Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Transpar�ncia/CBC/3860-3954-1-PB - 2014.pdf Transparência dos gastos públicos: um estudo da Copa do Mundo de 2014 Gláucia Regina Leite dos Santos (Fecap) - glaucia_regi@hotmail.com Simone Alves da Costa (USP) - simone.ac@gmail.com Resumo: O Brasil foi escolhido pela FIFA em 2007 para sediar a Copa de 2014 e desde então foram divulgados projetos e ações a serem desenvolvidos para sediar esse megaevento. Este estudo visou analisar qual o grau de transparência oferecido pelo Governo no que diz respeito aos gastos com reformas, construções e melhorias de infraestrutura para a Copa de 2014 nas cidades-sede. Para isso, foi pesquisado o portal de transparência da Copa, utilizado como fonte de pesquisa, em dois períodos, pré e pós-copa. Foi proposto um índice de transparência para análise das informações divulgadas no portal, adaptando elementos do estudo base de Souza et al (2013). Como resultados, a pesquisa revelou que a cidade que apresentou o melhor índice foi Belo Horizonte, nos dois períodos analisados, tendo atingido a pontuação de 49% no primeiro período, e 53% no segundo. A melhor pontuação refere-se ao parâmetro Conteúdo e a pior ao parâmetro Frequência de Atualização. Conclui-se que, com índices inferiores a 50% da pontuação total, a maioria dos municípios precisa melhorar a transparência e qualidade das informações divulgadas, uma vez que apenas dois deles atingiram pontuação igual ou superior a esse crivo (Belo Horizonte e Curitiba). Recomendam-se, para estudos futuros, pesquisas estendendo a metodologia aqui proposta a maiores períodos, bem como estudos que analisem criticamente o legado deixado por esse megaevento. Palavras-chave: Copa do Mundo, Megaeventos, Transparência. Área temática: Abordagens contemporâneas de custos Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 1 Transparência dos gastos públicos: um estudo da Copa do Mundo de 2014 Resumo O Brasil foi escolhido pela FIFA em 2007 para sediar a Copa de 2014 e desde então foram divulgados projetos e ações a serem desenvolvidos para sediar esse megaevento. Este estudo visou analisar qual o grau de transparência oferecido pelo Governo no que diz respeito aos gastos com reformas, construções e melhorias de infraestrutura para a Copa de 2014 nas cidades-sede. Para isso, foi pesquisado o portal de transparência da Copa, utilizado como fonte de pesquisa, em dois períodos, pré e pós-copa. Foi proposto um índice de transparência para análise das informações divulgadas no portal, adaptando elementos do estudo base de Souza et al (2013). Como resultados, a pesquisa revelou que a cidade que apresentou o melhor índice foi Belo Horizonte, nos dois períodos analisados, tendo atingido a pontuação de 49% no primeiro período, e 53% no segundo. A melhor pontuação refere-se ao parâmetro Conteúdo e a pior ao parâmetro Frequência de Atualização. Conclui-se que, com índices inferiores a 50% da pontuação total, a maioria dos municípios precisa melhorar a transparência e qualidade das informações divulgadas, uma vez que apenas dois deles atingiram pontuação igual ou superior a esse crivo (Belo Horizonte e Curitiba). Recomendam- se, para estudos futuros, pesquisas estendendo a metodologia aqui proposta a maiores períodos, bem como estudos que analisem criticamente o legado deixado por esse megaevento. Palavras-chave: Copa do Mundo, Megaeventos, Transparência. Área Temática: Abordagens contemporâneas de custos. 1. Introdução O interesse em sediar megaeventos esportivos como a Copa do Mundo e Olimpíadas tem sido uma solução para os países atraírem investimentos e melhorias urbanas para suas cidades. Além de reformas e construções de estádios, as cidades podem ser privilegiadas pelo desenvolvimento urbano, que abrange rodovias, aeroportos, melhorias no transporte público e até saneamento básico. Eventos como esses incluem também melhorias no setor de turismo e hotelaria, como as construções de novos hotéis, comércios e até no setor tecnológico, no que tange à segurança da informação e telecomunicação. Os benefícios socioeconômicos destes eventos são utilizados pelos governos como argumento para justificar os gastos públicos nas cidades que recebem os eventos. Com base no estudo, encomendado pelo Ministério do Esporte, estima-se que o impacto econômico dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos sobre o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil será de R$ 22 bilhões até 2016, enquanto no período de 2017 a 2027 atingirá R$27 bilhões. Esse estudo indica que os investimentos injetados correspondem a um multiplicador de produção de 4,26, o que representa uma movimentação na economia brasileira na ordem de R$ 102,2 bilhões (deflacionados para 2008), no período de 2009 a 2027. Dos 55 setores analisados, o da construção civil será o maior beneficiado com estimativa de R$ 8,14 bilhões. Em outros 24 setores, também são esperados aumentos substanciais. Entre eles, o de serviços prestados às empresas, cerca de R$ 7 bilhões adicionais; hotelaria, com cerca de R$ 3 bilhões adicionais e R$ 2,5 bilhões a mais no setor de alimentos e bebidas (SECOM, 2009). A previsão é que mais de 700 mil postos de trabalho sejam gerados, cerca de 330 mil empregos permanentes. Já há programas de capacitação profissional para atuar em várias áreas, da XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 2 construção civil à hotelaria. O aquecimento deverá impactar o PIB até 2014. No ano da Copa, o evento deve gerar cerca de 2% das receitas nacionais (MIRANDA, 2011) Um dos assuntos mais comentados do ano foi a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Depois de mais de cinco décadas de espera, o Comitê Executivo da FIFA confirmou em 30/10/2007 que o Brasil seria sede da Copa do Mundo de 2014. Foram escolhidas 12 cidades- sede sendo: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Recife e Salvador. Era esperado que o Brasil investisse e desenvolvesse objetivamente essas cidades, o que logo acarretaria gastos bilionários. Ao final desse evento, a pergunta que fica é: valeu à pena ser sede da Copa de 2014? Diante do cenário, a presente pesquisa explora como o governo lidou com a questão da transparência dos gastos públicos em relação a esse megaevento. Assim, a questão que norteia esse trabalho é: Qual foi o grau de transparência por parte do Governo com relação à divulgação dos gastos públicos utilizados nas cidades-sede da Copa de 2014? O objetivo principal dessa pesquisa foi analisar qual o grau de transparência oferecido pelo Governo no que diz respeito aos gastos com reformas, construções e melhorias de infraestrutura para a Copa de 2014 nas cidades-sede. Essa pesquisa justifica-se pela necessidade de estudar os gastos nas construções e desenvolvimento das cidades-sede, assunto que pode ser de interesse de todo cidadão que preze e acompanhe os gastos dos governos, de onde se espera que retornem investimentos para suas cidades. Além disso, há também que se considerar que em 2016 o Brasil voltará a sediar um megaevento, dessa vez, localizado na cidade do Rio de Janeiro, e é necessário fazer um balanço entre o que foi positivo e negativo em relação ao que passou, para que a realização do próximo evento seja, de fato, benéfica para o país. 2. Referencial Teórico Nos próximos tópicos são abordados temas como os Megaeventos e qual sua importância econômica hoje. Além disso, é trabalhada a importância na transparência da gestão pública e a Lei de Responsabilidade Fiscal. 2.1 Megaeventos Megaeventos são as atrações internacionais que promovem grandes aglomerações de pessoas e circulação de dinheiro. Eles têm invadido os países desenvolvidos e em desenvolvimento mundo afora. Não importa qual a é a capacidade real que aquele país ou cidade tem para investir e desenvolver estruturas capazes de suportar a massa de turistas que irão se mover até aquele destino para assistir uma partida de futebol ou uma missa do Papa Francisco. O fato é que, cada vez mais, em busca de desenvolvimento, os governos e seus governantes atraem para seus países esses eventos gigantescos na expectativa de atrair investimentos e olhares internacionais. Uma das mais procuradas formas de promoção do turismo da sociedade contemporânea é a apresentação de eventos. Eles representam uma forma singular de exibição para suas sedes, estendendo seus nomes e hábitos através da região, da nação ou do mundo, dependendo de seu tamanho e natureza. Devido a essa característica, eles são considerados lucrativos e, portanto, interessantes para a indústria do turismo que é baseada na promoção de um local. (RODRIGUES et al, 2008). Um exemplo de megaevento sediado anteriormente no Brasil foram os Jogos Pan Americanos recebidos na cidade do Rio de Janeiro, entre 13 a 29 de julho de 2007. Para realizar o evento, a capital fluminense construiu novos locais de competição e reformou outros, como Estádio do Maracanã e Rio Centro. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 3 No caso da Copa, a expectativa era que a população aumentasse sua qualidade de vida com os investimentos que poderiam ser atraídos para região, como melhorias no transporte público, segurança e moradia. Neste ponto, é preciso analisar que investimentos realmente podem trazer benefícios, porém alguns poderiam não agregar valor econômico ou social, uma vez que nem sempre são utilizados após o evento ou, até mesmo, são muito caros para serem administrados pelas prefeituras. Getz (1997), em contraponto, os define de acordo com os impactos produzidos: Seu volume deveria exceder um milhão de visitantes, seu orçamento deveria ser de, pelo menos, US$ 500 milhões e sua reputação deveria ser de um evento imperdível (...) Megaeventos, por sua grandiosidade ou significado, são aqueles que produzem níveis extraordinariamente altos de turismo, cobertura da mídia, prestígio ou impacto econômico para a comunidade local ou de destino (DACOSTA, 2006). Os jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro consumiram cerca de R$ 4 bilhões, muito acima do valor estimado no orçamento inicial, de R$ 414 milhões (UOL, 2011). Para a Copa de 2014, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) estimou que seria necessário um investimento de 11 bilhões de reais (GRANGEIA, 2008). Além disso, a reportagem ainda divulgou que a estimativa do Governo é de que a Copa deveria atrair 500 mil estrangeiros, que gastariam até R$ 3 Bilhões de reais. Na prática, estimativas atualizadas mostraram que os gastos dos estrangeiros chegaram à faixa dos US$ 800 milhões, que em moeda brasileira chegariam a aproximadamente R$ 2 bilhões, fazendo com que, mesmo fora da expectativa prévia, fosse o maior valor mensal de gastos de estrangeiros no Brasil registrado desde que o Banco Central começou a realizar a medição em 1947 (MARTELLO, 2014). Os megaeventos então são capazes de promover e melhorar a imagem do país que sediará esse evento e também de movimentar bilhões o dinheiro entre investimentos e turismo. Mas, como fica a administração dos gastos públicos? É possível direcionar esse volume extraordinário em recursos sem se desviar do objetivo principal? E a população, tem acesso a essas informações de forma clara e objetiva? Este é um tema que será tratado nas próximas páginas. 2.2. Transparência nos gastos públicos e a Lei de Responsabilidade Fiscal A transparência e a prestação de contas dos gastos e receitas do dinheiro público são um dever dos governantes e um direito do cidadão. Essas duas ações juntas são os meios que ele tem de acompanhar e a oportunidade para influenciar a tomada de decisões dos seus governantes. Desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, consta no Artigo 15 que “a sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público pela sua administração”. De um modo geral, a transparência deve caracterizar todas as atividades realizadas pelos gestores públicos, de maneira que os cidadãos tenham acesso e compreensão daquilo que os gestores governamentais têm realizado a partir do poder de representação que lhes foi confiado (CRUZ et al, 2009). O cidadão brasileiro está cada vez mais interessado na administração pública do seu país, tendo em vista as manifestações ocorridas em junho de 2013, onde os protestos levaram mais de um milhão de pessoas às ruas (UOL, 2013). As exigências por melhorias nos transportes públicos, na saúde e na educação se fortalecem diante da movimentação em massa na Esplanada dos Ministérios. Com isso, a população luta pela diminuição dos impostos pagos e para impor transparência às informações dessa gestão. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 4 De acordo com a Lei Complementar n° 131 de 27 de Maio de 2009, que acrescenta dispositivos à Lei Complementar n° 101, de 4 maio de 2000, são estabelecidas normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, além de outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2009). Assim, esta Lei Complementar estabelece maior transparência no que diz respeito às receitas e despesas dos estados e municípios, incluindo o Distrito Federal. De acordo com o artigo 48, parágrafo único, da Lei Complementar, deve haver incentivo à participação da população na realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; e liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações detalhadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público (BRASIL, 2009). A transparência deve ir além da divulgação de informações fiscais e de despesas nos portais do governo. Essas informações devem ter formatos adequados para as diferentes partes interessadas e de fácil compreensão, de forma que qualquer cidadão que tenha interesse nos dados, no que tange à gestão pública, possa compreender. Como diz o código das melhores práticas de governança corporativa do IBGC, citado por Slomski (2007), mais do que “a obrigação de informar”, a administração deve cultivar o “desejo de informar”. Sendo que os princípios básicos das práticas de Governança Corporativa são: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, que também deveriam ser aplicados à gestão pública. A necessidade de controle e transparência nos munícipios e estados do Brasil é um tema tratado há muitos anos com enfoque maior nos anos 1990, quando a inflação estava em patamares impraticáveis. Os gastos, maiores do que as receitas arrecadas através de impostos, e constantes solicitações de empréstimos aos órgãos regulamentados do governo, demonstraram uma real necessidade de implementar soluções que gerissem os controles de receitas e despesas públicas. O objetivo da Lei Complementar n° 101, de 4/5/2000, é o de estabelecer normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e demais providências (ANDRADE, 2001). Assim, é necessário planejamento das despesas e também das receitas, sendo preciso analisar de onde virá o dinheiro necessário para execução de obras, manutenção de escolas, hospitais, vias públicas etc. Deve-se ter compromisso para executar os pagamentos, sendo que, caso seja necessário o endividamento, é importante analisar em contrapartida os investimentos e a diminuição de outras dívidas. Além disso, o planejamento obriga o atual gestor a executar orçamentos para o próximo mandato de forma a não repassar o problema para o próximo prefeito ou governador e até mesmo para União. Assim, os atuais gestores deveriam estudar uma forma de como levantar os recursos necessários para esses gastos, sem que execute de forma aparente obras para reeleição, deixando as dívidas para o próximo ano ou governante. A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) estabelece premissas básicas de gestão e ainda cria polêmicas entre os gestores do governo. É preciso entender que a sociedade mudou e exige clareza nas informações do orçamento público. A lei exige nada mais que o básico para administrar o dinheiro de investidores, onde eles nada mais são do que representantes da população. Com base nos fundamentos de leis citados anteriormente, foram desenvolvidas pelo governo, diversas ferramentas eletrônicas para que o cidadão possa consultar o orçamento de sua cidade e estado. E para a copa de 2014 não é diferente. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 5 De acordo com o Portal da Transparência da Copa 2014 – Transparência em primeiro lugar (2013), esta é uma iniciativa do Poder Executivo Federal, por meio da Controladoria- Geral da União, com o objetivo de facilitar o controle social dos recursos públicos que serão investidos na preparação e execução dos jogos da Copa do Mundo de Futebol em 2014 a serem realizados no Brasil. De acordo com o site, é possível saber a previsão de investimentos e a fonte dos recursos (privada ou pública, se do governo federal, estadual ou municipal) de cada empreendimento – seja na área de mobilidade urbana ou relativa aos estádios e arenas esportivas. Ainda, a Controladoria Geral da União irá acompanhar as despesas dos jogos que serão custeadas com recursos federais. A população deve ser informada e ter conhecimento de como os recursos públicos estão sendo utilizados em execução de obras e melhorias de infraestrutura no que diz respeito à Copa de 2014. Embora a LRF garanta que essas informações sejam transparentes, ainda, existe um longo caminho a ser percorrido, entre o que o governo está disposto a divulgar e o que os cidadãos esperam encontrar nos meios eletrônicos disponíveis. 3. Procedimentos Metodológicos O pesquisador necessita definir claramente onde e como será realizada a pesquisa (PIZZOLATTI; ROCHA, 2004). Assim, foi estabelecido como fonte de pesquisa de dados, o portal de transparência da Copa de 2014. O portal foi desenvolvido pelo governo junto à CGU (Controladoria Geral da União) para divulgar em tempo real os orçamentos e status das ações que envolvem a Copa. São utilizados para análise cada projeto e ação desenvolvida por cidade-sede, a fim de descrever e estudar a transparência de informações fornecidas pelos municípios. De acordo com Matias-Pereira (2010), a pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada população ou fenômeno, diretriz seguida por essa pesquisa. Esta pesquisa também tem um enfoque quantitativo. De acordo com Matias-Pereira (2010), sob este enfoque tudo pode ser mensurado numericamente, ou seja, pode ser traduzido em números, opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Ao levantar dados de análises e calcular um índice de transparência, é possível classificar numericamente o grau de transparência com os gastos na gestão pública da Copa de 2014. As amostras desse trabalho envolvem todas as cidades selecionadas para serem sedes da Copa de 2014. As cidades são: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Tabela 1 - Municípios Sede da Copa de 2014 Posição Cidade População 1 São Paulo 10.886.518 2 Rio de Janeiro 6.093.472 3 Salvador 2.892.625 4 Brasília 2.455.903 5 Fortaleza 2.431.415 6 Belo Horizonte 2.412.937 7 Curitiba 1.797.408 8 Manaus 1.646.602 9 Recife 1.533.580 10 Porto Alegre 1.420.667 11 Natal 774.230 12 Cuiabá 526.830 Fonte: IBGE - Censo 2007 XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 6 Analisando os dados de população, todas as cidades-sede possuem mais de 50.000 mil habitantes, dessa forma, todos os municípios estudados são enquadrados na Lei Complementar n° 131/2009 e devem apresentar suas informações da execução orçamentária e fiscal detalhada e em tempo real. Para identificar o nível de transparência dos municípios com os gastos da Copa de 2014, foi adaptada a metodologia proposta no artigo de Souza et al (2013), onde se estabeleceu um ranking para o nível de transparência dos municípios. Para a composição desse índice são analisadas as variáveis apresentadas no Quadro 1. Quadro 1 - Metodologia do Índice de Transparência PARÂMETROS TEMAS VARIÁVEIS ANALISADAS Conteúdo (40 pontos) Execução Orçamentária Dotação inicial, dotação autorizada, valores empenhados, valores liquidados, restos a pagar, valores pagos e o total desembolsado. Previsão de Investimento Órgão e a unidade gestora responsável pela despesa, referência, ação, valor, prazo e responsabilidade. Receita Orçamentária Órgão ou unidade gestora arrecadadora, origem da receita, tipo da receita, valor da previsão e valor arrecadado. Contratos/Licitações Unidade gestora, contratante, razão social da contratada, data de publicação, vigência, valor contratado, objeto, número do contrato, programa de trabalho, natureza da despesa e empenho. Frequência de Atualização (20 pontos) Atualização Maior frequência possível na atualização das informações disponibilizadas. Identificação de envio dos relatórios à CGU. Usabilidade (40 pontos) Interação Interação com os usuários, tornando possível o esclarecimento de eventuais dúvidas, por meio dos seguintes instrumentos: manual de navegação, glossário, perguntas frequentes e fale conosco por telefone e e-mail. Possibilidade de Download Possibilidade de download dos dados para tratamentos específicos e comparações estatísticas. Facilidade de Navegação Permitir que os usuários tenham fácil navegação no site. Clareza e Objetividade As informações divulgadas são objetivas e claras, de forma que qualquer usuário é capaz de localizar e compreender as informações descritas. Fonte: Adaptado de Souza et al (2013). No Quadro 1, o item originalmente identificado como Classificação Orçamentária foi substituído por Previsão de Investimento e o seu objetivo ajustado de acordo com a necessidade de análise de transparência para assuntos relacionados a Copa de 2014. Além disso, como o planejamento da Copa de 2014 não apresenta informações anuais e sim por produtividade, o item Séries Históricas apresentado no parâmetro Frequência de Atualização, foi excluído deste estudo. E para o item Atualização, deste mesmo parâmetro, foi ajustado o seu objetivo, incluindo a disponibilização de informações dadas à CGU, tendo sido sua pontuação considerada de maior peso, devido à necessidade de que as informações sejam disponibilizadas online. Cada cidade-sede desenvolve uma série de ações e projetos, que incluem melhorias em transporte público, construções de pontes e vias de acesso, portos e aeroportos, desenvolvimento em telecomunicação e segurança pública. Todos os itens citados devem ser concluídos até a Copa de 2014 e, por isso, as informações de planejamento e gastos devem ser apresentadas no Portal da Transparência. A coleta de dados foi desenvolvida em dois momentos. O primeiro período, pré-copa, foi durante os dias 01 a 10 de novembro de 2013, com levantamento das informações para XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 7 cada um dos 12 municípios analisados, com base nas informações cedidas pelo Portal da Transparência do Governo. O segundo período, pós-copa, entre os dias 01 e 12 de agosto de 2014, visando acompanhar alguma eventual evolução em relação ao grau de transparência observado após a realização do evento. Após a coleta de dados, os resultados foram tabulados e organizados em tabelas do Microsoft Excel, com a finalidade de obter o índice de transparência da Copa de 2014, com base em adaptações nas variáveis propostas no artigo de Souza et al (2013), conforme foi descrito até aqui. Considerando o Quadro 1, é possível verificar as variáveis utilizadas e as pontuações consideras para o cálculo do índice. A pontuação total leva em consideração 9 itens, sendo estes distribuídos em três parâmetros analisados: conteúdo (04 itens), frequência de atualização (1 itens) e usabilidade (4 itens). Para cada item analisado é atribuída uma nota de 0 (zero) à 10 (dez), onde cada projeto ou ação é analisada em detalhe, tomando como base os parâmetros escolhidos. Para o parâmetro Frequência de Atualização, será atribuído peso 2. De acordo com o Quadro 2, é possível identificar a quantidade de itens a serem analisados por município estudado. Quadro 2 – Projetos e ações por cidade-sede Cidade Sede Projetos/Ações São Paulo 20 Rio de Janeiro 25 Salvador 33 Brasília 13 Fortaleza 24 Belo Horizonte 26 Curitiba 31 Manaus 12 Recife 32 Porto Alegre 26 Natal 23 Cuiabá 18 O Quadro 2, inserido neste estudo, não está relacionado no artigo de Souza et al. (2013). Estas informações foram inseridas com a finalidade de fortalecer a base de cálculo do índice de transparência para Copa de 2014, provendo assim, mais detalhes na pontuação do índice a ser desenvolvido. O Quadro 2 apresenta ainda informações para que seja calculada a proporção representada pela total ação ou projeto oferecido em um determinado município. Para se chegar ao cálculo do índice de transparência, é realizada a somatória da pontuação de cada item dos três componentes, conteúdo, séries históricas e usabilidade: C= Conteúdo, cuja pontuação máxima = 40 pontos; FA= Frequência de Atualização, cuja pontuação máxima = 20 pontos; U= Usabilidade, cuja pontuação máxima = 40 pontos; Cmáx+FAmáx+Umáx= 100, ou em termos percentuais (índice de transparência): Cmáx+FAmáx+Umáx= 1 XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 8 4. Apresentação e Análise dos Resultados Os resultados analisados são apresentados por parâmetro pesquisado. Além disso, os resultados estão dispostos por período de coleta de dados, sendo o primeiro período de novembro de 2013 denominado “Pré-Copa”, e o segundo período de agosto de 2014 denominado “Pós-Copa”. 4.1 Período Pré-Copa A tabela 2 demonstra o desempenho das cidades analisadas em relação ao parâmetro Conteúdo. Tabela 2 - Pontuação do Parâmetro Conteúdo (Pré-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Execução Orçamentária Previsão de Investimento Receita Orçamentária Contratos/ Licitações Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 10 10 10 10 São Paulo 2 3,5 5 2 12,5 Rio de Janeiro 2,4 2,4 2,4 2,4 9,6 Salvador 1,5 1,5 1,5 1,5 6 Brasília 2,3 3,8 3,8 3,8 13,7 Fortaleza 1,7 3,3 3,3 3,3 11,6 Belo Horizonte 3,1 5,4 5,4 3,1 17 Curitiba 2,6 4,8 4,5 1,9 13,8 Maranhão 2,5 4,2 2,5 2,5 11,7 Recife 2,5 2,8 2,8 3,1 11,2 Porto Alegre 1,5 4,2 4,2 4,2 14,1 Natal 0,9 3 3 2,2 9,1 Cuiabá 2,8 3,3 3,9 3,3 13,3 A Tabela 2 demonstra que, entre as 12 cidades analisadas, a que possui maior pontuação em termos do parâmetro conteúdo é Belo Horizonte, com 17 pontos, e o pior desempenho apresentado é da cidade de Salvador, com 6 pontos. Esses dados demonstram que existe uma grande diferença entre a disponibilização de dados, se comparados separadamente os municípios estudados. Quando os itens do parâmetro Conteúdo são analisados individualmente, observa-se que a Previsão de Investimento e Receita Orçamentária possuem pontuações bem próximas, pois, estas informações, são apresentadas de forma única no Portal da Transparência. Isso significa que são divulgadas as informações de investimento, porém, em sua maioria, os projetos não foram atualizados, de onde se pode inferir que as obras ou ações não foram executadas e/ou as informações reais não foram divulgadas. Uma informação que chama atenção é que para todas as cidades-sede são apresentadas duas ações comuns: Segurança Pública e Telecomunicações. Porém, em nenhuma das cidades estudadas, esses tópicos estão atualizados. A previsão de orçamento é R$ 0,00 (zero) e não há nenhuma informação adicional de quando serão tomadas ações sobre esses projetos. A Tabela 3 apresenta pontuação para Frequência de Atualização. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 9 Tabela 3 - Pontuação do Parâmetro Frequência de Atualização (Pré-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Atualização Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 20 São Paulo 2 2 Rio de Janeiro 2,4 2,4 Salvador 0,9 0,9 Brasília 3,1 3,1 Fortaleza 1,7 1,7 Belo Horizonte 3,1 3,1 Curitiba 3,1 3,1 Maranhão 1,7 1,7 Recife 0,9 0,9 Porto Alegre 4,2 4,2 Natal 1,3 1,3 Cuiabá 2,2 2,2 Analisando projeto a projeto, em sua maioria, não há informações de que os dados são enviados à CGU (Controladoria Geral da União), sendo este critério básico para transparência com os gastos de acordo com a Lei Complementar n° 131/2009. A cidade com maior pontuação foi Belo Horizonte e a cidade com a menor pontuação foi Recife. Isso pode demonstrar que, embora as obras estejam sendo executadas, as informações sobre esses processos não chegam ao Governo Federal de forma clara, uma vez que os arquivos não estão disponibilizados no Portal da Transparência. É importante enfatizar que essa pontuação baixa deve-se também ao fato de que não há atualização do status dos projetos e ações. Logo, não teria o que ser reportado à CGU, já que não está sendo produzido. A Tabela 4 apresenta a pontuação do parâmetro Usabilidade. Tabela 4 - Pontuação do Parâmetro Usabilidade (Pré-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Interação Possibilidade de Download Facilidade de Navegação Clareza e Objetividade Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 10 10 10 10 São Paulo 7 8 8 6 29 Rio de Janeiro 7 8 8 6 29 Salvador 7 8 8 6 29 Brasília 7 8 8 6 29 Fortaleza 7 8 8 6 29 Belo Horizonte 7 8 8 6 29 Curitiba 7 8 8 6 29 Maranhão 7 8 8 6 29 Recife 7 8 8 6 29 Porto Alegre 7 8 8 6 29 Natal 7 8 8 6 29 Cuiabá 7 8 8 6 29 O Portal da Transparência da Copa de 2014 é único para todas as cidades-sede, por isso, este item não tem variação de pontuação entre as cidades analisadas. Foi possível identificar que o portal é de fácil navegação e os conteúdos como licitações e informações, em geral, são de fácil acesso para download. O site demonstra pouca clareza e objetividade nas informações, já que são necessários vários cliques para obter uma informação específica, XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 10 como disponibilização de arquivos à CGU. Além disso, ao acessar o link, não é possível baixar o arquivo do que foi enviado à CGU, consta apenas a informação da data do envio da última atualização. Com relação ao item Interação, foi observado que os termos técnicos são apresentados no glossário para facilitar a interpretação das informações fornecidas, porém, não apresenta nenhum link de Fale Conosco, para que sejam encaminhadas, perguntas, dúvidas ou sugestões. Através da somatória dos parâmetros analisados, é possível calcular o índice de transparência, apresentado na Tabela 5. Tabela 5 – Índice de Transparência (Pré-Copa) Parâmetros Conteúdo Frequência de Atualização Usabilidade Total Índice de Transparência Ranking Pontuação Máxima/Cidades 40 20 40 100 100% - São Paulo 12,5 2 29 43,5 44% 6° Rio de Janeiro 9,6 2,4 29 41 41% 7° Salvador 6 0,9 29 35,9 36% 12° Brasília 13,7 3,1 29 45,8 46% 3° Fortaleza 11,6 1,7 29 42,3 42% 10° Belo Horizonte 17 3,1 29 49,1 49% 1° Curitiba 13,8 3,1 29 45,9 46% 4° Maranhão 11,7 1,7 29 42,4 42% 9° Recife 11,2 0,9 29 41,1 41% 8° Porto Alegre 14,1 4,2 29 47,3 47% 2° Natal 9,1 1,3 29 39,4 39% 11° Cuiabá 13,3 2,2 29 44,5 45% 5° Tendo como base a metodologia adotada nesse estudo, identificou-se que o município que apresentou o melhor índice de transparência foi Belo Horizonte, com 49%, seguido de Porto Alegre com 47% e Brasília com 46%. Belo Horizonte foi a cidade mais pontuada, pois seus projetos e ações estão em sua maioria com as informações básicas de investimentos e receitas divulgados, sendo também a cidade que possui melhor atualização. Além disso, a maioria dos projetos possuem arquivos enviados à CGU, sendo o mais antigo de outubro/2013. Analisando os três parâmetros acima estudados e o desempenho das cidades-sede, constata-se que os municípios possuem uma maior pontuação nos parâmetro do Conteúdo. No entanto, se considerados isoladamente, não é o suficiente para analisar a transparência nas informações, já que no caso da Copa os planejamentos e execuções de projetos e ações devem ser um conjunto de reestruturações necessárias para a apresentação de um evento deste porte. 4.2 Período Pós-Copa A tabela 6 demonstra o desempenho das cidades analisadas em relação ao parâmetro Conteúdo para o período Pós-Copa. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 11 Tabela 6 - Pontuação do Parâmetro Conteúdo (Pós-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Execução Orçamentária Previsão de Investimento Receita Orçamentária Contratos/ Licitações Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 10 10 10 10 São Paulo 2,5 3,5 3 2 11 Rio de Janeiro 2,8 3,6 3,2 2,4 12 Salvador 1,5 2,1 1,5 1,5 6,7 Brasília 3,8 4,6 3,8 3,1 15,4 Fortaleza 3,75 3,75 3,75 3,75 15 Belo Horizonte 3,8 5,8 5,4 4,2 19,2 Curitiba 4,2 4,8 4,2 3,9 17,1 Maranhão 2,5 4,2 2,5 2,5 11,7 Recife 2,8 3,8 2,5 2,2 11,3 Porto Alegre 1,9 4,2 4,2 4,2 14,6 Natal 2,2 4,3 3,0 2,2 11,7 Cuiabá 3,3 5,0 3,9 3,3 15,6 A Tabela 6 demonstra que, entre as 12 cidades analisadas, a que possui maior pontuação em termos do parâmetro conteúdo continua sendo Belo Horizonte, com 19,2 pontos, e o pior desempenho apresentado continuou sendo da cidade de Salvador, com 6,7 pontos. As cidades que mais tiveram incremento de conteúdo entre os períodos foram Fortaleza e Curitiba, respectivamente. E, curiosamente, a cidade de São Paulo teve um decréscimo na informação apresentada. Em síntese, continua havendo uma grande discrepância entre os conteúdos apresentados em cada cidade-sede, porém o resultado geral encontrado permaneceu praticamente igual ao do período Pré-Copa. Outro dado interessante é que as informações relativas à Segurança Pública e Telecomunicações continuaram sem ser atualizadas nas cidades. A Tabela 7 apresenta pontuação para Frequência de Atualização. Tabela 7 - Pontuação do Parâmetro Frequência de Atualização (Pós-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Atualização Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 20 São Paulo 2 2 Rio de Janeiro 3,6 3,6 Salvador 1,5 1,5 Brasília 3,1 3,1 Fortaleza 3,75 3,75 Belo Horizonte 4,6 4,6 Curitiba 3,9 3,9 Maranhão 1,7 1,7 Recife 1,9 1,9 Porto Alegre 4,2 4,2 Natal 3,5 3,5 Cuiabá 2,8 2,8 Nesse quesito, a cidade com maior pontuação continuou sendo Belo Horizonte e a cidade com a menor pontuação foi Salvador, ao invés de Recife. As cidades com maior incremento de pontuação foram Natal e Fortaleza, respectivamente. Mesmo assim, a pontuação dista muito dos 20 pontos possíveis. O fato continua o mesmo em relação a não XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 12 haver atualização do status dos projetos e ações. Logo, não teria o que ser reportado à CGU, já que não está sendo produzido. A Tabela 8 apresenta a pontuação do parâmetro Usabilidade. Tabela 8 - Pontuação do Parâmetro Usabilidade (Pós-Copa) Itens do Parâmetro Conteúdo Interação Possibilidade de Download Facilidade de Navegação Clareza e Objetividade Resultado Final Pontuação Máxima/Cidades 10 10 10 10 São Paulo 7 8 8 6 29 Rio de Janeiro 7 8 8 6 29 Salvador 7 8 8 6 29 Brasília 7 8 8 6 29 Fortaleza 7 8 8 6 29 Belo Horizonte 7 8 8 6 29 Curitiba 7 8 8 6 29 Maranhão 7 8 8 6 29 Recife 7 8 8 6 29 Porto Alegre 7 8 8 6 29 Natal 7 8 8 6 29 Cuiabá 7 8 8 6 29 As informações em relação a esse item permaneceram intactas, ou seja, não houve melhora no site em relação à clareza e objetividade das informações, ainda não sendo possível baixar o arquivo do que foi enviado à CGU. Através da somatória dos parâmetros analisados, é possível calcular o índice de transparência, apresentado na Tabela 9. Tabela 9 – Índice de Transparência (Pós-Copa) Parâmetros Conteúdo Frequência de Atualização Usabilidade Total Índice de Transparência Ranking Pontuação Máxima/Cidades 40 20 40 100 100% - São Paulo 11 2 29 42 42% 11° Rio de Janeiro 12 3,6 29 44,6 45% 7° Salvador 6,7 1,5 29 37,2 37% 12° Brasília 15,4 3,1 29 47,5 47% 6° Fortaleza 15 3,8 29 47,8 48% 4° Belo Horizonte 19,2 4,6 29 52,8 53% 1° Curitiba 17,1 3,9 29 50,0 50% 2° Maranhão 11,7 1,7 29 42,3 42% 9° Recife 11,3 1,9 29 42,1 42% 10° Porto Alegre 14,6 4,2 29 47,8 48% 3° Natal 11,7 3,5 29 44,2 44% 8° Cuiabá 15,6 2,8 29 47,3 47% 5° XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 13 Tendo como base a metodologia adotada nesse estudo, identificou-se que o município que apresentou o melhor índice de transparência foi Belo Horizonte, com 53%, uma evolução de apenas 4% em relação ao período Pré-Copa. A cidade foi seguida por Curitiba com 50% (ao invés de Porto Alegre) e Porto Alegre com 48% (ao invés de Brasília). Analisando os três parâmetros acima estudados e o desempenho das cidades-sede, constata-se que os municípios continuam possuindo uma maior pontuação nos parâmetro de Conteúdo. No entanto, se considerados isoladamente, não é o suficiente para analisar a transparência nas informações, já que, como mencionado anteriormente, no caso da Copa os planejamentos e execuções de projetos e ações devem ser um conjunto de reestruturações necessárias para a apresentação de um evento deste porte. Nota-se também que praticamente não houve alteração em relação ao período anterior, não havendo evolução significativa em relação ao grau de prestação de contas. Outro ponto a ser considerado é que mesmo nesse período já tendo sido realizado o evento, há links onde as informações estão desatualizadas. Em outras palavras, não foi informado o status atual após a realização do evento. Nessa segunda análise, também foi possível observar que as ações dos estádios, em alguns casos, aparecem como concluídas em 100%, mas a atualização do gasto total é sempre menor do que ao investimento solicitado, o que causa estranheza, pois indicaria que nenhuma obra teve superfaturamento. Em relação ao resultado final, a alteração significativa se deve ao fato de algumas cidades terem atualizado as informações de envio a CGU, embora, na prática, a maioria das ações não está sinalizada como concluída. De todas as cidades-sedes analisadas, Manaus foi a cidade que mais chamou a atenção, pois manteve-se idêntica, dando a impressão de que nada foi atualizado desde a coleta de dados realizada anteriormente. De forma geral, foi possível observar que os municípios precisam melhorar o nível de transparência e qualidade das informações fornecidas, para que os cidadãos possam, de forma clara e objetiva, compreender o que é disponibilizado no Portal do Governo e qual o real status dos projetos a serem desenvolvidos para o megaevento que se aproxima. 5. Considerações Finais O estudo em questão visou analisar qual o grau de transparência oferecido pelo Governo no que diz respeito aos gastos com reformas, construções e melhorias de infraestrutura para a Copa de 2014 nas cidades-sede. Para isso, foi analisado o Portal de Transparência da Copa em dois períodos, pré e pós- copa. A pesquisa revelou que a cidade que apresentou o melhor índice foi Belo Horizonte, nos dois períodos analisados, tendo atingido a pontuação de 49% no primeiro período e 53% no segundo. A melhor pontuação refere-se ao parâmetro Conteúdo e a pior ao parâmetro a Frequência de Atualização. Conclui-se que com índices inferiores a 50% da pontuação total, a maioria dos municípios precisa melhorar a transparência e qualidade das informações divulgadas, uma vez que apenas dois deles atingiram pontuação igual ou superior a esse crivo (Belo Horizonte e Curitiba). É importante destacar que essas informações pré e pós-evento são de grande interesse populacional, e os municípios tem a obrigação de divulgar de forma clara e objetiva os conteúdos em seus portais eletrônicos, criando assim, a interatividade com a população, que poderá exercer seu direito de cobrar pelos recursos utilizados pela gestão pública. Foi identificada uma limitação ao desenvolver o índice de transparência, pois muitas informações disponibilizadas no portal não são comuns para as cidades ou faltam detalhes. Ainda, faltam estudos sobre as análises de transparência na gestão pública de megaeventos, para serem utilizados como comparativos. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 14 Recomendam-se, para estudos futuros, pesquisas estendendo a metodologia aqui proposta a maiores períodos, bem como estudos que analisem criticamente o legado deixado por esse megaevento. Os megaeventos, em geral, como se notou durante essa pesquisa, são eventos pouco estudados pela comunidade científica e que também poderiam ser analisados. Referências ANDRADE, A. Considerações sobre a aplicação da Lei da Responsabilidade Fiscal. Câmara de Desenvolvimento Profissional CRC-SP, 2001. BRASIL. Portal do Governo Brasileiro. Rio de Janeiro é sede dos Jogos Pan-Americanos, Linha do Tempo, 2007, Brasília, 2007. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/linhadotempo/epocas/2007/rio-de-janeiro-e-sede-dos-jogos-pan- americanos>. Acesso em: 06 Set 2013. ______. Lei Complementar n.131, de 27 de Maio de 2009. Acrescenta dispositivos à Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências, a fim de determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp131.htm>. Acesso em: 06 Set 2013. ______. Portal da Transparência. Relatório de Atividades Copa 2014, relatório de 12/2012, Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/arquivos/Anexo%20e%20- %20Relat%C3%B3rio%20Atividades%20relacionadas%20%C3%A0%20%20Copa%20do% 20Mundo%202014%20no%20Rio%20de%20Janeiro.pdf>. Acesso em : 29 Ago 2013. ______. Portal da Copa. Matriz de Responsabilidade Consolidada, relatório de 04/2013, Brasilia, 2013. Disponível em: <http://www.copa2014.gov.br/sites/default/files/publicas/04242013_matriz_atualizada.pdf>. Acesso em: 28 Ago 2013. ______. Portal do Governo Brasileiro. Divulgada a estimativa para a Copa de 2014, relatório de 06/2013, Brasília, 2013. Disponível em:<http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/06/28/estimativas-de-investimentos- geracao-de-empregos-e-renda-durante-a-preparacao-do-pais-para-a-copa-do-mundo-da-fifa- brasil-2014>. Acesso em: 06 Set 2009. CRUZ, F. C.; FERREIRA, SOUSA C. A.; SILVA, M. L.; MACEDO, A. M. Transparência da gestão pública municipal: um estudo a partir dos portais eletrônicos dos maiores municípios brasileiros. Revista de Administração Pública vol. 46 n. 1, Rio de Janeiro Jan/Fev, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 76122012000100008>. Acesso em: 06 Set 2013. DACOSTA, L. Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Portal G1, Protestos pelo país tem-125 milhão de pessoas um morto e confrontos, Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/protestos-pelo-pais-tem-125-milhao-de-pessoas- um-morto-e-confrontos.html> Acesso em 15 Out 2013. XXI Congresso Brasileiro de Custos – Natal, RN, Brasil, 17 a 19 de novembro de 2014 15 GRANGEIA, M. Vale à pena ser sede da Copa 2014? Revista Super Interessante, São Paulo, 02/2008. Disponível em:<http://super.abril.com.br/esporte/vale-pena-ser-sede-copa- 2014-447396.shtml>. Acesso em 28 Ago 2013. MARTELLO, A. Com Copa, gasto de estrangeiros no Brasil é o maior da história, de 25/07/2014. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/07/com-copa-gasto- de-estrangeiros-no-brasil-e-o-maior-da-historia-em-junho.html. Acesso em: 12/08/2014. MATIAS-PEREIRA, J. Manual de Metodologia da Pesquisa Científica. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. MIRANDA, S. Vale a pena o Brasil sediar a Copa de 2014? Revista Mundo Estranho, São Paulo, 03/2011. Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/vale-pena-brasil-sediar-copa- 2014-623510.shtml>. Acesso em: 03/09/2013. PIZZOLATTI, R. L.; ROCHA, F.G. A importante e difícil opção por um método na pesquisa. Caminhos de Geografia, v.4, n 13, p. 56-54. Out. 2004. RODRIGUES, R.; PINTO, L.; TERRA, R., COSTA, L. Legado de Megaeventos Esportivos. Ministério dos Esportes. Brasília, 2008. SECOM, Copa de 2014 deve gerar R$ 142,3 bilhões. Disponível em: http://www.secom.gov.br/sobre-a-secom/acoes-e-programas/comunicacao-publica/em- questao/edicoes-anteriores/edicoes-anteriores-arquivos/junho/boletim-1072-28.06/copa-de- 2014-deve-gerar-r-142-3-bilhoes/?searchterm=COPA%202014 SLOMSKI, V. Controladoria e governança na gestão pública. São Paulo: Atlas, 2007. SOUZA, F.; BARROS, C.; ARAUJO, F.; SILVA, M. Índice de transparência municipal: um estudo nos municípios mais populosos do Rio Grande do Norte. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade. Vol. 3, n. 3, 2013. UOL – Universo Online. Legados do Pan, de 02/2011. Disponível em: <http://blogdojuca.uol.com.br/2011/02/o-legado-do-pan-2007/>. Acesso em: 19 Set 2013. ______. Em dia de maior mobilização, protestos levam mais de 1 milhão de pessoas as ruas no Brasil, 06/2013. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2013/06/20/em-dia-de-maior-mobilizacao-protestos-levam-centenas-de-milhares-as- ruas-no-brasil.htm>. Acesso em: 19 Set 2013. Transpar�ncia/CBC/3945-4044-1-PB - 2015.pdf A importância dos sistemas de custos para atingir a transparência no setor público Luzia Zorzal (UFES) - l.zorzal@terra.com.br Janyluce Rezende Gama (STN) - janyluce@yahoo.com.br Georgete Medleg Rodrigues (UNB) - medleg.georgete@gmail.com Resumo: Estudos sobre custos são familiares às empresas privadas, mas no setor público, particularmente no Brasil, são bem menos frequentes, uma vez que se tornou notório somente a partir da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 1.366/2011. Entre as diversas formas para os stakeholders se apropriarem das informações e adquirirem conhecimento, o acesso à informação pública é uma delas. Mas para a informação se transformar em conhecimento e possibilitar que os stakeholders possam agir com racionalidade para tomar suas decisões é necessário que as informações recebam tratamento adequado. O artigo verifica a contribuição da informação de custos no contexto da transparência das contas públicas, por meio da análise do aspecto qualitativo da informação com relação às características confiabilidade, compreensibilidade, relevância e comparabilidade. Por meio de pesquisa bibliográfica, foram identificados os aspectos qualitativos para evidenciação das informações de custos recomendados para a Administração Pública objetivando gerar informações confiáveis, uma das exigências da transparência. Palavras-chave: Sistemas de custos. Transparência. Setor Público. Área temática: Custos aplicados ao setor público Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. A importância dos sistemas de custos para atingir a transparência no setor público Resumo Estudos sobre custos são familiares às empresas privadas, mas no setor público, particularmente no Brasil, são bem menos frequentes, uma vez que se tornou notório somente a partir da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) nº 1.366/2011. Entre as diversas formas para os stakeholders se apropriarem das informações e adquirirem conhecimento, o acesso à informação pública é uma delas. Mas para a informação se transformar em conhecimento e possibilitar que os stakeholders possam agir com racionalidade para tomar suas decisões é necessário que as informações recebam tratamento adequado. O artigo verifica a contribuição da informação de custos no contexto da transparência das contas públicas, por meio da análise do aspecto qualitativo da informação com relação às características confiabilidade, compreensibilidade, relevância e comparabilidade. Por meio de pesquisa bibliográfica, foram identificados os aspectos qualitativos para evidenciação das informações de custos recomendados para a Administração Pública objetivando gerar informações confiáveis, uma das exigências da transparência. Palavras-chave: Sistemas de custos. Transparência. Setor Público. Área Temática: Custos aplicados ao setor público. 1 Introdução Na administração pública, as organizações são alvos de constantes pressões tanto de usuários internos quanto externos. A sociedade está cada vez mais consciente de seus direitos e exige maior participação na aplicação dos recursos públicos por meio de políticas públicas bem definidas. Para isso, o gestor público, progressivamente, necessita de mais instrumentos de apoio para a tomada de decisão. Um desses instrumentos é a informação de custos dos serviços e bens públicos. Segundo Clemente e Souza (2004), nas últimas décadas os avanços tecnológicos na área da informação superaram até mesmo as previsões consideradas pouco verossímeis e a sociedade atual é frequentemente referida como a sociedade da informação e do conhecimento. Esta sociedade exige do poder público, mais transparência nas suas decisões, e, por este motivo, os custos dos serviços e bens públicos passaram a receber mais atenção dos gestores públicos e governantes. O propósito de oferecer melhores resultados à sociedade, por meio de serviços públicos com padrões de qualidade que satisfaçam às suas expectativas e necessidades, recorrendo a novos instrumentos de apoio à tomada de decisão, não é recente. O destaque da evolução da trajetória das mudanças no desenvolvimento das melhorias da gestão pública brasileira, a partir do fortalecimento dos movimentos voltados à reforma gerencial do Estado, ocorreu na década de 1990 (FERNANDES, 2011). Na ótica de Martinez e Alves Filho (2011 apud Dunleavy et al. 2006) os sistemas de informação da área pública são complexos por natureza, devido ao seu escopo corporativo e de interdependência com diversos subsistemas operacionais da entidade. Para Machado e Holanda (2010) os gestores públicos necessitam de um conjunto de informações gerenciais para cumprir com eficiência, eficácia e efetividade as políticas XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. públicas. Desse modo, é necessário um sistema de informação de custos capaz de auxiliar decisões típicas, tais como comprar ou alugar, produzir internamente ou terceirizar determinado serviço ou atividade, assim como permitir estabelecer comparações com outras unidades organizacionais diferentes. Como muitos podem pensar, a apuração de informações de custos no setor público (SP) não surgiu na legislação brasileira em 2008, com a norma técnica do CFC, NBC T 16.2 aprovada pela Resolução CFC nº 1.129/2008 (CFC, 2012) criando o Subsistema de Informações de Custos (SIC) no SP, nem mesmo pela NBC T 16.11 aprovada pela Resolução CFC nº 1.366/2011 (CFC, 2012) definindo as características deste novo subsistema, com a denominação de Subsistema de Informação de Custos do Setor Público (SICSP). De fato, desde os anos 1960, vários dispositivos legais já determinavam a apuração de custos no SP como requisito de transparência e prestação de contas, seja para controle interno, externo ou controle social. Desde 1964, a Lei nº 4.320 (BRASIL, 1964) previa em seus artigos 85 e 99 a determinação dos custos na administração pública, porém somente para serviços públicos industriais. Logo após, em 1967, o Decreto-Lei nº 200 (BRASIL, 1967) estabelecia a apuração dos custos abrangendo todos os tipos de serviços dispondo em seu art. 79 que “a contabilidade deverá apurar os custos dos serviços de forma a evidenciar os resultados da gestão”. O reforço a esse aparato legal na implantação de um sistema de custos para as entidades públicas ocorre em 2000, com a Lei Complementar (LC) nº 101/2000 (BRASIL, 2000), a denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que também exigiu a implantação de sistema de custos para garantir a eficiência e transparência. A LRF estabelece em seu parágrafo 3º art. 50 que a “A Administração Pública manterá sistemas de custos que permita a avaliação e o acompanhamento da gestão orçamentária, financeira e patrimonial”. Não obstante as determinações legais ora citadas, o fato é que o SP, até 2010, seja no âmbito do Executivo, Legislativo ou Judiciário não utilizava sistema de custos, salvo por iniciativas isoladas de alguns órgãos e a explicação para isso talvez seja a falta de atuação da fiscalização no setor, seja uma das causas. Porém, como afirmam Machado e Holanda (2010), o fato é que não havia nem sistema, nem metodologia adequada capazes de serem aplicados sistemática e uniformemente para toda a Administração Pública Federal (APF). A informação de custos no SP tem como objetivo a melhoria da transparência e controle social. A NBC T 16.11 (CFC, 2012), item 21, determina que o processo de implantação do SICSP deva levar em consideração os objetivos organizacionais pretendidos, os processos decisórios que usarão as informações de custos segmentados por seus diferentes grupos de usuários, bem como os critérios de transparência e controle social. Além disso, na geração de informação de custo, é obrigatória a adoção dos princípios de contabilidade em especial o da competência (CFC, 2012). A obrigação do registro dos fatos contábeis por competência surgiu no SP devido ao processo de convergência das normas contábeis aos padrões internacionais, que também objetivam a melhoria dos critérios de transparência e controle social (GAMA; DUQUE; ALMEIDA, 2014). Na concepção de Machado e Holanda (2010) a geração de informações de custos pressupõe a adoção do regime de competência. Enquanto o SP não adotar na sua plenitude o regime de competência serão necessários que ocorram ajustes contábeis no desenvolvimento dos sistemas de custos, fazendo a ponte entre a informação orçamentária e patrimonial. Porém, apesar de todo aparato legal, o desenvolvimento dos sistemas de custos do SP é um processo recente assim como a adoção do regime de competência. Por esse motivo, é necessário que as características qualitativas (CQs) da informação contábil estejam presentes de forma efetiva no desenvolvimento desses sistemas para que as informações geradas não sejam incompletas ou inconsistentes, o que afetaria a transparência e a utilidade dessas informações. XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. No SP essas CQs da informação contábil impactam diretamente na eficácia e eficiência da transparência das contas públicas, que é instrumento de controle social. Se as informações constantes das contas públicas não forem confiáveis, íntegras, compreensíveis e comparáveis, não poderão ser utilizadas como instrumento de transparência, planejamento e controle social (GONÇALVES et al., 2010). Söthe, Dill e Dresel (2010) reforçam esse argumento, ao afirmarem que assegurar a transparência por meio da prestação de contas vai além do simples procedimento da publicação, mas implica em divulgá-la de forma adequada, para que a informação possa ser útil, além de acessível. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo verificar a contribuição da informação de custos no contexto da transparência das contas públicas, por meio da análise do aspecto qualitativo da informação com relação às características confiabilidade, compreensibilidade, relevância e comparabilidade. Para tanto, o estudo utilizou-se da pesquisa bibliográfica, da análise de conteúdo (BARDIN, 2004), e da interdisciplinaridade (SARACEVIC, 1991, 1995) com a Ciência da Informação (CI) para identificar os aspectos qualitativos para evidenciação das informações de custos recomendados para a Administração Pública objetivando gerar informações confiáveis, uma das exigências da transparência. O foco da pesquisa recaiu sobre os dispositivos que regulamentam a evidenciação das informações contábeis e de custos, elaborados por instituições internacionais e brasileiras, cobrindo a legislação vigente. O tratamento e análise dos dados foram feitos por meio de um quadro onde foram sintetizadas as características das informações contábeis focadas no SP e as da área da CI. 2 Transparência e accountability no SP brasileiro A busca pela modernização da gestão pública brasileira, que antecede as ações por mais transparência nas contas públicas, teve inicio com o Projeto de Reforma do Estado no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, iniciado em 1995. Ele promoveu uma reforma ministerial e criou por meio de Medida Provisória o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado com a finalidade de formular políticas e diretrizes para a reforma do Estado (JARDIM, 1999). As iniciativas de reforma e modernização do SP se intensificaram não apenas como consequência da crise fiscal dos anos 1980, mas também como resultado do esgotamento do modelo de gestão burocrática e do modo de intervenção estatal. O movimento também conhecido por New Public Management (NPM) teve como objetivo a busca da excelência e a orientação dos serviços ao cidadão. Esse movimento baseou-se em princípios gerenciais voltados para resultados, eficiência, governança e orientação da gestão pública para práticas de mercado (DINIZ et al., 2009). Visando a colaborar com o processo de melhoria da gestão pública e das informações contábeis governamentais, o CFC, como conselho profissional de classe, e a Secretaria do Tesouro Nacional (STN), como representante do governo iniciaram o processo de convergência das normas contábeis do SP aos padrões internacionais. O modelo internacional adotado pelo governo federal brasileiro tornou-se obrigatório para todos os demais entes públicos da federação, ou seja, não apenas para a União, mas também para os estados e municípios (GAMA; DUQUE; ALMEIDA, 2014). A internacionalização das normas contábeis do SP prioriza o regime de competência e busca mais transparência e qualidade nas informações contábeis governamentais em nível mundial. A melhora na qualidade das informações contábeis governamentais, gerada com a adoção do regime de competência, atinge todos os stakeholders da administração pública. Para Chan (2010) a contabilidade sob o regime de competência é compatível com a teoria XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. contratual do governo, cujos ativos do governo provêm das contribuições voluntárias e involuntárias dos stakeholders. A promoção da prestação de contas por meio de mais transparência, que alguns denominam full disclosure, é um objetivo explícito das International Public Sector Accounting Standards (IPSAS ou Normas Internacionais de Contabilidade aplicadas ao Setor Púbico – NICSP). Em particular, essas normas enfatizam a accountability do governo perante os seus cidadãos, eleitores, representantes e o público em geral (CHAN, 2010). Sobre o full disclosure verifica-se que essa tendência tende a se concretizar uma vez que em 2 de agosto de 2010, foi criado o International Integrated Reporting Council (IIRC ou Conselho Internacional para Relato Integrado) com a missão de criar uma estrutura globalmente aceita de contabilidade para a sustentabilidade, cunhada de Relato Integrado. Relato integrado é definido como “um documento conciso sobre como a estratégia, a governança, o desempenho e as perspectivas de uma organização, no contexto de seu ambiente externo, levam à geração de valor em curto, médio e longo prazo.” (INTERNATIONAL INTEGRATED REPORTING COUNCIL, 2013, p. 7, tradução nossa). Com relação à accountability, Schedler (1999) afirma que é um termo da moda e expressa uma preocupação contínua de controles e de supervisão, para vigilância e restrições institucionais sobre o exercício do poder e o define como “a capacidade de assegurar que os gestores públicos sejam responsáveis por suas ações”. Dessa forma, a transparência torna-se imprescindível para que as instituições públicas entreguem eficaz accountability. 3 Sistemas de informação de custos no SP Os Sistemas de Informação governamentais no cenário brasileiro abrangem as esferas federais, estaduais e municipais, cada qual com características e necessidades específicas que levam seus gestores a buscarem alternativas diferentes na busca pela melhoria dos sistemas como instrumento de gestão para apoio à tomada de decisões. Recentemente, o Governo Federal alterou a legislação contábil no SP e aprovou um novo arcabouço legal, em convergência com padrões internacionais, que obrigou todas as entidades públicas brasileiras a implementar um novo sistema de informação contábil. Esse fato promete mudar a cultura organizacional dos gestores públicos que possuem visão puramente orçamentária, e não patrimonial, quando o assunto é tomada de decisão (GAMA; DUQUE; ALMEIDA, 2014). O SICSP faz parte de um conjunto de subsistemas de informações contábeis que geram um sistema maior que é a contabilidade governamental. Segundo Silva (2007) são muitas as definições de sistemas de informações contábeis, mas a que melhor se adapta aos propósitos da administração pública deve conter os seguintes atributos: medir o impacto das decisões antes e depois de estas últimas serem tomadas (controle prévio e subsequente); medir o ambiente no momento próprio da ocorrência dos fatos (controle concomitante); e relacionar o tempo padrão para o desenvolvimento das tarefas com o tempo real para identificar os gargalos nos estágios da receita e da despesa orçamentária. O sistema de informação contábil representa a estrutura de informações sobre identificação, mensuração, avaliação, registro, controle e evidenciação dos atos e dos fatos da gestão do patrimônio público, com o objetivo de orientar e suprir o processo de decisão, a prestação de contas e a instrumentalização do controle social (CFC, 2012). Dessa forma, objetivando abranger todas as áreas da informação contábil no SP, a contabilidade governamental está estruturada em subsistemas de informação com funções bem definidas, sendo eles: orçamentário, patrimonial, custos e compensação. Em 2009, visando à convergência das normas contábeis aos padrões internacionais, o subsistema financeiro foi excluído por força da Resolução CFC nº 1.268/2009 que alterou a Resolução XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. CFC nº 1.129/2008 (CFC, 2012), porém a informação financeira passou a ser controlada no subsistema patrimonial. Isso facilitou a identificação das informações de natureza patrimonial, que é o foco das normas internacionais. A representação do sistema de informação contábil e seus subsistemas, entre eles o de custos, foram apresentados por Gama, Duque e Almeida (2014), como ilustra a Figura 1: Figura 1 – Representação dos sistemas de informação contábeis no SP Fonte: Gama; Duque; Almeida (2014, p.188). Com a criação do subsistema de custos no arcabouço teórico da contabilidade governamental, a partir da Resolução CFC nº 1.129/2008 (CFC, 2012), foi dado mais um passo rumo ao cumprimento da legislação brasileira, que previa um sistema de custos no SP, desde a Lei n° 4.320/1964 (BRASIL, 1964). Entretanto, deve-se ressaltar que o governo federal já estudava desde meados de 2005, uma ferramenta gerencial de custos utilizando-se da extração de dados dos sistemas de informação estruturantes da APF para a geração de informações. Monteiro et al. (2010) afirmam que os esforços para que se chegasse à primeira versão do sistema de custos do governo federal foram muitos, podendo destacar o trabalho da Comissão Interministerial em meados de 2005, criada como resposta organizacional ao Acórdão nº 1078/2004 do Tribunal de Contas da União (TCU), que determinou que fossem adotadas providências para que a APF pudesse dispor com maior brevidade possível de um sistema de custos. Um subsistema de informação de custos concebido para toda a APF para os três poderes deve garantir o atributo da comparabilidade, mas deve também permitir a possibilidade de detalhamento das informações em razão das diferentes expectativas e necessidades informacionais das diversas unidades organizacionais e seus respectivos usuários (MACHADO; HOLANDA, 2010). 4 Análise dos atributos da informação de custos no SP Apesar das atuais informações contábeis terem como objetivo subsidiar os gerentes, no aprimoramento da eficiência e eficácia de suas operações, como a dinâmica dos custos frequentemente não é bem retratada, as informações fornecidas pelos atuais sistemas de gestão, são, na melhor das hipóteses, incompletas (WERNKE, BORNIA, 2001). Na administração pública não é diferente. A qualidade das informações de custos retratadas nos sistemas de informações contábeis também precisa ser aprimorada, ou mesmo, em alguns casos, implantada. Porém, por se tratar de um processo recente, o desenvolvimento de sistemas de custos no SP precisa estar atento às CQs da informação a ser gerada, evitando assim, informações incompletas e desnecessárias. XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. A história das CQs da informação contábil data de 1974 quando foi produzido um memorando para discussão a respeito do trabalho do grupo de estudos sobre os objetivos das demonstrações financeiras, também conhecido como Comissão Trueblood, por causa do nome do seu presidente. Foram discutidos, na ocasião, os objetivos da contabilidade, as CQs da informação contábil e os conceitos fundamentais da contabilidade (HENDRIKSEN, VAN BREDA; 1999). Em maio de 1980, as CQs da informação contábil foram definidas pelo Financial Accounting Standards Board (FASB ou Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira) por meio do Statement of Financial Accounting Concepts (SFAC ou Pronunciamento de Contabilidade Financeira) nº 2. Segundo esse pronunciamento as CQs da informação contábil podem ser entendidas como “[...] atributos de informações contábeis que tendem a ampliar sua utilidade” (HENDRIKSEN, VAN BREDA, 1999, p. 90). Em setembro de 2010, o FASB com a colaboração do International Accounting Standards Board (IASB ou Conselho Internacional de Normas Contábeis) elaborou o SFAC nº 8 – Conceptual Framework for Financial Reporting (Estrutura Conceitual de informações financeiras) que substituiu o SFAC nº 2 e apresentou a seguinte perspectiva acerca da utilidade da informação financeira e suas CQs: “Se a informação financeira é para ser útil, ela deve ser relevante e representar com fidedignidade o que ela pretende representar. A utilidade da informação financeira é ampliada se for comparável, verificável, tempestiva e compreensível” (FASB, 2010, p. 16, tradução nossa). As CQs fundamentais, apontadas pelo FASB são relevância e representação fidedigna. Na versão de 2010 foi utilizada a expressão representação fidedigna (faithful representation) em substituição ao termo confiabilidade (reliability), usado na versão anterior (1980). Nessa última versão foram sugeridas também as seguintes CQs da informação financeira: transparência; alta qualidade; consistência interna; apresentação justa, verdadeira e apropriada e, credibilidade. No entanto, para o FASB (2010), essas características da qualidade, são palavras diferentes para descrever a informação que tem as CQs de relevante e fidedigna realçada por comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. No SP, a International Federation of Accountants (IFAC ou Federação Internacional de Contadores) (2010), por meio da IPSAS 1, apresenta as quatro principais CQs: compreensibilidade, relevância, confiabilidade e comparabilidade. A definição de cada característica está apresentada no Quadro 1: Quadro 1 – Características qualitativas da informação contábil do SP segundo a IPSAS 1 Características Definição segundo a IPSAS 1 Compreensibilidade A informação é compreensível quando se espera que os usuários entendam razoavelmente o seu significado. Para este fim, presume-se que os usuários tenham um conhecimento razoável a respeito das atividades da entidade e a disposição de estudar as informações com razoável diligência. Relevância A informação é relevante para os usuários quando ela pode ajudá-los a avaliar eventos passados, presentes ou futuros ou confirmando ou corrigindo as suas avaliações anteriores. Para ser relevante, a informação também deve ser oportuna (tempestiva). Confiabilidade Informação confiável é aquela livre de erros materiais e vieses e na qual os usuários podem confiar como uma representação fiel do que se pretende representar ou do que razoavelmente espera-se que represente. Comparabilidade A informação das demonstrações contábeis é comparável quando os usuários podem identificar similaridades e diferenças entre aquela informação e informações de outras demonstrações. A comparabilidade se aplica a: comparação de demonstrações contábeis de entidades diferentes; e comparação de demonstrações contábeis da mesma entidade ao longo de períodos de tempo. Fonte: Elaborado pelos autores, com base no Apêndice A da IPSAS 1 (IFAC, 2010, p. 79-81). XXII Congresso Brasileiro de Custos – Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 11 a 13 de novembro de 2015. Por sua vez, o CFC em observância aos princípios e às Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP), por meio da Resolução nº 1.132/2008 estabeleceu as características do registro e da informação contábil e com a Resolução CFC nº 1.366/2011definiu as CQs para as informações de custos, ambas apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 – Características da informação contábil e de custos no SP, segundo o CFC. Características Definição segundo as Resoluções CFC nºs 1.132/2008 e 1.366/2011 Relevância Entendida como a qualidade que a informação tem de influenciar as decisões de seus usuários auxiliando na avaliação de eventos passados, presentes e futuros. As informações apresentadas devem conter todos os aspectos relevantes. Fidedignidade Referente à qualidade que a informação tem de estar livre de erros materiais e de juízos prévios, devendo, para esse efeito, apresentar as operações e acontecimentos de acordo com sua substância e realidade econômica e, não, meramente com a sua forma legal. Os registros e as informações devem representar fielmente o fenômeno contábil que lhes deu origem. Compreensibilidade As informações apresentadas nas demonstrações contábeis devem ser entendidas pelos usuários. Deve permitir o detalhamento das informações em razão das diferentes expectativas e necessidades informacionais das diversas unidades organizacionais e seus respectivos usuários. Tempestividade Os fenômenos patrimoniais devem ser registrados no momento de sua ocorrência e divulgados em tempo hábil para os usuários. Qualidade de a informação estar disponível no momento adequado à tomada de decisão. Comparabilidade Os registros e as informações contábeis devem possibilitar a análise da situação patrimonial de entidades do setor público ao longo do tempo e estaticamente, bem como a identificação de semelhanças e diferenças dessa situação patrimonial com a de outras entidades. Entende-se a qualidade que a informação deve ter de registrar as operações e acontecimentos de forma consistente e uniforme, a fim de conseguir comparabilidade entre as distintas instituições com características similares. Verificabilidade Os registros contábeis realizados e as informações apresentadas devem possibilitar o reconhecimento das suas respectivas validades. Confiabilidade As informações contábeis devem reunir requisitos de verdade e de validade que possibilitem segurança e credibilidade aos usuários no processo de tomada de decisão. Imparcialidade As informações devem ser apresentadas de modo a não privilegiar interesses específicos e particulares de agentes e/ou entidades. Integridade Os registros contábeis e as informações devem reconhecer os fenômenos patrimoniais em sua totalidade, não podendo ser omitidas quaisquer partes do fato gerador. Objetividade O registro deve representar a realidade dos fenômenos patrimoniais em função de critérios técnicos contábeis pré-estabelecidos em normas ou com base em procedimentos adequados, sem que incidam preferências individuais que provoquem distorções na informação produzida. Utilidade Os registros contábeis e as informações apresentadas devem atender às necessidades específicas dos diversos usuários. Deve ser útil à gestão tendo a sua relação custo benefício sempre positiva. Visibilidade Os registros e as informações contábeis devem ser disponibilizados para a sociedade e expressar, com transparência, o resultado da gestão e a situação patrimonial da entidade do setor público. Deve proporcionar maior transparência e evidenciação do uso dos recursos públicos. Especificidade Informações de custos devem ser elaboradas de acordo com a finalidade específica pretendida pelos usuários. Granularidade Sistema que deve ser capaz de produzir informações
Compartilhar