Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP CURSOS: Educação Física; Psicologia DISCIPLINA: Psicologia Aplicada ao Esporte Profa. Cássia Regina Palermo Moreira MATERIAL PARA FINS DIDÁTICOS DESENVOLVIMENTO HUMANO E PSICOLOGIA APLICADA AO ESPORTE Conhecimentos sobre o ser humano: introdução Em primeiro lugar, convém observar a Figura 1, em que são apresentados aspectos (também chamados de esferas ou domínios do comportamento) do ser humano, os quais têm sido investigados por diversas áreas acadêmicas (científicas) de conhecimento. Em outras palavras, foram construídos vários sistemas de conhecimento, teóricos e/ou práticos1, a respeito do ser humano, conhecimentos esses que foram se estabelecendo de modo a priorizar (enfatizar), a reunir ou a inter-relacionar esses aspectos (movimento, cognição, emoção etc.), a fim de compreender, explicar teoricamente ou empiricamente o desenvolvimento humano, bem como sua promoção. Figura 1. Aspectos do desenvolvimento do ser humano 1 Entenda-se “práticos”, nesse caso, como referentes à intervenção profissional. 2 Isso é importante de se considerar quando se pensa em educação, em sentido amplo, isto é, na formação de uma pessoa ao longo de toda a vida, assim como no aspecto da saúde. E é importante também quando se reflete sobre as funções da Educação Física, do Esporte, da Psicologia e de vários outros campos de conhecimento que se interessam pelo desenvolvimento do ser humano, em diferentes seguimentos sociais e populações. Como consequência, conhecer esses aspectos é imprescindível para se compreender um pouco a respeito das pessoas praticantes das mais variadas atividades físicas, nos diversos ambientes e contextos, incluindo-se os esportes. Os profissionais que orientam e acompanham essas pessoas, podem e devem agir como participantes ativos de um processo de formação em que ambos – o praticante/atleta/cliente e o profissional – estão em permanente interação, ainda que cada um tenha suas próprias expectativas, metas, experiências e realizações. Ademais, no caso desta disciplina, o foco é destacar os aspectos psicológicos e sua influência na prática de atividade física e, em contrapartida, a influência da prática de atividade física em aspectos do desenvolvimento psicológico de uma pessoa e/ou de um grupo de pessoas. Com base na Figura 1, é possível se identificar os aspectos cognitivos e afetivos do ser humano referentes à prática de atividade física como fundamentais nessa área de conhecimento, ou seja, como objetos de estudo desta área: a Psicologia Aplicada ao Esporte. Aspectos afetivos e cognitivos em interação Os aspectos afetivos, em sentido amplo, referem-se às emoções, aos sentimentos, ao que afeta cada uma das pessoas e a como cada pessoa afeta a outra. Além disso, as pessoas podem desenvolver relações de afetividade com objetos ou situações. Por exemplo, uma pessoa tem aversão por bola porque certa vez alguém arremessou uma bola em sua direção e lhe causou uma grave lesão; outro exemplo é uma pessoa que adora pular corda porque isso lhe remete a passagens agradáveis de sua infância. Os aspectos cognitivos tratam das atividades intelectuais, como memória, raciocínio lógico, percepção e interpretação do ambiente, linguagem, entre outros. Há inúmeras pesquisas em Psicologia, com as mais variadas preocupações. Ao profissional de Educação Física e Esporte é necessário ter uma base de conhecimento acerca dos processos cognitivos e afetivos. Contudo, não necessariamente eles serão abordados em separado, uma vez que há autores estudiosos em Psicologia que consideram cognição e afetividade como associadas entre si, sempre, no processo de construção de conhecimento. É importante ressaltar que nenhum pesquisador é ingênuo a ponto de pensar que um aspecto do desenvolvimento humano é mais importante do que outro. O que ocorreu na história da ciência é que os conhecimentos foram se organizando, e em decorrência, muitas áreas foram se formando e se estabelecendo, de acordo com a criação de métodos próprios e específicos, uma vez que cada investigador ou grupos de investigadores se interessava mais em pesquisar mais aprofundadamente um determinado aspecto. Assim foram se consolidando as diferentes áreas de conhecimento e de intervenção profissional que existem hoje. Contudo, essas muitas áreas compartilham problemas, questões, conhecimentos e métodos, como é o caso da “Psicologia do Esporte e do Exercício” e da “Psicologia Aplicada ao Esporte”. Essas duas denominações, por vezes, são entendidas como sinônimos e por vezes não, dependendo dos autores e de suas abordagens. 3 Psicologia, Psicologia Aplicada ao Esporte e “psicólogo do esporte” A Psicologia se origina da Filosofia e começa a se firmar como ciência a partir de finais do século XIX. A Psicologia pode ser considerada como uma área de conhecimento que procura lidar com os aspectos cognitivos (“razão”) e afetivos (“emoção”) do ser humano e de alguns outros animais. Existe preocupação tanto com o que é manifestado – a que geralmente se atribui o termo comportamento2 – como ao que não se consegue observar objetivamente. Apesar da importância do que se pode considerar objetivo e subjetivo no que se refere ao comportamento do ser humano, não é foco dessa disciplina desenvolver uma discussão teórica a esse respeito. O que se pretende é promover a seguinte compreensão: o que se consegue observar no ser humano nem sempre reflete o que está em seu íntimo, isto é, nem sempre ele expressa o que de fato está pensando e sentindo. Em relação a outras áreas de conhecimento, a Psicologia apresenta interface com a Filosofia, a Neurologia, a Medicina (mais estreitamente com a Psiquiatria), a Educação, a Educação Física, o Esporte, o Direito e muitas outras. A aproximação com outras áreas de conhecimento depende do que se quer investigar e em qual campo se pretende atuar profissionalmente. Portanto, assim como em qualquer área de conhecimento e de atuação profissional, preocupações teóricas e tentativas de resolver problemas da prática devem estar sempre inter-relacionadas. No exercício da profissão de psicólogo, pode-se atuar em todos os setores em que o ser humano deve ser acompanhado no que se refere a suas características comportamentais, desde que a ênfase seja a cognição e a emoção. Assim como outras áreas de estudo e intervenção, incluindo-se a Educação Física e o Esporte, o intuito maior é contribuir para o desenvolvimento do ser humano no sentido de promoção de seu bem-estar, de uma boa qualidade de vida. Por outro lado, deve permanecer a noção de que “qualidade de vida” é algo muito delicado de se determinar, pois os julgamentos individuais a respeito do que seja uma boa qualidade de vida variam amplamente. A Psicologia Aplicada ao Esporte refere-se à atuação do psicólogo em locais e contextos de prática de atividade física, incluindo as várias modalidades esportivas. Isso significa que apesar do nome “Psicologia Aplicada ao Esporte” ter uma conotação de estar estritamente relacionado ao Esporte, o qual é composto por muitas modalidades esportivas e visa à vitória, o profissional denominado “psicólogo do Esporte” necessita conhecer muito além do “universo esportivo”. Esse profissional poderá vir a lidar não apenas com equipes esportivas em clubes e atreladas a federações, mas também em outros ambientes e situações, por exemplo: 2 Convém mencionar que comportamento não se refere somente ao que é observável, mas sim a uma unidade funcional dotada de significação na adaptação de um indivíduo ao meio ambiente (por exemplo, o comportamento da criançana presença da mãe ou o comportamento de um pássaro no processo de acasalamento), ou uma unidade descritiva mínima, em especial quando se analisa alguma variável de pesquisa (por exemplo, o posicionamento do cotovelo no arremesso do handebol ou a ação de uma enzima numa reação bioquímica, no nível celular). 4 clínicas de reabilitação motora; grupos de praticantes de atividade física de iniciativa própria (por exemplo, pessoas de terceira idade que se organizam para caminharem juntas); acompanhando treinamentos de praticantes individuais (juntamente com o profissional de educação física, chamado nesse caso de personal trainer); lidando com crianças com dificuldades motoras e intelectuais; com crianças e adolescentes que se recusam a participar de atividade física – seja na escola ou em ambientes não escolares; participando de equipes interdisciplinares de profissionais em vários ambientes. Quanto a crianças e adolescentes, convém mencionar que o diálogo com os pais é imprescindível, como também nos casos com pessoas de terceira idade consideradas incapazes, em que há necessidade de permanente de diálogo com os filhos, outros familiares e cuidadores. Psicologia do Esporte: a atuação dos profissionais de Psicologia e de Educação Física Os estudos referentes ao que se conhece, hoje, como Psicologia do Esporte, foram iniciados nos Estados Unidos, no final do século XIX; eram estudos isolados, realizados por iniciativa de técnicos desportivos que visavam a obter melhores resultados em competições. Atualmente, a Psicologia do Esporte é também chamada de Psicologia do Esporte e do Exercício, ou ainda de Psicologia do Esporte e da Atividade Física e refere-se ao estudo e intervenção de todos os fenômenos relacionados aos aspectos psicológicos das pessoas envolvidas nesse âmbito, não somente os praticantes de atividade física, mas também técnicos, treinadores, dirigentes, professores e profissionais de Educação Física e Esporte, pais, outros familiares, amigos, torcida, enfim, toda uma rede de relações e situações referentes a essa prática. O que se procura é investigar e lidar com as relações mútuas que se estabelecem entre essas pessoas e como as relações entre elas podem ser melhoradas, a fim de que a prática de atividade física – esportes ou não – seja promovida e mantida, com o melhor bem estar possível de todos os envolvidos. No presente texto, será mantido o nome Psicologia do Esporte, conforme a nomenclatura original, mas há que se considerar toda a amplitude que a área abarca, conforme já exposto. Portanto, embora a Psicologia do Esporte tenha se consolidado como área de investigação e intervenção voltada para o desempenho esportivo e de alto nível (competidores profissionais ou de elite), atualmente ela se amplia e abarca todos os praticantes de atividade física – sejam atletas de diferentes níveis de competição, sejam escolares ou quaisquer outros praticantes de atividade física sistematizada – bem como as pessoas e as condições que os influenciam. Convém ressaltar que no Brasil somente o psicólogo, ou seja, a pessoa graduada em Psicologia, com diploma reconhecido, tem aptidão e habilitação que permite a intervenção 5 profissional. Portanto, ao profissional do Esporte (bacharel), da Educação Física (bacharel) e ao Professor de Educação Física (licenciado), não é permitido realizar qualquer intervenção terapêutica, ou seja, não é permitido realizar nenhum tratamento psicológico. Assim, cabe a essas pessoas observar possíveis problemas comportamentais em seus clientes/alunos e, eventualmente, encaminhá-los para a avaliação de um psicólogo. Note-se que é uma questão de interdisciplinaridade de áreas. Por esse motivo, é muito importante que o profissional/professor da área de atividade física tenha noções básicas de Psicologia e Psicologia do Esporte, com a finalidade de dispor de subsídios conceituais e práticos para realizar esses encaminhamentos. Ademais, não há qualquer impedimento para que essas pessoas, na área acadêmica, se especializem e/ou se aprofundem em estudos na área de Psicologia. Ainda assim, em nosso país, esses profissionais não poderão atuar como psicólogos na área esportiva, uma vez que somente ao graduado em Psicologia (bacharel) é autorizada essa atuação, conforme já mencionado neste texto. O que diferencia Psicologia Aplicada ao Esporte de Psicologia do Esporte? A Psicologia do Esporte é bastante específica e nem sempre toma conhecimento das várias correntes de pensamento, nem das diferentes abordagens e métodos da Psicologia. Ainda assim, ao menos em nosso país, a Psicologia do Esporte é considerada como um ramo da Psicologia e não como um ramo do Esporte ou da Educação Física, uma vez que somente o psicólogo pode atuar na elaboração de instrumentos e métodos de investigação, interpretação de diagnósticos psicológicos, bem como na intervenção terapêutica (seja individual ou de grupo). O nome Psicologia Aplicada ao Esporte, que é o caso desta disciplina, serve para destacar que são conhecimentos originários na Psicologia aplicados ao Esporte e outras práticas de atividade física sistematizada (organizada). Por outro lado, há um grande interesse por parte de professores de Educação Física, profissionais da Educação Física e profissionais do Esporte de estudarem e se aprofundar nos estudos sobre Psicologia do Esporte, sobretudo com a finalidade de uma melhor intervenção com seus atletas/esportistas e outros praticantes de atividade física Como campo de estudo, a Psicologia do Esporte procura investigar: a) Os aspectos psicológicos que influenciam na participação e no desempenho de atividades físicas, em especial as esportivas. b) A influência da prática de atividade física e esportiva nos sentimentos, pensamentos e atitudes das pessoas. Portanto, pode-se notar que atividade física e aspectos psicológicos, na Psicologia do Esporte, constituem-se em uma “via de mão dupla”, em que as influências podem ser recíprocas. REFERÊNCIA BÁSICA Weinber, R. S.; Gould, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 4.ed. Rio Grande do Sul: Artmed, 2008.
Compartilhar