Buscar

Algumas considerações éticas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

�PAGE �1�
Nilton Facci
Docente nos cursos de Ciências Contábeis.
UEM – Universidade Estadual de Maringá
CESUMAR – Centro Universitário de Maringá
Docente no curso de Administração de Empresas
FAP – Faculdade Adventista Paranaense – Ivatuba/PR.
Algumas considerações sobre o comportamento do político/candidato e do político/dirigente.
As causas da conhecida cultura nacional, pelo menos o que me parece, de aversão ao pagamento de tributos, pode estar compreendida em alguns aspectos. Vejamos. Parece existir por parte de alguns componentes do poder público, levados por eleições, seja no Executivo e no Legislativo, uma certa concepção de que seus problemas não mais são os mesmos daqueles que neles votaram.
Essa concepção parece torná-los componentes de uma parcela da sociedade que vive em outro mundo, no qual o que era correto eticamente, agora já pode ser aceito, por seus pares, como procedimento correto.
Antes de serem eleitos, sempre estavam a exigir daqueles que exerciam os poderes públicos, o atendimento às necessidades de extratos da sociedade, priorizando o que lhes parecia mais relevante.
Ao exercerem atitudes de liderança, a confiança que esses extratos da sociedade lhes atribuíam geraram votos que os tornaram, agora, os ocupantes dos cargos públicos.
Ao perceberem que alcançaram os cargos postulados, de imediato, verificaram que as benesses lhes oferecidas são, por demais, vantajosas. Entre essas, está a possibilidade de legislar sobre a própria remuneração. Também está a permissão na escolha de assessores, tanto para si quanto para outros ocupantes de cargos públicos. Nesse último caso, tentam criar um determinado sentimento de que os indicados, agora, devem ter uma “divida” para quem os indicou. Talvez a principal benesse, para muitos, está, por exemplo, na participam de eventos. São denominados de “autoridade” para os presentes. São requeridos a se pronunciarem sobre vários aspectos que, talvez, pouco conhecem. Esses detentores de cargos públicos entendem que os presentes têm a “obrigação” de escutar e aplaudir. Veja que são aspectos do poder que, provavelmente, poucos seres humanos não apreciem. 
Evidente que, caso façam sugestões para mudar algumas das pretensões que os motivaram a se candidatarem aos cargos, com certeza, encontrarão dificuldades relevantes entre aqueles pares que conseguiram a quase eternidade nos cargos públicos, e que, por já estarem “experientes” no uso e abuso das benesses, conseguem o controle e a vigilância sobre a concessão, ou não. Um exemplo fácil de compreender é a tentativa, já ocorrida, de diminuir algumas das benesses. A aversão de vários componentes do poder público foi fortemente colocada para quem apresentou o projeto.
Talvez essa atitude de defesa das benesses pode ser compreendida, quando se estudam aspectos das origens do ser humano. Pode-se considerar que esses possuem necessidades semelhantes. Em primeiro lugar, as de sobrevivência, tendo por base a alimentação, saúde e a continuidade da espécie. Em seguida, as necessidades denominadas secundárias, de vestimenta, transporte, trabalho. Atendidas essas, passam a ser relevante aquelas que fazem de algum ser humano, o referencial para outros. Nessa definição, está o que se denomina “status”. Ser presidente de uma associação; proprietário de uma grande empresa; ocupar um cargo político, e outros similares.
Atendido o aspecto do “status”, as primeiras e segundas serão, provavelmente, também atendidas. Ao que parece, assim passam a se comportar.
Fica a seguinte situação: o ser humano vê que uma provável perda do “status” poderá acarretar, além das diretamente proporcionadas, também, a dificuldade em atender as primeiras e segundas necessidades. Portanto, irá lutar, com todas as forças que puder, estando no rol, inclusive, alguns atos compreendidos como não éticos pelo extrato societário do qual fazia parte.
Esse tipo de comportamento humano não pode ser compreendido como uma exclusividade brasileira. Parece ser semelhante em qualquer sociedade. 
Diante desse quadro, como desejar que aqueles que estão no poder público permitam que seu poder, e as possibilidades que este permite, sejam alterados? Desejar isso é normal para os que lá não estão. Mudar isso, estando no poder, também é normal não querer, ou não encontrar eco nos outros, agora, semelhantes.
Tentar alterações anteriormente constantemente requeridas poderá contribuir para que os agora semelhantes não permitam que usufrua as benesses oferecidas. É preciso lembrar que várias são suportadas, financeiramente, pelos tributos transferidos da sociedade para o Estado, sem que a contrapartida seja, precisamente, exigida.
Podemos imaginar a seguinte pergunta: Como mudar esse quadro, se quando aquele que reclamava agora defende?
Outro aspecto relevante para que determinados extratos da sociedade brasileira busquem o não pagamento de tributos, é o fato de que alguns detentores do poder, ou de cargo público, utilizando as benesses do cargo, “facilitarem” esse não pagamento. Seja pela divisão do que não foi pago; seja por facilitar algumas ações para aumento de patrimônio particular. Em palavra mais facilmente compreensível: corrupção!!!.
Difícil responder: Quem é o mais errado? Quem oferece a facilidade ou quem a impõe? De outra forma: o funcionário público, que exige uma “retribuição” pelos serviços prestados, ou o contribuinte/sonegador, que oferece uma “contribuição” para o atendimento de certas necessidades desse funcionário público?
Sabemos que esse não é um problema novo. Conforme se pode observar não apenas na história brasileira, mas na mundial, a corrupção, pode-se dizer, sempre existiu nas sociedades. Desde a criação de qualquer situação que proporcione um “pulo” entre um problema e sua solução, procurar a “ajuda” de alguém que está em determinado cargo parece ser comum. Em algumas situações e diante do determinado nível dessa cultura de corrupção que está instalada, a não procura por essa ajuda coloca a pessoa em situação de não componente de determinado grupo no qual se insere.
Vejamos outra situação. Essa bastante específica.
Praticamente todo cidadão brasileiro, com algum conhecimento, reclama da carga tributária, e de forma conjunta, dos critérios de prioridade que o poder público direciona os gastos.
O poder público, por outro lado, faz a defesa da arrecadação. Evidente que justificativas não faltam. Principalmente quando se alega que a sociedade brasileira, em vários aspectos, é incrivelmente carente e dependente de apoio governamental, ao se observar as necessidades primárias. Basta verificar as enormes diferenças sócio-econômicas entre as populações das regiões Sul e Sudeste, com as das regiões Norte e Nordeste. Nestas, não aquelas que estão nas capitais, mais principalmente, as que estão no interior dos Estados.
Assim, quando se observa que vários extratos da sociedade brasileira questionam, só agora de forma mais coesa e consistente, fato histórico no Brasil, o agora componente do poder público, talvez, fique indignado diante dessa pretensão. Esse faz a seguinte pergunta: como querer pagar menos tributos, se seres humanos que estão em regiões necessitadas passam fome, e também não possuem escolas minimamente em condições de fornecerem uma educação condizente com as necessidades vastamente defendidas por todos?
Compreendendo dessa forma, a defesa do aumento da arrecadação é facilmente aceita por aqueles que dependem da ação governamental. O problema parece estar não na defesa do aumento, como pretendida isonomia fiscal. Mas no incentivo de atitude ética entre aqueles que possuem rendas que os colocam no topo da pirâmide sócio-econômica da sociedade, e os que estão na base. O ocupante de cargo público procura defender a distribuição de riqueza como forma de acentuar o sentimento de partilha. De apoiar, com bens materiais, aqueles que não os conseguiram ou que não tiveram iguais oportunidades.
Repete-se: defenderaumento da arrecadação, tendo por base os argumentos acima colocados fica fácil para qualquer ocupante de cargo público, seja conseguido por eleição ou não.
Por outro lado, como entender que o poder público, nesse caso, o poder federal, está tratando igualmente os iguais, quando se verifica o comentário de Kiyoshi Harada (2005): “O pacote tributário ilegitimamente baixado pelo legislador palaciano, no apagar das luzes de 2004, é nebuloso e extremamente prolixo exigindo para sua interpretação o exame de inúmeras leis referidas que, por sua vez, fazem referência a inúmeras disposições de outras leis. É a velha técnica de camuflagem dos aumentos tributários. Porém, é certo que a MP nº 232/04 causa efeitos devastadores como os do tsunami que até hoje perduram. O combalido setor de prestação de serviço foi novamente tungado, desta vez, com monumental aumento de 25% em seus tributos. Majorações diretas e indiretas estão embutidas no tsunami tributário: a tributação da variação cambial; novas hipóteses de retenção na fonte; encurtamento do prazo de recolhimento do tributo retido. A competência dos Conselhos de Contribuintes foi castrada como que investindo na morosidade do Judiciário, onde o pequeno contribuinte não terá acesso em razão de custas, honorários, além da inexistência de suspensão da exigibilidade do crédito tributário a não ser na remota hipótese de uma liminar”.
Para compreender o comentário, precisaríamos conhecer porque o poder federal utiliza, continuamente ao que parece, a atitude de determinar alterações tributárias através de publicações somente no final do ano, não proporcionando, talvez intencionalmente, qualquer tipo de discussão. Essa atitude não contribui com o que se entende como ética na gestão pública.
Deve-se destacar também que, como outras peças legais, a MP 232 está recheada de dificuldades em se entender corretamente os procedimentos operacionais que devem ser efetuados para se identificar os tributos. Utilizando as palavras de Harada (2005), “extremamente prolixo exigindo para sua interpretação o exame de inúmeras leis que, por sua fez, fazem referência a inúmeras disposições de outras leis.”. Veja que essa forma de apresentar legislações dificulta enormemente o pleno entendimento. Será que é para fomentar a busca por serviços especializados em determinada profissão? Ou será que o objetivo e confundir o contribuinte, deixando-o a descoberto para a atuação da fiscalização de tributos e com a propensão de “sentir como necessário” qualquer ato corruptível?
Outro aspecto que, parece contínuo, está pretendido nessa MP 232. Porque os poderes públicos entendem que o ramo de prestação de serviços proporciona maior rentabilidade, aparentemente, maior do que ganhar sozinho em loterias gerenciadas pela Caixa Econômica Federal?. Trata esse ramo como o grande responsável pela má distribuição de renda no Brasil. Difícil entender esse procedimento, quando os governos atribuíram benesses a alguns investidores, quando das privatizações.
Ainda outro aspecto, infelizmente sem que seja nenhuma novidade, está na MP 232 a tentativa de legislar sobre vários assuntos em um mesmo instrumento legal. Veja que essa medida direciona novos procedimentos para várias situações e tributos. Repetindo a frase de Harada (2005): “Majorações diretas e indiretas estão embutidas no tsunami tributário: a tributação da variação cambial; novas hipóteses de retenção na fonte; encurtamento do prazo de recolhimento do tributo retido”.
Também essa medida tenta diminuir procedimentos que algumas empresas utilizam, quando buscam realizar o que se denomina Planejamento Tributário, ao determina a diminuição no âmbito judicial de procedimentos que visem a defesa contra o que se denomina “sanha arrecadatória” do Estado.
Felizmente, a sociedade brasileira, ao que parece, está “acordando” para a necessária vigilância das ações dos governantes. Historicamente, a sociedade brasileira pouco tem se colocando contra, da forma como o movimento contra a Medida Provisória 232/04 está realizando. Não se pode deixar de acreditar que, talvez, com esse início, outras atitudes possam ocorrer.
Embora não esteja na finalidade inicial desse movimento, mas, decorrente dos frutos que poderão originar e, aliados a outras entidades, a vigilância da sociedade frente às ações dos governantes, com certeza, deverá ser mais efetiva.
Essa vigilância precisa também exigir que os governantes apoiem o combate à grupos que se utilizam de determinada cultura corruptível para obter benefícios.
Mas, o governo federal parece ainda não entender o que seja coerência na decisão de alterar a carga tributária e a necessária atribuição de responsabilidades aos gestores públicos. Alguns fatos recentes não contribuem para o cuidado com os procedimentos dos governantes, que é a mudança de critérios adotados quanto às penalidades na infringência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Basta ver algumas atitudes do governo federal quanto a ações de ex-prefeitos, no que se refere ao nível máximo de endividamento.
Veja o conflito: exige-se mais da sociedade, quanto ao pagamento de tributos, e exige-se menos, quanto ao cumprimento da legislação que determina limites aos gastos públicos. Uma enorme incoerência.
Concluindo, acredita-se que a forma como o governo federal buscou alterar a legislação tributária, através da MP 232 não pode continuar. Esse é o principal foco daqueles que hoje, finalmente, se manifestam publicamente. Evidente que, no rol das medidas que precisam ser alteradas, está a criação de procedimentos que facilitem a compreensão das ações governamentais, principalmente, quanto aos gastos. 
Os ocupantes dos cargos públicos não podem se sentir componentes de grupos que, sobre esses, algumas leis não alcançam, ou que podem ser alteradas conforme a situação. Talvez, com esse comportamento da sociedade, as pessoas que agora requerem determinadas ações dos poderes públicos, quando passam a ser os responsáveis pelas ações governamentais, compreendam que atitudes éticas não precisam, e não deveriam ser alteradas. Essa atitude, ao que parece, é central para que a relação entre o Estado e a Sociedade possa ser menos conflituosa.
Elaborado em 03/2005.
Fone: 44.2282292
Email: nfacci@bol.com.br

Continue navegando