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Unidade 1 Introdução à Economia 13 Ponto de partida Esta unidade introduz os conceitos de Economia e seus ramos de estudo, assim como a evolução do pensamento econômico até os dias de hoje. Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os conceitos de Economia e distinguir seus ramos de estudo; • conhecer termos importantes que se relacionam com a Economia; • identificar os problemas fundamentais da economia; • conhecer como o pensamento econômico evoluiu até os dias atuais. >> Refletindo Lembre-se: a sua reflexão é individual! Não precisa ser enviada aos tutores. 14 Roteiro do conhecimento 1.1 Compreendendo a Economia De acordo com Pinho, Gremaud e Vasconcellos (2004), a Economia é uma ciência social que estuda como o indivíduo aloca seus recursos escassos, a fim de satisfazer suas inúmeras necessidades. Pense no seu dia a dia: um de seus recursos escassos é a sua mão de obra. Você precisa decidir quantas horas irá trabalhar, em qual função e para qual empresa. Decidido isso, você recebe pela sua mão de obra um salário: é com ele que você tenta atender as suas ilimitadas necessidades, como moradia, ali- mentação, conforto, lazer, entre outras. Observe que todos nós lidamos com um problema de escassez: nossos recursos são limitados e, em contrapartida, nossas necessidades parecem sempre ilimitadas. 1.2 O problema central do estudo econômico Como observado no item 1.1 nos deparamos diariamente com problemas eco- nômicos que exigem de nós a tomada de decisões que mais nos beneficiem. Estes problemas estão ligados ao ponto central do estudo econômico: a ES- CASSEZ. É por meio dela que nos comportamos economicamente, embora nem saibamos disso! De forma sucinta podemos definir a escassez como a falta ou insuficiência de algo que, se disponível, atenderá nossas necessidades e desejos. Assim, econo- micamente, nos deparamos, enquanto consumidores, com o problema da es- cassez de dinheiro que no jargão econômico é mais conhecido como RENDA. Você já se deparou com uma situação em que você gostaria de comprar dois produtos ao mesmo tempo, mas foi obrigado a fazer uma ESCOLHA entre um dos dois, dado a insuficiência da sua renda? Pense nisso! 15 Imagine que você queira adquirir, no mesmo momento, um telefone celular de última geração e um novo equipamento de som para o seu carro. Mas quando você avalia os preços, conclui que sua renda, naquele momento, não é sufi- ciente para comprar os dois produtos e você se vê em um dilema: comprar o telefone ou o equipamento de som? Este é um exemplo de um problema eco- nômico oriundo da escassez de recursos. É com a renda e nossas escolhas que podemos a partir da aquisição de bens e serviços, nos satisfazer e, no aspecto econômico, alcançar nosso objetivo prin- cipal que é a maximização da satisfação ou o alcance do bem-estar. Se você escolheu comprar o telefone celular é porque avaliou que, naquele instante, este produto lhe proporcionaria um nível de satisfação superior caso adqui- risse o equipamento de som. Observe que se você escolhesse a segunda opção, também teria satisfação, mas a primeira foi a que mais satisfação lhe propor- cionou. Também as empresas, outro importante ator do ambiente econômico, se de- param com o problema da escassez. No caso delas a questão está ligada aos recursos produtivos (matérias-primas, insumos, bens de capital etc.) que são fundamentais para a realização do processo de produção dos bens e serviços que nós consumidores, necessitamos e/ou desejamos. Assim as decisões eco- nômicas das empresas devem levar em conta o uso eficiente destes recursos que, sem bem utilizados, poderão elevar a produtividade e permitir que elas conquistem o seu principal objetivo econômico, a maximização do lucro. Uma empresa que produz televisores e aparelhos de DVD deve escolher as quantidades de ambos os produtos que mais lucros podem gerar. Um exemplo é o caso da copa do mundo de futebol. A decisão, neste caso, deve levar em conta o aumento da procura por novos televisores, mais modernos e tecnoló- gicos, o que vai exigir da empresa, dada a limitação de seus recursos produti- vos, o aumento da produção de TV’s em detrimento à novos DVD’s. Por exem- plo, operários que estão produzindo DVD’s serão alocados para a produção de televisores e isso diminuirá a produção de DVD’s. Observe que tanto consumidores quanto empresas devem escolher as alterna- tivas que maior benefício possam gerar a partir de suas decisões econômicas. 16 É, portanto, na escassez que se assenta toda a justificativa do estudo econô- mico, pois se os recursos são escassos, devem ser bem administrados. Para entender melhor esta afirmação, pense em um mundo onde tudo fosse abun- dante. Já pensou se você tivesse uma carteira em que a todo o momento que você retirasse uma nota de R$ 50,00, outra aparecesse imediatamente? Se esse mundo existisse não haveria a necessidade de se estudar Economia! Perceba, portanto, que a questão central do estudo da Economia é como alo- car os recursos escassos de uma economia de modo a atender o máximo das necessidades humanas (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Para analisar essa questão nos diversos níveis de sociedade que temos, o estudo da economia foi dividido em quatro áreas: Microeconomia, Macroeconomia, Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico. Mas, quais as dife- renças entre elas? A Microeconomia preocupa-se em estudar as escolhas dos indivíduos, das famí- lias e empresas e como elas afetam a formação de preços em mercados específi- cos. Por outro lado, o foco de estudo da Macroeconomia é como essas escolhas afetam os agregados nacionais (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Figura 1.1 – Escolhas individuais Legenda: As escolhas dos indivíduos e empresas afetam a Micro e a Macroeconomia. Imagem: 123RF (2014). 17 Na Macroeconomia há um interesse com os conceitos de externalidades (po- sitivas e negativas), bens públicos e recursos comuns. Isso porque, como ela considera os agregados nacionais e o bem-estar da população, existe uma preocupação com a melhor gestão dos recursos comuns. Esses recursos são aqueles empregados pela população, nos quais não é possível determinar um preço pela sua utilização (ROSSETTI, 2003). Um exemplo de recurso comum são os recursos ambientais, como um banho de mar. Não é possível, ao gover- no, determinar quanto cobrará da população por um mergulho no mar. Porém, quando esse recurso é mal utilizado, o mar fica poluído. Neste caso, há o que chamamos de externalidade para toda a população, desde os frequentadores da praia e os moradores do bairro até os pescadores. A externalidade ocorre quando um evento causa um efeito positivo ou ne- gativo em outros agentes que não têm relação com aquele evento inicial. No nosso exemplo, a poluição do mar feita por um agente causou uma exter- nalidade negativa para os banhistas, moradores e pescadores, sem que eles pudessem opinar sobre o acontecido (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Um exemplo de externalidade positiva são os bens públicos, como a iluminação de rua: na maioria dos lugares, você não paga diretamente por ela, nem é responsável por sua manutenção, porém colhe os benefícios de maior segurança e melhor visibilidade. Refletindo O desmatamento na Amazônia é um exemplo de externalidade, causada por um agente, mas que influencia inúmeras pessoas. Com base nisso, reflita: quais são as externalidades positivas e negativas que você vivencia ou já vivenciou em seu cotidiano? 18 Figura 1.2 – Desmatamento na Amazônia Legenda: O desmatamento é um exemplo de externalidade. Imagem: INFOESCOLA (2013). Agora vamos ver os objetivos da Economia Internacional e do Desenvolvi- mento Econômico. A Economia Internacional estuda como ocorrem as relações econômicas entre os diversos países.Aborda também como se relacionam as pessoas que resi- dem e as que não residem no país em função da compra e venda de produtos e serviços. Além disso, analisa as operações financeiras efetuadas: por exemplo, o pagamento de juros da dívida externa e a transferência de rendas, como a remessa de lucros das multinacionais para o exterior. Já o Desenvolvimento Econômico estuda a melhoria do nível de vida, o progresso tecnológico e o crescimento econômico de longo prazo (PINHO; GREMAUD; VASCONCEL- LOS, 2004). 1.3 Como pensam os economistas? Vimos que as decisões que tomamos em relação àquilo que necessitamos levam em conta a melhor utilização dos recursos que permitem alcançarmos nossos objetivos econômicos. Por ser uma ciência social, o papel do economista é fundamental para que a sociedade possa, como um todo, obter o máximo de prosperidade econômica possível. Mas, como pensam os economistas, já que são eles os responsáveis em orientar a sociedade para o crescimento 19 econômico e, com isso, tornar a nação mais rica e desenvolvida? Em princípio, os economistas, segundo MANKIW (2013), “estudam a economia da mesma forma como um físico estuda a matéria e um biólogo estuda a vida: eles desenvolvem teorias, colhem dados e os analisam na tentativa de confirmar ou refutar suas teorias”. A diferença da forma de pensar do economista reside no foco do estudo econômico, que está voltado para as relações econômicas entre indivíduos, empresas e governo. Para tal, os economistas utilizam modelos, que são uma representação simplória da realidade, complexa e mutante. Assim, a modelagem procura por meio de teoremas, diagramas e equações, explicar os fenômenos econômicos observáveis no mundo real e, a partir dos modelos, formar as teorias econômicas que darão sustentação científica para melhor compreendermos como o sistema econômico realmente funciona. Um exemplo bastante conhecido é o modelo de mercado, que será estudado mais adiante. Com este modelo, é possível, mesmo de forma bastante simples, compreender como funciona um mercado. Aliás, dizem os especialistas que quanto mais simples é o modelo, melhor! 1.4 Questões fundamentais da Economia Você já viu que a questão central da Economia é a alocação de recursos es- cassos, porém, a questão da escassez e das necessidades abrange outras per- guntas, que chamamos de problemas econômicos fundamentais. Pinho, Gre- maud e Vasconcellos (2004) destacam os principais. • O quê e quanto produzir: os recursos para produção, como mão de obra, matéria-prima, recursos naturais e financeiros são escas- sos, então a sociedade tem que escolher o que será produzido e a quantidade de cada produto. • Como produzir: assim que a sociedade escolhe produtos e quan- tidades, é necessário definir como será realizada essa produção e com que recursos, de acordo com o nível tecnológico existente. Por exemplo: você pode fazer uma pizza utilizando somente o re- curso humano – mão de obra – ou somente o recurso tecnológico 20 – um robô –, ou uma mistura de ambos. O método mais eficiente será aquele que tiver o menor custo de produção possível. • Para quem produzir: após a sociedade ter escolhido os produtos, as quantidades e o modo de produção, precisará decidir como os resultados dessa produção serão distribuídos entre as pessoas. A maneira que uma sociedade escolhe para resolver esses problemas econô- micos depende do seu sistema econômico - capitalista ou socialista. O sistema econômico escolhido por um país tem como objetivo organizar a forma com que a produção, distribuição e o consumo são realizados para melhorar a qualidade de vida das pessoas (PINHO; GREMAUD; VAS- CONCELLOS, 2004). Assim, o sistema econômico adotado deve considerar: • os fatores de produção: recursos humanos, capital, terra, reservas naturais e tecnologia; • as unidades de produção: empresas instaladas no país; • o conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e so- ciais: essas instituições são a base de organização da sociedade. O sistema capitalista, também conhecido por economia de mercado, é aquele em que predominam as leis de mercado. Suas principais características são: a livre iniciativa, a propriedade privada dos fatores de produção, a livre concor- rência e os mecanismos de mercado para determinar os preços de produtos e salários (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). No sistema socialista, também conhecido como economia centralizada, as questões econômicas são resolvidas por um órgão central de planejamento e, por isso, ocorre o predomínio da propriedade pública. Um órgão central de- termina preços e salários com base em dados e não pelas leis de mercado (PI- NHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). 21 Grande parte dos países, atualmente, adota o sistema capitalista de or- ganização econômica. Alguns, como Coréia do Norte, Cuba e China, ain- da utilizam um sistema de organização similar ao socialista - similar, pois não estão mais totalmente fechados para as economias externas. Ampliando os horizontes Saiba mais sobre a diferença entre esses dois sistemas econô- micos. Clique aqui. 1.5. Bens econômicos Observe que as questões econômicas fundamentais dizem respeito “ao que, como e para quem produzir”. O que isso quer dizer? Na análise econômica, podemos verificar que as famílias atingem os seus objetivos econômicos basi- camente consumindo bens e serviços enquanto as empresas os atingem basi- camente produzindo-os. Portanto o que faz a ligação entre o consumo das famílias e a produção das empresas são os bens e serviços econômicos. Dito de outra forma, as famílias só consomem o que as empresas produzem ou as empresas só produzem o que as famílias consomem. Com isso, os bens e serviços estão no centro das relações econômicas entre famílias e empresas e isso é que faz um sistema econômico funcionar. Imagine se não existissem empresas que produzissem utensílios domésticos! Como a dona de casa poderia cozinhar para a sua família nos dias de hoje? Você poderia responder que bastava fazer uma fogueira e preparar a refeição, mas se isso ocorresse, estaríamos confinados a uma estagnação do progresso humano e voltaríamos à vida de nossos antepassados. Pense nisso! Porque compramos roupas, veículos, residências, alimentos, eletrodomésti- cos, tickets para cinema ou teatro, etc.? Simplesmente porque necessitamos. E porque as empresas os produzem? A resposta se repete. Mas o que são bens econômicos? 22 Bens são produtos e serviços que servem para a satisfação de nossas necessi- dades (SILVA, 2006). Eles podem atender diretamente ou indiretamente estas necessidades. Os produtos são classificados em duráveis (televisores), semiduráveis (roupas) ou não duráveis (alimentos). A característica fundamental dos produtos é que eles são tangíveis ou que existem fisicamente (têm cor, forma, volume, peso etc.). Do ponto de vista de sua utilização têm-se os bens de capital (máquinas e equipamentos, edificações, ferramentas, veículos etc.) e os bens intermediá- rios (insumos em geral), que são utilizados pelas empresas e servem para pro- duzir outros bens e serviços. Portanto, eles atendem indiretamente as necessi- dades e desejos humanos. Além destes, têm-se os bens de consumo final que são adquiridos pelas famílias para o atendimento direto de suas necessidades e desejos. Você já viu uma linha de montagem de veículos? Estes veículos são, na grande maioria, bens de consumo final, os robôs que os produzem são bens de capital e os pneus que o complementam são bens intermediários. Você consegue ve- rificar que neste exemplo os robôs e os pneus são adquiridos pelas empresas e os veículos em si, são adquiridos pelas famílias? Já os serviços, outra categoria de bens econômicos, têm como característica básica, serem intangíveis, ou seja, eles existem, mas nãofisicamente. Como assim? Ao contratar um serviço de jardinagem o profissional exercerá sua ati- vidade fazendo uma ação: “jardinar”. Portanto, como é uma ação, não existe fisicamente, mas existe! Quando você adquire um veículo e contrata um seguro, um serviço econômico está sendo oferecido por uma empresa, ela está lucrando e você está se satisfa- zendo por ter a segurança da cobertura do seu seguro. Todos os serviços econômicos têm esta característica. O fato é que eles tam- bém podem atender direta ou indiretamente nossas necessidades e desejos. Como vimos, são consumidos pelas famílias e produzidos pelas empresas. Ou- tros exemplos são os serviços de hotelaria, comércio, transporte, serviços pú- blicos, serviços financeiros etc. 23 1.6. Recursos produtivos Quando falamos de recursos produtivos, intuitivamente podemos vinculá-los ao papel que as empresas exercem no sistema econômico, ligado basicamente à produção de bens e serviços econômicos. Tais recursos produtivos são tam- bém conhecidos como fatores de produção. Portanto são recursos ou fatores indispensáveis para as empresas produzirem os bens e serviços econômicos. A forma como as empresas organizam tais recursos se dá pelo processo de produção que consiste, essencialmente, na transformação de insumos e maté- rias-primas em bens e serviços finais se adquirido pelas famílias ou em bens de capital ou intermediários, se adquiridos por outras empresas, além de even- tuais serviços necessários à produção destes mesmos bens e serviços como fornecimento de energia, contratação de fornecedores, aquisição de materiais indispensáveis para a produção e etc. Como já abordado anteriormente, tais recursos são escassos e, por isso, as em- presas devem combiná-los da forma mais eficiente possível, de maneira a pro- duzir o máximo com o menor custo. Podemos identificar cinco grandes grupos de recursos ou fatores de produção. São eles: mão de obra; capital; terra; capacidade empresarial e insumos ou matérias primas. Para tal vamos considerar o UniProjeção como uma pro- dutora de serviços educacionais de nível superior, a chamada Instituição de Ensino Superior/IES. Mão de obra: refere-se ao trabalho exercido pelos professores e colaborado- res que recebem salário (renda) como forma de remuneração do seu trabalho. O professor do UniProjeção é uma mão-de-obra e recebe salário pela ativida- de docente. Capital: refere-se aos bens de capital (ver item 1.5), são utilizados na produção de outros bens e serviços e são duráveis. Como exemplo tem-se as máqui- nas, equipamentos, edificações, veículos, ferramentas entre outros. No caso do UniProjeção os computadores dos laboratórios de informática são bens de ca- pital, pois ajudam a instituição a realizar o serviço educacional. 24 Terra: diz respeito ao espaço físico necessário para a realização da produção. Como exemplo tem-se o local onde está situada uma fábrica; a loja do comér- cio de roupas ou a área agricultável em uma fazenda. A área onde se encontra o UniProjeção é o fator terra. Capacidade empresarial: está ligado ao papel que o(s) empresário(s) exer- ce(m) no processo produtivo, que é o de organizar toda a produção. A sua ati- vidade se dá pela combinação dos outros recursos produtivos de maneira a tornar a produção eficiente. Este fator de produção no UniProjeção está no papel do grupo de pessoas responsáveis pelo bom andamento das atividades da instituição: a presidência do grupo projeção e os diretores que compõem o alto escalão da organização. Insumos e matérias primas: são os bens intermediários (ver item 1.5), e assim como o capital, são utilizados na produção de outros bens e serviços, sendo semiduráveis e não duráveis. Como exemplo no UniProjeção, podemos citar a energia elétrica, o serviço prestado pela empresa de limpeza e segurança, o pincel utilizado pelo professor, o papel utilizado pela secretária ou ainda a ca- neta utilizada pelo diretor. Além destes cabe destacar a tecnologia que passou a ter papel fundamental nos processos produtivos, sobretudo a partir da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII. Por se tratar de conhecimento aplicado, a tecnologia é um ativo intangível que nos processos de produção modernos, é fator determinante das empresas inovadoras. Por ser intangível ela pode estar presente tanto nos bens capi- tal (tecnologia encontrada em equipamentos) quanto na mão de obra (capital humano gerador de produtividade), quando estes recursos são utilizados na produção das empresas. A tecnologia está presente sobretudo nos bens de capital (equipamentos). Você já pensou no conhecimento científico que foi desenvolvido para se criar o computador do seu laboratório de informática? Você consegue identificar onde a tecnologia está? Neste caso a tecnologia não é o computador, mas o que está dentro dele e o faz funcionar. 25 Uma característica marcante dos recursos produtivos ou fatores de produção e que estão ligados aos agentes econômicos, tópico que será abordado logo em seguida, diz respeito ao valor econômico ou, em outras palavras, ao preço que se deve pagar quando se adquire recursos produtivos. Isso significa que em Economia, nada é de graça! Parece absurdo, mas a ciên- cia econômica ensina e o ambiente econômico confirma que é o preço, seja de bens e serviços ou de recursos produtivos, o principal elemento que organiza a Economia. Você já ouviu aquela famosa frase atribuída a um dos principais economistas do século XX, Milton Friedman (1912-2006), que disse que não existe almoço de graça? Esta afirmação sintetiza o que significa estar inserido em um sistema econômico! Os indivíduos precisam pagar pelos produtos que necessitam e é para isso que existe o preço. Mas as empresas também precisam pagar pelos recursos produtivos que ad- quirem. A esse tipo de pagamento dá-se o nome de remuneração dos fatores de produção. Para que as empresas possam produzir, as seguintes remunera- ções devem ser pagas de acordo com cada fator de produção: salário para a mão de obra, juro para o capital, aluguel para terra e lucro para a capacidade empresarial. Ampliando os horizontes A mão de obra na Economia é chamada de recurso produtivo ou fator de produção. Clique aqui para conhecer mais sobre este assunto. 1.7. Agentes econômicos Você certamente já foi a um shopping center comprar algum produto, seja para você mesmo, seja para presentear alguém. Você nem percebeu, mas no mo- mento em que você entrou em uma loja, escolheu o produto e pagou por ele, você teve um comportamento econômico, ou seja, se comportou como um agente econômico. 26 Os agentes econômicos são pessoas físicas ou jurídicas que, por meio de suas ações, contribuem para o funcionamento do sistema econômico (PASSOS & NOGAMI, 2006). Além dos indivíduos que, enquanto agente econômico são chamados de famí- lias ou unidades de consumo, têm-se as empresas ou unidades de produção, além do governo. Soma-se a estes o resto do mundo, que se refere aos indiví- duos, famílias e empresas das outras nações, quando se analisa a relação entre países. Um bom exemplo pode explicar os agentes econômicos. Se você compra uma passagem aérea para passar férias na Disney, observamos que os agentes econômicos estão interagindo nesta sua decisão. Você representa a família, a agência de turismo representa a empresa, o governo recolhe tributos da em- presa de turismo e você gasta seu dinheiro em hotel e parques do resto do mundo (neste caso os EUA). Portanto para que um sistema econômico possa funcionar, é necessário que os agentes econômicos se relacionem uns com os outros, de maneira a se realizar as relações econômicas. Lembra quando você foi ao shopping Center? Então, você estava interagindo com outro agente econômico, a empresa. 1.8. Fronteira de Possibilidade de Produção – FPPNeste tópico você terá contato com um modelo econômico pela primeira vez (e não será a última!) e terá a oportunidade de conhecer a maneira como os economistas explicam suas teorias, ou seja, a maneira como eles pensam. O modelo utilizado neste tópico procura explicar o que fundamenta a ciência da escassez: a Economia. Por isso a sua grande importância para a ciência eco- nômica. É por meio dele que podemos compreender de que forma a escassez se manifesta e de que forma nos posicionamos perante a ela, quando preci- samos tomar alguma decisão econômica (qualquer decisão tomada devido à escassez torna-se econômica). Em especial, o modelo abaixo apresenta a esco- lha de produção de uma empresa, entre as várias possibilidades de produção possíveis. 27 Figura 1.3 Fronteira de possibilidades de produção/FPP Fonte: Adaptado de Parkin (2009). Tabela 1.1 Possibilidades de produção Possibilidades Bolos (centenas) Tortas (centenas) A 15 0 B 14 1 C 12 2 D 9 3 E 5 4 F 0 5 Fonte: Adaptado de Parkin (2009). A explicação deste modelo é simples. Suponha que um produtor tenha a pos- sibilidade de produzir dois tipos de bens diferentes: bolos e tortas. No eixo vertical estão indicadas as quantidades (em centenas) de bolos que podem ser produzidas com os recursos produtivos disponíveis. No eixo horizontal vemos as quantidades (em centenas) de tortas que também podem ser produzidos, dado os mesmos recursos disponíveis. A curva que se apresenta no gráfico é a chamada fronteira de possibilidades de produção - FPP e indica o limite ou a produção máxima que se pode al- cançar, caso TODOS os recursos produtivos estejam sendo utilizados (confei- teiros, batedeiras, fornos, fermento, frutas, farinha de trigo, ovos, energia, etc.). O que significa esta fronteira? 28 A curva ou fronteira que vemos indica o limite da produção dada à escassez de recursos produtivos (olha a escassez de novo!). Se o produtor está utilizando todos os recursos produtivos disponíveis, ele não tem como aumentar a pro- dução de um produto sem, contudo, diminuir a produção do outro. Para se aumentar a produção de bolos na fronteira, é necessário diminuir a produção de tortas. Por quê? Porque não existem recursos adicionais à dispo- sição para serem empregados na produção de mais bolo, uma vez que parte já está sendo utilizada na própria produção e a outra parte está sendo utilizada na produção de tortas. Vemos o fenômeno da escassez acontecendo! Por exemplo, se a produção se encontra no ponto C em que são produzidos 12 bolos e 2 tortas e se resolver passar para o ponto D, em que a produção é de 9 bolos e 3 tortas, 3 bolos deverão ser “sacrificados” para aumentar de 2 para 3 tortas, pois como não há recursos adicionais, alguns recursos produtivos serão realocados. Portanto, quando o empresário decide aumentar a produção de torta estando na fronteira de produção, um sacrifício terá que ser feito: bolos deixaram de ser produzidos. Quanto mais tortas, menos bolos e vice-versa. Agora observe o ponto Z. Como ele não se encontra na fronteira existem fato- res de produção sem utilização, demonstrando que a produção é ineficiente, pois valiosos recursos produtivos à disposição estão paralisados. A partir deste ponto, caso se queira aumentar a produção de bolos e/ou tortas, basta colocar estes recursos ociosos na produção, sem a necessidade de sacrifício de unida- des de bolos e/ou tortas que já estão sendo produzidos. Qualquer ponto além da fronteira torna-se inalcançável. Por quê? A resposta está novamente na fronteira de produção, que é o limite alcançável dada uma certa quantidade de recursos produtivos disponíveis. Uma forma de ultrapas- sar a fronteira ou o limite da produção é por meio de investimentos (tópico a ser apresentado mais adiante). Este princípio vale não só para quem produz, mas também para quem con- some, ou seja, você! No caso do consumidor, isso ocorre porque a renda é limitada e, assim como os recursos produtivos para as empresas, uma decisão 29 econômica deverá ser tomada: comprar telefone celular ou equipamento de som? (Lembra disso?) O interessante na análise deste modelo é que os agentes econômicos, ao terem que fazer escolhas ou sacrifícios, o fazem baseados em seus interesses particu- lares, vinculados ao maior benefício possível. Por exemplo, se a empresa decidiu aumentar a produção do bolo e em contra- partida, diminuir a produção de torta, o fez porque a procura por bolo aumen- tou e o empresário auferirá mais lucros. Se você decidiu comprar o telefone celular em vez do equipamento de som porque sua renda era limitada, o fez porque naquele momento, a maior satisfação viria do consumo do primeiro em relação ao segundo. Portanto, os agentes econômicos ao tomarem suas de- cisões econômicas pressionadas pela escassez, agem racionalmente de forma a tirar o máximo proveito de sua decisão. O modelo da fronteira de produção também é útil para se avaliar o nível de crescimento econômico de uma nação. Se a produção total (PIB) se encon- tra abaixo da fronteira de produção, significa que a capacidade produtiva não está sendo usada plenamente, ou seja, existe o desperdício de recursos, o que exigiria do governo a formulação de políticas voltadas para o aquecimento da Economia, como por exemplo, políticas voltadas ao aumento do consumo. O que você acha da atual situação econômica do Brasil e onde você posiciona- ria nossa economia no modelo de fronteira de produção: sobre ela ou abaixo dela? Pense nisso e se estiver com dúvida, pergunte ao seu tutor! Outra utilização do modelo é na análise comparativa de economias diferen- tes. Por exemplo, ao se verificar que em um país A, a fronteira de produção se mostra muito próxima da origem do gráfico e que em um país B, a fronteira se encontra bem mais longe da fronteira, se conclui que o país A indica um baixo crescimento econômico, enquanto o país B mostra um crescimento econômi- co relativo bem superior. Faça você mesmo uma comparação entre a economia norte-americana e a economia boliviana. Onde você posicionaria as respectivas fronteiras de pro- dução se fizesse uma análise comparativa das duas economias? 30 1.9. Custo de oportunidade A ideia de custo de oportunidade está intimamente ligada ao modelo da curva de possibilidade de produção estudada no item anterior. Mas o que é o custo de oportunidade? O custo de oportunidade é a expressão utilizada para exprimir os custos no que se refere às alternativas sacrificadas (PASSOS & NOGAMI, 2006). Você pode ao ler este conceito fazer uma relação com a fronteira de produ- ção. Lembra que para se aumentar a produção de bolo é necessário diminuir a produção de torta? Uma vez que não existem mais recursos disponíveis para aumentar a produção de bolo, menos tortas serão produzidas, pois os recursos produtivos serão transferidos da produção de tortas para a produção de bolos. Lembra ainda que se você decidiu comprar um telefone celular você não vai comprar o equipamento de som ao mesmo tempo? Portanto, há um custo de oportunidade implícito na decisão econômica de au- mentar a produção de bolos ou na sua escolha de consumo, pois devido à es- cassez, algo sempre estará sendo sacrificado. Tomando como exemplo a curva de possibilidade de produção do item ante- rior, veja o que acontece utilizando a tabela 1.1, se a decisão foi a de aumentar a produção de torta de 200 para 300 unidades. A consequência será o sacrifício ou a perda da oportunidade de se produzir 300 unidades de bolo, ao passar da possibilidade C para a D. Este é o custo de oportunidade. E por que isso acon- tece? A resposta sempre será a mesma: devido à ESCASSEZ. Assim, estamos a todo o momento sendo obrigados a avaliar os custos de oportunidade das nossas decisões econômicas, sempre direcionando nossas escolhas para aquelas quenos dê o máximo benefício. Os economistas costu- mam referir essa situação ao chamado trade off, que em bom português signi- fica “dilema”. Tente pensar sobre as suas decisões econômicas e verifique qual custo de oportunidade você já teve que avaliar! Qual já foi o seu dilema? 31 Ampliando os horizontes Para estudar mais sobre o custo de oportunidade clique aqui. Como esses conceitos e a teoria econômica se desenvolveram? Veja a seguir. 1.10 Evolução do pensamento econômico A economia como ciência surgiu no século XVIII, a partir de um grupo de eco- nomistas chamados fisiocratas. Eles foram os primeiros a questionar a regu- lamentação da economia pelo governo e colocaram que essa regulamenta- ção não seria necessária, visto que a Lei da Natureza é suprema. Os fisiocratas acreditavam na necessidade de investir em produção agrícola para um país se desenvolver, pois somente assim seria possível gerar excedentes. Esse pensa- mento tem origem no contexto da época: os países passavam por problemas de escassez de comida, excessiva regulamentação governamental e muitas pessoas trabalhando com finanças (ROSSETTI, 2003). 1.10.1 Escola clássica A seguir, surge a Escola Clássica de pensamento. Seu principal autor é Adam Smith, com a obra A Riqueza das Nações (1776). Smith foi influenciado pelo que ocorria na Inglaterra com a Revolução Industrial. A Teoria Mercantilista utilizada naquele período não conseguia explicar as mudanças sociais e eco- nômicas provocadas por esse sistema de produção (ROSSETTI, 2003). 32 Figura 1.3 – Tempos Modernos (1936) Legenda: O filme Tempos Modernos faz uma crítica à Revolução Industrial. Imagem: Pedagogia ao pé da letra (2013). Smith sugere que o crescimento econômico de uma sociedade acontece por meio da livre concorrência, sem interferência do Estado, mas guiado por uma “mão invisível” (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). O Estado teria três funções: • proteger a sociedade da violência e da invasão; • proteger os membros da sociedade da injustiça e da opressão; • fazer e conservar obras públicas. Para o autor, a verdadeira riqueza de um país somente poderia ser construída pelo trabalho. Neste assunto particular, ele dá tratamento especial à divisão do trabalho. Em resumo, as ideias de Smith defendiam (ROSSETTI, 2003): • a mais ampla liberdade individual; • o direito inalienável à propriedade; • a livre iniciativa e a livre concorrência; • a não intervenção do Estado na economia. 33 Outro autor relevante da Escola Clássica da Economia foi David Ricardo. Sua importância pode ser atestada pelas contribuições realizadas em seu livro Princípios de Economia Política e Taxação, publicado em 1817. Figura 1.4 – David Ricardo Legenda: David Ricardo propõe a livre concorrência na economia. Imagem: Wikipedia (2014). Podemos destacar o conceito da teoria das vantagens comparativas no comér- cio internacional. O autor aponta que o livre-comércio internacional beneficia dois países se cada um tiver uma vantagem relativa na produção a ser comer- cializada. Por exemplo: Portugal comercializaria vinhos, e a Inglaterra, tecidos. O comércio externo realizado entre os dois seria benéfico para ambos, pois Portugal produz, com vantagem, vinhos, pela sua especialização, e a Inglaterra, tecidos (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Karl Marx é outro cientista econômico clássico, cuja contribuição teórica - uma visão alternativa ao pensamento capitalista – é fundamental. Em sua principal obra, O Capital (1867), demonstra que o capitalismo é um sistema baseado na exploração do trabalho assalariado do homem pelo homem. A lógica do sis- tema capitalista é a busca constante de acumulação de capital: o capitalista apropria-se do trabalho não pago (mais-valia). Ele afirma que esse sistema é feito a partir de crises econômicas (ROSSETTI, 2003). Marx previu que o capi- 34 talismo, a partir dessas crises, entraria em processo de extinção por conta de suas contradições internas. Figura 1.5 – Karl Marx Legenda: Karl Marx critica o pensamento capitalista. Imagem: Cultura Brasil (2013). 1.10.2 Escola Neoclássica Em 1870, surge uma nova corrente de pensamento: a Escola Neoclássica, que permaneceu até 1929. Ela ficou conhecida por aliar a Matemática à Economia. Seu principal autor foi Alfred Marshall. Nesse período, a análise econômica e a Microeconomia, principalmente nas pesquisas de comportamento do consu- midor, foram formalizadas. É importante você saber que a teoria da empresa (firma) tem origem na teoria do consumidor e que as duas, juntas, formam a base da Microeconomia. Também teve destaque a Teoria Quantitativa da Moe- da, que relaciona os níveis de preço com a quantidade de dinheiro disponível e sua velocidade de circulação (ROSSETTI, 2003). 35 Figura 1.6 – Alfred Marshall Legenda: Marshall sugere a utilização de Matemática para análise econômica. Imagem: Wikipedia (2014). 1.10.3 Corrente keynesiana Esta corrente surge para explicar a crise do sistema de produção capitalista ocorrida na década de 1930. Na visão de Keynes, formulada em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), o capitalismo não pode ser regido somente pelo livre mercado. Ele preconiza a volta do Estado na Eco- nomia, com políticas de intervenção, promoção e regulação para estimular o desenvolvimento capitalista (PINHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Refletindo Pesquise os fatores que impulsionaram a famosa Crise de 1929, nos Estados Unidos, que afetou toda economia mundial e levou à adoção da corrente keynesiana. Você acha que essa crise pode se repetir? 36 Figura 1.7 – John M. Keynes Legenda: Keynes propõe a necessidade de intervenção do Estado na economia. Imagem: Wikipedia (2014). Keynes aponta que o volume de emprego e o nível de produção nacional de uma economia são determinados pela demanda agregada ou efetiva. Desse modo, o autor derruba a Lei de Say – toda oferta cria sua demanda. Para ele, são o consumo e o investimento que movimentam a economia de um país (PI- NHO; GREMAUD; VASCONCELLOS, 2004). Observe que a economia que vivemos atualmente foi fortemente influencia- da por esses pensadores. Além disso, Pinho, Gremaud e Vasconcellos (2004) afirmam que, no período recente, a teoria econômica apresenta três caracte- rísticas marcantes: uso da informática para o processamento de dados, maior consciência de suas próprias limitações e maior produção de conteúdo prático. 1.11. Economia e as outras ciências A Economia, assim como qualquer outra ciência, se desenvolveu por meio da aplicação do único método, consagrado, consolidado e universal, de se gerar o conhecimento, o método científico. 37 É por meio do rigor científico, que exige do cientista a observação, a hipoteti- zação, a experimentação e por fim, a aceitação ou refutação de uma teoria, que o conhecimento é finalmente aceito. Vimos que o economista se utiliza de modelos, equações, para demonstrar suas teorias. O que ele faz, enquanto cientista é tão somente aplicar o método científico. Mas a Economia não se desenvolveu como uma área do conhecimento isolada. Por se tratar essencialmente de uma ciência social, tópico que será abordado mais adiante, ela necessita utilizar outros conhecimentos para consolidar suas teorias e modelos. Conforme SOUZA (2007) a Economia tem relações com as seguintes áreas do conhecimento. • Biologia: a ideia de fluxo, mobilidade e evolução foram determinantes na for- mulação das teorias de crescimento e desenvolvimento, da variação de custos, receitas, rendas e riqueza. • Física: noções de estática e dinâmica, velocidade e força ajudaram nas teorias de análises de investimento, consumo, produção, renda e do equilíbrio geral e parcial. • Psicologia: conceitos advindos desta área foram importantes paradetermi- nar o comportamento racional dos agentes econômicos, a noção de bem-estar e o entendimento de como as decisões individuais exercem poder sobre os rumos da economia. • História: o desenvolvimento da ciência econômica se confunde com o pró- prio desenvolvimento humano. Fatos históricos que mudaram a trajetória hu- mana estiveram sempre atrelados a fatos econômicos. • Estatística: desta área do conhecimento são aplicados técnicas e metodolo- gias acerca de séries temporais que, por sua vez, se utiliza de amostras e ferra- mentas estatísticas como média, desvio padrão, variância e analisa tendências, muito utilizadas nas análises de variáveis macroeconômicas como PIB, renda, consumo, investimento, exportações, importações etc. 38 • Matemática: a partir das formulações matemáticas, a Economia foi capaz de formular boa parte de suas teorias. As equações e funções matemáticas são bastante uteis uma vez que a ciência econômica, por tratar fundamentalmente de variáveis quantitativas, formula seus modelos matemáticos explicativos do comportamento dos agentes econômicos e da própria economia. • Econometria: a inferência estatística é bastante útil na formulação de mode- los econômicos para fins de previsão e de planejamento que podem ser adota- dos nas políticas econômicas de longo prazo por exemplo. Esta área do conhe- cimento aplica a matemática e a estatística ao mesmo tempo, fornecendo uma poderosa ferramenta para o economista. • Geografia: a íntima relação se dá porque as relações econômicas se dão em espaços geográficos, sejam micro ou macro. Destacam-se a Economia regio- nal, do meio ambiente, internacional, que afetam a mobilidade espacial de in- divíduos, fatores de produção e de bens e serviços. Por outro lado, o solo e o clima afetam, positiva ou negativamente, atividades econômicas com reflexos na produtividade, na disponibilidade de recursos e nas condições de trabalho. • Sociologia: a questão social está atrelada à questão econômica. A distribuição da riqueza gera assimetrias sociais e suas consequências geram impactos em políticas públicas. Padrões sociais podem ter reflexo sobre o mercado, a estru- tura de consumo e de produção e no próprio curso do progresso econômico. • Ciência Política: as relações econômicas exigem que um arcabouço político- -legal seja incorporado ao sistema econômico. O papel da política é sensível quando se avalia o interesse da sociedade nos rumos de sua economia. A re- presentatividade política, portanto, é chave para que toda a sociedade usufrua dos ganhos econômicos e é por meio da política que estes interesses devem ser direcionados, exercendo um papel crucial neste ambiente. • Direito: as relações econômicas também devem ser orientadas por uma es- trutura jurídica que garanta o bom andamento destas relações. A questão legal está inserida nas relações de consumo, de trabalho, de produção e que en- volvem o contexto social e dão sustentação ao equilíbrio das instituições que devem exercer suas atividades em prol do desenvolvimento da sociedade. Os direitos e deveres dos agentes econômicos funcionam para garantir que o sis- tema econômico trabalhe de forma eficiente e duradoura. 39 1.12. Abordagem social da Economia A Economia é essencialmente uma ciência social. Apesar do caráter quantita- tivo e materialista que esta disciplina impõe, todas as ações e atividades estão inseridas no contexto social, pois se observa que a Economia se movimenta a partir do comportamento, seja de indivíduos ou organizações. Basicamente o interesse da ciência econômica se assenta na questão materialista da socieda- de, ou seja, parte-se do princípio que a prosperidade material é essencial para o progresso humano. As relações humanas, por fim, é que ditam as relações econômicas. 1.13. Funcionamento de uma Economia de mercado Você deve se lembrar de que no item 1.4 foi abordado o tema sobre os sistemas econômicos. Um sistema econômico é escolhido para a solução das questões econômicas fundamentais de uma sociedade: o que, como e para quem pro- duzir? Os dois sistemas existentes na atualidade são o capitalista e o socialista, ca- bendo ao primeiro a supremacia absoluta sobre o segundo. A dissolução do sistema socialista ocorreu após os intensos movimentos de democratização, da liberdade do indivíduo e, sobretudo, da globalização, que permitiu a criação de um mercado global e influenciou movimentos contra a economia centrali- zada no poder do Estado que imperava no leste europeu até fins dos anos 80. O fim da Guerra Fria, simbolizada pela queda do muro de Berlim em 1989, foi o ato final para a dominação total do sistema baseado na livre iniciativa, da liberdade individual e no princípio da eficiência econômica para alcançar o desenvolvimento das sociedades. O Capitalismo passou a ser, praticamente, o único sistema econômico no mun- do atual e a sua adoção só é possível porque é um sistema baseado no funcio- namento do mercado. A economia de mercado é o sinônimo de Capitalismo. A figura a seguir mostra como é o funcionamento de uma economia de merca- do. Por ser um modelo econômico e, portanto, simplificado, esta figura indica a relação entre dois agentes econômicos somente, famílias e empresas (estão 40 de fora deste modelo o governo e o resto do mundo). Este é considerado o sis- tema mais simples possível e, embora seja teórico, é útil para o entendimento de como um sistema econômico funciona. Figura 1.8 – Modelo circular de funcionamento de uma economia de mercado Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/384926/ Os principais pontos que se pode tirar da análise e interpretação deste modelo e que são uteis para o entendimento de um sistema econômico são os seguin- tes: • Há interação entre agentes econômicos (famílias e empresas); • Verifica-se dois tipos de mercado: o de bens finais, onde as famílias compra bens e serviços das empresas, e o de fatores de produção, onde as empresas compram os recursos produtivos das famílias; • Cada agente age racionalmente, procurando tirar o máximo benefício de suas decisões; • Observa-se uma relação de interesses, onde cada um procurar atingir os seus objetivos (satisfação para as famílias e lucro para as empresas); • Não há na relação motivação emocional, pois as famílias ao consumir bens e serviços e as empresas ao produzi-los buscam maximizar os seus objetivos; 41 • As famílias não vão consumir aquilo que não gera bem-estar e as empresas não vão produzir aquilo que não gera lucro; • É com a venda pelas empresas dos bens e serviços às famílias que as empre- sas lucram e é com a venda pelas famílias, dos fatores de produção às empre- sas, que as famílias auferem renda; • As famílias só compram porque recebem renda e as empresas só produzem porque recebem fatores de produção (recursos produtivos). Isso mostra o flu- xo circular do sistema, onde cada um agindo pelos seus interesses, faz o siste- ma funcionar. Lembra-se da mão invisível do mercado? • O sistema funciona em fluxos, o que garante a sua continuidade e perenidade; • O fluxo monetário indica que as relações de troca envolvem recursos finan- ceiros (moeda) o que mostra que as relações econômicas envolvem pagamen- to, ou seja, nada é de graça! É assim, de maneira bem simplificada, que funciona uma economia de mer- cado, baseada na liberdade do indivíduo, no interesse próprio e na busca da otimização dos benefícios econômicos. 1.14.Valor real versus valor nominal Considere a seguinte situação: você tem um aumento no seu salário na ordem de 15% referente ao reajuste anual que o seu empregador é, por força da con- venção coletiva de trabalho, obrigado a conceder. E aí você pensa o quão bom foi esse reajuste, pois, digamos que você receba R$ 2.500,00 ao mês e agora vê o seu salário maior, valendo R$ 2.875,00. E aí você já imaginaque pode comprar um tênis novo, pois está recebendo mais! Porém, antes de entrar em êxtase, você deve refletir sobre as seguintes questões: O aumento recebido é suficiente para manter o mesmo nível de gastos que eu tinha? Eu posso com o novo salário comprar as mesmas coisas que comprava e, além disso, aumentar o meu volume de compras, sem a necessidade de con- trair empréstimos? 42 A resposta a estas questões é encontrada em uma variável fundamental para a Economia: o preço. O que está implícito no seu novo salário e que nem sempre é visível é o que se chama poder de compra. Ele nada mais é do que a capacidade que o dinheiro (moeda) tem para comprar as coisas que necessitamos. Então ao receber o novo salário, é preciso compará-lo à variação dos preços para saber se o aumento verificado nos preços diminuiu o poder de compra do seu novo salário. Assim, se o aumento dos preços, digamos de 20% no mesmo período, mais conhecido como inflação e medido percentualmente, foi maior do que o aumento do seu salário de 15%, infelizmente você teve o seu poder de compra diminuído em 5% e, em termos reais, você está ganhando e com- prando menos que antes, embora que em termos nominais, o seu salário está maior. O que deve ser levado em conta na hora de avaliar o poder de compra é o valor real e não o valor nominal da moeda. O valor nominal nada mais é do que um valor de face (por exemplo, o valor lançado no seu contracheque) enquanto que o valor real mede o poder de compra, ou seja, aquilo que realmente se pode comprar (bens e serviços) com o novo salário. Intuitivamente, podemos perceber a influência que a inflação tem na vida das pessoas, empresas e governos. Se há alta inflação, o valor real ou o poder de compra tende a cair; se há baixa inflação, o valor real ou perde pouco ou pode até ter crescimento; e caso haja deflação (queda dos preços), isso eleva o poder de compra da moeda e, consequentemente, seu valor real. Suponha que você, no dia do seu aniversário, recebeu como presente uma quantia de R$ 1.000,00 para comprar roupas. Você, porém, decidiu guardar este dinheiro embaixo do seu colchão e só utilizá-lo no seu próximo aniver- sário, pois você já tinha bastante roupas. O que você acha que aconteceria um ano depois, quando você decidisse usar este valor para renovar o seu guarda roupa? Portanto, as políticas econômicas, sobretudo a monetária, devem ser orienta- das para elevar o valor real da moeda, não só para que as pessoas comprem mais, ou que as empresas lucrem mais, mas também para que o PIB do país, 43 que mede o crescimento econômico seja maior em termos reais, o que eleva a riqueza da sociedade. O combate à inflação é, portanto, um dos mais importantes desafios quando se avalia as políticas econômicas e, por isso, a intervenção governamental é sempre acionada quando há um descontrole dos preços. 44 O que aprendemos Nesta unidade, você aprendeu que: • a questão central da Economia é como alocar recursos escassos para satisfazer necessidades ilimitadas; • a Economia divide-se em Microeconomia, Macroeconomia, Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico; • a Macroeconomia preocupa-se com bens públicos, externalidades e recursos comuns; • o sistema econômico pode ser capitalista ou socialista; • três escolas econômicas se destacam: Clássica, Neoclássica e keynesiana. >> Sua vez Agora é o momento de ir ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e par- ticipar do Fórum de Discussão. Você irá interagir com seus colegas e com o seu tutor, assim, ampliará o seu conhecimento, debatendo um tema po- lêmico. Sua opinião é muito importante! Lembre-se, também, de realizar a atividade de fixação do conhecimento. 45 Referências da unidade PINHO, D. B.; GREMAUD, A. P.; VASCONCELOS, M. A. S. Manual de economia. São Paulo: Saraiva, 2004. ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
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