Buscar

O Caso dos Exploradores de Caverna simples

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O Caso dos Exploradores de Caverna
O livro começa com uma abordagem mostrando a pena de morte dos acusados em primeira instância que seriam descritos pelo Presidente do alto Tribunal e as razões que os levaram a esta sentença. 
O referido Presidente relata o caso de quatro exploradores acompanhados de Roger Whetmore que ficaram presos em uma caverna por um deslizamento de rochas em sua entrada, todos até então pertenciam a Sociedade Espeleológica, uma organização amadora destinada à exploração de cavernas. Não retornando nenhum deles às suas residências, foi encontrado na sede da Sociedade arquivos da localização da caverna onde os exploradores acabaram presos, podendo assim, ser enviada uma equipe de socorro a fim de resgatá-los.
O resgate foi difícil e complicado. Na tentativa de salvamento, dez operários acabam morrendo. Já no vigésimo dia de isolamento dos exploradores, conseguiram manter contato com o resgate através de um rádio, Perguntaram em quanto tempo demoraria o sucesso do socorro e explicaram as condições que se encontravam. Os engenheiros informaram que ainda seria preciso dez dias para tirá-los da caverna se tudo corresse bem e o presidente da comissão afirmou que, diante a escassa situação alimentar dos exploradores, havia pouca probabilidade de sobrevivência até o tempo dado para a realização do resgate.
Roger Whetmore, ciente da difícil situação em que se encontravam, sugere para os companheiros que um deles se sacrifique para servir de alimento para os outros, possibilitando a sobrevivência da maioria. Roger Whetmore procura contato novamente com o presidente da comissão o questionando se há possibilidade de sobrevivência caso um deles sirva de alimento aos outros, este responde que sim , mesmo não gostando da idea. Roger Whetmore que um deles seja morto e escolhido pela sorte. Por algum momento Roger Whetmore se arrependeu de sua própria sugestão, os exploradores discutem e acabam procedendo com o combinado, pois para eles não tinha outra saída. Desta forma, entrando todos em consenso, a sorte foi lançada pelos dados. Na vez de jogar de Roger Whetmore ele não quis, um explorador joga em seu lugar, levando ao questionamento se seria válido ou não o sacrifício de Roger Whetmore. Este, entretanto, concorda e, no vigésimo terceiro dia de isolamento, foi morto pelos amigos, desta forma os outros sobreviveram.
Os sobreviventes foram resgatados no trigésimo segundo dia de isolamento e foram encaminhados a um hospital para tratar de suas saúdes. Logo foram denunciados pelo homicídio de Roger Whetmore e, mesmo com um verdicto especial, acabaram condenados à pena de morte. Porém, tanto o júri como o próprio juiz fizeram petições ao chefe do Poder Executivo solicitando que a sentença fosse alterada para seis meses de prisão.
O Presidente do Tribunal, ao terminar a narração do caso, comenta que foi correta a decisão do júri e do juiz, já que a lei escrita apenas possibilitava a condenação. Em um caso polêmico como o acima descrito, é cabível a misericórdia do chefe do Executivo, mas para que esta seja concedida, o requerimento deve ser proveniente por aqueles que estudaram o caso. Desta forma, será pouco provável que não seja deferido o pedido.
O primeiro juiz a dar seu parecer foi ministro Foster, que discorda de forma clara o posicionamento do Presidente do Tribunal. Afirma que o ordenamento jurídico e todas as suas respectivas fontes não levariam a condenação dos exploradores. Parte seu primeiro argumento afirmando que o ambiente em que os réus se encontravam impossibilitava a coexistência de homens. Os acusados estariam sob a “lei da natureza”, extinguindo a coerção do Direito positivo da sociedade tratada no livro. O segundo e último argumento do Juiz Foster parte de outra opinião a de que estariam estes homens sim submetidos ao Direito positivo dos homens, mas, da mesma forma, não devem ser condenados. Isto porque a legislação penal funciona de forma a evitar a prática do crime. Porém, em um caso como este, seria inevitável a sua prática, como no caso que é excludente de ilícito a legítima defesa.
Contradizendo o senhor ministro Foster, o Juiz Tatting afirma serem inadequados e fantasiosos os seus argumentos já citados. O Juiz Tatting aborda algumas problemáticas em considerar os réus sob estado de natureza, como quando isto ocorreu ou com que autoridade eles, juízes, poderiam julgar o caso sem terem domínio da legislação da ‘natureza’. Além disso, acredita ser esta legislação desordenada, principalmente em relação se o contrato feito pelos réus e Roger Whetmore poderia ser ou não revogável e com quais conseqüências. Quanto ao segundo argumento do Juiz Foster, o senhor ministro Tatting discorda sobre o fundamento da lei penal ser somente a prevenção do crime, citando a necessidade da retribuição e a reabilitação do delinqüente. Exclui também a associação do caso com a questão da legítima defesa por não ser esta um ato intencional, não podendo ser caracterizada, desta forma, como homicídio. O Juiz Tatting acaba demonstrando envolvimento emocional com o caso e aflito quanto às suas dúvidas e as possíveis conseqüências de seu parecer. Por fim, recusa-se a participar da decisão do caso.
O terceiro magistrado ao dar seu posicionamento, Juiz Keen, discorda, assim como o Juiz Tatting, do senhor ministro Foster. Explica que o problema não é apenas o fato de ser impossível prever o propósito da lei referente ao homicídio, mas também prever o seu alcance. Melhor uma lei rígida que instiga comoção popular para um melhor Direito futuro. A revisão legislativa é preferível a uma norma jurídica repleta de exceções. Mostrando-se longe da esfera pessoal, encerra a favor da condenação.
O último juiz a confirmar a decisão de primeira instância dos acusados, Juiz Handy, abordou a importância da utilização do senso comum em situações como esta em que há evidentes conflitos quanto à aplicação da lei. O Juiz Handy comenta que os governos mais decadentes são aqueles que persistem no desacordo entre os governantes e os governados. Considerando o caso dos exploradores, é evidente o posicionamento do público a favor da absolvição dos réus. Portanto, há necessidade de conciliação entre métodos e princípios que devem ser aplicados. Não estaria desvirtuando a lei absolvê-los, já que não se trata de litígio recorrente. Conclui o juiz contrário a condenação dos réus.
O Presidente do Tribunal questionou o Juiz Tatting se não gostaria de reexaminar seu posicionamento, porém, este se recusou. Havendo empate na decisão, a sentença em primeira instância foi confirmada. A data foi determinada e os acusados seriam mortos através da forca.
Filosofia de Locke
John Locke, assim como Thomas Hobbes, afirma que os indivíduos não são sociais por natureza. Entende que o elo para a sociedade se da através do contrato social que tira os homens de seu estado de natureza. Entretanto, este não é estado de guerra de todos contra todos, como o de Hobbes. O estado de natureza lockeano é pacífico por existir nele leis naturais que todos estão submetidos. Desta forma, é envolvido aos homens direitos a eles, como a vida, liberdade e propriedade.
Nesse estado pacífico os homens já eram dotados de razão e desfrutavam da propriedade que, numa primeira aceitação utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, liberdade e os bens como direitos naturais do ser humano. 
O estado de natureza de Locke é de plena liberdade, ainda que não seja irrefreável por decorrência das leis naturais. No entanto, o homem possui paixões o que o deixa em uma posição de potencial transgressor destas normas. A possível ilegítima atitude deste homem com os outros levaria a ruptura com as leis naturais, concretizando, assim, em um estado de guerra.
É através das paixões do homem e ausência de um juiz imparcial que possua autoridade para julgar o conflito acontecido que deixa os homens revestidos de segurança com estes direitos naturais. Assim, surge a conveniência do contrato social que permite a formação de um governo para governá-lose juízes para dirimir suas questões .
A situação dos exploradores está em consonância com estado de natureza de Locke, considerando que eles não estavam propriamente em uma guerra de todos contra todos e não poderiam se encontrar em uma sociedade civil por não possuírem juiz imparcial para julgar a procedência do contrato celebrado pelos exploradores. Entretanto, a situação por eles vivenciada retrata o limite do respeito aos direito naturais abordado por Locke.
É constatada que um destes direitos inatos ao homem seja a vida, mas esta em momentos que a sua própria conservação está ameaçada, a desobediência deste direito não é mais ilegítima. Locke, em seu Segundo Tratado sobre o Governo Civil, afirma que o homem não possui liberdade para destruir a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse, senão quando isto seja exigido por algum uso mais nobre.
Tratando-se evidentemente de uma ocorrência em que a própria preservação da vida estava ameaçada, tirar a vida de outro para impedir esta situação parece legítima. Embora nenhum homem possa prejudicar outrem em sua vida, liberdade, saúde ou propriedade, há situações que a violação destes direitos se mostra necessária, como a vivenciada pelos homens acusados.
Estando os exploradores submetidos ao estado de natureza, não teria o governo civil legitimidade de puni-los se assim desejasse. A execução das leis da natureza se encontra nas mãos dos homens submetidos a este estado. Assim sendo, a lei natural busca a preservação de si mesmo e da humanidade e, no estado de natureza, todos os indivíduos são executores de lei natural, na medida em que não há estado que possa se arrogar nesse papel. Há, portanto, o direito de punir por conta própria os infratores da lei natural. 
Diante do que foi colocado, os exploradores ao assassinarem o jovem Roger Whetmore não o fizeram por motivo fútil ou simplório, mas sim para garantirem a própria vida. Desta forma, em uma concepção lockiana, os exploradores não devem ser condenados por estarem em um estado de natureza e buscando manter a própria sobrevivênciaem uma situação e estado desesperador.
Este caso foi unicamente imaginado com o propósito de focar certas posturas filosóficas a respeito do Direito e do Governo.

Outros materiais