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15. Sistema Jurídico e Codificação (página 7 à 29)

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SISTEMA JURíDICO
E CODIFICAÇÃO
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EDITORA
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Fax: 3252-1311 CEP: 80.035-000 - Curitiba - Paraná - Brasil
Curitiba
Juruá Editora
2007
CIPRESTES E ARAUCÁRIAS
No dia dezessete de setembro de dois mil e sete, no salão nobre
da Faculdade de Direito da UFPR, foram recebidos os professores Paolo
Grossi, Pietro Costa e Paolo Cappellini, catedráticos de história do di-
reito da Università degli St/ldi di Firen::e, Itália, e representantes de
uma das mais expreSsivas escolas do pensamento jurídico italiano e
europ~u.
Artífices de um centro de pesquisas avançado e cosmopolita (o
Centro di St/ldi per la Storia dei Pensiero Gillridico Moderno), cuja
irradia'rão cultural é feita, sobretudo, por um dos periódicos mais im-
portantes da reflexão jurídica européia (os Q/ladel'l1i Fiorenlini per la
Storia dei Pensiero Gillridico Moderno, fundados e conduzidos por
trinta t'llCS por Grossi, hoje tendo Costa à frente e Cappellini em seu
Conse[lo de Redação), os professores florentinos gravam no Brasil,
nesta o2asião, lima da$ suas marcas culturais mais notáveis, que é preci-
samew~ c estabelecim'ento de diálogo com juristas de distintas tradições
cultureis. E suas presenças em Curitiba, junto a estudantes e professores
da Faculdade de Direito da UFPR, sela um vinculo firme e permanente,
cujo convênio institucional já existente entre UFPR e a Universidade
Florentina é, apesar de muito importante, somente o registro fonnal.
Hoje, 30 mesmo tempo em que os juristas brasileiros olham para a
Europa - matriz de uma tradição jurídico-cultural fundante para a Amé-
rica Latina, e sobre a qual o jurista brasileiro deve fazer uma reflexão
crítica ':ontínua - a Itália também olha para o Brasil, com disponibilida-
de e ab~ltura. i
Eao olhar para Curitiba, dentro de sua premissa cultural sem
fronteiras, a reflexão florentina irmana-se e compromete-se conosco. E
o a render e dialogar com o Stile Fiorentino, nossa ref1e~ão se. e~r~-
a p I'fi a Ao Inesmo tempo em que, nessa saudavel dlalel1-quece e comp eXI IC . .
S I Caminhos continuam a se cruzar, estreItam-se tam- .ca Norte- u. nossos . ~ sos
'. . . s os laços de amizade e adn1ll'açao com nosbém sempre maIs paI a no .. .
. d t Qlle nossos caminhos contll1uem proxlmos.dados este momen o.
convI oceano de distância) e que se entrecruzem(apesar de estarmos a um C-
. '.1 Q ossos campos do saber tenham perenemente 1-cada vez maIs. ue n
prestes e Araucárias!
8 Paolo Cappellini
SISTEMA JURÍDICO}
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Ricardo Marcelo Fonseca
Professor de História do Direito da li FPR
A noção de sistema pode certéllnente ser considerada "um pilar da
sabedoria ocidental, enquanto a ela faz referência - consciente ou incons-
cientemente, consensualmente ou sem consenso - qualquer um que em-
preenda uma descrição científica ou uma construção técnica" (Losano) e
o termo efetivamente deriva do grego syn (com, junto) e histánai (colo-
car, pôr). de onde tem-se precisamente systema (conjunto, conjunto es-
truturado, conjunto coerente). Todavia, da noção podem decorrer uma
pluralidade de acepções que, recentemente (Lantella, Stolfi, Deganello),
foram utilmente assim subdivididas:
1) Acepção multidisciplinar e também comum: conjunto de olJje-
tos que são considerados de modo unitário em ra::.ãode suas relações
(tanto os objetos quanto as relações podem ser de natureza variada; no
que diz respeito aos primeiros [objetos], podem ser apenas coisas, apenas
atividades, coisas e atividades, proposições; no que diz respeito aos se-
gundos [relações], relações estruturais, ou funcionais ou então estruturais
e funcionais: tais como "sistema respiratório", "sistema solar", "sistema
lingüístico"). É possível também sublinhar, no âmbito desta primeira
acepção, uma variação específica importante, que se encontra sobretudo
no discurso filosófico: conjunto de proposições, articuladas em vários
níveis, todas derivadas. por implicação, de um mesmo princípio ("Um
verdadeiro sistema, em uma determinada tradição de pensamento, ou é
dedutivo ou não é um sistema").
2) Ainda uma acepção /11ultidisciplinar e também Comum: Ordem
de um conjunto (como em "a abordagem é rica de pontos interessantes,
mas o sistema é incompleto").
3) Acepção CO/11/1m:Regra técnica, método (um sistema para fa-
zer qualquer coisa - como cozinhar, fazer aposta na loteria esportiva,
cultivar flores etc. - e a coisa dá cel10 ou não dá certo).
Tradução Angela Couto Machado Fonseca.
10 Paolo Cappe/lini
Sistema Jurídico e Codificação 11
Entre as acepções determinam-se relações posslvels: assim, o
sistema (no sentido citado no item I supra) é um conjunto no qual a "re-
condução à unidade" é produzida a partir de uma ordem, isto é, a partir ee
um sistema (no sentido citado no itc-m 2, supra).
Já o sistema (no sentido do item 2, supr~) é, por sua vez, num
outro sentido, uma ordem quê produz um sistenia (no sentido dado no
item 1, supra).
Finalmente o sistema (citado no sentido 3) é uma versão pragmá-
tica do sistema citado na acepção 2, pois enquanto o segundo é uma or-
dem dedutível. o sistema na acepção 3 é uma ordem a ser seguida.
É possível então falar de sistema de classificações ou de sistema
c1assificatório confol1ne se trate de uma pluralidade de classificações que
se apóiam com critérios diversos sobre um único campo (classificações
dos contratos); ou mesmo de uma única classificação que tem por objeto
um único objeto a ser classificado e se al1icula sobre múltiplos níveis
(sistema de classificação das plantas de Lineu).
Porém, tem pal1icular interesse para a nossa análise. como vere-
mos em breve, a noção de 'Sistema' em sintagmcls ambíguos: aqui nos
bastará observar que tipicamente para esta acepçãp deveria :ambém ser
reconduzida a noção de sistema jurídico.
A análise historiográfica, que até agora foi feita por textos não
tão numerosos, mas de boa profundidade, pode, de todo modo, ser útil
ao nosso propósito, desde que esteja em condições de nos indicar um
rumo.
Numa síntese extrema pode-se antes de tudo perceber que, não
obstante algumas vozes respeitáveis em contrário (por exemplo, La Pira,
do ponto de vista da romanística; mais ambígua, P9rém sempre ligada ao
tema normativista modemo, a idéia de sistema em Francesco Cal asso), a
utilização da noção de sistema não consegue ser pel1inente para a expe
riência jurídica antiga e medieval; para estas últimas resta decisiva a ob-
servação no sentido de que o conceito chave é principalmente representa-
do pela referência à noção (agostiniana, tomista) de ardo, C0l110 chave da
antropologia (e da teologia) medieval, que remete à harmonia da criação
divina, e em seguida desce num plano hierárquico social "em lal/tas or-
dines particulares, momentos necessários de subdivisões da sociedade
medieval, nichos necessários para inserir e dar concretude e funcionali-
dade histórica para aquela abstração sem sentido que é o individual, o
singular" (Grossi): ordo illris portanto, e garantia objetiva de hanTIonia-
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em caráter polifônico, pluralista (fala-se de m1fltiplex, dllplex, triplex
ardo) - de laços e relações (consonantia), que pode ser realizado também
por uma ciência que trabalh~ de maneira fiel à tradição, problemático,
casuísta, e também fortemente c1assificatório, claro, mas que não neces-
site sobrepor um sistema científico fechado em si mesmo a um 'antropo-
lógico-cosmológico' .
Parece-nos, substancilllmente, que apenas nos inícios do moderno
e de sua valoração subjetivista, atomizante, em uma palavra, matemati-
zante, do indivíduo, se comecem a colocar as premissas para a definição
do direito no seu conjunto
como 'sistema', porque começa a prevalecer
uma atitude de insatisfação e aversão em relação à unidade universalista e
pluralista dc ills C0l1111111nee dos métodos "catolicizantes" do 1110Sita!iClls.
As premissas histórico-culturais da individuação de uma idéia de systema
illris devem ser buscadas na sistemática teologia reformada (que modela-
rá. numa medida que falta questionar no detalhe, também a resposta da
Reforma católica), na reação contra a "secta tribonianomGstigul11" e
baJ10lista da linha mais sistematizante da jurisprudência humanista _
especialmeme, e não ao acaso, francesa e alemã: F.Connan (Connanus,
1508-1551); H. Doneau (Donellus, 1527-1591); K. Lagus (fins 1400-
1546); N. Weigel (Vigelius, 1529-1600); J.T.Frey (Fregius, 1543-1583),
etc. - que inicia a lamentar a perda dos ciceronianos !ibri de illre artem
redigendo e que leva o simplificado esquema de Gaio (personaes, res,
aCliones) de subdivisão da matéria jurídica (obviamente recuperado atra-
vés das instirWiones de .Justiniano) a uma nova fortuna e a elaborações
originais.
Porém, a revolução copemicana em direção ao systema iuris en-
contra o seu momento decisivo, ao nosso ver, exatamente na tentativa a
este mais consentâneo - por múitos aspectos destinado à falência, mas, ao
contrário, capaz de deixar sob este perfil uma herança de longo período,
que de várias formas chegará até a Pandectística alemã, e de lá chegará a
alcançar os sistemas juspositivistas até o normativismo kelseniano da
'Doutrina pura do direito' -, qual seja na busca de aplicação. também para
a ciência jurídica dos métodos específicos da ciência físico-matemática
moderna: o assim chamado 1110S geometriclIS, que sem dúvida encontrará
seu precursor e teórico mais profundo em Leibniz (1646-1716), porém
que encqntrará seu mais expressivo divulgador no filósofo-jurista _ ao
qual deve se reconhecer o papel histórico de ter cunhado a maior parte do
vocabulário filosófico alemão até Kant (e de ter consolidado não pequena
parte do vocabulário jurídico) - que é Christian Wolff. O idealismo jurí-
dico alemão - de Savigny a Puchta, até a Pandectística tardia - dará o
12 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação
13
impulso final para que a conexão inseparável entre ciência e sistema se
tome aquisição definitiva do processo moderno de racional ização do di-
reito continental, fazendo do sistema, muito mais que uma dentre as pos-
síveis soluções do 'problema da disposição' das matérias jurídicas, o
marco essencial (e ideológico) da cientificidade da análise do direito: "O
sistemático possui uma dupla tarefa. Uma consiste na classificação,' na
individuação e na realização de uma norma de subdivisão. A outra é a
compreensão das partes na sua conexão interna, ou seja, não simples-
mente como parte, mas sim enquanto articulação interna de um vivente,
um todo orgânico. É por si mesmo compreensivel que estas atividades
não são separadas entre si. Aquela (Jtividade é el1làQ de fato lÍnica, uma
atividade no interior da qual aqueles dois momentos existem em si como
inseparáveis" (Puchta). Assim, ao fim de um longo processo de seculari-
zação, declara-se a radical autonomia imallelltista do jurídico diante de
qualquer possivel 'fora', principalmente a transcendência de Deus e da
Justiça (e, sucessivamente, as amplas ou circunscritas imanências resi-
duais do político, do social, do histórico, que não são coisas do jurista
enquanto tal, segundo a famosa expressão de Windscheid) e se atribui ao
sistema (e em conseqüência à sistemática, cuja busca de renovação na
cronologia histórica havia precedido a configuração 'intrínseca' da pró-
pria idéia de sistema) justamente a viliude de "atribuir ao objeto do dis-
curso - ao qual o tell110 é aplicado - uma espécie de coerência interna
'espontaneamente' oferecida à nossa mente, ao mesmo tempo em que, na
medida em que esta coerência nos apareça, essa é sempre o resultado de
uma reflexão ou elaboração nossa" (Orestano).
Nem, como notava ainda Orestano, a esta ambigüidade de fundo
escapa o uso - contudo freqüentemente substancialmente equivalente,
posto que a idéia imanente de 'sistema interno' reconduz à concepção do
ordenamento como sistema -, que se tomou usual por influência da lite-
ratura anglo-americana, de utilizar a palavra exatamente como sinônimo
de ordenamento do direito ou "complexo das normas e dos princípios que
regulam a experiência de uma nação ou de uma época (por exemplo, o
legal system inglês, o 'sistema jurídico italiano'), ou então um grupo de
estruturas e de regras funcionalmente coordenadas (por exemplo, o equit)'
system, o 'sistema processual formulário' ou o 'sistema penal italiano'). E
retomamos ao ponto inicial: a utilização de sistema em sintagmas ambí-
guos, lá onde não é teoricamente claro se a fonte da ambigüidade reside
na palavra sistema, no termo que o especifica ou no inteiro sintagma (na
hipótese "sistema do direito italiano" ou "sistema do direito privado" ou
"sistema penal"), talvez historicamente estejamos em condições de dar
uma resposta menos ambígua ou. pelo menos, de não contar muito, de
modo demasiado otimista, com a possibilidade de que a ambigüidade se
possa rapidamente dissolver sobre a base dos contextos.
Paolo Cappellini
Catedrútico de hislória das codificações da Ul1irersi/àdegli S/Hdidi Firen:e
BIBLIOGRAFIA
M. G. LOSANO. Sistema e strllttllra nel diritto. Milano. 2002. v. 3.
L. LANTELLA: E. STOLFI: M. DEGANELLO. Operazioni elementari di
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R. ORESTANO. lntrodllzione alio stlldio dei diritto romano. Bologna, 1987.
P. CAPPELLlNI. Systema illris 1. Genesi dei sistema e nascita della "scienza"
delle Pandette. Miiano. 1984.
P. CAI'I'ELLlNI. Systema illris 11. Dal sistema alia teoria generale. Milano,
1985.
CODIFICAÇÃ02
o tenno 'codificaçào' pode ser, e foi, empregado em múltiplos
campos e com múltiplos significados; e isso nào deve surpreender visto
que indica o processo de atividade que tem como seu produto final um
'código', palavra por sua vez intrinsecamente polissêmica e utilizável
numa pluralidade de campos disciplinares, que vão das ciências sociais às
humanas e naturais (code de la langue, código fonológico, código se-
mântico, código parental,;código dos mitos, código estético, código artís-
tico e literário, códigos das várias culturas, código genético, código da
comunicação animal, código icônico, código da percepção, código dos
processos neurofisiológico, código de classe, códigos etnolinguísticos,
códigos de compOliamen~b interativo etc.).
O significado que. aqui nos interessa se refere ao contexto do qual
provavelmente é iniciada a sua difusão, ou seja, o jurídico. Também neste
campo, todavia, pennanece aberto o campo de uma detenninação mais
rigorosa. De fato, em primeira instância, o vocábulo permite uma defll1i-
ção geral, que pennanece em certo sentido atemporal e refere-se, para
usar as palavras de Max. Weber, a "o intervento do imperium, e espe-
cialmente o imperium do príncipe, na vida jurídica que em todo lugar
contribuiu para a unificação e sistemati::ação do direito, 011 seja, à sua
"codificação" - e isso eni medida /an/o maior quanto seu poder se confi-
gurava de modo forte e eStável". Neste sentido, pôde-se falar, por exem-
plo, em codificação e em "códigos" também em referência ao oriente
próximo antigo para as lêis sumérias, babilônicas, assírias, hititas, bíbli-
cas e egípcias (o "código'i de Ur-Namu, o "código" de Lipit-Istar, o "có-
digo" de Hamurabi, etc.). Mas com notável consciência, geralmente
ausente nessa mesma medida entre os próprios juristas, o assirólogo e
epigrafista preliminarmente se deu conta que "aqueles que nós impro-
priamente chamamos 'códigos' são na realidade algo muito diverso dos
nossos. São compilações de normas, expressas uma depois da outra com
Tradução de Ricardo Marcelo
Fonseca.
16 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 17
um suceder-se de assuntos que geralmente não têm relação entre si. Uma
outra característica dos códigos orientais é que nenhum deles é completo.
Faltam matérias inteiras, e nem se pode dizer que as matérias presentes
foram tratadas de modo exauriente. Ao contrário, são às vezes examina-
dos casos que, alguém notou, deviam ser até mesmo raros." (e. Saporet1i)
Como acenávamos, tal consciência, que induz a oportunamente colocar
entre aspas o termo 'código', de outro lado apare.ce.rreqiient~mente de!-
xada de lado exatamente entre os cultores do direito em vista de dOIs
fenômenos heterogêneos contudo concomitantes: de um lado o peso his-
tórico da tradição romanística e de outro recentes tendências culturais de
variada ascendência, mas atribuíveis ao filão do pensamento jurídico pós-
moderno, do debate sobre 'decodificação versus recodificação' e sobre a
globalização, para fazer-se entender em extrema síntese.
No que diz respeito ao primeiro aspecto, uma vez assumido o
valor paradigmático do ius r0l71anorl/171para a inteira experiência jurídica
ocidental, sobretudo a moderna, não restaria dúvida que - com alguma
distinção para os códigos pré-justinianeus Gegoriano, Hermogenian? e
Teodosiano (na verdade os dois primeiros do século 111D.e., compila-
ções privadas sem caráter oficial, e só o terceiro de 438 D.e. publicado
pelo imperador Teodosio 11 e pOl1anto autêntico texto legislativo) - a
grande obra legislativa de Justiniano (completada entre 528 e 542), que a
partir do Renascimento se começou a chamar Corpus Juris Civilis (com-
posta, como é sabido, de quatro obras distintas, os Digesta, o Co~e.> as
institlltiones, as Novel1ae) tivesse como finalidade totalmente expltclta a
de "versar o antigo pensamento jurídico (ou, melhor dizendo, aquela que
é considerada a sua melhor parte, porque as fontes utilizadas eram resul-
tado de um preliminar trabalho de seleção) na forma de 1/171código (no
sentido moderno do termo, Oll seja, de 11171texto normativo; mas a cultura
jurídica da antigüidade tardia reservava a palavra. codex soment.e para as
compilações de legislações imperiais), de modo a mtegrar orgal1lcamente,
do ponto de vista do direito vigente, os antigos iura (como eram c1~ama-
das as obras dos juristas do passado) com as novas leges (ou seja, as
constituições imperiais) no renovado ordenamento que se queria cons-
truir" (A Schiavone)
No que concerne ao segundo fenômeno, o alargamento da esfera
de utilização do tenno parece particularmente incentivada, no léxico do
atual cultor do direito positivo, pela atual desconfiança com relação aos
maxicódigos tal como os conhecemos nos últimos três séculos e pelo
debate do assim chamado método de codificação a direito constante (que
encontra seu protótipo na atividade da transalpina 'Commission ~up~-
rieure de codificatión' instituída em 1989), ou seja, em boa substancla
uma 'codificação' não inovativa, mas simplesmente racionalizadora do
direito existente (desta fornla fala-se de código do consumidor, dos jor-
nalistas, dos seguros, das profissõe~ jurídicas, dos transportes, dos ~or-
reios e telecomunicações, etc.); mas também da renovada quere/le pró ou
contra um código comum europeu (geral ou apenas de obrigações e con-
tratos; de princípios ou sob a forma de Restalel71ent ao anglo-saxão, etc.)
Indubitavelmente existem elementos dignos de nota que estas
tendências interpretativas apreendem, individuando como denominador
comum do processo de codificação a "estabilização do instável", mas
estes elementos já tinham induzido a historiografia jurídica mais atenta,
seguindo a lição de Viora, a cunhar um temlO diverso - justamente o de
'consolidação' - e de qualquer modo aparecem, no seu complexo, muito
I~beis ~ara justificar, para além de uma muitas vezes inevitável persistên-
cia lexlcal, a utilização 'imprópria' do termo como invólucro unitário
para f~ra de ,uma colocação espaço-temporal bem definida da sua parte:
que veja aqUIlo que para os historiadores do direito é o Código (com seu
processo genético, com uma 'codificação', que não é se estanca no mo-
mento de sua publicação), bem distinto de tantas outras realidades hete-
rogêneas e profundamente diversas por origem e função: "Os tênues ele-
n~en,t~s comuns - que existem - não devem diminuir a absoluta tipicidade
l1lStonca daquela escolha fundamental da civilização jurídica moderna
defi~ida em modo completo entre os séculos XVIII e XIX na Europa
con,tlllental, escolha não desta ou daquela política contingente, mas tão
ra~lcal a pon~o de colocar-se como marco divisor na história jurídica
oCldent~l, ~ssmalando um antes e um depois caracterizados por íntima
descontlllUldade, escolha que pernlite aos historiadores em falar correta-
~l?e?te de ',C~di~?, Símbolo'" de 'Código mito', de 'forma código', de
~d~Ja de COdlg0:' (P. Grossl). Portanto, antes de tudo o código é filho
lIPICO(e se devena acrescentar, intrinsecamente 'revolucionário') da Mo-
dernidade e de seu 'Absolutismo Jurídico': o código moderno nasce
com,o experiência alt~rnativa. à Ordem jurídica medieval (e do Antigo
Regime); como tentallva de Illstaurar uma unidade geral (contraposta à
'comum') no ordenamento jurídico que assinale o triunfo definitivo da loi
s?bre o dro~t(segundo a definição remissível a Bodin), do direito positivo
Uusto por SI mesmo) sobre a justiça, e da onipotência do legislador sobre
a 'iurisprllde11lia' do jurista.
A prime~à grande onda das codificações modernas foi gerada por
a~uela que pode ser chamada a 'aliança' entre Jusnaturalis1110 e Ilumi-
I1Ismo e encOI1tra, não por acaso, o seu ápice sucularizante definitivo na
e~p~riência revoluci?ná~ia francesa cristalizada por Napoleão, no Code
Cn'i/ de 1804, A pnmelra característica comum dos códigos modernos
18 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 19
que salta aos olhos é que eles se distinguem de todas as tentativas prece-
dentes de reescritura e 'racionalização' do direito vigente, em vista do
fato de que eles "não visam consolidar, ordenar, melhorar (numa palavra:
refonnar) ou desenvolver sob o signo da continuidade o direito persis-
tente (como foi o caso, por exemplo, das Ordennances francesas de Luis
XIV e seu ministro Colbert sobre Processo civil (1667), Penal (1670),
Comercial (1673), da Navegação (1681); e depois de Luis XV e do chan-
celer d' Aguesseau, sobre doações (1731), testamentos (1735) e fideico-
missos (1747) - ou das Reformationen alemãs do século XVI); mas tem,
muito mais, a intenção de viabilizar "uma replanifiéação integral de toda
a sociedade mediante um reordenamento integral de todo o sistema nor-
mativo" (F. Wiaecker). Portanto, estamos agora di~lI1teda tarefa, a partir
dos elementos colhidos, não mais de todo inatingível, de delinear as ca-
racterísticas 'próprias'. do fenômeno codificatório moderno que, em ex-
trema e conscientemente paradoxal concisão, poderia literalmente defmir-
se como a primeira (e certamente a mais afOltunada,e admirada com rela-
ção às '(des) venturas' da sucessiva aplicação em campo econômico)
emergência da idéia, do modelo, da planificação n'b campo jurídicos. E
como as suas "características historicamente tipificadoras" posteriores
(fonte unitária garantidora do caráter unitário da entidade-Estado' fonte. ,
completa, sem lacunas, pOlianto; fonte exclusiva) assinalam, este campo
juridico será posterionnente detenninado, sublinhando a validade consti-
tucional da idéia de Código; retomando a sugestão de vários autores, não
seria de fato imprudente afirmar, diante da mutabilidade e fragilidade das
disposições constitucionais (mais ou menos 'f1exív~is') do início do sé-
culo XIX, que o Código (civil, com o reforço da tutela constituída pelo
advento do penal) representa a verdadeira, própria e :'granítica' Constitui-
ção do Estado da burguesia em ascensão. O Code:Napo!eón ('modelo'
príncipe nesse contexto. histórico),
portanto, como Constitution civile de
La France: "O Code Napoléon é uma Constituição "civil (burguesa) por-
que isso não é - não somente e não exclusivamente.- um código (com a
letra minúscula) do direito civil (isto é, privado), mas sobretudo e funda-
mentalmente um Código (com letra maiúscula) da sociedade civil, justa-
mente com a finalidade de estruturar esta sociedade, de revelá-la a si
mesma, de organizá-Ia e consolidá-Ia defmitivamenÍ(~." (Y. Gaudemet) Se
quiséssemos sintetizar numa fórmula simplificada,: mas não enganosa,
quase em um slogan o sentido deste processo histórico, poderíamos talvez
exprimi-lo assim: o Código (e a codificação) como experiência de auto-'
revelação (planificada a partir de cima) da nova sociedade a si mesma.
Um processo que a sociedade européia, considerando o caráter de 'mo-
delo' exportável (a própria palavra italiana 'modellarsi' (modelar-se), no
sentido de confonnar-se a um modelo, como tivemos ocasião de mostrar,
traz a sua primeira origem da referência à função de modelo exercida
pelo Código de Napoleão), assumido pelo código Moderno (ao menos na
versão 'produtiva' de muitas imitações do Code Civil num primeiro mo-
mento, e do BGB alemão de 1900 em seguida), aplicou progressivamente
a si mesma, para depois contribuir largamente (ainda que de maneira
nada indolor) a 'mundializar'.
Paolo Cappellini
Catedrático de história das codificações da Università degli Sfudi di Firen:e
REFERÊNCIAS
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fologie e metamorfosi di un paradigma della modernità. In: P. Cappellini, B.
Sordi (a cura di). Codici. Una riflessione di fine millennio. Milano, 2002. p. 11-
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N. IRTI. L'età della decodjfieazione. Milano, 1979.
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S. RODOrA, Un codice p~r I'Europa? Diritti nazionali, diritto europeo, diritto
gJobale, in P. Cappellini, B. Sordi (a cura di). Codiei. Una riflessione di fine
millennio. Milano, 2002. p.541-578.
I
SISTEMA GIURIDICO
La nozione di sistema puo esser~ celiamente considerata "un pi-
r lastro della saggezza occidentale, in quanto ad essa fa ri ferimento - con-t sapevolmente o inconsapevolmente, per consenso o per dissenso - chiun-
I que intraprenda una descrizione scientifica o una costruzione tecnica"
(Losano) e iJ tennine deriva infatti dai greco syn (con, insieme) e his-
tánai (collocare, porre), da cui appunto systema (insieme, insieme strut-
turato, insieme coerente). Tuttavia della nozione possono darsi una plura-
lità di accezioni, che recentemente (Lantella, Stolfi, Deganello) sono state
utilmente cosi suddivise:
J) accezione pluridisciplinare, ma anche comune: Insiel11e di
oggetti che sono considerabili in modo unitario in vir/il dei 101'0 rappor/i
(sia gli oggetti che i rapporti possono essere di varia natura; per quanto
riguarda i primi soltanto cose, sol tanto attività;cose e attività; proposi-
zioni - per quanto riguarda i secondi rapporti strutturali,o funzionali
oppure strutturali e funzionali:cosi "il sistema respiratorio"; "il sistema
solare"; "il sistema linguistico"): E'possibile pure sottolineare,
nell'ambito di questa prima accezione, una' variazione specifica impor-
tante, che si rinviene soprattutto nel discorso filosofico: insieme di propo-
sizioni, ar/icolate SI/ vari livelli, tl/tte derivanti,per via di implica:ione, da
I/n medes imo principio ("un vero sistema, in una determinata tradizione
di pensiero, o e deduttivo, oppure non e un sistema").
2) ancora accezione pluridisciplinare,ma anche comune:Ordine di
I/n insieme ("Ia trattazione e ricca di spunti interessanti, ma il sistema e
carente")
3) accezione comune: Regale tecniche. Melado ("un sistema per
fare qualcosa- cucinare, fare puntate ai totocalcio,coltivare fiori etc. - e la
cosa riesce/non riesce). Tra le accezioni si determinano rapporti possibili:
cosi il sistema I) e un insieme la cui "riconduzione ad unità" e prodotta
da un ordine cioe da un sistema 2); mentre il sistema 2) e a sua volta, in
un altro senso, un ordine che produce un sistema I); infine il sistema 3)
! •
rispetto aI sistema 2) ne e una versione pragmatica , in quanto il secondo
e un ordine ricavabile, mentre sistema 3) e un ordine da seguire.
Si puo poi parlare di sistema di c1assificazioni o di sistema c1assi-
ficatorio a seconda che si tratti di una pluralità di c1assificazioni che in-
sistono con criteri diversi su di unico campo (c1assificazioni dei con-
tratti); ovvero di un'unica c1assificazione che ha per oggetto un unico
classificando esteso e si articola su molteplici Iivelli (sistema di classifi-
cazione delle piante di Linneo). '.,
Ma particolare interesse per la nostra disamÍJla ri veste, come ve-
dre,m~ tra breve, la. ~ozione di 'Sistema 'in sintagmi ambigui: qui ci bas-
t~ra nlevare che ltplcamente a questa accezione dovrebbe forse essere
ncondotta anche la nozione di sistema giuridico.'
L'analisi storiografica, che e stata sinora compiuta in testi non
numer.osi~simi ma di buon approfondimento, puo comunque aI proposito
essercl utIle, allorché sia in grado di indicarci una direzione di senso.
In estrema s~tesi si p~à anzitutto. rilevare ch~, nonostante qual-
c.he au~?revol~ voce III contrano(ad esemplO La Pira, per quella romanis-
tIca; PIU amblgua, ma sempre legata aI tema normativistico moderno
I' idea di sistema in Calasso), I'utilizzazione della nozione di sistema no~
desce ad essere qualificante per le esperienze giuridiche antiche e medie-
vali; per queste ultime resta decisiva la notazione che iJ conceito chiave e
rapprese~tato piuttosto d~lIa riferimento alia nozione(agostininiana, to-
mIsta) dI ~rdo, come chmv~ deJl'antropologia (e della teologia) medi e-
v~le, che nmanda all'armol1la della creazione divina, esi declina su di un
p~ano gerarchico sociale, "inttanti ordines particolari, '!Iomenti necessarii
di scansione della società medieval e, nicchie necessarle in cui inserire e
dare ,co~~re~e~a e ~un~onalità storica a quell'astrazione priva di senso
che e.1 m~lvlduo" I1 smgoJo" (Grossi): ordo iuris dunque e garanzia
oggettIva dI armollla - a carattere polifonico, pluralistiCo (si parIa di mul-
tip~ex, duplex, .triplex ordp) - di rapporti e relazioni ('consonantia), che
puo essere reahzzato anche da una scienza che lavori in modo fedele alia
'tradizione', problematico, casisistico, anche fortemente classificatorio
certo, ma che non abbisogna di sovrapporre un sistema scientifico in sê
concluso a quello 'antropologico-cosmologico'.'
Ci sembra in sostanza che soltanto agli albori dei moderno e della
sua valutazione soggettivistica ,atomizzante,in una parola matematizzan-
t~, ,deJl'individuo si comincino a.porre le premesse perla definizione deI
dmtto nel suo complesso come 'sistema',perché comincia a prevalere un
atteggiamento di insoddisfazione ed insofferenza verso I'unità universa-
listica e pluralistica dello ius commune e"dei metodi 'cattolicizzanti' deI
mos italictls. Le premesse storico-culturali della individuazione di un'idea
di systema iuris vanno colte nella teologia sistematica riformata (che
modellerà, in una misura che resta da indagare nel dettaglio, anche la
risposta della Riforma cattolica), nella reazione contro la "secta tribonia-
nomastigu:n" e bartoJista deI filone piu sistematizzante della giurispru-
denza
umanistica - specialniente,e non a caso,francese e tedesca:
F.Connan (Connanus, 1508-1551); H, Doneau (DoneJlus, 1527-1591);
K.Lagus (tIne 1400-1546); N. Weigel (Vigelius, 1529-1600); 1. T. Frey
(Fregius, 1543-1583) etc. -, che inizia a rimpiangere la perdita dei cice-
roniani libri de iure in aftem redigendo e che porta ad una nuova fortuna
e ad elaborazioni originali iI semplificato schema gaiano (personae, res,
actiones) di suddivisione della materia giuridica (ovviamente recuperato
attraverso le lnstitutione-r giustinianee).
Ma la 'rivoluziorte copernicana' verso il systemQ iuris trova il suo
tassello a nostro avviso decisivo proprio nel tentativo ad essa piu con-
sentaneo - per molti aspetti destinato aI fallimento, ma capace invece di
lasciare sotto questo profilo un'eredità di lungo pedodo, che in varia for-
ma giungerà sino alia Pandettistica tedesca, e di là arriverà a lambirei
sistemi giuspositivistici sino aI normativismo kelseniano della 'Dottrina
pura deI diritto' -, ovvero nella ricerca di applicazione anche alia scienza
giuridica dei metodi specifici della scienza fisico-matematica moderna: il
cosiddetto mos geometricus, che troverà il suo antesignano e teorico piu
profondo senz'altro in L~ibniz (1646-1716), ma il piú fortunato divulga-
tore nel filüsofo-giurista,al quale va riconosciuto altresi il ruoIo storico di
aver coniato la maggior parte dei vocabolario filosofico tedesco (e di aver
consolidato non piccola, parte di quello giuridico) fino a Kant, ovvero
Christian Wolff. L'idealismo giuridico tedesco -, da Savigny a Puchta,
fino alla tarda Pandettistica - renderà acquisizione definitiva dei processo
moderno di razionalizzàzione deI diritto continentale la connessione
inestricabile tra scienza e' sistema,facendo di quest'ultimo, molto piu che
una tra le possibili soluzioni ai 'problema della disposizione' delle mate-
rie giuridiche, iI contrassegno essenziale (ed ideologico) della scientificità
dell'analisi dei diritto: "lÍ Sistematico ha un dllplice compito. L'uno con-
siste nella classificazione', nell'individuazione e nella 'realizzazione di una
norma di suddivisione. L'altro e la comprensione delle parti nella loro
interna connessione, ovvbrosia non semplicemente come parti, ma bensi
in qualità di articolazionl. di un vivente, organico tutto. Si comprende da
sé che queste attività non sono separate fra loro. Quell 'attività e dunqlle
di fatto llllica ,un 'attività:all 'interno della qllale quei dl/e momenti esisto-
110 in sé come indivisi" (Puchta). Cosi ,ai termine di un lungo processo di
secolarizzazione, si dich,ara la radicale autonomia immanentistica dei
22 Paolo Cappellini
Sistema Jurídico e Codificação 23
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giuridico rispetto ad ogni possibile 'fuori', primi fra tutti la trascendenze
di Dio e della Giustizia (e successivamente le ampie o circoscritte imma-
nenze residuali dei politico, dei sociale, dello storico, che non son cosa
deI giurista in quanto tale,secondo il noto detto di Windscheid) e si attri-
buisce aI sistema (e di conseguenza alia 'sistematjca' ,Ia cui ri cerca di
rinnovamento nella cronologia storica aveva preceduto la configurazione
'intrinseca' dell' idea stessa di sistema) appunto la virtú di" atlribuire
all'oggetto dei discorso - cui il tennine viene applicato - una sorta di
coerenza interna 'spontaneamente' offerta alia nostra mente, mentre, ove
questa coerenza ci appaia, essa e sempre il risultato di una nostra rifles-
sione o elaborazione" (Orestano).
Né, come notava ancora Orestano, a questa ambiguità di fondo
sfugge ]'uso - peraltro spesso sostanzialmente equivalente, posto che
I'idea immanente di 'sistema interno' rimanda alia concezione
dell'ordinamento eome sistema -, invalso per influenza della letteratura
anglo-americana, di utilizzare la parola appunto come sinonimo di ordi-
namento dei diritto o "complesso delle norme e dei principi che regolano
I'esperienza di una nazic,ne o di un'epoca (ad es. illegal system inglese, il
'sistema giuridico italiano'), oppure un gruppo di strutture e di regole
funzionalmente coordinate (ad es.lo 'equity system', il 'sistema proces-
suale formulare' o il 'sistema penale italiano'). E siamo tornati ai punto di
avvio: I'utilizzazione di 'sistema' in sintagmi ambigui, laddove se teori-
camente non e chiara se la fonte dell' ambiguità risieda nella paro la 'sis-
tema', nel termine che lo specifica, o nell'intero sintagma (in ipotesi sis-
tema dcl diritto italiano o sistema dei diritto privato o penale), forse sto-
ricamente siamo in grado di dare una risposta meno ambigua o, perlome-
no, di non contare troppo, ottimisticamente, sulla possibilità che
I'ambuiguità si possa agevolmente sciogliere sulla base dei contesti.
24 Paolo Cappellini
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(.
CODIFICAZIONE
11termine "codificazione" puo, ed e stato, impiegato in molteplici
campi e con molteplici significati; né la cosa puo sorprendere visto che
indica il processo di attività che ha come suo prodotto finale un 'codice',
parola a sua volta intrinsecamente polisemica e utilizzabile in una plura-
lità di campi disciplinari, che vanno dalle scienze sociali a quelle llmane e
natura li (code de la langue, codice fonolo.gico, codice semantieo; codice
parentale, codice dei miti, codice estetico, codiei artistici e letterari; codi-
ci delle varie culture; codice genetico, codici della comunicazione ani-
maJe, codice iconico, codice della percezione, codice dei processi neuro-
fisiologici; eodici di classe, codici etnolinguistiei, codiei di comporta-
mento interattivo etc.).
li significato che qui ci interessa si riferisce ai contesto daI quale
probabilmente ne e iniziata la diffusione,ovvero quello giuridico. Anche
in quest'ultimo, tuttavia, resta aperto il problema di una sua piú rigorosa
detenninazione. Infatti, in prima istanza, il vocabolo permette una defini-
zione generale, che resta in certo senso atemporale e si riferisce, per usare
delle parole di Max Weber, a "l'intervento dell'imperium, e speeialmente
dell'imperium dei prineipe, nella vita giuridica che ha ovunque contri-
buito all'unificazione sistematizzazione deI diritto ,eioe alia sua "codifi-
cazione" - e cio in misura tanto maggiore quanto piú iJ suo potere si con-
figurava in fonna forte e stabile". In tal senso si e potuto parlare, ad
esempio, di codificazione e di "codiei" anche con ri ferimento aI Vicino
Oriente Antico per le leggi sumere, babilonesi, assire, itlite, bibJiche ed
egizie (il "codice" di Ur-Nammu;il "codice" di Lipit-lStar; il "codice" di
Hammurapi etc.); ma con notevole consapevolezza, spesso assente in tal
misura tra gli stessi giuristi, l'assirologo ed epigrafista si e preliminar-
mente reso conto che "quelli che noi ehiamiamo impropriamente "codiei"
sono in realtà qualcosa di molto diverso dai nostri. Sono raccolte di nor-
me, espresse una accanto all'altra COn un succedersi di argomenti ehe
spesso nOn hanno attinenza fra lora. Un' altra caratteristica dei codiei
li!
f~
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I
!
26 Paolo Cappellini Sistema Juridico e Codificação 27
orientali e che nessuno di essi e completo. Mancano ~intere materie, né si
puo certo dire che le materie presenti sono state trattite in maniera esau-
riente. Per contro, vengono esaminati a volte dei casi"che, ha notato qual-
cuno, dovevano essere piuttosto rari." ( C. Saporetti). Come accennavamo
tale consapevolezza, che induce a virgolettare opportunamente il'richia-
mo~ rimane
invece spesso oscurata proprio tra i culfori dei diritto a se-
guit? di due fen~~eni eterog~n~i eppure concomitanti :da un lato il peso
stonco della tradlZlone romamstlca, daIJ'altro recenti tendenze culturali di
varia ascendenza, ma ascrivibili ai filoni dei pensi'ero giuridico post-
moderno, dei dibattito su 'decodificazione versus ricodificazione' e sulla
globalizzazione, per intendersi in estrema sintesi. "
. Per ~uanto riguarda il priino aspetto, assunt9 iI valore paradig-
matlco dei JUS romanum per l'intera esperienza giuridica occidentale,
segnatamente moderna, non resterebbe dubbio che - 'Con qualche distin-
guo per i codici pre-giustinianei Gregoriano, Ennogeniano e Teodosiano
(in v,erità i primi due, dei III seco d.C., raccolte priyate senza carattere
ufficlale e solo il terzo dei 438 d.C. pubblicato dall'imperatore Teodosio
II e quindi autentico testo legislativo) - la grande Qpera legislativa di
Giustiniano (compiuta tra il 528 e il 542), che dai Rinascimento si comin-
c~o .a chiamare .il ~orpus~lIris civilis (composta, confe noto, di quattro
dlstmte opere, I D/gesta, J1 Codex, le lnstitutiones, Ie Novellae) avesse
come scopo dei tutto esplicito queIJo di "versare I'antico pensiero giuridi-
co (o per meglio dire, la sua parte giudicata migliore, perché le fonti utili-
zzate erano il risultato di un preliminare lavora di selyzione) nella forma
di un codice (nel senso moderno deI termine, cioe di im testo normativo'
ma la cultura giuridica tardoantica riservava la parola codex solo all~
raccolte di costituzioni im'perialí), in modo da integr~re organicamente,
dai punto di vista dei diritto vigente, gli antichi iur,'a (come venivano
chiamate le opere dei giuristi dei passato) con le nuove leges (cioe le
costituzioni imperiali) nel rinnovato ordinamento che ~i voleva costruire"
(A. Schiavone).
Per qllello ehe concerne il secondo fenomeno, I'allargamento
della sfera di utilizzazione dei termine al?pare particolannente incentivata,
nellessieo dell'odierno cultore dei diritto positivo, dallli odierna diffiden-
za .ne.i confront.i dei m~xicodici cosi come li abbiamb conoscillti negli
ultJml tre secolJ e dai dlbattito sul cosiddetto metododi codijicazione a
diritto costante (che trovail suo prototipo nell'attività della transalpina
'Commission supérieure de codification'istituita nel 1989), ovvero in
buona sostanza una 'codificazione' non innovativa ma semplicemente
razionalizzatrice dei diritto esistente (cosi si parla di Codice dei consu-
matori, dei giornalisti, deVe assicurazioni, delle professioni giuridiche,
dei trasporti, delle poste e telecomunicazioni etc.); ma anche dali a rinno-
vata querelle pro o contro un Codice com une europeo (general e o delle
sole obbligazioni e contratti; per principii o sotto forma di Restatement
ali' anglosassone etc.).
Indubbiamente vi sono elementi degni di nota che queste tenden-
ze interpretative colgono, individuando a denominatore comune dei pro-
cesso di codificazione la "stabilizzazione dell'instabile", ma questi ele-
menti avevano già indotto la storiografia giuridica piu avvertita, sulle
onne dei Viora, a coniare un tennine diverso - quello appunto di 'conso-
Iidazione' - e appaiono comungue, nel loro complesso, troppo labili per
giustificare, ai di là di una spesso inevitabilepersistenza lessicale,
I'utilizzazione 'impropria'del tennine come involuCro unitario, ai di fuori
di una sua ben definita collocazione spazio-temporale, che veda quello
che per gli storici deI diritto e il Codice (in una con.il suo processo gene-
ti co, con una 'codificazione', che non e detto si arresti alia sua pubblica-
zione), ben distinto datante altre realtà eterogenee e profondamente di-
verse per origine e funzione:" I tenui elementi accomunanti - che ci sono
- noo debbooo affievolire la assoluta tipicità storica di quella scelta fon-
damentale della civiltà. giuridica moderna compiutamente definitasi fra
Sette e Ottocento nell Europa continental e, scelta non di qllesta o quella
politica contingente ma tanto radicale da porsi quale cippo confmario
nella storia giuridica occidentale segnando un prima e un poi, un prima e
un poi caratterizzati da intima discontinuità,sceIta che pennette agli stori-
ci di parlare correttamente di 'Codice simbolo', 'Codice mito', di 'forma
Codiee' di 'idea di Codice ,,, (P. Grossi). Anzitutto dunque il Codice e un
tipico figlio (e si dovrebbe aggiungere, intrinsecamente 'rivoluzionaJ;o')
della Modernità e dei suo 'Assolutismo giuridico': il Codice moderno
nasce come esperienza alternativa all'Ordine giuridico medievale (e di
Antico Regime); come'tentativo di instaurare un'unità generale (contra-
pposta a 'comune') nell'ordinamento giuridico che segni il defmitivo
trionfo della loi sul dr(Jit (secondo I'opposizione di bodiniana memoria),
dei diritto positivo (di per sé già giusto) sulla giustizia, e dell' onnipotenza
dellegislatore suBa 'iuHsprudentia' dei giurista.
La prima grande ondata delle codificazioni modeme e stata gene-
rata da quella che puo ,çssere definita l' "alleanza" fra Giusnaturalismo e
IIIuminismo e trova il suo culmine secolarizzante definitivo, non per caso
a partire dall'esperienia rivoluzionaria francese cristallizzata da Napo-
leone, nel Code civil d~11804. La prima caratteristica comune dei codici
11l0derniehe salta agli 9cchi e che essi si distinguono da tutti i precedenti
tentativi di riscrittura e 'razionalizzazione' dei diritto vigente, per il farto
che essi "non mirano, per I'appunto, a consolidare a ordinare a migliorare
28 Paolo Cappellini Sistema Juridico e Codificação 29
(in una parola: a "ri formare") o a sviluppare sotto il segno della conti-
nuità il diritto preesistente (com' era stato il caso, per esempio delle Or-
donnances francesi - di Luigi XIV e dei suo ministro Colbert sul proces-
so civile (1667), penale (1670), commerciale (1673), della navigazione
(1681); e poi di Luigi XV e dei cancelliere d'Aguesseau, su donazioni
(J 731), testamenti (1735) e fedecommessi (1747) - o delle Reformatio-
nen tedesche deI Cinquecento); ma hanno, piuttosto, lo scopo
d' approntare IIna ripian(jica:ione complessil'a dell 'intera società me-
diante IIn riordinamento integrale di tlltlO il sistema normativo" (F.
Wieacker).
Siamo dunque di fronte aI compito, ora, a partire dagli elementi
raccolti, non piú dei tutto inattingibile, di delineare i caratteri 'propri' dei
fenomeno codificatorio moderno che, in estrema e consapevolmente pa-
radossale concisione, potrebbe lelteralmente definirsi come la prima (e
certo piú fOliunata e magnificata rispetto alie '(dis)avventure' della
successiva applicazione in campo economico) emersione dell'idea, deI
modello, di pian(jica:ione nel campo deI giuridico. E come i suoi ulteriori
"caratteri storicamente tipizzanti" (fonte lInitaria garante dell'unitarietà
deJl'entità-stato; fonte completa, priva dunque di 'Iacune'; fonte esclusi-
va) segnalano, quel campo giuridico andrà ulterionnente precisato, solto-
lineando la valenza costituzionale dell'idea di Codice; riprendendo
suggestioni di vari autori, non sarebbe azzardato infalti affermare, a
fronte della mutabilità e fragilità dei dettati costituzionalí ('flessibili' o
meno) d'inizio Ottocento, che il Codice (civile, con il rafforzamento di
tutela costitllita daI penale) rappresenti la vera e propria,' granitica', Cos-
tituzione dello Stato della borghesia in ascesa. 11 Code Napoléon ('mo-
dello' principe in questo contesto storico) dunque come "Constitution
civile de la France": "11 Code Napoléon e una Costituzione civile ('bor-
ghese') perché esso non e - non soltanto e non esclusivamente - un codi-
ce (con la lettera minuscola) deI diritto civile (cioe'privato'), ma altresi e
fondamentalmente un Codice (con la maiuscola) della società civile, con
lo scopo appunto di strutturare questa società, di rivelarla a se stessa, di
organizzarla e e consolidaria definitivamente" (Y.Gaudemet). Se voles-
simo
sintetizzare in una formula semplificata, ma non traditrice, quasi in
uno slogan il senso di questo processo storico, potremmo forse esprimerlo
cosi: il Codice (e la codificazione) come esperienza di autorivelazione
(pianificata dall'alto) della nuova società civile a sé medesima. Un pro-
cesso che la società europea, giocando sul carattere di 'modello' esporta-
bile (la stessa parola italiana 'modellarsi', nel senso di confonnarsi ad un
modello, come abbiamo avuto occasione di mostrare, trae la sua prima
origine dai riferimento alia funzione di modello esercitata dai Codice
Napoleone), assunto daI Codice 1110d~n:o (~Imeno nelle versioni 'pro-
duttive' di molte imitazioni dei Code CIVIl,pnma, e dei tardo BGB ~edes-
co deI 1900, poi), ha applicato progressivamente a se stessa, p.er POI con-
tribuíre largamente (anche se spesso in modo tutt" altro che mdolore) a
'mondializzare' .
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