Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
~ ~JI(;~ XEROY VALOR p~••••••••• PASTA _...lQ~~--- ~~rRIA j,J. /02>/1/1 ORIGINAL. Visite nosso sife na Internet lI'lI'W jUnto. com. bl' e-mail: edifol'o@j/ll'/lo.com.b,. SISTEMA JURíDICO E CODIFICAÇÃO f!!!J!IJJ!l EDITORA Av. Mllnhoz da Rocha, 143 - ll1vevê - Fone: (41) 3352-3900 Fax: 3252-1311 CEP: 80.035-000 - Curitiba - Paraná - Brasil Curitiba Juruá Editora 2007 CIPRESTES E ARAUCÁRIAS No dia dezessete de setembro de dois mil e sete, no salão nobre da Faculdade de Direito da UFPR, foram recebidos os professores Paolo Grossi, Pietro Costa e Paolo Cappellini, catedráticos de história do di- reito da Università degli St/ldi di Firen::e, Itália, e representantes de uma das mais expreSsivas escolas do pensamento jurídico italiano e europ~u. Artífices de um centro de pesquisas avançado e cosmopolita (o Centro di St/ldi per la Storia dei Pensiero Gillridico Moderno), cuja irradia'rão cultural é feita, sobretudo, por um dos periódicos mais im- portantes da reflexão jurídica européia (os Q/ladel'l1i Fiorenlini per la Storia dei Pensiero Gillridico Moderno, fundados e conduzidos por trinta t'llCS por Grossi, hoje tendo Costa à frente e Cappellini em seu Conse[lo de Redação), os professores florentinos gravam no Brasil, nesta o2asião, lima da$ suas marcas culturais mais notáveis, que é preci- samew~ c estabelecim'ento de diálogo com juristas de distintas tradições cultureis. E suas presenças em Curitiba, junto a estudantes e professores da Faculdade de Direito da UFPR, sela um vinculo firme e permanente, cujo convênio institucional já existente entre UFPR e a Universidade Florentina é, apesar de muito importante, somente o registro fonnal. Hoje, 30 mesmo tempo em que os juristas brasileiros olham para a Europa - matriz de uma tradição jurídico-cultural fundante para a Amé- rica Latina, e sobre a qual o jurista brasileiro deve fazer uma reflexão crítica ':ontínua - a Itália também olha para o Brasil, com disponibilida- de e ab~ltura. i Eao olhar para Curitiba, dentro de sua premissa cultural sem fronteiras, a reflexão florentina irmana-se e compromete-se conosco. E o a render e dialogar com o Stile Fiorentino, nossa ref1e~ão se. e~r~- a p I'fi a Ao Inesmo tempo em que, nessa saudavel dlalel1-quece e comp eXI IC . . S I Caminhos continuam a se cruzar, estreItam-se tam- .ca Norte- u. nossos . ~ sos '. . . s os laços de amizade e adn1ll'açao com nosbém sempre maIs paI a no .. . . d t Qlle nossos caminhos contll1uem proxlmos.dados este momen o. convI oceano de distância) e que se entrecruzem(apesar de estarmos a um C- . '.1 Q ossos campos do saber tenham perenemente 1-cada vez maIs. ue n prestes e Araucárias! 8 Paolo Cappellini SISTEMA JURÍDICO} 11 L I I I i t 1 i Ricardo Marcelo Fonseca Professor de História do Direito da li FPR A noção de sistema pode certéllnente ser considerada "um pilar da sabedoria ocidental, enquanto a ela faz referência - consciente ou incons- cientemente, consensualmente ou sem consenso - qualquer um que em- preenda uma descrição científica ou uma construção técnica" (Losano) e o termo efetivamente deriva do grego syn (com, junto) e histánai (colo- car, pôr). de onde tem-se precisamente systema (conjunto, conjunto es- truturado, conjunto coerente). Todavia, da noção podem decorrer uma pluralidade de acepções que, recentemente (Lantella, Stolfi, Deganello), foram utilmente assim subdivididas: 1) Acepção multidisciplinar e também comum: conjunto de olJje- tos que são considerados de modo unitário em ra::.ãode suas relações (tanto os objetos quanto as relações podem ser de natureza variada; no que diz respeito aos primeiros [objetos], podem ser apenas coisas, apenas atividades, coisas e atividades, proposições; no que diz respeito aos se- gundos [relações], relações estruturais, ou funcionais ou então estruturais e funcionais: tais como "sistema respiratório", "sistema solar", "sistema lingüístico"). É possível também sublinhar, no âmbito desta primeira acepção, uma variação específica importante, que se encontra sobretudo no discurso filosófico: conjunto de proposições, articuladas em vários níveis, todas derivadas. por implicação, de um mesmo princípio ("Um verdadeiro sistema, em uma determinada tradição de pensamento, ou é dedutivo ou não é um sistema"). 2) Ainda uma acepção /11ultidisciplinar e também Comum: Ordem de um conjunto (como em "a abordagem é rica de pontos interessantes, mas o sistema é incompleto"). 3) Acepção CO/11/1m:Regra técnica, método (um sistema para fa- zer qualquer coisa - como cozinhar, fazer aposta na loteria esportiva, cultivar flores etc. - e a coisa dá cel10 ou não dá certo). Tradução Angela Couto Machado Fonseca. 10 Paolo Cappe/lini Sistema Jurídico e Codificação 11 Entre as acepções determinam-se relações posslvels: assim, o sistema (no sentido citado no item I supra) é um conjunto no qual a "re- condução à unidade" é produzida a partir de uma ordem, isto é, a partir ee um sistema (no sentido citado no itc-m 2, supra). Já o sistema (no sentido do item 2, supr~) é, por sua vez, num outro sentido, uma ordem quê produz um sistenia (no sentido dado no item 1, supra). Finalmente o sistema (citado no sentido 3) é uma versão pragmá- tica do sistema citado na acepção 2, pois enquanto o segundo é uma or- dem dedutível. o sistema na acepção 3 é uma ordem a ser seguida. É possível então falar de sistema de classificações ou de sistema c1assificatório confol1ne se trate de uma pluralidade de classificações que se apóiam com critérios diversos sobre um único campo (classificações dos contratos); ou mesmo de uma única classificação que tem por objeto um único objeto a ser classificado e se al1icula sobre múltiplos níveis (sistema de classificação das plantas de Lineu). Porém, tem pal1icular interesse para a nossa análise. como vere- mos em breve, a noção de 'Sistema' em sintagmcls ambíguos: aqui nos bastará observar que tipicamente para esta acepçãp deveria :ambém ser reconduzida a noção de sistema jurídico. A análise historiográfica, que até agora foi feita por textos não tão numerosos, mas de boa profundidade, pode, de todo modo, ser útil ao nosso propósito, desde que esteja em condições de nos indicar um rumo. Numa síntese extrema pode-se antes de tudo perceber que, não obstante algumas vozes respeitáveis em contrário (por exemplo, La Pira, do ponto de vista da romanística; mais ambígua, P9rém sempre ligada ao tema normativista modemo, a idéia de sistema em Francesco Cal asso), a utilização da noção de sistema não consegue ser pel1inente para a expe riência jurídica antiga e medieval; para estas últimas resta decisiva a ob- servação no sentido de que o conceito chave é principalmente representa- do pela referência à noção (agostiniana, tomista) de ardo, C0l110 chave da antropologia (e da teologia) medieval, que remete à harmonia da criação divina, e em seguida desce num plano hierárquico social "em lal/tas or- dines particulares, momentos necessários de subdivisões da sociedade medieval, nichos necessários para inserir e dar concretude e funcionali- dade histórica para aquela abstração sem sentido que é o individual, o singular" (Grossi): ordo illris portanto, e garantia objetiva de hanTIonia- I i ! I I I I I I I I em caráter polifônico, pluralista (fala-se de m1fltiplex, dllplex, triplex ardo) - de laços e relações (consonantia), que pode ser realizado também por uma ciência que trabalh~ de maneira fiel à tradição, problemático, casuísta, e também fortemente c1assificatório, claro, mas que não neces- site sobrepor um sistema científico fechado em si mesmo a um 'antropo- lógico-cosmológico' . Parece-nos, substancilllmente, que apenas nos inícios do moderno e de sua valoração subjetivista, atomizante, em uma palavra, matemati- zante, do indivíduo, se comecem a colocar as premissas para a definição do direito no seu conjunto como 'sistema', porque começa a prevalecer uma atitude de insatisfação e aversão em relação à unidade universalista e pluralista dc ills C0l1111111nee dos métodos "catolicizantes" do 1110Sita!iClls. As premissas histórico-culturais da individuação de uma idéia de systema illris devem ser buscadas na sistemática teologia reformada (que modela- rá. numa medida que falta questionar no detalhe, também a resposta da Reforma católica), na reação contra a "secta tribonianomGstigul11" e baJ10lista da linha mais sistematizante da jurisprudência humanista _ especialmeme, e não ao acaso, francesa e alemã: F.Connan (Connanus, 1508-1551); H. Doneau (Donellus, 1527-1591); K. Lagus (fins 1400- 1546); N. Weigel (Vigelius, 1529-1600); J.T.Frey (Fregius, 1543-1583), etc. - que inicia a lamentar a perda dos ciceronianos !ibri de illre artem redigendo e que leva o simplificado esquema de Gaio (personaes, res, aCliones) de subdivisão da matéria jurídica (obviamente recuperado atra- vés das instirWiones de .Justiniano) a uma nova fortuna e a elaborações originais. Porém, a revolução copemicana em direção ao systema iuris en- contra o seu momento decisivo, ao nosso ver, exatamente na tentativa a este mais consentâneo - por múitos aspectos destinado à falência, mas, ao contrário, capaz de deixar sob este perfil uma herança de longo período, que de várias formas chegará até a Pandectística alemã, e de lá chegará a alcançar os sistemas juspositivistas até o normativismo kelseniano da 'Doutrina pura do direito' -, qual seja na busca de aplicação. também para a ciência jurídica dos métodos específicos da ciência físico-matemática moderna: o assim chamado 1110S geometriclIS, que sem dúvida encontrará seu precursor e teórico mais profundo em Leibniz (1646-1716), porém que encqntrará seu mais expressivo divulgador no filósofo-jurista _ ao qual deve se reconhecer o papel histórico de ter cunhado a maior parte do vocabulário filosófico alemão até Kant (e de ter consolidado não pequena parte do vocabulário jurídico) - que é Christian Wolff. O idealismo jurí- dico alemão - de Savigny a Puchta, até a Pandectística tardia - dará o 12 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 13 impulso final para que a conexão inseparável entre ciência e sistema se tome aquisição definitiva do processo moderno de racional ização do di- reito continental, fazendo do sistema, muito mais que uma dentre as pos- síveis soluções do 'problema da disposição' das matérias jurídicas, o marco essencial (e ideológico) da cientificidade da análise do direito: "O sistemático possui uma dupla tarefa. Uma consiste na classificação,' na individuação e na realização de uma norma de subdivisão. A outra é a compreensão das partes na sua conexão interna, ou seja, não simples- mente como parte, mas sim enquanto articulação interna de um vivente, um todo orgânico. É por si mesmo compreensivel que estas atividades não são separadas entre si. Aquela (Jtividade é el1làQ de fato lÍnica, uma atividade no interior da qual aqueles dois momentos existem em si como inseparáveis" (Puchta). Assim, ao fim de um longo processo de seculari- zação, declara-se a radical autonomia imallelltista do jurídico diante de qualquer possivel 'fora', principalmente a transcendência de Deus e da Justiça (e, sucessivamente, as amplas ou circunscritas imanências resi- duais do político, do social, do histórico, que não são coisas do jurista enquanto tal, segundo a famosa expressão de Windscheid) e se atribui ao sistema (e em conseqüência à sistemática, cuja busca de renovação na cronologia histórica havia precedido a configuração 'intrínseca' da pró- pria idéia de sistema) justamente a viliude de "atribuir ao objeto do dis- curso - ao qual o tell110 é aplicado - uma espécie de coerência interna 'espontaneamente' oferecida à nossa mente, ao mesmo tempo em que, na medida em que esta coerência nos apareça, essa é sempre o resultado de uma reflexão ou elaboração nossa" (Orestano). Nem, como notava ainda Orestano, a esta ambigüidade de fundo escapa o uso - contudo freqüentemente substancialmente equivalente, posto que a idéia imanente de 'sistema interno' reconduz à concepção do ordenamento como sistema -, que se tomou usual por influência da lite- ratura anglo-americana, de utilizar a palavra exatamente como sinônimo de ordenamento do direito ou "complexo das normas e dos princípios que regulam a experiência de uma nação ou de uma época (por exemplo, o legal system inglês, o 'sistema jurídico italiano'), ou então um grupo de estruturas e de regras funcionalmente coordenadas (por exemplo, o equit)' system, o 'sistema processual formulário' ou o 'sistema penal italiano'). E retomamos ao ponto inicial: a utilização de sistema em sintagmas ambí- guos, lá onde não é teoricamente claro se a fonte da ambigüidade reside na palavra sistema, no termo que o especifica ou no inteiro sintagma (na hipótese "sistema do direito italiano" ou "sistema do direito privado" ou "sistema penal"), talvez historicamente estejamos em condições de dar uma resposta menos ambígua ou. pelo menos, de não contar muito, de modo demasiado otimista, com a possibilidade de que a ambigüidade se possa rapidamente dissolver sobre a base dos contextos. Paolo Cappellini Catedrútico de hislória das codificações da Ul1irersi/àdegli S/Hdidi Firen:e BIBLIOGRAFIA M. G. LOSANO. Sistema e strllttllra nel diritto. Milano. 2002. v. 3. L. LANTELLA: E. STOLFI: M. DEGANELLO. Operazioni elementari di discorso e sapere gillridico. 'Forino. 2004. N. LUHMANN. Sistema gillridiro e dogmatica gillridica, 1974. Bologna, 1978. R. ORESTANO. lntrodllzione alio stlldio dei diritto romano. Bologna, 1987. P. CAPPELLlNI. Systema illris 1. Genesi dei sistema e nascita della "scienza" delle Pandette. Miiano. 1984. P. CAI'I'ELLlNI. Systema illris 11. Dal sistema alia teoria generale. Milano, 1985. CODIFICAÇÃ02 o tenno 'codificaçào' pode ser, e foi, empregado em múltiplos campos e com múltiplos significados; e isso nào deve surpreender visto que indica o processo de atividade que tem como seu produto final um 'código', palavra por sua vez intrinsecamente polissêmica e utilizável numa pluralidade de campos disciplinares, que vão das ciências sociais às humanas e naturais (code de la langue, código fonológico, código se- mântico, código parental,;código dos mitos, código estético, código artís- tico e literário, códigos das várias culturas, código genético, código da comunicação animal, código icônico, código da percepção, código dos processos neurofisiológico, código de classe, códigos etnolinguísticos, códigos de compOliamen~b interativo etc.). O significado que. aqui nos interessa se refere ao contexto do qual provavelmente é iniciada a sua difusão, ou seja, o jurídico. Também neste campo, todavia, pennanece aberto o campo de uma detenninação mais rigorosa. De fato, em primeira instância, o vocábulo permite uma defll1i- ção geral, que pennanece em certo sentido atemporal e refere-se, para usar as palavras de Max. Weber, a "o intervento do imperium, e espe- cialmente o imperium do príncipe, na vida jurídica que em todo lugar contribuiu para a unificação e sistemati::ação do direito, 011 seja, à sua "codificação" - e isso eni medida /an/o maior quanto seu poder se confi- gurava de modo forte e eStável". Neste sentido, pôde-se falar, por exem- plo, em codificação e em "códigos" também em referência ao oriente próximo antigo para as lêis sumérias, babilônicas, assírias, hititas, bíbli- cas e egípcias (o "código'i de Ur-Namu, o "código" de Lipit-Istar, o "có- digo" de Hamurabi, etc.). Mas com notável consciência, geralmente ausente nessa mesma medida entre os próprios juristas, o assirólogo e epigrafista preliminarmente se deu conta que "aqueles que nós impro- priamente chamamos 'códigos' são na realidade algo muito diverso dos nossos. São compilações de normas, expressas uma depois da outra com Tradução de Ricardo Marcelo Fonseca. 16 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 17 um suceder-se de assuntos que geralmente não têm relação entre si. Uma outra característica dos códigos orientais é que nenhum deles é completo. Faltam matérias inteiras, e nem se pode dizer que as matérias presentes foram tratadas de modo exauriente. Ao contrário, são às vezes examina- dos casos que, alguém notou, deviam ser até mesmo raros." (e. Saporet1i) Como acenávamos, tal consciência, que induz a oportunamente colocar entre aspas o termo 'código', de outro lado apare.ce.rreqiient~mente de!- xada de lado exatamente entre os cultores do direito em vista de dOIs fenômenos heterogêneos contudo concomitantes: de um lado o peso his- tórico da tradição romanística e de outro recentes tendências culturais de variada ascendência, mas atribuíveis ao filão do pensamento jurídico pós- moderno, do debate sobre 'decodificação versus recodificação' e sobre a globalização, para fazer-se entender em extrema síntese. No que diz respeito ao primeiro aspecto, uma vez assumido o valor paradigmático do ius r0l71anorl/171para a inteira experiência jurídica ocidental, sobretudo a moderna, não restaria dúvida que - com alguma distinção para os códigos pré-justinianeus Gegoriano, Hermogenian? e Teodosiano (na verdade os dois primeiros do século 111D.e., compila- ções privadas sem caráter oficial, e só o terceiro de 438 D.e. publicado pelo imperador Teodosio 11 e pOl1anto autêntico texto legislativo) - a grande obra legislativa de Justiniano (completada entre 528 e 542), que a partir do Renascimento se começou a chamar Corpus Juris Civilis (com- posta, como é sabido, de quatro obras distintas, os Digesta, o Co~e.> as institlltiones, as Novel1ae) tivesse como finalidade totalmente expltclta a de "versar o antigo pensamento jurídico (ou, melhor dizendo, aquela que é considerada a sua melhor parte, porque as fontes utilizadas eram resul- tado de um preliminar trabalho de seleção) na forma de 1/171código (no sentido moderno do termo, Oll seja, de 11171texto normativo; mas a cultura jurídica da antigüidade tardia reservava a palavra. codex soment.e para as compilações de legislações imperiais), de modo a mtegrar orgal1lcamente, do ponto de vista do direito vigente, os antigos iura (como eram c1~ama- das as obras dos juristas do passado) com as novas leges (ou seja, as constituições imperiais) no renovado ordenamento que se queria cons- truir" (A Schiavone) No que concerne ao segundo fenômeno, o alargamento da esfera de utilização do tenno parece particularmente incentivada, no léxico do atual cultor do direito positivo, pela atual desconfiança com relação aos maxicódigos tal como os conhecemos nos últimos três séculos e pelo debate do assim chamado método de codificação a direito constante (que encontra seu protótipo na atividade da transalpina 'Commission ~up~- rieure de codificatión' instituída em 1989), ou seja, em boa substancla uma 'codificação' não inovativa, mas simplesmente racionalizadora do direito existente (desta fornla fala-se de código do consumidor, dos jor- nalistas, dos seguros, das profissõe~ jurídicas, dos transportes, dos ~or- reios e telecomunicações, etc.); mas também da renovada quere/le pró ou contra um código comum europeu (geral ou apenas de obrigações e con- tratos; de princípios ou sob a forma de Restalel71ent ao anglo-saxão, etc.) Indubitavelmente existem elementos dignos de nota que estas tendências interpretativas apreendem, individuando como denominador comum do processo de codificação a "estabilização do instável", mas estes elementos já tinham induzido a historiografia jurídica mais atenta, seguindo a lição de Viora, a cunhar um temlO diverso - justamente o de 'consolidação' - e de qualquer modo aparecem, no seu complexo, muito I~beis ~ara justificar, para além de uma muitas vezes inevitável persistên- cia lexlcal, a utilização 'imprópria' do termo como invólucro unitário para f~ra de ,uma colocação espaço-temporal bem definida da sua parte: que veja aqUIlo que para os historiadores do direito é o Código (com seu processo genético, com uma 'codificação', que não é se estanca no mo- mento de sua publicação), bem distinto de tantas outras realidades hete- rogêneas e profundamente diversas por origem e função: "Os tênues ele- n~en,t~s comuns - que existem - não devem diminuir a absoluta tipicidade l1lStonca daquela escolha fundamental da civilização jurídica moderna defi~ida em modo completo entre os séculos XVIII e XIX na Europa con,tlllental, escolha não desta ou daquela política contingente, mas tão ra~lcal a pon~o de colocar-se como marco divisor na história jurídica oCldent~l, ~ssmalando um antes e um depois caracterizados por íntima descontlllUldade, escolha que pernlite aos historiadores em falar correta- ~l?e?te de ',C~di~?, Símbolo'" de 'Código mito', de 'forma código', de ~d~Ja de COdlg0:' (P. Grossl). Portanto, antes de tudo o código é filho lIPICO(e se devena acrescentar, intrinsecamente 'revolucionário') da Mo- dernidade e de seu 'Absolutismo Jurídico': o código moderno nasce com,o experiência alt~rnativa. à Ordem jurídica medieval (e do Antigo Regime); como tentallva de Illstaurar uma unidade geral (contraposta à 'comum') no ordenamento jurídico que assinale o triunfo definitivo da loi s?bre o dro~t(segundo a definição remissível a Bodin), do direito positivo Uusto por SI mesmo) sobre a justiça, e da onipotência do legislador sobre a 'iurisprllde11lia' do jurista. A prime~à grande onda das codificações modernas foi gerada por a~uela que pode ser chamada a 'aliança' entre Jusnaturalis1110 e Ilumi- I1Ismo e encOI1tra, não por acaso, o seu ápice sucularizante definitivo na e~p~riência revoluci?ná~ia francesa cristalizada por Napoleão, no Code Cn'i/ de 1804, A pnmelra característica comum dos códigos modernos 18 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 19 que salta aos olhos é que eles se distinguem de todas as tentativas prece- dentes de reescritura e 'racionalização' do direito vigente, em vista do fato de que eles "não visam consolidar, ordenar, melhorar (numa palavra: refonnar) ou desenvolver sob o signo da continuidade o direito persis- tente (como foi o caso, por exemplo, das Ordennances francesas de Luis XIV e seu ministro Colbert sobre Processo civil (1667), Penal (1670), Comercial (1673), da Navegação (1681); e depois de Luis XV e do chan- celer d' Aguesseau, sobre doações (1731), testamentos (1735) e fideico- missos (1747) - ou das Reformationen alemãs do século XVI); mas tem, muito mais, a intenção de viabilizar "uma replanifiéação integral de toda a sociedade mediante um reordenamento integral de todo o sistema nor- mativo" (F. Wiaecker). Portanto, estamos agora di~lI1teda tarefa, a partir dos elementos colhidos, não mais de todo inatingível, de delinear as ca- racterísticas 'próprias'. do fenômeno codificatório moderno que, em ex- trema e conscientemente paradoxal concisão, poderia literalmente defmir- se como a primeira (e certamente a mais afOltunada,e admirada com rela- ção às '(des) venturas' da sucessiva aplicação em campo econômico) emergência da idéia, do modelo, da planificação n'b campo jurídicos. E como as suas "características historicamente tipificadoras" posteriores (fonte unitária garantidora do caráter unitário da entidade-Estado' fonte. , completa, sem lacunas, pOlianto; fonte exclusiva) assinalam, este campo juridico será posterionnente detenninado, sublinhando a validade consti- tucional da idéia de Código; retomando a sugestão de vários autores, não seria de fato imprudente afirmar, diante da mutabilidade e fragilidade das disposições constitucionais (mais ou menos 'f1exív~is') do início do sé- culo XIX, que o Código (civil, com o reforço da tutela constituída pelo advento do penal) representa a verdadeira, própria e :'granítica' Constitui- ção do Estado da burguesia em ascensão. O Code:Napo!eón ('modelo' príncipe nesse contexto. histórico), portanto, como Constitution civile de La France: "O Code Napoléon é uma Constituição "civil (burguesa) por- que isso não é - não somente e não exclusivamente.- um código (com a letra minúscula) do direito civil (isto é, privado), mas sobretudo e funda- mentalmente um Código (com letra maiúscula) da sociedade civil, justa- mente com a finalidade de estruturar esta sociedade, de revelá-la a si mesma, de organizá-Ia e consolidá-Ia defmitivamenÍ(~." (Y. Gaudemet) Se quiséssemos sintetizar numa fórmula simplificada,: mas não enganosa, quase em um slogan o sentido deste processo histórico, poderíamos talvez exprimi-lo assim: o Código (e a codificação) como experiência de auto-' revelação (planificada a partir de cima) da nova sociedade a si mesma. Um processo que a sociedade européia, considerando o caráter de 'mo- delo' exportável (a própria palavra italiana 'modellarsi' (modelar-se), no sentido de confonnar-se a um modelo, como tivemos ocasião de mostrar, traz a sua primeira origem da referência à função de modelo exercida pelo Código de Napoleão), assumido pelo código Moderno (ao menos na versão 'produtiva' de muitas imitações do Code Civil num primeiro mo- mento, e do BGB alemão de 1900 em seguida), aplicou progressivamente a si mesma, para depois contribuir largamente (ainda que de maneira nada indolor) a 'mundializar'. Paolo Cappellini Catedrático de história das codificações da Università degli Sfudi di Firen:e REFERÊNCIAS U. ECO, Codice.ln: Enciclopedia Einaudi. Torino, 1978. v.m, p. 243- 281. C. SAPORETII. Antiehe Leggi. I "Codici" dei Vicino Oriente Antieo. MiJa- no, 1998. A. SClllAVONE (a cura di). Diritto priva to romano. Un profilo storico. Tori- no, 2003. P. UNGAIU, Per la storia dell'idea di codice. in: Quaderni fiorentini per la storia dei pensiero giuridico moderno, 1972. I, p. 207-227. P. CAPPELLINI, II Codice eterno. La Fonna-Codice e i suoi deslinalari: mor- fologie e metamorfosi di un paradigma della modernità. In: P. Cappellini, B. Sordi (a cura di). Codici. Una riflessione di fine millennio. Milano, 2002. p. 11- 68. P. CAPPELLINI, Codici. 1/1: M. Fioravanti (a cura di). Lo Stato moderno in Europa. Istituzioni e diritto. Roma -Bari, 2004. p. 102 -127. P. GROSSI. Mito!ogie giuridiche della modernità. MiJano, 2005. N. IRTI. L'età della decodjfieazione. Milano, 1979. N. IRTI. Codice civile e società politica. Roma -Bari, 1995. S. RODOrA, Un codice p~r I'Europa? Diritti nazionali, diritto europeo, diritto gJobale, in P. Cappellini, B. Sordi (a cura di). Codiei. Una riflessione di fine millennio. Milano, 2002. p.541-578. I SISTEMA GIURIDICO La nozione di sistema puo esser~ celiamente considerata "un pi- r lastro della saggezza occidentale, in quanto ad essa fa ri ferimento - con-t sapevolmente o inconsapevolmente, per consenso o per dissenso - chiun- I que intraprenda una descrizione scientifica o una costruzione tecnica" (Losano) e iJ tennine deriva infatti dai greco syn (con, insieme) e his- tánai (collocare, porre), da cui appunto systema (insieme, insieme strut- turato, insieme coerente). Tuttavia della nozione possono darsi una plura- lità di accezioni, che recentemente (Lantella, Stolfi, Deganello) sono state utilmente cosi suddivise: J) accezione pluridisciplinare, ma anche comune: Insiel11e di oggetti che sono considerabili in modo unitario in vir/il dei 101'0 rappor/i (sia gli oggetti che i rapporti possono essere di varia natura; per quanto riguarda i primi soltanto cose, sol tanto attività;cose e attività; proposi- zioni - per quanto riguarda i secondi rapporti strutturali,o funzionali oppure strutturali e funzionali:cosi "il sistema respiratorio"; "il sistema solare"; "il sistema linguistico"): E'possibile pure sottolineare, nell'ambito di questa prima accezione, una' variazione specifica impor- tante, che si rinviene soprattutto nel discorso filosofico: insieme di propo- sizioni, ar/icolate SI/ vari livelli, tl/tte derivanti,per via di implica:ione, da I/n medes imo principio ("un vero sistema, in una determinata tradizione di pensiero, o e deduttivo, oppure non e un sistema"). 2) ancora accezione pluridisciplinare,ma anche comune:Ordine di I/n insieme ("Ia trattazione e ricca di spunti interessanti, ma il sistema e carente") 3) accezione comune: Regale tecniche. Melado ("un sistema per fare qualcosa- cucinare, fare puntate ai totocalcio,coltivare fiori etc. - e la cosa riesce/non riesce). Tra le accezioni si determinano rapporti possibili: cosi il sistema I) e un insieme la cui "riconduzione ad unità" e prodotta da un ordine cioe da un sistema 2); mentre il sistema 2) e a sua volta, in un altro senso, un ordine che produce un sistema I); infine il sistema 3) ! • rispetto aI sistema 2) ne e una versione pragmatica , in quanto il secondo e un ordine ricavabile, mentre sistema 3) e un ordine da seguire. Si puo poi parlare di sistema di c1assificazioni o di sistema c1assi- ficatorio a seconda che si tratti di una pluralità di c1assificazioni che in- sistono con criteri diversi su di unico campo (c1assificazioni dei con- tratti); ovvero di un'unica c1assificazione che ha per oggetto un unico classificando esteso e si articola su molteplici Iivelli (sistema di classifi- cazione delle piante di Linneo). '., Ma particolare interesse per la nostra disamÍJla ri veste, come ve- dre,m~ tra breve, la. ~ozione di 'Sistema 'in sintagmi ambigui: qui ci bas- t~ra nlevare che ltplcamente a questa accezione dovrebbe forse essere ncondotta anche la nozione di sistema giuridico.' L'analisi storiografica, che e stata sinora compiuta in testi non numer.osi~simi ma di buon approfondimento, puo comunque aI proposito essercl utIle, allorché sia in grado di indicarci una direzione di senso. In estrema s~tesi si p~à anzitutto. rilevare ch~, nonostante qual- c.he au~?revol~ voce III contrano(ad esemplO La Pira, per quella romanis- tIca; PIU amblgua, ma sempre legata aI tema normativistico moderno I' idea di sistema in Calasso), I'utilizzazione della nozione di sistema no~ desce ad essere qualificante per le esperienze giuridiche antiche e medie- vali; per queste ultime resta decisiva la notazione che iJ conceito chiave e rapprese~tato piuttosto d~lIa riferimento alia nozione(agostininiana, to- mIsta) dI ~rdo, come chmv~ deJl'antropologia (e della teologia) medi e- v~le, che nmanda all'armol1la della creazione divina, esi declina su di un p~ano gerarchico sociale, "inttanti ordines particolari, '!Iomenti necessarii di scansione della società medieval e, nicchie necessarle in cui inserire e dare ,co~~re~e~a e ~un~onalità storica a quell'astrazione priva di senso che e.1 m~lvlduo" I1 smgoJo" (Grossi): ordo iuris dunque e garanzia oggettIva dI armollla - a carattere polifonico, pluralistiCo (si parIa di mul- tip~ex, duplex, .triplex ordp) - di rapporti e relazioni ('consonantia), che puo essere reahzzato anche da una scienza che lavori in modo fedele alia 'tradizione', problematico, casisistico, anche fortemente classificatorio certo, ma che non abbisogna di sovrapporre un sistema scientifico in sê concluso a quello 'antropologico-cosmologico'.' Ci sembra in sostanza che soltanto agli albori dei moderno e della sua valutazione soggettivistica ,atomizzante,in una parola matematizzan- t~, ,deJl'individuo si comincino a.porre le premesse perla definizione deI dmtto nel suo complesso come 'sistema',perché comincia a prevalere un atteggiamento di insoddisfazione ed insofferenza verso I'unità universa- listica e pluralistica dello ius commune e"dei metodi 'cattolicizzanti' deI mos italictls. Le premesse storico-culturali della individuazione di un'idea di systema iuris vanno colte nella teologia sistematica riformata (che modellerà, in una misura che resta da indagare nel dettaglio, anche la risposta della Riforma cattolica), nella reazione contro la "secta tribonia- nomastigu:n" e bartoJista deI filone piu sistematizzante della giurispru- denza umanistica - specialniente,e non a caso,francese e tedesca: F.Connan (Connanus, 1508-1551); H, Doneau (DoneJlus, 1527-1591); K.Lagus (tIne 1400-1546); N. Weigel (Vigelius, 1529-1600); 1. T. Frey (Fregius, 1543-1583) etc. -, che inizia a rimpiangere la perdita dei cice- roniani libri de iure in aftem redigendo e che porta ad una nuova fortuna e ad elaborazioni originali iI semplificato schema gaiano (personae, res, actiones) di suddivisione della materia giuridica (ovviamente recuperato attraverso le lnstitutione-r giustinianee). Ma la 'rivoluziorte copernicana' verso il systemQ iuris trova il suo tassello a nostro avviso decisivo proprio nel tentativo ad essa piu con- sentaneo - per molti aspetti destinato aI fallimento, ma capace invece di lasciare sotto questo profilo un'eredità di lungo pedodo, che in varia for- ma giungerà sino alia Pandettistica tedesca, e di là arriverà a lambirei sistemi giuspositivistici sino aI normativismo kelseniano della 'Dottrina pura deI diritto' -, ovvero nella ricerca di applicazione anche alia scienza giuridica dei metodi specifici della scienza fisico-matematica moderna: il cosiddetto mos geometricus, che troverà il suo antesignano e teorico piu profondo senz'altro in L~ibniz (1646-1716), ma il piú fortunato divulga- tore nel filüsofo-giurista,al quale va riconosciuto altresi il ruoIo storico di aver coniato la maggior parte dei vocabolario filosofico tedesco (e di aver consolidato non piccola, parte di quello giuridico) fino a Kant, ovvero Christian Wolff. L'idealismo giuridico tedesco -, da Savigny a Puchta, fino alla tarda Pandettistica - renderà acquisizione definitiva dei processo moderno di razionalizzàzione deI diritto continentale la connessione inestricabile tra scienza e' sistema,facendo di quest'ultimo, molto piu che una tra le possibili soluzioni ai 'problema della disposizione' delle mate- rie giuridiche, iI contrassegno essenziale (ed ideologico) della scientificità dell'analisi dei diritto: "lÍ Sistematico ha un dllplice compito. L'uno con- siste nella classificazione', nell'individuazione e nella 'realizzazione di una norma di suddivisione. L'altro e la comprensione delle parti nella loro interna connessione, ovvbrosia non semplicemente come parti, ma bensi in qualità di articolazionl. di un vivente, organico tutto. Si comprende da sé che queste attività non sono separate fra loro. Quell 'attività e dunqlle di fatto llllica ,un 'attività:all 'interno della qllale quei dl/e momenti esisto- 110 in sé come indivisi" (Puchta). Cosi ,ai termine di un lungo processo di secolarizzazione, si dich,ara la radicale autonomia immanentistica dei 22 Paolo Cappellini Sistema Jurídico e Codificação 23 REFERÊNCIAS M. G. LOSANO. Sistema e struttura nel diritto. Milano, 2002. v. 3. L. LANTELLA; E. STOLFI; M. DEGANELLO. Operazioni elementari di discorso e sapere giuridico. Torino, 2004. N. LUHMANN. Sistema giuridico e dogmatica giuridica, 1974. Bologna. 1978. . R. ORESTANO. Introduzione alio studio dei diritto romano. Bologna, 1987. P. CAPPELLINl Systema iuris r. Genesi deI sistema e nascita della "scjenza" delle Pandette. Milano, 1984. P. CAPPELLINI. Systema iuris 11. Dal sistema alia teoria generale. Milano, 1985. giuridico rispetto ad ogni possibile 'fuori', primi fra tutti la trascendenze di Dio e della Giustizia (e successivamente le ampie o circoscritte imma- nenze residuali dei politico, dei sociale, dello storico, che non son cosa deI giurista in quanto tale,secondo il noto detto di Windscheid) e si attri- buisce aI sistema (e di conseguenza alia 'sistematjca' ,Ia cui ri cerca di rinnovamento nella cronologia storica aveva preceduto la configurazione 'intrinseca' dell' idea stessa di sistema) appunto la virtú di" atlribuire all'oggetto dei discorso - cui il tennine viene applicato - una sorta di coerenza interna 'spontaneamente' offerta alia nostra mente, mentre, ove questa coerenza ci appaia, essa e sempre il risultato di una nostra rifles- sione o elaborazione" (Orestano). Né, come notava ancora Orestano, a questa ambiguità di fondo sfugge ]'uso - peraltro spesso sostanzialmente equivalente, posto che I'idea immanente di 'sistema interno' rimanda alia concezione dell'ordinamento eome sistema -, invalso per influenza della letteratura anglo-americana, di utilizzare la parola appunto come sinonimo di ordi- namento dei diritto o "complesso delle norme e dei principi che regolano I'esperienza di una nazic,ne o di un'epoca (ad es. illegal system inglese, il 'sistema giuridico italiano'), oppure un gruppo di strutture e di regole funzionalmente coordinate (ad es.lo 'equity system', il 'sistema proces- suale formulare' o il 'sistema penale italiano'). E siamo tornati ai punto di avvio: I'utilizzazione di 'sistema' in sintagmi ambigui, laddove se teori- camente non e chiara se la fonte dell' ambiguità risieda nella paro la 'sis- tema', nel termine che lo specifica, o nell'intero sintagma (in ipotesi sis- tema dcl diritto italiano o sistema dei diritto privato o penale), forse sto- ricamente siamo in grado di dare una risposta meno ambigua o, perlome- no, di non contare troppo, ottimisticamente, sulla possibilità che I'ambuiguità si possa agevolmente sciogliere sulla base dei contesti. 24 Paolo Cappellini f r f, (. CODIFICAZIONE 11termine "codificazione" puo, ed e stato, impiegato in molteplici campi e con molteplici significati; né la cosa puo sorprendere visto che indica il processo di attività che ha come suo prodotto finale un 'codice', parola a sua volta intrinsecamente polisemica e utilizzabile in una plura- lità di campi disciplinari, che vanno dalle scienze sociali a quelle llmane e natura li (code de la langue, codice fonolo.gico, codice semantieo; codice parentale, codice dei miti, codice estetico, codiei artistici e letterari; codi- ci delle varie culture; codice genetico, codici della comunicazione ani- maJe, codice iconico, codice della percezione, codice dei processi neuro- fisiologici; eodici di classe, codici etnolinguistiei, codiei di comporta- mento interattivo etc.). li significato che qui ci interessa si riferisce ai contesto daI quale probabilmente ne e iniziata la diffusione,ovvero quello giuridico. Anche in quest'ultimo, tuttavia, resta aperto il problema di una sua piú rigorosa detenninazione. Infatti, in prima istanza, il vocabolo permette una defini- zione generale, che resta in certo senso atemporale e si riferisce, per usare delle parole di Max Weber, a "l'intervento dell'imperium, e speeialmente dell'imperium dei prineipe, nella vita giuridica che ha ovunque contri- buito all'unificazione sistematizzazione deI diritto ,eioe alia sua "codifi- cazione" - e cio in misura tanto maggiore quanto piú iJ suo potere si con- figurava in fonna forte e stabile". In tal senso si e potuto parlare, ad esempio, di codificazione e di "codiei" anche con ri ferimento aI Vicino Oriente Antico per le leggi sumere, babilonesi, assire, itlite, bibJiche ed egizie (il "codice" di Ur-Nammu;il "codice" di Lipit-lStar; il "codice" di Hammurapi etc.); ma con notevole consapevolezza, spesso assente in tal misura tra gli stessi giuristi, l'assirologo ed epigrafista si e preliminar- mente reso conto che "quelli che noi ehiamiamo impropriamente "codiei" sono in realtà qualcosa di molto diverso dai nostri. Sono raccolte di nor- me, espresse una accanto all'altra COn un succedersi di argomenti ehe spesso nOn hanno attinenza fra lora. Un' altra caratteristica dei codiei li! f~ ~ I ! 26 Paolo Cappellini Sistema Juridico e Codificação 27 orientali e che nessuno di essi e completo. Mancano ~intere materie, né si puo certo dire che le materie presenti sono state trattite in maniera esau- riente. Per contro, vengono esaminati a volte dei casi"che, ha notato qual- cuno, dovevano essere piuttosto rari." ( C. Saporetti). Come accennavamo tale consapevolezza, che induce a virgolettare opportunamente il'richia- mo~ rimane invece spesso oscurata proprio tra i culfori dei diritto a se- guit? di due fen~~eni eterog~n~i eppure concomitanti :da un lato il peso stonco della tradlZlone romamstlca, daIJ'altro recenti tendenze culturali di varia ascendenza, ma ascrivibili ai filoni dei pensi'ero giuridico post- moderno, dei dibattito su 'decodificazione versus ricodificazione' e sulla globalizzazione, per intendersi in estrema sintesi. " . Per ~uanto riguarda il priino aspetto, assunt9 iI valore paradig- matlco dei JUS romanum per l'intera esperienza giuridica occidentale, segnatamente moderna, non resterebbe dubbio che - 'Con qualche distin- guo per i codici pre-giustinianei Gregoriano, Ennogeniano e Teodosiano (in v,erità i primi due, dei III seco d.C., raccolte priyate senza carattere ufficlale e solo il terzo dei 438 d.C. pubblicato dall'imperatore Teodosio II e quindi autentico testo legislativo) - la grande Qpera legislativa di Giustiniano (compiuta tra il 528 e il 542), che dai Rinascimento si comin- c~o .a chiamare .il ~orpus~lIris civilis (composta, confe noto, di quattro dlstmte opere, I D/gesta, J1 Codex, le lnstitutiones, Ie Novellae) avesse come scopo dei tutto esplicito queIJo di "versare I'antico pensiero giuridi- co (o per meglio dire, la sua parte giudicata migliore, perché le fonti utili- zzate erano il risultato di un preliminare lavora di selyzione) nella forma di un codice (nel senso moderno deI termine, cioe di im testo normativo' ma la cultura giuridica tardoantica riservava la parola codex solo all~ raccolte di costituzioni im'perialí), in modo da integr~re organicamente, dai punto di vista dei diritto vigente, gli antichi iur,'a (come venivano chiamate le opere dei giuristi dei passato) con le nuove leges (cioe le costituzioni imperiali) nel rinnovato ordinamento che ~i voleva costruire" (A. Schiavone). Per qllello ehe concerne il secondo fenomeno, I'allargamento della sfera di utilizzazione dei termine al?pare particolannente incentivata, nellessieo dell'odierno cultore dei diritto positivo, dallli odierna diffiden- za .ne.i confront.i dei m~xicodici cosi come li abbiamb conoscillti negli ultJml tre secolJ e dai dlbattito sul cosiddetto metododi codijicazione a diritto costante (che trovail suo prototipo nell'attività della transalpina 'Commission supérieure de codification'istituita nel 1989), ovvero in buona sostanza una 'codificazione' non innovativa ma semplicemente razionalizzatrice dei diritto esistente (cosi si parla di Codice dei consu- matori, dei giornalisti, deVe assicurazioni, delle professioni giuridiche, dei trasporti, delle poste e telecomunicazioni etc.); ma anche dali a rinno- vata querelle pro o contro un Codice com une europeo (general e o delle sole obbligazioni e contratti; per principii o sotto forma di Restatement ali' anglosassone etc.). Indubbiamente vi sono elementi degni di nota che queste tenden- ze interpretative colgono, individuando a denominatore comune dei pro- cesso di codificazione la "stabilizzazione dell'instabile", ma questi ele- menti avevano già indotto la storiografia giuridica piu avvertita, sulle onne dei Viora, a coniare un tennine diverso - quello appunto di 'conso- Iidazione' - e appaiono comungue, nel loro complesso, troppo labili per giustificare, ai di là di una spesso inevitabilepersistenza lessicale, I'utilizzazione 'impropria'del tennine come involuCro unitario, ai di fuori di una sua ben definita collocazione spazio-temporale, che veda quello che per gli storici deI diritto e il Codice (in una con.il suo processo gene- ti co, con una 'codificazione', che non e detto si arresti alia sua pubblica- zione), ben distinto datante altre realtà eterogenee e profondamente di- verse per origine e funzione:" I tenui elementi accomunanti - che ci sono - noo debbooo affievolire la assoluta tipicità storica di quella scelta fon- damentale della civiltà. giuridica moderna compiutamente definitasi fra Sette e Ottocento nell Europa continental e, scelta non di qllesta o quella politica contingente ma tanto radicale da porsi quale cippo confmario nella storia giuridica occidentale segnando un prima e un poi, un prima e un poi caratterizzati da intima discontinuità,sceIta che pennette agli stori- ci di parlare correttamente di 'Codice simbolo', 'Codice mito', di 'forma Codiee' di 'idea di Codice ,,, (P. Grossi). Anzitutto dunque il Codice e un tipico figlio (e si dovrebbe aggiungere, intrinsecamente 'rivoluzionaJ;o') della Modernità e dei suo 'Assolutismo giuridico': il Codice moderno nasce come esperienza alternativa all'Ordine giuridico medievale (e di Antico Regime); come'tentativo di instaurare un'unità generale (contra- pposta a 'comune') nell'ordinamento giuridico che segni il defmitivo trionfo della loi sul dr(Jit (secondo I'opposizione di bodiniana memoria), dei diritto positivo (di per sé già giusto) sulla giustizia, e dell' onnipotenza dellegislatore suBa 'iuHsprudentia' dei giurista. La prima grande ondata delle codificazioni modeme e stata gene- rata da quella che puo ,çssere definita l' "alleanza" fra Giusnaturalismo e IIIuminismo e trova il suo culmine secolarizzante definitivo, non per caso a partire dall'esperienia rivoluzionaria francese cristallizzata da Napo- leone, nel Code civil d~11804. La prima caratteristica comune dei codici 11l0derniehe salta agli 9cchi e che essi si distinguono da tutti i precedenti tentativi di riscrittura e 'razionalizzazione' dei diritto vigente, per il farto che essi "non mirano, per I'appunto, a consolidare a ordinare a migliorare 28 Paolo Cappellini Sistema Juridico e Codificação 29 (in una parola: a "ri formare") o a sviluppare sotto il segno della conti- nuità il diritto preesistente (com' era stato il caso, per esempio delle Or- donnances francesi - di Luigi XIV e dei suo ministro Colbert sul proces- so civile (1667), penale (1670), commerciale (1673), della navigazione (1681); e poi di Luigi XV e dei cancelliere d'Aguesseau, su donazioni (J 731), testamenti (1735) e fedecommessi (1747) - o delle Reformatio- nen tedesche deI Cinquecento); ma hanno, piuttosto, lo scopo d' approntare IIna ripian(jica:ione complessil'a dell 'intera società me- diante IIn riordinamento integrale di tlltlO il sistema normativo" (F. Wieacker). Siamo dunque di fronte aI compito, ora, a partire dagli elementi raccolti, non piú dei tutto inattingibile, di delineare i caratteri 'propri' dei fenomeno codificatorio moderno che, in estrema e consapevolmente pa- radossale concisione, potrebbe lelteralmente definirsi come la prima (e certo piú fOliunata e magnificata rispetto alie '(dis)avventure' della successiva applicazione in campo economico) emersione dell'idea, deI modello, di pian(jica:ione nel campo deI giuridico. E come i suoi ulteriori "caratteri storicamente tipizzanti" (fonte lInitaria garante dell'unitarietà deJl'entità-stato; fonte completa, priva dunque di 'Iacune'; fonte esclusi- va) segnalano, quel campo giuridico andrà ulterionnente precisato, solto- lineando la valenza costituzionale dell'idea di Codice; riprendendo suggestioni di vari autori, non sarebbe azzardato infalti affermare, a fronte della mutabilità e fragilità dei dettati costituzionalí ('flessibili' o meno) d'inizio Ottocento, che il Codice (civile, con il rafforzamento di tutela costitllita daI penale) rappresenti la vera e propria,' granitica', Cos- tituzione dello Stato della borghesia in ascesa. 11 Code Napoléon ('mo- dello' principe in questo contesto storico) dunque come "Constitution civile de la France": "11 Code Napoléon e una Costituzione civile ('bor- ghese') perché esso non e - non soltanto e non esclusivamente - un codi- ce (con la lettera minuscola) deI diritto civile (cioe'privato'), ma altresi e fondamentalmente un Codice (con la maiuscola) della società civile, con lo scopo appunto di strutturare questa società, di rivelarla a se stessa, di organizzarla e e consolidaria definitivamente" (Y.Gaudemet). Se voles- simo sintetizzare in una formula semplificata, ma non traditrice, quasi in uno slogan il senso di questo processo storico, potremmo forse esprimerlo cosi: il Codice (e la codificazione) come esperienza di autorivelazione (pianificata dall'alto) della nuova società civile a sé medesima. Un pro- cesso che la società europea, giocando sul carattere di 'modello' esporta- bile (la stessa parola italiana 'modellarsi', nel senso di confonnarsi ad un modello, come abbiamo avuto occasione di mostrare, trae la sua prima origine dai riferimento alia funzione di modello esercitata dai Codice Napoleone), assunto daI Codice 1110d~n:o (~Imeno nelle versioni 'pro- duttive' di molte imitazioni dei Code CIVIl,pnma, e dei tardo BGB ~edes- co deI 1900, poi), ha applicato progressivamente a se stessa, p.er POI con- tribuíre largamente (anche se spesso in modo tutt" altro che mdolore) a 'mondializzare' . REFERÊNCIAS U. ECO. Codice. In: Enciclopedia Einaudi. Torino, 1978. v. 111.p. 243- 281. C. SAPORETTI. Antiehe Leggi. I "Codiei" dei Vieino Oriente Antieo. Mila- no, 1998. A. SCHIAVONE (a cura di). Diritto privato romano. Un profilo storico. Tori- no, 2003. P. UNGARI, Per la storia dell'idea di codice. In: Quaderni fiorentini per la storia dei pensiero giuridieo moderno, 1972. I, p. 207-227. P. CAPPELLINI, 11 ~od!ce eterno ..La Fonna-Codice ~ ,i suoi ~estinatari.: ,.nor- fologie e metamorfosl dI un paradIgma d~lIa mo~emJt~, In. . J . Cappelhm. B. Sordi (a cura di). Codici. Una rinessione dI fine mlllenlllo. MJlano. 2002. p. 11- 68. P. CAPPELLINI, Codici. In: M. Fioravanti (a cura di). Lo Stato moderno in Europa. lstituzioni e diritto. Roma -Bari, 2004. p. J 02 -127. P. GROSSI. Mitologie giuridiche della modernità. Milano, 2005. N.IRTI. L'età della deeodificazione. Mjlano, 1979. N.IRTI. Codice civile e società política. Roma -Bari, 1995. S. RODOTÁ. Un codice per l'Europa? Diritti nazionali, diritto curopco, diritto globale, in P: Cappellini, B. Sordi (a cura di). Codiei. Una riflessione di fine millennio. Milano, 2002. p. 541-578. 00000001 00000002 00000003 00000004 00000005 00000006 00000007 00000008 00000009 00000010 00000011 00000012 00000013
Compartilhar