Buscar

Texto 1 MPEJ

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Texto 1 – MPEJ
A ascensão do Constitucionalismo Mundial
- Bruce Ackerman
Quais pareciam ser as perspectivas para o constitucionalismo no fim da década de 30? Qual era o potencial do controle de constitucionalidade?
Constituição de Weimar + controle de constitucionalidade austríaco – desmoronados
Franceses e ingleses – sem fé no poder das constituições escritas de constranger a política democrática.
Experiência latino-americana – não indicava algo promissor
Estados Unidos – Suprema corte cambaleava, sem recuperar seu senso de direção por mais de uma década.
Inglaterra e seus domínios ultramarinos
Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul – a democracia de Westminster era uma realidade viva, as instituições democráticas funcionam com sucesso dentro de um regime monárquico.
Ingleses – nunca se deixaram levar pela ideia Iluminista de que uma constituição formal seria necessária em um governo moderno. A cultura inglesa de autogoverno, seu bom senso e decoro que tornaram famoso o seu compromisso com princípios democráticos em vez de constituições de papel ou artifícios institucionais como o controle de constitucionalidade.
Sessenta anos depois: estamos no ápice de um crescimento instável, prestes a despencar ou na iminência de uma hegemonia em escala mundial?
Surge a necessidade de uma Constituição escrita.
Tribunais constitucionais são forças poderosas na Alemanha, França, Espanha, Itália, Israel, Hungria, Canadá, África do Sul, União Europeia e Índia.
Estados Unidos – alheio à transformação global.
Federalismo: do Tratado à Constituição (e vice-versa)
Tratado: um grupo de estados delega um conjunto de competências para um centro embrionário por meio de um tratado.
	O centro procura firmar a ideia de que o tratado se sobrepõe a leis contrárias posteriormente promulgadas pelos estados periféricos. Se os tribunais aceitam essa concepção, o tratado começa a se investir do status de “constituição”. Quando se deparam com um ato ordinário de legislação doméstica, os juízes começam a se colocar na posição de determinar se esse ato é compatível com o tratado/constituição prevalecente. Se não for compatível, não é direito, apesar de todos os esforços dos estados anteriormente soberanos para se libertarem de suas obrigações em relação ao centro.
Duas variações do cenário de federalismo:
Federação Prospectiva
Exemplo: constitucionalismos embrionários do Leste Europeu – esses países têm interesses militares e econômicos prioritários em se juntarem a “quase-federações” já existentes, organizadas por tratados/constituições.
A dinâmica da federação prospectiva nem sempre leva ao fortalecimento do Judiciário.
Ex: golpe militar na Turquia para impedir o avanço do Islamismo.
Da constituição ao Tratado
Na versão “involucionária”, a constituição nacional ganha mais traços típicos de tratado à medida que elementos descentralizadores vão se tornando mais proeminentes.
Exemplo: Canadá – permite às províncias isentarem sua legislação da exigência de compatibilidade com a Carta de Direitos.
Tal cláusula de insenção pode ser aplicada de formas mais ou menos típicas do tratado. Pode-se permitir que uma província esteja isenta apenas após uma ponderada e minuciosa consideração dos valores em jogo; ou pode-se permitir a evasão das limitações constitucionais sem que se empreenda uma investigação desse tipo. Ao permitir que Quebec escolhesse a segunda opção, a Suprema Corte do Canadá autorizou a tomada de um passo em direção a uma Constituição com mais características de tratado.
“Novos Começos”
O traço distintivo dos cenários de federalismo é a existência de múltiplos centro de poder em um contínuo projeto de coordenação intensiva que é:
Mais atraente do que os delineados pelo tratado tradicional, mas
Menos atraente do que os delineados pelo estado unitário clássico.
Essa necessidade de contínua colaboração dá origem a imperativos funcionais que podem ser explorados pelo centro emergente na instituição de “normas superiores” para fins de direção e contenção das partes que compõem o sistema em interação.
Outro cenário: envolve símbolos expressivos, não imperativos funcionais. A constituição surge como marco simbólico de uma grande transição na vida política nacional.
A Alemanha como um caso especial
O sucesso simbólico da Lei Fundamental é simultaneamente extraordinário e não imediatamente replicável. O contexto político-econômico mais amplo permitiu que as elites alemãs empregassem a sua poderosa tradição jurídica com efeito simbólico – transformando retroativamente a “provisória” Lei Fundamental em um importante marco do repúdio da nação ao seu passado nazista.
O Cenário “Triunfalista”
O cenário triunfalista padrão tem suas origens culturais nas religiões semíticas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo – dividem o tempo cronológico em um “antes” e “depois” e enfocam as atividades de grandes líderes revolucionários que mobilizaram seguidores em prol de uma conquista decisiva de significado coletivo.
Antes – despotismo X Depois – liberdade política do povo
Controle de constitucionalidade – possível instrumento para prevenir o retrocesso coletivo.
	Os constitucionalistas liberais foram se afastando da revolução, e revolucionários deixando de encarar as constituições como a conquista suprema da soberania popular.
1917: Os Bolcheviques apostaram em um partido dominante como veículo permanente do desenvolvimento coletivo. Seu sucesso inspirou movimentos revolucionários a se voltarem para o partido, não para a constituição, como grande conquista para institucionalizar o triunfo político.
Índia:
Luta do Partido do Congresso para mobilizar um movimento político trans-étnico e com base popular.
Momento da independência – Partido do Congresso tinha credibilidade para funcionar como veículo da soberania popular.
Gandhi e Nehru rejeitaram o modelo do partido hegemônico e apoiaram um intenso esforço de redação de uma constituição que celebrasse os compromissos fundamentais da conquista do povo da Índia rumo à independência.
Energias do Partido do Congresso se dissipando na medida em que ele se tornou refúgio para oportunistas interessados em conseguir posições no Governo.
Opção de Gandhi e Nehru levou a uma crescente proeminência da Constituição e de suas instituições judiciais como os guardiões dos compromissos constitucionais fundamentais da nação.
Constitucionalização do carisma – a Constituição funciona como um poderoso símbolo de identidade nacional e compromisso com a democracia.
África do Sul: Nelson Mandela, a partir do colapso do comunismo em 1989, que minou o apelo do modelo Bolchevique de hegemonia partidária, fez com que a elaboração negociada de uma constituição fosse o ato fundamental de um “novo começo” na identidade política sul-africana.
	O cenário do “novo começo” pode transformar a constituição em um símbolo com o qual os atores políticos não podem mais se relacionar nos limites de uma estreita análise de custo e benefício.
França: depois da derrota militar pelas mãos dos nazistas, ela também passou por um processo equivalente àqueles dos movimentos de libertação nacional. Charles de Gaulle conseguiu constitucionalizar sua autoridade carismática durante a fundação da Quinta República, com o desafio de organizar um novo partido que pudesse ser uma base política confiável, rejeitando o modelo do partido hegemônico. De Gaulle recorreu diretamente à nação, que apoiou seu novo começo por meio da ratificação da nova constituição e referendo popular.
Polônia: Lech Walesa se esforçou para dividir o movimento Solidariedade rumo a uma Assembleia Constituinte antes que este pudesse dar à luz uma constituição.
Tchecoslováquia: as perspectivas para um cenário triunfalista eram ruins pois nunca houve um movimento grande.
Hungria: Não houve proposta constitucional abrangente ou esforço em direção à ratificação popular. Redigiram-se importantes emendas à Constituição, aprovadas pelo Parlamento Comunista, criando um sério problema de legitimidade com a posterior substituição desse parlamentopor seus sucessores democráticos. Contudo, a Corte Constitucional do país procurou preencher essa lacuna de legitimidade com uma torrente de decisões de afirmação de direitos humanos que simboliza o desejo generalizado entre muitos húngaros de afirmar suas identidades europeias.
Rússia: A recente eleição reafirmou a Constituição como o marco simbólico de um “novo começo” que pode perdurar após a morte de Yeltsin. Embora haja elementos do cenário triunfalista, em muitos outros aspectos a Rússia sofreu uma derrota catastrófica na política internacional. Ainda há a possibilidade de a nova Constituição russa se tornar um símbolo de humilhação nacional em vez de um marco de uma orgulhosa ruptura com o passado.
México: a Constituição de Carranza tem perdurado como um símbolo de afirmação de soberania do povo mexicano durante sua batalha revolucionária contra o regime de Diaz, mas é difícil dizer o quanto ainda resta desse capital simbólico, ou se ele pode ser criativamente utilizado na transição contemporânea da hegemonia do PRI em direção a uma democracia liberal mais genuína.
C. O Problema do Líder Supremo
	A figura do líder revolucionário tem frequentemente surgido aos olhos das massas como o representante simbólico dos anseios do movimento revolucionário por redefinição política. O carisma pessoal do líder supremo é uma ameaça ao próprio futuro desse grupo, bem como o futuro de uma democracia liberal. Por outro lado, a influência do líder sobre as massas fornece ao novo regime um enorme ativo que não pode ser facilmente dispensado.
Presidencialismo – promete criar um nicho para o líder supremo e, dessa forma, preservar um palco independente no qual os outros líderes possam mostrar seus talentos como legisladores.
	O presidencialismo proporciona uma nova abertura para o desenvolvimento de tribunais constitucionais fortes: o estabelecimento de um presidente poderoso e de um legislativo independente aumenta a necessidade prática de um juiz relativamente imparcial para coordenar a contínua interação institucional.
	A raiz comum no presidencialismo faz ir além da crença marxista de que é a organização econômica da sociedade que determina em grande medida o seu sistema político-jurídico. Se algum fator merece atenção especial, é a participação das forças armadas: quanto mais poderosos os militares, menor a probabilidade de que os tribunais assumam o papel de uma força intermediadora entre o Legislativo e o Executivo.
	De um modo geral, o controle de constitucionalidade está associado à presença de militares fracos.
Cenários Combinados
Os dois cenários – “federalismo” e “novo começo” – são analiticamente independentes um do outro. Uma nação pode vivenciar um novo começo sem federalismo; nações podem delegar algumas de suas competências para um centro emergente sem maior sensação de estarem vivenciando um “novo começo”. Mas deve ficar claro que ambos os cenários podem acontecer simultaneamente.
Exemplo: Estados Unidos, no período entre 1780 e 1860; e União Europeia, dos anos 50 até hoje.
Criações diferentes, tribunais diferentes?
O cenário de federalismo incentiva um estilo “coordenador” de jurisdição; o cenário de “novo começo” incentiva um estilo “redentor”.
O estilo coordenador enfatiza a virtude da prudência. Ele se abstém de elaborar prematuramente princípios rígidos e abrangentes, que podem ser erodidos com o tempo pelas mutações no equilíbrio de poder entre a periferia e o centro.
	O cenário de “novo começo” incentiva um tipo diferente de orientação judicial: o Tribunal procura demonstrar que os solenes compromissos feitos pelo Povo em sua constituição não são meras promessas de papel que podem ser convenientemente colocadas de lado por aqueles no poder, não se intimidando ao afirmar princípios constitucionais abrangentes e implementá-los de maneiras que homens e mulheres comuns apreciarão.

Outros materiais