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Racoes de Baixo Impacto Ambiental para Peixes

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Rações de Baixo Impacto Ambiental para Peixes
Wilson Massamitu Furuya1 & Valéria Rossetto Barriviera Furuya2
1Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Zootecnia, Av. Colombo 5790, 87020-900, Maringá, 
Paraná, Brasil, e-mail: wmfuruya@uem.br; 2Profa. Dra., Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de 
Zootecnia, Ponta Grossa, Paraná, Brasil, e-mail: vrbfuruya@yahoo.com.
Resumo
A piscicultura gera uma importante fonte de proteína animal de alta qualidade 
para consumo humano. A estratégia alimentar utilizada na produção comercial de peixes 
pode ter um impacto na qualidade da água e crescimento, saúde e sobrevivência dos 
peixes. Isto é particularmente verdade em criação intensiva. As rações de peixes 
possuem elevados níveis de nitrogênio e fósforo e os dados de digestibilidade dos 
alimentos, exigências nutricionais e processamento de alimentos têm sido usados para 
formular dietas menos impactantes. Boas Práticas de Manejo relacionadas com a 
freqüência de alimentação, alimentação quantidade, tempo de alimentação, tipo de 
ração, tamanho da partícula, armazenamento de alimentos devem ser ajustadas de 
acordo com a espécie e fase do peixe.
Palavras-chave: aquicultura, digestibilidade, manejo alimentar, tecnologia de 
processamento
Abstract
Fish culture produces an important source of animal protein to meet the demand 
for high protein quality for human consumption. The feeding strategy used in the 
commercial culture of fish can have a significant impact on water quality, and growth, 
health and survival of the fish. This is particularly true for intensive farming operations. 
Fish diets have high levels of nitrogen and phosphorus and data from food digestibility, 
nutritional requirements and food processing have been used to formulate low 
impacting diets. Best Management Practices related to feeding frequency, feeding 
amount, feeding time, type of diet, particle size and feed storage should be adjusted 
according to the species and stage of the fish. 
Key words: aquaculture, digestibility, feed management, processing technology
Introdução
A redução do impacto ambiental das atividades de aqüicultura tem sido tema 
amplamente discutido no cenário global. Devido a grande importância na produção de 
alimentos, tem-se buscado alternativas, em várias áreas do conhecimento, que garantam 
a produção com menor impacto ambiental possível.
A piscicultura mundial se desenvolve principalmente em sistemas de produção 
do tipo confinamento total, ou seja, todos os nutrientes necessários para um ótimo 
desenvolvimento dos peixes devem estar contidos na ração. As rações de peixes são 
formuladas com diversos alimentos de origem vegetal e animal, ao contrário das rações 
para aves e suínos, que são formuladas principalmente com milho e farelo de soja, 
resultando em grande variação na composição e valor nutritivo.
Como apenas 45% do nitrogênio consumido pelos peixes é retido como proteína 
animal, a maior parte do nitrogênio ingerido é excretado, contribuindo para aumentar a 
poluição ambiental. As rações para peixes possuem elevados teores de nitrogênio e 
2
fósforo, o que pode levar à contaminação dos lagos e rios. Assim, os nutricionistas 
devem unir esforços para buscar práticas adequadas de manejo, para que a piscicultura 
cresça e se desenvolva dentro das condições legais existentes.
Este trabalho foi escrito com o objetivo de apresentar as informações disponíveis 
sobre exigências nutricionais, avaliação de alimentos, novas tecnologias de 
processamento e manejo alimentar, utilizadas para elaborar rações de baixo impacto 
ambiental para peixes.
Exigências nutricionais
Tem-se descrito a hipótese de que os peixes consomem até que as exigências de 
energia estejam satisfeitas (Bromley, 1980). No entanto, é importante que a relação 
energia/proteína da ração seja adequada. Em rações com excesso de energia, os peixes 
podem parar de consumir antes que quantidade suficiente de proteína e outros nutrientes 
sejam ingeridos (Colin et al., 1993) e, no caso de excesso de proteína, em relação a 
energia, os aminoácidos da ração serão utilizados como fonte de energia ou para 
deposição de gordura corporal. Adicionalmente, proporciona aumento na excreção de 
nitrogênio, um composto de elevado potencial poluente (Kaushik & Oliva-Teles, 1986). 
Segundo Jobling (1993), em peixes alimentados com rações com níveis protéicos 
que excedem as exigências, há gasto energético extra para eliminação dos aminoácidos, 
uma vez que aumenta consideravelmente o destino gliconeogênico dos aminoácidos, 
aumentando as atividades das enzimas implicadas (Carter et al., 1993), o que não é 
desejável tanto do ponto de vista dos índices de conversão e de retorno econômico. 
A determinação da relação energia:proteína adequada tem sido investigada para 
diversas espécies e o valor próximo de 100:1 tem sido recomendado para os peixes de 
uma forma geral. Por outro lado, ainda faltam informações sobre os valores de energia 
digestível dos alimentos para a maioria das espécies nativas.
Para espécies carnívoras, a exigência de proteína está estreitamente relacionada 
com a adequada inclusão de lipídios como fonte de energia. O aumento de lipídios tem 
possibilitado a redução de proteína da ração, minimizando sua a utilização como fonte 
de energia. 
Proteína e Aminoácidos
As proteínas são de grande importância, pois são os principais componentes 
constituintes do organismo animal em crescimento e, entre outras, são responsáveis pela 
formação de enzimas e hormônios. Os constituintes fundamentais das proteínas são os 
aminoácidos. O perfil dos aminoácidos presentes nas proteínas é decisivo para sua 
qualidade e determina seu valor como componente da ração. 
Segundo Cho (1992), a concentração ótima de proteína em rações para peixes é 
marcada por um delicado balanço entre proteína e energia, ao qual tem que dispensar 
especial atenção à qualidade protéica, padrão adequado de aminoácidos essenciais 
disponíveis, e fontes de energia não protéica, lipídios e carboidratos. 
A determinação das exigências de proteína é de fundamental importância, pela 
sua influência sobre o crescimento, reprodução e saúde dos peixes. Para formular uma 
ração, é necessário estabelecer o mínimo de proteína que forneça os aminoácidos para 
atender a mantença e produção, sendo importante também a relação entre aminoácidos 
essenciais e os aminoácidos não-essenciais (Abboudi et al., 2009);
3
A exigencia de proteína é bastante variável entre espécies (Tabela 1), sendo que 
as rações comerciais para peixes tropicais possuem de 25 a 56% de proteína bruta (base 
na matéria natural). 
Tabela 1. Exigência de proteína para algumas espécies de peixes tropicais 
Nome comum Peso corporal
(g)
Proteína
(%)
Energia digestível
(kcal/kg)
Tilápia do Nilo1 0,5-10 28,75 2900
Jundia2 1,5-10 33,06 3200
Pacu3 14-320 25,06 4420
Pintado4 16-44 32,05 2640
1Furuya et al. (1996); 2Meyer & Fracalossi (2004); 3Bechara et al. (2005); 4Carneiro & Gonçalves (2002)
5,6Proteína bruta e proteína digestível, respectivamente
Ainda que diversos fatores influenciem as exigências, destacam-se as diferenças 
entre espécies, manejo alimentar adotado, fonte de proteína, fonte e nível de energia da 
ração, tipo de processamento utilizado, condições experimentais e análise estatística 
empregada. Além disso, deve-se considerar o balanceamento de aminoácidos e a relação 
energia/proteína.
Os peixes não possuem exigência verdadeira de proteína, mas de rações com 
quantidades e proporções adequadas de aminoácidos essenciais e não-essenciais. Assim 
como outros animais, os peixes exigem rações com valores adequadosde arginina, 
histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano e 
valina. Em geral, as exigências de aminoácidos dos peixes, quando expresso em 
percentagem da dieta, são maiores que as de aves e suínos. No entanto, é próxima, 
quando os aminoácidos são expressos como porcentagem da proteína.
Proteína ideal
A proteína ideal é definida como o balanceamento exato de aminoácidos, de 
forma a atender as exigências de todos os aminoácidos para manutenção e produção, por 
meio da proposta de que cada aminoácido essencial seja expresso em relação a um 
aminoácido de referência, a lisina. 
Esse conceito pode ser adaptado para uma variedade de situações, pois ainda que 
as exigências absolutas de certos aminoácidos possam mudar por diversas razões, as 
proporções permanecem bastante estáveis. Os valores de aminoácidos devem ser 
expressos em termos de aminoácidos digestíveis; portanto, a exigência não é de proteína 
e sim de aminoácidos específicos e nitrogênio não específico para a síntese de 
aminoácidos não-essenciais.
A múltipla suplementação de aminoácidos (lisina, metionina e treonina) resulta 
em melhoria no crescimento, conversão alimentar, rendimento e composição da 
carcaça, mesmo quanto não atinge o nível de proteína recomendado pelo NRC (1993), 
no caso de tilápias. Em muitas situações, somente a múltipla suplementação de 
aminoácidos permite a manutenção do desempenho produtivo dos peixes (Gaylord et 
al., 2009).
Devido à disponibilidade e menor custo dos alimentos protéicos de origem 
vegetal no Brasil, principalmente do farelo de soja, há grande expectativa de inclusão 
em rações para organismos aquáticos, sendo demonstrado por Furuya et al. (2004) a 
possibilidade de utilizar rações formuladas com base em proteína do farelo de soja e 
isentas de farinha de peixe (Figura 1).
4
Figura 1. Ganho de peso (GP, g/dia), retenção de nitrogênio (RN, %) e rendimento de 
filé (RF, %) da tilápia do Nilo alimentada com rações contendo 10% de farinha de peixe 
(FP), isenta de farinha de peixe (FS = farelo de soja) sem aminoácidos e isenta de 
farinha de peixe e suplementada com aminoácidos (FS+AA)
Nos últimos anos, os nutricionistas têm direcionado seus estudos no sentido de 
obter informações que possam contribuir para reduzir os teores de nitrogênio das rações. 
A simples redução no conteúdo de proteína não permite adequado desempenho e 
resposta econômica em condições de criação intensiva, sendo necessária a 
suplementação de aminoácidos em quantidades e proporções adequadas (Botaro et al., 
2007), como pode ser observado na Figura 2 e Tabela 2.
Figura 2. Desempenho da tilápia do Nilo criada em tanques-rede e alimentada com 
dietas com diferentes níveis de proteína digestível 
1 Os valores de lisina, metionina e treonina das dietas com 25,2; 24,3 e 22,7% de proteína digestível foram mantidos de acordo com 
os valores da dieta com 27% de proteína digestível (controle)
3 Rendimento de filé = peso eviscerado/peso dos filés*100
A suplementação de aminoácidos deve ser avaliada economicamente, uma vez 
que a suplementação de aminoácidos em rações com baixo nível de proteína pode não 
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ser viável economicamente (Tabela 2), em função do aumento custo/kg de ração em 
razão da suplementação dos aminoácidos. 
Tabela 2. Custo de produção para a tilápia do Nilo alimentada com dietas com 
diferentes níveis de proteína digestível 
Proteína digestível (%) 1
Variável 27,00 25,20 24,30 22,70 CV1
Custo da ração (R$/kg) 0,609 0,612 0,619 0,613 0,01
Custo/kg de GP (R$/kg) 1,03 1,03 1,04 1,09 9,01
Custo/kg de filé (R$/kg) 2,47 2,41 2,47 2,64 8,53
1Coeficiente de variação 
Os aminoácidos metionina, lisina, treonina, triptofano e arginina, disponíveis no 
mercado, têm sido utilizados para atender às exigências dos peixes e manter o 
desempenho preconizado. A maximização do uso de aminoácidos para a síntese proteica 
e não como fonte de energia, a diminuição da poluição ambiental, a redução no custo de 
produção e a redução da exigência do aminoácido limitante são algumas das vantagens 
em se formular rações com o mínimo de proteína e suplementadas com aminoácidos 
industriais.
Cálcio e fósforo 
Os minerais são exigidos pelos peixes para diversas funções no metabolismo 
além da osmoregulação. Muitos minerais são exigidos em pequenas quantidades e as 
exigências podem ser atendidas em algumas situações por meio da absorção através das 
brânquias, principalmente o cálcio, magnésio, sódio, potássio, ferro, zinco, cobre e 
selênio (NRC, 1993). Assim, a relação cálcio/fósforo para peixes é considerada 1:2 
(Hepher, 1988), mas é preciso considerar que os peixes não podem absorver 
eficientemente o fósforo dissolvido no meio aquático. 
A deficiência de fósforo leva a uma redução na taxa de crescimento, redução na 
eficiência alimentar e baixa mineralização óssea. Nas criações intensivas, em função das 
flutuações nos valores dos minerais dissolvidos no meio aquático, geralmente todos os 
minerais são suplementados de forma a atender as exigências totais dos mesmos. 
Miranda et al. (2000) avaliaram a relação cálcio total/fósforo disponível em 
rações para alevinos de tilápia do Nilo (2,5 ± 0,5 g) por meio do desempenho produtivo 
e mineralização óssea e concluíram que a espécie exige um mínimo de 0,25 % de 
fósforo disponível para uma mineralização óssea satisfatória, e que os melhores 
resultados produtivos foram obtidos com rações cujas relações cálcio/fósforo disponível 
apresentavam-se entre 1:1 e 1,0:1,5. Mais recentemente, Pinto (2009) determinou as 
exigências de fósforo para a tilápia do Nilo de diferentes categorias de peso. 
Fitase
Os grãos de cereais, seus subprodutos e farelos de sementes de oleaginosas têm 
no fósforo fitico (75%) a maior porção do fósforo total. Esta forma não é disponível 
para os monogástricos, já que a enzima fitase necessária para hidrólise deste complexo 
não está presente no trato gastrintestinal (Silva et al., 2005). 
6
O ácido fitico, em pH neutro e alcalino, forma complexos insolúveis com cátions 
di e polivalentes, comprometendo a biodisponibilidade de certos minerais, 
principalmente zinco, cálcio, ferro e cobre, e influencia negativamente na digestão de 
proteínas, aminoácidos e energia da ração (Cuneo et al., 2000). 
Uma maneira de se reduzir o impacto ambiental, é pela manipulação da ração, 
utilizando aditivos e/ou ingredientes que contenham os minerais de alta 
biodisponibilidade, com intuito de melhorar a eficiência de utilização pelos animais dos 
nutrientes contidos nos alimentos para minimizar o impacto ambiental da excreção em 
excesso, principalmente de nitrogênio, fósforo, cobre e zinco, além de outros elementos.
Com esta finalidade, o uso de enzimas exógenas tem sido alvo de vários estudos, 
destacando-se a utilização da fitase, que possibilita a liberação do fósforo fítico e de 
outros nutrientes. Isto pode reduzir a suplementação de fósforo inorgânico, reduzir o 
custo e melhorar a utilização do fósforo presente nos alimentos, além de reduzir o 
fósforo excretado.
No Brasil, a fitase foi inicialmente avaliada como aditivo em rações para peixes 
por Furuya et al. (2001), que observaram maior disponibilidade do cálcio e fósforo em 
rações para a tilápia do Nilo suplementadas com o aditivo (Figura 1).
Figura 3. Suplementação de fitase e coeficientes de disponibilidade do cálcio (CD-P) e 
cálcio (CD-Ca) em rações para a tilápia do Nilo
Em outros realizados, foi demonstrado o potencial da fitase sobre a redução na 
excreção de fósforo, bem como na disponibilidade de outros minerais. No entanto, em 
rações extrusadas, é necessário considerar quea enzima deve ser adicionada após 
extrusão e secagem da ração, para evitar danos da mesma em função do elevado 
aquecimento durante o processamento.
Avaliação de alimentos
A digestibilidade expressa a quantidade de nutrientes, supostamente absorvida 
pelo animal, obtida pela diferença entre a quantidade de nutrientes ingerida e a 
7
excretada. Em peixes, a digestibilidade dos alimentos geralmente é medida pelo método 
indireto, utilizando um indicador que permite quantificar os nutrientes não encotrados 
nas fezes (Choubert, 1999). 
A determinação da digestibilidade dos nutrientes de uma matéria-prima é o 
primeiro cuidado quando se pretende avaliar seu potencial de inclusão em uma ração 
(Cho, 1987), mas sua efetiva assimilação é dependente dos fatores relacionados ao 
animal (Maynard & Loosly, 1966) e varia também em função das condições ambientais, 
da quantidade e da qualidade dos alimentos, da proporção relativa entre os nutrientes e, 
dos processos tecnológico a que o alimento tenha sido submetido (Higera, 1987).
Nos últimos anos, tem-se aumentado a preocupação com as tecnologias de 
processamento empregadas para produzir rações comerciais para a aqüicultura Hepher 
(1988), para, impulsionada pela expansão global da aqüicultura, a qual tem resultado no 
aumento da demanda por rações de alta qualidade. 
No Brasil, os estudos de digestibilidade foram intensificados na década de 90, 
culminando no trabalho publicado por Pezzato et al. (2002), em que padronizaram a 
técnica de digestibilidade e avaliaram o valor nutritivo de diversos alimentos 
convencionais e alternativos para a tilápia do Nilo. Posteriormente, Furuya et al. 
(2001b) determinaram os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos essenciais e 
não-essenciais do milho farelo de trigo, farelo de soja e farinha de peixe para a mesma 
espécie. Atualmente, há disponibilidade dos valores de energia digestível, proteína e 
aminoácidos digestíveis e fósforo disponível da maioria dos alimentos para tilápias, mas 
ainda faltam informações para as espécies nativas.
Alimentação de Peixes
A adequada alimentação possui estreita relação com a preservação do meio 
ambiente, uma vez que a fração não digerida ou não consumida, no meio ambiente, 
pode levar à excessiva eutrofização, que afeta de forma direta e indireta o desempenho 
produtivo, reprodutivo e a saúde dos peixes. 
Tipo de ração e processamento
Em função da rápida expansão da aqüicultura, tem-se aumentado o foco sobre as 
tecnologias de processamento que podem ser utilizadas para a elaboração de rações para 
organismos aquáticos.Geralmente, há necessidade de alguma forma de processamento 
para aumentar o valor nutricional do alimento ou ração.
O processamento afeta as características físicas, químicas e a aceitabilidade dos 
alimentos, culminando em efeitos diversos sobre a estabilidade na água e a 
digestibilidade dos nutrientes. A moagem fina, a peletização e a extrusão são os 
métodos de processamento mais utilizados na elaboração de rações para organismos 
aquáticos. 
Um dos nutrientes que mais influencia a estabilidade de uma ração extrusada é o 
amido. Os peixes carnívoros não utilizam eficientemente o amido como fonte de energia 
e a sua digestibilidade também depende da sua origem (Bergot, 1991). O processo de 
extrusão melhora a utilização do amido pelos peixes, principalmente para peixes 
carnívoros. 
Grandes quantidades de amido podem reduzir a digestibilidade de outros 
nutrientes, especialmente dos lipídios (Storebakken, 2002). Segundo Peres et al. (1999), 
8
alguns peixes não regulam eficientemente os níveis de glicose e sua rápida absorção 
resulta em hiperglicemia.
O tratamento térmico aplicado durante o processamento inativa alguns fatores 
antinutricionais, mas deve ser controlado para evitar perdas de vitaminas e aminoácidos. 
As novas tecnologias de processamento permitem a obtenção de grânulos extrusados de 
diâmetros variados e estáveis na água. Porém, por razões econômicas, ainda há baixa 
disponibilidade de ração extrusada com diâmetro inferiores a 1 mm.
Manejo alimentar
O manejo alimentar adequado requer conhecimentos básicos sobre os hábitos 
alimentares das diferentes espécies, além dos diversos fatores que influenciam o 
consumo e a utilização dos nutrientes da ração. Pelo alto custo das rações de peixes, a 
alimentação representa item importante, principalmente nas criações intensivas. 
A adequada alimentação dos peixes deve considerar o tipo de ração, a taxa, a 
frequência e forma de arraçoamento, a temperatura da água a fase de criação e a espécie 
de peixe. Durante a fase inicial os peixes requerem mais energia e proteína por unidade 
de peso e possuem maior capacidade de consumo que adultos. Para algumas espécies de 
peixes, a taxa de arraçoamento pode ser influenciada pela presença de organismos-
alimento, que variam em sua composição química e valor nutricional, mas há grande 
dificuldade de quantificar a contribuição diária dos nutrientes fornecidos pelos 
organismos presentes na água aos peixes.
A determinação da taxa de arraçoamento requer a estimativa do peso e número 
de peixes. O ganho de peso não ocorre de forma linear, mas de forma exponencial, 
podendo ser influenciado por diversos outros fatores, destacando-se a temperatura, que 
afeta diretamente o consumo e, dessa forma, as tabelas de arraçoamento consideram, 
além do peso vivo, a temperatura da água (Tabela 3).
Tabela 3. Taxa de arraçoamento para o bagre do canal em função do peso vivo e 
temperatura da água.
Peso vivo (g)
Temperatura da água (oC)
15 18 21 24 27 30
Taxa de arraçoamento (% peso vivo)
4,4 2,0 2,5 3,1 3,5 4,0 4,4
35,4 1,4 1,8 2,1 2,5 2,8 3,1
163,9 0,9 1,2 1,4 1,7 1,9 2,1
283,2 0,8 1,0 1,2 1,4 1,5 1,7
553,1 0,6 0,7 0,9 1,0 1,1 1,3
Adaptado de Tucker e Robinson (1990)
Para a tilápia do Nilo, a taxa e frequência de arraçoamento são influenciadas 
pelo peso do peixe e pela temperatura da água (Figura 4). Durante o período de inversão 
de sexo, geralmente são utilizadas rações fareladas com teores mais elevados de energia 
e nutrientes para compensar as perdas. Assim, para maximizar a utilização da ração, é 
importante aumentar ao máximo a maior frequência de arraçoamento.
9
Figura 4. Taxa e frequência de arraçoamento da tilápia do Nilo em função da 
temperatura da água.
*% em relação a taxa normal de arraçoamento
Luquet (1991)
O ideal seria a correção da taxa de arraçoamento diariamente, mas essa prática 
não é aplicada pelo excessivo manejo que pode afetar o consumo e a saúde dos peixes. 
Assim, os peixes geralmente são pesados a cada sete, quinze ou trinta dias, o que irá 
depender da fase e espécie. 
A estimativa do crescimento da tilápia do Nilo pode ser obtida pela expressão 
descrita por Silva (2008):
P = 0,027 x C 2,961; R2 = 0,991
Sendo: P = peso vivo (g) e C = comprimento padrão (cm).
A frequência de arraçoamento é importante para melhorar a conversão alimentar, 
principalmente quando é utilizada ração farelada. O aumento na frequência de 
arraçoamento está associado ao aumento na uniformidade do lote e melhoria na 
conversão alimentar. 
O arraçoamento pode ser manual ou por meio de comedouros. O arraçoamento 
manual possui a vantagem de permitir maior controle das ocorrências, tendo como 
desvantagens o custo com mão-de-obra. A utilização de comedouros automáticos é 
recomendada nas criações intensivas, sendo necessário considerar a relação 
custo/benefício. 
10
Considerações finais
Com o incremento na produção intensiva em tanques-rede, gaiolas, “raceways” e 
tanques de terra, há necessidade de rações para cada espéciee fase de criação;
É importante considerar o desempenho produtivo/reprodutivo, o retorno 
econômico e a qualidade da carne dos peixes;
É necessário reduzir os atuais níveis de proteína das rações e fósforo das rações, 
para garantir uma criação sustentável; 
São necessárias novas informações sobre as exigências nutricionais, a avaliação 
dos valores nutritivos dos alimentos para as diversas espécies e fases de criação, bem 
como devem ser considerados as características de cada ambiente de criação;
Paralelamente ao desempenho produtivo, devem ser avaliados os parâmetros de 
qualidade de água, a curto e longo prazo; 
As novas tecnologias de processamento são importantes para elaborar rações 
estáveis no meio aquático e adequadas em tamanho e forma.
Literatura citada
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