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Bioética Unidade I Resumo

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UNIDADE I 
 HISTÓRICO DA BIOÉTICA 
 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTO DA BIOÉTICA 
 EXPERIMENTAÇÃO COM SERES HUMANOS 
 INÍCIO DE VIDA 
 ABORTO 
 EUTANÁSIA 
 CÉLULAS-TRONCO 
 REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS 
MORAL - ÉTICA 
ÉTICA X MORAL 
 Ética É a ciência que estuda o comportamento moral do Homem. Este comportamento, por sua vez, é 
baseado em valores morais incorporados pelo indivíduo, enquanto ser social .Portanto, ética e moral se 
relacionam como ciência e objeto, sendo a primeira uma ciência e a segunda o objeto desta ciência. 
 Como ciência, a ética estuda os atos conscientes e voluntários de indivíduos, ou grupos sociais, ou 
mesmo a sociedade em seu conjunto. Portanto, se a ética estuda o comportamento moral, este comportamento 
só terá conotação moral se for consciente e voluntário e se der no convívio social 
MORAL 
 É o conjunto de normas, aceitas livre e voluntariamente ,que regulam o comportamento individual e 
social dos homens 
 Conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras 
orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou 
errado. 
 RESUMO: A moral são os costumes, regras, tabus e convenções de determinada sociedade, época e 
local 
 São eleitos pela sociedade; 
 Vêm de fora para dentro; 
 Tem caráter OBRIGATÓRIO. 
 “Todos” respeitam; 
 Envolve religião. 
ÉTICA: 
 É um juízo de valor. Procura justificar racionalmente os costumes, princípios, normas e códigos que 
regulamentam o agir. 
 É uma reflexão sobre sua própria conduta, para saber como agir. 
 Ética é a forma que o homem DEVE se comportar no seu meio social. 
 Ética é o conjunto de normas de comportamento e formas de vida através do qual o homem tende a 
realizar o valor do BEM. 
 “ Implica em julgamento de determinada ação ou do comportamento moral dos homens em sociedade 
 Exige Juízo, julgamento de valores; 
 Relacionado ao caráter, modo de ser, costumes, conduta de vida; 
 Processo ATIVO: vem de dentro para fora de cada pessoa; 
 
 
 Reflexão crítica; 
 É uma opção; 
 „ valoriza a maneira adequada de agir‟ 
A ÉTICA LEVA EM CONSIDERAÇÃO : 
 A razão 
 Os valores 
 As ideologias 
 As representações daquilo que se quer como ideal para os seres humanos 
 
CODIGO DE ETICA – Consenso na área – não permite contextualização 
 
 É o homem que dá valor às coisas, ou cria valores na sua relação com a natureza e com os outros 
homens. Assim, temos valores naturais, que independem do trabalho humano, como a água e as plantas; e 
valores artificiais, produzidos pelo trabalho humano, como aparelhos eletrodomésticos, esculturas, objetos de 
uso pessoal, etc. 
 Contudo, só pelo fato de ter um valor para o homem, não significa que há conotação moral neste valor. 
O valor moral dependerá de qual utilização será dada ao objeto, a que fim, interesse ou necessidade servirá. Por 
exemplo, a descoberta de uma droga que pode salvar vidas e que é utilizada em uma guerra química, causando 
mortes. 
 Logo, só podemos atribuir valor moral a um ato se ele tem conseqüências que afetam a outros 
indivíduos, a um grupo social ou a uma sociedade. A definição de um ato humano como moralmente valioso ou 
não, ou seja, o juízo de valor que se faz de um ato humano é a atribuição de valor dada ao ato de um sujeito por 
outro sujeito. O sujeito que avalia e o que é avaliado estão inseridos em um contexto histórico social, e utilizam 
uma escala de valores elaborada a partir de seu contexto de vida, enquanto ser social. O ato praticado e o juízo 
de valor emitido estão relacionados a uma situação determinada, concreta. Estão relacionados a esta situação e 
não à outra. Ou seja, dependendo do resultado obtido com um ato, podemos ter posições diferentes quanto ao 
mesmo ser moralmente valioso ou não. Por exemplo, alguém pode contar uma mentira para outrem e esta 
mentira ter significado benéfico para este outrem. Teoricamente, a mentira em si teria uma conotação de 
moralmente não valiosa. Porém, se o resultado foi o bem para o indivíduo, este ato pode, também ser avaliado 
como moralmente valioso. Se várias pessoas fossem avaliar a situação, provavelmente, teríamos posições 
diferentes. Estes problemas da relação cotidiana são práticos morais, conduzidos de acordo com valores 
socialmente incorporados pelo indivíduo. A ética teoriza sobre estes comportamentos de uma dada sociedade, 
em determinado momento histórico, na busca de sua essência. 
 Atuar eticamente, entretanto, vai muito além de não roubar ou não fraudar a empresa. A ética nos 
negócios inclui desde o respeito com que os clientes são tratados ao estilo de gestão do líder da equipe. A 
importância da ética nas empresas cresceu a partir da década de 80, com a redução das hierarquias e a 
conseqüente autonomia dada às pessoas. Os chefes, verdadeiros xerifes até então, já não tinham tanto poder 
para controlar a atitude de todos, dizer o que era certo ou errado. Por outro lado, o corte nos organogramas 
deixou menos espaço para as promoções. A disputa por cargos cresceu e, com ela, o desejo de “passar a perna” 
nos colegas para conseguir sobressair a qualquer custo. Assim, nos últimos anos, os escritórios viraram um 
campo fértil para a desonestidade, a omissão, a má conduta e a mentira. No nosso dia-a-dia, os sete pecados 
capitais (luxúria, ira, inveja, gula, preguiça, soberba e avareza) servem como uma espécie de parâmetro para o 
bom ou mau comportamento em sociedade. No universo corporativo, a falta de ética poderia muito bem entrar 
 
 
nessa lista. A maioria de nós age com honestidade simplesmente porque quer dormir com a consciência 
tranqüila ou, então, porque tem medo das conseqüências, que podem resultar em atos ilegais ou contrários à 
ética. 
 O fato, porém, é que cada vez mais essa é uma qualidade fundamental para quem se preocupa em ter 
uma carreira longa, respeitada e sólida. Quem está sempre atento às implicações éticas de cada decisão 
consegue desistir de uma empresa pouco confiável antes de se queimar. Pode recusar um projeto que causaria 
danos a sua imagem futura. Por outro lado, as organizações, cada vez mais, estão adotando o saudável hábito de 
checar e rechecar o passado de todos os candidatos ao emprego. Resultado: quem tem a ficha limpa sempre terá 
as portas abertas nas melhores empresas do mercado. 
 UM CONJUNTO DE VALORES 
 Mas afinal, o que é ser um profissional ético? 
 Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. “É ser altruísta, é estar 
tranqüilo com a consciência pessoal”, afirma o executivo e professor da USP Robert Henry Srour, que acaba de 
lançar o livro Ética Empresarial, pela Editora Campus. Ser ético é, também, agir de acordo com os valores 
morais de uma determinada sociedade. Essas regras morais são resultado da própria cultura de uma 
comunidade. Elas variam de acordo com o tempo e sua localização no mapa. A regra ética é uma questão de 
atitude, de escolha. Já a regra jurídica não prescinde de convicção íntima, as leis têm de ser cumpridas 
independentemente da vontade das pessoas. 
 Além de ser individual, qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais. 
Muitas dessas virtudes nasceram no mundo antigo e continuam válidas até hoje. Eis algumas das principais: 
1. Ser honesto em qualquer situação. “A honestidade é a primeira virtude da vida nos negócios”, afirma Robert 
Solomon, professor da Universidade do Texas, autor do livro A Melhor Maneira de fazer Negócios, da Negócio 
Editora. Afinal, a credibilidade é resultado de uma relação franca. 
2. Ter coragem para assumir as decisões. Mesmo que seja preciso ir contra a opinião damaioria. 
3. Ser tolerante e flexível. Muitas idéias aparentemente absurdas podem ser a solução para um problema. Mas 
para descobrir isso é preciso ouvir as pessoas ou avaliar a situação sem julgá-las antes. 
4. Ser íntegro. Significa agir de acordo com os seus princípios, mesmo nos momentos mais críticos. 
5. Ser humilde. Só assim a gente consegue ouvir o que os outros têm a dizer e reconhecer que o sucesso 
individual é resultado do trabalho da equipe. 
 
BIOÉTICA 
 
 A Bioética é um neologismo que significa ética da vida e surgiu numa época de questionamentos quanto 
aos vínculos (possíveis e/ou necessários) entre ética, ciência e política na resolução de “novos” problemas que 
surgiam no campo da medicina e da saúde pública, decorrentes das transformações tecnológicas e sociais 
vivenciadas, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Em conformidade com Barchifontaine e 
Pessini, a Bioética possui como características principais o fato de ser protetora da vida frente às inovações 
tecnológicas, tratar o homem como sujeito e não como objeto, ter caráter transdisciplinar e buscar a 
humanização das ciências da saúde. 
 Segundo Hubert Lepargneur a bioética é a resposta da ética aos novos casos e situações originadas da 
ciência no campo da saúde. 
 
 
 Poder-se-ia definir bioética como a expressão crítica do nosso interesse em usar convenientemente os 
poderes da medicina para conseguir um atendimento eficaz dos problemas da vida, saúde e morte do ser 
humano. 
 Assim, a bioética não é uma ciência autônoma e sim uma disciplina a serviço das biociências, na qual 
permite o estudo multidisciplinar da conduta humana na área das ciências da vida ( devendo entender-se como 
ciências da vida todas aquelas que têm por objeto a vida em suas diversas formas e todas as condutas a ela 
inerentes). Na bioética os valores e princípios morais são elementos indispensáveis. 
 Outro aspecto importante da Bioética é que ela não se encontra restrita às Ciências da Saúde. Desde que 
surgiu, o seu olhar está direcionado para a vida e conseqüentemente, para todas as áreas do conhecimento que, 
de uma forma ou de outra, tem implicações sobre a vida de todos nós. Por essa razão, nas sociedades 
constituídas para os estudos da Bioética e nos congressos, não há apenas médicos, dentistas, enfermeiros ou 
profissionais das áreas de saúde. Encontramos também, juristas, filósofos, sociólogos, psicólogos, teólogos, 
economistas, entre outros. 
 Para Vasconcellos, a grande tarefa da Bioética é fornecer meios para se chegar a uma escolha racional 
frente à disparidade existente entre opiniões morais referentes à vida, saúde e morte, em situações especiais, 
devendo essa determinação ser dialogada, compartilhada e decidida entre pessoas com valores morais diferentes 
em sociedades plurais. 
 Os diversos temas tratados pela Bioética podem ser classificados de acordo com Berlinguer em 
problemas das situações emergentes e problemas das situações persistentes. Os primeiros ocupam-se dos 
dilemas originados da contradição verificada entre o progresso biomédico desenfreado nos últimos anos e os 
limites ou fronteiras da cidadania e dos direitos humanos, como as fecundações assistidas, as doações e 
transplantes de órgãos e tecidos, a engenharia genética de animais e da própria espécie humana, entre inúmeras 
outras situações. A Bioética das situações persistentes analisa aqueles temas cotidianos que se referem à vida 
das pessoas e que persistem desde muito tempo – o racismo, a discriminação da mulher e do idoso, a eutanásia, 
o aborto e a exclusão social, dentre outros 
 
 
HISTÓRICO DA BIOÉTICA 
 
 A bioética surgiu nos Estados Unidos em 1971, quando o oncologista Van Rensselaer publicou um livro 
que abordava questões relacionadas com a vida e a morte das pessoas, diante do avanço acelerado de 
tecnologias e conhecimentos científicos, onde os aspectos morais e éticos, as vezes, não era abordado. 
 Os fatores que concorreram para o surgimento da Bioética podem ser divididos em três tipos distintos, 
mas inter-relacionados: a) os dilemas e escândalos envolvendo a assistência e as pesquisas biomédicas; b) as 
transformações ocorridas no processo de trabalho médico e na relação médico-paciente; e c) a ampla 
mobilização civil em torno da reforma dos costumes e dos valores das sociedades ocidentais, em particular a 
norte-americana 
 Após a revelação ao mundo das “experiências” nazistas, foi elaborado o primeiro texto de referência em 
Bioética de alcance internacional: o Código de Nuremberg, de 1947. Este código instituiu a obrigatoriedade do 
consentimento informado do indivíduo, submetido às experiências biomédicas, exigência que passaria a ser a 
base legal de todo o sistema da Bioética. Em 1964, foi elaborada a Declaração de Helsinque (revisada em 1975, 
1983, 1996 e 2000) que consiste em recomendações de orientação para médicos que participam de pesquisas 
 
 
biomédicas. Apesar da elaboração destes e de outros documentos e declarações internacionais que procuravam 
regulamentar a ética em pesquisa com seres humanos, os abusos continuaram a acontecer 
 Entre os diversos abusos cometidos, Molina
 
cita o estudo de Tuskegee, Alabama, realizado entre 1932-
1972, que foi conduzido pelo serviço de saúde pública dos Estados Unidos, no qual 400 pacientes negros 
sifilíticos deixaram de receber tratamento para que se pudesse analisar a história natural e a evolução da doença. 
Infelizmente, esses não foram fatos isolados na história da produção do conhecimento, valendo a pena citar 
ainda, entre tantos outros nefastos exemplos, a pesquisa com injeção de células cancerosas vivas em pacientes 
crônicos terminais, realizada no hospital Israelita de Nova York em 1963, com o propósito de aprender sobre a 
relação do sistema imunológico com o câncer, e o estudo no qual se introduzia o vírus da hepatite em crianças 
com deficiência mental com o objetivo de desenvolver uma vacina para a hepatite B, ocorrido no hospital 
estatal Willowbrook, também em NY, entre os anos de 1950 e 70. 
 Na Odontologia, podemos citar o estudo clássico realizado na Suécia para esclarecer a relação entre a 
ingestão de açúcar e o incremento de cárie. Este estudo foi realizado com 436 portadores de deficiências 
mentais, internados no Hospital de Vipeholm, durante um período de cinco anos (1946-1951). Com o 
conhecimento do governo social-democrata da época e sem consultar as famílias dos pacientes, os 
pesquisadores adicionaram açúcar na dieta dos internos, provocando um aumento de cárie em graus variados de 
acordo com o modo como era consumido (refrigerantes, pão, doce, caramelos; durante/após/entre as refeições). 
 Outro fato marcante que provocou uma enorme discussão na sociedade mundial, foi a realização do 
primeiro transplante de coração por Christian Barnard, em 1967, na África do Sul. Mesmo com a realidade dos 
transplantes de rim já estabelecida havia 15 anos, o transplante de coração levantou uma série de 
questionamentos éticos acerca do consentimento do doador e do próprio conceito de morte. 
 Em 1974 o governo norte-americano constituiu, via Congresso Nacional, uma comissão para a proteção 
dos seres humanos da pesquisa biomédica e comportamental, com o objetivo de “levar a cabo uma pesquisa e 
um estudo completo que identificassem os princípios éticos básicos que deveriam nortear a experimentação em 
seres humanos nas ciências do comportamento e na biomedicina”. Quatro anos depois, essa comissão 
apresentou o que ficou conhecido como o relatório Belmont (Belmont report), propondo que “três princípios 
éticos mais globais deveriam prover as bases sobre as quais formular, criticar e interpretar algumas regras 
específicas”. Esses três princípios foram: o respeito pelaspessoas (autonomia), a beneficência e a justiça
.
 
 Em relação à modificação na relação médico-paciente nos anos 60, citamos Durand
 
para quem a 
contribuição do desenvolvimento tecnobiológico nestas transformações é resultado de três fatores: o novo papel 
dos hospitais que passaram a se constituir na principal fonte de tratamentos médicos; a predominância da 
ciência e da tecnologia que modificaram marcadamente os diagnósticos e terapêuticas, e o desenvolvimento da 
especialização levando os médicos a se concentrarem em uma parte do corpo, esquecendo-se do conjunto. 
 Devido aos avanços biotecnocientíficos, a medicina passa a ser exercida com base em novas regras 
extraídas do espírito da racionalidade moderna. Abandona-se a figura do indivíduo doente e encontra-se a 
doença presente em alguma parte do corpo, ou seja, o verdadeiro médico não era mais aquele que assiste ao 
paciente, mas sim o que cura a doença. O órgão doente transforma-se no objeto exclusivo da atenção médica e 
mergulha-se fundo na busca do celular, do molecular, do DNA, enfim, do código da vida. 
 Dessa forma, a intervenção do médico migra do mundo do paciente para um universo impessoal 
preenchido por equipamentos que pertencem a uma entidade chamada hospital, que é dirigida por uma grande 
empresa ou pelo estado. Os inesgotáveis recursos terapêuticos produzidos por uma ávida indústria farmacêutica 
associada aos novos equipamentos para diagnóstico fizeram da clínica uma prática superada. A medicina passa 
a ser exercida cada vez mais por especialistas em áreas cada vez menores 
 
 
 Os anos 60 foram um período de importantes mudanças culturais e sociais. Com efeito, o 
questionamento do poder da ciência, em geral, e da medicina, em particular, ocorreu no interior de um amplo 
movimento de reforma de costumes e valores a atravessar as sociedades, em especial, a norte-americana. Este 
movimento amplo incluiu os movimentos específicos de reivindicação dos direitos civis por parte dos 
americanos de origem africana e das minorias étnicas; o movimento contra a guerra do Vietnã; os debates sobre 
os mísseis cubanos e a questão das armas nucleares; a renovação do movimento feminista que, associado à 
possibilidade de abortos seguros e aos contraceptivos modernos, levantou questões sobre os direitos 
reprodutivos das mulheres 
 As éticas aplicadas e a Bioética surgem exatamente como resposta às insuficiências das éticas 
tradicionais, as quais, quando não estavam confundidas com preceitos religiosos e baseadas mais na fé do que 
na razão, se reduziam a códigos profissionais (como é o caso do “código de ética médica”). Por esta razão não 
podiam dar conta dos novos desafios trazidos, por exemplo, pela emergência de uma cultura de autonomia 
individual e pelos avanços das tecnociências da vida, da saúde e do ambiente (Schramm, 2002). A ética se 
torna, então, mais pragmática, preocupada em oferecer maneiras razoáveis de chegar a acordos parciais entre as 
distintas concepções em conflito. 
 A extensão da Bioética aos outros países foi rápida, encontrando várias formas de expressão e inserção 
nas instituições de pesquisa e ensino. Atualmente, há mais de 200 centros de pesquisa em Bioética no mundo, e 
os bioeticistas são freqüentemente consultados por comissões governamentais e organizações profissionais. 
Muitos países possuem suas próprias associações de Bioética e os congressos nacionais ou internacionais sobre 
o tema se tornaram freqüentes. No caso do Brasil, temos a Sociedade Brasileira de Bioética oficialmente 
constituída em 18 de fevereiro de 1995. Nos tempos atuais, a bioética pode ser considerada tanto um 
movimento ou processo social como uma disciplina em busca de reconhecimento acadêmico. 
 Após estas considerações históricas, partirmos agora para a compreensão dos principais aportes teóricos 
nos quais se deu o desenvolvimento dos marcos conceituais da bioética. 
 Novas descobertas científicas e tecnológicas, muito divulgadas em nossos meios de comunicação, como 
clonagem de seres, fecundação assistida ( escolha do sexo, características físicas, etc.), pesquisa humana, 
alimentos transgênicos, entre outros, fez com que a discussão sobre o conceito de bioética fosse repensado. 
Assim podemos entender, segundo Jussara S. A.B.N. Ferreira, a bioética como a ética das biociências e 
biotecnologias que visa preservar a dignidade, os princípios e valores morais das condutas humanas, meios e 
fins defensivos e protetivos da vida, em suas várias formas, notadamente, a vida humana e a do planeta. 
 
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTO DA BIOÉTICA 
 
 Esta abordagem centra a Bioética em quatro princípios prima facie cuja aplicação pode levar à solução 
dos dilemas éticos em saúde: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça. Os dois primeiros princípios 
(beneficência e não-maleficência) já estão definidos na tradição hipocrática que regula a relação médico-
paciente. Já os outros dois princípios (autonomia e justiça), impõem-se no contexto das sociedades ocidentais 
contemporâneas, onde existem conflitos, não apenas entre indivíduos, mas também entre indivíduos e a 
coletividade. 
 A função dos princípios é servir como ferramentas para nortear o raciocínio quando o profissional se 
depara com um dilema ético. Segundo Goldim, a ética não toma a decisão, ela deve auxiliar o responsável pelo 
processo, balizando e indicando as diferentes alternativas. Para Lolas, a vantagem que tais princípios oferecem é 
 
 
uniformizar as bases a partir das quais se analisam casos concretos, contudo, nunca os casos são tão inequívocos 
a ponto de se adaptar exatamente ao que supostamente cada princípio cobre. 
Princípios da bioética 
 1- Princípio da beneficência: é o dever ético de não fazer mal – vale dizer a não maleficência. Refere-se 
ao sentido de maximizar benefícios e minimizar danos e prejuízos, à obrigação de prevenir danos e de não fazer 
o mal intencionalmente. Deve-se atender aos interesses do paciente ou do indivíduo submetido a pesquisa 
procurando evitar os danos com tratamentos que não sejam úteis e necessários. 
 2- Princípio da autonomia: é o respeito à autodeterminação humana, fundamentando a aliança 
terapêutica entre médico-paciente e o consentimento aos diversos tipos de tratamentos colocados a seu serviço. 
É o respeito pela pessoa, envolve a autonomia da vontade quer das pessoas capazes de deliberarem acerca da 
pesquisa, como também aqueles incapazes ou com a capacidade diminuída de tomarem uma decisão, devendo 
ser representados ou na impossibilidade de tal, gozarem de uma maior proteção, visando evitar abusos e danos. 
Neste princípio reconhecesse o respeito à vontade , valores morais, crenças humanas, e seu domínio pela 
própria vida. 
 3- Princípio da não-maleficência: diz respeito que qualquer ação não deverá ter a intenção primeira de 
causar dano a outros, isto é, não colocar em risco a saúde e a vida de outros intencionalmente. 
 4- Princípio da justiça: relaciona-se à justa distribuição dos benefícios dos serviços de saúde, resumindo-
se na obrigação de igualdade de tratamento, respeitadas as diferenças de situações clínicas. Refere-se a equidade 
“ na distribuição de bens e benefícios, no exercício da medicina e nos resultados das pesquisas científicas”. 
 
 No contexto latino-americano, a crítica ao individualismo subjacente ao privilégio do princípio de 
autonomia é feita a partir dos problemas éticos e políticos concretos de grande injustiça social, razão pela qual, 
se quiséssemos defender um autêntico modelo dos quatro princípios prima facie, deveríamos recuperar, 
sobretudo, o princípio da justiça, porquanto seja o mais “carente” de todos em nossa sociedade. Vinculado ao 
princípio de justiça seria importante considerar devidamente a dimensãopública dos vários problemas morais 
relativos ao efetivo bem-estar da coletividade humana 
 A Bioética e a Odontologia 
 Problemas éticos são muito freqüentes na prática odontológica e podem afetar vários aspectos na 
condução da prática clínica do ponto vista moral, profissional e econômico. 
 Os conflitos podem ser reduzidos a quatro sujeitos essenciais: o paciente, na sua individualidade; a 
comunidade, no que diz respeito ao coletivo; o cirurgião- dentista visto na sua ação pessoal e também coletiva, 
que se refere à categoria profissional no qual faz parte; e o Estado. O doente atua, ou pelo menos deveria atuar, 
numa sociedade democrática, guiado pelos princípios da autonomia e do direito; a comunidade funciona a partir 
do princípio de justiça; o cirurgião-dentista deve atuar pelos referenciais da beneficência, não-maleficência e da 
excelência (qualidade); e o Estado pelo dever ou responsabilidade. 
 Ao considerarmos em sentido macro, a ética em saúde bucal relaciona-se com o conjunto de decisões e 
medidas sanitárias que proporcionam ampliação da cidadania e superação da exclusão social. Já em sentido 
“micro”, o conhecimento e as aplicações práticas dos princípios bioéticos (autonomia, beneficência, não-
maleficência, justiça, dentre outros) atentam os profissionais para que sejam sensíveis ao diagnóstico e também 
à elaboração de planos de tratamentos adequados, opções terapêuticas, custos e, acima de tudo, ao bem-estar e 
promoção de saúde bucal de seus pacientes
.
 
 
A BIOÉTICA E A PRÁTICA ODONTOLÓGICA 
 
 
 
Autonomia: 
 É o direito soberano do paciente, uma vez de posse de todos os elementos relacionados com uma ou 
mais possibilidades ou propostas terapêuticas, de decidir livremente se as aceita ou não. Para que exista uma 
ação autônoma é necessária, portanto, a existência de alternativas de ação. Quando existe apenas uma 
alternativa, um único caminho a ser seguido, uma única forma de algo ser realizado, não há o exercício da 
autonomia. 
 No Brasil, as políticas de alocação e distribuição de recursos em saúde têm sido injustas e, 
conseqüentemente, tornou-se comum que os serviços públicos de assistência à saúde ofereçam extrações 
dentárias como única opção de tratamento, na maioria dos casos. Dessa forma, como será possível ao usuário 
deste sistema exercer a sua autonomia se não há escolhas a serem feitas? Também nos convênios e seguros 
saúde há limitação da livre escolha dos profissionais pelos pacientes, além de que, algumas vezes, o melhor 
tratamento para um determinado caso não é coberto pelo plano. Mesmo diante de tal circunstância deveria o 
profissional informar e orientar o paciente sobre o problema e as formas existentes de solucioná-lo, 
resguardando a ele o direito de saber o que se passa no próprio corpo. 
 A informação é a base da fundamentação das decisões autônomas dos indivíduos e devem ser fornecidas 
de forma clara e acessível, respeitando-se os padrões intelectuais e culturais do paciente, para que este possa 
consentir ou recusar-se a medidas ou procedimentos de saúde a ele impostos. Os pacientes não podem ser vistos 
como pessoas que não podem decidir autonomamente, e que nós, como profissionais de saúde, devemos decidir 
por eles. A colocação de limites à autonomia individual, mesmo com o objetivo de beneficiar uma pessoa, gera 
ações paternalistas. Aliás, a simples busca de auxílio do profissional de saúde não representa consentimento na 
aplicação de terapêuticas quaisquer. O instrumento de declaração de vontade do doente é o termo de 
consentimento livre e esclarecido, que é a manifestação do indivíduo que recebeu a informação necessária, que 
entendeu e que chegou a uma decisão, sem ter sido submetido à coação, influência, indução ou intimidação por 
parte do profissional de saúde
.
 
 Para respeitar a autonomia é preciso ainda reconhecer que ao indivíduo cabe possuir certos pontos de 
vista e que é ele quem deve deliberar e tomar decisões segundo seu próprio plano de vida e ação, embasado em 
crenças, aspirações e valores próprios. A autonomia, porém, não é um direito absoluto. Autonomia não é 
sinônimo de individualismo, pois o homem vive em sociedade. Se a ação de uma pessoa causar danos a outras 
não terá validade ética. Seus limites devem ser dados pelo respeito à dignidade e à liberdade dos outros e da 
coletividade. Além disso, poderá vir a se confrontar com a do profissional de saúde. 
 Em algumas situações o cirurgião-dentista tem todo o direito de negar-se a executar certos 
procedimentos solicitados pelo paciente, ou mesmo de declarar-se em desacordo com este e encerrar, 
definitivamente, a relação. Pode-se citar como o exemplo o caso de pacientes que exigem a extração de dentes 
sadios. 
Beneficência: 
 É o princípio por meio do qual o profissional deve ter em mente que todo ato ou ação deve, 
obrigatoriamente, trazer benefícios ao paciente. Entretanto, esses benefícios não devem ser pensados apenas 
como o resultado da realização de técnicas cirúrgicas ou reabilitadoras corretas. Na odontologia, estas estão 
comumente focadas no elemento dentário, desde seu tratamento reparador, extração, até sua substituição. 
Consideramos que o cirurgião- dentista deva ultrapassar o exclusivismo da técnica odontológica, dento-
centrada, para ser capaz de atuar em benefício da saúde bucal dos indivíduos, como recomenda Souza, ao 
 
 
propor a superação da “odontotécnica exclusiva” por uma ampliação da clínica em saúde bucal centrada no 
usuário. 
 A saúde bucal, como parte integrante e inseparável da saúde geral do indivíduo, é condicionada por uma 
variedade de fatores não-odontológicos. O estilo de vida, a cultura, o nível de educação, o nível de 
desenvolvimento sócio-econômico, o acesso aos serviços de saúde e à informação atuam diretamente no 
processo saúde-doença. Os padrões alimentares e hábitos de higiene pessoal são produzidos nos modos de vida 
da população. 
 Dessa forma, é necessário que os cirurgiões-dentistas compreendam a produção sócio- cultural de suas 
práticas e do processo saúde-doença. Como nos lembra Bastos, Peres e Ramires, os profissionais precisam 
mudar sua perspectiva de uma visão de tratar dentes para uma visão de tratar pessoas que são parte dos sistemas 
sociais. 
 O ensino odontológico em nível de graduação, no Brasil, ainda é caracterizado pela segmentação do 
conhecimento com a tendência cada vez maior de produzir especialistas. Para Weyne, a divisão da Odontologia 
em áreas estanques – as especialidades – que praticamente não se intercomunicam, fazem com que o paciente 
tenha sua boca tratada em parcelas e nunca como um todo, dentro de um outro todo que é o organismo. 
 Inegavelmente, houve um desenvolvimento técnico e científico acentuado nos últimos anos, mas a 
clínica praticada é restritiva. Camargo 
 
lembra-nos que estes avanços são freqüentemente desacompanhados de 
preocupação humanística e de reflexões éticas. 
 Uma mudança na formação odontológica pautada em postura ética não será possível ocorrer baseada 
apenas no estudo e na reflexão do código de ética odontológica (deontologia) como ocorre na maioria dos 
cursos de Odontologia. O comportamento moral é movido por valores, não pelo conhecimento da 
norma ou medo à punição. Dessa forma, segundo Amorim, para se criar uma consciência ética, alicerçada nos 
princípios de justiça, responsabilidade, respeito e solidariedade, entre outros, são precisas reflexões que 
extrapolem as questões puramente técnicas. 
Não-maleficência: 
 De acordo com o princípio da “não-maleficência”, o profissional deve, além de beneficiar, não causar 
danos aos pacientes. Este princípio é alvo de algumas controvérsias e muitos autores o incluem no princípio da 
beneficência, já que ao evitar o danointencional, o indivíduo já está, na realidade, visando o bem do outro. Ele 
deriva da máxima da ética médica “primum non nocere”, ou seja, “primeiro não causar danos”. Para Garrafa
37
, 
dois aspectos que estão diretamente relacionados a este princípio são a prudência e a omissão. A prudência é 
uma qualidade que evita acidentes e erros, enquanto que a omissão torna-se moralmente reprovável quando o 
profissional deixa de realizar uma determinada ação e a partir disto criam-se condições de riscos para o 
desenvolvimento de situações lesivas. 
 Tomamos como exemplo as medidas de biossegurança no trabalho. Considerando a ampla divulgação 
das normas de biossegurança e do conhecimento sobre os riscos de contaminação por vírus como o HIV e HBV, 
não é aceitável que profissionais de saúde, no decorrer da realização dos seus procedimentos, negligenciem os 
cuidados de proteção a si mesmo, a sua equipe e principalmente ao seu paciente. No entanto, muitas vezes essas 
normas de saúde não são respeitadas resultando em situações de risco e imprudência com todos os envolvidos 
no processo de trabalho. 
 Outra situação que podemos considerar nesta reflexão diz respeito às dificuldades de diagnóstico do 
câncer bucal nos serviços de saúde. No que tange às responsabilidades do profissional de saúde bucal, não 
estaria ocorrendo omissão à medida que lesões pré- cancerosas ou cancerosas são deixadas de serem 
diagnosticadas precocemente, o que poderia melhorar em muito o prognóstico e a taxa de sobrevida dos 
 
 
portadores dessas lesões? Sabe-se que as causas do diagnóstico tardio são variadas, mas o rápido exame das 
estruturas bucais de pacientes considerados de risco na rotina dos sistemas de saúde seria fundamental. 
 Segundo Beachamp e Childres, para os profissionais da área da saúde, os padrões legais e morais da 
devida assistência incluem treinamento adequado, habilidade e diligência. Ao oferecer os seus serviços, um 
médico aceita as responsabilidades de observar esses padrões; se sua conduta estiver abaixo deles, o médico 
está agindo de modo negligente. 
 Consideramos que esta questão também é extensiva aos profissionais de saúde de uma forma geral, em 
particular, o cirurgião-dentista. 
 O cirurgião-dentista precisa se manter sempre atualizado em seus conhecimentos e deve se negar a 
realizar procedimentos para os quais não estejam capacitados tecnicamente, pois como afirmam Gjermo e 
Bellini ,é imperativo que as intervenções realizadas pelos dentistas não causem mais problemas do que aqueles 
que se pretendem resolver. 
 Outro aspecto importante é o desenvolvimento tecnológico e de materiais associados ao consumo 
acrítico, que pode vir a se tornar uma questão ética. Antes de testar um novo material no tratamento do paciente 
ou realizar uma técnica amplamente divulgada nos meios de comunicação, como as da chamada “odontologia 
estética” ou “cosmética”, procurar saber se tais procedimentos têm comprovação científico. Algumas vezes, 
podem surgir problemas advindos do uso dessas técnicas e produtos, com respectivos desdobramentos e/ou 
repercussões negativas sobre a saúde. 
 Outra questão relevante diz respeito à concorrência profissional na disputa no mercado por pacientes e 
postos de trabalho. Com o excedente de mão de obra nas grandes cidades e conseqüente aumento da 
competitividade, é cada vez mais comum o credenciamento de cirurgiões-dentistas a planos e seguros de saúde 
a valores irrisórios e a contratação de profissionais recém-formados em clínicas populares. Agrega-se à baixa 
remuneração da categoria, a produtividade, e nesta díade produção-remuneração profissionais passam a atender 
um número maior de indivíduos, muitas vezes negligenciando preceitos técnico- científicos fundamentais ao 
exercício de sua profissão. Para Gjermo e Bellini, um cirurgião- dentista na condição de “subempregado” pode 
ainda sentir a tentação de sugerir um tratamento que não é necessário, ou que não seja necessariamente o 
melhor para o paciente, e até mesmo incluir em seu orçamento procedimentos que não foram realizados como 
uma forma de aumentar a renda mensal. Consideramos que à díade produção-remuneração, associa-se o lucro 
do patrão (donos de clínicas, empresas, planos de saúde). A tríade produção-remuneração-lucro pode ser 
propulsora da infração ética ao princípio da não- maleficência. 
Justiça: 
 O princípio da justiça refere-se ao compromisso ético público frente a temas como universalidade, 
equidade, prioridade no investimento em saúde, distribuição e alocação em recursos, aplicação de verbas e 
outros. 
 Beauchamp e Childress
 
entendem este princípio como sendo a expressão da justiça distributiva, ou seja, 
a distribuição justa, eqüitativa e apropriada na sociedade de acordo com normas que estruturam os termos de 
cooperação social. 
 Entretanto, embora a odontologia tenha conseguido avanços muito significativos tanto no diagnóstico e 
tratamento das patologias orais, quanto no campo da prevenção, a prática odontológica tem concentrado a oferta 
de serviços junto aos grupos de melhor situação sócio- econômica, tendo como um dos seus efeitos mais 
notórios a limitação do alcance das inovações tecnológicas na sociedade. 
 Isto acontece por que a prestação do atendimento odontológico e a atenção à saúde bucal são realizadas, 
na sua maioria, por cirurgiões-dentistas inseridos no livre mercado, isto é, regulados pela lei da oferta e da 
 
 
procura através da livre competição de qualidade e preços. Esta forma de organização da assistência 
odontológica, portanto, não responde à resolução em níveis significativos dos problemas de saúde bucal da 
população, pois é de alto custo, baixo rendimento e cobertura, e apresenta enfoque curativo. 
 Siqueira
 
afirma que os cuidados com a saúde não podem figurar como simples variáveis das leis de 
mercado. Na constituição de 1988, artigo 196, foi estabelecido que a saúde é direito de todos e dever do Estado, 
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos 
e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde, este último sendo possível a partir da 
organização e funcionamento do SUS. 
 Sabemos que a implementação do SUS com a efetivação de seus princípios ocupa a disputa na arena 
neoliberal, na qual o mercado busca atrair para si a saúde enquanto mercadoria e os movimentos sociais, em 
especial, os grupos que defendem a Reforma Sanitária, buscam fazer valer a lei que garante saúde como direito 
de cidadania. 
 No entanto, ainda se observa a ineficiência dos serviços proporcionados pelo Estado no sentido de 
priorização da saúde bucal, restando à maioria da população que procura o setor público de assistência à saúde, 
as mutilações decorrentes das exodontias que são, em muitos casos, a única opção terapêutica disponível. 
 Garrafa analisando o desenvolvimento histórico da Odontologia considera que esta é tecnicamente 
elogiável (pelo nível de qualidade e sofisticação inegavelmente alcançadas nas diversas especialidades), 
cientificamente discutível (uma vez que não tem demonstrado competência para expandir esta qualidade para a 
maioria da população) e socialmente caótica (pela inexistência de impacto social frente às iniciativas e 
programas públicos e coletivos implementados). Tais constatações nos levam a preocupação de que a 
universalização do acesso aos serviços de saúde bucal exige também mudanças no conteúdo de suas práticas 
 Para Vasconcellos, é necessário instituir uma Odontologia mais social e menos elitista, baseada numa 
real responsabilidade ética e de cidadania, formando profissionais voltados para o bem-estar social, ao 
entendimento do ser humano, suas necessidades e expectativas, inserindo o papel docirurgião-dentista como 
promotor de saúde da população. 
 
 
EXPERIMENTAÇÃO COM SERES HUMANOS 
 
 RESOLUÇÃO No 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012. 
 Declaração de Helsinque, FORTALEZA, 2013 
 
 O avanço da medicina rumo à determinação de novos tratamentos clínicos e cirúrgicos e novos métodos 
de diagnósticos envolve a experimentação em seres humanos. A experimentação em animais não humanos, os 
modernos modelos matemáticos e estatísticos e o uso intensivo da informática não conseguiram excluir a fase 
final de experimentar em seres humanos. 
 O rigor científico, refletido no rigoroso delineamento da pesquisa, há que ser obedecido em qualquer 
tipo de experimento. Modelos matemáticos para determinação do número de amostra, randomização, uso de 
placebo, washout, duplo-cego, tempo de seguimento e etc. são aspectos rotineiramente aplicados e avaliados 
nos experimentos em seres humanos.O uso de seres humanos em experimentos científicos traz inegáveis 
benefícios para a sociedade. No entanto, há sempre o conflito entre o indivíduo submetido à experimentação e a 
ciência. 
 
 
 A ciência não está isolada da sociedade e, portanto, sofre influências políticas, econômicas, ideológicas, 
étnicas e etc. Os experimentos conduzidos por médicos alemães durante o regime nazista, em prisioneiros 
raciais, políticos e militares é o maior exemplo do século XX em que a balança pendeu radicalmente para o 
interesse da “sociedade” em detrimento dos interesses do indivíduo. 
 Devemos sempre lembrar que o objetivo da pesquisa é melhorar a saúde e o bem-estar dos pacientes e 
nunca causar danos ou submetê-los a graves riscos para obter esses objetivos. 
 Apesar da regulamentação institucional da pesquisa em seres humanos no ano de 1900 na antiga Prússia, 
o primeiro documento internacional sobre esse tema é o Código de Nuremberg, editado pelo Tribunal de 
Nuremberg em 1947, no qual constam 10 itens com recomendações que os médicos devem seguir nos 
experimentos em seres humanos. 
 O Tribunal de Nuremberg, que julgou os crimes de guerra da Segunda Guerra Mundial em 1947, 
elaborou o Código de Nuremberg , estabelecendo dez tópicos que os médicos devem seguir quando realizam 
experimentos em seres humanos. O primeiro, maior e mais detalhado, explicita que “O consentimento 
voluntário dos sujeitos humanos é absolutamente necessário”. Não há referências que protocolos de pesquisa 
em seres humanos devem ser aprovados previamente por comissão independente e nem referências relativas à 
publicação dos resultados desses estudos. 
 A Declaração de Helsinque da Associação Médica Mundial, de 1964, (revisada diversas vezes, sendo a 
última edição aprovada na 48a Assembléia Geral na República da África do Sul em 1996), afirma que 
protocolos de pesquisa em seres humanos devem ser analisados por comitê independente do investigador e que 
“relatos de experimentação fora dos princípios desta Declaração não devem ser aceitos para publicação”. 
 O Código de Ética Médica Brasileiro, de 1988, contém capítulos referentes à pesquisa médica e ao 
trabalho científico. No que diz respeito à pesquisa médica (nove artigos), faz referências ao consentimento e à 
necessidade de que os protocolos de pesquisa sejam submetidos à aprovação e acompanhamento por comissão 
independente do pesquisador. No capítulo sobre trabalho científico, não há referência aos aspectos éticos para 
fins de publicação de resultados de estudos em seres humanos. O Código de Ética dos profissionais de 
enfermagem e o Código de Ética Odontológica assinalam a necessidade do consentimento informado para a 
realização de pesquisas em seres humanos. 
 A Resolução 466, que incorpora vários conceitos da bioética e mantém o consentimento do indivíduo e a 
necessidade de aprovação prévia por ComiTê de Ética. 
 Apesar de todos esses documentos serem referências oficiais para os pesquisadores, a preocupação com 
os aspectos éticos da pesquisa em seres humanos no Brasil, principalmente em relação à aprovação por 
comissões ou comitês de ética, sofreu grande impacto com a exigência de diversas revistas científicas 
internacionais, notadamente as de língua inglesa, por somente aceitarem, para análise e possível publicação, 
estudos cujos protocolos tenham sido aprovados previamente por comissões institucionais. 
 A publicação ou não de artigos considerados eticamente inadequados é polêmica antiga no meio 
científico e, no entanto, permanece extremamente atual. Houve, contudo, nítida mudança no enfoque, uma vez 
que não mais se debate a publicação ou não de artigos clara e genericamente considera- dos não-éticos, mas sim 
se as revistas científicas devem publicar pesquisas que não incluem, na sua execução, o consentimento 
informado ou não foram analisadas e aprovadas por comitês de ética institucionais. 
 Nas últimas duas décadas tem havido, entre os editores de revistas científicas internacionais, constante 
preocupação em estabelecer orientações padronizadas para a elaboração de manuscritos a serem submetidos 
para análise, objetivando publicação, sendo fruto desse esforço o Comitê Internacional de Editores de Revistas 
Médicas, o qual edita os “Requisitos uniformes para manuscritos submetidos às revistas biomédicas” 
 
 
(RUMSRB), atualmente seguido por mais de 500 revistas, inclusive no Brasil. As orientações dos RUMSRB 
fazem referência explícita à Declaração de Helsinque e aos comitês responsáveis por experimentação humana 
(regional ou institucional). É solicitado, ainda, às revistas que concordam com os RUMSRB, que o documento 
seja citado em suas Instruções aos Autores. 
 Atualmente, grande parte das revistas científicas da área de medicina e biomedicina de língua inglesa 
fazem referência aos aspectos éticos da pesquisa em seres humanos em suas Instruções aos Autores. Não foi 
possível encontrar na literatura científica brasileira publicações que estudas- sem o impacto e a presença dos 
paradigmas atuais da bioética na prática editorial. Diante desse quadro, decidimos analisar, a partir das 
Instruções aos Autores de revistas científicas brasileiras das áreas de medicina, biomedicina, enfermagem, 
odontologia e ciências gerais, os aspectos éticos relacionados às pesquisas em seres humanos . 
 O estabelecimento de orientações éticas precisas e claras acoplado à exigência de que os autores dos 
artigos informem os procedimentos éticos adotados no desenvolvimento da pesquisa, principalmente a obtenção 
do consentimento esclarecido e a aprovação por comitê independente, signifi- caria que a revista científica 
privilegia os pesquisadores preocupados com a ciência e a ética 
 As revistas científicas podem e devem colaborar nessa tarefa, estabelecendo recomendações éticas mais 
amplas e detalhadas a serem seguidas pelos pesquisadores que pretendam publicar os resultados de seus 
estudos. 
 
INÍCIO DE VIDA 
 
Quando começa a vida: visão panorâmica 
 Ninguém é capaz sequer de explicar o que é a vida. Por mais de 2 mil anos, essa indefinição foi motivo 
de inquietação só para poucos filósofos. Em geral, nos contentamos em falar que vida é vida e pronto. Hoje, 
porém expressões como “proveta” e “manipulação genética” estão cada vez mais presentes no cotidiano, e a 
pergunta sobre o que é a vida, e quando ela começa, virou uma polêmica que vai guiar boa parte da sociedade 
em que vamos viver. A resposta sobre a origem de um indivíduo será decisiva para determinar se aborto é crime 
ou não, e se é ético manipular embriões humanos em busca da cura para doenças como o mal de Alzheimer e 
deficiências físicas. 
 Ter embriões estocados em laboratório é um evento tão novo e diferente para a humanidade que ainda 
não tivemos tempo de amadurecer essa ideia. Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser,com 
um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozoide. 
 Quando começa a vida: cinco respostas da ciência 
1. Visão genética:a vida humana começa na fertilização,quando espermatozoide e óvulo se encontram e 
combinam seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único. Assim é criado um novo 
indivíduo, um ser humano com direitos iguais aos de qualquer outro. É também a opinião oficial da Igreja 
Católica. 
2 .Visão embriológica : a vida começa na terceira semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade 
humana. Isso porque até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou 
mais pessoas. É essa ideia que justifica o uso da pílula do dia seguinte e contraceptivos administrados nas duas 
primeiras semanas de gravidez. 
 3. Visão neurológica: o mesmo princípio da morte vale para a vida. Ou seja, se a vida termina quando cessa a 
atividade elétrica no cérebro, ela começa quando o feto apresenta atividade cerebral igual à de uma pessoa. O 
 
 
problema é que essa data não é consensual. Alguns cientistas dizem haver esses sinais cerebrais já na 8a 
semana; outros, na 20a. 
4. Visão ecológica: a capacidade de sobreviver fora do útero é que faz do feto um ser independente e determina 
o início da vida. Médicos consideram que um bebê prematuro só se mantém vivo se tiver pulmões prontos, o 
que acontece entre a 20a e a 24a semana de gravidez. Foi o critério adotado pela Suprema Corte dos EUA na 
decisão que autorizou o direito ao aborto. 
5. Visão metabólica: a firma que a discussão sobre o começo da vida humana é irrevelante, uma vez que não 
existe um momento único no qual a vida tem início. Para essa corrente, espermatozoides e óvulos são tão vivos 
quanto qualquer pessoa. Além disso, o desenvolvimento de uma criança é um processo contínuo e não deve ter 
um marco inaugural. 
As respostas da religião 
 1. Catolicismo: a vida começa na concepção, quando o óvulo é fertilizado, formando um ser 
humano. Por mais de uma vez, o papa Bento XVI reafirmou a posição da Igreja contra o aborto e a manipulação 
de embriões. Segundo o papa, o ato de “negar o dom da vida, de suprimir ou manipular a vida que nasce é 
contrário ao amor humano”. 
 2. Judaismo:“A vida começa apenas no 40°dia,quando acreditamos que o feto começa a adquirir 
forma humana”, diz o Rabino Shamai, de São Paulo. “Antes disso, a interrupção da gravidez não é considerada 
homicídio”. Dessa forma, o judaísmo permite a pesquisa com células-tronco e o aborto quando a gravidez 
envolve risco de vida para a mãe ou resulta de estupro. 
 3. Islamismo:o início da vida acontece quando a alma é soprada por Alá no feto, cerca de 120 dias 
após a fecundação. Mas há estudiosos que acreditam que a vida tem início na concepção. Os muçulmanos 
condenam o aborto, mas muitos aceitam a prática, principalmente quando há risco para a vida da mãe. E tendem 
a apoiar o estudo com células-tronco embrionárias. 
 4. Budismo: a vida é um processo contínuo e ininterrupto. Não começa na união de óvulo e 
espermatozoide, mas está presente em tudo o que existe – nossos pais e avós, as plantas, os animais e até a água. 
No budismo, os seres humanos são apenas uma forma de vida que depende de várias outras. Entre as correntes 
budistas, não há consenso sobre aborto e pesquisas com embriões. 
 5. Hinduísmo: alma e matéria se encontram na fecundação e é aí que começa a vida. E como o 
embrião possui uma alma, deve ser tratado como humano. Na questão do aborto, hindus escolhem a ação menos 
prejudicial a todos os envolvidos: a mãe, o pai, o feto e a sociedade. Assim, em geral se opõem à interrupção da 
gravidez, menos em casos que colocam em risco a vida da mãe. 
Ponto de vista ético relativo ao embrião 
 O problema ético relativo ao embrião pode ser formulado da seguinte maneira. O embrião humano é um 
membro da comunidade moral e, se sim, quais as condições? Eis alguns posicionamentos: 
 1. O embrião humano deve ser considerado como pessoa e pertence à comunidade moral. Essa posição 
não reconhece diferença de estatuto moral entre os diversos estados de desenvolvimento humano (embrião, feto, 
recém-nascido, criança, adulto...). Desde a concepção, o óvulo fertilizado se torna membro da comunidade 
moral humana. Assim, o embrião humano é sagrado. Essa posição ética condena a pesquisa experimental sobre 
os embriões bem como o aborto. 
 2. O embrião humano é uma coisa. Essa posição, sem dúvida, cresceu por causa das novas técnicas de 
reprodução artificial. O embrião in vitro pode ser transferido, congelado, estocado, utilizado com fins de 
pesquisa. Essa posição é defendida, notadamente, pelo filósofo Peter Singer. Para defender esse argumento, 
Singer usa os critérios de início e fim da vida humana. 
 
 
Desde os anos de 1960, a morte cerebral tornou-se o novo critério de morte. Segundo Singer, precisamos aplicar 
o mesmo princípio para definir o início da vida humana. Se a vida humana termina com a desaparição definitiva 
das funções cerebrais, ela deve iniciar com a aparição das primeiras funções cognitivas ligadas à organogênese 
cerebral: se a medicina reconhece que a perda funcional do cérebro é uma base suficiente para declarar que não 
há mais uma pessoa viva no corpo, então por que não utilizar o mesmo critério na outra extremidade da 
existência? Singer sugere que o embrião seja considerado como uma coisa, e não como pessoa, até a aparição 
das primeiras funções cerebrais. 
 3. O embrião humano é uma simples entidade biológica se ele não for investido de um projeto parental 
de criança, mas é uma pessoa potencial se ele for investido de um projeto de criança. Se ele não for investido de 
um projeto de criança, o embrião fica uma simples entidade biológica e pode ser empregado como material com 
fim de experimentação científica. 
 No cerne da discussão ética, a pergunta: o embrião em estágio muito precoce de desenvolvimento é 
vida? Como foi visto, para a Igreja Católica a vida já existe no encontro de um óvulo com um espermatozoide. 
Entre os protestantes, não há preocupação em sacralizar o embrião, mas o interesse no desenvolvimento e na 
saúde da mulher. Os judeus são mais liberais com relação a práticas de reprodução assistida e privilegiam a 
saúde da mãe quando o filho in utero é sinônimo de estresse moral ou risco físico para ela. Cientistas como 
René Frydman, professor da Universidade de Paris V, preferem definir o embrião como “potencialidade de 
pessoa”, “um quase nada” que pode se tornar “um quase tudo”. “Portador de um projeto de família, ele é 
sagrado. Sem projeto, sem futuro, ele não é um nada, mas „um quase nada‟”. 
Quando começa a pessoa? 
Numa análise fenomeno lógica do aborto, se o questionamento a respeito do começo da vida humana é 
difícil de ser decidido com bases irrefutáveis, mais complexo ainda é determinar quando começa a pessoa, se 
essa distinção entre a vida humana e a vida pessoal tiver alguma relevância no caso. Não temos dados 
convincentes para decidir quando começa a pessoa, por isso o Magistério da Igreja Católica considera como 
mais seguro que a pessoa exista desde a fertilização, quando aparece um genótipo distinto do pai e da mãe. Qual 
o momento em que o embrião deve ser considerado como pessoa? Até hoje, nem a ciência nem a teologia têm 
uma resposta exata. 
Posição do magistério da Igreja Católica 
A posição do Magistério da Igreja Católica não foi sempre unânime. Assim, Santo Agostinho dizia, no século 
IV, que só a partir de 40 dias após a fertilização podia-se falar em pessoa (unidade corpo-espírito ou 
hominização) para o feto masculino. Para o feto feminino, exigia-se o dobro, 80 dias para falar-se em pessoa. 
São Tomás de Aquino reafirmou, no séculoXIII, que não se pode reconhecer como humano o embrião que 
ainda não completou 40 dias, quando então lhe é infundida a “alma racional”. Essa posição virou a doutrina 
oficial da Igreja Católica a partir do Concílio de Trento (encerrado em 1563). Mesmo assim, sempre foi 
contestada por outros teólogos que, baseados na autoridade de Tertuliano (século III) e de Santo Alberto Magno 
(século XIII), defendiam a hominização imediata, ou seja, desde a fertilização trata-se de um ser humano em 
processo. Santo Afonso de Ligório, que morreu em 1787, admitia o aborto terapêutico, caso a vida da mãe 
corresse risco imediato. Contudo, essa discussão sobre o feto “inanimado” (que ainda não teria alma) encerra-se 
oficialmente com a divulgação da “Apostolica Sedia” em 1869, na qual o papa Pio IX condena toda e qualquer 
interrupção voluntária da gravidez. Neste século, introduziu-se a discussão sobre aborto direto e indireto. Roma 
passa a admitir o aborto indireto, em caso de gravidez tubária ou de câncer no útero. Matar diretamente o feto é 
sempre proibido. A extirpação de um câncer do útero ou a preservação da vida da mãe exigem por vezes 
 
 
medidas que não matam diretamente o embrião, mas têm por consequência “indireta”(porque não querida por 
si) a expulsão do mesmo, não viável. 
 
 
 Início da Proteção Jurídica – Legislação e Jurisprudência 
 
A legislação brasileira é uma das mais avançadas do mundo ao tratar da proteção da vida humana ao rezar que o 
bem estar de todos, além de um direito é um dos objetivos fundamentais da Carta Magna, conforme preconiza o 
artigo 3º, littheris: 
 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação. 
(grifo nosso) 
Conforme se verifica, a Constituição não determina a partir de quando se inicia a proteção jurídica ao ser 
humano. Entretanto, de outra sorte temos o Código Civil pátrio que no seu artigo segundo preconiza o que 
segue, littheris: 
 
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a 
concepção, os direitos do nascituro. 
 
Ao elencar de forma expressa e clara a proteção jurídica que é dada ao nascituro, o legislador foi ao encontro ao 
que pensa jurista de grande quilate, como o alemão Claus Roxin, em conferência [17] realizada no Rio de 
Janeiro em março de 2002, aduziu que "é inquestionável que, com a união do óvulo e do espermatozóide, surge 
uma forma de vida que já carrega em si todas as disposições para tornar-se um homem futuro". "Daí, continua 
Roxin, deduzo que um tal embrião tem de participar, em até certo grau, na proteção e na dignidade do homem 
já nascido". 
A questão do início da proteção jurídica da vida humana, como dissemos em linhas anteriores, é bastante 
complexa e eivada de posições dicotômicas. Prova disto é que recentemente no Brasil este tema ocupou grande 
espaço na mídia, em virtude de uma ADIN (Ação Direita de Inconstitucionalidade) que o Procurador-Geral da 
República, à época, ingressou no Supremo Tribunal Federal, sob o número 3.510, em 16 de maio de 2005. O 
que ensejou a referida ADIN foi o fato de o Procurador Geral considerar inconstitucional o artigo 5º da Lei de 
Biossegurança que reza: 
 
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de 
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as 
seguintes condições: 
I – sejam embriões inviáveis; ou 
 
 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados 
na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. 
§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco 
embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de 
ética em pesquisa. 
§ 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime 
tipificado no art. 15 da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. 
O Procurador-Geral alegou, dentre outros motivos, que "a vida humana acontece na, e a partir da fecundação", 
desenvolvendo-se, a partir de então, de forma contínua. Na mesma peça o Procurador ainda alegou que: 
* o zigoto, constituído por uma única célula, é um "ser humano embrionário"; 
* é no momento da fecundação que a mulher engravida, acolhendo o zigoto e lhe propiciando um ambiente 
próprio para o seu desenvolvimento; 
* a pesquisa com células-tronco adultas é, objetiva e certamente, mais promissora do que a pesquisa com 
células-tronco embrionárias. 
De outra sorte, o Ministro Relator, Aires Brito, entendeu que a "a vida humana é o fenômeno que transcorre 
entre o nascimento e a morte cerebral. No embrião o que se tem é uma vida vegetativa que se antecipa ao 
cérebro". De uma forma bastante técnico-biológico, o Relator aduziu ainda que, "O zigoto não pode antecipar-
se à metamorfose. Seria ir além de si mesmo para ser outro ser. Citou ainda que. "Ninguém afirma que a 
semente já é planta ou que a crisálida é uma borboleta", afirmou. "Não há pessoa humana embrionária, mas 
um embrião de pessoa humana. Esta sim, recebe tutela constitucional, moral, biográfica, espiritual, é parte do 
todo social, medida de todas as coisas". 
. 
ABORTO 
 
 Atualmente no Brasil o aborto é considerado crime, exceto em duas situações: de estupro e de risco de 
vida materno. A proposta de um Anteprojeto de Lei, que está tramitando no Congresso Nacional, alterando o 
Código Penal, inclui uma terceira possibilidade quando da constatação anomalias fetais. 
 
Tipos de Aborto: 
1. Interrupção eugênica da gestação (IEG): são os casos de aborto ocorridos em nome de práticas eugênicas, isto 
é, situações em que se interrompe a gestação por valores racistas, sexistas, étnicos, etc. Comumente, sugere-se o 
praticado pela medicina nazista como exemplo de IEG quando mulheres foram obrigadas a abortar por serem 
judias, ciganas ou negras (1). Regra geral, a IEG processa-se contra a vontade da gestante, sendo esta obrigada a 
abortar; 
2. Interrupção terapêutica da gestação (ITG): são os casos de aborto ocorridos em nome da saúde materna, isto 
é, situações em que se interrompe a gestação para salvar a vida da gestante. Hoje em dia, em face do avanço 
científico e tecnológico ocorrido na medicina, os casos de ITG são cada vez em menor número, sendo raras as 
situações terapêuticas que exigem tal procedimento; 
3. Interrupção seletiva da gestação (ISG): são os casos de aborto ocorridos em nome de anomalias fetais, isto é, 
situações em que se interrompe a gestação pela constatação de lesões fetais. Em geral, os casos que justificam 
 
 
as solicitações de ISG são de patologias incompatíveis com a vida extra-uterina, sendo o exemplo clássico o da 
anencefalia (2); 
4. Interrupção voluntária da gestação (IVG): são os casos de aborto ocorridos em nome da autonomia 
reprodutiva da gestante ou do casal, isto é, situações em que se interrompe a gestação porque a mulher ou o 
casal não mais deseja a gravidez, seja ela fruto de um estupro ou de uma relação consensual. Muitas vezes, as 
legislações que permitem a IVG impõem limites gestacionais à prática. 
 
A resposta ao aborto pode dividir-seem quatro fases: 
 uma fase de 
curta durac ; 
 uma fase que dura semanas ou mesmo meses mas sem qualquer tipo de intervenc
 
aqui que podem surgir os sentimentos de culpa; 
3a) cor fase da doenc transforma-se em doenc classificada 
como doenc -
 o aborto; 
4a) aparece algum t descrita como um luto reactivado 
 
 No Brasil, o Código Criminal do Império, de 1830, previa punição apenas ao aborteiro (pena de 1 a 5 
anos), duplicada na hipótese de ser o ato executado sem o consentimento da mulher. A mulher era isenta de 
punição. 
 
 Com o advento do Código Penal de 1890, foi estendido à mulher a possibilidade de punição pela prática 
do aborto. Entretanto, nos casos em que o ato fosse praticado para ocultar desonra própria (arts. 300 e 301), a 
pena da mulher era atenuada. Praticado o crime por médico ou parteira legalmente habilitada, a pena era 
agravada. Nos casos em que do aborto resultasse a morte da gestante, por imperícia ou negligência, mesmo nas 
hipóteses permitidas em lei, havia a previsão de agravamento da pena (art. 302). 
 
 Na atualidade, o aborto é tratado pela legislação brasileira como crime, com previsões nos artigos 124 a 
128 do Código Penal de 1940. Três são as modalidades de aborto, segundo a legislação penal: aborto provocado 
pela gestante; aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante; aborto provocado por terceiro, 
com o consentimento da gestante. Em duas situações o legislador entende lícita a prática de conduta de 
abortamento, a saber: a) quando a gravidez resulta de estupro e há o consentimento da gestante ou de seu 
representante legal, conhecido como aborto sentimental; b) quando não há outra forma de salvar a vida da 
gestante, denominado de aborto necessário ou terapêutico. 
 Porém, não é qualificado como crime quando praticado por médico capacitado em três situações: quando 
há risco de vida para a mulher causado pela gravidez, quando a gravidez é resultante de um estupro ou se o feto 
for anencefálico . 
 Nesses casos, o governo Brasileiro fornece gratuitamente o aborto legal pelo Sistema Único de Saúde.
[6]
 
Essa permissão para abortar não significa uma exceção ao ato criminoso, mas sim uma escusa absolutória.
[7]
 
 
 Ao nos depararmos com situações como a relatada, importante se torna conhecer os procedimentos 
utilizados para a interrupção da gravidez, a saber: 
 
 
 
“a) gestação < 12 semanas: curetagem uterina ou aspiração intrauterina (AMIU). O uso do misoprostol via 
vaginal pode induzir o aborto ou, no mínimo, facilitar o processo de esvaziamento. 
 
“b) gestação entre 13 e 20 semanas: indução prévia com misoprostol associado ou não à ocitocina. Curetagem 
uterina após a eliminação do concepto. 
 
“c) gestação de mais de 20 semanas: não se recomenda a interrupção, da gestação. Deve-se oferecer 
acompanhamento pré-natal e psicológico, procurando-se facilitar os mecanismos de adoção se a paciente assim 
o desejar” . 
 
 Projeto de reforma do Código Penal, em tramitação no Congresso Nacional, acrescenta um terceiro 
inciso ao art. 128, prevendo a exclusão da ilicitude no caso de aborto motivado por anomalia fetal grave, que 
vem merecendo a denominação de aborto piedoso. 
 
A redação da proposta é a seguinte: 
 
“Art. 128. Não constitui crime o aborto praticado por médico se: 
 
“I – não há outro meio de salvar a vida ou preservar a saúde da gestante; 
 
“II – a gravidez resulta de violação da liberdade sexual, ou do emprego não consentido de técnica de reprodução 
assistida; 
 
“III – há fundada probabilidade, atestada por dois outros médicos, de o nascituro apresentar graves e 
irreversíveis anomalias físicas ou mentais. 
 
“§ 1º – Nos casos dos incisos II e III e da segunda parte do inciso I, o aborto deve ser precedido de 
consentimento da gestante, ou quando menor, incapaz ou impossibilitada de consentir, de seu representante 
legal, do cônjuge ou de seu companheiro; 
 
“§ 2º – No caso do inciso III, o aborto depende, também, da não oposição justificada do cônjuge ou 
companheiro.” 
 
José Roberto Goldim, em texto intitulado Aborto no Brasil, analisa: 
 
 A nova redação proposta pode dar margem a diferentes interpretações. No inciso I, por exemplo, o que é 
preservar a saúde da gestante? No âmbito da Medicina, as ações visam, em última análise, a preservação da 
saúde das pessoas. Qual a justificativa para o aborto, tendo por base um critério tão vago? 
 
“Os itens constantes no inciso II também merecem algumas considerações. Esta violação da liberdade sexual 
deverá ser denunciada e registrada junto a uma autoridade competente? O ato médico de abortar será realizado 
somente com autorização formal, por escrito, de um juiz? Como caracterizar o não consentimento de uma 
 
 
técnica de reprodução assistida se a maioria dos profissionais que atuam na área ainda não tem o hábito de obter 
um consentimento informado de seus pacientes? 
 
 “A probabilidade, e não o diagnóstico conclusivo de lesões no feto, pode levar a algumas situações 
bastante delicadas. Os médicos que o anteprojeto de lei se refere devem ter familiaridade com a área de 
diagnóstico pré-natal de anomalias fetais? O critério de grave e irreversível anomalia física e mental será está 
restrito a condição da criança imediatamente após o parto ou pode ser ampliada para situações que irão ocorrer a 
longo prazo? Um exemplo disto pode ser o diagnóstico preditivo de Doença de Huntington em um feto. Este 
diagnóstico, que irá manifestar-se somente na quarta década de vida, constitui um motivo para a realização do 
aborto?” 
 
 Os abortos voluntários continuam a ocorrer. Clandestinos ou não, merecem um maior aparelhamento da 
equipe de saúde, incluindo a área de saúde mental, voltada para ações na esfera da prevenção primária, 
secundária e mesmo terciária, em face dos inúmeros conflitos que circundam a mulher antes, durante e após a 
prática abortiva 
 Também não é considerado crime o aborto realizado fora do território nacional do Brasil, sendo possível 
realizá-lo em países que permitem a prática. 
 
EUTANÁSIA 
 
 
 Há grande preocupação jurídica na reforma do Código Penal brasileiro, princi- palmente nos temas mais 
controversos, que trazem a tona novos paradigmas. Por isso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), está 
atualmente promovendo eventos com a participação aberta ao público leigo e aos acadêmicos e profissionais da 
área da Saúde e do Direito, juntamente com o Conselho Regional de Medicina (CRM) e a Comissão de Bioética 
e Biodireito (CBB). Como exemplo, o seminário realizado de 24/10 a 7/11/2012, sobre o tema “Reforma do 
Código Penal, Temas Controversos, Novos Paradigmas”, pro- movido pela OAB-RJ, Cremerj e CBB 
(palestrantes: Gisele Mendes de Carvalho, Rodolfo Acatauassu e Arnaldo Pineschi de A. Coutinho). 
Com isso, é mister uma análise dos institutos da eutanásia, da ortotanásia e da distanásia, para que esses velhos 
conceitos, agora com uma roupagem contemporânea (devido à necessidade da ponderação e legalidade com 
base constitucional a partir dos princípios bioéticos e biojurídicos), façam parte de uma discussão mais sólida e 
concre- ta sobre os direitos fundamentais e da tutela da vida humana. 
 Ao garantir a dignidade da pessoa humana como direito fundamental na Constitui- ção da República 
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB88), art. 1o, inciso III, o ordenamento jurídico brasileiro vigente tipifica 
penalmente as condutas criminosas que atentam contra a vida humana, com exceção dos casos de exclusão de 
ilicitude, os quais estão descritos no Código Penal: 
Artigo 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: 
I – em estado de necessidade;II – em legítima defesa; 
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível 
 Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou 
culposo. 
 
 
Estado de necessidade 
 Artigo 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que 
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas 
circunstâncias, não era ra- zoável exigir-se. 
§ 1o Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfren- tar o perigo. 
§ 2o Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois 
terços. 
Legítima defesa 
 Artigo 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele 
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. (BRASIL, 1940) 
 No Código Penal – Decreto-Lei no 2.848/40 – em vigor, a eutanásia, termo não explicito no referido 
código, é considerada crime de homicídio privilegiado tipificado no artigo 121 (“Matar alguém: Pena – 
reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”), pelo fato da ação “matar alguém”. Também o crime de induzimento, 
instigação ou auxílio à prática do suicídio é tipificado no artigo 122 (sem causa de exclusão de antijuridicidade): 
“Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 
(seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta 
lesão corporal de natureza grave”. Somente haverá o benefício da diminuição de pena nos casos previstos no 
artigo 121, § 1o: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o 
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um 
sexto a um terço”. 
 
 O direito à vida não é efetivamente absoluto, tanto que o próprio Código Penal brasileiro não tipifica 
como ilícito penal a tentativa de suicídio. Ser detentor do direito absoluto à vida, a partir do princípio da 
liberdade e da dignidade da pessoa humana na aquisição da sua personalidade, não significa que o homem 
usufrui dessa liberdade e dig- nidade nas situações mais extremas de sofrimento, devido à ausência de saúde. 
Ter de renunciar o seu direito à vida, para que seja aplicada a eutanásia ativa, pode parecer garantir uma “morte 
digna”, mas há quem aceite a ideia de tornar a vida disponível por não conseguir mais garantir uma qualidade 
de vida digna, e daí justifica-se a necessidade de se aplicar a eutanásia: “A conclusão que se segue é que vida é 
uma espécie de direito cuja tutela se faz pela propriedade e cujo titular é o ser humano capaz, competente, apto 
a se autodeterminar [...]” (SZTAJN, 2009, p. 253-254). Os cidadãos estão em pleno século XXI buscando o 
direito de serem felizes, como se a felicidade tivesse normas ou regras práticas possíveis de aplicação para todo 
ser humano. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia declarado o direito à saúde como um direito fundamental do 
homem, antes do advento da CRFB88, que foi a primeira no Brasil a positivar o direito à saúde como direito 
fundamental de todos os cidadãos, com uma seção exclusiva (Título VIII – Capítulo II – Seção II, artigos 196 a 
200). Demonstra-se, em especial no artigo 196, que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). 
A saúde é uma consequência indissociável ao direito à vida e a uma vida digna, associada a outras garantias 
como a igualdade perante a lei de todos os cidadãos – art. 5o, caput: “Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantin- do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...]” – e o acesso à 
justiça, no art. 5o, XXXV: “[...] a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” 
 
 
(BRASIL, 1988). Ambas as garantias devem obedecer ao princípio da igualdade jurídica que encabeça o mesmo 
artigo da Constituição, por regra de herme- nêutica jurídica primária, além de ser este um princípio político 
organizador da forma republicana de governo (FERREIRA FILHO, 2009, p. 40). 
 
 Entre os valores inerentes à condição humana está a vida. Embora a sua origem permaneça um mistério, 
tendo-se conseguido, no máximo, associar elementos que a produzem ou saber em que condições ela se produz, 
o que se tem como certo é que sem ela a pessoa humana não existe como tal, razão pela qual é de fundamen- tal 
importância para a humanidade o respeito à origem à conservação e à extinção da vida. (DALLARI, 1998, p. 
231) 
 Para encontrar um ponto de equilíbrio entre “[...] à origem à conservação e à extinção da vida [...]” 
(DALLARI, 1998, p. 231), há a preocupação com a proteção da dig- nidade humana, que é apresentada sob a 
forma do mínimo existencial. Segundo Ricardo Lobo Torres, o mínimo existencial deve ser entendido como 
“um direito às condições mínimas de existência humana digna que não pode ser objeto de intervenção do 
Estado e que ainda exige prestações estatais positivas” (TORRES, 1999, p. 141) – no sentido de que este não 
pode impedir a sua usufruição – e que também exige a entrega de presta- ções de natureza assistencial, criando a 
pretensão à assistência social. 
As aspirações humanas pela qualidade de vida e pela busca da dignidade da pessoa humana têm como alicerce 
de sustentação um dos princípios mais antigos da medicina: a beneficência, a qual todos os médicos se 
comprometem, no juramento de Hipócrates: 
 Outro princípio também importante na busca pela dignidade da pessoa humana é o princípio da 
autonomia da vontade, que se baseia “nos pressupostos de que a socie- dade democrática e a igualdade de 
condições entre os indivíduos são os pré-requisitos para que as diferenças morais possam existir” (DONDA, 
2008, p. 29). Em respeito a esse princípio, o profissional da saúde deve respeitar a vontade do paciente, com 
base nos valores morais e religiosos deste, uma vez que é pelo princípio da autonomia que os indivíduos 
exercem a liberdade na tomada de decisões. 
 O direito do paciente de recusar o tratamento em sua totalidade, ou até mesmo em parte, é um direito 
que deve ser respeitado. O fato de o paciente recusar-se a fazer um tratamento pode ter razões diversas – não 
apenas sua convicção religiosa, mas tam- bém medo dos efeitos colaterais, depressão, vaidade, entre outros; e 
não compete ao profissional da saúde julgar a sua motivação, por ser uma decisão exclusiva da vontade do 
paciente. 
 Atualmente, os pacientes têm a capacidade de “escolher o tratamento” segundo as suas convicções e 
entendimentos sobre o que pode ser melhor para o seu bem-estar, optando até mesmo pela suspensão ou a não 
execução do tratamento terapêutico. O de- ver de empenho do profissional da saúde e a autonomia da vontade 
caminham paralelos na seara do direito e do bem-estar do paciente. 
 Mesmo quando há iminente perigo de vida, considera-se a predominância dos di- reitos da pessoa 
humana, conforme o CC, art. 15 (“Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a 
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”), com- binado com a CRFB88, art. 5o, caput (“Todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 
País a inviolabilidade do direito

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