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Parte 2 – texto 3
Indeterminação e estabilidade: Os 20 anos da Constituição Federal e as tarefas da pesquisa em direito
- Marcos Nobre
CF brasileira – foi elaborada antes de se disseminarem as instituições e práticas democráticas, juntamente com a cultura política que as acompanha. Pressupunha as instituições e práticas que pretendia produzir. O processo constituinte não esteve condicionado pela presença de um bloco hegemônico que tivesse o poder de impor previamente os limites da disputa política a ser travada.
CF/88 como expressão de crise de hegemonia: advinda do fim da ditadura militar e da redemocratização. O processo constituinte foi marcado por novidades como uma intensa e influente participação da sociedade civil organizada; marcado igualmente pela ausência de um cloco hegemônico, o que levava as disputas invariavelmente para clinchs políticos.
Transição democrática longa e altamente negociada, marcada por um reformismo bastante limitado.
Duas formas de expressão da crise de hegemonia:
Incapacidade de formação de maiorias parlamentares consistentes
Altas taxas de inflação
	Inflação e fragmentação das forças políticas foram dois lados de um mesmo processo de adiantamento do ajuste às novas formas produtivas do capitalismo.
A superação dessa crise de hegemonia foi um processo de aprendizado econômico e político.
Lado econômico: fracassos das sucessivas tentativas de estabilização levaram ao aprendizado de que o controle da inflação dependia fundamentalmente de um processo de ampla abertura econômica.
Inflação inercial – somente a construção de um bloco hegemônico poderia levar à superação do modelo nacional-desenvolvimentista e ao controle da inflação. o Real era tanto plano de estabilização quanto aliança PSDB-PFL
	Foi no bojo desse processo de superação da crise de hegemonia da redemocratização que a Constituição Federal adquiriu progressivamente a legitimidade de que desfruta hoje.
“Pacto de desigualdade brasileiro” – inflação. A distribuição desigual da riqueza por meio de inflação foi tolerável enquanto o país cresceu a taxas expressivas e a inflação não se tornou hiperinflação, assegurando melhoria constante nos padrões gerais de vida.
“Guerra de todos contra todos” – não sendo possível a formação de um bloco hegemônico, cada grupo tentava isoladamente obter o seu quinhão na distribuição do fundo público, num processo em que qualquer grupo politicamente organizado, seja como força social, seja como partido, seja como uma fração dentro de um partido se colocava como tendo direito de veto.
Elaboração e promulgação da CF – em meio a esse processo. O texto constitucional é mais uma expressão da crise de hegemonia dos anos 1980 do que um índice de sua superação.
Texto – pensado sob inspiração do modelo nacional-desenvolvimentista. Combina elementos contraditórios: princípios fundamentais de uma ordem liberal clássica e aqueles típicos do Estado Social da segunda metade do século XX.
	Foi o caráter largamente contraditório do texto constitucional o que permitiu que fosse reivindicado pelos mais diferentes grupos e movimentos. E foi isso que construiu sua legitimidade e vitalidade.
Processo constituinte – fez com que todas as forças políticas passassem a recorrer ao direito para conquistar e preservar espaços na luta por direitos e fundos públicos.
Processo político brasileiro:
Característica – restrição dos fundos públicos em disputa.
Lógica – sistema político é incapaz de produzir maiorias sólidas e constantes, de modo que o essencial do orçamento tem de ficar de fora da disputa por recursos.
A grande novidade da era FHC foi construir parâmetros institucionais para organizar e consolidar o engessamento político que veio com a redemocratização.
Estabilidade = “responsabilidade fiscal”
3 Consequências:
Deslocam as disputas reais da elaboração para a execução do orçamento, o que torna os Ministérios e o Executivo de maneira geral centros de poder muito mais efetivos a esse respeito. Isso leva a barganhas permanentes entre os Ministérios e o Congresso, em negociações de dia-a-dia que estão praticamente fora da luz do debate público.
Prevalência do Executivo sobre o Legislativo e Judiciário; lógica da construção e alianças políticas, na qual uma força política só adquire poder se consegue Ministérios importantes.
Debate público numa espécie de círculo enlouquecido. Como as margens de manobra são muito estreitas, os “suspeitos de sempre” aparecem e reaparecem periodicamente.
O clinch é expressão de uma sociedade politicamente travada. É só a sociedade que pode resolvê-lo.
	A disputa parece se deslocar para a legislação complementar, em seus vários aspectos, inclusive questões mais gerais de implementação de direitos. Onda de reformas constitucionais é improvável pois:
A formação de maiorias de três quintos no Congresso em favor de uma série de Propostas de Emenda Constitucional que introduzem mudanças estruturais parece dificilmente alcançável;
A sociedade organizada descobriu o Judiciário e os espaços de regulamentação do Executivo como importantes nichos de disputa; e
Uma alteração constitucional não garante que sua aplicação vá se dar automaticamente.
Constituições são frequentemente alteradas e não necessariamente por mudanças no texto constitucional.
	Parece que a primeira onda de reformas constitucionais se encerrou e que estamos em meio a uma segunda onda de disputas constitucionais, em que o texto constitucional não é objeto de disputa, mas o seu objeto pressuposto, já que regulamentações e implementações estão referidas necessariamente à CF à qual devem sua origem e legitimidade.
Duas observações:
O processo de reformas já realizado consolidou a CF como legítima carta constitucional, referência do debate; e
A segunda onda de discussões constitucionais será bastante diferente da primeira: muito menos mudanças do texto constitucional e muito mais discussões infraconstitucionais, de regulamentação e implementação.
Novidades dessa nova etapa de discussões constitucionais:
Instrumentos jurídicos que não receberam a atenção investigativa devida passam a ser centrais
Já tem e tendem a ganhar mais destaque direitos e políticas de reconhecimento (ações afirmativas)
	O direito é entendido como veículo de uma promoção social que vai muito além dele.
A transformação do STF não virá sem conflito:
STF está se abrindo a receber novas contribuições e opiniões;
A perspectiva de que seja possível unificar os votos dos ministros sobre determinada matéria parece pouco provável; e
Conflito com as instâncias inferiores do próprio Judiciário, devido ao sistema misto de controle constitucional.

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