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- BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO.pdf Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 31 (2): 126-131, março-abril,, 1989 BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO R . I S H A K (1), A . C . L I N H A R E S (2) & M. O . G . I S H A K (1) R E S U M O Nos últ imos dez anos tem sido travada uma luta com a finalidade de prevenir a transmissão de agentes infecciosos dentro de laboratórios. A grande fonte de disper¬ são de patógenos por meio de aerossóis, pode ser el iminada satisfatoriamente com o uso de câmaras de segurança biológica. Regras gerais e específicas de biossegu¬ rança devem ser cumpridas por todos os usuários de laboratórios que manuseiam patógenos ou materiais potencialmente contaminantes e, eventualmente, aval iados por um comitê de biossegurança independente. O surgimento da síndrome de imuno- deficiência adquir ida deve servir.como fator de estímulo à adoção de normas eficazes de segurança laboratorial. U N I T E R M O S : Biossegurança: Infecção laboratorial. I N T R O D U Ç Ã O Prevenir a transmissão de agentes infeccio sos, dentre outros produtos nocivos à saúde hu- mana, é o grande problema de segurança labora torial que deveria ser incutido em todos os usuá- rios iniciantes e nos chamados ' 'exper ientes" que se ut i l izam de um espaço de laboratório para o preparo de " inócuas" culturas de cé^i las ou a separação de sangue para os mais variados fins ou aqueles que manuseiam patógenos de reconhecida importância médica. Entretanto, apesar de todos os perigos de contaminação de naturezas infecciosa e quími- ca, os riscos potenciais que são enfrentados no dia a dia em um laboratório, na maioria das ve- zes, são obscuros e silenciosos, e esperam a opor- tunidade certa de causar o seu dano. Como itens de segurança geral temos os se- guintes a serem considerados: 1. Vidrar ias e objetos perfurantes: são comuns os acidentes ao colocar-se uma pera ou outro auxi l iar de pipetagem na ponta de uma pipeta ou no manuseio de vidrarias quebradas den- tro de receptáculos etc. O descarte de agulhas no passado, era efetuado após a cobertura com a respectiva capa. Após o advento da Síndrome de Imunodeficiência Adqui r ida ( S I - D A / A I D S ) observou-se que o número de per- furações acidentais provenientes deste ato não estava dentro dos l imites aceitáveis. Des- ta forma é preferível que exista um recipiente adequado e único para o desprezo de agulhas e seringas imediatamente após o uso, sem co- brir a agulha. O desprezo de vidraria quebra- da e agulhas deve ser feito em local apropria- do que não o l ixo geral; 2. Produtos químicos de natureza tóxica: deter gentes podem ser cáusticos ou causar irrita (1) U n i v e r s i d a d e F e d e r a l do P a r á . C e n t r o de C i ê n c i a s B i o l ó g i c a s , D e p a r t a m e n t o de P a t o l o g i a , L a b o r a t ó r i o de V i r o l o g i a . (2) I n s t i t u t o E v a n d r o C h a g a s , F S E S P / B e l é m , P a r á , B r a s i l . E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a : D r . R i c a r d o I s h a k — C a i x a P o s t a l 3005 — 66.000 B e l é m , P a r á , B r a s i l çáo na pele, olhos e t c ; desinfetantes químicos como o hipoclorito de sódio podem manchar tecidos, causar irr i tação na pele ou mesmo corroer metais; produtos químicos comumen- te usados em cultura de células, como o dime- til sulfóxido, solvente poderoso que penetra através da pele e pode carregar consigo subs- tâncias infecciosas, químicos mutágenos ou carcinogênicos; 3. Gases: C 0 2 , N 2 não são perigosos quando a exposição é feita a pequenas quantidades, po- rém causam as f i x ia quando l iberados em grandes quantidades; a liberação de 0 2 requer ventilação máx ima devido ao risco de fogo; a vedação de ampolas deve ser feita com cui- dado para não haver refluxo de oxigênio ou defeitos na mis tura gás/ox igênio; c i l indros que contêm gases devem estar fixos, evitando o risco mecânico de queda dos mesmos; 4. Nitrogênio liquido: são três os maiores riscos associados ao nitrogênio — queimadura, asfi- x ia e explosão; quando as ampolas são sub- mersas em N 2 l íquido, existe uma diferença de pressão entre o exterior e o interior da am- pola; se esta não estiver perfeitamente fecha da haverá a entrada de N 2 , a qual causará a explosão da ampola no momento de descon- gelamento; a inalação de grandes quantida- des de N 2 pode levar à asf ix ia, e devido à ba ixa temperatura do mesmo o seu manuseio sem luvas de proteção pode resultar em queima- duras; 5. Fogo: B icos de gás e álcool para esteril ização devem ser mantidos afastados; a esteril ização pelo fogo deve ser feita com cuidado redobra- do e o material esterilizado mantido longe do álcool; 6. Radiação: o uso de radioisótopos segue regras que devem ser obedecidas com cuidado; seu cumprimento é assegurado por órgãos de fis- calização e que não será objeto de análise no presente artigo. Por outro lado, no trabalho rotineiro, todo cuidado deve ser observado para a proteção contra as irradiações de lâm- padas u l t rav io leta na pele e nos olhos; barrei- ras de vidro ou plástico devem ser sempre uti- l izadas porque há o risco de lesão de retina e de câncer de pele. R I S C O B I O L Ó G I C O D E C O N T A M I N A Ç Ã O A necessidade de proteção contra um risco biológico é definida pela (i) fonte do material; (ii) pela natureza da operação ou experimento a ser efetuado e (iii) pela condição na qual o expe- rimento será realizado. Não há controvérsias so- bre o risco de contaminação quando se trabalha com patógenos conhecidos, pois para estes exis- tem normas e classificações que regem os níveis de contenção adequados para os seus manu- seios 2 6 . Entretanto, o desenvolvimento de novas técnicas como a hibridização celular inter-espe- cífica, o uso de novos patógenos em locais não considerados como de contenção máx ima, o uso de l inhagens celulares transformadas, todos in- troduzem riscos para os quais ainda náo se dis- põe de informações epidemiológicas suficientes para aval iar o impacto que as modernizações de tecnologia acarretam. A s comissões de segu- rança internacional reunem-se, em geral, quan- do se detecta o risco. É importante então que cada instituição de pesquisa aponte um Comitê de Biossegurança que atue nas seguintes funções: a) no aconselhamento para desenvolver e me- lhorar as regras para a segurança no trabalho: b) prover uma revisão geral de biossegurança dentro das atividades desenvolvidas pela ins- tituição em questão sob um ponto de vista rigoroso e imparcial . É essencial que a responsabil idade com a biossegurança envolva não apenas o cientista coordenando ou real izando um projeto, como também todos os usuários do laboratório, inclu- sive aqueles do corpo administrat ivo, os quais também devem obedecer regras específicas. C  M A R A S D E S E G U R A N Ç A Além de regras de ordem prát ica que devem ser seguidas, a proteção contra a contaminação laboratorial sob a forma de aerossol, é feita pri- mariamente através do uso de câmaras de segu- rança microbiológica 5 . É essencial que o opera- dor seja protegido, assim como não se permita que seja eliminado qualquer agente ou outro ele mento para o meio ambiente. Inicialmente é importante fazer a distinção entre câmaras de fluxo laminar ordinárias e de segurança. A s câmaras de fluxo laminar ordinárias não são projetadas para dar proteção ao operador. São capelas com pressão posit iva, com um fluxo de ar de dentro para fora da área de trabalho da mesma, que não é recirculado e sim eliminado para o interior do laboratório. Es tas câmaras de fluxo horizontal dão a proteção adequada para a cultura de células, reagentes e tc , porém nunca devem ser ut i l izadas com radioisotopes, mutá- genos, vapores tóxicos, mater ia is infectantes etc Até mesmo o simples trabalho de cultura de células pode ser questionado nestas câmaras, em vista da presença de vírus endógenos cuja patogenicidade é desconhecida para o homem. Ex is tem três tipos de cabines de segurança com projeções e util izações diferentes, gradua- das em classes de acordo com o grau de segu- rança proporcionado: Classe I — possuem um fluxo de ar de fora para dentro e protegem apenas o operador, não mantendo a esterilidade dos reagentes trabalha- dos; Classe I I — é projetada para proteger o ope- rador e material trabalhado, possuindo um fluxo de ar estéril em direção ao espaço do trabalho e um fluxo de ar de fora para dentro entrando por uma abertura frontal; Classe I I I — teoricamente são cabines de contenção máx ima para usos de patógenos de alta periculosidade (e.g., varíola, febre de L a s s a , raiva, H I V e tc ) ; são projetadas com luvas f ixas na parte frontal, formando uma barreira física entre o material e o operador. Atualmente existem Padrões de Segurança definidos em países como os E U A , Inglaterra, Austrá l ia , A lemanha Oriental e Japão 4 . O pa drão definido na Inglaterra exige que o operadoi que trabalha em uma cabine Classe I ou I I tenha uma exposição a aerossóis em uma quantidade que não ultrapasse I O " 5 da exposição que teria a qualquer aerossol infeccioso produzido se o trabalho fosse efetuado em um balcão de labora- tório sem qualquer mecanismo auxi l iar de con- tenção 1. Convém lembrar de que estas cabines são suscetíveis à influência do meio externo, na qual movimentos do operador, de portas, pessoas ao redor, causam distúrbios no fluxo de ar, podendo levar contaminantes para o interior, assim como trazer patógenos para o operador e visi tantes inesperados e circunstanciais. Uma das formas de corrigir tais ocorrências é a colocação das Câmaras em lugares adequados no laboratório, colocar portas de correr, efetuar vedações abso- lutas, observar normas de segurança etc. A manutenção de salas com pressão nega- t iva ou um pouco abaixo (2-3mm de Hg) das salas ao redor são práticas adequadas para aumentar a segurança de câmaras assépticas a fim de evi- tar a saída de qualquer espécimen sendo manu- seado para o meio externo 3 . Além destas câmaras, existem ainda aque- las produzidas para o trabalho com produtos tó- xicos, carcinogênicos e radioisótopos, as capelas químicas. São câmaras que devem obedecer o grau de segurança daquelas de Classe I I e dota- das principalmente de uma abertura frontal mí- nima, fluxo de água e boa venti lação. A instalação e teste de câmaras de seguran- ça devem ser criteriosamente estudadas e ava- l iadas de tempo em tempo, para se ter certeza que o funcionamento está correto. N Í V E I S D E C O N T E N Ç Ã O L A B O R A T O R I A L Os trabalhos executados em laboratór io, obedecem a um gradiente de periculosidade de acordo com o patógeno que está sendo manu- seado. Desta forma, costuma-se admitir quatro níveis de contenção laboratorial: Nível 1 (Mínimo): adequado para patógenos com nível mínimo de risco para o operador; o trabalho é feito em geral em balcão aberto sem nenhum equipamento especial de contenção re- querido. H á necessidade de se observar algumas práticas como: manter as portas fechadas, des- contaminar superfícies diariamente, desconta- minar material a ser lavado ou descartado, proi- bir comida, bebida, fumo, pipetagem com a boca, evitar a formação de aerossol etc. Nível 2 (Baixo risco): o pessoal técnico deve ser mais treinado para manusear patógenos, o acesso ao laboratório é l imitado quando da ma- nipulação com microorganismos e os procedi- mentos capazes de produzir aerossol devem ser efetuados em câmaras de segurança. Adic ional- mente deve-se fazer um programa eficaz de con trole de insetos e outros animais, não uti l izar jalecos fora da área laborator ial , não manter plantas, agulhas e l ixo no interior do laboratório, assim como criar um sistema de notif icação e registro de acidentes no laboratório, de expo- sição aos patógenos trabalhados e de v ig i lância médica v inculada principalmente aos casos de absenteísmo posterior aos acidentes e/ou expo- sições a agentes patogênicos. Nível 3 (Risco moderado): o laboratório j á deve possuir uma arquitetura especial e equipa- mento de contenção adequada para o manuseio de patógenos potencialmente letais. Todo mate- rial deve ser esterilizado dentro da área labora- torial ou enviado em frascos à prova de vaza- mento para uma unidade de esteril ização. Não deve ser permit ida a entrada de pessoas estra- nhas ao serviço, as quais devem ser orientadas sobre o risco de contaminação; deve-se criar pro- tocolos escritos para as situações de emergência; a descontaminação tem de ser eficaz; não usar roupas de rua e cobrir-se até os sapatos (de prefe- rência com botas à prova d'agua); uso obriga- tório de luvas e máscaras (especialmente em bio- térios); e usar filtros nas l inhas de vácuo. Nível 4 (Alto Risco): o pessoal do laboratório deve ter conhecimento e treinamento completo no manuseio de patógenos sabidamente capazes de produzir doença severa ou fatal no homem, assim como devem compreender as funções dos níveis de contenção, do equipamento e das ca- racterísticas do laboratório. E s t a área deve ser claramente demarcada dentro de um espaço físi co. O uso de Câmaras Classes I ou I I pode ser feito apenas se todos os usuários mostrarem evi- dência de imunização anterior ao agente em questão, de outra forma, a manipulação de pató- genos requer Câmaras de Classe I I I ou roupas especiais pressurizadas. E m uma contenção de Nível 4 as portas de vem ser mant idas fechadas e o número de chaves l imitado estritamente aos usuários. À entrada e saída, deve haver troca de roupa e banho em uma ante-sala que permita este f luxo de pessoas. Deve haver um espaço para quarentena e obser- vação de operadores suspeitos de contaminação e suporte médico de casos potenciais ou confir- mados de doença associada ao laboratório. Todo mater ia l saído deste nível de contenção tem obrigatoriamente de ser esterilizado (UV, calor, banho químico) ou filtrado (ar). P R E C A U Ç Õ E S E M B I O S S E G U R A N Ç A Todo indivíduo trabalhando com agentes in- fecciosos ou material suspeito de conter patóge- nos está exposto ao risco de infecção. Daí é im- portante que precauções apropriadas sejam to- madas, j á que mesmo uma cultura de células não inoculada pode ser uma fonte de patógenos virais. É aconselhável que todo o pessoal de labo- ratório tenha uma amostra de sangue coletada anualmente. R E G R A S G E R A I S D E B I O S S E G U R A N Ç A 1. Todo material contaminado deve ser marca- do apropriadamente e esterilizado por auto- clave, ou UV (superfícies e ar). A contamina- ção do sistema hidráulico por agentes infec- ciosos não pode ocorrer. 2. Devem existir em estoque, próximas do local de t rabalho, soluções de desinfetantes, in- cluindo-se formalina a 20% e etanol a 70%. 3. Gaio las com animais, garrafas de água e res- tos de animais assim como ovos infectados devem ser autoclavados e os técnicos que tra- balham com tal material devem ser instruídos a seguir fielmente as normas de segurança. 4. Todas as vacinas disponíveis devem ser crite- riosamente ut i l izadas para os operadores e usuários do laboratório R E G R A S E S P E C Í F I C A S D E B I O S S E G U R A N Ç A — Manter todos os frascos contendo material infectante fechados quando não estiverem em uso; — Não colocar pipetas contaminadas na super- fície do balcão de trabalho; não andar com pipetas pelo laboratório; não descartar flui- dos contaminados na p ia; não causar derra- mamento de material; — Não produzir aerossol desnecessariamente (maceração com gral e pistilo, agitação vio lenta, sonicação, abertura de vasi lhames com pressão interna maior que a ambiente, inocu- lação de animais por v ia i n t ranasa l , coleta de fluidos de animais ou de ovos embrionados e tc ) ; — Não pipetar com a boca; — Não comer, beber ou fumar no laboratório ou estocar comida ou bebida nos refrigera- dores ou locais de área técnica; — Não levar luva para fora da área de trabalho, e lavar as mãos antes de sair do laboratório; — Vestir jalecos no local de trabalho, mas trocá- los antes de sair; — Desinfectar os balcões ao final do dia; — Ur ina, fezes, sangue total, p lasma, soro e ou- tros fluidos orgânicos devem ser considera- dos como material contaminado até prova em contrário. E m virtude disto, evite sujar-se com qualquer destes materiais; — Lava r sempre com água e sabão a parte do corpo imediatamente após o contato com qualquer espécimen do laboratório; — Cobrir cortes e abrasões de pele, pr incipal- mente das mãos, antes de manusear qualquer espécimen laboratorial; — Ev i ta r perfurações com agulhas e outros obje- tos pontiagudos, principalmente aqueles su jos com sangue; substituí-los, eventualmen- te, por instrumentos plásticos; — Não colocar recipientes contendo substân- cias l íquidas ou qualquer outro objeto, por mais leve que seja, sobre o equipamento de laboratório, para se evitar problemas que in- cluem danos elétricos e obstrução da venti- lação; — Despejar todo o material de análise de forma segura, esteril izando tudo o que for necessá- rio; — Você deve ter consciência da sua segurança em seu local de trabalho. Não acredite que seu trabalho é inócuo só porque você ainda não foi infectado no laboratório. U m dia isto pode acontecer, e o que é pior, pode ser fatal. Tenha cuidado! B I O S S E G U R A N Ç A E A S Í N D R O M E D E I M U N O D E F I C I Ê N C I A A D Q U I R I D A As normas aqui propostas assumem parti- cular relevância quando se observa a acelerada expansão da S I D A / A I D S no mundo e consti- tuem um apanhado geral de regras largamente difundidas. Qualquer unidade laboratorial que se utilize de fluidos orgânicos como o sangue ou porções do mesmo, está em risco de se ver um dia frente ao manuseio de espécimens contaminados pelo H I V . Desta forma, mais do que nunca é essencial que as normas de segurança aqui del ineadas, e outras particulares de cada laboratório, sejam fielmente respeitadas e seguidas. Por outro lado, o trabalho com pacientes so- ropositivos para o H I V ou com a S I D A / A I D S , requer que sejam estabelecidas regras mínimas complementares para bloquear a transmissão ao operador. Desta forma, o trabalho com o H I V deverá obedecer: — a notificação da existência de um trabalho desta natureza para fins de aval iação por um Comitê independente; — a existência de mecanismos de contenção e prevenção da infecção, tais como: a sinal i- zação do perigo biológico, a presença de fonte de água de fácil acesso, desinfetantes próxi- mos ao local de trabalho, equipamento de uso exclusivo como geladeira, centrífuga e tc ; — uma rotina r íg ida de trabalho l imitando o acesso de usuários, mantendo portas fecha das, prevendo a sistemática uti l ização de jale- cos, aventais plást icos, óculos de proteção, luvas e dando o descarte adequado ao mate- rial infectante após sua esteril ização; — cuidados específicos a serem seguidos para o derramamento de material e seu descarte adequado: são recomendadas concentrações variáveis de hipoclorito para a descontami- nação e l impeza de materiais variados como pipetas, ponteiras (hipoclorito a 0,25%), su- perfícies, objetos e equipamentos (hipoclorito a 0,1% ou glutaraldeído a 2%). Contamina- ções grosseiras devem ser l impas com solução de hipoclorito a 1 %; é essencial o uso de cubas fechadas para autoclavação; — manutenção de livro de ocorrência para regis- tro de acidentes, infecções, doenças, assistên- cia médica e t c ; — orientação correta para recebimento de ma- teriais de outros laboratórios; nunca é demais lembrar que a vedação dos frascos contendo soros para teste deve ser completa e que os frascos devem ser embalados em sacos plás- ticos individuais antes de serem enviados; — l impeza diária do laboratório. Reenfatizamos o cuidado quanto ao uso de seringas e agulhas, particularmente no momen- to da colheita do sangue: N U N C A tentar repor a capa de plástico que originalmente recobria a agulha; uma vez coletado o espécimen, depo- site-o em um frasco apropriado, injetando-o atra- vés da agulha; ao término desse últ imo procedi- mento, descartar a seringa acoplada à agulha ( N à O T E N T E S E P A R Á - L O S ! É D E S N E - C E S S Á R I O . . . ) em um recipiente apropriado (e. g., uma ca ixa de papelão suficientemente rígido) cujo destino será a cremação. Por último convém enfatizar que mais im- portante que a contenção física do laboratório para evitarem-se os acidentes, são as prát icas seguras que devem ser seguidas pelo pessoal de laboratório. As pessoas que trabalham no labo ratório devem entender todos os procedimentos, funcionairlento dos equipamentos e as instala ções, assim como devem saber da natureza dos agentes infecciosos, carcinogênicos ou emisso- res de radiações que são manipulados e as conse- qüências da sua manipulação errônea, displicen- te, despreocupada e irresponsável. S U M M A R Y L A B O R A T O R Y S A F E T Y The occurrence of laboratory-acquired infec- tions have elicited in the last ten years an intense interest in methods and procedures for the safe handl ing of microbiological material. The major laboratory safety problem is aerial transmission, however, protection against airborne hazards is efficiently achieved by the use of microbiological safety cabinets. Biosafety rules should be stric- tly followed by all members of a laboratory. E v a - luation of these procedures should be effectively performed by an independent biosafety commit- tee. The upsurge of A I D S should stimulate the adoption of safe working procedures in the labo- ratory. A G R A D E C I M E N T O S À S r a . F Á T I M A M O N T E I R O pela paciente dati lografia do manuscrito. R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S 1. B R I T I S H S t a n d a r d 5726. S p e c i f i c a t i o n s for m i c r o b i o l o - g i c a l sa fe t y c a b i n e t s . L o n d o n , B r i t i s h S t a n d a r d s I n s t i t u ¬ t i on , 1979. 2. C A S A L S , J . — A r b o v i r u s e s , a r e n a v i r u s e s a n d h e p a t i t i s . I n : H E L M A N , A . ; O X M A N , M. N . & P O L L A C K , R . , ed . — B i o h a z a r d s in b i o l o g i c a l r e s e a r c h . C o l d S p r i n g H a r b o r , N e w Y o r k , C o l d S p r i n g H a r b o r L a b o r a t o r y , 1973 . p. 223-245. 3. C L A R K , R . P . — C o n t a i n m e n t f a c i l i t i e s for p a t h o l o g i c a l m a t e r i a l . E n v i r o n . In t . , 8: 387-394, 1982. 4. C L A R K , R . P . — T h e p e r f o r m a n c e of c o n t a i n m e n t f a c i l i ¬ t ies . J . S o c . e n v i r o n . E n g i n . , 21: 31-35, 1982. 5. C L A R K , R . P . — A i r b o r n e h a z a r d s i n the l a b o r a t o r y . N a t u - re , 301: 15-16, 1983. 6. L A B O R A T O R Y sa fe ty for a r b o v i r u s e s a n d c e r t a i n o the r v i r u s e s of v e r t e b r a t e s . T h e S u b c o m m i t t e e o n A r b o v i r u s L a b o r a t o r y S a f e t y of the A m e r i c a n C o m m i t t e e o n A r t h r o - p o d b o r n e V i r u s e s . A m e r . J . t r o p . M e d . Hyg:. , 29: 1359-1381, 1980. R e c e b i d o p a r a p u b l i c a ç ã o e m 08/8/1988 - Biossegurança.pdf ������� ������ � �� �� ����������������� �������� ��� !"!�� Informes Técnicos Institucionais Technical Institutional Reports Biossegurança Biosecurity Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa Uma pessoa à procura de materiais que possam va- ler algum dinheiro revira sacolas e caixas em um lixão. De repente, um descuido. O catador se fere com uma seringa utilizada e abandonada no meio do lixo. Fim de expediente para um profissional de um labora- tório que lida com o bacilo da tuberculose. Ele encerra as atividades sem perceber que sua máscara de prote- ção estava mal colocada. Três semanas depois, o filho de sua empregada é diagnosticado com tuberculose. Hong Kong, China. Um hóspede com sintomas de gripe permanece em um hotel por dois dias. Semanas depois, pessoas com a Síndrome Aguda Respiratória (Sars) são identificadas em cinco países, incluindo Canadá e Estados Unidos. A investigação mostra que os casos estavam relacionados ao paciente do hotel. As situações acima dizem respeito a um conceito cada vez mais importante nos dias atuais: a biossegurança. Essa palavra resume um problema do tamanho do mundo, que envolve desde o controle de uma ameaça séria como a gripe do frango até o sim- ples hábito de lavar, ou não, as mãos. Em síntese: quan- do o tema é biossegurança, o que está em pauta é a análise dos riscos a que está sujeita a vida. Laboratórios A preocupação com a biossegurança cresceu com a circulação, cada vez mais intensa, de pessoas e mer- cadorias em todo o mundo. A possibilidade do uso de vírus e bactérias em atentados terroristas também trou- xe apreensão aos laboratórios e à entrada de substân- cias contaminadas em um país. Nos anos 70, uma série de estudos detectou que os profissionais de laboratórios de saúde apresen- tavam mais casos de tuberculose, hepatite B e shigelose – doença caracterizada pela presença de diarréia, febre e cólicas estomacais – do que pes- soas envolvidas com outras atividades. Na Ingla- terra, a incidência de tuberculose entre esses traba- lhadores chegava a ser cinco vezes maior do que na população. Na Dinamarca, a proporção de casos de hepatite era sete vezes mais alta, se comparada com o restante das pessoas. Na opinião de especialistas que discutem a bios- segurança, o grande problema não está nas tecnolo- gias disponíveis para eliminar ou minimizar os riscos e, sim, no comportamento dos profissionais. Como afirma a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ana Beatriz Moraes, não basta ter bons equi- pamentos. “De nada adianta usar luvas de boa quali- dade e atender ao telefone ou abrir a porta usando as mesmas luvas, pois outras pessoas tocarão nesses objetos sem proteção alguma”, explica. Para ela, é fun- damental que todos os trabalhadores envolvidos em atividades que representem algum tipo de ameaça química ou biológica estejam preparados e dispostos a enxergar e apontar os problemas. De acordo com o gerente-geral de Laboratórios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Galdino Guttmann Bicho, ainda se nota uma dissociação dos conceitos qualidade e segurança. “Entretanto, já é consenso que essas duas questões devem estar inter- ligadas. E é com essa visão que a Anvisa e o Ministério da Saúde vão promover um curso de gestão de biossegurança com qualidade”, adianta. Durante o Seminário Internacional de Biossegurança em Saúde, realizado em agosto, na cidade de São Paulo, um ponto muito debatido foi a necessidade de criar uma cultura de biossegurança. É indispensável, na aná- lise dos participantes, relacionar o risco de acidentes às práticas cotidianas dentro de um laboratório. O consultor de biossegurança da Organização Mun- dial de Saúde (OMS), Jonathan Richmond, lembra que a maior responsabilidade sobre o controle de agentes *Texto de difusão técnico-científica da Anvisa.Correspondência para/ Correspondence to: ANVISA - Assessoria de Imprensa SEPN 515 Bloco B - Edifício Ômega 1o subsolo 70770-502 Brasília, DF E-mail: imprensa@anvisa.gov.br Site: www.anvisa.gov.br ��� ���� ������ � �� �� ����������������� �������� ��� !"!�� Informe Técnico Institucional perigosos é do profissional, que entende o risco e co- nhece os mecanismos de controle. “Nenhum micro- biologista quer levar um agente perigoso para sua casa ou espalhá-lo pela rua”, justifica. Mesmo assim, os er- ros podem aparecer. “Visitei um laboratório na China que trabalha com Sars e o que me chamou a atenção é que, embora houvesse muitas regras de segurança, as pessoas não estavam agindo dentro de uma cultura de segurança exigida para um ambiente como aquele. Além disso, não havia nenhum respirador que se encaixasse corretamente no meu rosto”, exemplifica Richmond. Para a brasileira Denise Cardo, diretora da Divisão de Controle de Infecções do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) – órgão norte-ameri- cano responsável pelo controle de epidemias – medi- das simples reduzem bastante a possibilidade de aci- dentes. É o caso da vacinação dos profissionais de saúde contra doenças como rubéola, tétano, gripe e hepatites ou, ainda, o uso de recursos como o álcool glicerinado para desinfecção. Ela reconhece, porém, que mesmo essas pequenas mudanças não são fáceis de serem implementadas. “Nós, profissionais de saú- de, não nos julgamos suscetíveis aos riscos”. Denise Cardo acredita que a importância dos detalhes, muitas vezes, só é entendida nos momentos de crise. “O caso da Sars nos ensinou bastante. Os países que contive- ram a contaminação nos hospitais, como Taiwan, não tiveram casos externos significativos, ao contrário de Hong Kong e China, que assistiram a uma rápida dis- seminação da epidemia.” China e Hong Kong soma- ram 7.082 casos, enquanto Taiwan – terceiro país em números de casos de Sars – somou 346 diagnósticos. Perto de todos Mais recentemente, o tema biossegurança ultrapas- sou os limites dos laboratórios e hospitais com a cons- tatação de que os riscos biológicos e químicos estão presentes também em outros ambientes. A biosse- gurança não está relacionada apenas a sistemas mo- dernos de esterilização do ar de um laboratório ou câmaras de desinfecção das roupas de segurança. Um profissional de saúde que não lava suas mãos com a freqüência adequada ou o lixo hospitalar descartado de maneira errada são práticas do dia-a-dia que tam- bém trazem riscos. Nos resíduos hospitalares, os materiais perfuro- cortantes, como agulhas, lâminas e tubos de ensaio quebrados, ocupam lugar de destaque no fator peri- go. Isso porque são materiais que entram em contato com substâncias contaminadas e podem facilmente provocar um corte na pele de uma pessoa sadia. Se- gundo a Gerente de Infra-estrutura em Serviços de Saúde da Anvisa, Regina Barcelos, há estudos mos- trando que a possibilidade de se contrair hepatite B em um acidente com perfurocortantes é de 30% e, no caso da hepatite C, esse índice é de 1,8%. Por isso, os especialistas da área defendem que os profissionais de limpeza e administração estejam fami- liarizados com os conceitos de segurança dos labora- tórios. Normalmente, acontece um acidente com o res- ponsável pela limpeza nesses locais porque uma agu- lha ou bisturi não foi descartado de maneira adequada pelo profissional de saúde. Por mais básico que possa parecer, o hábito de lavar as mãos ainda é adotado com menos freqüência do que o necessário. A gerente de Investigação e Prevenção de Infecções e dos Eventos Adversos da Anvisa, Adélia Marçal, acredita que esse ato ultrapassa a questão cul- tural. “A higiene demanda tempo. Às vezes, o profissio- nal se encontra tão sobrecarregado pelo trabalho, que pula a ação de higiene para ir direto a ação assistencial, que é vista como mais importante”, justifica. Esse pro- blema é maior quando o médico ou enfermeiro tem que se deslocar da sua área de trabalho para encontrar, por exemplo, uma pia. Adélia ressalta que fatores como a qualidade dos sabonetes também dificulta a realização de um procedimento simples como a lavagem das mãos. Se o sabão não for adequado, depois de um período a pele acaba ficando ressecada e descamada, o que ape- nas piora a situação, principalmente dos que lavam as mãos várias vezes ao dia. Até mesmo a tecnologia criada para reduzir risco pode ser um problema quando mal utilizada. É o caso da “esterilização flash”, um procedimento recomen- dado para limpar materiais apenas em casos de urgên- cia. No entanto, a técnica vem sendo empregada de modo rotineiro, mesmo havendo outros métodos de esterilização mais eficientes que podem ser utilizados quando não há necessidade imediata do material. Desvios como esse tornam possível entender por que num país desenvolvido, como os Estados Uni- dos, entre 44 mil e 98 mil pacientes são vítimas de erro médico, anualmente. Ou, ainda, por que um em cada 10 pacientes, na Europa, volta do hospital com algum efeito adverso (como uma infecção, por exemplo) pro- vocado pela falta de maiores cuidados com a seguran- ça hospitalar. Outras fronteiras A forma de abordar e estudar a biossegurança, nos últimos anos, ganhou novos contornos. Até mesmo o fator psicológico dos trabalhadores passou a ser con- siderado no momento da avaliação dos riscos. Para Paulo Starling, um dos coordenadores do Curso de ������� ������ � �� �� ����������������� �������� ��� !"!�� Informe Técnico Institucional Especialização de Biossegurança em Instituições de Saúde do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Cha- gas, da Fiocruz, problemas como a falta de condições adequadas de trabalho e pressões por produtividade influenciam negativamente os resultados, mas pou- cas vezes são considerados. “O estresse psicossocial gera um sofrimento que provoca dificuldades na aten- ção e na capacidade de trabalho. A conseqüência é a desmotivação para a realização das suas atividades de maneira correta”, justifica. Segundo Paulo, para identificar a relação entre o estresse e o risco de aci- dente em um serviço de saúde basta fazer um mapa das áreas de risco e da incidência de doenças entre os profissionais da instituição. Para o médico veterinário e especialista em segu- rança de transgênicos Sílvio Valle, a maior preocupa- ção, no momento atual, deve ser com relação ao im- pacto da liberação de determinados produtos no am- biente. Segundo ele, a discussão sobre biossegurança em serviços típicos de saúde, como hospitais e labo- ratórios, já está mais adiantada. Fora desses ambien- tes, porém, a idéia de biossegurança ainda não se con- solidou. Ele cita o caso dos transgênicos, reconheci- dos como produtos que envolvem risco, mas que ain- da carecem de controle mais rígido. “O gado trans- gênico pode ser facilmente contido, caso se descubra algum problema de segurança em relação ao consumo de derivados do animal, mas quando se tratam de plan- tas e insetos, por exemplo, esse é um trabalho mais difícil”, alerta Valle. Em todos esses casos, o ponto central é a certeza de que a reflexão sobre a segurança de todos os proces- sos é fundamental para garantir a vida de pessoas, seja num pequeno acidente com uma seringa utilizada ou numa epidemia desencadeada a partir do contato entre hóspedes de um hotel. Os ataques com a bactéria do Antraz nos EUA, em 2001, tornaram realidade uma preocupação antiga: o uso de agentes perigosos em ataques terroristas. Atualmente, a discussão sobre biossegurança passa também pela segurança física dos laboratórios que trabalham com esse tipo de material. De acordo com o consultor da OMS para assuntos de biossegurança Jonathan Richmond, apesar de o terrorismo ameaçar um número restrito de países, todo laboratório deve ser visto como um alvo potencial. Ele inclui o Brasil nesta lista. Para ele, a iniciativa brasileira de montar uma rede de laboratórios de ní- vel de biossegurança segurança 3 (NB3), capazes de trabalhar com agentes perigosos como o vírus da hantavirose e a bactéria do Antraz, é fundamental para aumentar a capacidade do país na área de diag- nóstico. Entretanto, é indispensável que se pense também no controle do acesso aos agentes perigo- sos, ressalta. “Não existe sistema perfeito. O que po- demos é diminuir os riscos, mas eles nunca serão totalmente eliminados”, sentencia. O transporte des- ses materiais também é um desafio. Segundo Nicoletta Previsan, diretora de Vigilância e Resposta a Doenças Transmissíveis da OMS, há casos em que o serviço de correio desconhece o material que está transportando e as providências a serem tomadas, em caso de acidente. Ao mesmo tem- po, surge outra preocupação: a identificação externa, nos pacotes com agentes perigosos, pode ser um atrativo para terroristas. Terrorrismo internacional ASPECTOS DE BIOSSEGURANÇA RELACIONADOS AO USO DO JALECO PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE - UMA REVISÃO DA LITERATURA.pdf Revisão de literatura - 355 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. ASPECTOS DE BIOSSEGURANÇA RELACIONADOS AO USO DO JALECO PELOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE: UMA REVISÃO DA LITERATURA Carmem Milena Rodrigues Siqueira Carvalho1, Maria Zélia de Araújo Madeira2, Fabrício Ibiapina Tapety3, Eucário Leite Monteiro Alves4, Maria do Carmo de Carvalho Martins5, José Nazareno Pearce de Oliveira Brito6 1 Doutora em Dentística e Endodontia. Professora da Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí (NOVAFAPI) e Universidade Federal do Piauí (UFPI). Piauí, Brasil. E-mail: ccarvalho@novafapi.com.br 2 Mestre em Educação. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UFPI. Piauí, Brasil. E-mail: zeliamadeira15@yahoo. com.br 3 Doutor em Odontologia. Professor da Faculdade NOVAFAPI. Piauí, Brasil. E-mail: ftapety@novafapi.com.br, fabricio100@ hotmail.com 4 Médico. Professor do curso de Medicina da Faculdade NOVAFAPI. Piauí, Brasil. E-mail: medicina@novafapi.com.br 5 Doutora em Ciências Biológicas. Docente do Departamento de Biofísica e Fisiologia da Faculdade NOVAFAPI e da UFPI. Piauí, Brasil. E-mail: mcmartins@novafapi.com.br 6 Doutor em Ciências Médicas. Docente do Curso de Graduação em Medicina da Faculdade NOVAFAPI e da UFPI. Piauí, Brasil. E-mail: nazapearce@novafapi.com.br RESUMO: O estudo objetivou analisar a literatura publicada a respeito dos aspectos da biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais da saúde. Trata-se de uma revisão narrativa da literatura publicada no período de 1991 a 2008. Utilizou-se as bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, sendo selecionados 22 artigos que foram agrupados para análise considerando os enfoques priorizados em: infecções cruzadas causadas por jalecos; jalecos contaminados; flora bacteriana em jalecos dos profissionais de saúde. O jaleco foi abordado como fonte de contaminação e como equipamento de proteção individual na prevenção das infecções. Portanto, são necessárias campanhas educativas no sentido de orientar os profissionais de saúde sobre o uso de jaleco. DESCRITORES: Infecção. Biossegurança. Prevenção. BIOSECURITY ASPECTS RELATED TO THE USE OF LABORATORY COATS BY HEALTH PROFESSIONALS: A LITERATURE REVIEW ABSTRACT: This study aimed to analyze the literature published in regards to biosecurity aspects of the use of laboratory coats by health professionals. This is a narrative review of the literature published from 1991 to 2008. MEDLINE, LILACS, and SciELO were the databases used. Twenty-two articles were selected and were grouped for analysis with emphasis given to: cross infections caused by lab coats; contaminated lab coats; bacterial flora on health professionals’ lab coats. The lab coat was found to be a source of contamination and to be equipment for individual protection in infectious disease. Therefore educational campaigns are necessary in order to orientate health professionals about the use of lab coats. DESCRIPTORS: Infection. Biosecurity. Prevention. ASPECTOS DE BIOSEGURIDAD RELACIONADOS AL USO DEL JALECO POR PROFESIONALES DE SALUD: UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA RESUMEN: El objetivo del estudio fue analizar la literatura publicada sobre los aspectos de bioseguridad relacionados al uso del jaleco por profesionales del área de la salud. Se trata de una revisión narrativa de la literatura publicada en el período de 1991 a 2008. Se utilizaron las bases de datos MEDLINE, LILACS y SciELO, siendo seleccionados 22 artículos que fueron agrupados para su análisis considerando los enfoques cuyo énfasis es dado en: infecciones cruzadas causadas por los jalecos; jalecos contaminados; flora bacteriana presente en los uniformes de los profesionales de salud. El jaleco fue considerado como fuente de contaminación y como equipo de protección individual en la prevención de las infecciones. Por lo tanto, son necesarias campañas educativas en el sentido de orientar los profesionales de salud sobre el uso del jaleco. DESCRIPTORES: Infección. Bioseguridad. Prevención. - 356 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. INTRODUÇÃO Na prevenção da contaminação por agentes infecciosos, recomenda-se que os profissionais de saúde adotem medidas de Biossegurança, especificamente àqueles que trabalham em áreas insalubres, com risco variável. Esses riscos dependem da hierarquização e complexidade dos hospitais ou posto de saúde, do tipo de atendimento realizado (hospital de doenças infecto-contagiosas) e do ambiente de trabalho do profissional (endoscopia, unidade de terapia intensiva, lavanderia, laboratório etc), uma vez que estão mais suscetíveis a contrair doenças advindas de acidentes de trabalho, por meio de procedimentos que apresentam riscos. Biossegurança é definida como o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tec- nológico e prestação de serviços, riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.1-2 Em relação à Biossegurança, é importante relacionar à sua legalização no Brasil, que atu- almente está veiculada à Lei Nº 11.105 de 25 de março de 2005 que dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança. A Lei Nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995 foi revogada, criou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, uma dimensão am- pla que extrapola a área da saúde e do trabalho, sendo empregada quando há referência ao meio ambiente e à biotecnologia.1 Nesse sentido, a saúde dos trabalhadores abrange um campo específico da área da saúde pública no Brasil, que procura atuar através de procedimentos próprios, com a finalidade de pro- mover e proteger a saúde das pessoas envolvidas no exercício do trabalho. Assim, voltada para a saúde do trabalhador, tem-se a Portaria Nº 37 de 06/12/2002, que instituiu a Norma Regulamenta- dora (NR) 32, que trata especificamente da Segu- rança e Saúde do Trabalho nos Estabelecimentos de Assistência a Saúde.3 Considerando esses aspectos, no ambiente hospitalar, o risco é uma ou mais condições de uma variável com potencial necessário para causar danos.3 De acordo com a NR-9 do Ministério do Trabalho e Emprego, os riscos de acidentes podem ser classificados em: físicos (calor, iluminação e artigos cortantes); químicos (soluções químicas e aerossóis); biológicos (fluidos corporais – vírus, bactérias e fungos); ergonômico-mecânicos (des- conforto); e psicossociais (estresse e fadiga).4 Dentre estes, o risco biológico como um dos principais entre os profissionais de saúde, aumen- tou, principalmente após o aparecimento da Aids e do crescimento do número de pessoas infectadas pelos vírus da hepatite B e C.3 Com o advento da aids e a divulgação por parte dos meios de comunicação dos riscos a que estão submetidos durante, por exemplo, tratamentos odontológicos, a população passou a exigir mais e, principalmente, a valorizar aqueles profissionais que investem em biossegurança.5 É importante salientar que nos serviços de saúde, especialmente de urgência e emergência, grande parte dos acidentes que envolvem profis- sionais da área da saúde se deve à falta de obser- vância e adoção das normas de biossegurança.4 Contudo, o emprego de práticas seguras, como o uso do jaleco, reduz significativamente o risco de acidente ocupacional, sendo importante também a conscientização dos profissionais para utilização de técnicas assépticas e o estabeleci- mento de normas, conduta e procedimentos que garantam ao profissional e ao paciente um trata- mento sem risco de contaminação. Nos serviços de saúde as infecções são con- sideradas problemas de saúde pública, devido à sua importante incidência e influência nas taxas de letalidade, especialmente nos hospitais. Apesar de tantos exemplos, como as infecções pós-cirúrgicas, transmissão da hepatite B, do herpes simples, entre tantas outras, os profissionais da área de saúde res- ponsáveis pela prevenção e controle nem sempre estiveram conscientes disso e nem propensos a seguir de forma correta os passos necessários para eliminar e diminuir os riscos para seus pacientes e para si próprios e sua equipe. Nas infecções cruzadas, os microrganismos têm um papel passivo, cabendo ao homem o papel ativo; logo, será sobre suas ações o maior enfoque do controle dessas infecções. Atualmente, as normas consoantes à biossegurança são motivos de preocu- pação, tanto por parte das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar quanto pelos Serviços de Medicina Ocupacional. A utilização de precauções básicas auxilia os profissionais nas condutas técni- cas adequadas à prestação dos serviços, através do uso correto de Equipamento de Proteção Individual (EPI), de acordo com a NR-6 da portaria Nº 3.214, de 08.06.78. Essas medidas devem gerar melhorias na qualidade da assistência e diminuição de custos e infecções cruzadas advindas da prática hospitalar Carvalho CMRS, Madeira MZA, Tapety FI, Alves ELM, Martins MCC, Brito JNPO - 357 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. e ambulatorial, tanto para os profissionais como para os pacientes e seus familiares.6-7 Dentre as medidas destacam-se os EPIs, que se destinam a proteger os profissionais nas operações de riscos de exposição ou quando houver manipu- lação de produtos químicos e biológicos, bem como riscos de contaminação com materiais perfurocor- tantes. Os EPIs podem ainda ser considerados um dispositivo de uso individual destinado a proteger a integridade física e a saúde do trabalhador.7-8 A contaminação da pele e vestimentas (rou- pas) por respingos e por toque é praticamente inevitável em hospitais e ambulatórios, assim como em consultórios odontológicos.8 Estudo demonstrou que as roupas são uma importante via de transmissão de infecção no ambiente hos- pitalar.9 Desta forma, os jalecos dos profissionais da área de saúde, passam a ser o primeiro sítio de contato em termos de indumentária com a pele, líquidos e secreções dos pacientes, tornando-se com isto um verdadeiro fômite. Bactérias multirresistentes, que podem pro- vocar doenças como faringites, otites, pneumonia, tuberculose e até mesmo a morte, são carregadas para lugares públicos e retornam das ruas para consultórios médicos, odontológicos, enfermarias e salas de cirurgia nos jalecos dos mais diversos profissionais de saúde. Freqüentemente, a serie- dade da questão é negligenciada por arrogância ou desconhecimento de alguns conceitos básicos de microbiologia.10 Em restaurantes e lanchonetes da região hospitalar de muitas cidades, observam-se, dia- riamente, médicos, enfermeiros, odontólogos e outros profissionais de saúde paramentados com seus aventais de mangas compridas, gravatas, estetoscópios no pescoço e até mesmo vestimen- tas específicas para áreas cirúrgicas. Essa cena se repete em outros locais da cidade onde funcionam hospitais, consultórios, laboratórios de análises, clínicas médicas e veterinárias. Além de constituir grave ameaça à saúde pública, esses profissio- nais (e os estabelecimentos onde trabalham) são passíveis de representações nos órgãos de defesa do consumidor e podem ser punidos com pesa- das multas. Na Inglaterra, a Associação Médica Britânica estabeleceu diretrizes rigorosas para o problema. A entidade condena o uso de gravatas, relógios de pulso, adornos e, sobretudo, o hábito de circular com aventais e jalecos em ambientes não hospitalares, já que vários germes capazes de provocar doenças foram isolados, principalmente nas mangas e nos bolsos dessas indumentárias.10 Muitos profissionais da saúde alegam não haver estudos científicos conclusivos que avaliem o impacto dos jalecos nas taxas de infecção hospita- lar e por isso passam a freqüentar os mais diversos ambientes usando seus uniformes. Diante dessas considerações, o estudo teve como objetivo fazer uma análise da literatura pu- blicada a respeito dos aspectos da biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos profissionais da saúde. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão narrativa da litera- tura, que apresenta uma temática mais aberta, não exigindo um protocolo rígido para sua confecção, a busca das fontes não é pré-determinada e especí- fica, sendo frequentemente menos abrangente. A seleção dos artigos é arbitrária, provendo o autor de informações sujeitas a viés de seleção, com grande interferência da percepção subjetiva.11 A forma de busca do material foi nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SciELO, utilizando como limitação temporal o período de 1991 a 2008. Foram utilizadas as palavras chaves: infecção, biossegurança, prevenção e controle, conforme apresentação do vocabulário contido nos Descri- tores em Ciências da Saúde, criados pela Bireme. Com esses termos, selecionou-se, de forma arbi- trária, um total de 22 artigos pertinentes ao tema abordado onde os critérios de inclusão foram a presença das palavras-chave selecionadas e a limitação temporal do período. Os textos foram agrupados para análise con- siderando os enfoques priorizados em: infecções cruzadas causadas por jalecos, jalecos contamina- dos, flora bacteriana em jalecos, padrões e normas para descontaminação de jalecos dos profissionais de saúde. Considerou-se também no estudo os artigos descritos na literatura que utilizavam como sinônimo de jaleco o avental, o casaco e a bata. RESULTADOS E DISCUSSÃO O jaleco como fonte de contaminação Estudo realizado demonstrou que uniformes e jalecos brancos tornaram-se progressivamente contaminados durante atendimentos clínicos e que a contaminação alcança um nível de saturação até se estabilizar em um platô. O tempo que é gasto para se atingir este nível de saturação não está claro e é provável que dependa da quantidade de colonização Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos... - 358 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. microbiana do paciente, freqüência e tipo de ativi- dade clínica e outros fatores, tais como: o nível de contaminação microbiana ambiental e a extensão e o uso efetivo de roupa protetora. Assim, os autores concluíram que os uniformes tornavam-se contami- nados durante atendimentos, sugerindo a hipótese que aqueles uniformes são um veículo potencial para transmissão de microrganismos, o que pode vir a causar infecções associadas a cuidados de saúde.12 Existe uma significante preocupação do público, na Inglaterra, a respeito dos profissio- nais que usam uniformes em locais públicos e estes, se contaminados, podem contribuir para a disseminação de infecções associadas aos cuida- dos de saúde. Evidências de uma conexão entre uniformes contaminados e que infecções podem contribuir para a disseminação de patógenos em ambientes não foi medido sistematicamente. Es- tudos em pequena escala, mostram que uniformes e jalecos brancos tornam-se, progressivamente, contaminados durante os atendimentos clínicos, e a maioria da contaminação microbiana se origina do usuário para o uniforme.12 Nesta perspectiva, o uso diário do jaleco pelo profissional de saúde no contato com pacientes faz com que os jalecos se tornem colonizados com bactérias patogênicas? Esta hipótese foi confirmada em pesquisa na qual foi demonstrado que os jale- cos brancos de estudantes de medicina são mais susceptíveis de estarem bacteriologicamente con- taminados em pontos de contato freqüente, como mangas e bolsos. Os principais microrganismos identificados foram comensais de pele incluindo o Staphylococcus aureus. Para os autores, a limpeza dos jalecos realizada pelos estudantes, foi correla- cionada com a contaminação bacteriológica, e ape- sar disso, uma proporção significativa dos estudan- tes lavava os seus jalecos somente ocasionalmente. Estudantes de medicina em treinamento hospitalar deveriam considerar a hipótese de assumirem o compromisso de terem seus jalecos sempre lavados recentemente. Este estudo apóia a opinião de que os jalecos brancos dos estudantes constituem uma fonte potencial de infecção cruzada em enfermarias e que seu modelo deveria ser modificado, de modo a facilitar a lavagem das mãos.13 O papel dos trabalhadores da saúde na pre- venção da transmissão de infecção nosocomial e a importância da lavagem das mãos, uma das práticas mais importantes para os profissionais da área de saúde, pois é uma conduta simples, de baixo custo e muito importante na prevenção da infecção.14 Há pouca evidência de outros métodos melhores que a lavagem das mãos na prevenção de infecção hospitalar, independente do tipo de jaleco que os profissionais estejam usando.15 Também em relação à contaminação micro- biológica, alguns estudos concluíram que os Sta- phylococcus aureus resistentes à Meticilina (MRSA) prevaleciam em duas alas em suas escolas médicas de um hospital universitário, durante o período de julho a setembro de 1997.16-17 Para determinar se es- tes Staphylococcus aureus isolados foram associados a fatores ambientais, realizaram-se dois inquéritos seqüenciais MRSA com o pessoal hospitalar e ar- redores, em enfermarias com surtos (alas 1 e 2) e em uma enfermaria sem um foco (enfermaria 3), em abril de 1998 (enfermaria apenas 1) e em março de 1999 (enfermarias 1, 2, e 3). Nos dois inquéritos seqüenciais, cepas MRSA foram detectadas prin- cipalmente a partir de casacos brancos. Pesquisadores relataram que os uniformes dos profissionais de saúde, incluindo os jalecos, quando em uso, tornam-se progressivamente con- taminados com bactérias de baixa patogenicidade provenientes do usuário e de patogenicidade mista provenientes do ambiente clínico e de pacientes.17 A hipótese que os uniformes ou as roupas pode- riam ser um veículo para transmissão de infecção não são suportadas por evidências. Todos os componentes do processo de lavagem contribuem para remover ou matar os microrganismos. Não existem trabalhos científicos que estabeleçam se há diferenças na eficácia da descontaminação de uniformes entre as lavanderias industriais e as domésticas ou que a lavagem doméstica promova uma inadequada descontaminação. O jaleco como equipamento de proteção individual na prevenção de infecção Segundo pesquisadores, ainda não se apre- sentou o isolamento de bactérias patogênicas, uma vez que muitos destes microrganismos precisam de um ambiente úmido e seco para sua sobrevivên- cia, o que não está presente em jalecos brancos.18 Por outro lado, alguns acessórios que ficam em contato direto com os jalecos dos profissionais de saúde como crachás de identificação, colares e brincos usados por muitos profissionais, podem estar contaminados com bactérias patogênicas às quais poderiam ser transmitidas a pacientes. Desta forma no estudo, são sugeridas intervenções de controle de infecções apropriadas. Crachás de identificação, mesmo não parecendo ser a principal fonte de microrganismos patogênicos, podem abri- Carvalho CMRS, Madeira MZA, Tapety FI, Alves ELM, Martins MCC, Brito JNPO - 359 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. gar organismos de doença e deveriam ser limpos regularmente, o que pode ser aplicado a jalecos.19 Desse modo, a prevenção se faz através da utilização das precauções padrão, medidas de proteção que devem ser tomadas por todos os pro- fissionais de saúde, quando prestam cuidados aos pacientes ou manuseiam artigos contaminados, independentes da presença de doença transmis- sível comprovada, como por exemplo, o uso de EPIs (luvas, máscaras, gorros, óculos de proteção, aventais e botas), lavagem das mãos, descarte adequado de roupas e resíduos, material perfuro- cortante adequadamente acondicionado e todos os profissionais vacinados contra a Hepatite B.18 Em relação ao papel dos jalecos médicos na transmissão e prevenção de infecções noso- comiais,20 outro estudo concluiu que uma maior atenção deveria ser feita em relação à vestimenta de jalecos da equipe de saúde, sendo que muitas vezes seu papel protetor é superestimado. O avental e as luvas são importantes para a terapia em um paciente, quando houver possibi- lidade de contato com fluidos corpóreos e devem ser removidos após o uso, pois podem facilmente veicular microrganismo.14 Investigação realizada aponta o fato de os alunos utilizarem transporte coletivo vestidos com jalecos, além de freqüenta- rem cantinas e restaurantes sem a mínima preocu- pação em estar portando uma roupa com grande chance de estar contaminada. 21 As luvas, por apresentarem menos porosi- dades e reentrâncias que a pele, possibilitam uma melhor desinfecção, além de conferir natural pro- teção à contaminação. Luvas devem cobrir os pu- nhos do avental, que deve ter mangas compridas e ser mantido fechado; a máscara deve apresentar paredes duplas ou triplas e se ajustar confortavel- mente aos óculos de proteção; os propés devem ser utilizados ou reserva-se um par de sapatos para uso exclusivo no consultório.22 A atenção às estratégias preventivas sim- ples podem reduzir significativamente as taxas de infecções cruzadas.23 Dentre elas, a lavagem freqüente das mãos continua sendo a mais im- portante medida no controle das infecções. No entanto, identificar mecanismos para garantir o cumprimento pelos profissionais de saúde conti- nua a ser um problema de alta complexidade. Em um estudo prospectivo observacional foi analisada a obediência ao uso rotineiro de capotes por trabalhadores de saúde e visitantes não traba- lhadores de saúde, quando entravam em quartos de pacientes sob precauções de contato. Concluí-se que havia uma melhoria na transmissão de pató- genos e que a obediência do uso do capote requer esforços educacionais mais intensos.24 As luvas, batas e máscaras têm um papel a desempenhar na prevenção das infecções, mas muitas vezes são usados inadequadamente, aumentando os custos de serviços desnecessa- riamente. Enquanto microrganismos virulentos podem ser cultivados a partir de estetoscópios e casacos brancos, seus papéis na transmissão de doenças permanecem indefinidos. Tal como o estetoscópio, o casaco branco foi durante muito tempo um símbolo do profissional de saúde, assim, muitas instituições insistem para que médicos, em especial, o vistam como parte de um código obri- gatório. Cerca de metade dos pacientes continua a preferir o seu médico de jaleco branco.23 No entanto, os pacientes podem ficar menos entusiasmados, se compreenderem que casacos brancos constituem fontes potenciais de agentes patogênicos e é fonte de infecção cruzada, parti- cularmente em áreas cirúrgicas.25 A recomendação é que os jalecos devem ser removidos em sacos plásticos e em uma freqüên- cia superior a uma semana. Devem ser seguidas regras simples de biossegurança para assegurar a saúde dos profissionais e dos pacientes no controle de doenças.26 CONCLUSÃO Os resultados deste estudo apontam no sentido de que os jalecos, bem como outros aces- sórios usados pelos profissionais da área de saúde, são um veículo potencial para transmissão de microrganismos podendo vir a servir como fonte de infecções associadas aos cuidadores de saúde. O uso de jalecos se tornou uma prática obri- gatória, com a finalidade de proteção dos profis- sionais durante a realização de procedimentos a pacientes, que envolvam material biológico, no entanto sua utilização indevida (como uso fora do ambiente de trabalho) pode causar sérias con- seqüências para a saúde pública. Pode-se dizer que há poucos estudos em re- lação à contaminação de uniformes utilizados por profissionais da área de saúde. É necessário que se realizem mais pesquisas para verificar a observância da existência de infecção cruzada por vestimentas uti- lizadas pelas equipes médicas multidisciplinares. Sugere-se a realização de campanhas edu- cativas no sentido de orientar os profissionais de saúde sobre o uso de jaleco e a adoção de proto- Aspectos de biossegurança relacionados ao uso do jaleco pelos... - 360 - Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2009 Abr-Jun; 18(2): 355-60. colos rígidos no uso e descontaminação de jalecos por parte das instituições de saúde. 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Correspondência: Maria Zélia de Araújo Madeira Rua Humberto de Campos, 1291 64023-600 - Lourival Parente,Teresina, PI, Brasil E-mail: zeliamadeira15@yahoo.com.br Recebido em: 7 de agosto de 2008 Aprovação final: 21 de maio de 2009 Carvalho CMRS, Madeira MZA, Tapety FI, Alves ELM, Martins MCC, Brito JNPO biossegurança (cartilha).pdf BIOSSEGURANÇA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO em laboratórios Prof. Dr. Natalino Salgado Filho REITOR Prof. Dr. Antonio José Silva Oliveira VICE-REITOR Maria Elisa Cantanhede Lago Braga Borges PRÓ-REITORA DE RECURSOS HUMANOS Carla Magalhães de Souza Gaspar DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO DE PESSOAS Márcia Teixeira Marques COORDENADORA DE ATENÇÃO À SAÚDE DO SERVIDOR Ronaldo Doering Mota DIRETOR DO SERVIÇO ESPECIALIZADO EM SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO Elaboração: SESMT - UFMA Universidade Federal do Maranhão Av. dos Portugueses, s/n – Campus Bacanga – Edifício Castelo Branco – 65080-40 São Luís - MA www.prh.ufma.br/5s SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. PRINCÍPIOS DA BIOSSEGURANÇA 3. TIPOS DE RISCOS 4. MÉTODOS DE CONTROLE DE AGENTES DE RISCOS 4.1 BOAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO 4.2 EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA 4.3 ESTRUTURA FÍSICA DO LABORATÓRIO 5. SEGURANÇA QUÍMICA EM LABORATÓRIOS 6. PRIMEIROS SOCORROS 7. INCÊNDIOS NO LABORATÓRIO 8. PROGRAMA DE PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIO CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS 1. INTRODUÇÃO Ambientes laboratoriais são locais que podem expor as pessoas que nele trabalham ou circulam a riscos de diversas origens. Os laboratórios de ensino e pesquisa têm características diferentes de outros, devido principalmente a grande rotatividade de professores, pesquisadores, estagiários, alunos de graduação e pós-graduação, além da variabilidade de atividades desenvolvidas. A manipulação de produtos químicos, microorganismos e parasitas com risco de infectividade e morbidade é bastante variada, sobretudo nos laboratórios de ensino na área de saúde. A Biossegurança por ser um conjunto de procedimentos, ações, técnicas, metodologias, equipamentos e dispositivos capazes de eliminar ou minimizar riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos, é de fundamental importância em laboratórios de ensino e pesquisa. Portanto, neste material serão abordados cuidados que devem ser tomados e medidas que reduzem ao máximo a exposição aos riscos que afetam a saúde de profissionais e estudantes, que estão em contato com equipamentos, substâncias químicas e espécimes biológicos em laboratórios. 2. PRINCÍPIOS DA BIOSSEGURANÇA O objetivo principal da biossegurança é criar um ambiente de trabalho onde se promova a contenção do risco de exposição a agentes potencialmente nocivos ao trabalhador, pacientes e meio ambiente, de modo que este risco seja minimizado ou eliminado. O termo “contenção” é usado para descrever os métodos de segurança utilizados na manipulação de materiais infecciosos ou causadores de riscos em meio laboratorial, onde estão sendo manejados ou mantidos. O objetivo da contenção é reduzir ou eliminar a exposição da equipe de um laboratório, de outras pessoas e do meio ambiente em geral aos agentes potencialmente perigosos. As contenções de riscos representam-se como a base da biossegurança e são ditas primárias ou secundárias. A contenção primária, ou seja, a proteção do trabalhador e do ambiente de trabalho contra a exposição a agentes infecciosos, é obtida através das práticas microbiológicas seguras e pelo uso adequado dos equipamentos de segurança. A contenção secundária compreende a proteção do ambiente externo contra a contaminação proveniente do laboratório e/ou setores que manipulam agentes nocivos. Esta forma de contenção é alcançada tanto pela adequada estrutura física do local como também pelas rotinas de trabalho, tais como descarte de resíduos sólidos, limpeza e desinfecção de artigos e áreas, etc. 3. TIPOS DE RISCOS As normas de biossegurança englobam medidas que visam evitar riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. RISCOS FÍSICOS Consideram-se agentes de riscos físicos as diversas formas de energia, originadas dos equipamentos e são dependentes dos equipamentos, do manuseio do operador ou do ambiente em que se encontra no laboratório. Pode-se citar alguns exemplos: ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, ultra-som, etc. Estufas, muflas, banhos de água, bicos de gás, lâmpadas infravermelhas, mantas aquecedoras, agitadores magnéticos com aquecimento, incubadoras elétricas, fornos de microondas e autoclaves são os principais equipamentos geradores de calor. Suas instalações devem ser feitas em local ventilado e longe de materiais inflamáveis, voláteis e de equipamentos termossensíveis. RISCOS BIOLÓGICOS Os materiais biológicos abrangem amostras provenientes de seres vivos como plantas, bactérias, fungos, parasitas, animais e seres humanos (sangue, urina, escarro, peças cirúrgicas, biópsias, entre outras). RISCOS DE ACIDENTES Considera-se riscos de acidentes qualquer fator que coloque o trabalhador ou aluno em situação de perigo e possa afetar sua integridade e bem estar físico. São exemplos de riscos de acidentes: equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico e armazenamento inadequados, etc. RISCOS QUÍMICOS Consideram-se agentes de riscos químicos os produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão. A classificação das substâncias químicas, gases, líquidos ou sólidos devem ser conhecidas por seus manipuladores. Nesse aspecto, tem-se solventes orgânicos, explosivos, irritantes, voláteis, cáusticos, corrosivos e tóxicos. Eles devem ser manipulados de forma adequada em locais que permitam ao operador a segurança pessoal e do meio ambiente, além dos cuidados com o descarte dessas substâncias. RISCOS ERGONÔMICOS Considera-se riscos ergonômicos qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do trabalhador causando desconforto ou afetando sua saúde. Tais riscos referem-se as condições dos projetos dos laboratórios como a distância em relação à altura dos balcões, cadeiras, prateleiras, gaveteiros, capelas, circulação e obstrução de áreas de trabalho. Os espaços devem ser adequados para a execução de trabalhos, limpeza e manutenção, garantindo o menor risco possível de choques acidentais. 4. MÉTODOS DE CONTROLE DE AGENTES DE RISCOS 4.1. BOAS PRÁTICAS DE LABORATÓRIO (BPL): Todo pessoal de laboratório deve: Conhecer os riscos biológicos, químicos, radioativos, tóxicos e ergonômicos com os quais se tem contato no laboratório; Ser treinado e aprender as precauções e procedimentos de biossegurança; Seguir as regras de biossegurança; Evitar trabalhar sozinho com material infeccioso. Uma segunda pessoa deve estar acessível para auxiliar em caso de acidente; Ser protegido por imunização apropriada quando disponível; Manter o laboratório limpo e arrumado, devendo evitar o armazenamento de materiais não pertinentes ao trabalho do laboratório; Limitar o acesso aos laboratórios. Não permitir crianças no laboratório. Esclarecer mulheres grávidas ou indivíduos imunocomprometidos que trabalham ou entram no laboratório quanto aos riscos biológicos; Manter a porta do laboratório fechada; Usar roupas protetoras de laboratório (uniformes, aventais, jalecos, máscaras), que devem estar disponíveis e serem usadas inclusive por visitantes; Usar luvas sempre que manusear material biológico. As luvas devem ser usadas em todos os procedimentos que envolverem o contato direto da pele com toxinas, sangue, materiais infecciosos ou animais infectados. Anéis ou outros adereços de mão que interferem o uso da luva devem ser retirados. As luvas devem ser removidas com cuidado para evitar a formação de aerossóis e descontaminadas antes de serem descartadas. Trocar de luvas ao trocar de material. Não tocar o rosto com as luvas de trabalho. Não tocar com as luvas de trabalho em nada que possa ser manipulado sem proteção, tais como maçanetas, interruptores, etc. Não descartar luvas em lixeiras de áreas administrativas, banheiros, etc.; Retirar o jaleco ou avental antes de sair do laboratório. Aventais devem ter seu uso restrito ao laboratório. Não devem ser usados em áreas não laboratoriais tais como áreas administrativas, biblioteca, cantina, etc.; Não usar sapatos abertos; Usar óculos de segurança, visores ou outros equipamentos de proteção facial sempre que houver risco de espirrar material infectante ou de contusão com algum objeto; Não aplicar cosméticos; Não retirar canetas ou qualquer outro instrumento do laboratório sem descontaminar antes; Evitar o uso de lentes de contato. Se houver necessidade de usá-las, proteja os olhos com óculos de segurança. Lentes de contato não devem ser manuseadas nas áreas de trabalho. Em caso indispensável do ajuste das mesmas, isto deverá ser feito após lavagem das mãos, fora do ambiente de atividade prática; Cabelos compridos devem estar presos durante o trabalho. O uso de jóias ou bijuterias deve ser evitado; Lavar as mãos sempre após manipulação com materiais sabidamente ou com suspeita de contaminação. Lavar as mãos sempre após remoção das luvas, do avental ou jaleco e antes de sair do laboratório; Nunca pipetar com a boca. Usar pêra ou pipetador automático; Restringir o uso de agulhas, seringas e outros objetos pérfuro- cortantes; Extremo cuidado deve ser tomado quando da manipulação de agulhas para evitar a auto-inoculação e a produção de aerossóis durante o uso e descarte. Nunca tente recapear agulhas. As agulhas ou qualquer outro instrumento perfurante e/ou cortante devem ser desprezados em recipiente resistente, inquebrável, de abertura larga. O uso de seringas e agulhas deve ser restrito à coleta de sangue. Não usar para aspirar fluido de frascos. Pipetas devem estar disponíveis para tal fim; Não transitar nos corredores com material patogênico a não ser que esteja acondicionado conforme normas de biossegurança; Não fumar, não comer, não beber no local de trabalho onde há qualquer agente patogênico. Não estocar comida ou bebida no laboratório; Nunca usar vidraria quebrada ou trincada. Vidraria quebrada e pipetas descartáveis, após descontaminação, devem ser colocadas em caixa com paredes rígidas rotuladas “vidro quebrado” e descartada adequadamente; Descontaminar a superfície de trabalho sempre que houver contaminação com material infectante e no final do dia, de acordo com as rotinas estabelecidas no manual de limpeza e desinfecção; Descontaminar todo material líquido ou sólido antes de reusar ou descartar; Não levar as mão à boca ou aos olhos quando estiver manuseando produtos químicos; Todos os procedimentos técnicos devem ser realizados com o mínimo de produção de aerossóis; Não manter plantas, bolsas, roupas ou qualquer outro objeto não relacionado com o trabalho dentro do laboratório. As unhas devem ser curtas; Usar cabine de segurança biológica para manusear material infeccioso ou materiais que necessitem de proteção contra contaminação. Colocar as cabines de segurança biológica em áreas de pouco trânsito no laboratório, minimizar as atividades que provoquem turbulência de ar dentro ou nas proximidades da cabine; Colocar todo o material com contaminação biológica em recipientes com tampa e a prova de vazamento, antes de removê-los de uma seção para outra
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