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Disciplina: Psicologia INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA .................................................................................. 2 O SENSO COMUM ..................................................................................................... 5 FASES E ABORDAGENS ........................................................................................... 7 CIÊNCIA E ATITUDE CIENTÍFICA EM PSICOLOGIA .............................................. 10 MÉTODOS DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA .............................................................. 11 TÉCNICAS PSICOLÓGICAS .................................................................................... 12 FÓRMULA FUNDAMENTAL DO COMPORTAMENTO ............................................ 14 CLASSIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO ............................................................. 15 O BEHAVIORISMO DE WATSON E SKINNER ........................................................ 16 CONCEITOS DO BEHAVIORISMO ............................................................................... 17 A PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM E INTELIGÊNCIA ........................................ 18 OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM ...................................................................... 18 OS DIFERENTES ENFOQUES PARA AS APRENDIZAGENS ............................... 19 A INTELIGÊNCIA HUMANA ........................................................................................... 20 INTELIGÊNCIA RACIONAL (QI) .................................................................................... 20 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (QE) ............................................................................... 20 INTELIGÊNCIAS MÚLTPLAS E ATITUDINAIS .......................................................... 21 ESSÊNCIA DA APRENDIZAGEM E DA INTELIGÊNCIA ......................................... 24 MEDINDO A INTELIGÊNCIA – OS FAMOSOS TESTES DE INTELIGÊNCIA .......... 24 A PSICOLOGIA GESTALT ........................................................................................ 25 A TEORIA DE CAMPO DE KURT LEWIN................................................................. 27 O SURGIMENTO DA PSICANALISE ........................................................................ 29 DISTURBIOS CONTEMPORÂNEOS E PREVENÇÕES POSSÍVEIS ...................... 32 OS TRANTORNOS MENTAIS MODERNOS ........................................................ 33 AS ORGANIZAÇÕES............................................................................................ 33 O SURGIMENTO DA ABORDAGEM COM VYGOTSKY .......................................... 34 PRINCIPAIS CONCEITOS .................................................................................... 34 A PSICOLOGIA INSTITUCIONAL E OS TIPOS DE AGRUPAMENTOS HUMANOS .................................................................................................................................. 35 TIPOS DE GRUPOS ............................................................................................. 36 COMO EVOLUEM OS GRUPOS DE TRABALHO ............................................... 36 PSICOLOGIA INSTITUCIONAL E PROCESSO GRUPAL ................................... 36 INSTITUIÇÕES, ORGANIZAÇÕES E GRUPOS ................................................... 37 A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS GRUPOS NA PSICOLOGIA ..................... 38 ASSERTIVIDADE ...................................................................................................... 39 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA São inúmeras as situações que nos afligem no dia a dia. Marcas de um viver que busca, incessantemente, a tão desejada felicidade, mas que para tanto, tem de se defrontar com sólidas barreiras sociais, com os conflitos e com as dores das inevitáveis perdas inerentes à existência humana. Esse homem que sente, também trabalha. Ao entrar no ambiente de trabalho, esse homem não irá retirar de si e guardar em uma caixinha os seus sentimentos, emoções, desejos, sofrimentos etc. para que fiquem do lado de fora da porta da organização: Carlos, confuso e desanimado, teve de deixar a noiva, grávida no Brasil, e ir para os Estados Unidos trabalhar; Yamada sofre por ter perdido sua casa e sua mãe durante os tremores de terra na China; Júlia implementou um novo projeto na empresa que trabalhava, teve enorme sucesso, entretanto, não foi reconhecida e sua colega de trabalho recebeu os benefícios do processo. Rafael... Daiane... Pedro... Michele.... Somos todos personagens dessa enorme trama da vida. Casos como os citados acima nos acometem cotidianamente. Vale questionarmos: quais serão as consequências de tais fatalidades para a produtividade destes homens no ambiente de trabalho? Qual é o papel das organizações e gestores diante de tais situações particulares? Punir ou amparar? É em meio a estes contextos, de sofrimentos, angústias e questionamentos sobre o homem, que a ciência psicológica se edifica. Para tanto, a psicologia empreita pesquisas e análises a respeito da complexa natureza humana. Ela surge, então, visando dar respostas, e até soluções, a todo este desamparo e a esta fragilidade humana. Esta unidade introduz o conceito de psicologia e resgata um pouco da sua história. Explicita que a Psicologia tem suas raízes na filosofia, surgindo da necessidade que o homem teve de pensar-se e explicar-se a si próprio. Portanto, seu fundamento é a reflexão sobre o homem. Pontuam-se, ainda, nesta unidade, as múltiplas faces da Psicologia, seus desdobramentos em vários campos de estudos, bem como a sua solidificação enquanto ciência. A definição etimológica do termo “psicologia” constitui-se em uma junção de dois vocábulos gregos: “psyché” (alma, espírito, mente) e “logos” (estudo, razão, compreensão). Ou seja, “psico-logia” seria o estudo ou a compreensão da alma. A “alma” humana foi objeto de estudo dos filósofos gregos por muitos séculos e era entendida como uma realidade metafísica. Mas, o que seria uma realidade metafísica? Seria uma realidade fora do alcance dos sentidos, não passível de apreensão por meio da experiência – não podia ser vista ou tocada. Nós, seres humanos, teríamos acesso apenas às manifestações da alma, como por exemplo: o acesso às emoções, ao pensar, às percepções etc. Para os povos primitivos, as condutas e a natureza humana eram entendidas por meio do sobrenatural: maus espíritos, fúria dos deuses etc. Os filósofos gregos foram os primeiros a explicar as manifestações da natureza (inclusive o comportamento e a matéria humana) por meio de elementos naturais: a água, o fogo, o ar etc. Os famosos filósofos Sócrates e Platão, também trouxeram vários questionamentos psicológicos ao cerne da filosofia da época. O primeiro apontava a razão como um elemento “limite”, que separava o homem dos animais. Já Platão, procurava delimitar um “lugar” no corpo humano para a razão/alma. Este lugar, definido por ele, seria a cabeça e a medula espinhal seria o que ligaria a mente ao corpo. Aristóteles, discípulo de Platão, estudou as diferenças entre a razão, percepção e sensação, o que se ousou considerar um “primeiro tratado da psicologia”. Devemos nos atentar para o fato de a psicologia ter pertencido ao campo da filosofia por todo este tempo e apenas mais adiante começaremos a entrar em contato com uma psicologia científica. Com o Renascimento e as ideias Iluministas – marco na Idade Moderna – consolidam-se inúmeras ciências, em contraposição aos dogmas religiosos de outrora. Este período anunciou uma nova forma de organização social e econômica: o capitalismo. E ainda trouxe uma visão de homem antropológica, ou seja, o homem colocado no centro do conhecimento e do interesse social.A possibilidade do desenvolvimento e o enorme avanço das ciências e dos conhecimentos culminaram no que denominamos Revolução Industrial. Calcado nesta situação de mudanças e novos valores, o filósofo francês René Descartes deixou suas contribuições às ciências naturais e à psicologia. Descartes ficou conhecido pelo dualismo que instaurou na compreensão do ser-homem: dissociou o corpo da mente/alma. Ao corpo cabia um funcionamento similar às máquinas. Seus movimentos seriam “previsíveis, a partir do conhecimento de suas “peças” e relações entre elas” (BRAGHIROLLI et al, 1998). Enquanto que à mente cabia o conhecer, o raciocinar, o querer. Estes elementos estariam então, no campo da filosofia e por ser a mente uma entidade sem localização, seria imensurável e não observável. Suas ideias deixaram um legado enorme nos valores ocidentais e legitimaram teorias científicas de diversas áreas. Sua influência na administração clássica é inegável. Inclusive as relações patrão-empregado nas grandes fábricas da revolução industrial foram profundamente marcadas por esta leitura do homem. Ou seja, a cisão derivada dessa teoria entre o homem que produz e o homem que sente e pensa, passou a se reproduzir na divisão social do trabalho. A partir de todas as mudanças socioeconômicas e culturais, cada vez mais, a verdade sobre o mundo, antes ditada pela igreja, ganha os palcos científicos. Da mesma forma, vê-se solidificar as bases para uma nova psicologia, agora científica. O estudo da alma foi abandonado e as verdades absolutas impostas pelo cristianismo foram agora entregues à observação, experimentação, mensuração e verificação em prol da ciência. A psicologia passa então a se preocupar com os fenômenos psíquicos, passíveis de comprovação e submissão às regras científicas da corrente positivista. A pergunta que, possivelmente, os filósofos e antigos teóricos fariam é: como enquadrar a mente neste tipo de comprovação? A resposta estava no avanço da fisiologia, neuroanatomia e neurofisiologia. É nesses campos de estudo que a psicologia encontra um sustento científico e consolida a psicofísica. Podemos citar como referência ao estudo da psicofísica, Fechner e Weber em 1860, que estabeleceram a relação entre estímulo e sensação. Sua importância concentra-se no fato de, pela primeira vez, ser possível medir um fenômeno psicológico, garantindo assim o status de ciência para a psicologia (BOCK et al, 1997). A Psicometria (do grego psyké, alma e metron, medida, medição) teve seus primórdios datados deste período. Essa área da psicologia veio dar os fundamentos para validação, padronização e fidedignidade aos testes psicológicos. Galton, precursor dessa área da psicologia associou diversos aspectos físicos (tamanhos, número de repetições movimento, força, rapidez nas respostas etc.) com elementos psíquicos (capacidade mental, sentimentos etc.). Por isso, serviu ideologicamente ao recrutamento de soldados na primeira guerra mundial e marcou a introdução da psicologia nas indústrias. Vale pontuar que a psicologia acabou por se consolidar como ciência independente, “oficialmente”, em 1879 com a criação do primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Wilhelm Wundt foi seu criador e ficou conhecido como o fundador do estruturalismo porque buscava compreender os estados da consciência a partir de estruturas do sistema nervoso central. Neste processo, a mente perdeu a autonomia e passou a ser explicável e dependente do sistema nervoso. Em contraposição, surge a psicologia funcional, criado por William James que se focou no funcionamento e nas funções da mente em detrimento de sua estrutura, ou seja, “o que fazem os homens e por que fazem?”. Para eles, as funções dos processos mentais seriam de adaptação do homem ao meio externo. Seria simplesmente uma forma de garantir a sobrevivência humana. O SENSO COMUM No nosso cotidiano, muitas vezes, vivenciamos a ocorrência de um manancial de crenças bem populares, algumas receitas psicológicas de gente que não frequenta o meio acadêmico, científico, mas que consegue se aproximar de algumas verdades, em variados meios, lançando mão de “palpites”, quase todos para “ajudar os outros”, ao que chamam de “melhores das intenções.” Será mesmo que possuímos um mix de loucura e de magia, de médicos e de insanos? Qual é a verdade, se é que há apenas uma verdade em tudo o que ouvimos, vemos, sentimos, percebemos, palpitamos, entre outras experiências dos viveres existenciais? De certo modo, podemos constatar certo domínio popular em questões usuais, nas quais o acúmulo de experiências passadas soma aprendizado e é passado de geração a geração. Essa é a “psicologia do senso comum”, mas que fique, a partir dos estudos mais intensos e interessados das Psicologias, bastante esclarecido que se trata apenas de uma sabedoria popular, cultural, bem diferente do que verão na cientificidade da Psicologia – o que a pequena história dessa importante ciência desvendará. O conhecimento espontâneo da realidade (uma visão de mundo) é bastante diferente da complexidade inerente e consistente da Psicologia Científica. O estudante necessitará munir-se de amplos conhecimentos psicológicos para poder discernir e não mais cometer o erro do leigo, mesmo que este seja revelador, como muitas vezes pode mesmo ser (sabedorias populares). Todo senso comum é simplista, reducionista e jamais revelador de vicissitudes reais, nos campos das subjetividades e objetividades, as quais são necessariamente focadas pela Psicologia Científica, considerando-se múltiplos fatores (determinantes e/ou não). Nem mesmo o avanço científico é capaz de esgotar as possibilidades e encontrar compreensão precisa para todos os limites ainda existentes no mundo moderno. Por um lado, existe o conhecimento que se aprofunda e se desdobra, mas por outro, um abismo, um grande mistério. Eis o desafio, no limite tênue dessa navalha, em que somente a humildade do aprendiz, no bom cuidado do conhecimento contínuo, pode e deve cultivar. O senso comum deixou o legado de um conhecimento intuitivo que, sem dúvida, não dava mais conta do desenvolvimento humano, de sua compreensão. O mundo foi ficando mais e mais complexo, e o homem teve que ocupar diversos espaços; assim sendo, o conhecimento de técnicas mais precisas passou a fazer parte das preocupações. Era necessário dominar a natureza e tirar desta o melhor dos proveitos. A matemática dos gregos, próxima do século IV a.C., foi primordial para questões agrícolas e urgentes da época (projetos navais e arquitetônicos). E, com o passar dos tempos, a especialização foi buscada até um nível elevado de complexidade, o que, por exemplo, fez o homem chegar à Lua. Para interpretar a realidade, o homem, então, foi fazendo composições, parcerias de conhecimentos (senso comum somado às ciências), compreendendo melhor a sua realidade e a de seus semelhantes. As especulações sobre a origem do significado da existência humana sempre ocuparam o centro das atenções dos gregos (filosofias). Os mistérios, os princípios morais e todos os pensamentos sobre a origem do próprio homem (as religiões: a bíblia dos judaicos, a dos cristãos e o livro sagrado dos hindus – livro dos Vedas); a sensibilidade humana representada desde as cavernas (artes) até as criações mais rebuscadas em técnicas, metodologias, entre múltiplos e específicos conhecimentos (ciências); enfim, todas as áreas de conhecimento são importantíssimas para a Psicologia, ou melhor, dizendo, para as Psicologias. Quão mais vasta em evolução uma área do conhecimento, mais aproximada às necessidades do homem, por meiodos tempos e de todos os espaços. FASES E ABORDAGENS Fase Grega: surgiu com os gregos a Psicologia, no período anterior à era cristã, tendo sido uma ramificação das filosofias, artes e crenças humanas atreladas ao misticismo da época. Os principais filósofos que a influenciaram foram: Sócrates, Platão e Aristóteles, nos períodos de 469 a 322 a.C. Com Sócrates, a Psicologia ganha consistência, uma vez que sua principal preocupação era com o limite que separava o homem dos animais, trazendo a característica humana da razão, que lhe permitia pensar e sobrepujar-se aos instintos (bases mais irracionais). Com Platão, discípulo de Sócrates, a Psicologia cedeu lugar à razão, sendo o próprio corpo, mais precisamente a cabeça, o centro de localização para a alma humana, no qual a medula faria a ligação corpo-mente (elementos importantes, pois Platão concebia uma separação entre corpo e mente e acreditava na imortalidade da alma). Já com Aristóteles, a Psicologia ganhou o seu primeiro tratado, no qual tivemos os primeiros estudos profundos das diferenças entre a razão, percepção e sensações (Da anima). Esse pensador acreditava que a alma e o corpo não podiam ser dissociados, o que trouxe uma forte evolução para a compreensão dos fatores humanos para a Psicologia da época. Fase Romana: no período datado entre 430 a 1274, a Psicologia sofreu a influência direta dos padres e filósofos Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. O primeiro foi inspirado em Platão, trazendo a concepção de uma alma pensante, com razão e com manifestação divina (ligação do elemento humano com Deus), sendo a alma também a sede do pensamento, havendo a preocupação da Igreja em compreendê-la. Já com São Tomás de Aquino, devido ao período de ruptura da Igreja com as Revoluções Francesa e Industrial, houve a preocupação pela distinção entre essência e existência, sendo que somente Deus poderia assegurar a perfeição ao homem e não o avanço das liberdades e do desenvolvimento humano (a intenção era a de garantir à Igreja o monopólio do estudo do psiquismo) Fase do Renascimento: “pouco mais de 200 anos após a morte de São Tomás de Aquino, tem início uma época de transformações radicais no mundo europeu.” (BOCK, 1996, p. 35). O Renascimento e todo o mercantilismo levam às novas descobertas que propiciam ao homem o acúmulo de riquezas e acabam por acirrar novos valores (bens capitais e organizações mais econômicas e sociais). As transformações ocorrem em todos os setores e dá-se a valorização do homem e de seus inúmeros processos. O conhecimento tornou-se independente da fé e surgem sociedades mais complexas e a necessidade de metodologias, técnicas capazes de assegurar com maior e melhorada precisão as complexidades humanas. Em outras palavras, o conhecimento trouxe a necessidade de uma remodelagem nos padrões vigentes até então. Como exemplo: Galileu (1610), com o estudo da queda dos corpos (primeiras experiências da Física moderna); Maquiavel (1513), com a clássica obra política “O príncipe”; e René Descartes (1596-1659), renomado filósofo que postulou a separação entre a mente e o corpo, deixando o famoso dualismo cartesiano de herança cultural, o que, sem dúvida, configurou um significativo avanço para a Psicologia, como ciência, pois, assim, o corpo humano morto, separado da alma, poderia, então, ser mais bem observado e pesquisado. Fase Científica: o século XIX trouxe o avanço de inúmeras ciências, sendo que a Psicologia, então, para acompanhar seus estudos sobre o homem, teve também de se tornar objetiva, a fim de mensurá-lo, classificá-lo e analisá-lo, prestando melhor suas contribuições de compreensão da espécie humana e social. Com a divisão do trabalho, adventos das revoluções francesas e industriais, a Psicologia ganha espaço cada vez maior, ao ficar puramente libertada das filosofias, somando sistematizações nos procedimentos e padronizando os ajustamentos necessários para a sociedade capitalista, passando a ser respeitada e utilizada por todos os setores da sociedade humana. Wundt trouxe a concepção de uma Psicologia apartada da alma, na qual o conhecimento científico poderia ser obtido a partir de medição e observação em laboratório, fator de extrema importância para o avanço dos estudos da mente e comportamentos humanos. A Psicologia como ciência vai se configurando em diferentes concepções, com as seguintes abordagens: O funcionalismo, de William James (1842- 1910): corrente americana para a qual importa responder “o que fazem e por que fazem os homens”, na qual a consciência surge como centro das preocupações e da compreensão dos funcionamentos, de acordo com as necessidades humanas de adaptação ao meio ambiente (pragmatismo americano a serviço do desenvolvimento econômico da época). O estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927): tal qual o funcionalismo, ocupou-se com a compreensão da consciência, porém com enfoque aos aspectos mais intrínsecos, ou seja, mais estruturais do sistema nervoso central, utilizando o método introspectivo para a observação experiencial em laboratório. O associacionismo, de Edward L. Thorndike (1874-1949): basicamente formulou a primeira abordagem da aprendizagem para a Psicologia, na qual o processo se daria das associações entre ideias simples até as mais complexas entre os conteúdos. Thorndike formulou uma lei comportamentalista em que a repetição do comportamento humano e animal dariam até o ponto do efeito (recompensa; exemplo: elogio para o bom feito infantil), o que permitia a observação da aprendizagem bem-sucedida; ou o contrário, como um efeito ativador da suspensão do comportamento (o castigo; exemplo: o olhar severo do pai em resposta ao ato inadequado da criança). Essa lei ficou conhecida como: “Lei do Efeito” Todas essas abordagens anteriormente descritas vão dar estruturação e embasamentos científicos preciosos para o que viria a ser as Psicologias mais contemporâneas (Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise, abordagens que veremos com maior destaque no transcorrer da disciplina, portanto, nesta apostila). CIÊNCIA E ATITUDE CIENTÍFICA EM PSICOLOGIA A Psicologia estuda o comportamento, os processos mentais, a experiência humana e, de um modo especial, a personalidade. Com técnicas metódicas próprias, a Psicologia procura não só descobrir novos fatos, nessas áreas, mas tenta também medi-los. A ciência é um instrumento de conhecimento, de controle e de medida dos fatos. É, há um tempo, conhecimento e poder, por dar a explicação adequada e permitir tanto previsão quanto controle. Pelo fato de se poder aplicar, na prática, muito de seus conhecimentos confere poder a quem os aplica. O método científico é algo simples, mas não é uma atividade que se apresenta espontaneamente. Para ser utilizado, é preciso que a pessoa esteja predisposta ou treinada. Por exemplo, as experiências de Galileu estudando a queda dos corpos (que está na origem da Física tradicional) poderiam ter sido feitas no Egito Antigo, nas Muralhas de Creta ou em qualquer período da Grécia ou de Roma. O espírito da época, contudo, não predispunha as pessoas para essa atividade mais rigorosa do saber. O método científico pode ser empregado para a descoberta tanto de grandes quanto de simples fatos da vida ou da ciência. A maneira mais eficiente de se chegar às causas de um fenômeno é utilizar o método científico. São os seguintes os passos desse método: Identificação do problema (observação do fenômeno a pesquisar); antecedentes históricos; Formulação de uma hipótese que explique o fenômeno. Esta serve para orientar o trabalhoda pesquisa e é, ao mesmo tempo, uma garantia de objetividade. Toda experimentação tem como objetivo ver como a hipótese se manifesta; Experimentação da hipótese; Comprovação da hipótese; Comunicação dos resultados para conhecimento do mundo científico; Análise estatística; Conclusões; Sugestões para nova pesquisa; Crítica. Portanto, a tarefa dos cientistas consiste em criar teorias que viabilizem níveis comprovadamente válidos, para garantir rigor aos aspectos e variáveis analisados, conforme dita o método científico. Assim, podemos pensar em formas de análise do comportamento humano. MÉTODOS DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA Os autores costumam dividir os métodos usados pelos psicólogos em três grandes grupos: Introspecção ou método de observação interna; Extrospecção ou método de observação externa; Experimentação. A introspecção é um método subjetivo de observação interior. A pessoa observa suas próprias experiências e as relata (a pessoa relata suas emoções, percepções, interesses, recordações etc.). Um exemplo: aumentamos nosso conhecimento da mente humana lendo diários íntimos, autobiografias ou memórias. Imaginamos que as pessoas foram sinceras ao descrever seus sentimentos, emoções, recordações etc., mas não o podemos provar. Para estudar certos traços de personalidade, os psicólogos têm pedido às pessoas que respondam a um questionário. Para esse fim, os indivíduos terão que observar seu íntimo e dar suas respostas – as quais irão revelar aos psicólogos seus interesses, emoções, preferências etc. Para estudar o raciocínio, o psicólogo Claparède imaginou um método que chamou de reflexão falada: deu um problema a um jovem e pediu a este que o resolvesse e fosse, ao mesmo tempo, descrevendo em voz alta o seu pensamento. Embora seja impossível verificar se as pessoas foram corretas ao relatarem seus fenômenos íntimos, a introspecção tem sido usada para colher informações que não possam ser obtidas de nenhuma outra maneira. Porém, a introspecção não pode ser empregada no estudo de animais, de crianças muito novas, de débeis mentais etc. Já a extrospecção é um método objetivo de observação externa. O psicólogo procura conhecer as reações externas dos organismos. Ao observar, por exemplo, uma pessoa, procura conhecer seu modo de agir, seus gestos, suas expressões fisionômicas, suas realizações etc. Sempre que possível, os psicólogos dão preferência à extrospecção e procuram torná-la mais exata, usando aparelhos para melhor documentar suas observações: máquinas fotográficas e de filmar, cronômetros, gravadores de som etc. A experimentação consiste em um observador controlando a situação e verificando os diferentes níveis de reações do sujeito. TÉCNICAS PSICOLÓGICAS Animais em laboratório: a observação de animais em situações controladas facilita a compreensão do comportamento das aprendizagens. Os animais mais utilizados são: cães, ratos, pombos, gatos e macacos. Técnica da medida do tempo de reação: esse tempo é medido em frações de segundo, por cronômetros. Esse tempo varia de pessoa para pessoa e é de grande importância para provas de aptidão para determinadas profissões como: motoristas, profissionais de mídia, aviação, entre outros. Técnica das associações determinadas: essa técnica foi introduzida pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung. Consiste em ler para o paciente, uma a uma, as palavras de uma lista, pedindo-lhe que a cada palavra ouvida diga tudo que lhe venha à mente, mesmo que lhe pareça estranho e absurdo. Essa técnica possibilita traçar um tipo psicológico do paciente. Técnica da associação livre: utilizada por Sigmund Freud, que foi o fundador da Psicanálise. O psicanalista sugere um assunto e deixa que o pensamento flua na livre associação de ideias que o paciente faz, de acordo com o seu histórico pessoal. Técnica de grupos de controle: essa técnica consiste na comparação de dois ou mais grupos semelhantes, tratados de modo igual, em todos os aspectos da atividade, com exceção de um – o aspecto que está sendo estudado. Imagine que todas as crianças de uma creche passaram por uma experiência de ataque de cachorros e desenvolveram medo. Essa técnica poderia ser aplicada de modo a controlar esse medo, apresentando um filme no qual aparecessem crianças acariciando cachorros dóceis e, assim, fazendo paulatinamente diminuir o medo de cachorros. Técnica de comparação de gêmeos: consiste em comparar dois gêmeos idênticos ou univitelinos. Essa técnica tem sido muito empregada para prever a influência da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento da inteligência e da personalidade, de modo geral. Técnicas projetivas: são atividades propostas pelos psicólogos nas quais as pessoas são convidadas a expressarem seus íntimos. a) Hermann Rorschach elaborou um teste de borrões, com dez cartões, revelando traços significativos da personalidade, como nível de inteligência, extroversão ou introversão, conflitos emocionais etc.; b) Henry D. Murray criou o TAT, conhecido como teste de apercepção temática, em que existem 20 quadros que remontam a contos, nos quais a criança pode elaborar a sua própria história, baseada em fatores de sua psicodinâmica pessoal e familiar; c) análise do brinquedo: Melanie Klein encontrou muita dificuldade para estudar a causa dos problemas emocionais apresentados pelas crianças e resolveu observar o modo como as crianças brincavam, por meio de brinquedos, baseando- se na compreensão de seus vocabulários ao expressarem o que vinha pelas mentes e formas de construções de brincadeiras, assim como no tipo de brinquedos escolhidos, mais comumente; a ludoterapia passou a ser uma forma terapêutica para auxiliar a cura da criança pelo brinquedo; d) análise do desenho: o desenho da figura humana, da casa e da árvore, são os mais utilizados, revelando interesses, autoimagem, conflitos emocionais, nível intelectual, entre outros fatores, muito utilizados em empresas; e) testes psicológicos: de inteligência, de conhecimentos gerais e/ou específicos, nos quais se observa o tipo de resposta dada e o desempenho, medindo aptidões dos indivíduos (muito utilizados em seleção de pessoal). Em Psicologia Clínica, estuda-se o comportamento de uma única pessoa, visando ajudá-la em seu ajustamento. É feito um estudo do caso, procurando compreender as principais forças e influências que orientaram o desenvolvimento dessa pessoa. Esse estudo consiste em várias fases, entre as quais: investigar o tipo de vida da pessoa; as condições sociais em que ela vive; aplicar testes de interesses, de aptidões, de inteligência geral, de maturidade emocional, de sociabilidade, de traços de personalidade; e fazer seu levantamento biográfico. Após esse estudo, surge o diagnóstico do problema dessa pessoa, é recomendada uma terapêutica e o caso é “acompanhado” por um supervisor, por algum tempo. A observação de casos particulares permite descobrir algumas características comuns a muitas pessoas. FÓRMULA FUNDAMENTAL DO COMPORTAMENTO O comportamento tem sido definido como sendo o conjunto das reações ou respostas que um organismo apresenta às estimulações do ambiente. Todo o organismo está continuamente recebendo estimulações do ambiente e reagindo a elas. Por isso é que os cientistas afirmam que o organismo vive em um constante processo de interação com seu ambiente. As relações que mantemos com o mundo que nos rodeia são de dar e receber. Recebemos inúmeras estimulações e damos respostas a elas. Para simbolizar a dependência entre reação e estimulação,muitas vezes tem sido empregado esse pequeno esquema, no qual E significa estímulo ou conjunto de estímulos (situação) e R significa reação ou resposta. Os estudiosos do comportamento preferem empregar o verbo ‘eliciar’ no lugar de ‘provocar’ ou ‘causar’. Por exemplo: o sumo da cebola elicia a secreção de lágrimas, pelas glândulas lacrimais. Estímulo é qualquer modificação do ambiente que provoque a atividade do organismo. Assim, a luz é um estímulo aos olhos, o som, aos ouvidos Reação ou resposta é qualquer alteração do organismo (movimentos musculares ou secreções glandulares), eliciada por um estímulo. CLASSIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO Comportamento inato: também conhecido como comportamento natural. Há reações que todos os seres da mesma espécie apresentam todas as vezes que recebem determinada estimulação, sendo invariáveis. Um exemplo: nossas pupilas se contraem sempre que aumenta a intensidade da luz no ambiente em que estamos e se dilatam quando a luminosidade diminui (reflexo pupilar). Outro exemplo: nossas pálpebras se cerram fortemente sempre que um objeto se aproxima bruscamente de nossos olhos e sempre que ouvimos um som muito alto (reflexo palpebral). Essas reações não precisam ser aprendidas. Todos os seres humanos, em estado normal, as apresentam. São chamadas reações inatas e, também, reações não variáveis. Comportamento adquirido ou aprendido: é um comportamento variável. Há reações que alguns seres apresentam e outros, embora da mesma espécie, não apresentam ao receberem determinada estimulação. São reações que necessitam de aprendizagem para se processarem, quando o organismo recebe a estimulação. Um exemplo: o gato de uma determinada casa entra na cozinha todas as manhãs ao ouvir o ruído da porta da geladeira. Outros gatos, ao ouvirem esse mesmo som, não reagem desse modo. Outro exemplo: o cão de certa família aproxima-se prontamente, ao ouvir alguém dizer “Totó”. Outros cães, ao ouvirem esse mesmo som, não reagem desse modo. Essas reações foram aprendidas. Constituem o comportamento variável ou adquirido, portanto, aprendido. O estudo do desenvolvimento do comportamento durante o decorrer de nossa vida tem sido realizado pela Psicologia genética ou evolutiva. Observou-se que, no início de nossa vida, apresentamos aos estímulos reações que, em sua maioria, são inatas. À medida que amadurecemos, vai aumentando o número de nossas reações adquiridas ou aprendidas. A Psicologia comparativa realiza o estudo do comportamento animal, comparando-o com o comportamento humano. Ela tem demonstrado que, nos animais inferiores, predominam as reações inatas, invariáveis, ao passo que, no ser humano, predomina o comportamento variável ou aprendido. O BEHAVIORISMO DE WATSON E SKINNER O Behaviorismo nasce com Watson e tem um desenvolvimento grande nos Estados Unidos, em função de suas aplicações práticas. Tornou-se importante por ter definido o fato psicológico, de modo concreto, a partir da noção do comportamento (behavior, do inglês). Essa abordagem surge com John B. Watson, em 1913, e basicamente traz a ideia de que todo estímulo elicia uma resposta, com a fórmula comportamental básica: E – R (sendo que E = estímulo e R = resposta do indivíduo). Essa abordagem traz para a Psicologia da época a serventia da quantificação (mensuração) do comportamento humano, já que o capitalismo institui a necessidade de um parâmetro mais prático para a análise humana e suas relações com o trabalho. Os primeiros experimentos foram feitos com ratos brancos em laboratórios, assim como outros animais, tais como: pombos e sapos, por questões éticas e determinantes das ciências biológicas e humanas. Temos com B. F. Skinner um importante experimento com ratos, o que possibilitou o avanço da compreensão dos condicionamentos e aprendizagens humanas. Para os behavioristas, todos os comportamentos podem ser controláveis e controlados, uma vez que reconhecem como sendo passível de observação o que emite uma resposta concreta, visível e mensurável no meio ambiente onde está atrelado o indivíduo. O Behaviorismo é muito utilizado em empresas, escolas, organizações de diferentes segmentos, por ser eficaz na especificação das características humanas. CONCEITOS DO BEHAVIORISMO Comportamento reflexo ou respondente: são todos os comportamentos/ respostas do organismo vivo/indivíduo que não dependem diretamente dos fatores de aprendizagens (piscar o olho mediante a incidência da luz e afastar a mão do calor do fogo, por exemplo) Comportamento instrumental ou operante: diferentemente dos comportamentos reflexos/respondentes, estes dependem da habilidade de aprendizagem e apenas ocorrem mediante condicionamentos. Esses condicionamentos podem ser primários, secundários ou terciários, sendo os primeiros ligados às necessidades de primeira ordem (básicas) e os outros associados a elas. Ou seja, para os behavioristas, toda a aprendizagem está diretamente vinculada às habilidades voluntárias de um organismo responder às suas urgências, mediante os estímulos provenientes do meio ambiente, tornando assim o esquema E – R condicionável, controlável (exemplo: ao pressionar uma barra, o rato observa a ocorrência do surgimento da água, e isso apenas acontece após inúmeras tentativas de obter sucesso – recompensa). Assim, para os comportamentalistas, o comportamento e a aprendizagem estão diretamente vinculados aos sucessivos erros, até que se possa alcançar o acerto. Vamos relembrar um conhecido experimento feito com ratos em laboratório. Vale informar que animais como ratos, pombos e macacos – para citar alguns – foram utilizados pelos analistas experimentais do comportamento (inclusive Skinner) para verificar como as variações no ambiente interferiam nos comportamentos. Tais experimentos permitiram-lhes fazer afirmações sobre o que chamaram de leis comportamentais. Um ratinho, ao sentir sede em seu habitat, certamente manifesta algum comportamento que lhe permita satisfazer a sua necessidade orgânica. Esse comportamento foi aprendido por ele e se mantém pelo efeito proporcionado: saciar a sede. Assim, se deixarmos um ratinho privado de água durante 24 horas, ele certamente apresentará o comportamento de beber água no momento em que tiver sede. Sabendo disso, os pesquisadores da época decidiram simular esta situação em laboratório sob condições especiais de controle, o que os levou à formulação de uma lei comportamental. Um ratinho foi colocado na ‘caixa de Skinner’ – um recipiente fechado no qual encontrava apenas uma barra. Esta barra, ao ser pressionada por ele, acionava um mecanismo (camuflado) que lhe permitia obter uma gotinha de água, que chegava à caixa por meio de uma pequena haste. Durante a exploração da caixa, o ratinho pressionou a barra acidentalmente, o que lhe trouxe, pela primeira vez, uma gotinha de água, que, devido à sede, fora rapidamente consumida. E, por ter obtido água ao encostar na barra quando sentia sede, constatou-se a alta probabilidade de que, estando em situação semelhante, o ratinho a pressionasse novamente. Skinner denominou esse comportamento de operante, em que o que propicia a aprendizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e o efeito dela, seus resultados, ou seja, a satisfação de uma necessidade, sendo que a aprendizagem fica atrelada nessa relação entre ação e efeito. Em suma, os behavioristas contribuíram enormemente para a sistematização dos comportamentos aprendidos, desde esses estudos feitos em laboratórios, deixando claras as questões dos condicionamentos para as aprendizagens humanas, em diversas áreasdo conhecimento e aplicações (escolas, indústrias, serviços em gerais, entre outras tantas atividades ocupacionais do mercado de trabalho). A PSICOLOGIA DE APRENDIZAGEM E INTELIGÊNCIA OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM Todas as correntes filosóficas e científicas das Psicologias, de forma geral, enfocam a questão da predisposição humana para o crescimento ajustativo para com o seu meio ambiente. Existe uma forte tendência a acreditar na força criadora das capacidades neurais para suplantar as dificuldades mais variadas, pois a inteligência humana, até hoje, ainda não foi totalmente disponibilizada, para atingir todo o seu cume e capacidade total de funcionamento, conforme comprovam os neurocientistas mais debruçados em análises humanas/sociais. Um famoso psicólogo, Jean Piaget (1896- 1980), desenvolveu uma importante teoria para compreender o desenvolvimento cognitivo, por meio do trabalho que acompanhava crianças, e classificou a aprendizagem a partir de estágios, tais como: a) sensório-motor (ênfase na importância da estimulação ambiental, até os 18 meses); b) pré-operacional (ênfase na intuição, em que o sentido é o desenvolvimento das capacidades mais simbólicas das crianças, dos 18 meses até os seis anos de idade); c) operações concretas (ênfase nas operações mentais e no uso do pensamento lógico estruturado com as ações e situações reais, dos sete aos 11 anos); d) operações formais (ênfase no pensamento complexo, articulado e hipotético-dedutivo, envolvendo a imaginação mais rica e intuição, após os 12 anos de idade). Piaget fomentou inúmeras pesquisas, contribuindo vastamente para posteriores investigações de seus inúmeros seguidores. Possibilitou a compreensão dos processos atrelados às aprendizagens no mundo do trabalho, uma vez que podemos observar que as dificuldades do indivíduo sempre se reportam às fases anteriores, caso estas tenham sido vivenciadas com lacunas e falhas, dependendo tanto da maturação cognitiva quanto da qualidade e quantidade das estimulações do meio ambiente. OS DIFERENTES ENFOQUES PARA AS APRENDIZAGENS Os comportamentalistas acreditam na aprendizagem condicionada; os gestaltistas nas relações dinâmicas dos contatos humanos internos e externos; já os psicanalistas acreditam na viabilização de um maximizado acesso ao inconsciente, sendo que este armazena o manancial criativo e faz com que a consciência emancipe o seu dispositivo maior para aprender o mundo tanto interior quanto exterior. Com Piaget, assim como com outros importantes psicoterapeutas, as Psicologias foram angariando novas vertentes e constatando em testes, pesquisas e experimentos, os inúmeros atributos das capacidades individuais e grupais para as aprendizagens, tanto específicas quanto generalizadas, do potencial humano. A INTELIGÊNCIA HUMANA Fatores hereditários e adquiridos formam e transformam a inteligência humana sob e sobre toda a interatividade que já estamos acostumados a verificar em nossas relações humanas. Para os psicólogos contemporâneos, fatores racionais e emocionais são determinantes da evoluída inteligência, assim como fatores atitudinais e inter-relacionais. INTELIGÊNCIA RACIONAL (QI) Binet, Simon e Stern, em 1912, pesquisaram o quociente de inteligência mediante uma escala que media a capacidade do conhecimento de crianças comparando as idades cronológicas. Assim sendo, catalogaram diferentes medidas para as inteligências (até a atualidade são muito utilizadas essas escalas para medição de QI). Consideram o QI saudável dentro dos parâmetros 90-120, sendo que variações para baixo ou para cima estariam relacionadas com defasagens/incapacidades e, por outro lado, genialidades/alta capacitação de expansão pessoal. Pesquisas e testes de QI em muito facilitam a seleção de pessoal para as organizações, desde a era industrial até a atualidade, pois vivemos em um mundo globalizado e de forte tendência competitiva, fazendo-se necessários os instrumentos práticos de medição de recursos para os conhecimentos específicos e gerais da inteligência humana. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (QE) Daniel Goleman (1995) traz o conceito de sincronia emocional e nos atenta para as questões das deficiências “das conscientizações dos sentires”, tão vastamente ignoradas por outras correntes das Psicologias. Por meio de experimentos ricos e complexos, tal ideia nos remonta para a integração de uma inteligência emocional e racional, na qual haja o contínuo alinhamento da rede neural com todos os âmbitos emocionais. Goleman foi o criador do termo ‘QE’ e revolucionou a visão fragmentada da inteligência, trazendo uma concepção de ampliada e inquietante constatação de que o controle emocional dependerá sempre de uma profunda e intensa capacidade de se dar conta do que se sente, sem que isso implique em atuar o sentimento concomitantemente no meio, na situação vivida. Para o autor, o sequestro emocional seria uma ação inadequada do indivíduo, comprovando a sua incapacidade de lidar com a emoção percebida, ou seja, a inconsciência de um sentimento levando a uma ação inadequada ao contexto. Essa visão da inteligência explicou o porquê de pessoas com QI elevados não serem as mais bem-sucedidas profissionalmente, por possuírem outras genialidades e não emocionais e relacionais. Suponhamos que um profissional de criação, em uma reunião em que esteja apresentando a sua campanha seja tomado por um forte sentimento de ira e resolva agir de forma grosseira e agressiva, ocasionando a perda da conta de um importante cliente para a sua agência. Com certeza, esse episódio dramático seria um típico sequestro emocional, típico de quem não lida bem com as próprias emoções, mantendo-as sob controle consciente e ajustativo, conforme exige cada situação das vivências que se apresentam no dia a dia. INTELIGÊNCIAS MÚLTPLAS E ATITUDINAIS Howard Gardner, nos anos 60, foi um importante pesquisador e trouxe a contribuição de uma teoria que identificou diferentes inteligências: a) lógico-matemática: símbolos numéricos e lineares; b) linguística: símbolos ligados às letras, palavras, assim como expressões da mesma pela palavra e suas manifestações; c) espacial: ligada aos aspectos mais físicos de contextualizações; d) musical: ligada aos sons, desde a emissão até elaborações mais avançadas; e) intrapessoal: que diz respeito às capacidades de autoconhecimento e controle emocional; e f) interpessoal: que dita as habilidades de relacionamentos com as outras pessoas, de forma madura, responsável, ética e assertiva. Para Gardner, quanto mais as pessoas puderem investir não somente em maximizar suas potencialidades, como também em potencializar suas limitações, mais e mais estarão aptas para desenvolverem em plenitude suas totais e genéricas aptidões cognitivas/emocionais. Em outras palavras, o ser inteligente atual e contemporâneo é aquele que vive a sua inteligência de maneira múltipla, de acordo com os sistemas em que se insere, uma vez que o mundo está cada vez mais criativo, diferenciado e solicitando inúmeras capacidades de ajustamentos variados e crescentes. Para os cognitivistas, o processo de organização das informações e de integração do material à estrutura do pensar e refletir, armazenar e processar, integrar aos processos conscientes é o que melhor conceitua a aprendizagem. Esta abordagem diferencia a aprendizagem mecânica da aprendizagem significativa: a) aprendizagem mecânica refere-se à aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma associação com conceitos já existentes na estrutura cognitiva.O conhecimento assim adquirido fica arbitrariamente distribuído na estrutura cognitiva, sem se ligar a conceitos específicos (ex: decorar um texto); b) aprendizagem significativa: processa-se quando um novo conteúdo (idéias ou informações) relaciona-se com conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo assim assimilado por ela. Estes conceitos disponíveis são os pontos de ancoragem para a aprendizagem. Um exemplo dessa última forma de aprendizagem: você integra e aprende o conceito que pode viver na vida real e não se esquece mais do valor significativo da teoria, graças à experiência cognitiva aprendida. E isso se aplica em diversas áreas, com diferentes pessoas, dos pequenos até grandes grupos. A inteligência é, sem dúvida, uma das qualidades humanas mais desejáveis. Cada cientista, ao longo da história e de suas pesquisas, revelam a inteligência, sob e entre diferenciados aspectos. Desde Platão, pensar a inteligência, por si só, já é uma representação bastante satisfatória dela, pois o exercício é um indicativo de capacidade reflexiva e pensante. O que mais caracteriza o ato inteligente é o fato de utilizar vários elementos da situação de maneira original ou criativamente nova. No fundo, em todo ato inteligente há uma pequena descoberta, a estrutura da inteligência: a) cognição: na solução de um problema ou situação difícil, é preciso, em primeiro lugar, reconhecer os elementos disponíveis e constitutivos da situação (essa operação é a cognição = conhecer, do latim); b) memória: além de levantar os dados do problema, é preciso retê-los na memória ou evocar outros elementos para o processamento da solução (reter e evocar são funções da memória); c) produção convergente: é uma forma de atividade intelectual que processa os elementos mentais de conformidade com os padrões convencionais (exemplo: seguir manuais de orientações nas organizações, criteriosamente); d) produção divergente: é uma forma de atividade intelectual que processa os elementos mentais de modo não convencional; as descobertas e invenções são produtos divergentes, não convencionais da mente, são originalidades expressivas do ato singular de se criar, dando um salto qualitativo nas dimensões que convergem; e) avaliação: é uma forma de atividade mental em que a mente elabora pesos e valores diferentes, julgando a respeito da correção, adequação, desejabilidade, melhor conveniência. Quando um supervisor ou coordenador está avaliando mentalmente, está processando elementos mentais que são valores, pesos, reações comportamentais adequadas etc. Em todo processo decisório, cada informação tem uma relevância e um peso próprios. Nem todos os elementos se apresentam com o mesmo valor; é um ato típico de avaliação. As atividades da mente só existem sobre determinados conteúdos; ninguém pensa a respeito de nada. O pensamento consiste em elaborar, processar mentalmente algum conteúdo. É claro que podemos raciocinar sobre inúmeras coisas. Há um número infinito de assuntos sobre os quais podemos pensar. Contudo, Guilford, psicólogo americano, reduziu-os a quatro categorias: a) conteúdos figurativos: elementos concretos num espaço limitado (inteligência espacial, concreta e mecânica); b) conteúdos simbólicos: inteligência numérica, musical ou de qualquer outro elemento simbólico; c) conteúdos semânticos: inteligência mais verbal (oradores, professores, escritores, filósofos); d) conteúdos comportamentais: inteligência social baseada em atitudes, formas de proceder, ação, padrão de ações das pessoas, formas altamente criativas para lidar com elementos comportamentais (exemplo: profissionais das publicidades e marketing necessitam dessas qualificações para melhor exercerem suas funções). ESSÊNCIA DA APRENDIZAGEM E DA INTELIGÊNCIA O que está no cerne do comportamento inteligente? Para alguns psicólogos, a ênfase está no pensamento abstrato e no raciocínio, e, para outros, o foco está nas capacidades que possibilitam a aprendizagem e a acumulação de conhecimentos. Existem correntes que enfatizam a competência social: se as pessoas conseguem resolver os problemas apresentados por sua cultura. E na época atual, os psicólogos não sabem sequer se há um único fator geral (normalmente chamado de ‘G’, inicial de ‘geral’) do qual dependam todas as habilidades cognitivas. MEDINDO A INTELIGÊNCIA – OS FAMOSOS TESTES DE INTELIGÊNCIA Alfred Binet (1857-1911), destacado psicólogo francês, foi quem criou a primeira medição prática da inteligência. De início, juntamente com seus colaboradores, mediu habilidades sensoriais e motoras, da mesma forma que o fez Galton. Logo, eles perceberam que tais avaliações não funcionariam e começaram a observar as habilidades cognitivas – duração da atenção, memória, julgamentos estéticos e morais, pensamento lógico e compreensão de sentenças – bem como medidas de inteligência. O projeto de Binet teve significativa arrancada em 1904, ano em que foi nomeado para integrar uma comissão do governo para estudar os problemas do ensino de crianças retardadas. O grupo concluiu que se deveria identificar as crianças mentalmente incapazes e dirigi-las a escolas especiais. Esse evento possibilitou estudos avançados de distinção de níveis intelectuais para a diferenciação de aprendizagens, para crianças com dificuldades cognitivas. O teste de Binet foi importado pelos Estados Unidos e por outros países. Lewis Terman, um psicólogo que trabalhava na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, fez uma revisão amplamente aceita do teste de Binet, em 1916. Esse teste ficou conhecido como Stanford-Binet e trouxe o padrão mundialmente conhecido para os testes de inteligências QI (quociente de inteligência, termo criado por psicólogos alemães). Esse teste compara os resultados obtidos por um indivíduo com aqueles de outros indivíduos da mesma idade, dentro de uma escala de probabilidades e expectativas para cada fase do desenvolvimento (conforme vimos com Piaget, para as cognições), o que também foi um forte critério para que tal escala pudesse ser configurada. Os testes de inteligência atuais ainda seguem as tendências citadas anteriormente, e somam-se a estas as da Escala de Inteligência Adulta de Wechsler, revisada em 1981, em que a preocupação é medir diferentes recursos individuais para lidar com os correspondentes desafios (subtestes verbais e de desempenho avaliam capacidades que exigem a manipulação de objetos ou outros tipos de resposta com as mãos, baseando-se no pensamento sem palavras e nas habilidades de resolução de problemas práticos, também). A PSICOLOGIA GESTALT Tendo seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação das ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia Científica do século XIX, postulando a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade dinâmica e processual, sendo, assim, uma abordagem de cunho existencial, humanística e sistêmica de fundamental importância para a compreensão da complexidade humana. A palavra ‘Gestalt’ não possui tradução exata, mas representa configuração, forma e em um primeiro momento, na Alemanha, mais especificamente com os psicólogos Max Wertheimer, Christian von Ehrenfels, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka adquire importância em uma sociedade pautada, naquela época, por concepções puramente racionais, cognitivas ou com ênfase em aspectos puramente inconscientes. Com esses pesquisadores, volta a promover a importância de uma visão de homem e de mundo mais fenomênica, integrada e contextualizada, tal como as exigências mais correntes demandavam.Basicamente, a Psicologia da Gestalt tratou a princípio dos fatores atrelados às percepções humanas e suas manifestações tanto internas quanto externas, trazendo a contribuição de enfatizar que a relação do indivíduo com o meio era o fator de maior impacto, o que mereceria análise e compreensão e que também traria a constatação da unicidade e da universalidade, fatores fundamentais dessa abordagem. Kurt Lewin (1890-1947) trabalhou 10 anos com os gestaltistas e elaborou a sua famosa teoria de campo, sendo que esta se reporta às crenças de que todo indivíduo somente pode ser compreendido se estivermos focando todo o ambiente onde ele está envolvido e, principalmente, como ele está se relacionando em seu campo (as suas crenças, valores, necessidades e limitações). Para Lewin, o indivíduo não pode ser compreendido de forma linear, rígida, fixa, mas, sim, dinâmica, processual e contextual. Os gestaltistas foram ampliando as pesquisas relacionadas às percepções e organizações humanas, percebendo que os elementos biopsicossociais estavam sempre atuando de forma sistêmica e variando de acordo com a singularidade de cada pessoa e ambiência envolvida. Outro psicólogo surgiu desse movimento, Fritz Perls, tendo sido um marco para o que viria a ser a Gestalt-terapia que conhecemos na atualidade. Para Perls, todo comportamento é a melhor resposta que um indivíduo pode dar num determinado momento e apenas o presente é capaz de fazê-lo atualizar-se e promover o ajustamento criativo que lhe dará a satisfação imediata, para que uma nova necessidade ressurja no campo interno e externo, sucessivamente. Para Perls, somente existia o presente e como o indivíduo agia era o fator mais fundamental para a compreensão de seu modo de estar sendo transformado, processualmente. Essa visão traz uma maior positividade e liberdade na perspectiva que o mundo da época tinha do caráter humano e social, o que sem dúvida agregou inúmeros desenvolvimentos e pesquisas para as Ciências Humanas e Sociais da época. Os principais conceitos da Gestalt são: a) figura-fundo: sendo que a figura é a parte central e mais importante da percepção, e o fundo, todo o contexto que lhe dá destaque; b) a busca pela boa forma: a percepção se organiza por meio da intencionalidade de buscar a harmonia e a integração, assim como um sentido satisfatório para a compreensão do que o indivíduo percebe; c) insight: existe a habilidade natural do indivíduo para a busca do fechamento do que compreende, buscando em seu repertório individual parâmetros para as soluções criativas dos problemas/percepções; d) espaço vital: o indivíduo se atualiza no campo situacional onde vive, de acordo com solicitações externas e recursos internos; e) leis da percepção: para a Gestalt (simetria, regularidade, proximidade, semelhança e fechamento): condições fundamentais para o processo autorregulativo da boa forma, para a percepção; f) o todo é maior do que a soma das partes: cada elemento possui uma função e contribui de formas correlacionais ao todo em que está inserido, sendo que o significado das partes apenas reflete exatamente a função do contexto presente. Porém, a dinâmica processual é sempre reajustativa, circular e processual, levando à totalidade e, ao mesmo tempo, alcançando novos rumos e sentidos; g) o como é mais importante do que os porquês; h) o presente, o aqui e agora, é o foco principal para a compreensão da percepção e atualização do indivíduo no seu meio (o passado e o futuro se condensam quando existe centragem de percepção e tomada de decisão, propriamente ditas). Saiba mais Para os gestaltistas, toda vez que um indivíduo expande suas fronteiras de contato e corre o risco de viver algo novo/inusitado, ocorre um ajustamento criativo; em outras palavras, a coragem de se recriar continuamente está diretamente vinculada às nossas relações de contato com o outro. Na linha divisória de encontrar o outro é que eu descubro quem é o outro e quem sou eu; cada vez mais e melhor, num crescente contínuo, se o ajustamento criativo for funcional. A TEORIA DE CAMPO DE KURT LEWIN O psicólogo Lewin (1890-1947) trabalhou durante 10 anos com Wertheimer, Koffka e Kohler na Universidade de Berlin, e dessa colaboração com os pioneiros da Gestalt foi que germinou o que viria a se tornar essa importante teoria da percepção, vista de uma maneira mais holística e sistêmica. Entretanto, sendo ele um pesquisador, mais do que um gestaltista, parte da teoria da Gestalt é para construir um conhecimento novo e genuíno. Ele abandona a preocupação psicofisiológica (limiares de percepção) da Gestalt, para buscar na Física as bases metodológicas de sua psicologia. O principal conceito de Lewin é o do espaço vital, que ele define como a totalidade dos fatos coexistentes e mutuamente interdependentes que determinam o comportamento do indivíduo num certo momento. O que Lewin concebeu como campo psicológico foi o espaço de vida considerado dinamicamente, em que se levam em conta não somente o indivíduo e o meio, mas o todo circunstancial vivido dentro de um espaço e um tempo. Um bom exemplo da visão de Lewin descarta completamente a visão fragmentada do humano nas relações sociais, ou seja, não devemos “julgar” com a nossa visão de mundo a forma de vida de um indivíduo e/ou um grupo, pois cada um se relaciona com coerência dentro de seu campo interno e externo (objetiva e subjetivamente), como em se tratando da compreensão dos modos de vida de uma tribo específica. Segundo Garcia-Roza (2005, p. 45), o [...] campo não deve, porém, ser compreendido como uma realidade física, mas sim fenomênica. Não são os fatos físicos que produzem efeitos sobre o comportamento. O campo deve ser representado tal como ele existe para o indivíduo em questão, num determinado momento, e não como ele é em si. Para a constituição desse campo, as amizades, os objetivos conscientes e inconscientes, os sonhos e os medos são tão essenciais como qualquer ambiente físico. Em outras palavras, todo o contexto segue uma coerência, uma rede de intersecções condizentes com a pessoa e com o todo, concomitantemente, sendo necessário se colocar no lugar e tempo do ser/objeto de observação para melhorar a interpretação e compreensão. Os conceitos e ferramentas da Gestalt são fundamentais para viabilizar a compreensão do funcionamento das percepções e relações do humano em diversos contextos sociais, garantindo a boa forma e a satisfação de necessidades pertinentes e possíveis, com a devida contextualização, tornando-nos mais próximos da realidade e das múltiplas verdades coexistentes do mundo em que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, dinamicamente, processualmente. O SURGIMENTO DA PSICANALISE A Psicanálise nasce com Sigmund Freud (1856-1939), na Áustria, a partir da prática médica, recuperando para a Psicologia a importância da afetividade e do inconsciente como objetos de estudo, quebrando a tradição da Psicologia como foco de uma ciência com ênfase na consciência e razão. A contribuição dessa abordagem é comparada a de Karl Marx, na importância da compreensão dos processos humanos, sociais e históricos, com investigação aprofundada e sistematizada, conforme tendências crescentes daquela época. Para compreender a Psicanálise, é necessário entender o homem por detrás da vasta teoria do inconsciente, o próprio Freud, o qual teve sua formação inicial, em 1881, em Medicina na Universidade de Viena, onde a posteriori especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou em fisiologia e em neuropatologia no Instituto onde desenvolveu pesquisas acadêmicas e clínicas,juntamente com outro médico, Breuer. Em seguida, já em Paris, com uma bolsa de estudos, trabalhou com outro psiquiatra renomado, o francês Jean Charcot, e, conjuntamente, desenvolveram um importante método de análise: a hipnose para tratamento de histerias. A sociedade da época era extremamente rígida e preconceituosa; fazia com que as pessoas reprimissem seus problemas e os somatizassem em grande escala, com profunda dor. Freud percebeu que seus conhecimentos de Medicina não estavam mais dando conta de analisar devidamente o paciente humano e resolveu observar mais atentamente as reações dos sintomas, catalogando-os e classificando-os, de acordo com o que acompanhava. Tanto a hipnose quanto o método de associação livre, assim como a análise de sonhos, fazia parte de sua metodologia de interpretação. Clinicou durante um vasto período e seus principais clientes traziam queixas que não eram possíveis de curar apenas com a medicina usual ou mesmo pela compreensão do discurso prévio, o que fez com que Freud tomasse novos rumos como médico. Utilizou o método catártico desenvolvido por Josef Breuer, isto é, um “tratamento que possibilita a liberação de afetos e emoções ligadas a acontecimentos traumáticos que não puderam ser expressos na ocasião da vivência desagradável ou dolorosa, levando à eliminação dos sintomas.” (BOCK, 1996, p. 72). Ao descobrir o inconsciente, instância psíquica que abarca conteúdos reprimidos, uma vez dolorosos e responsáveis pela origem de um sintoma, Freud, substituindo o método catártico, denomina de Psicanálise o método de investigação e de cura. Isso porque considerava que o sintoma de um paciente era uma reação de defesa ao conteúdo de dor reprimido, e se o indivíduo se apercebesse desse mecanismo, poderia ser curado, conforme pesquisas e acompanhamento de casos clínicos com inúmeros pacientes. Assim, a interpretação é o método psicanalítico utilizado para elucidar e buscar compreender os sintomas manifestados pelos indivíduos e, numa esfera mais ampla, pela sociedade. Freud ocupou-se em analisar exaustivamente o indivíduo, com uma profundidade e intensidade, o que deu origem a toda a sua vasta teoria, tida até hoje como uma das mais completas e complexas nas Psicologias adotadas até a atualidade. Vemos que todos os psicólogos se preocupam em citá-lo. Fundam suas novas teorias apropriando-se de vá- rios conceitos desse importante mestre de referência, considerado o “pai” da Psicanálise. Entre os conceitos desenvolvidos pela Psicanálise, embora alguns já tenham sido discutidos, ressaltamos os seguintes mecanismos de defesa: A projeção: mecanismo de defesa mais comum e utilizado em inúmeras situações. É o ato de atribuir à outra pessoa sentimentos ou intenções que se originam em si próprio, a fim de evitar a ameaça de algo interno que não se pode ver e dar conta. Normalmente é uma falha na autocrítica e está a serviço de proteger a autoestima da pessoa. Como exemplo: uma fofoqueira habitual, sempre se mostra como alguém vulnerável, vítima de situações, de perseguições e falatórios, assim como de observações maldosas advindas de outrem. O projetor é alguém incapaz de assumir responsabilidades e normalmente o faz por insegurança ou mesmo infantilidade. A projeção é um mecanismo muito utilizado quando se sente medo e não se pode encarar a verdade, sendo mais fácil culpar outrem, a fim de ocultar-se, evitando maior conflito emocional e dor. A introjeção: o introjetor é incapaz de separar o que é de si mesmo e o que é do outro; na verdade, toma como seu o que vem de fora, “engolindo” sem refletir e sem relutância. Como exemplo, suponhamos que uma pessoa cresceu sendo maltratada e sempre humilhada. Mesmo em fase adulta, tendo até uma posição de prestígio, pode sempre experimentar a sensação de humilhação iminente, sem motivos reais. No fundo, tomou como propriedade sua a questão da desvalorização, vivida lá na primeira infância. A negação: como mecanismo de defesa, a negação é a tentativa de não aceitar na realidade um fato que perturba o ego. Os adultos têm a tendência de “fantasiar” que certos acontecimentos não são da maneira que ocorrem, que na verdade não aconteceram. Esse “voo” de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo. Imagine uma pessoa sendo contratada para trabalhar com alguém que lhe lembra um ex-chefe autoritário. Essa pessoa sempre se mostrará insegura, dependente nas relações. Porém, não terá capacidade de enxergar a confusão que está fazendo, para não admitir publicamente que teve problemas anteriores com chefias, a fim de não colocar seu emprego em risco. Por vezes, todo o indivíduo, quando se encontra diante de um momento de extremo desafio de suas potencialidades e se sente inseguro de dar uma boa solução, pode vir a adotar atitudes regressivas, apresentando um comportamento de esquiva e dando respostas menos apropriadas às exigências do meio, até reencontrar encorajamento para enfrentar a nova situação. Isso acontece, por exemplo, quando se é recém-promovido e ainda se adota um comportamento anterior, das antigas funções, até se sentir mais seguro para as novas solicitações exigidas pelo trabalho. A Psicanálise de Freud retratou exaustivamente a questão da necessidade que o ego humano tem de sempre encontrar formas de lidar com a realidade, desenvolvendo máscaras, subterfúgios, para, de certa forma, evitar o impacto às suas formas mais espontâneas de ser. Pois, certo é, e de ordem geral, que o ambiente externo, as relações humanas são sempre revestidas de elementos ameaçadores, o que pode pôr em risco as funções do psiquismo humano. Se não houvesse os mecanismos de defesa, todos estariam muito expostos aos inúmeros perigos advindos do meio ambiente, o que supostamente geraria um grau insuportável de frustrações e danos, dentro da perspectiva de “saúde mental”. Podemos dizer que a questão da normalidade sempre será relativa, pois dependerá do grau das patologias; em outras palavras, do como e do quanto os mecanismos de defesas utilizados por uma pessoa contribuem para ou a afastam do desenvolvimento salutar, adequado ao seu ciclo de vida e às suas potencialidades. Claro que quanto mais a pessoa puder ter consciência de suas defesas e seus receios, mais saudável será a sua vida e convivência. Todas as correntes psicológicas são unânimes em afirmar e observar que a angústia e o sofrimento humanos são condições presentes na realidade e atuam no psiquismo para encontrarem resistências e, ao mesmo tempo, contribuírem na geração de recursos que capacitem o ser a evoluir na busca de renovadas soluções de impasses e problemas. Sem tais desafios, a vida seria algo sem sentido e invariável. DISTURBIOS CONTEMPORÂNEOS E PREVENÇÕES POSSÍVEIS As neuroses: mais conhecidas como manias, fobias repetitivas, que levam o indivíduo a acentuar suas formas e mecanismos de defesa ao agir, pois sempre estará superocupando-se com o meio, deixando de ser ele mesmo; As psicopatias: desvios de conduta, humor ou mesmo formas mais complexas e perigosas ligadas aos distúrbios neurológicos ou mentais, sendo que muitas vezes pode se tratar de uma incapacitação do sentir (alexitimia). As psicoses: doenças mentais graves, nas quais o indivíduo não possui nenhum contato com a realidade, sofrendo de inúmeras alucinações e surtos, que podem representar perigo para o outro e o ambiente; As esquizofrenias: são quadros mais complexos, ligados às doenças da alma, trazendo variações humorais e até levando o indivíduo a experimentar cisões comportamentais e de forte impacto emocional. Na melhor dashipóteses, somos neuróticos? Sim e não, como ditam inúmeros pesquisadores das áreas biológicas, humanas e sociais, o que nos leva a constatação de que não devemos deixar de investir em autoconhecimento e de sempre buscarmos relações humanas e profissionais favoráveis, saudáveis, para suprir, na melhor forma, os nossos campos internos, tornando possível, assim, a nossa evolução no melhor sentido, a fim de prestarmos os melhores serviços que escolhemos e os que nos são atribuídos, no decorrer cíclico de nossas existências. OS TRANTORNOS MENTAIS MODERNOS As ansiedades incontroláveis: os pânicos, geradores de impasses, medos infundados e comportamentos de fuga, mesmo que não haja a concretude de perigo, mesmo que exista alguém por perto, o indivíduo fica imobilizado para dar conta da realidade externa, pois vive fortemente o impacto de seus medos e ansiedades. As depressões: as decepções mal resolvidas e acumuladas com o tempo, a falta de alegria, de esperança, de oportunidade e de garra, a baixa tolerância para os fracassos e erros inevitáveis, a falta de uma salutar autoestima, problemas de ordem hormonal atrelados aos fatores citados anteriormente, são todos aspectos de uma energia desvitalizante que faz o indivíduo viver uma constante em seu rebaixamento de tônus vital. Transtornos bipolares: ora o indivíduo está eufórico, ora depressivo, ora maníaco e ora desvitalizado, e essas oscilações são bastante acentuadas, levando a um colapso psicológico/emocional e fisiológico, com o tempo. AS ORGANIZAÇÕES Algumas modernas organizações já perceberam que um bom ambiente de trabalho ajuda bastante, pois promove o bem-estar e propicia que todos vivam uma busca constante de equilíbrio e satisfação. Investem em salas equipadas com recursos para descanso, meditação, ginástica, ioga e outros. Estudos recentes têm comparado rendimentos profissionais com o grau de felicidade dos funcionários de uma empresa; outros estudos revelam que a saúde mental dos indivíduos está relacionada com pressões financeiras e profissionais, dado o aumento da competitividade, da insegurança advinda do crescente desemprego, entre outros fatores (separações, nascimento de mais um filho, gravidez indesejada, por exemplo). A ênfase maior e melhor sempre será a de prevenção, mas caso haja a identificação de problemas sérios, duradouros, o indivíduo deverá ser devidamente recomendado ou encaminhado para acompanhamento psicoterapêutico e/ou psiquiátrico. Em suma, conhecendo elementos gerais da Psicologia, é possível antever problemas, tomar atitudes de prevenção, desenvolvendo comportamentos que nos movam para a busca de um melhor equilíbrio mental, emocional, corporal e espiritual. Estamos vivos para as relações humanas e quanto melhores forem às trocas entre as pessoas, promovendo respeito às diferenças, que somem e multipliquem bons recursos, melhor será a qualidade de vida e melhores serão os resultados. O SURGIMENTO DA ABORDAGEM COM VYGOTSKY Essa abordagem surge na ex-União Soviética, com influência da Revolução de 1917 e a teoria marxista. Ganha força no Ocidente, por volta dos anos 70, tornando-se referência para a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia Social e a Educação, propriamente ditas. Vygotsky buscou construir uma Psicologia que superasse as tradições positivistas e pudesse abarcar o homem e seu mundo psíquico como uma construção histórica e social da humanidade. Definição de Positivismo: O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. Os positivistas não consideram os conhecimentos ligados as crenças, superstição ou qualquer outro que não possa ser comprovado cientificamente. Para eles, o progresso da humanidade depende exclusivamente dos avanços científicos. PRINCIPAIS CONCEITOS As funções superiores do homem e suas compreensões não podem ser atingidas pelo simples estudo animal, pois os animais não possuem vida social e cultural: O organismo humano não possui maturação independente para atingir funções superiores; Tanto a linguagem quanto o pensamento humano têm origem no contexto social; Para se compreender e explicar as funções superiores do homem é necessário integrá-los aos aspectos da cultura; Para se compreender e explicar as funções superiores do homem é necessário integrá-los aos aspectos da cultura; Existe uma unidade entre consciência e comportamento, que deve ser integrada pela Psicologia Humana e Social; Os fenômenos são processos em constante transformação; A natureza e o homem estão diretamente ligados, um transformando o outro concomitantemente; O conhecimento deve ser construído por meio de um rastreamento da evolução dos fenômenos; É a vida que um homem tem que determina a sua consciência. Vygotsky vem sendo estudado por outros teóricos e, no Brasil, tem influenciado diretamente a Educação, desde a década de 1980, o que tem possibilitado uma construção de uma Psicologia Social mais crítica e significativa, uma vez que amplia e aprofunda a visão humana e social do ser humano, de forma diferenciada. Sem dúvida, sua rica concepção humana e social do homem tem contribuído para elucidar os aspectos mais complexos da natureza e possibilidades de aprendizagens humanas, dentro de divergências culturais, ampliando a compreensão e o respeito cuidadoso que se deve ter em se tratando das concepções do homem e todas as suas correlações (essenciais e existenciais). A PSICOLOGIA INSTITUCIONAL E OS TIPOS DE AGRUPAMENTOS HUMANOS O ser humano é um ser social para os psicó- logos existencialistas, e concebê-lo de forma existencialista e sistêmica é urgente, uma vez que toda a natureza humana se inicia a partir da própria relação, desde o surgimento dos primeiros embriões humanos, como dita a própria história do homem e de sua humanidade. A natureza sociável o é por ter o homem a habilidade para o ajustamento criativo, natural e original, dependendo de fatores atrelados às personalidades de cada um e aprendizagens, tal como estilos de vida. TIPOS DE GRUPOS São tipos de grupos: a) primários: a família; b) secundários: amigos da escola, grupos mais próximos e trabalho; c) terciários: os grupos como associações em clubes, times, seitas, por outros objetivos, mais esporádicos. O indivíduo transfere para os grupos de ordem secundária e terciária os seus padrões aprendidos e projetam expectativas, de acordo com sua mobilização ou, o contrário, suas resistências/dificuldades de pertencimento e cooperação. COMO EVOLUEM OS GRUPOS DE TRABALHO Estudos têm indicado, desde Kurt Lewin (1890-1947), que o ser humano primeiramente se agrega por um objetivo comum (grupo) e, à medida que fica estabelecida uma divisão de tarefas e um maior envolvimento entre seus membros, esse agrupamento recebe uma nova forma, mais coesa (equipe), que pode ou não se aperfeiçoar nas redes de cooperação e intimidades, fazendo, assim, surgir a autonomia e a interdependência fluida, criativa, entre todos os participantes, atingindo uma configuração quase que infalível, indestrutível (time). Tem-se observado que quanto mais integrados forem os grupos, mais sucessos estarão destinados a ter em suas tarefas/objetivos, pois favorecerão as atitudes conhecidas como “um por todos e todos por um”, fundamental no mundo das comunicações e relações humanas em geral, inclusive.
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