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Farmaco Cinetica e Dimanica

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F A R M A C O L O G I A
 	Duas características clinicas influenciam a escolha de um fármaco no tratamento de uma patologia: o que a droga faz ao corpo ( mecanismo de ação) e o que o corpo faz com a droga. A primeira parte é chamada de farmacodinâmica e a segunda de farmacocinética. A cinética, portanto, estuda as vias de administração, absorção, metabolização, distribuição e excreção dos fármacos.
 	As duas ciências se complementam e são necessárias para a compreensão plena da farmacologia. Começamos nosso estudo pela compreensão da farmacocinética.
 F A R M A C O C I N É T I C A
	 	Como já foi dito a farmacocinética estuda as vias de administração, absorção, metabolização, distribuição e excreção dos fármacos, ou seja, tudo que acontece na enrtrada e saída dos medicamentos dos tecidos e compartimentos do corpo , como o sangue. Para primeiro entendermos as drogas devemos analisar de que forma elas se apresentam para depois podermos estuda-las. 
 	É preciso entender onde ocorrerá a absorção e quanto da droga será absorvida, para que a droga não perca o seu efeito ou tenha seu efeito prolongado demais, o que poderia causar efeitos colaterias. Para começar a entender a farmacocinética devemos primeiro analiasra como se apresentam os fármacos para depois podermos melhor escolher a via que devemos administra-lo.
I. Formas Farmacêuticas 
As formas de apresentação uma droga são chamadas de formas farmacêuticas e é importante conhecê-las para entender como administrá-las. As drogas se apresentam como:
Comprimidos: é o sal comprimido em uma forma geralmente cilíndrica, de duas faces, ou em forma de lentilha. Quando se apresenta em forma arredondada é chamada de pílula. Apresenta uma substancia inócua que serve para completar o volume, o excipiente, e é geralmente administrada na forma oral ou sublingual.
Drágea: pode ser definido como um comprimido revestido por uma camada açucarada, que tanto pode permitir maior resistência ao pH gástrico, como também permitir um sabor mais palatável da droga. È usado por via oral.
Cápsula: nesta forma o sal, em forma de pó, liquido ou em pelets (“bolinhas”) é envolvido por uma cápsula gelatinosa que o protege da degradação, principalmente causada pelo pH ácido gástrico. A absorção é geralmente mais lenta que o comprimido e ocorre no intestino delgado. Também o uso é pela via oral. É importante ressaltar que na administração por via oral não se deve jamais quebrar a cápsula, sob pena de grande perda do efeito do fármaco.
Solução: trata-se de uma preparação de água e sal do fármaco. Quando a droga não é solúvel em água usa-se uma substancia de efeito detergente que então permite a preparação da solução, agora em forma de suspensão. Sua administração pode ser em gotas, por colírio ou endovenosa. Quando a solução tiver a adição de álcool ela passa a ser chamada de essência.
Xarope: trata-se de uma solução de água mais o sal do fármaco mais açúcar, o que a torna mais palatável. Se à essa solução açucarada for acrescido álcool passamos a ter um elixir. São administradas geralmente por via oral
Pomada: preparações a base de óleo para uso tópico são chamadas de pomada. Normalmente permanecem tempo na pele e permitem maior tempo de absorção e ação da droga. Já o creme tem maior parte base oleosa, mas apresenta maior quantidade de água quando comparado com a pomada. Tem características semelhantes à mesma. O gel e a loção tem pouca base oleosa e mais parte aquosa, por isso assim “secam” mais rapidamente na pele. Permitem menor absorção da droga, apesar de mais rápida. De forma geral, tem uso mais cosmético.
Supositório: droga administrada por via anal é normalmente preparada em base oleosa, como manteiga de cacau, e em formato oblongo. Pode ser envolta por uma cápsula.
Inalatória: são drogas em suspensão gasosa, usadas pela via inalatória.
II. Vias de Administração
 	Já que vimos as formas de apresentação dos fármacos, vamos agora analisar as vias de entrada das drogas para que possamos melhor compreender a absorção e metabolização de cada fármaco.
As drogas podem ser administradas por:
1 – Via Oral ou Enteral: 
 	Forma mais utilizada pela praticidade e por permitir uma boa absorção da maior parte dos medicamentos. As drogas são absorvidas mais de 90% no intestino delgado (jejuno) e a absorção depende da solubilidade da droga na parede intestinal, meio lipossolúvel. Vários fatores podem influenciar a absorção dos fármacos pela via oral:
– Motilidade intestinal; a motilidade não poder ser muito rápida ou muito lenta pois pode afetar a absorção da droga. A metoclopramida, medicamento que aumenta a motilidade, aumenta a absorção. No entanto durante episódios de diarréia, quando os movimentos estão muito rápidos, a absorção é muito prejudicada. Tomar uma droga pós refeição, ou em casos de constipação, retarda a absorção, pois a chegada ao intestino fica mais lenta.
– Fluxo de sangue esplênico: o fluxo de sangue no intestino afeta a absorção da droga. Pessoas com choque volêmico, tem fluxo muito diminuído e com isso uma absorção muito prejudicada. Nesses casos a via endovenosa é mais indicada.
– Tamanho do fármaco: sabe-se que o tamanho do comprimido ou da cápsula pode afetar diretamente a absorção. Compostos muito grandes podem ter absorção bastante diminuída, como se verificou em casos com a digoxina (fármaco usado em pacientes cardíacos).
– Fatores físico-quimicos: a absorção de determinados fármacos pode ser prejudicada por fatores químicos ou físicos. A tetraciclina liga-se ao Ca e assim tomar o antibiótico com alimentos ricos em Ca quase impede totalmente a sua absorção. As cápsulas são preparações feitas com a intenção de proteger do pH gástrica, o que leva a uma liberação mais lenta do fármaco. Isso permite que a concentração plasmática da droga permaneça constante por mais tempo, impedindo que ocorra picos de concentração.
 	Vale ressaltar que alguns fármacos são administrados via oral não para produzirem um efeito sistêmico, como na maioria dos casos, mas sim para produzir um efeito local. A vancomicina é um antibiótico muito pouco absorvido e seu uso via oral se justifica somente para se tratar infecções no trato digestório.
	 	As vias em que a absorção não ocorre no intestino delgado são chamadas de Vias Parenterais e elas serão analisadas nos itens a seguir.
2 – Via Sublingual
	 	A via sublingual é utilizada em casos onde a droga se torna instável em meio acido, que ocorre no estomago, ou quando se deseja um efeito mais rápido, pois na via sublingual a droga não passa pelo fígado e vai direto para a corrente sanguínea. Um exemplo de droga é o trinitrato de glicerol para tratamento cardíaco.
3 – Via Retal
	 	A absorção na via retal é pequena e o uso desta via só se justifica quando o paciente sofre de forte hemese ou em crianças epiléticas, quando a via oral não se torna uma boa opção, e também em tratamentos do colo intestinal.
4 – Via Epitelial
	 	Vários epitélios podem ser usados como ponto de administração e absorção de drogas. As vias epiteliais são:
4.1 – Cutânea: a administração de medicamentos pela pele quase sempre ocorre quando se necessita uma ação tópica, ou seja, local. São os casos das diversas loções e pomadas para tratamentos antiinflamatórios, cosméticos, antimicóticos, etc... Apesar de normalmente a absorção cutânea ser pequena, algumas drogas tem grande absorção pela pele. É o caso dos inseticidas organo-fosforados. Pessoas que tem contato com o inseticida em grande área da pele podem apresentar sérias intoxicações.
4.2- Nasal: alguns sprays nasais são usados, como por exemplo, para a aplicação de ADH sintético, ou vasoconstritores . A absorção ocorre pela mucosa nasal.
4.3- Colírios: drogas com efeito tópico nos olhos e que tem muito pouca absorção. No entanto, são relatados casos de colírios com timolol que podem induzir crise asmática, o que sugere que também ocorre absorção e efeito sistêmico com o uso de colírios. 
4.4- Inalação: A grande área de absorção nos pulmões,pela alta rede capilar nos alvéolos, torna esta uma via interessante para alguns fármacos. Os anestésicos inalatórios são bastante utilizados pois permitem um grande controle da dose plasmática, já que se evita a passagem do fármaco pelo fígado e a perda de dosagem do fármaco. 
5 – Via Por Injeção
As injeções podem ser por via:
-subcutânea
-intra-dérmica, 
- intramuscular
- endovenosa
	 	As administrações por injeção são as de absorção mais rápida, mas não são tão práticas, já que requerem a presença de um profissional quase sempre. Além disso a administração por injeção pode levar a lesões e infecções. Assim, só são utilizadas quando é necessário um efeito rápido do fármaco, ou quando as outras vias mencionadas não puderem ser utilizadas. A via endovenosa é a de mais rápida absorção entre as vias por injeção.
III. Metabolização de Fármacos 
	 	Quando a droga atinge diretamente a corrente sanguínea, como nas drogas administrados por injeção ou sublingual, ela não passa pelo fígado e não sofre metabolização. Já quando a droga é absorvida pelo trato digestório, na administração por via oral ou enteral, por exemplo, a droga chega ao fígado. Lá essa droga pode sofrer um processo de metabolização que pode inativar parte da droga ou modificá-la. Nesse casos, normalmente o fármaco passa por duas reações chamadas de metabolização fase 1 e fase 2. Vamos analisar essas fases.
Fase 1: nessa fase, normalmente é acoplado um grupo químico novo a droga, como uma hidroxila ou uma amina. Esse acoplamento é mediado pela enzima do citocromo P450 e essa fase é conhecida com fase anabólica.
Fase 2: Já nessa fase o novo composto obtido pela fase 1 é inativado pela adição de um grupo químico àquele grupo primeiramente acoplado. Essa nova molécula normalmente é menos lipossolúvel e pode então ser excretada pela urina.
 	 	Após a passagem pelo fígado a droga então chega a corrente sanguínea onde vai para os tecidos específicos para que se obtenha seu efeito. A quantidade de droga que chega ao sangue após a metabolização hepática determina a chamada biodisponibilidade do fármaco; em outras palavras, biodisponibilidade é a quantidade de fármaco que consegue alcançar a corrente sanguínea após a absorção enteral e a metabolização no fígado. É claro que o estudo da biodisponibilidade é mais importante na administração oral, já que nas vias por injeção ou sublingual não ocorre metabolização hepática e portanto a biodisponibilidade é quase total. Já a administração por via epitelial tem principalmente efeito tópico e portanto não chega ao sangue. 
	 	Alguns fármacos sofrem tamanha metabolização na passagem pelo fígado que praticamente não conseguem chegar ao sangue. São drogas que sofrem o metabolismo de primeira passagem e por isso não devem ser administradas por via oral sob pena de não se conseguir e feito desejado. Já alguns fármacos como a azatioprina, um imunosupressor, e o enalapril, um anti-hipertensivo, só produzem efeito após serem metabolizados no fígado. Eles são administrados em uma forma inativa que somente se torna ativa e eficiente após a passagem hepática. Algumas drogas mudam sua ação; a aspirina tem ação anti agregação plaquetária e após a metabolização hepática passa a ter efeito anti-inflamatório, mas perde seu efeito de impedir a agregação plaquetária. Por fim, alguns metabólitos podem ter ação tóxica. Por exemplo, o paracetamol, ao ser administrado em altas doses, passa a ser metabolizado no composto N-acetil-p-benzoquinona imina (NAPBQI), que provoca oxidação e morte celular hepática, causando até a morte. 
IV. Distribuição do Fármaco
	 	Quando analisamos a ação da droga não conseguimos verificar exatamente sua concentração plasmática, mas podemos analisar seus efeitos. Assim podemos definir o chamado DE50 que corresponde a 50% da dose em que se verifica o maximo efeito do fármaco. Já a DL50 é o valor de 50% da dose que pode ser letal do mesmo medicamento. Como existe uma grande variabilidade entre os indivíduos se torna difícil estabelecer essa dose. Assim, de modo mais simples, a DE50 é a dose que se mostra eficaz em 50% da população, enquanto a DL50 é a dose letal para 50% da população.
 	Após a passagem pelo fígado e a chegada a corrente sanguínea a droga vai ser distribuída pelo corpo. Para passar do sangue para o espaço extra celular e deste para as células a droga precisa atravessar as barreiras impostas pelas paredes dos vasos e as membranas celulares. Como essas duas barreiras são meios lipídicos, drogas mais apolares, lipossolúveis, tendem a penetrar mais facilmente nos tecidos. Já drogas polares, hidrossolúveis, não apresentam a mesma facilidade.
	 	Também o pH é um fator importante a se analisar. Isso porque fármacos que são ácidos ou bases fracas tendem a se ionizar em meio contrario, ou seja ácidos fracos se ionizam em meio básico, como o duodeno ou o plasma sanguíneo e bases fracas tendem a se ionizar em meios ácidos, como o estomago. Como efeito dessa ionização a droga se torna mais polar e isso pode alterar a absorção e a distribuição do fármaco.
	 	O SNC possui uma importante barreira à chegada de medicamentos; a chamada barreira hemato-encefálica. A barreira se caracteriza por uma serie de células endoteliais unidas que impedem a passagem de qualquer molécula polar, como os antibióticos. No entanto, em infecções e inflamações, como a meningite, a barreira se torna permeável, o que permite o uso de penicilina, por exemplo.
	 	Algumas drogas se ligam proteínas transportadoras, e assim penetram as células, em caso de serem semelhantes a substancias endógenas, mas a maioria das drogas polares tende a permanecer mais no espaço extra celular. Já as drogas lipossolúveis, como já foi dito, penetram facilmente nas células e podem, inclusive, se acumular, em alguns casos, no tecido adiposo.
V. Excreção do Fármaco 
	 	Após a passagem pelo fígado e a chegada a corrente sanguínea para mostrar sua ação, a droga finalmente vai ser excretada. Assim passamos a analisar agora as formas de excreção das drogas. As drogas podem ser eliminadas pela trato intestinal, junto com as fezes, ou pelo sistema renal junto com a urina.
1-) Excreção Intestinal: Poucas drogas são eliminadas pelo trato intestinal. Essas drogas formam compostos hidrofílicos e são excretados pelo fígado junto com a bile e são lançados no duodeno para serem excretados junto com as fezes. São exemplos o vecuronio (relaxante muscular) e a rifampicina. Outras drogas, como a morfina são lançados no duodeno junto com a bile e ao invés de serem eliminadas, são novamente absorvidas, criando uma circulação entero-hepatica (intestino-absorção → fígado – bile → intestino-absorção, etc...) que tende a se repetir varias vezes.
2-) Excreção Renal: a grande maioria das drogas é eliminada pela via renal. É relevante se dizer que existe uma grande variabilidade na velocidade com que cada droga é retirada do sangue pelos rins. Três processos são fundamentais na excreção renal e aqui vamos analisá-los:
2.1 – Filtração Glomerular: Apenas drogas de peso molecular muito alto, ou ligadas a proteínas plasmáticas, como a albumina (exemplo a varfarina), são retidas pelos glomérulos. Todas as outras drogas passam aos túbulos renais.
2.2 – Secreção Tubular: as drogas podem ser eliminadas por transportadores específicos para a luz dos túbulos dos nefrons. Existem transportadores para ácidos e para bases e esse transporte é ativo, o que permite que mesmo drogas ligadas a proteínas no plasma, como a penicilina, possam ser excretadas por essa via.
2.3 – Difusão nos túbulos renais: a permeabilidade do tubo pode permitir que a droga possa ser reabsorvida nos rins, o que diminui a sua excreção. Drogas lipossolúveis são eliminados de forma muito pequena, enquanto drogas mais polares tendem a permanecer nos túbulos.
	 	A medida de excreção das drogas pode ser obtida através do clearance renal que corresponde ao volume que contem a quantidade de droga a ser depurada em certo tempo.
 F A R M A C O DI N Â M I C A
	 	O estudo da farmacodinâmica é o estudo do mecanismo de ação das drogas, ou seja, como a droga modifica nossas células e tecidos. Uma droga, ou fármaco, pode ser definida como uma substância química capaz de alterar a fisiologia de uma célula ou tecido. As vezes essa alteração faz com uma célula em estado patológico pode voltar a um estado fisiológico; é quando a droga passa a ter efeito terapêutico. 
	 	As drogas, essencialmente, alteram os fenômenos de comunicação neurônio-músculo ou neurônio-neurônio, que são o potencial de ação e a sinapse. Então vamos rever esses dois conceitos da fisiologia.
I. Sinapse 
	 	 A sinapse ocorre para que a informação ou mensagem, passe de um neurônio para outro, dentro das vias neurais, ou de um neurônio para um músculo liso ou estriado. Nós veremos que o potencial de ação é um fenômeno elétrico. Já a sinapse é química. Basicamente quando o primeiro neurônio quer passar uma informação para um segundo neurônio ou um músculo, ele envia uma substância química para a segunda célula. Essa substância é chamada de neurotransmissor e a passagem da mensagem, através do neurotransmissor, de uma célula a outra é chamada de sinapse. 
 	Para facilitar a explicação, vamos considerar a sinapse entre dois neurônios; mas convém sempre relembrar que ela também ocorre na junção neuromuscular, de um neurônio a um músculo. No esquema da figura 1 podemos ver como ocorre a sinapse. Ela quase sempre ocorre do axônio para o dendrito do próximo neurônio. O primeiro neurônio, que está enviando a mensagem é chamado de neurônio pré sináptico, enquanto o segundo neurônio, que recebe a mensagem, é chamado de neurônio pós sináptico. Na junção neuromuscular o músculo é a célula pós sináptica. 
	 	Na porção final do axônio, chamada terminal nervoso, existem vesículas que armazenam o neurotransmissor. Quando o neurônio é ativado, o impulso nervoso (potencial de ação) corre o axônio e chega ao terminal nervoso. Esse potencial tem o efeito de promover a abertura canais de Ca o que provoca a entrada do íon no terminal. O influxo de Ca, por sua vez, provoca o deslocamento e rompimento das vesículas, após essas se fundirem com a membrana neuronal.
	 	Com o rompimento das vesículas ocorre a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica, que é o espaço fisiológico entre os 2 neurônios da sinapse. Esse neurotransmissor então se liga ao neurônio pós sináptico em uma estrutura especial chamada de receptor pós sináptico (figura 3). Assim que o neurotransmissor se liga ele ativa um mensageiro celular, que pode ser o AMPc ou o inositol-fosfato e este, por sua vez, ativa proteínas específicas no núcleo do neurônio. Essas proteínas então disparam o potencial de ação na zona de disparo no axônio, o que leva a propagação da corrente e da mensagem por todo o axônio do neurônio pós sináptico. Essa corrente atinge o terminal nervoso e pode novamente iniciar uma sinapse com outro neurônio. Além do receptor pós sináptico, pode ocorrer a ligação em um receptor pré sináptico localizado no terminal nervoso pré sináptico. A ligação do neurotransmissor nesse receptor controla a produção do neurotransmissor e sua liberação pelas vesículas.
	 	Para garantir a ligação dos neurotransmissores nos receptores pós sinápticos, são liberados neurotransmissores das vesículas em grande quantidade na fenda sináptica. Para ocorrer um controle dessa quantidade de transmissores na fenda e evitar que ocorra um excesso de mensagens no SNC, o neurônio possui 2 mecanismos de controle. Na fenda ou no terminal nervoso há a presença de uma enzima de degradação ou inativação, que tem a função, como seu nome diz, de inativar ou degradar o neurotransmissor correspondente diminuindo assim a presença do neurotransmissor na fenda. Além dessa enzima, uma proteína na membrana do terminal nervoso do neurônio pré sináptico, chamada de bomba de recaptação, promove a volta do neurotransmissor para o neurônio pré sináptico, onde ele vai ser inativado pela enzima ou novamente armazenado nas vesículas (Figura 1). É importante que ocorram os dois processos ao mesmo tempo na célula; a inibição de só um deles, a recaptação ou a enzima inativadora, é o suficiente para que ocorra um aumento significativo de sinapses e mensagens no SNC.
Figura 1 – Sinapse de serotonina, onde observamos os neurônios pré e pós sináptico, a fenda sináptica, o receptor pós sináptico, a bomba de recaptação (transportador de recaptação) e as enzimas de degradação (monoamino-oxidase e catecol-orto-metiltransferase).
	 	
	 	Algumas drogas podem inibir algum dos processos. Assim inibidores de recaptação aumentam o número de neurotransmissores na fenda, o que aumenta a sinapse. Também inibidores da enzima de degradação aumentam o número de neurotransmissores na fenda e aumentam a sinapse. Ambas classes de drogas podem ser utilizadas em distúrbios em que ocorre produção ou liberação diminuída do neurotransmissor, como a depressão ou o Parkinson.
 	Já outras drogas que agem nas sinapses podem ter efeitos semelhantes ou inversos ao dos próprios neurotransmissores. Quando a droga age “imitando” a ação do neurotransmissor diz-se que ela tem um efeito agonista; nesse efeito a droga vai aumentar a quantidade de sinapses. Isso normalmente se dá pela ligação da droga nos receptores pos sinápticos e essa ligação tem o efeito de síntese do segundo mensageiro, disparo do potencial de ação e a passagem da mensagem. Também podemos ter um efeito de aumentar a sinapse pelo aumento da liberação ou da síntese do neurotransmissor, o que também tem um efeito agonista. Por fim as drogas também podem se ligar as receptores pré sinápticos, aumentar a liberação dos neurotransmissores nas vesículas, impedir o armazenamento nas vesículas ou alterar a síntese dos neurotransmissores e assim alterar a sinapse.
 	 Já outras drogas ao se ligarem aos receptores não produzem qualquer efeito e ainda impedem a ligação do neurotransmissor, interrompendo a sinapse; são chamadas de antagonistas competitivos. Os antagonistas são competitivos, quando se ligam aos receptores pos sinápticos e diminuem a quantidade de sinapses por impedirem a ligação do neurotransmissor. Mas também podem ser não competitivos quando atuam inibindo a síntese ou a liberação dos neurotransmissores no terminal nervoso pré sináptico, diminuindo o número de neurotransmissores e sinapses. 
	Também é importante notar que o mesmo neurotransmissor pode apresentar diferentes tipos de receptores pos sinápticos, conforme a área do SNC ou a víscera em que ocorre a sinapse. Por exemplo, a noradrenalina pode-se ligar a mais de 4 diferentes receptores, a acetilcolina a mais de 2 diferentes receptores e a serotonina a pelo menos 8 diferentes receptores. Assim algumas drogas que afetam a sinapse da noradrenalina podem se ligar a um receptor e não se ligar a outro. Por isso a droga pode atuar em um órgão, mas não ter efeito sobre outro.
	Isso é bastante importante na analise farmacológica das drogas. Assim, um agonista pode ser agonista de um tipo de receptor, mas não de outro. Usando o exemplo acima, a noradrenalina tem receptores chamados de alfa 1 e 2, e beta 1 e 2. Os receptores beta 1 estão presentes no coração, e beta 2 presentes nos pulmões e brônquios. Assim, existem drogas agonistas que somente atuam em beta 2 e tem ação quase que somente no sistema respiratório, enquanto as que atuam em beta 1 tem ação preferencialmente no coração. Por isso, as drogas são classificadas como agonista beta1 ou agonistas beta 2, e não só como agonistas de noradrenalina. O mesmo principio vale para todos neurotransmissores e para antagonistas.
II. Potencial de Ação 
 	Na transmissão de mensagens entre neurônios e neurônios e entre neurônios e músculos lisos e estriados é de suma importância a corrente elétrica que vai ativar as células neuronais e musculares. Essa corrente é responsável pelas mensagens no SNC e pela liberação de Ca nos músculos, incluindo coração, que é responsável pela contração muscular. Precisamosportanto analisar como ocorre o potencial de ação.
 	O potencial de ação é um fenômeno físico e químico. Para estudá-lo, devemos antes compreender a estrutura da membrana de um neurônio ou de um músculo. Na membrana celular existe a presença de uma estrutura protéica chamada bomba de Na/K que tem uma função de jogar constantemente íons Na para fora do neurônio e íons K para dentro. Para cada 3 íons Na jogados fora a bomba coloca 2 íons K para dentro. Tanto o Na quanto o K são íons positivos, ou seja, possuem cargas elétricas positivas. Assim a bomba tende a acumular mais cargas positivas fora do neurônio. Além disso a membrana possui canais para a entrada e saída de Na e K. Enquanto os canais de Na permanecem fechados quando o neurônio esta em repouso, os canais de K ficam todo o tempo aberto, o que mais facilita a saída de cargas positivas da célula. Também na membrana celular do neurônio existem proteínas voltadas para o interior do neurônio que são carregadas negativamente.
 	Isso tudo faz com que o lado interno da célula fique negativo em relação ao lado externo , ou seja, o meio externo possui mais cargas positivas que o meio interno. Esse processo de acúmulo de mais cargas positivas do meio externo em relação ao meio interno cria um fenômeno físico chamado de ddp, ou diferença de potencial. Todo lugar em que existe uma ddp pode se criar uma corrente elétrica. Ë possível se medir essa diferença de cargas (ddp) e o valor dessa diferença no neurônio é de -70 mV (milivolts), valor negativo já que, como vimos, o interior do neurônio é negativo (tem menos cargas positivas) em relação ao exterior. No músculo sse valor é de -90 mV. Para efeito de comparação, podemos pensar que a tomada elétrica de nossas casas tem uma diferença de cargas para a chave de entrada, por isso há passagem de corrente elétrica. O valor da diferença em nossas casas é de 110 V ou 220V.Voltando as células, esse processo acima descrito acontece com a célula em repouso, por isso é chamado de potencial de repouso. 
 	Quando o neurônio vai passar a informação, ou ser ativado, ou quando vai ocorrer a contração muscular, a célula cria uma corrente elétrica que modifica esse potencial de repouso. Corrente elétrica se caracteriza pela corrida de cargas de um lado para outro. Para se criar a corrente, ocorre a abertura de canais específicos na membrana do neurônio que permitem a entrada dos íons Na que estavam fora. A entrada ou corrida desses íons com carga positiva, daí corrente elétrica, faz com que o interior do neurônio, que era negativo em -70 ou -90 mV, fique positivo em até +60 mV. Esse processo em que se sai de uma polaridade negativa para uma positiva é chamado despolarização e a alteração de negativo para positivo no interior do neurônio ou do músculo com a corrida das cargas dos íons Na, caracteriza a corrente elétrica que vai passar a mensagem no neurônio. A despolarização caracteriza a primeira fase do potencial de ação.
 	Após a corrente passar, a célula tende a voltar ao “normal”, ou seja, ao potencial de repouso. Para isso ela começa a jogar carga positiva fora. Como a carga que havia sido armazenada era o K, é esse íon que começa a sair em grande quantidade. Em certo momento também começam a sair os íons Na que haviam entrado e essa grande saída de cargas positivas faz com que novamente a polaridade do neurônio fique negativa. Esse processo é chamado de repolarização, já que há o retorno à polaridade negativa. Mas a célula perde tanto K e Na que fica mais negativo do que antes, no neurônio de -70 mv (repouso) ele chega a -100 mv, o que caracteriza uma hiperpolarização negativa do neurônio. Esse estado em que o neurônio está muito negativo é chamado de período refratário e se caracteriza pela incapacidade da célula de responder a qualquer estímulo e dura normalmente apenas alguns milésimos de segundos. No músculo a hiperpolarização ocorre da mesma forma com valores de -110 mV.
 	Quando a célula atinge a hiperpolarização negativa ocorre um sinal celular para que todos os canais se fechem, e com isso a bomba de Na/K faz com que as cargas se equilibrem e voltam ao potencial de repouso de -70 mV ou -90 mV e nesse ponto ele está pronto para novamente receber um impulso (para todo o processo ver gráfico 1). 
 	Em alguns casos o potencial de ação ocorre de maneira excessiva, como no caso da epilepsia; já em outros casos, um músculo lesionado não pode fazer mais esforço e precisa diminuir sua atividade diminuindo a geração de potencial de ação, como em um coração arrítmico, com angina ou lesionado. Em ambos os casos a diminuição da geração do potencial de ação pode ser obtida com drogas que bloqueiam os canais de Na ou K, inibindo a despolarização e a repolarização e aumentando o potencial de repouso. Isso diminui a atividade cardíaca ou do SNC ajudando a terapia desses casos clínicos.

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