	explanado,	no	que	aprendeu	no	decorrer	da	disciplina	
e	nas	leituras	efetuadas	durante	sua	formação.	
Oriente e Ocidente: Demarcação ––––––––––––––––––––––––
Mário B. Sproviero 
(Prof. Assoc. DLO-FFLCH -USP)
Partindo da bipartição entre Oriente e Ocidente que remonta à Pré-história, 
quando da separação dos povos, línguas e religiões – fenômeno unitário – é ne-
cessário demarcá-los para ter clareza quanto a sua abrangência. Não podemos 
estudar o Oriente, sem saber o que o distingue do Ocidente e sem considerar a 
existência dos vários Orientes.
Conforme o autor René Guénon (1886-1951), crítico do Ocidente moderno, po-
de-se perfeitamente falar de uma mentalidade oriental oposta em seu conjunto 
à mentalidade ocidental mas não se pode falar de uma civilização oriental como 
se fala de uma civilização ocidental e já que há várias civilizações orientais niti-
damente distintas. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observe	que	o	autor	discorre	sobre	a	diversidade	cultural	no	
interior	de	uma	mesma	cultura.	Embora	o	texto	enfatize	a	plurali-
dade	cultural	oriental,	devemos	igualmente	nos	questionar	sobre	
a	existência	de	uma	“monocultura”	ocidental.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O ponto de partida para caracterizar o Oriente e o Ocidente é geográfico, no 
entanto tais conceitos geográficos revelam profundo conteúdo cultural. Nesse 
sentido, e em primeira instância, podemos dizer que o Ocidente é fundamen-
talmente a Europa, o Oriente é fundamentalmente a Ásia... Diz-nos o famoso 
historiador italiano do século passado, Cesare Cantù (1804-1895), que a Ásia é 
o berço do gênero humano e da civilização, sendo não só a parte mais extensa 
do mundo como também a mais favorecida pela natureza. As primeiras grandes 
civilizações nasceram no chamado Crescente Fértil, região que vai desde o Egito 
até a Mesopotâmia. Nesse caso o Egito, apesar de ser África, tem sua história 
muito mais entremeada com a dos povos da Ásia do que com os da África, como 
a Etiópia, inimigo irredutível da ordem egípcia.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A	partir	do	que	foi	exposto,	seria	possível	aceitar	sem	ques-
tionamentos	a	explicação	geográfica	para	a	separação	Ocidente	x	
Oriente?	Quando	falamos	em	elementos	culturais,	é	plausível	afir-
marmos	que	estes	não	se	entrecruzam?
173© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol nascente’, de orior, orire, ‘surgir, 
tornar-se visível’, palavra da qual nos vem também ‘origem’. A palavra ocidente 
nos vem do latim occidens, ‘o sol poente’, de occ-cidere, de op, ‘embaixo etc’, e 
cadere, ‘cair’. Seríamos induzidos a seguinte analogia: da mesma maneira que 
o sol nasce no Oriente e morre no Ocidente, assim também a cultura nasce no 
Oriente e morre no Ocidente. Os termos Europa e Ásia são mais incertos quanto 
a suas raízes primitivas. A palavra Europa é provavelmente de origem semita, do 
acádico erebu, ‘entrar, por-se’ (dito do sol), ereb chamshai, ‘por do sol’. Nessa 
hipótese, Europa que dizer exatamente Ocidente. A palavra ásia, também viria do 
acádico asu, ‘ir-se, surgir’ (dito do sol), significa, então, exatamente o mesmo que 
Oriente. Com isso, Ásia e Europa, Oriente e Ocidente, são sinônimos. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É	interessante	como	o	estudo	da	Filologia	pode	nos	ajudar	
na	compreensão	da	História.	Conhecendo	as	origens	e	as	os	dife-
rentes	usos	dados	às	palavras,	aprofundamos	nossas	impressões	e	
modificamos	o	rumo	de	nossas	pesquisas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Quando se procura caracterizar o que seja uma grande cultura, não se pensa em 
primeiro lugar num critério valorativo. Uma grande cultura não é necessariamen-
te uma cultura superior. É, porém, certamente uma cultura que quer expandir-se, 
que quer totalizar seu espaço geo-político. 
Ora, na Europa surgiu um grande sistema cultural que culminou no que chama-
mos de cultura ocidental. O que caracteriza a cultura ocidental é ser esta a sínte-
se de três culturas: a grega, a romana e a judaica. A esta cultura assimilaram-se e 
a dinamizaram os povos germânicos. Então, nem a cultura grega, nem a romana 
e nem a judaica, separadamente, constituem a cultura ocidental. Nesse processo 
de integração entre essas três culturas, destaca-se, para complicar as coisas, um 
bloco oriental, o greco-bizantino, em que a componente romana teve um papel 
secundário, e que assimilou os povos eslavos. O Império Romano do Oriente e 
o posterior Império Bizantino são por assim dizer o Oriente ocidental, o “Oriente 
Europeu”, mas não o que chamamos propriamente de Oriente. Poderíamos dizer 
que suas duas capitais históricas, Roma e Constantinopla, hoje estão represen-
tadas por Washington e Moscou. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
“Oriente	Ocidental”	–	“Oriente	Europeu”.	Esse	raciocínio	já	
lhe	ocorreu?	É	importante	que	façamos	essa	reflexão.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Paralelamente, na Ásia, em que encontramos uma incrível pluralidade de lín-
guas e culturas, surgiram, depois de um longo desenvolvimento histórico, três 
grandes sistemas culturais – e não um – que foram denominados por sua rela-
ção de proximidade com a Europa de: 1. Próximo-Oriente, 2. Oriente-Médio e 
3. Extremo-Oriente, e que constituem o que hoje se denomina especificamente 
de Oriente. O Próximo-Oriente é constituído pela cultura árabe. Nem sempre foi 
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
174
assim. Tivemos, no passado, inúmerasculturas nesse mesmo espaço: a cultura 
suméria, a egípcia, a assiro-babilônica, a persa, a judaica, a grego-romana, a 
greco-bizantina etc. Hoje temos a volta dos judeus à Palestina, rompendo a anti-
go equilíbrio. Temos que assinalar que hoje confunde-se o Próximo-Oriente com 
o Oriente-Médio, principalmente no Brasil (SPROVIERO, 2011).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Essa	tripla	divisão	está	clara?	Se,	nos	estudos	históricos,	afir-
mamos	 que	 as	 culturas	 estabelecem	 relações	 complexas,	 como	
podemos	aceitar	a	divisão	dos	“Orientes”	sem	antes	nos	questio-
narmos	sobre	o	que	é	particular	de	uma	dada	cultura	e	o	que	é	
compartilhado	entre	várias?
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Em	que	momento	e	por	qual	motivo	Bizâncio	se	tornou	importante	para	o	
Império?
2)	 “Foi	por	levantar	o	estandarte	do	cristianismo	que	Justiniano	se	dedicou	à	
instauração	da	unidade	eclesiástica,	 inexistente	desde	484	em	virtude	do	
estado	de	 cisma	provocado	pelo	édito	 imperial	 de	 Zenão	 I.	 [...]	Na	busca	
pela	paz	da	Igreja,	Justiniano	reabriu	o	diálogo	entre	monofisistas	e	a	Igreja	
romana,	por	meio	da	convocação	de	outro	Concílio	Geral	em	Constantinopla	
(553)”.	A	autora	nos	apresenta	o	grupo	dos	“monofisistas”.	Pesquise	sobre	
eles,	aprofundando	seus	conhecimentos	sobre	as	questões	cristológicas,	e	
responda:	qual	foi	a	importância	dessa	questão	na	relação	entre	Oriente	e	
Ocidente	na	Alta	Idade	Média?	
3)	 Qual	foi	o	papel	da	questão	iconoclasta	para	a	separação	entre	Ocidente	e	
Oriente?	Justifique	sua	resposta.
4)	 A	relação	entre	o	Ocidente	e	o	Oriente	sempre	foi	de	rivalidade?	Elabore	um	
quadro	sobre	o	assunto	e	visualize	os	diferentes	momentos	dessa	relação.
5)	 Explique	o	que	foi	“a	doação	de	Constantino”.	Quem	tinha	interesse	na	legi-
timação	dessa	doação?
175© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
10. CONSIDERAÇÕES 
Bizâncio	teve	importância	capital	no	quadro	histórico	da	Alta	
Idade	Média.	Manteve	viva	a	lembrança	da	estrutura	imperial	ro-
mana	e	da	cultura	grega,	evidenciando	uma	transculturação	inevi-
tável	em	momentos	de	constituição	de	novas	identidades.
Entretanto,	 sua	 imagem	positiva	 foi	 sendo	paulatinamente	
substituída	por	uma	imagem	de	rivalidade,	à	medida	que	os	refe-
renciais	culturais	e	políticos	do	Ocidente	e	do	Oriente	Cristão	se	
distanciavam.	Ideologias	contrárias	sempre	geram	rupturas	brus-
cas	e	dificultam	uma	possível	reaproximação.
Apesar	de	ambas	as	partes	reclamarem	o	pertencimento	a	
uma	mesma	herança	greco-romana,	ao	longo	da	Alta	Idade	Média	
erigiram-se	duas	sociedades	distintas	e,	ao	mesmo	tempo,	com-
plementares.	Cabe	aos	estudiosos	medievalistas	se	debruçar	sobre	
as	fontes	para	analisar	com	o	devido	cuidado	esse	sentimento	de	
pertencimento	a	uma	mesma	cultura	concomitante	ao	sentimento	
de	pertencerem	a	universos	culturais	distintos.
Vamos,	enfim,	chegando	ao	final	do	estudo	de	nossa	disci-
plina.	Ao	 longo	de	nossos	trabalhos	em	História Medieval I,	que	
contemplaram	o	período	conhecido	como	Alta	Idade	Média,	você	
deparou-se	com	 inúmeros	 temas	 importantes	para	a	construção	
de	seu	conhecimento,	que	possibilitaram	uma	visão	mais	positiva	
sobre	a	Idade	Média.	
Na	 tentativa	 de	 desmistificar	 esse	 momento	 histórico	 tão	
rico	em	termos	de	conceitos,	hábitos	e	costumes,	procuramos	en-
fatizar	nos	debates	e	nos	documentos	selecionados	aquilo	que	tor-
nou	a	Alta	Idade	Média	um	período	singular	e	fundamental	para	a	
formação	da	cultura	ocidental.
Com	 esse	 propósito,	 iniciamos	 nossos	 estudos	 justamente	
apresentando	a	construção	histórica	do	medium tempus	e	os	vá-
rios	preconceitos	que	subsistem	entre	nós	a	respeito	desse	perío-
do.	
© História Medieval I
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
176
Seguimos	com	uma	abordagem	sobre	as	características	da	
época	conhecida	como	Antiguidade	Tardia,	que,	de	acordo	com	os	
autores	citados	na	Unidade	2,	foi	importante	na	gestação	da	ideia	
de	ortodoxia	cristã. 
Passamos	pelo	debate	de	temas	clássicos	como	a	"queda	do	
Império	Romano”,	as	“invasões	bárbaras”	e	o	“Império	Carolíngio”,	
preocupados	sempre	em	renovar	antigas	ideias	que	poderiam	nos	
distanciar	ainda	mais	do	homem	daquele	período.
Além	disso,	trouxemos	à	tona	a	experiência	artístico-cultural	
da	Alta	Idade	Média,	especificamente	aquilo	que	se	convencionou	
chamar	de	"Renascimento	Carolíngio”.
Por	fim,	apresentamos	um	pouco	da	história	oriental	da	Ida-
de	Média,	analisando	a	formação	do	Império	Romano	do	Oriente,	
também	conhecido	como	Império	Bizantino.	
Foram	vários	temas,	muitas	referências	historiográficas	e	di-
versos	documentos	que	trataram	a	Idade	Média	como	uma	cons-
trução	historiográfica	erigida	a	partir	de	muitas	leituras	e	críticas.	
Por	 isso,	 é	 importante	 salientar	 que,	 em	 sua	 condição	 de	
construção	 historiográfica,	 o	 estudo	 da	 Idade	Média	 serviu	 aos	
mais	diversos	fins	políticos	e	sociais.	Esperamos	ao	menos	ter	aju-
dado	você	a	identificar	os	usos	e	os	“abusos”	sofridos	pelos	concei-
tos	concernentes	ao	período	medieval.	
Desprovidos	desses	preconceitos,	talvez	consigamos	desfru-
tar	do	encanto	da	Idade	Média	sem	nos	perdermos	em	seu	fascí-
nio!
11. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras 
Figura 1 Mapa da evolução do Império Bizantino sob o governo de Justiniano I.	Disponível	
em:	 <http://www.igm.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/figuras_inhumas/imp._
bizantino.jpg>.	Acesso	em:	20	fev.	2008.
177© Bizâncio: A Relação entre o Oriente e o Ocidente na Idade Média
Figura 2 Mapa da expansão Islâmica entre o século VII e VIII.	Disponível	em:	<http://
www.ecunico.com.br/eisohomem/daniel/bizantino_islamico.jpg	 >.	 Acesso	 em:	 20	 fev.	
2008.
Figura 3 Ícone de Cristo de Sta. Catarina Sinai.	Fim	do	século	VI.	Disponível	em:	<http://
www.starnews2001.com.br/bizantino/sinaichrist.jpg>.	Acesso	em:	23	fev.	2008.
Sites pesquisados
SPROVIERO,	 M.	 B.	 Oriente e Ocidente:	 demarcação.	 Disponível	 em:	 <http://www.
hottopos.com/mirand4/orientee.htm>.	Acesso	em:	25	de	maio	2010.
TURSI,	É.	De Alexandre Magno à invasão árabe.	Disponível	em:	<http://educacao.uol.
com.br/historia/persia-e-imperio-helenistico-de-alexandre-magno-a-invasao-arabe.
jhtm>.	Acesso	em:	22	fev.	2011.	
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGOLD,	M.	 B.	A ponte da Antiguidade para a Idade Média.	 Rio	 de	 Janeiro:	 Imago,	
2002.
BALARD,	M.	Bizâncio	visto	do	Ocidente.	 In:	LE	GOFF,	J.;	SCHIMITT,	J.	(Coord.).	Dicionário 
temático do Ocidente medieval.	São	Paulo.	Edusc:	Imprensa	Oficial	São	Paulo,	2002,	v.	1.
_______;	DUCELLIER,	 A.	 Bizâncio	 e	 o	Ocidente.	 In:	 LE	GOFF,	 J.;	 SCHIMITT,	 J.	 (Coord.).	
Dicionário temático do Ocidente medieval.	São	Paulo.	Edusc:	Imprensa	Oficial	São	Paulo,	
2002,	v.	1.
GRABAR,	A.	L’iconoclasme byzantin:	Le	dossier	archéologique.	Paris:	Flammarion,	1984.
TREADGOLD,	W.	T.	Breve história de Bizâncio. Barcelona:	Paidos,	2001.
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