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Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Prof. Celius A. Magalha˜es Ca´lculo III Notas da Aula 31∗ Teorema da Divergeˆncia Tanto o trabalho quanto a circulac¸a˜o sa˜o calculados projetando-se o campo sobre o vetor unita´rio tangente. Ja´ para o fluxo deve-se projetar sobre o unita´rio normal. E´ o que se vera´ a seguir, incluindo o Teorema da Divergeˆncia, que e´ uma versa˜o normal do Teorema de Green. Integral do Fluxo Considere o movimento de um fluido em um canal de profundidade h, e suponha que o movimento seja estratificado no sentido de que a velocidade na˜o dependa da coordenada z, mas apenas das coordenadas (x, y) da superf´ıcie do canal. O campo de velocidades do fluido e´ enta˜o func¸a˜o dessas coordenadas, e pode ser representado por F (x, y) = (L(x, y),M(x, y)). O problema consiste em calcular o fluxo (volume por unidade de tempo) do campo F atrave´s de uma peneira colocada dentro do canal. A figuras abaixo ilustram a situac¸a˜o, em que a peneira esta´ ao longo do caminho C e, em cada ponto, foi feita a escolha de um vetor n que e´ unita´rio e normal ao caminho. Esse vetor sera´ estudado logo adiante. C C C F F F ds ds ds n n n h 〈F,n〉n Fig.1 Fig.2 Fig.3 Escolhe-se um pequeno comprimento ds ao longo de C, o que delimita uma pequena a´rea dA = h ds da peneira, de base ds e altura h. Veja a Fig.1. Ora! O comprimento de F e´ a velocidade escalar das part´ıculas. Assim, as part´ıculas que no instante inicial estavam sobre ds, apo´s uma unidade de tempo tera˜o se deslocado de ‖F‖ ao longo de F . Da´ı segue-se que o volume de fluido por dA por unidade de tempo ocupa o so´lido ilustrado na Fig.1, so´lido em que a base e´ um paralelogramo (veja a Fig.2) e a profundidade e´ h. O passo seguinte e´ calcular a a´rea deste paralelogramo, cuja altura e´ o comprimento |〈F,n〉| da projec¸a˜o do campo F sobre o vetor n. Veja a Fig.3. Se 〈F,n〉 for positivo, como no exemplo, enta˜o a a´rea do paralelogramo e´ 〈F,n〉 ds, e o volume de fluido por dA por unidade de tempo e´ h 〈F,n〉 ds. Esse volume e´ dito o fluxo por dA na direc¸a˜o n. Somando-se todos esses fluxos obte´m-se que o fluxo pela peneira e´ dado pela integral∫ C h〈F,n〉 ds. Como h e´ constante e a situac¸a˜o e´ essencialmente bidimensional, a integral∫ C 〈F,n〉 ds e´ dita o fluxo bidimensional de F atrave´s de C na direc¸a˜o n. A novidade esta´ em que, agora, a projec¸a˜o do campo e´ feita sobre o normal, e na˜o sobre o tangente como anteriormente. ∗Texto digitado e diagramado por Ange´lica Lorrane a partir de suas anotac¸o˜es de sala Antes do pro´ximo exemplo vale notar que o vetor normal e´ fa´cil de ser obtido. De fato, se P (t) = (x(t), y(t)) e´ uma parametrizac¸a˜o regular de C , basta girar o vetor tangente unita´rio T (t) = P ′(t) ‖P ′(t)‖ = ( x′(t) ‖P ′(t)‖ , y′(t) ‖P ′(t)‖ ) de π/2 no sentido hora´rio para obter que n(t) = ( y′(t) ‖P ′(t)‖ , −x′(t) ‖P ′(t)‖ ) e´ um vetor unita´rio normal ao caminho C no ponto P (t). E´ claro que tambe´m −n(t) e´ unita´rio normal, e escolher entre um e outro e´ equivalente a orientar o caminho. C T (t) P (t) n(t) Exemplo 1. Seja C o segmento de reta que une os pontos (1, 0) e (0, 1), nesta ordem, e indique por n o vetor unita´rio normal que se obte´m girando o tangente no sentido hora´rio. Calcule o fluxo do campo constante F (x, y) = (1, 1) ao longo de C na direc¸a˜o n. 1 1 C T (t) P (t) n(t) F (P (t)) Soluc¸a˜o. O exemplo esta´ ilustrado na figura ao lado. O caminho pode ser parametrizado por P (t) = (1− t)(1, 0) + t(0, 1) = (1− t, t) em que P (0) = (1, 0) e´ o ponto inicial e P (1) = (0, 1) e´ o final. Girando-se o tangente P ′(t) = (−1, 1) de π/2 no sentido hora´rio e normalizando, segue-se que n(t) = ( 1√ 2 , 1√ 2 ) Assim, 〈F (P (t)),n(t)〉 = 〈(1, 1), (1/√2, 1/√2)〉 = 2/√2, e portanto∫ C 〈F,n〉 ds = ∫ 1 0 〈F (P (t)),n(t)〉‖P ′(t)‖ dt = ∫ 1 0 2√ 2 √ 2 dt = 2 � Neste exemplo o campo tem a mesma direc¸a˜o e sentido do vetor normal, e portanto e´ o maior valor que o fluxo pode ter. Assim, o fluxo deve diminuir se o caminho for mudado de posic¸a˜o, como no pro´ximo exemplo. Exemplo 2. Mesmo exemplo anterior, mas supondo que C seja o segmento de reta que une os ponto ( √ 2, 0) e (0, 0), nesta ordem. Soluc¸a˜o. O caminho do exemplo anterior tem compri- mento √ 2 e, se for deslizado sobre o eixo Ox ate´ ficar paralelo a este eixo, coincide com o caminho deste exem- plo. Veja a figura ao lado. Assim, o que se espera e´ que o fluxo agora seja menor do que o do anterior. E, de fato, o caminho desde exemplo pode se parametrizado por C T (t) P (t) n(t) F (P (t)) √ 2 P (t) = (1− t)( √ 2, 0) + t(0, 0) = ((1− t) √ 2, 0) e, girando-se o tangente P ′(t) = (−√2, 0) de π/2 no sentido hora´rio e normalizando, obte´m-se que n(t) = (0, 1). Assim, 〈F (P (t)),n(t)〉 = 〈(1, 1), (0, 1)〉 = 1, e portanto∫ C 〈F,n〉 ds = ∫ 1 0 〈F (P (t)),n(t)〉‖P ′(t)‖ dt = ∫ 1 0 √ 2 dt = √ 2 � Ca´lculo III Notas da Aula 31 2/7 Exemplo 3. Seja C o c´ırculo de raio R e centro na origem e n a normal unita´ria exterior ao c´ırculo. Calcule o fluxo do campo constante F (x, y) = (1, 1) ao longo de C na direc¸a˜o n. F F n n 〈F,n〉n 〈F,n〉n Soluc¸a˜o. Esse exemplo e´ interessante porque a quan- tidade 〈F,n〉 muda de sinal ao longo do caminho. De fato, de acordo com a figura, na parte superior do c´ırculo o sinal de 〈F,n〉 e´ positivo, pois a projec¸a˜o de F sobre n tem o mesmo sentido de n. Ja´ na parte inferior esse sinal muda, pois a projec¸a˜o tem sentido contra´rio ao da normal. Mas, ainda assim, o fluxo e´ definido pala integral∫ C 〈F,n〉 ds que e´ uma soma alge´brica de todos os fluxos infinitesimais 〈F,n〉 ds. Como esses fluxos podem mudar se sinal, a interpretac¸a˜o f´ısica e´ a seguinte: o fluxo total e´ um balanc¸o “liquido” da quantidade de fluido que passa por C na direc¸a˜o n menos o que passa na direc¸a˜o de −n. Da simetria ilustrada na figura, o fluido que entra no disco pela parte de baixo e´ igual ao que sai pela parte de cima, e o que se espera e´ que o fluxo total seja zero. E, com efeito, a partir da parametrizac¸a˜o P (t) = (R cos(t), R sen(t)), com t ∈ [0, 2π], gira-se o tangente P ′(t) = (−R sen(t), R cos(t)) de π/2 no sentido hora´rio e normaliza-se para obter que n(t) = (cos(t), sen(t)). Da´ı segue-se que 〈F (P (t)),n(t)〉 = cos(t) + sen(t) e portanto∫ C 〈F,n〉 ds = ∫ 2pi 0 〈F (P (t)),n(t)〉‖P ′(t)‖ dt = ∫ 2pi 0 (cos(t) + sen(t))Rdt = 0 � Teorema da Divergeˆncia Uma vez entendido o fluxo, que e´ uma integral de linha, o pro´ximo passo e´ procurar relaciona-lo com uma integral dupla. O motivo para essa procura esta´ ilustrado na figura ao lado. De fato, indique por T = (a, b) as coordenadas do unita´rio tangente e por F = (L,M) as do campo F . Enta˜o as coordenadas do unita´rio normal sa˜o n = (b,−a), e portanto 〈F,n〉 = 〈(L,M), (b,−a)〉 = Lb+M(−a) = (−M)a + Lb = 〈(−M,L), (a, b)〉 = 〈Q, T 〉 F〈F,n〉 n T Q 〈Q,T 〉 onde Q = (−M,L) corresponde a girar o vetor F de π/2 no sentido anti-hora´rio. Assim, projetar F sobre a normal e´ equivalente a projetar Q sobre o tangente. Segue-se que, a menos das unidades de medida, o fluxo de F e´ igual a` circulac¸a˜o de Q. Enta˜o, como a circulac¸a˜o esta´ relacionada com uma integral dupla por Green, o fluxo tambe´m deve estar relacionado com uma integral dupla. Caramba! Que integral seria essa? E´ fa´cil. Basta comec¸ar do in´ıcio. Seja enta˜o D ⊂ R2 um domı´nio no qual vale o teorema de Green e F = (L,M) um campo de classe C1. Seja ainda P (t) = (x(t), y(t)), com t ∈ [a, b], uma parametrizac¸a˜o regular e positiva do bordo ∂D. Lembrando da relac¸a˜o entre o unita´rio tangente T (t) e o unita´rio normal n(t) obte´m-se que∫ ∂D 〈F,n〉 ds = ∫ b a ( L(P (t)) y′(t) ‖P ′(t)‖+M(P (t)) −x′(t) ‖P ′(t)‖ ) ‖P ′(t)‖ dt = ∫ b a (−M(P (t))x′(t) + L(P (t))y′(t)) dt = ∫ ∂D −M dx+ Ldy Ca´lculo III Notas da Aula 31 3/7 o que confirma o que foi visto acima, de que o fluxo de F = (L,M) e´ igual a` circulac¸a˜o de Q = (−M,L). Mas essa igualdade so´ e´ verdadeira se T e n estiverem relacionados como acima: T e´ o tangente de uma parametrizac¸a˜o positiva de ∂D e n corresponde a girar T no sentido hora´rio. Outra maneira de preservar essa relac¸a˜o e´ dizer que n e´ a normal unita´ria exterior ao domı´nio D. Veja a figura abaixo. D T n Seguindo o racioc´ınio, pode-se agora aplicar o teorema de Green ao campo Q para obter que∫ ∂D 〈F,n〉 ds = ∫ ∂D −M dx+ Ldy = ∫∫ D (Lx − (−M)y) dxdy = ∫∫ D (Lx +My) dxdy Muito bom. Essa e´ a relac¸a˜o que se estava procurando. O fluxo pelo bordo, na direc¸a˜o da normal exterior, corresponde a` uma integral dupla sobre todo o domı´nio da func¸a˜o Lx+My. Essa func¸a˜o e´ famosa, e conhecida pelo nome de divergente. A notac¸a˜o usada e´ a seguinte: divF (x, y) = Lx(x, y) +My(x, y) = divergente de F no ponto (x, y) Com essa notac¸a˜o, essa discussa˜o pode ser resumida no teorema a seguir, conhecido tambe´m como a forma normal do Teorema de Green. Teorema 1 (da Divergeˆncia). Sejam D ⊂ R2 um domı´nio no qual vale o Teorema de Green, com ∂D orientado com a normal unita´ria exterior n. Se F e´ um campo de classe C1 em uma regia˜o que conte´m D, enta˜o∫ ∂D 〈F,n〉 ds = ∫∫ D divF dxdy Densidade de Fluxo Para ser usado a seguir vale lembrar que, se uma func¸a˜o f : D → R e´ integra´vel, enta˜o a sua me´dia e´ Mf = 1 a´rea deD ∫∫ D f(x, y) dxdy que e´ um valor entre o ma´ximo e o mı´nimo da func¸a˜o. Veja a figura. Logo, se a func¸a˜o for cont´ınua, enta˜o a me´dia esta´ na imagem da func¸a˜o. Isto significa que 1 a´rea deD ∫∫ D f(x, y) dxdy = f(x1, y1) Mf D para algum (x1, y1) ∈ D. Esse resultado e´ conhecido como o teorema da me´dia para integrais. x0 x1 x0 +∆x y0 y1 y0 +∆y R n Voltando ao teorema da divergeˆncia, o nome de “divergente”parece estranho, mas pode ser justificado com a densidade de fluxo. Para isso, considere um pequeno retaˆngulo R = [x0, x0 + ∆x] × [y0, y0 + ∆y] dentro do domı´nio do campo F , com o bordo ∂R orientado com a normal unita´ria exterior. Veja a figura ao lado. Ca´lculo III Notas da Aula 31 4/7 O fluxo ∫ ∂R 〈F,n〉 ds e´ um balanc¸o liquido entre o que sai menos o que entra. Assim, se o fluxo for positivo, enta˜o sai mais do que entra. Se negativo, enta˜o entra mais do que sai. Mas, e no ponto (x0, y0), o que acontece? Na˜o adianta calcular o limite do fluxo com (∆x,∆y) → (0, 0), pois esse limite e´ zero. E´ enta˜o que entra em cena uma ideia nova, de comparar o fluxo com a a´rea ∆x∆y do retaˆngulo R. Veja que ideia boa: usando o teorema da divergeˆncia e o teorema da me´dia, obte´m-se que 1 ∆x∆y ∫ ∂R 〈F,n〉 ds = 1 ∆x∆y ∫∫ R divF dxdy = divF (x1, y1) para algum ponto (x1, y1) ∈ R. O lado esquerdo da igualdade e´ a densidade de fluxo (fluxo por unidade de a´rea), a integral do meio e´ a me´dia da func¸a˜o divF no retaˆngulo R e o lado direito e´ o valor da me´dia, igual a divF (x1, y1). Agora sim, como (x1, y1) ∈ R, se (∆x,∆y) → (0, 0) enta˜o (x1, y1) → (x0, y0), e da igualdade acima segue-se que lim (∆x,∆y)→(0,0) 1 ∆x∆y ∫ ∂R 〈F,n〉 ds = lim (x1,y1)→(x0,y0) divF (x1, y1) = divF (x0, y0) Esta e´ a interpretac¸a˜o f´ısica do divergente: ele e´ a densidade de fluxo no ponto (x0, y0). Em particular, em vizinhanc¸as pequenas do ponto, o sinal do fluxo e´ o mesmo do divergente, e indica se esta´ saindo ou entrando fluido no ponto (x0, y0). Veja as figuras abaixo. divF > 0 sai mais do que entra divF = 0 sai igual ao que entra divF < 0 sai menos do que entra O pro´ximo exemplo ilustra que a igualdade divF = 0 pode ser usada como uma condic¸a˜o de equil´ıbrio em problema de termodinaˆmica. Exemplo 4. Justifique a afirmac¸a˜o de que a temperatura T (x, y) = 20 π arctan ( 2y 1− x2 − y2 ) da chapa semicircular D = {(x, y); x2+y2 < 1 e y > 0} deve satisfazer a` equac¸a˜o de Laplace Txx(x, y) + Tyy(x, y) = 0 ∀ (x, y) ∈ D Soluc¸a˜o. Esse exemplo foi estudado na Aula 10, onde foram obtidas as curvas de n´ıvel (pontilhadas na figura ao lado) e as linhas de fluxo do calor. Em (x, y) ∈ D, como o gradiente ∇T (x, y) = (Tx(x, y), Ty(x, y)) aponta na direc¸a˜o da maior temperatura, segue-se que o calor flui na direc¸a˜o de −∇T (x, y). De fato, o vetor fluxo de calor e´ dado por F (x, y) = −k∇T (x, y), onde k e´ a condutividade te´rmica. Ora! A temperatura da chapa e´ estaciona´ria, no sentido de que e´ constante ao longo do tempo, e isso apesar de haver fluxo de calor. Para que isso acontec¸a e´ necessa´rio que, em cada ponto, a quantidade de calor que entra seja igual a` quantidade de calor que sai! Assim, para que a temperatura seja estaciona´ria, e´ necessa´rio que divF (x, y) = 0 para todo (x, y) ∈ D. Como F (x, y) = −k(Tx(x, y), Ty(x, y)) deve-se ter que 0 = divF (x, y) = −k ( ∂ ∂x Tx(x, y) + ∂ ∂y Ty(x, y) ) = −k(Txx(x, y) + Tyy(x, y)) ∀ (x, y) ∈ D Apesar de trabalhoso, a equac¸a˜o pode ser verificada calculando as derivadas Txx e Tyy. � Ca´lculo III Notas da Aula 31 5/7 Lei de Gauss A figura ilustra um fio infinito ao longo do eixo Oz com uma densidade uniforme de carga δ0 > 0. Ilustra ainda o campo ele´trico E em um ponto P do plano Oxy, campo que, experi- mentalmente, tem a mesma direc¸a˜o e sentido do ponto P . Para o estudo da intensidade, entretanto, e´ necessa´rio um conhecimento mais detalhado do campo, e Gauss foi um dos pio- neiros a aprofundar esse conhecimento. Assim, indicando por C um c´ırculo de centro na origem e raio r e por n a normal unita´ria exterior, a lei de Gauss afirma que P E C ∮ C 〈E,n〉 ds = 1 ǫ0 δ0 (1) onde ǫ0 ≈ 8, 85418782 × 10−12 A s2/kg m3 e´ a constante de permissividade do va´cuo. O curioso e´ que a integral de linha e´ sobre um c´ırculo de raio r e, em princ´ıpio, depende deste raio. Mas, segundo a lei, a integral de linha e´ constante, e independente do raio! Esse comportamento e´ ana´logo ao do campo magne´tico, e pode ser explicado da mesma forma. Se o raio do c´ırculo e´ pe- queno, o seu comprimento tambe´m e´ pequeno, mas a intensidade do campo e´ grande. Se o c´ırculo aumenta, o seu comprimento tambe´m aumenta, mas a intensidade do campo diminui. Assim, a lei de Gauss afirma que um aumento no raio corresponde a uma diminuic¸a˜o da intensidade do campo, e isso de maneira a que o fluxo permanec¸a constante. Veja a figura ao lado. Para o ca´lculo da intensidade, indique por P (t), t ∈ [0, 2π], uma parametrizac¸a˜o positiva de C e por n(t) o vetor unita´rio normal e exterior. Como E e´ tambe´m normal e exterior, tem- se que E(P (t)) = ‖E(P (t))‖n(t). Ale´m disso, por simetria, a intensidade de E e´ constante ao longo de C, isto e´, ‖E(P (t))‖ = k para todo t ∈ [0, 2π]. Segue-se que E(P (t)) = k n(t), e portanto 〈E(P (t)),n(t)〉 = 〈k n(t),n(t)〉 = k. Mas enta˜o, da lei de Gauss, 1 ǫ0 δ0 = ∮ C 〈E,n〉 ds = ∫ 2pi 0 〈E(P (t)),n(t)〉‖P ′(t)‖ dt = k ∫ 2pi 0 ‖P ′(t)‖ dt = k 2πr de onde segue-se que ‖E(P (t))‖ = k = δ0/2πǫ0r. O´timo, essa e´ a intensidade ao longo de C, onde ‖P (t)‖ = r. Em um ponto qualquer P = (x, y), com ‖P‖ 6= 0, a intensidade e´ ‖E(P )‖ = δ0 2πǫ0‖P‖ = δ0 2πǫ0 √ x2 + y2 Ale´m disso, E(P ) tem a mesma direc¸a˜o e sentido do vetor P = (x, y). Basta enta˜o considerar o vetor unita´rio U = P‖P‖ = ( x√ x2+y2 , y√ x2+y2 ) na direc¸a˜o e sentido de P para obter que a expressa˜o do campo E e´ P E E(P ) = ‖E(P )‖U = δ0 2πǫ0 √ x2 + y2 ( x√ x2 + y2 , y√ x2 + y2 ) = δ0 2πǫ0 ( x x2 + y2 , y x2 + y2 ) Ca´lculo III Notasda Aula 31 6/7 Lei de Gauss Ampliada Assim como o campo magne´tico e´ irrotacional, o campo ele´trico e´ “incompress´ıvel”, no sentido de que divF (P ) = 0 para todo P 6= (0, 0). Essa e´ uma propriedade importante e fa´cil de verificar: indicando por L e M as coordenadas de E, um ca´lculo simples mostra que Lx(x, y) = δ0 2πǫ0 y2 − x2 (x2 + y2)2 = −My(x, y) de onde segue-se que divF (P ) = Lx(P ) +My(P ) = 0 ∀ P 6= (0, 0). Essa propriedade pode ser usada para ampliar a lei de Gauss no sentido indicado a seguir. C n Considere um qualquer caminho fechado simples C, orientado com a normal unita´ria exterior e com a origem em seu interior, como na figura. O que se pretende e´ mostrar que, mesmo sem conhecer uma parametrizac¸a˜o do caminho, ainda assim∮ C 〈E,n〉 ds = 1 ǫ0 δ0 Para isso, na˜o e´ poss´ıvel aplicar o teorema de divergeˆncia na regia˜o limitada por C, pois essa regia˜o conte´m a origem, onde o campo ele´trico na˜o esta´ definido. Como no caso da lei de Ampe`re, a ideia e´ muito simples: usar um argumento de excisa˜o, retirando um pequeno disco em torno da origem. Por um lado, a excisa˜o permite a aplicac¸a˜o do teorema da divergeˆncia, o que e´ muito bom. Mas, por outro, cria uma regia˜o com um “buraco”, como ilustrado na figura ao lado. Indique enta˜o por C0 um c´ırculo orientado com a normal unita´ria exterior n0, centrado na origem e de raio pequeno o suficiente para estar dentro da regia˜o limitada por C. Indique ainda por D a regia˜o entre C e C0. Veja a figura. CC0D n n0 O primeiro ponto e´ que o teorema da divergeˆncia pode ser aplicado ao domı´nio D, pois e´ um domı´nio onde pode ser aplicado o teorema de Green. O segundo ponto e´ sobre a normal exterior n˜ ao bordo ∂D: tem-se que n˜ = n em C, mas n˜ = −n0 em C0. Veja a figura. Esclarecidos esses pontos, lembrando que o campo ele´trico E e´ tal que divE ≡ 0 e aplicando o teorema da divergeˆncia em D, obte´m-se que 0 = ∫∫ D divE dxdy = ∮ ∂D 〈E, n˜〉 ds = ∮ C 〈E,n〉 ds+ ∮ C0 〈E,−n0〉 ds = ∮ C 〈E,n〉 ds− ∮ C0 〈E,n0〉 ds Daqui, e da lei de Gauss como enunciada em (1) e aplicada a C0, segue-se que∮ C 〈E,n〉 ds = ∮ C0 〈E,n0〉 ds = 1 ǫ0 δ0 Esta e´ a forma ampliada da lei de Gauss, em que a novidade esta´ em que a curva C na˜o precisa ser um c´ırculo centrado na origem, mas pode ser qualquer curva fechada simples que inclui a origem em seu interior. Ca´lculo III Notas da Aula 31 7/7
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