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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
 UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL 
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL – LICENCIATURA (A DISTÂNCIA)
ESTÁGIO SUPERVISIONADO/SURDEZ
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
ESTER DORNELLES
IARA VIVIAN
VANESSA M. FABRIS MANTAY
Três Passos, RS,Brasil, 2017
ESTÁGIO SUPERVISIONADO/SURDEZ
por
Ester Dornelles
Iara Vivian
Vanessa M. Fabris Mantay
Relatório apresentado ao Curso de Educação Especial - Licenciatura (a distância) - como requisito parcial para a aprovação na Disciplina de Estágio Supervisionado/Surdez.
Carolina Noya
Três Passos, RS, Brasil 2017
Universidade Federal de Santa Maria 
Universidade Aberta do Brasil
 Centro de Educação
Curso de Educação Especial – Licenciatura (a distância)
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Relatório de
ESTÁGIO SUPERVISIONADO / SURDEZ
elaborado por 
Ester Dornelles 
Iara Vivian
Vanessa M. Fabris Mantay
como requisito parcial para a aprovação na Disciplina de Estágio Supervisionado/Surdez
COMISÃO EXAMINADORA:
Carolina Noya
(Orientadora)
Priscila Linassi
(Tutora a Distância)
Marla Guimarães
(Tutora Presencial)
Três Passos, 04 de Dezembro de 2017
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO
1.1 LOCAL DE ESTÁGIO
As observações e, posteriormente, o estágio se deram na Sala de Recursos Multifuncional da Escola Estadual de Ensino Médio Águia de Haia, localizada na Rua Bento Gonçalves n° 561, no Centro de Três Passos, RS. A escola funciona em três turnos oferecendo atendimento a alunos de ensino fundamental e médio. A Escola reestruturou seus espaços no ano passado para dar melhores condições de acessibilidade e atender as necessidades e os interesses da comunidade.
A Filosofia da escola é educar para a sensibilidade e tem como finalidade fortalecer a vivência do respeito, da responsabilidade ética, buscando a excelência no ensino público e na formação de cidadãos.
Parte dos alunos da escola são residentes do município, fazendo parte também do quadro escolar alunos de outros municípios, apresentando uma diversidade cultural e étnica. A predominância socioeconômica é de classe média- baixa e de escolaridade incompleta e, a maioria das famílias é assalariada da indústria, comércio, diaristas, autônomos e agricultores.
O Atendimento Educacional Especializado - AEE é oferecido aos alunos no turno inverso ao ensino regular e, no momento, atende alunos do ensino fundamental, séries iniciais e finais e ensino médio, de forma a complementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.
1.2 A HISTÓRIA DOS SURDOS
Buscamos traçar alguns pontos importantes da história da educação de surdos, levando em consideração a relevância de compreender de que maneira se estabeleceram e se organizaram as concepções de ensino vigentes atualmente.
Baseando-se em estudos e leituras realizadas sobre a história dos surdos podemos observar as diferentes propostas educacionais direcionadas aos sujeitos surdos e, refletindo sobre esses aspectos da educação dos surdos, buscamos contextualizar os métodos de ensino na área da educação e de desenvolvimento pedagógico dos surdos.
Através de estudos realizados percebeu-se que apenas partir do século XVI, iniciou-se um processo de preocupação com a educação das pessoas surdas, “[...]quando surgem relatos de preceptores que se propunham a educar e desenvolver a fala de surdos da nobreza.” (ALPENDRE E AZEVEDO, 2008. p.2).
Outro marco que destacamos, de acordo com Alpendre e Azevedo, 2008, é do século XVII, quando surge a primeira escola pública para surdos que foi fundada em Paris, pelo Abade Charles Michel de L´Epée. Nesta mesma época surgia na Alemanha um movimento que vinha com uma proposta de educação oralista, que era defendida por Samul heinick, então se constituindo as primeiras noções do chamado método oralista.
A partir de 1880, com o Congresso Internacional sobre educação de surdos, que ocorreu em Milão, o método oralista ganhou espaço e a Língua de Sinais foi sendo excluída, pois acreditava-se que apenas pelo método oralista é que o sujeito surdo poderia se igualar ao ouvinte.
A partir de todos esses acontecimentos, de acordo com Alpendre e Azevedo,2008, eis que nos anos 70 surge a proposta educacional da Comunicação Total “[...]que utiliza todas as formas comunicação possíveis para o processo de ensino-aprendizagem dos surdos, por acreditar que a comunicação, não a língua, deve ser privilegiada.” (ALPENDRE E AZEVEDO, 2008, p.03).
De acordo com Carvalho, 2007, a Comunicação Total, mesmo utilizando diversos artefatos linguísticos e pedagógicos não conseguiu dar conta do processo de ensino-aprendizagem dos sujeitos, deixando-os em defasagem comparado aos demais alunos.
No Brasil, em 20 de abril de 2002, a Lei nº 10.436, que regulamenta a Língua Brasileira de Sinais, passou a proporcionar que as comunidades surdas viessem a ser respaldadas pelo poder e serviços públicos. Em 2005, através do Decreto n° 5.626/05 estabeleceu-se a educação inclusiva para os surdos, em uma modalidade bilíngue, buscando garantir educadores capacitados e, ainda, a presença do intérprete da língua de sinais nas classes em que houver situação de inclusão de pessoa surda.
De acordo com nossas observações e pesquisas, na escola Águia de Haia o atendimento a alunos surdos iniciou, nessa instituição, em 1999 através da criação da Classe Especial para Deficientes Auditivos, que foi regulamentada pelo Parecer 749/99 do CEEd. Uma segunda Classe Especial de Deficientes Auditivos foi criada em 2004, pelo Parecer 49/2004 do CEEd, mas em 2011 ocorreu a modificação dessas classes especiais, passando a funcionar a Sala de Recursos Multifuncional, onde são atendidos os alunos público alvo da educação especial.
O Decreto 7.611 de 17 de novembro de 2011, garante um sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades e a adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, para o desenvolvimento acadêmico e social.
1.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SUJEITO
Realizamos as observações, e posteriormente o estágio, na Sala de Recursos Multifuncional da Escola Estadual de Ensino Médio Águia de Haia, onde tivemos a oportunidade conhecer a aluna que nomeamos D.S.O. Observamos suas interações com seus pares e seu comportamento na hora do recreio e no pátio da escola. Em conversas informais com os professores da sala de aula regular aprofundamos e pudemos estar mais a par de como se estabelecem interações com educadores e colegas em sala de aula e demais espaços escolares, as atitudes e reações diante das dificuldades e potencialidades.
A educanda tem 13 anos, está frequentando o 6º ano do ensino fundamental pela segunda vez, apresenta um quadro de surdez progressiva associado a deficiência mental. Foi transferida da escola São José para a Escola Águia de Haia no ano de 2016, já frequentava o Atendimento Educacional Especializado - AEE na rede municipal de ensino, em razão da deficiência intelectual e auditiva. É autônoma em suas atividades de vida diária, apresentando boa higiene e cuidados pessoais.
A aluna vive com a mãe e três irmãos no Bairro Frei Olímpio, no ano passado os pais se separaram, a educanda relata que os pais se reconciliaram, mas o pai está em outra cidade a trabalho. De acordo com informações obtidas na escola, a renda familiar é proveniente do Bolsa Família. Em alguns atendimentos a educanda relata falta de alimentos em casa e solicita à direção da escola para almoçar na instituição. Através de conversas com a educanda e com profissionais da escola, percebemos que a estrutura familiar da educanda possui muitas fragilidades, o que reflete negativamente na vida acadêmica da educanda.
Em entrevista, a mãe da educanda relatou que a filha nasceu na rua e tomou água do parto, desde o nascimento a saúde da filha foi muito frágil sendo que, na infância precisou fazerfisioterapia, segundo a mãe, para limpar os pulmões, também se fez necessário a realização de uma cirurgia do ouvido, nariz e garganta. Anualmente a aluna necessita realizar revisões médicas em razão de problemas auditivos. De acordo com exames de audiometria, realizados em 2012, pode-se constatar que a educanda apresenta uma perda auditiva de 60%, segundo relato da mãe, os médicos a alertaram para o risco da perda total da audição. Além desses fatos, a educanda apresenta uma mancha esponjosa nas costas, que é preocupante, e que os médicos encaminharam para exames em Porto alegre, buscando saber do que se trata. Ainda, a mãe relata que no inverno deste ano a educanda sofreu muito com dores e infecções de ouvido.
De acordo com os registros da aluna na escola, até o ano passado frequentava atendimento psicológico, que foi abandonado porque a mãe não pode mais acompanhá-la, já que estava ocupada com o nascimento de outra filha.
Sobre a rotina escolar, a educanda demonstra insegurança, é reservada, não quer que os colegas olhem seu caderno ou suas atividades, apresenta comportamentos infantilizados e egocêntricos, não admite que a professora atenda aos demais alunos, as vezes tem atitudes estranhas como crises de risos em situações que não são engraçadas ou dar sustos nas colegas ou professoras. A aluna tem uma amiga e preocupa-se com ela, mas mostra-se pouco tolerante com os demais colegas.
A educanda senta-se sempre na primeira fileira de carteiras na sala de aula regular, o que acontece em função da deficiência auditiva. A aluna possui dificuldade em acompanhar as atividades propostas pelos professores, interage pouco com educadores e colegas e, muitas vezes, se esquiva de participar do que é proposto, vindo a solicitar aos professores atividades mais fáceis, diferenciadas das dos demais colegas.
No AEE, a educanda é frequente e demonstra gostar de participar dos atendimentos, adora os jogos educativos tanto na sala de informática como na Sala de Recursos Multifuncional. Durante este ano demonstrou estar preocupada em aprender a ler, pois a família cobra resultados com relação a alfabetização, tem reivindicado atividades que fazem menção aos temas trabalhados na sala de aula regular, porém as vezes mostra-se resistente e não quer realizá-los.
Em relação à aprendizagem cognitiva de conteúdos escolares, a educanda, encontra-se aquém da série que frequenta, ou seja, está no sexto ano, mas ainda não é alfabetizada. A aluna identifica números e realiza cálculos de adição e subtração, reconhece a maioria das letras e demonstra preocupação em aprender a ler, ao ser solicitada a escrever algumas palavras, pesquisa nos cartazes da sala, no caderno ou no computador, buscando referência para a escrita.
2 REFLEXÕES E ANÁLISES DO ESTÁGIO
De acordo com as nossas observações para com a aluna D.S.O. desenvolvemos um plano a ser seguido no Estágio Supervisionado em Surdez, cujo tema se deu “Aquisição da Língua de Sinais”, para o qual estabelecemos como objetivo geral proporcionar à educanda, atividades que estimulem e auxiliem na construção da identidade e cultura surda, visando desenvolver habilidades e conhecimento da língua brasileira de sinais que venham a colaborar nas dificuldades e nas reais necessidades encontradas no seu cotidiano.
Para dar conta desse objetivo geral, elaboramos diversificadas atividades com objetivos específicos buscando introduzir questões sobre a identidade e cultura surda. Entre essas atividades, propomos trabalhar os números por meio da “Roda dos números”, de temas relacionados a rotina diária, alimentação, família, animais de estimação, dentre outros elementos que constituem seu dia a dia.[1: As atividades e planejamentos estão melhor descritos no ANEXO D.]
Mediante esse contexto foi que planejamos essas intervenções de estágio para a educanda na Sala de Recursos Multifuncional da escola estadual de ensino Médio Águia de Haia. A aplicação do estágio se deu da seguinte maneira: duas vezes por semana na segunda e na terça-feira durante o período matutino, no horário das 9h até às 10h. Sendo que, foram realizadas observações no turno inverso na sala regular da educanda, onde voltamos o olhar para seu desempenho, comportamento, aceitação e interação com os colegas da turma em que frequenta, bem como a atuação dos professores em relação à aluna.
Pensando em todos os aspectos da educanda, foi que desenvolvemos nossa proposta de estágio através de referencial teórico que embasasse o desenvolvimento das potencialidades da mesma pensando na importância do reconhecimento e constituição do sujeito através da sua inserção na cultura surda, a partir da construção da identidade como sujeito surdo, dentro de uma cultura.
Portanto, propomos um trabalho que possibilite o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS como meio de comunicação e interação com a família, colegas e professores, na escola e também na comunidade, proporcionando que a educanda se aproprie da identidade e cultura surda. Um exemplo de atividade realizada durante o estágio foi sobre a rotina diária onde realizamos um levantamento sobre hábitos da rotina de D.S, escrevendo-os no quadro. Em seguida pesquisamos respectivas figuras e os sinais para a construção de um cartaz para registrar a atividade.
Existem diferentes possibilidades de vivenciar a surdez e elas são construídas cultural e historicamente, no caso da educanda D.S.O, que possui um resquício de audição, que percorre um quadro de surdez progressiva e, portanto, faz parte de um grupo de pessoas ouvintes que passam a ser surdos, constitui-se em uma identidade híbrida, o que, segundo Perlin, “é uma espécie de uso de identidades diferentes em diferentes momentos” (2005, p.63). 
A identidade surda de transição ocorre em sujeitos que depois de anos de “cativeiro da hegemônica experiência ouvinte” (PERLIN, 2005, p.64), passam a frequentar e partilhar das práticas simbólicas desses grupos. Essas novas interações surdo-surdo, aprender a LIBRAS e as novas representações e discursos, é que se reaprende a forma de olhar, sentir, pensar e expressar o mundo.
Dentro da nossa proposta de estágio refletimos sobre o contexto da aluna e buscamos apresentá-la a uma cultura da qual ela faz parte, embora encontre-se distanciada, pois:
Vygotsky concebe o homem como um ser sociocultural, afirmando que seu desenvolvimento se dá, inicialmente, no plano intersubjetivo e depois no plano intra-subjetivo. No desenvolvimento assim concebido, a linguagem terá um papel fundamental, como mediadora das interações e da significação do mundo. (VYGOTSKY, 1993, p.114).
Como o desenvolvimento humano, está intimamente ligado à interação social em diferentes espaços, é de fundamental importância que a aluna possa se comunicar e interagir nos diversos espaços e segmentos sociais, construindo assim o conhecimento.
Desse modo, as relações sociais constituem-se por intermédio dos processos semióticos e a construção da identidade só poderá ser examinada considerando-se a dinâmica de significados e sentidos produzidos e interpretados no jogo interativo do sujeito com o outro (GESUELI, 2006, p.94).
Podemos dizer que o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como a Língua oficial da pessoa surda, através da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto n° 5.626/05, representou uma conquista para a comunidade surda no Brasil, mas muitos surdos ainda precisam ser incluídos.
A Língua Brasileira de Sinais é um sistema linguístico legítimo e natural, utilizado pelos surdos brasileiros que favorece o acesso ao conhecimento e interação no grupo social. Porém Gladis Perlin, 2005, critica a influência do poder ouvintista que prejudica a construção da identidade surda e diz da necessidade de procurar garantir que o ensino desta língua seja realizado, preferencialmente, por professores/instrutores surdos, viabilizando dessa forma maior riqueza interativa cultural entre professor/instrutor surdo e alunos.
Tendo em vista os aspectos descritos acima abordamos,nas intervenções, temas relacionados à identidade surda, família, alfabeto e números, considerando-se de necessidade básica para que D.S possa fazer uso dos mesmos em sua comunicação gestual e escrita, visando escrever o seu nome, de seus familiares entre outros. Buscamos propor atividades práticas e que tivessem significado para a educanda. 
Outro exemplo de plano de aula foi relacionado à alimentação, onde fizemos um levantamento juntamente a aluna sobre alimentos mais consumidos por ela e sua família. Posteriormente, foram oferecidos folhetos de comerciais, revistas e jornais para que ela os selecionasse e recortasse estes alimentos para confeccionar fichas que viessem a fazer parte de um fichário.
Ainda, realizamos atividades sobre os animais, buscamos fazer um levantamento sobre seu animal de estimação e outros animais conhecidos e que estão presentes em sua casa e nos ambientes que frequenta. Utilizamos a internet, onde a aluna interagiu com um jogo da memória em que teve que identificar o animal e o seu sinal. Em seguida imprimimos fichas, com os animais elencados, com os respectivos sinais, para a confecção do álbum dos animais.
Realizando o fechamento das atividades, fizemos uma exposição de todos os trabalhos elaborados durante o período de estágio e, posteriormente retomamos os sinais dos elementos envolvidos no contexto do estágio.
Considerando que os deficientes auditivos e surdos interpretam as circunstâncias visualmente, podemos observar que através dessas experiências que se constrói a compreensão do que se dá ao seu redor. De acordo com Perlin e Miranda:
Experiência visual significa usar a visão[...]como meio de comunicação. Desta experiência visual surge a cultura surda representada pela língua de sinais, pelo modo de ser, de se expressar, de conhecer o mundo, no conhecimento científico e acadêmico. (PERLIN e MIRANDA 2003, p.218).
Dessa maneira o sujeito se constitui como sujeito surdo, que possui uma identidade surda dentro da cultura surda. Através das experiências visuais buscamos desenvolver diversas atividades, que pudessem proporcionar aprendizagem efetiva a essa educanda.
Portanto, analisando o contexto e como se desenvolveu o estágio, podemos perceber que a aluna desenvolveu com empenho as atividades propostas, mostrou-se sempre atenta e interessada em relembrar os sinais, observamos que ela foi receptiva e comprometida com o tema central do estágio que também envolveu a família no processo de estudo da Língua Brasileira de Sinais. Isso significa que de alguma forma conseguimos atingir positivamente o processo de ensino-aprendizagem dessa educanda, o que por si só já é um avanço considerando a inclusão dos sujeitos surdos nos espaços escolares.
3 CONSIDERAÇÕES E ENCAMINHAMENTOS FINAIS
Realizando uma reflexão sobre o decorrer do Estágio Curricular Supervisionado em Surdes, ocorrido na escola Estadual de Ensino Médio Águia de Haia, com a educanda D.S.O., que possui diagnóstico de deficiência intelectual e auditiva, que frequenta o 6º ano do ensino fundamental, aliado ao Atendimento Educacional Especializado, na mesma instituição em turno inverso ao ensino regular, podemos concluir que a surdez deve ser compreendida como uma diferença linguística e não como uma deficiência. 
Pensando na aluna com que trabalhamos durante este período podemos compreender que surdez ou deficiência auditiva não pode ser vista pela falta, mas, para facilitar os processos de ensino-aprendizagem e a vida desse sujeito, devemos buscar incluí-lo na cultura surda, para que esse sujeito se desenvolva e crie sua identidade dentro dessa perspectiva e para que possa se desenvolver com todas as suas potencialidades.
Podemos dizer que a surdez causa a uma criança que nasce surda, ou que perde a audição nos primeiros anos de vida, o mesmo que causaria a uma criança ouvinte completamente apartada de sua comunidade, a ausência da transmissão linguístico-cultural. Percebe-se que o surdo que frequenta uma escola de ouvintes fica, ainda, muito isolado pela dificuldade da comunicação, uma vez que os alunos e professores não conhecem a LIBRAS e, percebe-se, a ausência de instrutores e intérpretes em muitas escolas onde existem alunos surdos incluídos.
Portanto, mais esforços deverão ser empreendidos para fazer valer o pleno direito da pessoa surda e esta luta é de todas as pessoas (família, escola e poder público) para efetivação de medidas que contemplem e preenchem as lacunas ainda existentes na educação e inclusão das pessoas surdas na comunidade. Sabemos que existem poucas escolas de surdos e que essas, na maioria das vezes, ficam em cidades maiores e, grande parte dos surdos de comunidades pequenas, ficam muito isolados em escolas e em comunidades ouvintes.
A partir do contexto em que realizamos o Estágio Curricular Supervisionado em Surdez e da realidade da educanda D.S.O., podemos perceber que a situação socioeconômica do sujeito e de sua família interfere em seu desenvolvimento, pois nas famílias de menor poder aquisitivo também existe maior retração, ao passo em que, nas famílias de surdos em situação econômica e cultural mais estabelecidas, tem alcançado maior êxito no processo de inclusão e desenvolvimento da pessoa surda.
Portanto, a responsabilidade assumida pela escola pública, onde estuda um aluno surdo, é de suma importância, porque trabalha com alunos que vem desde as camadas de comunidade mais humildes até as comunidades com maior poder aquisitivo, possuindo assim, dificuldades a serem superadas no sentido de trazer, para seu quadro de pessoal, pessoas capacitadas para atuarem buscando efetivar a inclusão. Uma das necessidades a serem supridas se refere ao tradutor/intérprete da Língua de Sinais.
Não basta apenas o envolvimento da família no processo da aquisição da língua de sinais, mas a promoção desse sujeito e sua inserção escolar e social também é de fundamental importância. A difusão da LIBRAS na escola e na comunidade, de forma que a aluna possa se comunicar e desenvolver seu aprendizado para a vida e num futuro próximo para a fomentação de uma profissão, é imprescindível. A educação bilíngue ainda é um processo que deve ser aprimorado e as políticas públicas precisam implementar propostas de forma a efetivar de maneira mais incisiva essa prática em todas as situações.
Pensando mais especificamente na situação da educanda D.S.O., podemos concluir que o processo de ensino-aprendizagem da LIBRAS em sua escola não deve se dar apenas a ela no turno do Atendimento Educacional Especializado, mas deve constituir parte integrante do currículo de todos os alunos da instituição, assim como os professores e demais profissionais da escola também devem possuir domínio da língua de sinais para conseguirem estabelecer comunicação com a educanda, pois aí a escola estará efetivando um processo de inclusão de um sujeito surdo e estará proporcionando um espaço em que este sujeito poderá se constituir e construir sua identidade surda.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, E.O.C. de. Leitura e Surdez: um estudo com adultos não oralizados. Tese de doutorado na Faculdade de Educação da UNICAMP, 2000.
ALPENDRE, E.V.; AZEVEDO, H.J.S. de. Concepções sobre surdez e linguagem e a aprendizagem de leitura. Curitiba, 2008. Disponível em: < http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/artigos_edespecial/elizabeth_alpendre.pdf>. Acesso em: 03/12/2017.
ARANHA, M.S.F. Mediação escolar e inclusão: revisão, dicas e reflexões A interação social e o desenvolvimento humano. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X1993000300004>. Acesso em 09/11/2017.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Nº. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências.
CARVALHO, P. V. de. História dos Surdos no Mundo. Editora Surd´Universo. Lisboa 2007.
EIJI, H. Identidade surda. Disponível em: https://culturasurda.net/identidades-surdas. Acesso em: 20/08/2017.
GESUELI, Z. M.Língua(gem) e identidade: a surdes em questão. Educação e Sociedade, Campinas, v.27, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n94/a14v27n94.pdf > Acesso em: 09/11/2017.
MACEDO, J.M.F. O processo de inclusão de alunos surdos em salas inclusivas: numa perspectiva bilíngue. Disponível em: <https://www.inclusive.org.br/arquivos/27512>. Acesso em 10/11/2017.
PERLIN, G.; MIRANDA, W.; Surdos: o narrar e a política. Ponto de vista (UFSC) v.05, p.217-226, 2003, Florianópolis SC.
SANTOS, L.F. Dos; LACERDA, C.B.F. de. O surdo e o Atendimento Educacional Especializado. Onde se aprende a Libras? Em ambiente natural ou artificial?
Disponível em:<http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/19730.pdf > . Acesso em 09/11/2017.
SANTOS, W DE J. Ambiente de Ensino-Aprendizagem da LIBRAS: No AEE para alunos surdos; Disponível em: <http://editora-arara-azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/3)%20Santos%20REVISTA%2011.pdf> Acesso em 09/11/2017.
VYGOTSKY, L. S. Fundamentos de defectologia. In: Obras Completas. Havana: Editorial Pueblo y Educacion, 1995.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
ANEXOS
ANEXO A – FICHA DE FREQUÊNCIA IARA
ANEXO B – FICHA DE FREQUÊNCIA ESTER
ANEXO C – FICHA DE FREQUÊNCIA VANESSA
ANEXO D – PLANOS DE ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Ministério da Educação
Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação
 Curso de Educação Especial –Licenciatura(EAD)
EDE 1105 ESTÁGIO SUPERVIOSIONADO/SURDEZ “A”
ACADÊMICA: VANESSA M. FABRIS MANTAY ; IARA VIVIAN; ESTER S. DORNELLES
PROJETO PEDAGÓGICO:
IDENTIFICAÇÃO DA TURMA:
Sala de Recursos Multifuncional
ALUNA:
D. S.
TEMA:
Minha família e eu desenvolvendo em conjunto a Língua de Sinais
PERÍODO:
Setembro/Outubro
OBJETIVO GERAL
Proporcionar ao aluno, atividades que estimulem e auxilie na construção da identidade e cultura surda da aluna. Visando desenvolver habilidades e conhecimento da língua brasileira de sinais que venham a auxiliar nas dificuldades e nas reais necessidades encontradas no seu cotidiano.
DESCRIÇÃO DETALHADA DAS ATIVIDADES SEMANAIS:
1ª SEMANA: Objetivos específicos:
Refletir sobre a identidade e cultura surda;
Criar junto com a aluna sua identidade surda (criação do sinal)
Conteúdo:
Como eu me reconheço dentro da cultura surda.
Metodologia:
Iniciaremos com um diálogo sobre a cultura dos surdos e como cada um se identifica dentro desta. Na sequência assistiremos com a aluna um vídeo sobre a identidade surda (https://www.youtube.com/watch?v=HdsNBRNojE4) e em seguida vamos trabalhar através de desenhos o que mais a aluna gosta nela tentando desta forma explorar uma forma de criação de sinal e o mesmo se repete com as professoras. Também poderá se fazer o uso de imagens para apoio e maior compreensão para enriquecimento do trabalho.
Recursos
Imagens, folha oficio, canetas, lápis de cor, cola.
Avalição:
A avaliação do aluno será realizada durante o desenvolvimento do trabalho, verificando-se os resultados que vão sendo alcançados e de forma a identificar se o aluno:
Conseguiu obter a compreensão desejada
Participou das atividades
Conseguiu concluir a atividade
Houve interesse e envolvimento da aluna
1.1 2ª SEMANA Objetivos específicos:
Dinâmica de observação e descrição oral de cada familiar
Compreender e desenvolver os sinais (pai, mãe, vó, vô etc.)
Construção da árvore genealógica através das fotos da família.
Conteúdo: Minha família
 Metodologia:
Realizaremos um diálogo relembrando a primeira atividade sobre a identificação de cada pessoa para o sujeito surdo. Na sequência trabalharemos a construção da árvore genealógica da aluna começaremos a construção dos sinais através das fotos dos familiares.
Recursos:
Fotos, tesoura, folhas e cola
Avaliação:
Serão observados a participação e o envolvimento com as atividades que serão desenvolvidas.
6.3. 3ª Semana
Objetivos específicos:
Conhecer os sinais que identifiquem cada membro da família: pai, mãe, filho, irmão, tio, avô, primo.
Sinalizar os sinais apresentados.
Construir e jogar um jogo de memória com a figura do familiar x sinal x nome;
Conteúdos:
Sinais da Família: papai, mamãe, filho, tia, vovó, irmãos, primo e diferenciação para designação do feminino e masculino
Metodologia:
Apresentaremos as fichas com o familiar e o respectivo sinal (Ex.: figura do pai e o sinal que designa o pai). E em seguida treinaremos os sinais, um a um. E na sequência será construído um jogo de memória com figura-sinal-nome. E na sequência será jogado com ela.
Recursos:
Fichas com figura e o sinal, cartolina, cópias xerográficas, lápis de cor, cola tesoura.
Avaliação:
Será diária, observando e estimulando sua aprendizagem e envolvimento nas atividades.
6.4 4ª SEMANA Objetivos específicos:
Conhecer a importância do alfabeto datilológico para a comunicação do aluno surdo.
Reconhecer o alfabeto datilológico
Aprender a reconhecer e sinalizar o nome usando o alfabeto datilológico
Traduzir para LP o seu nome
Conteúdos: Alfabeto datilológico 
Metodologia:
Será apresentado a aluna o alfabeto datilológico através de várias ferramentas (cartazes, mídias e gravuras, jogos) na sequência trabalharemos o sinal de cada letra do alfabeto para melhor compreensão e desenvolvimento.
Recursos:
Cartaz com o alfabeto datilológico, mídias, gravuras, jogos folhas, lápis preto, caderno.
Avaliação:
A avaliação será feita no decorrer da aplicação do plano, por ela ser sistemática e contínua e flexível.
Também será observado o cumprimento das atividades e se houve compreensão e interesse das mesmas.
6.5 5ª SEMANA: Objetivos específicos:
Aprender os numerais de 0 a 9
Conhecer e sinalizar o dia do seu aniversario
Construir a roda dos números, fazendo constar nela o numeral cardinal na parte móvel o sinal em libras e sinalizá-lo
Conteúdos:
Numerais e a data do seu aniversário em libras
Metodologia:
Trabalharemos os numerais, e a data de seu aniversário, ela os sinalizará e na sequência serão registrados. Também serão apresentados os números de 0 a 9 com os respectivos sinais que serão trabalhados e aprendidos pela aluna. A proposta da atividade vai consistir na construção da roda dos números. Esta roda terá o numeral de zero a nove escrito e junto o respectivo número de elementos. E nos grampos será fixado o sinal dos mesmos para posterior realização do trabalho.
Exemplo:
Recursos:
Caderno, lápis, Cartolina, tesoura, E.V.A, Canetões, cola.
Avaliação:
A avaliação se dará pela observação direta sobre sua atuação sempre fazendo o reforço positivo sobre sua aprendizagem.
Ministério da Educação
Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação
 Curso de Educação Especial –Licenciatura(EAD)
EDE 1105 ESTÁGIO SUPERVIOSIONADO/SURDEZ “A”
ACADÊMICA: VANESSA M. FABRIS MANTAY ; IARA VIVIAN; ESTER S. DORNELLES
2 IDENTIFICAÇÃO DA TURMA:
6º ano do Ensino Fundamental
3. ALUNA:
D. S.
4. TEMA:
Família e identidade surda
5 PERÍODO:
Outubro/novembro
OBJETIVO GERAL
Proporcionar ao aluno, atividades que estimulem a construção da identidade e cultura surda da mesma. Visando desenvolver habilidades e conhecimento da língua brasileira de sinais que venham a colaborar nas necessidades encontradas no seu cotidiano.
DESCRIÇÃO DETALHADA DAS ATIVIDADES SEMANAIS:
1ª SEMANA: Objetivos específicos:
Trabalhar a ampliação do vocabulário em libras
Trabalhar a ampliação do vocabulário em Libras
Selecionar figuras que representem a sua rotina e os respectivos sinais.
Conteúdo:
Rotina diária
Metodologia:
Iniciaremos com um diálogo sobre a ações e tarefas que ela desenvolve em sua rotina diária rotina diária. Na sequência sugerimos pesquisar sobre os sinais que identifiquem cada ação e sinalizá-los. Ofereceremos à aluna revistas e livros para recortar figuras que representem ações de sua rotina. Na sequência será confeccionado um cartaz em que aparecemas ações de sua rotina e os respectivos sinais.
Recursos
Imagens, Cartolina, folha oficio, canetas, lápis de cor, cola.
Avalição:
A avaliação do aluno será realizada durante o desenvolvimento do trabalho, verificando-se os resultados que vão sendo alcançados e de forma a identificar se o aluno:
Conseguiu obter a compreensão desejada
Participou das atividades
Conseguiu concluir a atividade
Houve interesse e envolvimento da aluna
6.2 2ª SEMANA Objetivos específicos:
Elencar os alimentos que fazem parte da alimentação diária da família
Apresentar os sinais dos referidos alimentos.
Selecionar figuras dos referidos alimentos e os sinais correspondentes, para elaborar fichas de cada um.
Conteúdo: Alimentação diária 
Metodologia:
Iniciaremos um diálogo sobre a alimentação familiar questionando que sinais de alimentos que ela já conhece. Em seguida apresentaremos à aluna uma apostila com os alimentos e os respectivos sinais, pedindo que ela os sinalize. Proporemos
que ela selecione em revistas, livros e folhetos de comerciais, figuras de alimentos para a construção de fichas dos mesmos e o respectivo sinal.
Recursos:
Apostila dos sinais dos alimentos,	revistas, livros, folhetos de comerciais, tesoura, cartolina e cola e caixa que servira para fichário.
Avaliação:
Serão observados a participação e o envolvimento com as atividades que serão desenvolvidas.
6.3. 3ª Semana
Objetivos específicos:
Elaborar uma ficha de cada alimento com o respectivo sinal
Fazer um fichário.
Organizar as fichas na ordem alfabética.
Conteúdos:
Fichário dos alimentos
Metodologia:
Sugerimos à aluna a construção das fichas de cada alimento e o seu sinal e a confecção de um fichário onde serão dispostas estas fichas em ordem alfabética.
Recursos:
Apostila de sinais, livros, revistas, folhetos de comerciais, cartolina, caixinha, cola e tesoura.
Avaliação:
Será diária, observando e estimulando sua aprendizagem e envolvimento nas atividades.
6.4 4ª SEMANA Objetivos específicos:
Conhecer o sinal do seu animal de estimação e dos animais que tem em sua propriedade.
Sinalizar cada animal
Estimular a memorização dos sinais dos animais.
Confeccionar o álbum dos animais com os respectivos animais
Conteúdos:
Aquisição do vocabulário: animais.
Metodologia:
Faremos um diálogo sobre o animal de estimação dela ou da família e também se tem outros animais na propriedade da família, saber quais os sinais de animais que ela conhece. Apresentaremos a ela os sinais dos animais pedindo que ela os sinalize. Será proposto a ela dois jogos de memória dos animais X sinal nos sites http://www.atividadeseducativas.com.br/index.php?id=11744 e http://educajogos.com.br/jogos-educativos/alfabetizacao/jogo-da-memoria-dos- animais-libras/. Na sequência proporemos a elaboração de um álbum dos referidos animais onde ela desenha o animal (escrevendo o seu nome) e ao seu lado cole o sinal do mesmo.
Recursos:
Apostila dos sinais dos animais, Folha de ofício, lápis, lápis de cor, canetas coloridas, tesoura, cola.
Avaliação:
A avaliação será feita no decorrer da aplicação do plano, por ela ser sistemática e contínua.
Também será observado o cumprimento das atividades e se houve compreensão e interesse das mesmas.
6.5 5ª SEMANA: Objetivos específicos:
Expor no mural os trabalhos desenvolvidos.
Relembrar os sinais(temas) abordados sinalizando-os e sinalizá-lo
Conteúdos:
Aquisição de sinais da rotina diária, alimentação diária e animais
Metodologia:
Faremos a exposição dos trabalhos elaborados durante este 2º plano em um mural previamente organizado pelas professoras, onde a aluna terá a oportunidade de rever sinalizar mostrando o que aprendeu.
Recursos:
Quadro mural, os trabalhos desenvolvidos durante o 2º plano, alfinetes.
Avaliação:
A avaliação se dará pela observação direta sobre sua atuação sempre fazendo o reforço positivo sobre sua aprendizagem.

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