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Filosofia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Andrea Borelli Revisão Técnica: Prof. Ms. Edson Alencar Silva Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Introdução à Reflexão Filosófica • O que é Filosofia? • Para que Filosofia? · Discutir a definição de Filosofia, de conhecimento, Ciência e senso comum. Além disso, discutiremos também os principais períodos da Filosofia. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Refl exão Filosófi ca Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Contextualização Vamos iniciar nosso trabalho contextualizando a importância da Filosofia por meio de um texto de Karl Jaspers. Leia com atenção! O texto vale a pena! Quando se fala em estudar Filosofia, não é raro nos depararmos com perguntas como: Há uma utilidade para a Filosofia? Por que ela é tão complexa? Karl Jaspers, um importante pensador alemão, responde essa questão dizendo que estas são falsas perguntas, pois trabalham a favor de uma “antifilosofia”, ou seja, um tipo de pensamento que im- pede que a reflexão se contraponha à lógica que reduz tudo a fórmulas prontas e acabadas questões cruciais para a nossa vida. Para ele “a Filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz”. Ao se voltar para questões “que o mundo não quer” o pensamen- to filosófico se transforma em algo que ora é evitado, ora é temido. Evitado porque o conhecimento é enganadoramente associado a uma atividade sem sentido, mas na realidade é algo que pode nos levar a uma relação com o mundo muito mais profunda. E temido apenas por aqueles que não querem que se pense livremente, pois é mais fácil ma- nipular quem não questiona. Convidamos a utilizarem um antigo lema latino que diz Sapere Audi! (Ouse saber!), ou seja, atreva-se a utilizar o seu próprio conhecimento! Karl Jasper 8 9 O que é Filosofi a? Essa pergunta permite muitas respostas... Alguns podem apontar que a Filosofia é o “estudo de tudo” ou “o nada que pretende abarcar tudo”. Diante de tantas possibilidades, podemos iniciar nosso trabalho procurando o significado da palavra, que é de origem grega. Trata-se da junção de dois termos: philos que significa amizade, e sophia que significa sabedoria; portanto, Filosofia é o amor pela sabedoria. Philo = amizade Sophia = sabedoria filosofia Figura 1 Considerando essa ideia, podemos dizer que a Filosofia indica um estado de espírito, um desejo de procurar o conhecimento, cultivá-lo e respeitá-lo. Figura 2 - Pitáoras de Samos Fonte: Wikimedia Commons Segundo a tradição, foi o grego Pitágoras de Samos que criou esse conceito. Pitágoras considerava que a sabedoria absoluta era um privilégio divino, mas os homens poderiam desejá-la e ao se dedicarem a obtê-la tornavam-se Filósofos. A Filosofia é uma criação grega. Foram os gregos que, encantados com o mundo que os cercava e insatisfeitos com as explicações de caráter tradicional, procuraram entender os fenômenos com base na inteligência humana. Em suma, eles perceberam que o mundo poderia ser conhecido pelo homem e, por isso, ensinado. 9 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Para que Filosofia? Marilena Chauí conta que quando você pergunta a um filósofo para que serve a Filosofia, a primeira resposta será “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p.9. Ex pl or O que ela quer dizer com isso? Sua afirmação permite considerar que a Filosofia demanda uma atitude diferenciada perante o conhecimento e as suas formas. Trata-se da Atitude Filosófica. • Atitude Filosófica • Atitude crítica e pensamento crítico. Ex pl or A atitude Filosófica é marcada por dois movimentos: a atitude crítica perante as informações recebidas e o pensamento crítico, marcado por indagações rigorosas sobre o mundo. Esse tipo de atitude aponta a necessidade de observar o conhecimento como algo em construção e que pode ser alterado, ampliado e, acima de tudo, criticado. O filósofo grego Sócrates dizia que a atitude filosófica fundamental era aceitar que: “Sei que nada sei”. A atitude filosófica, portanto, é uma atitude de indagação constante e as perguntas que marcam essas indagações são as mesmas, independente dos objetos que a Filosofia pretenda conhecer. Observe a imagem a seguir: Atitude Filosó�ca Por quê? Origem ou Causa das coisas Como? Estruturas e Relações que O quê? Sigini�cação de algo. Re�exão Filosó�ca Para que pensamos? Finalidade O que pensamos? Conteúdo Por que pensamos? Motivos Figura 3 10 11 Aos poucos, a Filosofia volta as suas questões para o próprio pensamento, ou seja, o pensamento passa a interrogar a si mesmo e esse movimento é chamado de Reflexão. • Refl exão Filosófi ca = pensar o pensamento Ex pl or A reflexão filosófica é considerada radical, pois coloca em discussão como é possível a existência do próprio pensar e como isso realmente acontece. A reflexão filosófica também procura observar as relações que estabelecemos com o mundo e como essas se efetivam. Observe a imagem: Atitude Filosó�ca Por quê? Origem ou Causa das coisas Como? Estruturas e Relações que O quê? Sigini�cação de algo. Re�exão Filosó�ca Para que pensamos? Finalidade O que pensamos? Conteúdo Por que pensamos? Motivos Figura 4 Essas questões, contudo, não podem ser respondidas ao acaso ou com base em opiniões pessoais. A Filosofia é uma Ciência que trabalha com raciocínios lógicos e enunciados precisos. No campo da Filosofia, o processo de pensar algo é acompanhado por um rigor sistemático que garante organicidade, lógica e sentido a tudo que é postulado. As respostas obtidas a essas questões, portanto, precisam formar um conjunto coerente e sistemático de ideias que possa ser comprovadoe demonstrado logicamente. Filoso�a: Conhecimento Sistemático Coerência Relação entre ideias Figura 5 11 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Considerando o que já foi dito, voltamos à questão: Para que Filosofia? Ora, a Filosofia nos ensina a pensar de forma crítica, a criticar o pensamento. A filósofa Marilena Chauí aponta: Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum, for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos, for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história, for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política, for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos, for útil; então, podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. A Filosofia Ocidental tem seu estudo dividido em grandes momentos, que algumas vezes estão próximos à periodização utilizada na História, e algumas vezes ficam bem distantes. Os principais períodos são: Filosofia Antiga – Século VI a.C. ao século VI d.C. Esse período compreende os quatro grandes períodos da Filosofia greco-romana. São eles: Filosofia Antiga Nome Período Característica Pré-Socrático ou Cosmológico Séc. VI a.C. - Séc. V a.C. • Mapear a origem do mundo. • Mapear as causas das transformações da natureza. Período Socrático ou Antropológico Séc. V a.C. - Séc. IV a.C. • Mapear questões voltadas à questão humana como: ética, política. Período Sistemático Séc. IV a.C. - Séc. III a.C. • Sistematizar os conhecimentos sobre Cosmologia e Antropologia. • Tudo pode ser objeto da Filosofia Período Helenístico ou Greco-romano Séc. III a.C. - Séc. VI d.C. • Ocupa-se de questões sobre ética, do conhecimento humano e das relações homem/natureza e natureza/Deus. Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates e tinham como preocupação buscar entender a origem das coisas. O foco de reflexão era, portanto, o mundo exterior, ou cosmológico. Entre os nomes de maior relevo estão Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso. Ex pl or 12 13 Filosofi a Patrística – Século I ao século VII Trata-se de um esforço sistemático de conciliação da Filosofia Greco-romana, com o pensamento cristão e pode ser dividida em duas: a Patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e a Patrística Romana (ligada à Igreja de Roma). A Patrística terá como questão principal a conciliação entre a fé e razão e seus autores vão introduzir no campo do pensamento a noção de que algumas verdades foram reveladas por Deus; trata-se dos dogmas. O termo remete à Filosofi a cristã desenvolvida por padres ou pais da Igreja, nos primeiros três séculos depois de Cristo. Daí o nome Filosofi a Patrística.Ex pl or Com isso, surge uma distinção desconhecida aos pensadores antigos, entre as verdades reveladas por Deus (os dogmas) e as verdades da razão humana. As verdades divinas são tidas, para esses autores, como mais importantes e superiores ao pensamento racional humano. Filosofi a Medieval – Século XIII ao século XIV Método da Disputa = Uma ideia seria considerada verdadeira ou falsa, dependendo da força e da qualidade dos argumentos.Ex pl or Trata-se do surgimento de uma Filosofia que pode ser considerada realmente cristã. Suas questões centrais são: as relações entre Deus e o homem, a relação entre fé e razão, a diferença entre o corpo e alma, o Universo como uma hierarquia de seres e a subordinação do poder temporal ao poder espiritual. A Filosofia medieval sofreu grande influência do pensamento neoplatônico e das leituras árabes do pensamento de Aristóteles. Outra característica importante era o método desenvolvido, conhecido por disputa. Uma ideia seria considerada verdadeira ou falsa, dependendo da força e da qualidade dos argumentos apresentados pelo autor. O pensamento está subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma ideia era considerada verdadeira, dependendo se estava baseada na opinião de alguma autoridade reconhecida. 13 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Importante! O termo Filosofia Medieval tem início no período conhecido por Idade Média. Esteve concentrada e desenvolvida em centros universitários e escolares. Daí também ser conhecida por Filosofia Escolástica. Você Sabia? Filosofia da Renascença – Século XV ao Século XVI Trata-se de um período marcado pela descoberta de novas obras de Platão e Aristóteles, bem como a recuperação do trabalho de outros autores do mundo greco-romano. São três as linhas de pensamento no período: Filosofia da Renascença • A Natureza é um grande ser vivo. • O homem é parte da natureza e pode agir sobre ela. • O homem pode conhecer os vínculos estabelecidos pelos elementos da natureza e criar outros. • Valorização da “vida ativa”, ou seja, a participação política. • Renascimento da liberdade política. • Homem como artífice de seu destino. • Destino determinado pelo conhecimento da política, das técnicas e da arte. Filosofia Moderna – Século XVII a Século XVIII Esse período é conhecido como Grande Racionalismo Clássico. Nenhum outro período da história da Filosofia foi tão marcado pela crença na Razão. Conside- rava-se que a razão seria capaz não só de conhecer a origem, as causas/efeitos das paixões humanas e controlá-las, como também determinar o melhor regime político para as sociedades e de mantê-lo racionalmente. • Filosofia Moderna - Primado da RAZÃOExp lo r É um período marcado por três grandes mudanças de atitude intelectual. Filosofia Moderna • A Filosofia deve começar pela reflexão. • Indagar a capacidade humana de conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos. • Tudo que pode ser conhecido é passível de ser transformado em conceito claro, distinto, demonstrável e necessário. • Natureza, Sociedade e Política podem ser conhecidas totalmente, pois são inteligíveis. • A realidade é um sistema de causalidades racionais, rigorosas que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem. 14 15 Filosofi a da Ilustração ou Iluminismo – Século XVIII ao Século XIX Esse período também crê no poder absoluto da razão e seus pensadores consideram que ela “ilumina” o caminho humano. O Iluminismo afirma que: Filosofi a da Ilustração ou Iluminismo • A Razão permite conquistar liberdade, felicidade social e política. • A Razão é capaz de progresso. • O homem pode atingir a perfeição por meio do conhecimento, das artes, da Moral e da Ciência. • O Aperfeiçoamento da Razão se realiza pelo progresso das civilizações. • As civilizações evoluem das mais primitivas para as mais desenvolvidas • Natureza é o reino das relações necessárias e imutáveis. • Civilização é o reino da liberdade e da finalidade produzida pelo homem. Filosofi a Contemporânea – Século XIX até os nossos dias O pensamento filosófico atual é marcado pelas questões sobre a relatividade do pensamento, a crítica à razão instrumental e a necessidade de perceber a pluralidade das sociedades humanas. Seus principais problemas são: Razão – Deve alertar para o perigo do pensamento instrumental. Trazer liberdade ao ser humano. História e progresso – A História é descontínua e não progressista. Filosoa – Armar sua posição de compreensão e crítica às Ciências. Crítica às Utopias Revolucionárias – Somos capazes de criar uma sociedade mais justa? Cultura – Pluralidade cultural. Crítica à Razão. O que podemos realmente conhecer? Interesse pela multiplicidade e pela diferença. Coerência Figura 6 Os campos próprios de estudo da Filosofia.15 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Ontologia Fundamento últimos de todos os seres Lógica Formas e regras do pensamento verdadeiro Epistemologia Análise crítica das ciências Teoria do Conhecimento Estudo das modalidades de conhecimento humano Ética Estudos dos valores moraisFiloso�a Política Estudo da natureza do poder Filoso�a da História - Estudo da dimensão temporal da experiência humana Estética Estudo das formas a arte e do trabalho artístico Filoso�a da Linguagem A linguagem como manifestação da humanidade História da Filoso�a Estudo dos períodos Filosó�cos FILOSOFIA Figura 7 A Filosofia realizou seus estudos em diversas áreas e ao longo de sua existência, como uma Disciplina do pensamento, foi capaz de desenvolver alguns campos de estudo que lhe são próprios. São eles: O Conhecimento As noções, que discutimos até agora, apontam que a questão central da Filosofia, que envolve a crítica ao ato de pensar e, conectado a ele, ao ato de conhecer. O conhecimento permeia todo o nosso cotidiano; por meio dele, sabemos como nos portar, o que evitar, o que é adequado. Enfim, o conhecimento do mundo nos garante um grande repertório de ações e pode ser percebido de duas maneiras: Na primeira, o conhecimento é a relação estabelecida pela consciência do observador e o mundo que o cerca e na segunda possibilidade, o conhecimento é o conteúdo dessa relação. Trata-se, portanto, do saber adquirido e transmitido. Quando interagimos com o mundo, criando o conhecimento, nunca o fazemos despidos de conceitos anteriores, pois, ao longo da nossa relação com o mundo, somos educados e absorvemos conceitos que nos permitem ampliar o saber que temos. Trata-se de construir um edifício, em que cada um contribui com sua vivência. 16 17 Existem muitas formas de conhecer e, entre elas, destacam-se o Senso Comum e a Ciência. O Senso Comum O senso comum é uma forma de conhecimento espontâneo que resulta das experiências cotidianas dos indivíduos para resolver problemas. Nesse processo, ele troca informações com seus contemporâneos e recebe informações de gerações anteriores. Trata-se de um conhecimento empírico e fragmentário que não estabelece relações com outros fenômenos. Suas características centrais são: Senso Comum Saber Imediato Observação Confunde a aparência com o real Observação Centrado nas opiniões do indivíduo Acúmulo não sistemático de informações Não analisa criticamente o conhecimento Saber Subjetivo Saber Heterogêneo Saber Não Crítico Figura 8 É importante perceber que o Senso Comum pode ser considerado uma etapa na construção do saber. Ele precisa ser substituído por uma abordagem crítica e coerente, ou seja, o senso comum deve ser transformado em BOM SENSO. O Bom Senso, segundo Gramsci é “o núcleo sadio do senso comum”. ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofi a. São Paulo: Moderna, 1993, p 37. Ex pl or Qualquer pessoa, se não privada de sua liberdade de pensamento, e se teve condição de desenvolver sua atitude crítica, será capaz de autoconsciência, de perceber criticamente o próprio pensamento e de analisar o mundo que a cerca. Portanto, todos somos capazes de atingir o bom senso proposto por Gramsci e, a partir dele, construir um conhecimento, fruto da crítica sistemática. Como fazer isso? É necessário assumir a postura de dúvida perante o mundo que nos cerca e considerar que as informações, as quais recebemos, precisam ser alvo de crítica. Dessa forma, entramos no mundo das Ciências. 17 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica A Ciência Ao longo do tempo, podemos observar a existência de três formas de conceber as Ciências ou noções do que é cientificidade. A primeira, chamada concepção racionalista, tem sua origem no pensamento dos gregos e pode ser percebida até o final do século XVII. As características centrais dessa abordagem são: Conhecimento racional, dedutivo e demonstrativo – tido como real Objeto cientí�co é matemático = realidade possui uma estrutura matemática As experiências cientí�cas = veri�car e con�rmar as demonstrações teóricas Objeto cientí�co = representação intelectual, necessária, verdadeira e real verdadeira das coisas – corresponde à própria realidade Ciência – unidade sistemática de postulados – relações de causalidade sobre o objeto Ciência – unidade sistemática de postulados – natureza do objeto natureza e as propriedades de seu objeto CONCEPÇÃO RACIONALISTA Figura 9 Deve-se observar que, para essa perspectiva, a Ciência faz uma radiografia da realidade. Ela definia um objeto e dele procurava deduzir os efeitos e propriedades do fenômeno estudado, trata-se de uma abordagem hipotético-dedutiva. Já a abordagem empirista era hipotético-indutiva, ou seja, criava suposições ao objeto e, depois de realizar um conjunto de experiências, definia suas características e propriedades. A concepção empírica pode ser relacionada ao pensamento de Aristóteles e pode ser rastreada até o século XIX. 18 19 Suas características centrais são: A ciência é uma interpretação dos fatos, baseada em observações experimentos Métodos experimenta is rigorosos A experiência tem a função de produzir conhecimento A ciência é uma interpretação dos fatos, baseada em experimentos A CONCEPÇÃO EMPIRISTA Figura 10 A concepção construtivista combina elementos vindos do empirismo e do racionalismo e indica uma nova perspectiva para a noção de Ciência. Procura-se explicar a realidade e não construir um raio X do mundo que nos cercam; trata-se de um conhecimento que pode ser ampliado e corrigido. Trata-se da concepção de Ciência que domina o conhecimento atual. As características dessa concepção são: O objeto uma construção lógico-intelectual Modelos explicativos construidos – observação e experimentação Os resultados obtidos possam ser alterados e alterem a proópria teoria Coerência entre os princípios que orientam a teoria CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA Figura 10 19 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Deve-se observar que, apesar de a concepção racionalista e a empirista terem sua origem no pensamento grego, a concepção dos gregos do que era Ciências é radicalmente diferente da nossa. Existem muitas diferenças; contudo, a que merece destaque é a relação entre a Ciência e a Técnica. No mundo grego, que era escravista, a técnica era considerada um saber inferior. Ela estava ligada a práticas necessárias à vida e nada tinha a oferecer à Ciência nem a receber dela. Tecnologia é um saber teórico que pode ser aplicado praticamente. Ex pl or Já a Ciência moderna está intimamente ligada à intervenção no mundo natural e, nesse sentido, a Ciência moderna não se separa da questão técnica, pois no mundo, o controle da natureza é considerado fundamental para a Ciência. Na verdade, a Ciência moderna coloca em evidência a questão da Tecnologia, que pode ser definida como um saber teórico, o qual é passível de ser aplicado praticamente. A Filosofia, com sua atitude crítica, é a alma mater da ciência e permite ao ser humano interferir no seu meio, procurando um mundo melhor, como aponta Marilena Chauí: Penso que quem busca a filosofia como forma de expressão de seu pensamento, de seus sentimentos, de seus desejos e de suas ações, decidiu-se por um modo de vida, um certo modo de interrogação e uma certa relação com a verdade, a liberdade, a justiça e a felicidade. É uma decisão existencial, como nos aparece com tanta clareza nas primeiras linhas do Tratado da emenda do intelecto, de Espinosa. Essa decisão intelectual,penso, não é possível a menos que aceitemos aquilo que Merleau-Ponty chamou de “nossa vida meditante” em busca de uma razão alargada, capaz de acolher o que a excede, o que está abaixo e acima dela própria. Essa decisão, penso também, não é possível se não admitirmos com Espinosa que pensar é a virtude própria da alma, sua excelência. O desejo de viver uma existência filosófica significa admitir que as questões são interiores à nossa vida e à nossa história e que elas tecem nosso pensamento e nossa ação. Significa também uma relação com o outro na forma do diálogo e, portanto, como encontro generoso, mas também como combate sem trégua. CHAUI, Marilena. A Filosofia como vocação para a liberdade. Estudos Avançados 17 (49), São Paulo: 2003, p.11. Ex pl or 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Bons e Maus Ensaios Filosóficos HEPBURN, Ronald W. Bons e maus ensaios filosóficos. https://goo.gl/Dz4qZr Leitura Como se lê um Ensaio de Filosofia PRYOR, James. Como se lê um ensaio de filosofia. https://goo.gl/Glt8tW O que é Filosofia e por que Vale a Pena Estudá-la EWING. A. C. O que é Filosofia e por que vale a pena estudá-la https://goo.gl/ELgz7t 21 UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica Referências ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. CHAUI, Marilena. A Filosofia como vocação para a liberdade. Estudos Avançados 17 (49), São Paulo, 2003. ________. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2000. 22
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