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Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência I – Osvaldo Pessoa Jr. – 2010 
Capítulo IV 
 
15 
MÉTODO CIENTÍFICO EM ARISTÓTELES 
 
 
1. Hilemorfismo 
 
Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.) deixou uma vasta obra e exerceu uma influência 
incomparável até o séc. XVII. Sua doutrina do hilemorfismo defendia que todas as coisas 
consistem de matéria (hile) e forma (morfe). Por “matéria” entende-se um substrato (matéria 
prima) que só existe potencialmente; sua existência em ato pressupõe também uma forma. 
A mudança das coisas é explicada por quatro tipos de causas: o fator material, a 
forma, a causa eficiente e a causa final (ou propósito). Por exemplo, uma mesa: sua forma é 
sua figura geométrica, sua matéria é a madeira, sua causa eficiente foi a ação de um 
carpinteiro, e sua causa final é servir para refeições. Outro exemplo, tirado da biologia 
aristotélica: a reprodução de uma espécie animal. A matéria seria fornecida pela mãe, a forma 
seria a característica definidora da espécie (no caso do homem, um bípede racional), a causa 
eficiente seria fornecida pelo pai, e a causa final seria o adulto perfeito para o qual cresce a 
criança. Na natureza, a causa final não consistiria de uma finalidade consciente, mas seria 
uma finalidade imanente, que pode ser impedida de acontecer devido à ação de outros fatores. 
A física aristotélica rejeitava a “quantificação das qualidades” empreendida pelos 
atomistas e por Platão. Partiu de dois pares de qualidades opostas: quente/frio, seco/úmido. Os 
corpos simples que compõem todas as substâncias são feitos de opostos: terra = frio e seco; 
água = frio e úmido; ar = quente e úmido; fogo = quente e seco. Os elementos tenderiam a se 
ordenar em torno do centro do mundo, cada qual em seu “lugar natural”. Se um elemento é 
removido de seu lugar natural, seu “movimento natural” é retornar de maneira retilínea: terra 
e água tendem a descer, ar e fogo tendem a subir. Voltaremos a discutir a Física aristotélica na 
seção VI.1. 
 
 
2. Método Indutivo-Dedutivo de Aristóteles 
 
 
 
 
Fig. IV.1: Processo de vai-e-
vem da concepção aristotélica 
de explicação científica. 
 Nos Analíticos Posteriores (ou Segundos 
Analíticos), Aristóteles desenvolveu sua concepção do 
método científico17. Segundo ele, a investigação científica 
começa com o conhecimento de que certos acontecimentos 
ocorrem ou que certas propriedades coexistem. Através 
do processo de “indução”, tais observações levam a um 
princípio explicativo. Uma vez estabelecido, este princípio 
pode levar, por dedução, de volta às observações 
particulares de onde se partiu ou a outras afirmações a 
respeito dos acontecimentos ou propriedades. Há assim, na 
explicação científica, um processo de “vai-e-vem”, partindo 
do fato, ascendendo para os princípios explicativos, e 
descendendo novamente para o fato (Fig. IV.1). O filósofo
 
17 ARISTÓTELES (2005), Analíticos Posteriores, in Órganon, trad. de E. Bini, Edipro, São Paulo (orig. c. 350 a.C.) 
Ver Livro I, § 34, p. 312 [89b10]. Usamos nesta seção: LOSEE, J. (1979), Introdução Histórica à Filosofia da 
Ciência, Itatiaia/EDUSP, pp. 15-25. 2a edição ampliada em inglês: 1980. Também foi consultado: CROMBIE, A.C. 
(1953), Robert Grosseteste and the Origins of Experimental Science 1100-1700, Clarendon, Oxford, pp. 24-29. Um 
estudo aprofundado é: PORCHAT PEREIRA, O. (2001), Ciência e Dialética em Aristóteles, Ed. Unesp, São Paulo. 
 
TCFC I (2010) Cap. IV– Método Científico em Aristóteles 
 
 16
da ciência David Oldroyd18 chamou este vai-e-vem de “o arco do conhecimento”. Na Idade 
Média, este padrão indutivo-dedutivo seria chamado Método da Resolução (indução) e 
Composição (dedução), como veremos na seção XIII.1. 
Tomemos o exemplo do eclipse lunar. Primeiro, observa-se o escurecimento da lua 
durante o eclipse. Para explicá-lo, é preciso encontrar os princípios explicativos, que Aristóteles 
identifica com as causas do fenômeno. Para isso, procede-se por indução a partir da observação 
do eclipse e de outros fenômenos também. Por exemplo, inspecionando as sombras de objetos 
formadas a partir da luz solar, conclui-se por indução que os raios de luz propagam-se de 
maneira retilínea, e que são os corpos opacos que geram a sombra. Então, num ato de 
“perspicácia”, chega-se à noção de que o eclipse é causado pela interceptação da luz solar 
pelo corpo opaco da Terra, de maneira que é a sombra projetada pela Terra na Lua que a faz 
escurecer. Por dedução, posso confirmar que tal disposição dos astros de fato provoca um 
escurecimento da Lua, como também posso deduzir outros aspectos do fenômeno, como o 
fato de que a sombra deve ter uma forma circular, já que surge da interceptação por um objeto 
esférico (a Terra). 
 
 
3. Indução e Abdução nos Contextos de Descoberta e Justificação 
 
Há dois tipos de indução em Aristóteles, que aparecem no exemplo dado. A indução 
por simples enumeração, ou indução enumerativa, leva a uma generalização a partir da 
observação de casos particulares semelhantes. Se se observa uma propriedade em vários 
indivíduos, presume-se que seja verdadeiro para a espécie a que pertencem os indivíduos. Se 
se observa algo para várias espécies, generaliza-se para o gênero a que pertencem as espécies. 
O segundo tipo, a indução intuitiva de Aristóteles (a referida “perspicácia”), é hoje mais 
conhecido como “abdução”. Segundo exemplo dado por Aristóteles (Analíticos Posteriores, 
livro 1, § 34), se o cientista observa várias vezes que o lado brilhante da Lua está voltado para o 
Sol, ele pode inferir que a explicação para o brilho da Lua provém da luz solar nela refletida. A 
abdução é uma inferência “ampliativa” (ou seja, se correta, aumenta o conteúdo de nosso 
conhecimento, ao contrário da dedução – a indução enumerativa também é ampliativa) que está 
sujeita a erros. Por exemplo, observamos que a Lua descreve um movimento circular em torno 
do globo terrestre, sem sair voando e sem cair. Aristóteles explicou isso abduzindo que a Lua 
estaria presa a uma esfera cristalina. Desta explicação, pode-se deduzir que a Lua terá um 
movimento circular, mas tal explicação é errônea (não existe tal esfera cristalina). Às vezes uma 
abdução pode ser justificada, outras vezes ele deve ser abandonada. 
Notamos nessa discussão que a indução enumerativa e a abdução são dois 
procedimentos que levam à descoberta científica. A indução se baseia em nossa capacidade de 
associar percepções que se apresentam de maneira regular, ao passo que a abdução baseia-se 
numa capacidade de “insight” ou perspicácia que pode ocorrer numa observação única (a 
indução enumerativa também pode se dar a partir de uma observação única). Porém, uma vez 
que uma hipótese foi formulada, por meio da indução, abdução ou outro procedimento, como 
podemos justificá-la? 
Os empiristas da era moderna argumentariam que a indução não é só um método de 
descoberta, mas também de justificação. Uma indução bem feita, em que as regularidades são 
explicitamente observadas e anotadas, e na qual variações apropriadas de experimentos são 
feitas, serviria para justificar a aceitação de uma lei hipotética. Críticos do indutivismo, como 
 
18 OLDROYD (1986), op. cit. (nota 16). 
 
TCFC I (2010) Cap. IV– Método Científico em Aristóteles 
 
 17
Karl Popper19, argumentam porém que tal justificação não se sustenta; a indução pode servir 
como procedimento de descoberta, mas não de justificação. O procedimento correto de 
justificação, segundo Popper, é o método hipotético-dedutivo, que já se encontra em 
Aristóteles, ao partir do princípio explicativo(hipótese) e deduzir conseqüências 
observacionais. Empiristas indutivistas, como Bacon ou Mill, em geral não negam a 
importância do método hipotético-dedutivo, pois é esta a maneira de justificar uma abdução. 
Mas também defendem que a indução enumerativa seja um procedimento de justificação (ao 
contrário de Popper). 
 
 
4. O Estágio Dedutivo em Aristóteles 
 
O estágio dedutivo parte dos princípios explicativos (generalizações), obtidas por meio 
da indução (enumerativa e abdutiva), e esses princípios servem como premissas para que se 
deduzam outras afirmações a respeito dos fatos. Esse processo de explicação dedutiva, 
segundo a lógica aristotélica, envolveria apenas quatro tipos de proposições, mostradas na 
Tabela IV.1. 
Um exemplo de dedução envolvendo apenas afirmações do tipo A (apelidado Barbara) 
é o seguinte silogismo (ou seja, argumento “com lógica”): 
 
 
Todos os planetas são corpos que não cintilam. Todo C é B 
Todos os corpos que não cintilam estão próximos da Terra. Todo B é A 
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– –––––––––– 
Todos os planetas são corpos que estão próximos da Terra. Todo C é A 
 
 
 
Tipo Proposição Notação moderna Diagrama de Venn 
 
A 
 
 Todos os S são P 
 
 ∀x (Sx → Px) 
 
E 
 
 Nenhum S é P 
 
 ∀x (Sx → ¬Px) 
 
I 
 
 Algum S é P 
 
 ∃x (Sx ∧ Px) 
 
O 
 
 Algum S não é P 
 
 ∃x (Sx ∧ ¬Px) 
 
Tabela IV.1: Quatro tipos de proposições. Os conectivos lógicos são: “→” implicação, 
 “¬” negação, “∧” conjunção, “∀” significa “para todo” e “∃” “existe ao menos um”. 
 
 
O sujeito da conclusão (C) é chamado “termo menor”, e o predicado da conclusão (A) é 
o “termo maior” (o que coincide com os tamanhos dos conjuntos desenhados na linha A da 
 
19 POPPER, KARL R. (1934), Logik der Forschung, Springer, Viena. The Logic of Scientific Discovery, 
Hutchinson, Londres, 1959. A Lógica da Pesquisa Científica, trad. L. Hegenberg & O.S. da Motta, 
Cultrix/Edusp, São Paulo, 1975. Tradução abreviada: “A Lógica da Investigação Científica”, trad. P.R. 
Mariconda, in Os Pensadores, Abril Cultural, São Paulo, 1979, pp. 1-124. 
TCFC I (2010) Cap. IV– Método Científico em Aristóteles 
 
 18
Tabela IV.1). O termo que aparece apenas nas premissas (B) é o “termo médio”. Este é um 
silogismo válido, ou seja, se as premissas foram verdadeiras, a conclusão será necessariamente 
verdadeira. Porém, é possível que uma das premissas seja falsa. Neste caso, não há garantia de 
que a conclusão seja verdadeira e, segundo Aristóteles, a explicação não é satisfatória. 
O silogismo acima é válido, mas há algo de errado: estamos dizendo que todos os 
planetas estão próximos da Terra (a conclusão) porque não cintilam (o termo médio). Mas a 
não-cintiliação não é causa da proximidade, e sim o contrário. A cintilação é aquele 
fenômeno em que as estrelas que observamos ficam piscando intermitentemente. Hoje 
sabemos que sua origem são flutuações na atmosfera. A luz de um planeta não cintila 
significativamente porque ela é mais intensa do que a luz de uma estrela. Dadas essas 
evidências, é razoável supor (por abdução) que a causa da cintilação (ou uma das causas) está 
relacionada com a proximidade em relação à Terra. Ou seja, a causa (a explicação) da não-
cintilação é a proximidade com a Terra, e não o contrário, conforme sugerido pelo silogismo 
acima.20 
Aristóteles impôs cinco requisitos extra-lógicos para as premissas de uma explicação 
científica. 1) As premissas devem ser verdadeiras. 2) As premissas devem ser primárias e 
indemonstráveis, ou, pelo menos, deve haver alguns princípios da ciência que são 
indemonstráveis, para que se evite uma regressão ao infinito. 3) As premissas devem ser 
melhor conhecidas do que a conclusão, ou seja, algumas leis gerais da ciência devem ser 
evidentes, por meio da faculdade da “intuição”. Esta posição de que as leis científicas 
afirmam verdades acessíveis à intuição ou à razão, e que estas teriam um caráter necessário, 
teria uma longa influência na filosofia da ciência. 4) As premissas devem ser anteriores em 
um sentido absoluto ou ontológico (mas não num sentido epistemológico, ligado ao ser 
humano, pois para este o que é anterior é o que é observável pelos sentidos). 5) As premissas 
devem ser as causas da atribuição feita na conclusão. 
Ora, como já vimos, o silogismo acima viola o quarto requisito. Para que tenhamos 
uma explicação científica, a causa deve constar como termo médio das premissas (letra A 
abaixo), e o efeito como termo maior (letra B) (em sua notação, em 78b1, Aristóteles inverte 
essas letras): 
 
 
Todos os planetas são corpos que estão próximos da Terra. Todo C é A 
Todos os corpos que não estão próximos da Terra não cintilam. Todo A é B 
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– –––––––––– 
Todos os planetas são corpos que não cintilam. Todo C é B 
 
 
Aristóteles sugeriu que a ciência tem uma certa estrutura explicativa, baseada nos 
níveis de generalidade de suas proposições, que se concatenam dedutivamente. No nível mais 
alto acham-se os princípios de identidade, não contradição e terceiro excluído, aplicáveis a 
todos os argumentos dedutivos21. No nível seguinte se encontram os princípios e definições da 
ciência particular em questão. E mais abaixo, estão os outros enunciados da ciência em 
questão. 
 
20 ARISTÓTELES (2005), op. cit. (nota 16), Livro I, § 2, pp. 253-4 [71b8-72a5]; § 13, pp. 276-8 [78a22-78b31]. 
 
21 Em termos proposicionais (onde “∧” é a conjunção, “∨” a disjunção, e “↔” a bi-implicação), o princípio de 
identidade afirma que da verdade de P se segue a verdade de P: P ↔ P; o princípio de não contradição afirma 
que dados P e sua negação ¬P , no máximo um deles é verdadeiro: ¬(P ∧ ¬P); e o princípio do terceiro excluído 
afirma que dados P e ¬P , pelo menos um deles é verdadeiro: P ∨ ¬P. 
 
TCFC I (2010) Cap. IV– Método Científico em Aristóteles 
 
 19
Qualquer explicação, para Aristóteles, deve envolver os quatro aspectos da causação 
mencionados anteriormente, a saber, a causa formal, a causa material, a causa eficiente e a 
causa final. Destaca-se aqui sua insistência na causa final, o que equivale a uma explicação 
teleológica. A causa final do processo de camuflagem de um camaleão é escapar de seus 
predadores. A causa final do movimento do fogo é atingir seu “lugar natural”, que se encontra 
para cima de nós. 
Aristóteles criticava os atomistas por sua tentativa de explicar a mudança em termos 
apenas de causas materiais e eficientes. Ele criticava a ênfase dos pitagóricos com a 
matemática dizendo que eles teriam uma preocupação exclusiva com as causas formais.

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