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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E FORMAÇÃO INTEGRADA ESPECIALIZAÇÃO EM FISIOTERAPIA NEUROLÓGICA THIAGO MENDES TAVARES ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO EM ADULTOS JOVENS- REVISÃO DA LITERATURA Goiânia 2011 THIAGO MENDES TAVARES ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO EM ADULTOS JOVENS- REVISÃO DA LITERATURA Artigo apresentado ao curso de Especialização em Fisioterapia Neurológica do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada, chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Orientadora: Profa. Dra. Cejane Oliveira Martins Prudente. Goiânia 2011 RESUMO Acidente Vascular Encefálico em Adultos Jovens – Revisão da Literatura Autores: Thiago Mendes Tavares, Cejane Oliveira Martins Prudente Introdução: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) consiste em um quadro neurológico agudo, provocado pela obstrução vascular que determina isquemia em determinada área encefálica ou pelo rompimento de vasos sanguíneos que irrigam essa região, causando um evento hemorrágico. Objetivos: analisar os fatores de risco do AVE em adultos jovens, avaliar o perfil sócio-demográfico e ainda a prevalência do Acidente Vascular Encefálico em adultos jovens. Métodos: trata-se de uma revisão bibliográfica sobre AVE em adultos jovens, realizada entre os períodos de Setembro de 2010 a Setembro de 2011, utilizando estudos publicados entre os anos de 2000 e 2010 nas línguas portuguesa e inglesa. Resultados: os fatores de risco com maior predominância são os modificáveis, onde os homens possuem maior incidência ajustada por idade, com grande maioria de acometimento em pessoas de cor negra, sendo que na maioria dos casos, as pessoas acometidas possuem baixa renda e baixo nível de escolaridade. Conclusões: predominância de fatores de risco modificáveis, com maior incidência no sexo masculino e em pessoas de cor negra, em sua maioria com baixa renda e baixo nível de escolaridade. Palavras-chave: acidente vascular encefálico, adultos jovens. 3 INTRODUÇÃO O Acidente Vascular Encefálico (AVE) consiste em um quadro neurológico agudo, provocado pela obstrução vascular que determina isquemia em determinada área encefálica ou pelo rompimento de vasos sanguíneos que irrigam essa região, causando um evento hemorrágico. Esta patologia envolve um rápido desenvolvimento de sinais clínicos como conseqüência de distúrbios locais ou globais da função da área comprometida com duração maior que 24 horas (ZETOLA et. al., 2001). O AVE em adultos jovens não é um evento tão comum, não possuindo também a mesma freqüência de acometimento quando comparada aos idosos, no entanto, pode ser extremamente devastador para os indivíduos afetados e suas respectivas famílias. Atualmente, tem crescido o número de pessoas jovens afetadas pelo AVE e esse mesmo crescimento tem despertado um aumento no interesse por esse assunto, pela existência de uma melhor avaliação do paciente e também por existirem boas opções de tratamento (DER MAUR et. al., 2005; PUTAALA, 2010). Os estudos pioneiros sobre AVE em adultos considerados jovens apareceram pela primeira vez nas décadas de 1940 e 1950 de forma escassa e desde então têm crescido especialmente durante as duas últimas décadas, principalmente devido aos melhores diagnósticos e avaliações dos pacientes (PUTAALA, 2010; THANKAPPAN et. al., 2007). Em estudos anteriores, foi definido que a idade de corte superior para os pacientes jovens com AVE era de 40 a 45 anos de idade, no entanto, estudos mais recentes têm aplicado 50 ou 55 anos como a idade limite – possivelmente devido ao aumento da longevidade em países em desenvolvimento. É válido ressaltar que atualmente mais de dois terços de todos os acometidos por AVE no mundo são nascidos em países em desenvolvimento, onde a idade média dos pacientes com AVE é 15 anos mais jovem do que os nascidos em países desenvolvidos (PUTAALA, 2010; THANKAPPAN et. al., 2007). O pico de incidência do AVE está concentrado entre a 7ª e 8ª décadas de vida quando se somam com as alterações cardiovasculares e metabólicas relacionadas à idade. Entretanto, o AVE também pode ocorrer em adultos jovens, podendo ser relacionado a outros fatores de risco, como doenças imunológicas e inflamatórias, distúrbios da coagulação e ainda o uso de drogas (ZETOLA et. al., 2001). 4 O estudo do AVE em pacientes jovens tem sido objeto de muitas pesquisas epidemiológicas, motivadas pelo considerável impacto individual e sócio-econômico causado pela elevada taxa de morbi-mortalidade que pode causar nessa população economicamente ativa. O AVE é considerado como uma relevante questão de saúde pública, pois contribui para a mortalidade e morbidade, danos causados ao indivíduo, sua família e também sociedade, limitando a realização de suas atividades de vida diária, anos perdidos de produtividade e elevados custos financeiros de hospitalização e reabilitação (CABRAL, 2008). O espectro etiológico do AVE em jovens é maior quando comparado aos idosos, bem como os fatores de risco. Existe uma grande variação de subgrupos etiológicos em estudos. Esta variação é provavelmente um resultado de vários fatores, tais como geográficos e étnicos da população estudada, idade limite, disponibilidade de imagem e tecnologias modernas de laboratório em centros de estudo individual, extensão de diagnósticos, e possivelmente devido à avaliação (PUTAALA, 2010). É fato que adultos jovens possuem um perfil diferente de fatores de risco quando comparados aos mais velhos. Esses fatores podem ser divididos em não-modificáveis (idade, sexo, raça e história familiar) e modificáveis (hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, obesidade, vida sedentária, uso de álcool, uso de anticoncepcionais, uso de drogas, enxaqueca e dislipidemias), sendo estes últimos considerados os mais importantes, pois são considerados os pontos de prevenção e ainda são passíveis de intervenção (ZETOLA, 2001; PUTAALA, 2010; CABRAL, 2008; TAN et. al., 2010; HARIRCHIAN et. al., 2011; GRAU et. al., 2001). A incidência do AVE depende principalmente da etnia, fatores geográficos, definição do evento e apuração do caso. Geralmente, os homens têm maior incidência ajustada por idade do que as mulheres, exceto para aquelas com idade abaixo de 35 anos. Alguns estudos apontam predominância masculina, outros apontam predominância feminina abaixo dos 35 anos, quase sempre com predominância em pessoas negras (PUTAALA, 2010; FLORES et. al., 2011; KISSELA et. al., 2004). As recomendações que visam prevenção do AVE em adultos jovens não são muito diferentes das que são repassadas para as pessoas mais velhas, no geral, deve-se enfatizar a promoção de estilos de vida mais saudáveis; controles periódicos e prevenção de hipertensão arterial e dos demais fatores de risco, importantes para prevenir e diminuir a incidência de AVE em qualquer idade (PUTAALA, 2010; CABRAL, 2008; TRUELSEN et. al., 2001). 5 Uma vez que o AVE pode acometer todas as faixas etárias, incluindo pessoas adultas consideradas jovens, este estudo se justifica pela real necessidade e importância de uma correta divulgação do conhecimento a respeito do mesmo em adultos ainda jovens, em vista que estes mesmos ainda carecem de informações sobre esta patologia em sua faixa etária, bem como suas respectivas causas, fatores de risco, prevalência e principalmente prevenção, uma vez que estes aindase encontram em uma faixa etária altamente produtiva e esta patologia pode causar limitações em suas atividades diárias e ainda elevados gastos financeiros. Os objetivos desse estudo são analisar os fatores de risco do AVE em adultos jovens, avaliar o perfil sócio-demográfico e ainda a prevalência do AVE em adultos jovens. 6 CASUÍSTICA E MÉTODOS Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sobre AVE em adultos jovens, utilizando a própria bibliografia como fonte de dados sobre determinado tema, especificando e utilizando métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos. Foram utilizados 24 artigos publicados no período de 2000 a 2010, nas línguas portuguesa e inglesa e que tinham como objetivo caracterizar o AVE em diferentes faixas etárias, e em especial em adultos considerados jovens, destacando fatores de risco, causas, perfil sócio-demográfico, prevalência e prevenção do AVE. Foram utilizados estudos divulgados em revistas especializadas, além de revisão esquematizada de base de dados disponíveis na internet, como Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), DEDALUS, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e National Center for Biotechnology Information (PUBMED). Este estudo implicou no levantamento de dados de variadas fontes, segundo método muito rigoroso, a partir da leitura atenta e também interpretativa, levantando o maior número de dados, atualizados e fidedignos, onde a partir de uma leitura e análise criteriosa dos resumos dos artigos foi feita uma pré-seleção. Os artigos pré-selecionados passaram por uma nova fase de seleção, sendo feita a leitura dos mesmos, onde houve a exclusão dos artigos que não se encaixavam nos objetivos do trabalho e/ou que poderiam vir a colocar em questão a qualidade deste estudo, e por fim, após criteriosa leitura, foram selecionados os artigos com embasamento necessário para construção deste trabalho. A análise foi feita após levantamento dos dados da literatura, observando os aspectos comuns sobre AVE em adultos jovens. Os dados referentes ao título do artigo, ano, país de origem, tipo de estudo, amostra, métodos e resultados foram apresentados no artigo em um quadro e a análise critica e a discussão foram apresentadas de forma discursiva. 7 RESULTADOS E DISCUSSÃO O AVE em pacientes jovens ainda pode ser considerado um evento relativamente raro, totalizando cerca de 5% do número de casos, sendo que desse total apenas 10% são notificados. É universalmente reconhecido que jovens adultos possuem um perfil diferente de fatores de risco quando comparados aos mais velhos. Esses fatores podem ser divididos em não-modificáveis (idade, sexo, raça e histórico familiar) e modificáveis (hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, obesidade, vida sedentária, uso de álcool, uso de anticoncepcionais, uso de drogas, enxaqueca e dislipidemias), sendo estes últimos considerados os mais importantes, pois são passíveis de intervenção (PUTAALA, 2010; CABRAL, 2008; TAN et. al., 2010; HARIRCHIAN et. al., 2011; GRAU et. al., 2001; LEE et. al., 2002; TRIPATHI et. al., 2011; ROCEANU et. al., 2008). Alguns estudos traçam o perfil sócio-demográfico destes adultos considerados ainda jovens e que foram acometidos por um AVE. O estado civil que prevalece após o AVE é casado ou união estável, e o arranjo familiar é formado por mais que duas pessoas, sem modificação por causa de AVE. Nesta população, a escolaridade predominante é de analfabetos (39,1%) e de nível elementar com até três anos de estudo (20%). A profissão desta população estudada centra-se no setor de serviços. As ocupações mais freqüentes são de caráter manual, como pedreiro, servente, empregada doméstica, lavadeira, vigilante, etc. Antes do AVE, aproximadamente 83% dos homens e 54% das mulheres encontram-se trabalhando e logo após, apenas 25% dos homens e 4,5% das mulheres se mantêm nesta condição. Após o AVE, a fonte de renda principal deixa de ser o trabalho (assalariado, autônomo ou informal) sendo substituída pela aposentadoria e por benefício previdenciário, para quase 50% dos homens e 32% das mulheres. Aproximadamente, 10% dos homens e 45% das mulheres passam a ter como fonte de renda as doações de recursos ou familiares (FALCÃO et. al., 2004; PUTAALA et.al., 2009., MARINI et. al., 2001; PETTY et. al., 2000; DANIEL et. al., 2009). Vários estudos têm mostrado diferenças na incidência do AVE entre brancos, negros e hispânicos, onde diferenças nas taxas de AVE em populações de jovens brancos e negros mostram que a população negra tem uma incidência maior que a população branca. No geral, a incidência do AVE depende principalmente da etnia, fatores geográficos, definição do evento e apuração do caso. Geralmente, os homens 8 possuem maior incidência ajustada por idade do que as mulheres, exceto para aquelas com idade abaixo de 35 anos. Alguns estudos apontam predominância masculina, outros apontam predominância feminina abaixo dos 35 anos, quase sempre com predominância em pessoas negras (DANIEL et. al., 2009; NAESS et. al., 2002; JACOBS et. al. 2002; REEVES et. al., 2008). Uma vez que este estudo se propõe a analisar os fatores de risco, perfil sócio- demográfico e prevalência do AVE em adultos jovens, podem-se observar no Quadro 1 que foram encontrados oito artigos que atenderam aos critérios estabelecidos, representando 30% do total de referências previamente encontradas. Este fato pode ser explicado porque a maioria dos trabalhos, embora tenha estudado aspectos relacionados ao AVE em adultos jovens, não focavam suas atenções para a caracterização dos fatores de risco, perfil sócio-demográfico e/ou prevalência do mesmo em adultos jovens. Dos oito artigos, dois são de origem brasileira, dois de origem finlandesa, um de origem taiwanesa , um de origem americana, um de origem italiana e outro de origem francesa. Seis estudos são transversais e dois estudos são longitudinais, os quais avaliaram as incapacidades e diferenças de gênero em portadores de AVE por meio de uma entrevista domiciliar e também observaram a incidência de AVE em diferentes tipos de populações por meio da observação do número de pacientes acometidos em uma determinada região. 9 Quadro 1: Relação das referências que abordaram os fatores de risco, perfil sócio-demográfico e prevalência de AVE em adultos jovens, segundo título, autor, ano, idioma, país, título de estudo, amostra e resultados. Goiânia, GO, 2011. Título do estudo Autor Ano Idioma País Tipo de estudo Amostra Resultados AVC em Pacientes Jovens Zétola VHF et. al., 2000 Português Brasil Quantitativo Transversal 164 pacientes com AVE com menos de 50 anos FRM como os maiores causadores do AVE Etiologic Study of Young IS in Taiwan Tsong-Hai Lee et. al., 2002 Inglês Taiwan Quantitativo Transversal 264 pacientes de 18 a 45 anos com AVEi Maior prevalência de AVE em homens por FRM Stroke in The Young in The Northern Manhattan SS Jacobs BS et. al., 2002 Inglês Estados Unidos Quantitativo Longitudinal Todos os casos de AVE identificados na região norte de Manhattan entre 1993-1997 Maior prevalência de AVE em homens de cor negra Clinical Outcome in 287 Young Adults with IS Leys D. et. al., 2002 Inglês França Quantitativo TransversalAvaliação do retorno funcional de 287 pacientes entre 15 e 45 anos com AVE isquêmico Índice de 94% de retorno funcional AVCP: Implicações para adultos em Idade Produtiva Atendidos Pelo SUS Falcão IV, et. al., 2004 Português Brasil Quantitativo Longitudinal 289 pacientes com AVE, com idade entre 20 a 59 anos Maior prevalência em homens, com idade média de 52 anos, com baixa escolaridade e renda. Synergistic Effect of Apolipoprotein E Polymorphisms and Cigarette Smoking on Risk of IS in Young Adults Pezzini A. et. al., 2004 Inglês Itália Quantitativo Transversal Análise do genótipo de 124 pacientes com idade média de 34 anos Maior propensão de AVE em pacientes fumantes Analysis of 1008 Consecutive Patients Aged 15 to 49 With First- ever IS: The Helsinki YS Registry Putaala J. et. al., 2010 Inglês Finlândia Quantitativo Transversal 1008 pacientes com AVEi com idade entre 15 a 49 anos Maior acometimento em homens com idade média de 44 anos, tendo FRM como os maiores causadores do AVE IS In Young Adults Putaala J., 2010 Inglês Finlândia Quantitativo Transversal 1008 pacientes com AVEi com idade entre 15 a 49 anos Maior acometimento em homens com idade média de 44 anos, tendo FRM como os maiores causadores do AVE Legenda: AVC (Acidente Vascular Encefálico) IS (Ischemic Stroke) SS (Stroke Study) AVEi (Acidente Vascular Encefálico Isquêmico) IS (Ischemic Stroke) AVE (Acidente Vascular Encefálico) FRM (Fatores de Risco Modificáveis) AVCP (Acidente Vascular cerebral Precoce) SUS (Sistema Único de Saúde) YS (Young Stroke) 10 Cumpre destacar que, os estudos mais recentes têm aplicado 50 ou 55 anos como a idade de corte superior para pacientes jovens que sofreram AVE – possivelmente devido ao aumento da longevidade em países em desenvolvimento (PUTAALA, 2010). Um estudo de origem brasileira, com 164 pacientes que sofreram AVE e que tinham uma idade inferior a 50 anos, analisou epidemiologicamente o AVE, analisando os principais tipos e seus respectivos fatores de risco. Os resultados demonstraram que o AVE isquêmico predominava e que os fatores de risco predominantes eram os conhecidos e modificáveis. A hipertensão arterial foi o fator de risco mais prevalente estando presente em 63,8% dos pacientes com AVE isquêmico. O tabagismo foi observado em 60,3% dos pacientes e o abuso do álcool foi presente em 19,85% dos pacientes (ZETOLA et. al.., 2001). Em um estudo de origem taiwanesa, 264 pacientes de 18 a 45 anos com AVE isquêmico, foram admitidos no Departamento de Neurologia do Chang Gung Memorial Hospital de Janeiro de 1997 a Outubro de 2001, com o objetivo de investigar a etiologia e os subtipos de AVE isquêmico em pacientes jovens. Os resultados vieram a demonstrar que o AVE de etiologia desconhecida foi o subtipo mais comum dentro os pacientes (23,5%), ocorrendo predominantemente em pacientes do sexo masculino (71,4%), tendo ainda os fatores de risco modificáveis como variável predominante, onde o tabagismo predominava em 61,9% dos casos (LEE et. al., 2002). Outro estudo, realizado nos Estados Unidos, tinha como objetivo determinar a incidência do AVE em diferentes grupos raciais, idades e sexos. Sua amostra foi composta por pacientes que sofreram AVE entre 1º de julho de 1993 a 30 de Junho de 1997, que morassem a no mínimo 3 meses na região norte de Manhattan e que tivessem no mínimo 20 anos de idade. Os resultados obtidos demonstraram que a incidência foi maior no sexo masculino e mais comum em hispânicos. A incidência de AVE em jovens foi de 23 casos por 100 000. Nos jovens, o risco relativo de qualquer AVE foi maior em negros e significantemente maior em hispânicos (JACOBS et. al., 2002). Um outro estudo de origem brasileira, objetivava conhecer as incapacidades e identificar a existência de gêneros, em sobreviventes de primeiro episódio de AVE, entre 20 e 59 anos de idade. A amostra foi composta por 289 casos de AVE agudo, sobreviventes na ocasião da alta hospitalar. Foi realizada uma entrevista domiciliar com essa amostra para detectar as incapacidades, após o AVC, referidas pelos entrevistados como causadoras de modificações na sua capacidade funcional. Foi utilizado um 11 formulário estruturado, que teve como propósito apreender a condição do entrevistado, comparativamente, antes e após o AVE. Os resultados obtidos demonstraram que o estado civil que prevalece antes e após o AVE, é casado ou união estável, e o arranjo familiar é formado por mais que duas pessoas, sem modificação por causa do AVE. Nesta população, a escolaridade predominante é de analfabetos (39,1%) e de nível elementar com até três anos de estudo (20%) (FALCÃO et. al., 2004). Neste mesmo estudo, concluiu-se que a profissão da população estudada centrou-se no setor de serviços, onde as ocupações mais freqüentes foram as de caráter manual, como pedreiro, servente, empregada doméstica, lavadeira, vigilante, etc. Quanto à situação profissional foi observado que o AVE trouxe modificações, com redução da condição de trabalhadores. Antes do AVE, 83% dos homens e 54% das mulheres encontravam-se trabalhando; após o AVE, apenas 25% dos homens e 4,5% das mulheres mantiveram essa condição. Após o AVE, a fonte de renda salarial principal deixou de ser o trabalho (assalariado, autônomo ou informal) sendo substituída pela aposentadoria e por benefício previdenciário, para quase 50% dos homens e 32% das mulheres. Aproximadamente, 10% dos homens e 45% das mulheres passaram a ter como fonte de renda as doações ou recursos de familiares15. Diferentemente destes resultados, um estudo de origem francesa avaliou o retorno funcional de 287 pacientes, com idades entre 15 e 45 anos e constatou que cerca de 94% dos mesmos obtiveram retorno funcional, incluindo uma maior taxa de retorno ao emprego, diferente da taxa encontrada no Brasil (LEYS et. al., 2002). Um importante estudo de origem finlandesa, cujo objetivo era analisar a ocorrência, fatores de risco e etiologia do AVE isquêmico em adultos jovens, foi realizado no departamento de neurologia do Helsinki University Central Hospital. Sua amostra contava com 1008 pacientes com AVE isquêmico com idade entre 15 e 49 anos, admitidos no Helsinki University Central Hospital entre Janeiro de 1994 a Maio de 2007. Todos esses pacientes foram inicialmente examinados por neurologistas na unidade de emergência e enfermarias neurológicas refletindo todo um protocolo institucional, sendo que toda a avaliação foi realizada de forma individualizada. Todos os pacientes eram rotineiramente submetidos a uma gama de exames de sangue, radiografia torácica, eletrocardiograma e a um exame de imagem cerebral no momento da internação (PUTAALA, 2010). Como resultados, este estudo mostrou que o sexo masculino é acometido com uma maior freqüência, tendo em média 44 anos. Os fatores de risco modificáveis são os 12 mais comuns nesses pacientes adultos e ainda jovens, onde os mesmos tendem a se acumular ao longo do envelhecimento. As causas mais comuns do AVE nesses pacientes foram cardioembolismo (19,6%) e dissecção da artéria cervicocerebral (15,4%) (PUTAALA, 2010). Este mesmo estudo serviu como base a outro, também de origem finlandesa e não menos importante, que tinha como finalidade analisar as tendências, fatores de risco, etiologia, e características de neuroimagem do AVE isquêmico emadultos jovens destes mesmos 1008 pacientes. Após a análise dos dados previamente obtidos no primeiro estudo, concluiu-se que a freqüência do AVE aumenta rapidamente aos 40 anos. Fatores etiológicos e de risco começam semelhantes aos observados em idosos na meia idade precoce, mas causas definidas em pacientes mais jovens ainda são freqüentes entre 45 e 49 anos (PUTAALA et. al., 2009). Um estudo de origem italiana reforça ainda mais os fatores de risco modificáveis, pois o mesmo analisou cerca de 124 pacientes através de uma análise do genótipo dos mesmos e aqueles que eram tabagistas apontavam uma maior propensão de acometimento por AVE, ilustrando assim o risco de uma importante variável dos fatores de risco modificáveis (PEZZINI et. al., 2004). Como mostram estes estudos, os principais fatores de risco encontrados em adultos jovens que foram acometidos por um AVE são os fatores de risco modificáveis, tais como hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, uso de álcool, uso de drogas, diabetes mellitus, vida sedentária e dislipidemias. Tais fatores são considerados os mais importantes, pois são passíveis de intervenção e também prevenção. O sexo masculino é o mais acometido com predominância em pessoas negras, onde na maioria dos casos, as pessoas acometidas possuem baixa renda e baixo nível de escolaridade. 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos artigos analisados ficou evidente que de toda uma gama possível e existente de fatores de risco para com o AVE, os fatores predominantes são os modificáveis. Existem também os fatores não-modificáveis, tais como idade, sexo, raça e histórico familiar, no entanto, os fatores mais importantes são realmente os modificáveis, pois são fatores passíveis de intervenção e até mesmo de prevenção. A diminuição ou abolição destes mesmos fatores de risco modificáveis é considerada a melhor forma de prevenção do AVE. Com base nos estudos utilizados na construção deste trabalho, concluiu-se que a incidência do AVE depende de alguns fatores, tais como fatores geográficos, etnia, apuração do caso e definição do evento. Geralmente, os homens possuem maior incidência ajustada por idade do que as mulheres, com grande maioria de acometimento em pessoas negras. Em relação ao perfil das pessoas acometidas pelo AVE, concluiu-se que em sua maioria essas mesmas possuem um baixo nível de escolaridade, apresentando elevado índice de analfabetismo. A grande maioria apresenta uma união estável, exercendo profissões centradas no setor de serviços, predominantemente de caráter manual, apresentando como fonte de renda o trabalho assalariado, autônomo ou informal. Torna-se necessária a realização de mais estudos com o objetivo de esclarecer muitas questões sobre o AVE em adultos jovens, incluindo não só fatores de risco modificáveis, mas como também, os fatores de risco genético, visando assim maiores esclarecimentos, formas de prevenção e até mesmo tratamento. 14 AGRADECIMENTOS A Deus, por se mostrar existente em momentos de felicidade e tristeza e em momentos de dificuldade, fazendo-me transpor toda e qualquer barreira, nunca me deixando desistir, servindo-me como fonte de inspiração e porto seguro para toda e qualquer adversidade. Aos meus pais, por sua simplicidade e capacidade de cobrança, elevando meu nível como profissional e pessoa, me fazendo ser uma pessoa melhor e mais interessada, preocupando-se com minha felicidade e satisfação. A minha namorada, por sua compreensão, dedicação e inteligência, colaborando fundamentalmente para a elaboração deste trabalho, em momentos de incertezas, dúvidas e desmotivação, empurrando-me para o sucesso profissional e pessoal. Aos amigos da X turma de Neurologia do CEAFI, por sua amizade e inteligência, elevando meu nível profissional, servindo-me ainda como fonte de inspiração, aumentando infinitamente meu conhecimento. Ao CEAFI pós-graduação e a toda sua equipe, juntamente com seus professores, tutores, coachings e funcionários, pelas experiências vividas e pela colaboração em todo o processo que me fez ser uma pessoa e um profissional melhor e realizado. A minha orientadora Cejane Oliveira Martins Prudente, por sua paciência, inteligência e dedicação, sendo capaz de iluminar meu caminho nessa difícil jornada que exige paciência e dedicação. A todos vocês um imenso abraço e meu eterno carinho e gratidão. Thiago Mendes Tavares 15 REFERÊNCIAS 1-Zétola, V.H.F. et. al. Acidente Vascular Encefálico em Pacientes Jovens: Análise de 164 casos. Revista Arquivos de Neuropsiquiatria, v.12, n.4, p.40-45, 2001. 2-Der Maur, T.A. et. al. Ischemic Stroke in Young Adults: Predictors of Outcome and Recurrence. J. Neurol. Neurosurgery Psychiatry, v. 76, p. 192-195, 2005. 3- Putaala, J. Stroke in Young Adults. 2010, 73p. [monografia]. Helsinki: Department of Neurology- Helsinki University Central Hospital and University of Helsinki. 4-Thankappan, K.R. et. al. Risk Factors For Acute Ischemic Stroke In Young Adults In South India. J. Neurol. Neurosurgery Psychiatry, v. 78, p. 959-963, 2007. 5-Cabral, N.L. Avaliação da Incidência, Mortalidade e Letalidade por Doença Cerebrovascular em Joinville, Brasil: Comparação Entre o Ano de 1995 e o Período de 2005-6. 2008, 93p. [tese de doutorado em medicina preventiva]. São Paulo: Universidade de São Paulo/USP. 6-Tan, K.S, et.al. 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Methods: it is a literature review on stroke in young adults, conducted between the period September 2010 to September 2011 in Portuguese and English. Results: risk factors are more predominant modifiable, where men have higher age-adjusted incidence, with involvement in the vast majority of black people, and in most cases, affected individuals have low income and low education. Conclusions: prevalence of modifiable risk factors, with higher incidence in males and black people, mostly low income and low education. Key-words: stroke, young adults 18 APRESENTAÇÃO DOS AUTORES Thiago Mendes Tavares Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Salgado de Oliveira (2009). Cursando especialização no curso de Fisioterapia Neurológica pelo Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada – CEAFI, chancelado pela PUC-GO. Tem experiência na área de Fisioterapia com ênfase em Fisioterapia Neurológica. Cejane Oliveira Martins Prudente Possui graduação em Fisioterapia pela Escola Superior de Educação Física de Goiás - Universidade Estadual de Goiás (1998), especialização em Fisioterapia Neurológica pela Universidade de Brasília, mestrado em Ciências Ambientais e Saúde pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2006) e Doutorado em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Atualmente é professora efetiva da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e da Universidade Estadual de Goiás. Tem experiência na área de Fisioterapia, com ênfase em Fisioterapia Neurológica.
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