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Criatividade Tema 6

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A criatividade e o ensino-aprendizagem 
como forma de socialização
Renata Mateus
Introdução 
A criatividade é inerente do ser humano, mas com o passar do tempo, ela pode ser explorada 
ou “bloqueada”.
Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:
 • compreender os vínculos entre satisfação de aprender sobre criatividade e ensinar para 
a criação de algo com sentido;
 • conhecer os ingredientes fundamentais da criatividade.
1 O prazer de aprender e a educação criativa
O ensino mecânico, presente ainda nas salas de aula, ocasiona o pouco interesse por parte 
dos alunos e a desmotivação dos professores, quando o processo deveria ser prazeroso. É nesse 
sentido que a criatividade pode atuar, quebrando paradigmas tradicionais, mudando a mentali-
dade, buscando a motivação para aprendizagem. 
O desafio é fazer com que, em qualquer nível de aprendizado, seja ele escolar, universitário, 
pós ou até mesmo no próprio trabalho ou vida pessoal, o indivíduo aprenda, estude, envolva-se em 
uma atividade intelectual, de forma prazerosa, despertando o desejo de aprender.
FIQUE ATENTO!
Um conteúdo “interessante”, é aquele que proporciona um sentimento de bem-es-
tar, ou seja, satisfaz a pessoa, provoca prazer ao aprender.
Charlot (2009), em uma entrevista, revela que a fórmula para ensinar é simples: aprender é 
igual a atividade adicionada de sentido e prazer, porém resolvê-la é o problema. Segundo o autor 
não há o prazer de aprender, pois quando o aluno não estuda, o professor simplesmente afirma que 
caso o aluno persista dessa forma, não irá passar de ano. Isso só faz com que a escola se afirme 
como um lugar no qual apenas se estuda sobre assuntos “chatos” para poder passar de ano.
Assim, ao trabalharmos com criatividade no processo de aprendizagem, estamos possibi-
litando aos alunos o prazer de criar. Uma vez que a criatividade não faz parte do processo de 
ensino, passamos a ter uma conformidade e passividade com as coisas, ao invés de pensadores 
livremente criativos e originais.
Figura 1 – Prazer em aprender
Fonte: Lucky Business/Shutterstock.com
EXEMPLO
Os pais podem incentivar o uso de objetos recicláveis na construção de brinquedos, 
estimulando a imaginação e criatividade da criança.
Famílias também podem e devem participar ativamente na contrução de uma personalidade 
criativa, incentivando a curiosidade, propondo desafios inovadores e interessantes, reforçando a 
auto-estima positiva, permitindo o erro, promovendo um ambiente de conforto emocional e de 
tolerância com o fracasso ou frustrações. 
Para Renzulli (apud OLIVEIRA, 2010), é necessário que haja uma integração das estruturas 
educacionais, para que assim consiga-se proporcionar um ambiente de criatividade na escola, que 
pode ser aprendida e estimulada, e para isso é necessário que haja:
 • um professor com propriedade de seu conteúdo e gostando do que faz e que conheça 
e explore com seus alunos técnicas que estimulem o desenvolvimento da criatividade;
 • o aluno, com capacidades e aptidões, interesses e estilos reconhecidos;
 • o currículo, contendo uma estrutura, conteúdo e metodologia e o apelo ao imaginário. 
Para Oliveira (2010, p. 86) um docente criativo deve ser
[...] aberto a novas experiências e mudanças, ser ousado e curioso, ter confiança em si 
próprio, trabalhar com idealismo e paixão, proporcionar clima criativo nas aulas, permitir 
ao aluno pensar, desenvolver ideias e pontos de vista e fazer escolhas, valorizar o trabalho 
criativo, não rechaçar os erros, mas torná-los pontos do processo de aprendizagem, consi-
derar os interesses e habilidades dos alunos.
Figura 2 – Educação criativa
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com
Atualmente, se faz necessário uma escola aberta e um profissional que possibilite respostas 
criativas, que incentive a criatividade, buscando desenvolver o potencial criativo de cada um. 
SAIBA MAIS!
Ken Robinson é uma referência na área de criatividade voltado ao processo ensino-
aprendizagem. Confira um TED feito por ele sobre criatividade nas escolas. Acesse 
em: <https://www.youtube.com/watch?v=M2pRR_w-5Uk>.
A criatividade precisa ser vista pelas escolas como uma forma de atrair novamente os alunos, 
proporcionando aulas prazerosas, que estimulem e desenvolvam o potencial criativo de cada um. 
É preciso excluir barreiras que possibilitam a manifestação criativa, fazendo com que a escola 
forme cidadãos criativos para um mundo complexo em mudanças.
2 Ingredientes fundamentais da criatividade: 
imaginação, humor, liberdade
Temos que estar sempre atentos a ingredientes que somados nos ajudam a manter nossa 
criatividade. Conhecimento em uma determinada área, que lhe garanta um domínio, capacidade 
de pensamento criativo, que permite encontrar novas possibilidades e um novo olhar de mundo, e 
a paixão que impulsionará a fazer algo por prazer.
FIQUE ATENTO!
Com conhecimento e imaginação, as ideias podem ser combinadas, alteradas e 
recombinadas. Assim, para se ver problemas conhecidos de um novo ângulo, é ne-
cessária imaginação criativa.
Além disso, para se ter boas ideias é necessário estar de bem, com bom humor, que nesse 
caso é estar em um estado de espírito que, independentemente de qualquer aflição, o indivíduo 
permanece bem, possibilitando continuar criando e tendo novas ideias, sem que os problemas 
atrapalhem o processo criativo. Para Virgolim, Fleith e Pereira (2008), precisamos trilhar caminhos 
que nos levem à felicidade, entre eles o prazer, a alegria e a diversão que a criatividade pode conter.
Para atingir o objetivo da criatividade é necessário valorizarmos o humor, como disposição 
para aprender, e exercícios de liberdade e autoconfiança. O respeito à liberdade e à criatividade em 
concordância com o instintivo deve ser o principal recurso educativo. 
Esse são os ingredientes básicos de uma vida criativa. O prazer fornecerá motivação e ener-
gia ao processo criativo que, para acontecer, precisa de um ambiente favorável, com liberdade, 
onde o prazer é a força motriz. 
3 Aprender criando e criar aprendendo: 
a formação de valores, dogmas e preconceito
Na aprendizagem, a criatividade faz com que o processo tenha significado e sucesso, pois é 
ele que permite que o aprendiz não veja o fracasso como algo vergonhoso. Mirshawka (2003 apud 
DI NIZO, 2009, p.85), afirma que “a ignorância é uma bênção, porque é o estado ideal para aprender. 
Se você admitir que não sabe, é mais provável que faça as perguntas que o farão aprender [...]. 
Quanto mais você sabe, mais percebe que não sabe. A chave é aceitar essa incerteza, mas não se 
deixar paralisar por ela”.
Figura 3 – Aprender criando
Fonte: Syda Productions/Shutterstock.com
Hoje, as práticas educacionais aplicadas estão seguindo o princípio de que primeiro apren-
de-se para depois fazer. Assim, precisamos dar liberdade ao processo de ensino-aprendizagem, 
possibilitando ao aluno aprender criando e criar aprendendo. Algumas escolas já estão criando 
salas ambientes, nas quais os alunos desenvolvem um determinado projeto e a partir dele são 
aplicadas as disciplinas necessárias.
EXEMPLO
O aluno é convidado a participar de um projeto de desenvolvimento de um carrinho 
ou de aproveitamento da água da chuva. A partir desse projeto são aplicados os 
conceitos de Matemática (o que é necessário de cálculo), ou Português (nome do 
produto, desenvolvimento de um manual), arte (criação do produto), entre várias 
outras formas de aplicação.
Conforme crescemos, vamos assumindo um poder de julgamento e de juízo, que faz com 
que nossa imaginação diminua e a de conhecimento aumente. Assim, até os seis anos de idade, 
podemos dizer que somos extremamente criativos e, quando iniciamos o processo de alfabetiza-
ção e temos contato com o meio social, os reguladores passam a fazer parte do nosso dia a dia: 
“não pode”; “não deve”;“isso não existe”. 
Periscinoto (2002) retratou o comportamento humano relacionado com a imaginação e o 
conhecimento, em que perdemos nossa espontaneidade, que é uma das características das pes-
soas criativas, passando a ter medo de determinadas ações, de ousar, pensando sempre o que 
outros acharão de nossas atitudes, deixando de criar.
Então, a escola desempenha um papel fundamental na mudança de mentalidades, na supe-
ração dos preconceitos e no combate a atitudes discriminatórias, envolvendo valores de reconhe-
cimento e respeito ao outro. 
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a escola permite que as crianças con-
vivam com diferentes origens, níveis socioeconômicos, costumes, dogmas religiosos, que são dife-
rentes do que cada criança conhece. É onde ensina-se as regras da sociedade e espaço público, 
que permite o conviver democrático com as diferenças, que apresentam conhecimentos sistema-
tizados sobre o mundo e a pluralidade de povos, e fornece subsídios para debates e discussões. 
4 A necessidade psicossocial de pessoas criativas
Para Oliveira (2010), a criatividade pode ser entendida como um fenômeno sociocultural, que 
integra uma complexa rede de variáveis das pessoas com as da sociedade. O psicossocial está 
ligado a essa cultura e às relações interpessoais que o indivíduo tem, e envolve tanto aspectos 
psicológicos quanto os sociais. 
FIQUE ATENTO!
Para o desenvolvimento psicossocial do indivíduo é necessário trabalhar o padrão 
de mudança nas emoções, personalidade e relações sociais.
É nesse sentido que a criatividade pode atuar, pois seres criativos precisam conexões sociais 
significativas, e a motivação e a autoconfiança são fatores importantes para o sucesso do indiví-
duo, enquanto emoções negativas como a ansiedade podem prejudicar o processo criativo.
Figura 4 – A criatividade e a necessidade psicossocial
Fonte: ESB Professional/Shutterstock.com
Diversos questões psicossociais que influenciam no desenvolvimento originam-se do 
ambiente (cultura, educação, família, nível socioeconômico, entre outros). Em algumas fases de 
nossa vida recebemos mais influências externas no nosso desenvolvimento, quando por exemplo, 
passamos a frequentar a escola. Cada indivíduo irá processar de alguma maneira, alguns passam 
a desenvolver melhor suas habilidades sociais, como a comunicação e a fala, já outros, no início, se 
reprimem e demoram para adaptar-se à nova rotina, passando por um longo período de transição.
SAIBA MAIS!
A Teoria do Modelo Componencial da Criatividade explica de que forma os fatores 
cognitivos, motivacionais, sociais e de personalidade influenciam o processo criati-
vo. O livro A Ciência do Desenvolvimento Humano: Tendências atuais e perspectivas 
futuras, em seu capitulo 11, trata a respeito desse modelo.
Assim, a criatividade envolverá a capacidade que o indivíduo tem de inventar e reinventar 
à sua maneira, e de desenvolver novos recursos de adaptação e resistência dele em relação ao 
ambiente.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 • compreender os vínculos entre satisfação de aprender sobre criatividade e ensinar para 
a criação de algo com sentido;
 • conhecer os ingredientes fundamentais da criatividade.
Referências 
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade 
cultural e orientação sexual. Brasília: MEC/ SEF, 1997.
CHARLOT, Bernard. Sentido e prazer para aprender. Revista Patio, n. 9, 2009. Disponível em: <http://
loja.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/5861/sentido-e-prazer-para-aprender.aspx>. Acesso em: 
22 mar. 2017.
COSTA JUNIOR, Áderson Luiz; DESSEN, Maria Auxiliadora. A ciência do desenvolvimento humano: 
Tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
DI NIZO, Renata. Foco e criatividade: fazer mais com menos. São Paulo: Summus, 2009.
OLIVEIRA, Zélia Maria Freire. Fatores influentes no desenvolvimento do potencial criativo. Estudos 
de Psicologia, Campinas: 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v27n1/v27n1a10.
pdf>. Acesso em: 22 mar. 2017.
VIRGOLIM, Angela Magda Rodrigues; FLEITH, Denise de Souza; PEREIRA, Mônica Souza Neves. 
Toc, Toc... Plim, Plim! Lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criativi-
dade. 9. ed. Campinas: Papirus, 2008.
PERISCINOTO, Alex. É preciso desenvolver a abertura para novas ideias. 2002. Disponível em: 
<http://www.sescsp.org.br/online/artigo/1442_IMAGINACAO+VERSUS+CONHECIMENTO#/tag-
cloud=lista>. Acesso em: 05 abr. 2017.

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