Buscar

( Psicologia) Dicionario De Psicologia Adolescente

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 607 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 607 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 607 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA ADOLESCENTE
PSICOLOGia MODERNA
DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA ADOLESCENTE
AOS LEITORES
Para se informar sobre determinado assunto, utilize esta obra como se fosse um dicionário tradicional.
Todos os assuntos, quer se trate de pequenas definições (por ex. PERSONALIDADE, pág. 363), quer de estudos desenvolvidos (por ex. O RACIOCINIO, pág. 396), são classificados alfabeticamente. Para encontrar o assunto pretendido basta, como em qual- quer outro dicionário, folhear o livro, reparando nas três letras impressas no canto superior direito de cada página ímpar, que correspondem às três primeiras letras de termos definidos nessa página.
	Mas, ao ler nesta obra certos termos, ser-lhe-á necessário consultar outras páginas do livro em que esses termos são citados: definidos, desenvolvidos ou comentados. A estrutura da obra permite-lhe encontrar directamente as informações pretendidas, sem ter de consultar um índice final.
1. Os termos antecedidos de seta são desenvolvidos no dicionário.
2. A cada título de assuntos do dicionário segue-se um índice complementar. Fecha esta obra com dois vocabulários: francês-inglês-português e inglês-francês-português.
As notas à margem explicam noções e palavras e dão referências bibliográficas.
�
A cada título de assuntos do dicionário segue-se um Indice complementar
�
Colaboraram nesta obra:
Aimée Fillioud Diplomada pelo Instituto de Psicologia da
Universidade de Paris, para «Os tempos livres» e «A escolha da profissão». Maurice Gaudet Director da École communautaire,
membro da Comissão Nacional de Ensino da U.N.A.F., para «A socialização». çoise Gauquelin Diplomada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de Paris, para «O raciocínio».
acqueline Hubert
Honoré Ouillon
Lydie Péchadre e Yvette Roudy
Licenciada em Psicologia, para «A afectividade». Médico conselheiro técnico da Academia de Lyon, secretá rio-geral da União Internacional de Higiene e de Medicina Escolares e Universitárias, para «A fisiologia da adolescência» e «O desenvolvimento da sexualidade».
Psicóloga do Trabalho, Redactora-chefe de Femme du XXe siècle, para a «Mesa-redonda».
O dicionário foi redigido por André Giordanengo.
�
SUMARIO DOS ARTIGOS
1 Da criança ao adulto:
A fisiologia da adolescência 204-259 pelo doutor Honoré Ouillon
2 As transformações profundas:
O desenvolvimento da sexualidade 438-491 pelo doutor Honoré Ouillon
3 A aprendizagem da vida social:
A socialização 492-528 por Maurice Gaudet
4 A vida sensível:
A afectividade 18-58 por Jacqueline Hubert
5 A afirmação da inteligência:
O raciocínio 396-416 por Françoise Gauquelin
6 A determinação do futuro:
A escolha da profissão 374-382 por Aimée Fillioud
7 Para as horas de liberdade:
Os tempos livres 540-557 por Aimée Fillicud
8 Conversas com os adolescentes:
Mesa-redonda 320-336 por Lydie Péchadre e Yvette Roudy
e 300 termos classificados por ordem alfabética constituem este dicionário de psicologia prática consagrado à adolescência.
�
obra foi publicada em França por
3ibliothèque du Centre d'Étude l@ Promotion de Ia Lecture o título original L'Adolescence. concebida por François Richaudeau úizada sob a direcção @,an Feller tidos por Yvette Pesez
.10 portuguesa de niano Cascais Franco
-tz-C.E.P.L., Paris, R.BO - Lisboa/São Paulo, 19 81 -d. - 1344
“@,4C se imprimir
Guerra[Viseu
1,111981
�
ABORRECIMENTO (Ennui/Boredom)
O aborrecimento é um sentimento que muitos adolescentes conhecem. Não são poucos os que só tiveram consciência da sua passagem à/adolescência por causa do aborrecimento. Isto deve-se ao facto de os/jogos da infância já não proporcionarem prazer algum e serem pouco a pouco abandonados, sem que quaisquer outros os venham no entanto substituir. A reactivação pubertária dos elementos da/ personalidade infantil não se faz senão sob a forma de uma lenta instalação, amiúde hesitante, por vezes incoerente.
O adolescente atormentado por/desejos contraditórios sente uma certa repugnância por si mesmo, da qual não é ainda capaz de definir os limites. É assim que nasce o aborrecimento, espécie de lassidão moral provocada pela dualidade: desejos novos - receio ou impossibilidade de os satisfazer. O aborrecimento provoca a inacção, ela mesma geradora de aborrecimento. Os pais devem esforçar-se por não intervir, pelo menos procurando continuar a impor os /prazeres da infância. Convém, por exemplo, evitar tornar obrigatória a/salda dominical. É verdade que os/pais sentem muitas vezes o abandono desta prática ritual da infância como uma espécie de rejeição que os atinge pessoalmente. Por outro lado, é-lhes difícil deixar o adolescente sozinho uma tarde inteira. Mas não intervir directamente não significa de modo algum desafeição. Os/pais podem mostrar que estão disponíveis sugerindo formas de/ tempos livres adaptadas à nova/ personalidade do adolescente. Isto sem ignorar que uma tal espécie de aborrecimento fundamental apenas cessará na/maturidade. Seria excelente que se instaurasse um diálogo sobre este tema.
ABSOLUTO (Abudu/Absolute) Página 468.
Do latim absolutus: que é acabado, perfeito. Por falta de experiência de uma situação real onde se tenha visto na obrigação de assumir responsabilidades, o adolescente é facilmente inflexível nos seus/juízos. Ele seria incapaz de conceber algo que não fosse
�
10
perfeito e tende muitas vezes a desprezar os adultos, aos quais a vida do dia-a-dia ensinou o sentido do relativo. Esta atitude está aliás frequentemente na origem dos mal-entendidos entre gerações diferentes: só com dificuldade os mais velhos se recordam desse período da sua vida em que tudo parecia possível às almas de boa vontade. Nesse sentido, os/pais mais aptos a desempenhar a sua delicada missão não serão forçosamente os mais jovens mas os que possuem melhor memória, os que conservam intacta a recordação da sua própria/ adolescência e das intransigências que lhe são habituais. Estes saberão não troçar do adolescente romântico, anarquista ou revolucionário. Só esta/atitude - compreensiva mas não cúmplice- poderá, sem o desencorajar, conduzir o adolescente a uma concepção mais flexível da vida e, por conseguinte, a uma melhor/ adaptação ao real.
ACIDENTES (Accidents/Accidents)
A/psicologia usa um processo forçosamente esquemático e artificial quando define a,,< adolescência como a aquisição progressiva dos caracteres do adulto. Um tal esquema-tipo, ainda que seja necessário para melhor penetrar a mentalidade deste ou daquele adolescente em particular, não pode obviamente mencionar todos os acidentes de percurso, que são numerosos e inevitáveis. Num caso, é uma admoestação severa que provoca um sentimento de/culpabilidade ou de/revolta. Noutro, é uma experiência/ sexual infeliz que deixa uma rapariga marcada durante muito tempo, que proíbe ao jovem relações absolutamente normais. Pode tratar-se também da separação do casal parental, que afecta muito em especial o adolescente, visto que ele está na idade em que é sensibilizado para os problemas do/amor e do casal, e em que tenta naturalmente identificar-se com um dos pais como membro de um casal. Mas «acidente» na sua acepção original significa: que acontece inesperadamente. Pode então ser também um acontecimento feliz. A descoberta do amor, a primeira emoção artística, são outros tantos acidentes possíveis, que intervêm de maneira súbita no/ desen-
**
do adolescente, apressando ou contrariando a marcha adultizaÇão. «A exploração de tais acontecimentos está eri-
dificuldades, escreve Maurice Debesseo. Quanto Mais o O M. Debesse:
l'Adoles ent (C.P.M., é inabitual, mais custoso se toma para o psicólogo LibrairiecA. Colin, Coisaainda mais grave: um mesmo facto pode marear Paris, 1967).
cito e deixar um outro indiferente. O essencial a-sua existência e sabermos utifizá-los para inter- ,,,@jl~cnto dos jovens.»
�
ACN
ACNE (Acnõ/Acno) Página 78.
A acne é o terror de algumas adolescentes e, para os próprios adolescentes, constitui um embaraço muito visível. Na idade em que a /beleza física é particularmente apreciada como meio de afirmação de uma/ personalidade ainda informe, os «horríveis pontos negros» têm um efeito muitas vezes desastroso sobre o moral. Assim, na maior parte dos casos, o acneico remedeia o que é mais urgente: extirpa os pontos negros sem de forma alguma se preocupar com as regras de higiene elementares nem com a causa real do mal. Todos os médicos (mas só muito raramente eles são consultados nestes casos) podem esclarecer que tal causa está ligada a certos períodos de/actividade das glândulas genitais. A acne caracteriza-se, as mais das vezes, pelo ponto negro, que cobre a abertura de um poro dilatado. Este ponto negro não é de facto senão a ponta oxidada pelo ar - do rolhão gorduroso que contribui justamente para a dilatação do poro. Pode-se observá-lo facilmente extraindo, por pressão em tomo do ponto negro, o conjunto gorduroso. O aparecimento dos pontos negros não deixa, geralmente, de trazer complicações. Antes de mais, a ame papulosa, caracterizada pela formação de borbulhas vermelhas e duras surgidas à volta dos pontos negros. Mais grave é a acne pustulosa assinalada por uma inflamação mais viva. e Pode mesmo ai
pus pelo rosto, for A localização e a intensidade da acne estão sujeitas a importantes uma crosta tenaz e variações. A maior parte das vezes, manifesta-se apenas por pontos susceptível de deixar
vestígios indeléveis negros sobre o rosto. Mas a acne pode também alastrar às costas a pele.
e ao peito.
O tratamento da acne A acne, que aparece cerca dos 13 anos, desaparece por volta dos 25.
O seu tratamento é delicado. Alguns princípios gerais permitem pelo menos evitar um agravamento do mal: a vida ao ar livre por exemplo, é sempre salutar para o acneico. Mas convém desc'@**áar das numerosas medicações, de que as pessoas mais chegadas nunca se mostram avaras. Pois a ame jamais se deve esquecê-lo -
necessita de cuidados especiais que só um médico pode dispensar. Mas este não é consultado senão quando a acne atinge proporções inquietantes. Tais proporções são muitas vezes causadas pela falta de tratamento.
O facto de extrair os pontos negros com unhas de asseio duvidoso tem o efeito de transformar a simples ame em acne papulosa e, depois, pustulosa. Seria bom que todos soubessem que não há praticamente nenhum benefício nestas extracções. É preferível aceitar o mal com paciência respeitando estritamente certas prescrições de higiene geral tal como as define, por exemplo, o Dr. **AuzepyO: o pr. Auzepy, in
1 I'Êcole das parents «O tratamento geral comporta mais recomendações de higiene do (março de 1969). que regras imperativas: /alimentação racional, sem excesso de
�
12
farináceos nem de especiarias; boa mastigação, bom estado digestivo, evitar a prisão de ventre: andar a pé,/ desporto, /férias à beira-mar ou em grande altitude. Se existirem importantes variações endocrínicas, afirmadas por resultados biológicos seguros, é necessário um tratamento endócrino, mas seria mais perigoso do que ú til empreendê-lo na base de conjecturas ou de alegações mal fundamentadas.»
aCTIVIDADE (Activité/Activity)
O termo «actividade» designa em psicologia o conjunto das manifestações psicomotoras. É simultaneamente sinónimo de «poder de agir» e de «acção».
O poder de agir é função de um equilíbrio psíquico. Neste sentido, a actividade sofre importantes variações na/ adolescência. Sob o efeito das transformações /pubertárias, a actividade pode quer acelerar-se bruscamente, quer, pelo contrário, registar um afrouxamento muito nítido. Da maneira de aceitar ou de recusar estas transformações depende efectivamente a actividade. Assim, a/anorexia mental - caso de uma rapariga que recusa toda a alimentação -
é a maior parte das vezes devida a uma recusa. A anorexia é um caso limite: há outros menos nítidos. O adolescente indolente, ou mesmo/ apático, está, de um modo geral, sujeito a perturbações de saúde. No entanto, uma consulta médica pode revelar-se impotente para o curar. O motivo é, então, uma/ inadaptação parcial. Acontece por vezes o adolescente recusar o seu/sexo: o rapaz com medo das/>’ responsabilidades, a rapariga por causa dos constrangimentos que ela imagina. Esta recusa parcial repercute-se sobre as outras formas de actividade. Em tais casos, importa desvendar a causa psíquica: uma tomada de consciência ocasiona um recomeço da actividade normal.
Um dinamismo em potência A aceleração da actividade 6 de facto normal no adolescente. Com efeito, a energia e o dinamismo são o resultado de um poderosíssimo impulso vital, de uma necessidade de conhecer e de experimentar nas novas condições que a adolescência cria. Certas experiências sexuais precoces não têm outra origem. De igual modo, a participação em determinados movimentos de juventude pode evidenciar - mais do que o interesse pelo movimento em causa -
uma necessidade de actividade. Convém então tomar cuidado com o esgotamento que pode comprometer um ano de estudos. A actividade do adolescente deve assim ser dirigida, para se evitar que ela se disperse ou se torne fonte de perturbações.
A actividade física
O adolescente abandona as brincadeiras da infância. «Lehmann
�
ADA
e Witty assinalaram que a puberdade coincide nos rapazes com o desinteresse pelos jogos pueris, como a corrida, a subida às árvores, os polícias e ladrões, os índios e cow-boys, etc..»* A actividade- o origlia e **Ouilion:
Adolescent dade física inflecte-se de forma característica: o adolescente recusa /(E.S.F., Paris. 1908). os jogos gratuitos unicamente recreativos a fim de escolher actividades reveladoras da sua /personalidade. Por exemplo, especializa-se num desporto, ao passo que antes praticava indiferentemente todos os exercícios físicos. A adolescente abandona a maior parte das vezes o/esforço físico, que lhe parece pouco compatível com a/feminilidade. Os desportos que ela escolhe são os susceptíveis de pôr em evidência a graça dos movimentos, como é o caso do basquetebol, que se assemelha muitas vezes à/dança. Um interesse exclusivo pelo. desporto traduz uma certa forma de/desequilíbrio: trata-se de uma compensação para fracassos reais ou imaginários no domínio /afectivo ou/intelectual. Isto é tão válido para o rapaz como para a rapariga, podendo esta última manifestar assim a sua recusa da feminilidade.
A actividade intelectuais As novas possibilidades que o adolescente adquire no domínio intelectual - como por exemplo a abstracção - dão a este género de actividade um novo interesse. O adolescente arquitecta sem custo grandes teorias para resolver os problemas da humanidade. Ele discute-as longamente sem se preocupar muito com as contradições, unicamente entregue ao /prazer recente da dialéctica. Lê com avidez e sem discernimento aquilo que estiver ao seu alcance e sobretudo o que pretendem esconder-lhe. Este renovo de actividade intelectual é em si uma excelente coisa: constitui uma abertura ao mundo e uma preparação para a inserção na/sociedade. Convém no entanto evitar que o adolescente caia no/intelectualismo e se feche num mundo de imagens e de ideias. O adolescente, que passa horas a ler no seu/quarto, deve exercer uma actividade física compensadora. Se isso não for possível por diversas razões, é indispensável encontrar uma actividade de / grupo, a qual permite uma / aprendizagem da vida em sociedade.
ADAPTAÇÃO (Adaptation/Adaptation) páginas lo, 16. 360. 409. 439, 454, 462.
A adaptação é a tentativa de um indivíduo para se conformar a um/meio, conciliando as tendências pessoais e as regras impostaspelo meio. Trata-se pois de uma procura de equilíbrio entre o que é possível e o que o não é, a qual vem a traduzir-se por um modo de vida, uma/profissão, etc.
Os modos de adaptação Piaget descreveu dois modos de adaptação:
- A assimilação: o indivíduo busca conhecer o mundo que o rodeia.
�
14
Os resultados desta procura são integrados na consciência para «constituírem o plano das acções susceptíveis de ser repetidas»*. O Piaget: /a Psychologie
de l'intelligence Podemos dizer esquematicamente que se trata daquilo a que se (A Colin, Paris, 1962). chama comummente a experiência, a qual orienta o indivíduo para um certo modo de vida. -A acomodação: na maioria dos casos, a experiência mostra que o homem deve ajeitar-se ao mundo exterior que se não deixa facilmente «assimilar». Há discordância entre o/desejo e a realidade. Para se adaptar, o indivíduo deve renunciar ao seu desejo, ou transformá-lo ajustando a sua/conduta a novos dados.
A adaptação à adolescência A/adolescência é precisamente a idade em que os novos dados são numerosos. Fisicamente, o adolescente transforma-se na altura da/puberdade: o equilíbrio da infância é ameaçado por alterações orgânicas. A estatura, a voz, a genitalidade são outros tantos dados novos que necessitam de uma adaptação. Afectivamente, a criança dependia estreitamente do meio. Para ela, o mundo eram «os outros». Para o adolescente, são «os outros mais eu». A/personalidade afirma-se: ela tem as suas exigências próprias. Também neste caso é indispensável uma adaptação para «despojar a antiga criança». Intelectualmente, enfim, o adolescente alcança o estádio da abstracção e do conceito.
Os obstáculos e os perigos Ao mesmo tempo que impõe uma adaptação nos domínios físico, /*afectivo, /intelectual, a adolescência contribui, devido ao/desequilíbrio passageiro que instaura, para refrear a adaptatividade. Esta exige, para ser ideal, um equilíbrio que só a/maturidade e a experiência conferem. Ora, precisamente, a/personalidade do adolescente, em plena formação, é ainda incoerente. Desde logo, é assaz difícil ao púbere confrontar validamente com o mundo exterior um «eu» que ele ainda não sabe muito bem o que é. A adaptação que se faz pelo jogo da/projecção ou da /identificação dá origem aos /@1 ídolos, cujas flutuações seguem os contornos fluidos da alma adolescente. Na acomodação, intervém um compromisso entre a realidade e o/desejo. A necessidade deste compromisso, ensinada pela experiência, nem sempre aparece ao adolescente, que coloca, por vezes, o problema em termos de / conflito: submeter-se equivale a demitir-se. Ante um tal dilema, o adolescente pode paradoxalmente regressar ao estádio infantil, que ele quer rejeitar, « não se submetendo».
seu desejo de escapar à realidade, refugia-se em atitudes nega-
108 (/ Oposição,,,, revolta) ou utópicas (/idealismo excessivo,
�
ADO
/intelectualismo,/ascetismo), ou então **denúte-se adaptando-se com uma excessiva docilidade: cai assim no/conformismo. Todas estas atitudes constituem outros tantos sintomas de/inadaptação, que podem entravar gravemente o desabrochamento da personalidade. Mas são igualmente outros tantos sinais, que podem guiar os/pais na sua tarefa educativa. Na ocorrência, esta consiste essencialmente - mais do que em descobrir os sinais de uma inadaptação que se pode considerar inerente à adolescência - em favorecer as actividades no domínio em que a adaptação se faz melhor. Isto poderá ser o/desporto, a actividade intelectual ou a actividade artística, por exemplo. Há interferência entre os diferentes níveis de adaptação: um/êxito parcial tem as mais felizes consequências para a personalidade do adolescente.
ADOLESCÊNCIA (Adolescence/Adolescence)
Período de transição entre a infância e a idade adulta. Os seus limites situam-se entre os 12 e os 18 anos para as raparigas e entre os 14 e os 20 anos para os rapazes. A duração da adolescência é função de factores tais como o/meio (influência climática), a raça e o contexto/ social, os quais activam ou travam as diferentes transformações características desta idade.
Transformações físicas A/,,puberdade principia por um crescimento físico rápido, acompanhado de transformações orgânicas que não cessarão senão com a maturidade *. O desenvolvimento dos órgãos genitais e # Ver o artigo
A fisiologia o aparecimento dos caracteres secundários (pilosidade púbica e «do adolescência». axilar, desenvolvimento dos seios, etc.) são os sinais mais manifestos da puberdade. As leis inerentes a estas transformações estão actualmente estabelecidas, e o seu conhecimento preciso permite evitar muitas preocupações aos pais e aos filhos *. O Ver o artigo
«A sexualidade
Transformações psicológicas da adolescente».
O púbere já não é uma criança mas ainda não é um adulto. Desta ambiguidade resulta uma tomada de consciência de si mesmo e dos outros que se caracteriza pela rejeição aparente dos modelos da infância (pais) e pela procura de novos modelos (/heróis,/ «ídolos») ou parceiros (/grupo, /bando, Iflirt)*. # Ver estas palavra
Esta procura é a primeira manifestação da/ inteligência abstracta* O Ver o artigo
cujo aparecimento se dá num contexto de perturbações afectivas «O raciocínio».
ligadas à rapidez das transformações internas e externas *. Da O Ver o artigo
«A afectividade relação entre a inteligência pura e a / afectividade depende o / êxito no adolescente».
escolar. # Ver o artigo
«A escolha da profi Escolha da profissão A adolescência acaba normalmente com a escolha de uma/pro-
�
lo
fissão que confere uma maturidade social tão importante como a maturidade física ou afectiva. Esta escolha, efectuada nas difíceis condições do crescimento, compromete todo o futuro. Por esta razão a orientação profissional deve efectuar-se bastante cedo e com o maior cuidado. 9 Ver «Orientação
f] escolar e o artigo
O estudo da adolescência limita-se no entanto com demasiada re- «A escolha da profissão». quência a estes dados de base. Para perfazer um tal estudo, um psicólogo moderno deve conhecer igualmente o/gosto dos adolescentes em matéria de/tempos livres: por um lado, estes últimos adquirem na nossa civilização uma importância que cresce de ano para ano; por outro, enquanto/ actividades livremente escolhidas, são plenamente reveladores da personalidade* dos adolescentes. e Ver o artigo
«os tempos livres».
ADOPÇÃO (Adoption/Adoption)
Num passado recente, a situação da criança adoptada podia causar graves perturbações. Esperava~se de facto que a criança alcançasse uma certa /maturidade para lhe revelar a sua verdadeira situação. Actualmente, a psicologia pôs em realce os riscos desta concepção: o adoptado considera ter sido enganado durante toda a sua infân- cia. Ao abalo natural causado por uma tal revelação vem juntar-se um sentimento de desconfiança, ou mesmo de rancor, que compromete posteriormente as relações com os/pais adoptivos. É por este motivo que eles são hoje aconselhados a pôr a criança ao corrente assim que ela está em idade de compreender: a partir de então, os laços criados entre pais e filho não assentam numa falsa situação mas numa outra, particular, de adoptante a adoptado. Os pais adoptivos são pais voluntários no pleno sentido do termo. Estão conscientes, num grau muito elevado, das suas/responsabilidades. Mas, por vezes, o/ comportamento do adolescente escapa-
lhes. Eles devem saber que isto resulta, antes de mais, de o adolescente adoptado ter tendência a fantasiar os seus pais. Na idade em que começa a perceber os defeitos dos seus pais adoptivos, ele é levado a imaginar os seus verdadeiros pais perfeitos, dotados de todas as qualidades que não pode deixar de recusaràs pessoas da sua convivência. A/oposição natural aos pais acha-se assim reforçada de uma maneira artificial. Na verdade, em vez de preparar
* futura autonomia do adulto, ela submete-o durante muito tempo a
* uma imagem idealizada, que compromete a sua/adaptação à
-
f d, u @J vida rM**.
1 @AFEC .TIVIDADE (Affectivité/Affoctivity) ver o artigo nas Páginas seguintes e as páginas 68. los,
188, 409. 415, 490.
Fundamento da vida psíquica, a afectividade possui, como Jano, um duplo rosto: por um lado, mergulha as suas raizes no instinto
4 e no /inconsciente, e, por outro lado, representa uma abertura a
�
AFE
outrem. A afectividade manifesta-se pelas,,<emoções ou pelos sentimentos, mas também pelo humor e pela paixão, outros tantos estados afectivos que se sabe estarem particularmente sujeitos a variação no adolescente e que comprometem as suas relações com o adulto, habituado a ver nele a criança equilibrada do período o Ver o artigo de latência (entre os 6 e os 10 anos)*. cA sexualidade».
�
18
A afectividade por Jacqueline Hubert
A noção de «afecto» é a mais geral para exprimir os elementos da afectividade. Representa, segundo Piérone, um «estado afectivo elementar que evolui entre dois pólos de/prazer-desprazer (alemão: Lust-UnIust) ou agradável-desagradável». Pode-se definir a afectividade como o conjunto dos afectos. Mas esta noção muito geral não é adequada a introduzir a descrição precisa que o presente estudo implicará; todavia, reteremos a ideia, muito importante, dos dois pólos prazer-desprazer, entre os quais é possível situar todos os estados afectivos. Uma outra definição também comummente admitida designa por afectividade «o conjunto dos estados afectivos, dos sentimentos, das/emoções e das paixões de um indivíduo»*. Por muito sugestiva que seja, esta definição seria incapaz de conduzir a mais do que uma descrição dos /comportamentos afectivos; ora, haverá lugar, para além disto, de analisar as suas causas e efeitos, ou seja, as suas raízes na /personalidade do indivíduo, que evolui ele próprio num ambiente/social e/cultural definido.
Jacqueline Hubert Nascida em 1944, licenciada em Psicologia. Fez estudos de Medicina na Faculdade de Estrasburgo; prepara um mestrado em Ciências Humanas Clínicas.
9 H. Piéron: Vocabulaire de Ia psychologie (P.U.F., 1969).
* N. Siliamy: Di,tionnaire de M psychologie (Larousse, Paris, 1965).
A CRISE AFECTIVA NA ADOLESCÊNCIA
Um dos caracteres específicos da afectividade do adolescente, um dos mais facilmente observáveis, o que não deixa de inquietar os /pais, é a sua/violência. A intensidade das manifestações afectivas impede doravante as gradações na intensidade da violência. É assim frequente observar, tanto no jovem como na jovem, reacções de alegria, de entusiasmo, de/cólera, de hostilidade, dotadas de um carácter de absoluto, pouco vulgar no adulto. Parece até que o adolescente não consegue reagir de outro modo. Mostra-se amiúde irritável, responde aos/,,pais grosseiramente como se apenas sentisse ódio a seu respeito; «amua», clama bem alto
�
AFE
que é incompreendido, cora, empalidece ou treme: outras tantas manifestações vegetativas que demonstram um desarranjo/emotivo. Este/ desequilíbrio pode traduzir-se não só por uma hiperemotividade, mas também, por vezes, por uma hipoemotividade: há casos em que o adolescente se fecha num/mutismo onde ninguém pode ir ao encontro dele. Sem dúvida, mais do que as crises de hiperemotividade, esta recusa de/comunicar tem todas as condições para inquietar os pais. Às suas instantes perguntas, muitas vezes nimbadas de/ansiedade: «Estás doente? Que mal te fizeram? Porque não dizes nada?», etc., ele não responde senão de forma evasiva. Algumas vezes chega a parecer admirado com a súbita solicitude dos pais, como se lhe repugnasse dar pormenores acerca de um drama que deseja- guardar só para si drama frequentemente construído de fio a pavio quanto ao seu conteúdo -
e que se destina a tentar afirmar a sua individualidade. Outras vezes, é o silêncio absoluto, dando o sujeito a impressão de se comprazer em manter os pais numa situação que ele torna ainda mais /angustiante. Decerto que ela o é, na medida em que um tal mutismo não deixa de lembrar certos/ comportamentos patológicos. Mas, normalmente, isto é apenas passageiro, não havendo assim motivo para uma inquietação por aí além, tanto mais que uma tal reacção dos pais está longe de prestar serviço ao adolescente. Por um lado, não pode senão encorajá-lo nessa via, justamente porque lhe faz sentir a sua excessiva dependência dos pais. Por outro lado, uma tal resposta dos pais priva-o da ajuda que ele reclama de facto.
Entre a solicitude e a indiferente um interesse constante mas discreta Uma/atitude adaptada e eficaz consistiria, por um lado, em não tentar penetrar o seu mundo íntimo, e, por outro, não só em não lhe manifestar qualquer inimizade, mas, mais ainda, em levá-lo a sentir, embora sem insistência, que ele pode contar com um apoio. No entanto, é frequente a/agressividade dos pais em tais circunstâncias: será porventura a manifestação de uma recusa inconsciente de enfrentarem a sua própria incerteza?
A MUDANÇA DE SITUAÇT0 Este desequilíbrio afectivo do adolescente, que oscila entre a hiperemotividade e a hipoemotividade, traduz, obviamente, uma falta de coordenação entre os sistemas reguladores da/emotividade e os estímulos provenientes das novas situações da/ adolescência, ou seja, uma falta da/adaptação a estas. A adolescência é a idade em que se troca o lar/familiar pelo centro de/ aprendizagem, pelo liceu, pelo internato ou ainda pela fábrica.
�
20 A afectividade
O adolescente: reacções de criança perante situações de adulto Ás antigas situações quase exclusivamente familiares vai suceder-se uma quantidade de situações em que o sujeito terá de estabelecer relações de tipo novo com indivíduos desconhecidos e de encontrar interesses/,,< afectivos novos. É assim que as /relações /pai-filho e fraternas são substituídas pelas de professor/aluno, patrão/operário, veterano-caloiro, e de/camaradagem. O adolescente tem de fazer frente tanto a um alargamento como a uma diversificação das suas relações com outrem, às quais deveriam corresponder um alargamento e uma diversificação das suas/condutas afectivas. Mas tal não acontece: as condutas afectivas da infância, de que o adolescente está ainda todo impregnado, não bastarão para controlar e assumir a nova situação, o adolescente tem ainda um pé na infância, e o passo que dá na direcção da idade adulta é motivo para vários tropeções. Ã primeira vista, a causa deste/ desequilíbrio parece ser uma falta de/adaptação, ou seja, uma/socialização ainda incompleta da afectividade. Uma tal socialização consistiria numa regulamentação das manifestações afectivas do adolescente pelos/valores e/ideais do/grupo, e na sua submissão aos arquétipos de/,”’ comportamentos afectivos admitidos por este grupo/cultural. Vemos assim que o adolescente não tem a mesma «/linguagem afectiva» que os adultos, o que tende a separá-lo do seu mundo. Com efeito, ele é frequentemente rejeitado, incompreendido, por aqueles que não se reconhecem nele. Isto pode ter consequências temíveis: ele fica isolado e sofre, não recebendo a aprovação necessária para se exprimir. Se esta situação /frustrante para o jovem se prolongar, a aquisição dos mecanismos de regulação afectiva - sem os quais um indivíduo não poderia existir enquanto ser/social- arrisca-se bastante a ser perturbada. Esta aprendizagem depende estreitamente, sublinhemo-lo, da resposta que o adolescente receber das pessoas mais íntimas sendo estas toda a sua referência - às suas tentativas afectivas inábeis e, muitas vezes, falhadas. É necessário que os pais tomem consciência da delicada situação em que se encontra o seu filho, deste estado de desequilíbrio latente que pode descambar para o patológico. Nunca é demais recomendar-lhes que sejam prudentes e evitemtoda a rudeza, toda a troça, toda a/atitude depreciativa, traumatizante.
POSSIBILIDADES PSÍQUICAS NOVAS Não há dúvida de que a crise de/ adolescência, tal como a temos descrito até agora, é imputável a uma mudança de situação/afectiva, a exigências/ sociais novas. Mas, paralelamente a estes factores exógenos, ela não deixa de se ligar a toda uma transformação das o Ver o artigo
«O raciocínio no estruturas /intelectuais. adolescente».
�
AFE
O adolescente pode raciocinar por dedução e por indução
O pensamento do adolescente torna-se/projectivo: capaz de explorar não só o real, mas também as suas virtualidades, de construir o futuro a partir dos dados do actual, mas também de hipóteses.
O adolescente terá o poder de encontrar prolongamentos a um /’<desejo que não pode ser satisfeito com base nas condições actuais: ele projecta este desejo numa situação vindoura prevista graças ao auxilio de hipóteses que reunam todas as condições para o satisfazerem. Ele vai prever por dedução o caminho que deverá seguir para o alcançar, tendo em conta os obstáculos eventuais. O jovem Pedro C.... de 15 anos, sonha vir a ser médico: encontrou neste desejo uma saída para as suas dificuldades afectivas. Ora, os seus /,<pais, sem recursos, proíbem-lhe uma tal/orientação e encaminham-no para um/;<ensino técnico sancionado pelo diploma industrial que irá permitir-lhe trabalhar logo a seguir. Após um breve despeito que se traduz por diversas manifestações/,< agressivas, o
jovem Pedro vai prever todas as etapas que o levarão à realização do seu desejo: concluirá o curso industrial a fim de evitar o obstáculo/familiar; em seguida preparará o exame final do curso dos liceus, ganhando entretanto a sua vida, obterá uma bolsa de ensino superior e poderá assim estudar medicina sem demasiadas preocupações financeiras e com a aprovação dos pais. Actualmente, este rapaz, que se tomou adulto, exerce a medicina; o seu caso constitui um exemplo-tipo comprovativo da natureza das transformações intelectuais na/ adolescência, e da sua intervenção na resolução de um/conflito afectivo. Vemos o sujeito remeter a satisfação do seu desejo para uma data ulterior, evitando assim um conflito familiar aberto que o teria privado da aprovação dos pais, e
conseguir sem o mínimo choque com as exigências do presente (financeiras, etc.) criar as condições da realização do seu projecto.
O que quer dizer que ele resolve a situação de conflito afectivo inicial unicamente através de um /raciocínio dedutivo. Neste caso, a aquisição do novo material dedutivo permite a resolução da crise e constitui um processo de regulação da afectividade, à semelhança da/sublimação ou da/identificação a um nível de consciência menor. Mas este caso tem apenas um valor de exemplo em virtude da simplicidade da sucessão dos fenómenos que ele põe em evidência, e devido à própria circunstância de ter sido realizado. São raros os adolescentes que dão provas de uma tal justeza na apreciação dos obstáculos e na forma de os contornar. Muitas vezes os /juízos são apressados, as/ condutas de rodeio pouco elaboradas e sobretudo pouco adaptadas à realidade: não passam de ilusões que conduzirão a /decepções. As estruturas intelectuais muda
as reacções efectivas diversificam. Mas estas novas possibilidades/ intelectuais do adolescente não afec-
�
22 A afectividade
tam somente a regulação/afectiva: elas transformam a própria essência da afectividade. O adolescente já não reage às situações quotidianas apenas por/emoções ou sentimentos muito rudimentares, como é o caso da criança. O pensamento formal implica a faculdade de representação intelectual, a longo prazo, do objecto da emoção. Esta pode assim produzir-se sem a presença do estimulo. Por conseguinte, a um novo material intelectual corresponde a expansão de um novo material afectivo: o sentimento. O adolescente torna-se efectivamente capaz de experimentar uma gama muito extensa de sentimentos assaz complexos. Esta diversificação dos sentimentos, que permite ao adolescente perceber as situações de forma mais rica e mais gradativa, deve ser relacionada com o alargamento do seu mundo, e pode aliás oferecer-lhe uma possibilidade de o dominar. De facto, os novos recursos intelectuais do adolescente intervêm de modo positivo durante a crise, no sentido em que facultam os instrumentos necessários a uma tomada de consciência e possibilidades de resolução. Mas eles não escapam a um aspecto negativo. Acontece o adolescente utilizar o seu novo material dedutivo de maneira frenética, sendo este o aspecto nefasto de uma especulação intelectual absolutamente nova para ele. Assim, por desejo de unificar o que o rodeia, de aí se situar, constrói teorias do universo que nem sempre se verificam na vida quotidiana: isto é fonte de muitos debates íntimos e de/conflitos interiores sem fim. Projecta-se então na sua inteireza, apaixonadamente, sobre um problema, um drama humano, um acontecimento da actualidade, analisa-o, critica-o de forma radical, denuncia a injustiça e leva às últimas consequências o seu/raciocínio: o que pode impeli-lo a rupturas, actos de violência, etc. Um/desejo absoluto, uma intransigência, uma radicalidade de /juízo, uma propensão para a/fantasia, a meditação, a/imaginação, as ilusões e a especulação intelectual pura, outras tantas qualidades tradutoras de uma certa efervescência intelectual que contribui para modificar o equilíbrio afectivo do adolescente.
A INTERVENÇÃO DA IMAGINAÇJ0 Podemos dizer que é no adolescente que os processos imaginativos são mais exacerbados. Quantas vezes, a partir de um facto anódino para o adulto, não «constrói ele um romance»! Deve-se procurar a origem das construções da/imaginação na elaboração dos fantasmas da mais tenra infância. Estes fantasmas têm já, no bebé, uma função libertadora de energia: ele imagina, na ausência da/mãe, a satisfação que resulta da sucção do seio
�
AFE
materno. Deste modo, liberta a/ tensão provocada pelo seu,.”, desejo do seio.
A imaginação permite ajustar a realidade ao só É para um objectivo inconsciente análogo que o adolescente se deixa arrastar pela sua imaginação. Esta constitui nele um dos mecanismos de defesa, de desvio, pelos quais ele tenta satisfazer os desejos e pulsões cuja satisfação é proibida no meio em que vive. Ela é um meio de transformar a realidade que, como vimos, se manifesta a seu respeito de forma coercitiva. É a mediação entre as pulsões @ a realidade. E frequente os adolescentes transformarem as relações, próximas ou longínquas, que têm na vida corrente com pessoas do/sexo oposto (professores, vedetas de/cinema, etc.) em ligações romanescas de uma rara riqueza afectiva que a sociedade e as instituições proíbem. Eles inventam paixões que só existem na sua imaginação, /amizades extraordinárias que se fundam, apenas e afinal, em relações superficiais. Imaginam perspectivas de/futuro (viagens fabulosas, vida de aventuras, factos heróicos) que lhes permitem investir uma afectividade intensa. Vemos pois como é lamentável que certos /pais acolham com troça e reprovação estes/ comportamentos, proibindo assim aos adolescentes uma satisfação dos seus desejos e/frustrando-os do mesmo passo: esta actividade fantasmática é-lhes, com efeito, necessária: ela permite-lhes que se libertem das suas pulsões, sem perigo para
* ordem estabelecida. Decerto que há adolescentes que consagram
* estas/emoções uma proporção excessiva do seu tempo, a ponto de os resultados escolares, em particular, se ressentirem disso. Mas não é evidentemente com censuras, muito pelo contrário, que se
4@onsegue dar remédio a tais acidentes. E preferível, no caso de numerosos adolescentes, propor uma/actividade extra-familiar - sendo a/ família a própria imagem do /conflito que os preocupa, a qual ajuda a/socialização da sua/afectividade. O/desporto, por exemplo, a/música, os /grupos de jovens permitirão canalizar convenientemente uma energia desordenada.O FACTOR Biológico
Desde o início da/adolescência aparecem os primeiros sinais da «crise de crescimento»: ela traduz-se, num aspecto, por um súbito crescimento da estatura e dos membros, por um/ desenvolvimento muscular - sobretudo no rapaz, que sente transformar-se em homem- e, noutro aspecto, pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários: os seios e o apuramento das formas na rapariga, o sistema piloso no rapaz *. Estas mudanças somáticas têm por origem uma revolução /hormonal. Pensava-se outrora que adolescência».
�
24 A afectividado
tais modificações fisiológicas, que conduzirão ao aparecimento da pulsão/sexual, eram a única origem da/;< instabilidade afectiva da adolescência, Este ponto de vista é ilustrado pela doutrina de Stanley Hall, que e ontogénese: história
da formação d indivlduo era de opinião que a ontogéneseo reproduzia a filogéneseo e con- desde o ovo acoestado siderava o adolescente como sendo «neo-atávicoo, propenso às adulto. tempestades e à tensão» por causa de «forças ancestrais que dispu- o filogénese: história
da formação da espécie tavaril entre si a preponderâncía»*. desde o homem primitivo Sem dúvida que este impulso vital, esta efervescência de forças, ao homem de hoje.
muitas vezes contida com grande esforço no interior do indivíduo, e neo-atavismo
da adolescência. ocasiona uma certa impetuosidade afectiva, em virtude da impa- segundo S. Hali:
na adolescência, ciência que ele experimenta de se realizar. Mas veremos que as apareceriam certos dificuldades encontradas na altura do aparecimento deste impulso caracteres ancestrais . (respeitantes, em particular, são muito mais imputáveis ao facto de o círculo de convivência às etapas da filogénese). se opor à sua expressão total do que à sua própria existência. A crise Este facto não seria
afectiva cujas causas imediatas analisámos não é senão a mani- observável na criança.
O S. Hail: Adolescence festaçâo de um/conflito muito mais profundo, que vai buscar (1908), citado por as suas raízes aos fundamentos da/ personalidade e à dinâmica O. Klineberg in Psychologie
sociale (P.U.F. Paris, do indivíduo. 1967), p. 415.
As experiências da infância repercutem-se na personalidade adolescente Podenios definir desde já dois níveis que interactuam na/afectividade do adolescente: um nível individual que abarca a personalidade, os caracteres biológicos, aos quais se acrescentam os que nascem das experiências da infância; um nível sociocultural relativo à situação de conflito em que se encontra o indivíduo, entre as exigências do seu eu e as do mundo que o rodeia: a este nível situa-se a/ aprendizagem/ social do adolescente. As perturbações da/adolescê ncia incidem nestes dois domínios: não se deve no entanto considerá-los em separado, visto que eles estão constantemente em interacção. É por isso que as/>,reacções afectivas do adolescente dependerão intimamente do desenvolvimento da sua afectividade durante a infância, das fixações num estádio desta evolução que se produziram por ocasião de um abalo afectivo e estão na origem de regressões durante a adolescência. Elas dependerão igualmente da quantidade de/frustrações impostas pelas pessoas que o rodeiam, da forma como estas tiverem respondido à/necessidade- de/amor da criança, ou seja, tiverem aprovado o seu/ comportamento e satisfeito assim a sua necessidade de aprovação por outrem. Se estas experiências da infância se produziram de forma traumatizante para o sujeito, se, por exemplo, ele não recebeu da parte dos adultos afeição e aprovação em grau suficiente, pela/frustração xe excessiva corre-se o risco da deformar a sua afectividade: será possível observar/ comportamentos/ agressivos diversos. Estas experiências infantis interiorizadas intervêm de modo irrever-
�
AFE
sível quando o adolescente é confrontado com a sua nova situação. Das experiências da/adolescência deriva dialecticamente uma forma nova da vida afectiva.
AS CAUSAS PROFUNDAS DO CONFLITO DA ADOLESCÊNCIA
Nunca será demasiado salientar a importância da afirmação da pulsão/sexual nas perturbações afectivas da adolescência. Na /puberdade, cerca dos 13 anos nas raparigas e dos 15 anos nos rapazes, as mudanças /hormonais preparam para a função genital. Os psicanalistas determinaram bem o papel primordial da/sexualidade durante a primeira infância. Mas ao passo que esta apenas se exprime confusamente e não de maneira clara e consciente, a do adolescente, p@lo contrário, exprime-se cada vez mais clara e conscientemente. A pulsão sexual da criança acrescentam-se o poder de reprodução, a/ capacidade biológica que vem completá-la, assim como a genitalidade essencialmente nova. Sabe-se que certos autores consideravam esta mudança responsável pela/ instabilidade afectiva da adolescência que eles julgavam por conseguinte inevit@ável, sobretudo na rapariga. E certo que a nova energia biológica de que passa a dispor de repente o adolescente, o novo/desejo que o invade, que ele sente ainda como estranho a si mesmo, são responsáveis *por uma modificação dos comportamentos afectivos no sentido de uma maior intensidade. Mas tal ponto de vista foi posto em causa, assim como certas explicações /psicológicas consideradas como verdades, a partir do momento em que este domínio da ciência pôde recorrer às fontes da etnologia. De facto, a observação de/sociedades primitivas mostrou que as variáveis tidas por universais não eram afinal senão culturais e apareciam como já não sendo as únicas a intervir nos mecanismos considerados. Assim, a explicação da crise de /adolescência apenas pelo factor biológico revelou-se falsa visto que ela não existia sob a mesma forma em/sociedades primitivas cujos indivíduos sofriam evidentemente a mesma evolução fisiológica na puberdade. Com efeito, Margaret Mead, ao observar os Samoa, sociedade primitiva da Polinésia, em que certos interditos e/tabus/sexuais próprios da nossa/cultura ocidental e cristã não existem, apercebeu-se de que não se descobria neles qualquer crise afectiva na sequência da puberdade. Não sendo, pois, a crise de adolescência um fenômeno universal não se deve continuar a procurar-lhe as causas apenas na biologia mas antes na relação cultura-indivíduo. pp- 411-412.
�
26 
A nossa cultura impõe ao indivíduo severas restrições sexuais: proibição/moral do incesto, do acto sexual fora do/casamento. Estas restrições são inculcadas desde a infância por intermédio de regras morais e sociais. Segundo Freud, tais interditos têm por origem a necessidade de valorizar o/trabalho a que obriga a sobrevivência económica da nossa sociedade. Logo, os quadros institucionais proíbem ao indivíduo qualquer desperdício de energia no acto sexual, que afectaria o seu rendimento. Estes interditos adquirem um relevo particular no adolescente recentemente apto à função sexual. «Todos os fenómenos conflituais e/neuróticos da puberdade têm uma mesma origem: o conflito entre a/maturidade sexual do adolescente, por volta dos 15 anos, suscitando a /necessidade/ fisiológica de relações sexuais e a/aptidão para gerar, e a impossibilidade material e/psicológica de realizar a situação legal exigida pela sociedade para a/actividade sexual, a saber, o/casamento.»* Vemos agora quanto o conflito afectivo O W.Reich:IaRévolution . sexuelle, (Plon. Paris, da adolescência ultrapassa largamente a crise juvenil que não é mais 1968), p. 121. do que uma sua expressão passageira.
Da insatisfação das pulsões sexuais
resulta um conflito psico169ico ... A energia tornada disponível pela pulsão sexual não pode ser despendida no acto sexual: é recalcada e cria uma/tensão muito importante no organismo. Esta tensão, desagradável para o sujeito, deverá ser reduzida em virtude «do princípio de constância» que, segundo Freud, leva o indivíduoa manter a sua energia ao mais baixo nível possível. O equilíbrio energético rompido por este afluxo de energia deverá ser restabelecido. «Sabemos que, sob o ponto de vista orgânico, se manifestam verdadeiras tensões que devem ser reduzidas de uma ou de outra forma e que da impossibilidade de o conseguir pode resultar um conflito psicológico. Mesmo quando se descobre alguma forma de satisfação sexual, 9 O. Mineberg: a/oposição entre o/comportamento do indivíduo e os preceitos Psychologie sociale (P.U.F., Paris, 1967). morais da/sociedade não deixará de levantar problemas.»* p. 415. ... da sua satisfação um conflito moral Vemos assim que o problema deriva de não ser possível qualquer satisfação/ sexual legal em consonância com a/moral sexual, Pois O/Casamento é economicamente impossível neste período .,,da vida, e também de toda a satisfação ilegal causar um sentimento @de vergonha e de/ culpabilidade que alimenta o/conflito na
em que o indivíduo tem necessidade de ser aprovado pelo . Há então impossibilidade de resolver o conflito pela
da Pulsão primária. Por consequência vão intervir **mecad~o da energia para fins aceites pelo grupo: a pulsão **ubida quanto ao fim. E assim que se pode ver, no
vivo dos adolescentes pela/arte, a/música, a imaginação e na riqueza afectiva da adolescência,
�
AFE
uma/sublimação da pulsão sexual recalcada. Mas a acção destes circuitos reguladores, ainda mal organizados, falha muitas vezes diante da amplidão da energia disponível. Isto explicaria as efusões afectivas de todas as espécies, correntes nesta idade. Mais ainda, a/adolescência aparece como sendo essencialmente um estado de/desequilíbrio energético que o sujeito tenta reduzir: dos processos de redução depende a forma da sua afectividade.
O estado de desequilíbrio energético que se traduz por um desequilíbrio afectivo é inevitavelmente agravado pela situação/;, social pouco invejável do adolescente.
O ASPECTO SOCIOCULTURÁL DO CONFLITO AFECTIVO
Os especialistas da antropologia cultural mostraram como o indivíduo e a/cultura da sua sociedade se enfrentam incessantemente nos mínimos actos da sua vida quotidiana. A cultura é, segundo Lintone, «a configuração dos seus comportamentos aprendidos e dos resultados, cujos elementos componentes são partilhados e transmitidos pelos membros de uma dada sociedade», ou seja, o conjunto organizado de normas e de/valores, de padrões de/comportamento, de modelos culturais que traduzem o modo de vida do/grupo. Relativamente aos indivíduos, a cultura organiza-se em instituições transcendentes que visam garantir a conservação da sociedade (/família, /trabalho,/ religião são instituições) e se traduzem por sistemas segundo os quais os indivíduos são classificados e organizados. Normalmente, um indivíduo ocupa um lugar determinado em vários destes sistemas; o seu «estatuto» é «o lugar que ele ocupa em dado momento num dado sistema»*, o seu «papel» define-se como «as/atitudes, os valores e os /comportamentos que a /sociedade destina a uma pessoa e a todas as pessoas que ocupam este estatuto»*. Um indivíduo tem portanto vários estatutos e vários papéis que variam consoante o/sexo e a idade; por exemplo, um sujeito pode ser ao mesmo tempo / pai de / família, director de fábrica e membro de um clube.
Estes conceitos de antropologia/ cultural vão permitir-nos apreender melhor as consequências afectivas da posição sociocultural do adolescente. O estatuto de criança submetida aos/pais já lhe não convém, pois que se tornou um homem /fisiológica e/intelectualmente falando; o estatuto de adulto não convém ainda, pois o adolescente não pode assumir todas as /responsabilidades que lhe estão ligadas. Não tem por conseguinte qualquer estatuto particular. Mas não é menos verdade que a sua esfera social o obriga a assumir um papel: ele deve ter certas/relações com os seus semelhantes, certos
�
28 
comportamentos com as instituições enquanto espera o estatuto de adulto que receberá mais tarde. Sem dúvida que a sociedade prevê certos estatutos para o adolescente -tais como o de aluno de liceu-, mas estes não existem senão na previsão dos estatutos futuros e não podem constituir uma referência bem definida de papé is. Se se quiser definir o estatuto do adolescente como o da/aprendizagem dos estatutos vindouros, o papel afigurar-se-lhe-á um constrangimento absurdo porquanto não é justificado por qualquer estatuto actual. Pede-se ao adolescente, ora que se comporte como um adulto, ora que se submeta como uma criança: por exemplo, ele deve ganhar a vida durante as/férias, ter/opiniões fundadas, evidenciar um trato de adulto; em contrapartida, proibem-lhe que tome a palavra para exprimir o seu parecer, regulamentam-lhe as /saídas nocturnas e impedem-no de usar determinado /vestuário. Vemos os/conflitos afectivos que isto ocasiona. A/frustração quotidiana procedente do facto de o papel lhe ser imposto com tudo o que comporta de constrangedor (pois está dissociado das possibilidades de recompensa que um estatuto oferece sob forma de glória, de consideração, de auto-satisfação, de/dinheiro) e a incerteza em que ele se acha de agir quer como uma criança, quer como um adulto, para beneficiar da aprovação de outrem, vem acentuar o desequilíbrio. Por consequência, são aqui frustradas duas /necessidades essen ‘ciais:
- a necessidade de aprovação por parte de outrem, porque é impossível ao adolescente adoptar quase simuitaneamente comportamentos tão contraditórios;
- a dependência na qual se encontra o adolescente frente aos/ pais, sentida como um perigo na medida em que ela pressupõe a possibilidade de privação. Mais uma razão para não se sentir em/segurança, pelo que a necessidade de segurança se acha indirectamente /frustrada.
A crise de adolescência está ligada a um certo tipo de sociedade Esta situação movediça, estas frustrações que criam tensões suplementares acentuam o/ desequilíbrio energético já criado pela impossibilidade de uma satisfação /sexual e estão na origem da crise afectiva da adolescência nas nossas/ sociedades, pois, como acentua Linton, «nas sociedades que reconhecem os adolescentes como uma categoria distinta e lhes destinam/ actividades adaptadas à sua condição, esta idade passa-se sem tensão ou quase, e a transição do papel da criança para o do adulto efectua-se sem abalo grave para a personalidade»*. Trata-se agora de saber que caminhos seguirá a afectividade do adolescente em resposta a este/conflito inevitável nas nossas sociedades. �
AFE
O ASPECTO SUBJECTIVO DO CONFLITO AFECTIVO
A angústia que surge na adolescência, é um estado desagradável cujo objecto permanece indeterminado para o sujeito, o qual a experimenta como uma impressão de mal-estar. A angústia faz-se muitas vezes acompanhar de contracções difasas, duráveis e penosas das regiões viscerais ou da garganta, e de fenômenos de desequilíbrio vegetativo: taquicardiae, perturbações intestinais, anciloses O taqLlicardis.-
aceleração do dtmc passageiras, etc. A angústia é a manifestação da energia latente, cardíaco. da/tensão causada pelas frustrações. A angústia é devida a uma falta de segurança que pode ter causas diversas.
A angústia está ligada ao medo da sanção, ao receio do ridí Está ligada ao,@<medo inconsciente da/sanção relativa à transgressão dos interditos; este medo acompanha o desenvolvimento da pulsão sexual no adolescente. Pois se não existe satisfação pulsional alguma, há medo antecipado da sanção que se seguiria a uma eventual satisfação. Trata-se de um mecanismo interiorizado durante a infância e que consistia então no medo de perder a afeição dos pais. Por outro lado, a constituição de uma consciência/ moral por interiorização do debate indivíduo autoridade é acompanhada por um sentimento de/ culpabilidade. Certas satisfações como o onanismo resultante da miséria sexual do adolescente, e até muito simplesmente a acuidade do/ desejo sexual que se exprime nesta idade de múltiplas formas, são seguidasde um sentimento de/culpabilidade e da/angústia que sempre o acompanha, vestígio desse /medo infantil de ser castigado. Além disso, o sentimento/ social de vergonha que afecta a coisa genital pode explicar-se, no adolescente, como sendo um composto de angústia e de culpabilidade que acompanha a tomada de consciência da sua própria potencialidade genital percebida como temível. Enfim, a ambiguidade da situação social em que se encontra o sujeito, a iminência da/frustração -no horizonte de qualquer ensaio /comportamental-, percebida como uma/sanção, originam um sentimento de angústia e de ansiedade que reflectem o medo de agir do indivíduo, ou seja, de se arriscar a uma sanção. A esta angústia ligada à ausência de estatuto acrescenta-se um sentimento de ridículo: a criança sente-se adulta em determinada altura e acha ridículo ver-se constrangida a obedecer como uma criança. Este sentimento associa-se a um certo medo de ser ridículo, que é uma das manifestações da angústia. Vemos assim como a angústia se exprime de maneira indirecta em comportamentos afectivos que a não contêm a priori.
�
30 
É lícito ver em certas apreensões escolares (medo do/exame, dores de barriga), na/timidez, no receio de desagradar, na reacção /enleada dos adolescentes quando se lhes exprime por vezes sinais de afeição habitualmente reservados às crianças (a/mãe que o senta nos seus joelhos, por exemplo), uma das manifestações secundárias da angústia, do medo do ridículo e da vergonha. Em suma, a angústia, que constitui, como vimos, uma/reacção afectiva elaborada durante a infância, é uma forma de o adolescente responder pela recusa de agir ao/conflito pulsional. Ela representa portanto uma reacção. «As pulsões sexuais reactivam temporariamente posições sexuais infantis (tendência para a voracidade, a crueldade, a sujidade, a exibição, ressurgências passageiras de tendências edipianas), suscitam desejos novos, vão de encontro a interditos estabelecidos, ameaçam o equilíbrio adquirido, desencadeiam assim uma certa angústia e chegam por vezes a provocar sintomas pré-neuróticos de tipo fóbico, obsessional ou histeróide.»* e A frustração e a agressividade. A angústia é uma reacção à frustração. Mas associa-se esta mais geralmente à/agressividade: o que constitui até o objecto de uma lei da/psicologia, a lei Dollars-Miller-Sears, segundo a qual toda a frustração é necessariamente seguida de uma conduta de/agressividade. No entender de Jean-Claude Fillouxo, a frustração resulta «do choque entre as motivações e um obstáculo exterior percebido como indestrutível; as/reacções agressivas traduzem simplesmente a impotência do indivíduo para realizar a sua/ adaptação ao real».
A agressividade é uma conduta de fracasso Convém compreender bem que a agressivídade é um mecanismo de regulação tão importante como a/sublimação, visto que ela é consumidora de energia. Contudo, a sublimação, além de permitir uma redução do/conflito, proporciona ao indivíduo uma segunda satisfação em virtude de ser aprovada pelo/grupo, ao passo que a agressividade traduz uma impossibilidade do indivíduo em organizar a sua energia de modo útil, isto é, um fracasso dos mecanismos reguladores que permitem canalizar a energia para fins e dentro de circuitos aprovados pela /sociedade. No adolescente, que conhece frequentemente este fracasso, as condutas agressivas são correntes (cólera, irritabilidade, /gosto pela/violência, por vezes, inclusive, /prazer em fazer mal, tendências/sádicas, etc.). Ainda que estas manifestações agressivas ofereçam ao adolescente um prazer imediato, ou seja, uma baixa de/ tensão, elas privam-no a maior parte das vezes da aprovação de outrem.
�
Mas existem meios desviados de se exprimir a agressividade que, por causa das suas qualidades secundárias, são susceptíveis de obter esta aprovação: assim, uma excessiva delicadeza, uma submissão exagerada, um/cinismo cheio de finura, uma amabilidade obsequiosa são meios mais apurados e mais satisfatórios de alívio. No entanto, na maioria dos casos, os/ comportamentos agressivos são muito mais primários e nunca constituem condutas organizadas que imbuem a/personalidade como acontece com o adulto obsequioso ou cínico. Trata-se, isso sim, de/risos e de alusões trocistas, de uma brutalidade que se torna verbal, utilizando o adolescente as suas novas aquisições intelectuais: gosta de provocar os seus íntimos em justas oratórias, sem/pudor relativamente a certos/tabus, sem receio de melindrar com o seu/raciocínio incisivo, subjugando qualquer/ oposição encontrada sem a mínima /objectividade, terminando tudo isto amiúde em grandes gritos.
*/*
Os grupos de adolescentes têm muitas vezes o seu bode expiat6i A agressividade aberta e franca da criança que chora, bate com os pés, «tem birras» de curta duração e logo esquecidas é substituída pela implicação por vezes maldosa do adolescente. Nos grupos de adolescentes, esta exerce-se frequentemente sobre um mesmo indivíduo que passa a ser o bode expiatório do grupo. E isso pode ter, para um tal infeliz, objecto de uma implicação que se torna encarniçada e cruel, consequências lamentáveis: em certa turma masculina do oitavo ano de escolaridade, o pequeno Jaime C... é alvo dos gracejos maliciosos dos/camaradas a propósito das suas formas um tanto ou quanto roliças; ele não consegue impor o respeito dos outros pela força e acaba por se entregar a uma espécie de melancolia que o impede de se interessar seja por que/actividade escolar for: aluno assaz medíocre, não faz progresso algum, e os seus maus resultados levá-lo-ão a perder o ano. Estas diversas /reacções que ilustram tão bem a crise são outras tantas tentativas do adolescente para afirmar a sua identidade no seio de sistemas donde se sente rejeitado, para resolver o/conflito. Mas tais tentativas nã o conformes às normas /culturais não beneficiam da aprovação dos outros. Uma nova/frustração vem acrescentar-se às precedentes, a tensão aumenta e funda novas manifestações/ agressivas que não tardarão a produzir-se. Vemos aqui o círculo vicioso que pode conduzir a/tensão até ao paroxismo e ocasionar regressões, ou seja, o recurso a mecanismos de defesa /infântis que se arriscará a redundar em/neuroses.
O conflito que acabamos de expor longamente põe assim frente a frente as exigências pulsionais do indivíduo e as do meio sociocultural, opostas às primeiras. «A pré-adolescência e a/adolescência denominam o período de crise no qual se manifesta como pano de fundo uma expansão nova das pulsões sexuais que põe
�
causa certas construções anteriores da/ personalidade, instaura luta interior com as eventualidades daí decorrentes e abre o
o a novas/ identificações e a novas orientações.»* O Laffont: Vocabuleire
1, p,ychopédsgogle et de contrando-se a personalidade, o eu do adolescente, assim dispersa PsYchiatrie de 1'enfant
e estas exigências contraditórias, impõe-se ao adolescente uma (P.U.F., Paris, 1963).
para sair do estado incómodo em que se encontra. @Como o conseguirá ele? Segundo demonstrou Jeari-Claude Fillouxo, o eu desenvolve-se o J.-C. Filloux: através de uma série de processos em que a relação com outrem, Ia Personnalité (P.U.F.,
col. «Que sais-je?», ou seja, a afectividade, é essencial: «Só ela pode, de facto, fornecer Paris, 1965), p. 86. referências. Ora estas referências apenas contribuem para constituir uma percepção originária na medida em que elas já não são exteriores ao indivíduo, antes entram na estrutura do para-si. Deste modo, o ‘ego-desenvolvimento’ deve revelar-se solidário de ‘ego-involvimentos’, isto é, de identificações.»
O eu transforma-se por uma sério de identificações com os outros Assim, é por identificação, ou seja, segundo Laplanche e Pontaliso, e- i. Laplanche e
J. B. Pontalis: Vocabuleire por «um processo/ psicológico pelo qual um sujeito assimila um de Ia psychanalise aspecto, uma propriedade,um atributo do outro e se transforma, (P U.F., Paris, 1967). totalmente ou parcialmente, a partir do modelo deste», que a/personalidade se transforma, se constitui. A criança, na altura da situação edipiana - que põe em confronto, por um lado, o seu /desejo/ sexual inconsciente pelo progenitor de sexo oposto e o seu ódio pelo progenitor de mesmo sexo (cuja própria morte é ambicionada), e, por outro, a/culpabilidade que daí deriva -, vai encontrar uma solução na/ identificação com este progenitor de mesmo sexo. O rapazinho imita o seu/pai: «Quero ser grande como o papá», torna-se o seu companheiro de/tempos livres, lugar que não cederia a ninguém; a menina comporta-se como a sua/mãe, embeleza-se, interessa-se pelas tarefas domésticas. Mas, não obstante esta mudança de pólo de interesses, o rapaz permanece muito apegado a sua mãe, que acarinha, e a menina a seu pai. Este interesse, este apego pelo progenitor de sexo oposto vai durar até à pré-puberdade. Neste período, o sujeito leva a cabo /esforços para se desligar do progenitor do sexo oposto: a rapariga critica a mãe, torna-se/;< agressiva a seu respeito, o rapaz tem a mesma/atitude relativamente ao pai. Este afastamento das identificaçôes do Édipo está relacionado com os /comportamentos /emotivos e agressivos pelos quais os jovens adolescentes rejeitam a célula/ familiar.
Mucchielli* distingue três maneiras de o adolescente exprimir esta e R. Mucchielli:
Ia Pe onnalité de J'enfant rejeição afectiva; uma primeira maneira consiste em manifestar a (Editio-ns sociales, Paris, sua reprovação dos/hábitos familiares no próprio seio da/acti- 1968), p. 148. vidade da família: as/saídas ao domingo convertem-se em aborrecidos deveres e terminam muitas vezes em ruidosas discussões;
�
AFE
uma segunda maneira consiste em/imaginar e em contar que não é filho dos seus pais, mas de, um ilustre desconhecido com rosto de /herói. É por esta razão que há quem qualifique este período de idade do «romance familiar». Enfim, última maneira, o adolescente gaba o que se passa noutros sítios: na/escola, em casa dos colegas, no desígnio de denegrir o que se passa em sua casa.
Este distanciamento das identificações anteriores, que se explica pela/ inadaptação à nova situação da/ adolescência, desintegra o eu do adolescente. É através de novas identificações que ele alcançará uma reestruturaçã o da sua personalidade. É, pois, à afectividade do adolescente que compete reunir este eu disperso. É pelo /,,jogo do/amor, da/amizade, do ódio, dos grandes sentimentos, os quais sofrem flutuações evolutivas ao longo de toda a adolescência, que o sujeito vai procurar o equilíbrio perdido.
A PROCURA DO EQUILIBRIO AFECTIVO Não é tarefa ligeira estudar os sentimentos adolescentes, porquanto se eles se encontram ao longo de toda a/adolescência, é sempre sob uma forma diferente que varia em função da evolução do eu, e esta, por seu turno, não é idêntica em todos os indivíduos que estão submetidos a influências diversas. É verdade, como o formulou Maurice Debesse, que a adolescência, mais do que qualquer outro período da vida, não se deixa de modo algum compartimentar, e esta é outra prova da sua riqueza sentimental.
O narcisismo
«A constituição do eu como unidade psíquica é precipitada por uma certa imagem que o sujeito adquire de si mesmo, a partir do modelo de outrem, e que é precisamente o eu.»* O movimento o J. Laplanche e
J.-B. Pontalis: de/socialização que se observa por volta dos 6 anos na criança e Vocabulaire de Ia que consiste num progressivo alargamento da esfera das/cama- psycharralise (P.U.F.. radagens sofre, cerca dos 9 anos, um abrandamento. A criança tem Paris, 1967), p. 262.
menos pequenos colegas, mas mantém com eles relações mais estreitas. Isto leva, a maior parte das vezes na pré-puberdade, ao par da mesma idade e do mesmo/sexo. Na/puberdade, este movimento de diminuição da socialização atinge o seu limite extremo no/narcisismo. Todavia, esta evolução vai no sentido de um aprofundamento das/relações afectivas com outrem, como se o adolescente estivesse à procura de si mesmo nos outros e, enriquecido pelo que aí encontrou e que ele interioriza por um jogo de/ identificações e de/projecçõ es, tomasse consciência de si mesmo, da sua pessoa, detendo-se um instante para contemplar, como Narciso, a sua própria imagem.
�
34 A afectividado
O narcisismo provoca a tomada de consciência de si Este/amor por si mesmo, que sobrevém exactamente com o aparecimento da pulsão/sexual, surge também como uma tentativa de resolver a /”angústia que ela traz consigo.
De facto, o sujeito dirige a sua «líbido» (a energia de origem sexual, segundo Freud) para si mesmo no «amor de si» e tenta assim uma uníficação das novas pulsões, guiando-as no sentido do eu tornado objecto, mecanismo elaborado durante a infância por ocasião do período de narcisismo primário, em que o lactente «começa por se tomar a si mesmo -o seu próprio corpo - como objecto de amor»*. Mas ao mesmo tempo que uma tentativa de unificação das * Freud, citado por
J. Laplanche e pulsões sexuais, o narcisismo surge, na adolescência, como tentativa J.-B. Pontalis:
Vocabulaire de Já de uma unificação geral do eu pela tomada de consciência de uma psychanalise (P.U.F., individualidade e, segundo Mucchiellio, «ele desempenha um papel Paris, 1967). p. 261. indispensável na medida em que rompe brutalmente o jogo das ID R. Mucchielli:
Ia Personnalité de 1'enfant /identificações e provoca, simuitaneamente com a tomada definitiva (Editions sociales, Paris. de consciência de si, um salto da/confiança em si mesmo». 1968), p. 159.
Mercê desta confiança em si mesmo, a qual não será isenta de uma certa suficiência, o sujeito já não é solidário de outrem e pode assim pôr à prova a sua/ personalidade recentemente descoberta.
Reconhece-se o narcisiaco pelo tempo
que ele passa diante do espelho Esta preocupação consigo, que constitui o/narcisismo, conduz o adolescente a conceder uma extrema importância ao seu aspecto físico: vemo-lo passar horas diante de um espelho, lamentar-se por causa de uma borbulha no nariz, ganhar um interesse muito vivo pelo seu guarda-roupa. Noutros casos, tenta forçar os elogios dos/colegas acerca do seu físico, simulando tristeza ao contemplar traços que ele diz serem pouco estéticos; as palavras tranquilizadoras dos/amigos lisonjeiam o/amor-próprio do jovem narciso, mas o contentamento desmedido que se segue é bastante frágil; logo surgem novas inquietações, que reavivam esse/coquetismo em que os adolescentes (sobretudo as raparigas) se comprazem. Na adolescente, a preocupação de ser bela vai até à afectação e invade algumas vezes o domínio escolar: são o estojo de unhas na pasta e os perfumes, o bâton para os lábios, que passam a ser objecto de admoestações dos/pais e dos /educadores.
Estas cenas diante do espelho podem parecer anódinas, mas demonstram uma abertura do adolescente sobre si mesmo: uma complacência em analisar-se a si mesmo, em criticar-se, em explorar o seu mundo íntimo. Na verdade, cerca dos 14 anos, o adolescente toma consciência da sua riqueza interior, das suas novas faculdades, dO seu poder, que o enchem de/prazer; é assim que ele pode pas-
�
AFE
sar longos momentos, sozinho no seu quarto, a sonhar; sente alegria em viver, gosta de se considerar um elemento vivo no seio da natureza, tira daí um certo orgulho. Deixa-se viver, longe dos outros a quem dedica um altivo desprezo, bastando-se a si mesmo.
O adolescente sente-se só, único o incompreeno Isto leva-o a experimentar um sentimento de isolamento, que ele procura e é geralmente acompanhado por melancolia, por/tristeza, estados em que se compraz, embora acuse os que convivem com ele de serem responsáveis por tal e de o não compreenderem. Nestas/ depressões, distinguimos uma espécie de prazer mórbido em alimentar a sua mágoa,unicamente pela satisfaçã o de se sentir existir. Hélène Deutsch observou este/ comportamento nas adolescentes, as quais diz projectarem a sua própria incompreensão do mundo no sentimento de serem incompreendidas e terem gosto em chorar. De qualquer modo, como fez notar Mucchielli*, seja qual for o o R. Mucchieifi:
Ia Personnalitá de 1 comportamento que eles adoptem, megalomania ou/depressão, (Editions sociales, F os jovens adolescentes querem sobretudo afirmar que são doravante 1968). p. 159.
seres originais possuidores de uma intimidade na qual já ninguém tem o direito de penetrar.
Os/pais e os educadores não deixam de se inquietar por causa destes comportamentos esquisitos, desta auré ola de extravagância que parece envolver o adolescente, considerando os primeiros que o seu filho «já não tem os pés assentes no chão» e que o estreitamento da sua sociabilidade é perigoso para o seguimento da/adaptação/social. Mas convém que eles saibam bem que este estádio da evolução da/ personalidade é necessário à/maturação afectiva do filho que precisa, para se afirmar, de acreditar nas suas possibifidades, de ter/confiança em si mesmo; logo, não há motivo para se inquietarem com uma certa suficiência mesclada de/vaidade e de desprezo, nem para a censurarem. Se esta/ necessidade de se afirmar for frustrada pela oposição do /ineio, o sujeito experimenta um vivo sentimento de inferioridade e corre o risco de se fixar neste estádio de evolução, permanecendo privado da confiança em si, indispensável para enfrentar as fases futuras. Este sentimento de inferioridade, que o sujeito pode arrastar consigo toda a vida, manifesta-se, por compensação, através da vaidade, da dignidade rígida.
No decurso dos estádios ulteriores da adolescência, o/narcisismo marcará ainda fortemente o comportamento afectivo: os sentimentos de egoísmo, de vaidade, de estima por si, característicos do adolescente, são a prova disso.
�
36 A afectividade
A masturbação
Há um fenómeno frequente na/adolescência e que surge como a expressão sexualizada do/amor por si: a/masturbação, ou onanismo, ocasionada, na opinião de alguns autores, pela necessidade de solidão, pela propensão do adolescente para analisar as suas sensações, decerto, mas também pela impossibilidade de satisfazer de outra maneira as suas pulsões/ sexuais. A masturbação acarreta um sentimento de/ culpabilidade, de/ansiedade e de vergonha. Estes sentimentos são devidos à introjecção dos interditos parentais na consciência/ moral do indivíduo, no decurso do período que o conduziu das/ identificações pós-edipianas à/puberdade. Nos sujeitos que sofreram a influência de um/meio extremamente /-<autoritário e moralizador durante este período, e que têm, por conseguinte, uma consciência/ moral muito rígida, os sentimentos de/ culpabilidade e de vergonha ligados à/masturbação provocam quase sempre uma intensificação desmedida do debate interior e das/atitudes de autodepreciação que podem levar à/neurose. Vemos a/ambivalência dos sentimentos no período do/narcisismo adolescente: os sentimentos de estima por si, de/amor-próprio, de/orgulho, opõem-se à autodepreciação ligada à culpabifidade e à vergonha experimentadas em todos os casos na altura da masturbação. Esta ambívalêncía dos sentimentos é um dos caracteres específicos da afectividade do adolescente: o sujeito acha-se agradável à vista, digno de/amor, mas, simuitaneamente, inquieta-se com a sua «monstruosidade» /moral que lhe causa repugnância -sente-se ao mesmo tempo encantado com as suas novas formas físicas e aterrado pelos seus «maus pensamentos». Mucchielli denuncia «a influência de uma/ educação/ religiosa mal orientada ( ... ) que (... ) suscita em certos sujeitos, simuitaneamente muito sensibilizados para a falta e sexualmente muito ardentes, um agravamento paroxístico da/angústia capaz de ir até à neurose»*. 9 R. Mucchielli:
Ia Personnalité de 1'enfent Editions sociales. Paris,
O narcisismo do adolescente vai evoluir no sentido de um altruísmo 1,968), p. 166. que se assinala pelo impulso para outrem, «impulso do coração», como diz Maurice Debesse, que irá conduzir o adolescente à conquista da sua/ personalidade. Mas é sempre ele mesmo que o adolescente procurará no outro.
Aslamizades
O sentimento de solidão no qual o adolescente se havia comprazido durante a fase do narcisismo torna-se, a pouco e pouco, penoso. Por volta dos 15 anos na rapariga e dos 16 anos no rapaz, faz-se sentir a/,'necessidade de amar e de ser amado, como se a/projecção da/capacidade de amor unicamente sobre si mesmo já não
�
AFE
bastasse, como se a/imaginação se tivesse esgotado a transformar uma realidade bem pobre e que é agora preciso alimentar por meio de/esforços exteriores. Esta/confiança em si, que o adolescente conquistou, tem necessidade de se reforçar na aprovação benevolente de um/,arnigo. Um tal impulso toma o aspecto de uma autêntica paixão: o adolescente anseia por conhecer, e o seu entusiasmo, como diz L. Dintzer, «cria espontaneamente um laço». Uma circunstância fortuita, uma/,, confidência escapada a um colega que faz entrever uma alma gêmea, ou um serviço prestado num momento difícil, estão na origem da escolha impulsiva e irracíonal do/,@amigo ou da amiga, e acontece a paixão súbita. O adolescente não tem necessidade de conhecer este novo amigo, aceita-o logo à primeira vista como se ele realizasse de uma forma absoluta a imagem do amigo ideal. Nenhuma crítica, nenhum realismo condicionam a adesão total a este novo objecto que vai ser, por sua vez, moldado pela/ imaginação. Mucchielli vê em tal/;<projecçâ0 a expressão de uma espécie de «amor flutuante», como se o/amor, com a sua força e a sua qualidade particulares, preexistisse a todo o investimento num ser, num objecto ou num ideal, como se ele flutuasse em busca ou à espera daquilo sobre que irá cair. Esta espontaneidade na projecção reencontra-se no nascimento do amor, por altura da escolha do objecto deste, e reflecte a/atitude geral do adolescente frente aos objectos da sua afectividade.
Os pares de amigos insep« são caracteristicos da adole» Estas/amizades adolescentes que seguem a evolução da sociabilidade do indivíduo foram reduzidas à sua expressão mais simples durante o período de/narcisismo. A necessidade de amizade satísfaz-se amiúde, na/ adolescência, no «par/homossexual»: par da mesma idade e do mesmo/ sexo em que a relação sexual não é habitual, mas constitui uma possibilidade. Sob formas variadas, este par reencontra-se em todos os estádios da adolescência. Paralelamente aos seus,,"flirts e à s suas diversas convivências, o adolescente mantém sempre um amigo a quem se pode confiar. Vemos aqui um prolongamento de uma fase da evolução da afectividade: a que, na pré-puberdade, consistia numa verdadeira solidão a dois no par de amigos da mesma idade e do mesmo sexo, fechado a qualquer intromissão de outrem. É o bem conhecido par de inseparáveis que se encontram todas as manhãs à entrada da/escola: os dois amigos «contam tudo» um ao outro, têm a impressão de viver em simbiose, nunca se separam durante os recreios e desprezam sistematicamente o intruso que se atreve a participar nos seus conciliábulos; em casa, cada um gaba as qualidades do outro - que, aliás, as tem todas. Eles imitam-se mutuamente em todos os seus,, comportamentos, até se assemelharem, De facto, cada um deles é o espelho em que o outro contempla a sua própria
�
38 A afectivídade
imagem com enlevo. Este fenômeno prepara o período de/narcisismo que a/puberdade trará consigo.
Tais amizades a dois são necessárias ao bom andamento da futura evolução afectiva e/social, pois, no «outro eu mesmo», o sujeito acha, por/ identificação, os elementos do seu eu futuro. É por isso que Mucchielli insiste na necessidade de nos inquietarmos com a ausência de qualquer laço de amizade que, segundo ele, traduz a solídão/moral e é o sinal de uma/,, socialização

Outros materiais