Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
imperativo ambiental STEVEN V. SZOKOLAY (Presidente da PLEA (Passive and Low Energy Architecture) Internacional The University of Queensland P.O. Box 851 Kenmore 4069 Australia) RESUMO INTRODUÇÃO A necessidade de gerenciamento ambiental em substituição à exploração é estabelecida e o papel do arquiteto no estabelecimento de um futuro sustentável é examinado. Projetar em simpatia com o local, conservação de energia, escolha de materiais e o centro de resíduos emerge com questões de especial relevância. O trabalho conclui com uma observação otimista: o comportamento humano está mudando lentamente e os governos começaram a levar em conta uma visão de longo prazo. A visão da Terra a partir da Lua proporcionou um reforço emocional ao fato conhecido de que a nossa Terra é uma pequena, limitada e vulnerável nave espacial (1). Os seus recursos são finitos e a sua capacidade de absorção de nossos resíduos é limitada. O sistema ecológico da Terra está em um delicado equilíbrio e nós temos agora o poder de destruí-lo. E se nós fizermos isso, então não existe alternativa. De forma similar, pode-se intelectualmente absorver o fato de que a população humana está crescendo exponencialmente, que levou alguns milhões de anos para alcançar um bilhão no início do século 19, então ela dobrou em aproximadamente cem anos - o fato passa a integrar a nossa experiência: ela era de dois bilhões quando eu me matriculei em Budapeste e agora é de seis! Ela triplicou em 50 anos. O controle de população não é o meu tema, mas segundo o meu ponto-de-vista é uma pré- condição para a nossa sobrevivência. É óbvio que com um acréscimo de população dessa ordem, mais nosso incrível crescimento de tecnologia e conseqüente uso de energia, tanto a nossa exploração de recursos como a nossa produção de resíduos alcançou níveis que excedem a capacidade do planeta. Nós precisamos reduzir a nossa taxa de uso de recursos e nosso indiscriminado despejo de resíduos. Seja a nossa motivação o esgotamento das reservas de óleo ou a preocupação com emissões de CO2 conduzindo a mudanças climáticas, o uso de energia é identificado como a mais importante questão individual. Isto é, contudo, apenas parte do problema. A questão crucial é que uma mudança de atitude é necessária; nos métodos rudes de exploração (a atitude de que a natureza é infinita em recursos e que pode absorver todos os resíduos) precisa ser substituída por gerenciamento ambiental. Isto significa que as conseqüências a longo prazo de nossas ações precisam ser consideradas. Nós temos que manter o sistema terrestre se quisermos que a humanidade sobreviva. Por essa razão, a sustentabilidade tornou-se uma questão da maior O UMA NOTA HISTÓRICA O PAPEL DOS ARQUITETOS importância. A degradação ambiental foi já a preocupação maior da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo em 1972. No ano seguinte, devido ao embargo do petróleo pela OPEC, a natureza finita de nossos recursos combustíveis fósseis tornou-se o centro de atenções, instigando um esforço de pesquisa conjunto no sentido de utilização de recursos energéticos renováveis. O encontro da UNCED (United Nations Conference on Environment and Development), realizado no Rio de Janeiro em 1992, uniu estas duas preocupações maiores e ampliou o discurso na Agenda 21, promovendo uma aliança global e com a Declaração do Rio, estabeleceu os princípios do desenvolvimento sustentável (2). Igualdade para toda a humanidade é um dos objetivos da Agenda 21, mas a igualdade intergerações seja talvez ainda mais importante: que nós deixemos para a próxima geração um mundo que não seja pior que aquele que nós herdamos da geração anterior à nossa. A nossa categoria profissional juntou-se ao movimento através da Declaração de Interdependência para um Futuro Sustentável no Congresso da IUA em Chicago, em 1993 (ver Apêndice 1). Muitos grupos nacionais de arquitetos ou de arquitetura adotaram esta declaração e produziram políticas energéticas e ambientais. O Royal Australian Institute of Architects formalmente adotaram a Declaração de Chicago em outubro de 1993 e editaram uma declaração de Política Ambiental (ver o Apêndice 2) um ano mais tarde. Tais declarações e políticas são apenas palavras bonitas, mas elas têm de fato uma importante significância: implicam em um compromisso, que os indivíduos precisam reconhecer sob o risco de serem "politicamente incorretos", eles precisam pelo menos aderir a este palavreado e com repetições freqüentes elas tornam-se de fato a norma (mesmo que alguns não ajam de acordo, pelo menos eles terão uma consciência pesada a respeito). A principal questão prática é como traduzir estas idéias nobres em ações ao nível da realidade diária. Como nós agimos na nossa prática profissional diária? O projetista freqüentemente tem muito pouca liberdade: o que, onde e como é construído, é freqüentemente determinado por planejadores, autoridades regulatórias e pela organização do cliente. Entretanto, os arquitetos atuam em muitos níveis no processo de desenvolvimento e construção e podem influenciar decisões que afetam o futuro. Como 'gerenciadores de recursos' eles podem aconselhar o cliente nas necessidades construtivas. Eles podem estar envolvidos na seleção de locais e estudos iniciais de viabilidade. Grandes organizações, tanto privadas como públicas, podem empregar arquitetos, tanto em seu staff como na forma de consultores para formular as diretrizes de projeto (as instruções do cliente ao projetista), a qual pode envolver uma série de estudos primários incluindo tanto aspectos organizacionais como sociais, antes que os requisitos espaciais, ergonômicos e ambientais sejam estipulados. Local O processo de projeto não ocorre de forma linear, ele é interativo. O projetista arquiteto pode discutir questões emergentes com o cliente, não apenas para um esclarecimento, mas também para aconselhar, ou mesmo persuadir o cliente. O projeto conceitual é freqüentemente separado do projeto detalhado dos materiais e da documentação de projeto. A supervisão do trabalho de construção e a gerência do contrato é uma tarefa distintamente separada, mas mesmo se todas essas são realizadas no mesmo escritório, o arquiteto pode se especializar em determinadas tarefas, em partes específicas do mesmo processo. Muitas empresas de construção empregam os seus próprios arquitetos. Alguns de nossos colegas se especializam em projetos de interiores, tanto para lojas (incluindo vitrines) como para escritórios. Alguns de nós se tornam escritores, críticos, educadores ou proponentes de teorias. Arquitetos podem trabalhar para autoridades locais e ter uma influência a nível de planejamento urbano e projeto urbano. Eles podem ter um papel decisivo no processo de aprovação de edificações, o qual não é apenas uma tarefa dupla (aprovação ou rejeição), mas freqüentemente envolve negociações com o incorporador (e o arquiteto do incorporador) de modo a modificar a proposta no interesse do “bem público”. Em cada uma destes pontos estão envolvidas questões ambientais as quais necessitam ser consideradas. Decisões tomadas no início do processo podem ter conseqüências imprevisíveis: elas podem impedir, mais tarde, decisões ambientaispertinentes. Cada ação terá conseqüências ambientais. Questões ambientais são questões de sobrevivência, portanto elas precisam ter uma prioridade total e um papel decisivo. Entre os muitos papéis desempenhados pelo arquiteto, o central para a nossa tarefa (e para a nossa ética) é o projeto de edificações. Assim eu me concentrarei naquilo que o arquiteto projetista pode fazer para promover a sustentabilidade. A tarefa e as questões envolvidas em projetos sustentáveis podem ser convenientemente consideradas sob quatro títulos: local, energia, materiais e resíduos. A terra é um bem precioso. Todas as atividades construtivas perturbam a terra, o local. Nós devemos minimizar todas as perturbações de tal natureza. A terra não perturbada, suporte de uma ecologia intacta, é particularmente valiosa; se possível, o seu uso deve ser evitado. Esta pode ser nossa contribuição para a preservação da biodiversidade. O uso de terras já perturbadas, talvez terras degradadas deve ser preferível. A reabilitação de terras perturbadas, negligenciadas é altamente desejável. As edificações devem se encaixar em seu ambiente: se possível, trabalhos de terraplenagem de larga escala devem ser evitados. Se esses forem inevitáveis, o solo de cobertura (que é um valioso sistema vivo) deve ser preservado a reusado em paisagismo. Todas as medidas possíveis devem ser tomadas para evitar a erosão do solo e para promover a conservação do solo e da terra. Energia Energia é uma grande preocupação. Mesmo em um país de clima favorável, tal como a Austrália, as edificações são responsáveis por cerca de 25% de todo o consumo de energia. Nos Estados Unidos isto está em torno de 40% e no Reino Unido alcança 45%. O uso de energia em edificações é responsável por cerca de 50% das emissões de CO2 (3) em muitos países. Isto sublinha a magnitude de nossa responsabilidade. A energia é usada em dois níveis: · energia principal, usada na construção da edificação. Isto incluiria o conteúdo energético dos materiais e componentes construtivos, e.g. a energia que foi usada desde as fontes primárias (e.g. extração) até o processo de manufatura e transporte ao local, assim como a energia usada no processo de construção. · energia operacional, usada para aquecimento, refrigeração, ventilação, iluminação e serviços na edificação, usualmente expressa em termos anuais. É interessante observar que 20 anos atrás, quando nós começamos a analisar o uso de energia, nós encontramos que a relação C/O estava em torno de 5, isto é, a energia principal (C) equivaleria a 5 anos de energia operacional (O). Para uma edificação muito pobre esta relação encontrava-se em torno de 2,5 anos. Recentes estudos produziram resultados de até 50 anos! (4) A razão para isso é dupla: as edificações foram melhoradas e tais melhoras teriam aumentado da energia principal investida (por exemplo, em isolamento térmico). Entretanto, em conseqüência de tais melhoras nos tivemos a energia operacional reduzida. Vinte anos atrás, ao reconhecermos o papel da energia principal, nós pensávamos que esta era relativamente insignificante e nos concentramos em tentativas de reduzir a energia operacional requerida. Mudanças da relação C/O por um fator de 10 (e mesmo 20) é uma indicação do sucesso de tais tentativas. Entretanto, agora a energia principal tem uma significância relativa maior. A energia principal ou investimento em energia em uma edificação é fundamentalmente dependente dos materiais utilizados. Dados confiáveis para o conteúdo energético de vários materiais são poucos e são dependentes da indústria específica e condições no país. Tais dados podem ser produzidos por métodos analíticos (percorrendo o processo de produção desde a extração dos materiais brutos até o produto final) ou por métodos estatísticos (examinando uma indústria completa em um dado país, o seu uso total de energia, dividindo-o pela produção no mesmo período). A Tabela 1 abaixo pode oferecer alguma orientação, distinguindo, para conveniência, materiais de baixa, média e alta energia. Obviamente, o conteúdo energético dos materiais não é tudo, qualquer comparação deve incluir uma estimativa de quanto dos materiais alternativos é requerido para realizar o mesmo trabalho: por exemplo, alumínio pode ter um conteúdo energético por unidade de massa cinco vezes maior que o aço, mas se 6 toneladas de aço forem requeridos para realizar o mesmo trabalho (por exemplo como o esqueleto de uma estrutura) que uma tonelada de alumínio, então o alumínio é mais vantajoso (todas as demais variáveis sendo as mesmas). A seleção de materiais deve também incluir outros critérios, como será discutido abaixo. TABELA 1: Conteúdo energético de alguns materiais de construção Materiais de baixa energia areia, brita 0,01 KWh/kg < 1 concreto 0,2 - 0,5 tijolos silico-calcario 0,4 - 0,5 argamassa cimento 0,5 madeira serrada 0,5 - 0,9 concreto leve 0,5 - 0,9 telhas de concreto 0,6 - 0,9 Materiais de média energia concreto aerado 1 - 1,1 KWh/kg 1 - 10 tijolos cerâmicos 1 - 1,2 cal 1,5 telhas de fibro-cimento 2,1 cimento 2,2 placas de fibra de madeira 2,2 vidro 6,0 Materiais de alta energia aço 10 KWh/kg >10 aço galvanizado 10,5 zinco 15 cobre 16 fibra de vidro 49 alumínio 46 - 56 PVC 80 polietileno 90 (Compilado a partir de diversas fontes) A energia operacional pode ser reduzida de três maneiras: 1) estabelecendo normas ambientais racionais, por exemplo aquecer a edificação a 20°C durante o inverno ao invés de 23°C ou resfriá-la a 25°C durante o verão, ao invés de 22°C, ou proporcionar 200 lux de iluminação geral com suplementação local, ao invés de 800 lux de forma generalizada. 2) Através de uma melhor eficiência no uso de energia, melhorando a edificação, reduzindo perdas, fazendo uso de técnicas passivas para o controle ambiental (por exemplo, isolamento, massa térmica e iluminação natural) e 3) Através do uso de fontes renováveis de energia, como energia solar ou eólica. Sistemas solares passivos podem ser considerados tanto no título 2 e 3, mas a rotulação não é importante. No meu ponto de vista todas as edificações são edificações solares: todas tem algum ganho de energia solar, apenas algumas são melhores que outras na utilização desta energia radiante recebida. As técnicas das duas categorias 2 e 3 estão bem documentadas em livros, periódicos e mais recentemente em publicações especiais, tais quais as da EC (European Commission) ou - ainda - nas Environmental Notes da RAIA (Royal Australian Materiais Institute of Architects). Estas incluem o grupamento de edificações, orientação, esquadrias, sombreamento, o projeto do envelope (massa, isolamento, etc.) e sistemas solares passivos especiais. Três imperativos energéticos podem resumir bem a tarefa do arquiteto projetista nesta área: 1) Projeto para reduzir a demanda de energia; 2) O uso de controles passivos tanto quanto praticável; 3) Uso de energia renovável sempre quando possível.A escolha de materiais tem amplos efeitos sobre o ambiente, tanto direta como indiretamente. Um sistema de avaliação de materiais de construção (BMAS), desenvolvido pela Universidade de New South Wales usa 14 critérios (em 5 grupos) para a avaliação ecológica de materiais de construção (5). Cada critério tem um fator de ponderação baseada em consenso, como é mostrado na Tabela 2. Em aplicações práticas estes fatores de ponderação podem ser modificados para se adequarem a situações particulares ou a uma filosofia de projeto. TABELA 2: BMAS: Building Materials Assessment System Grupo critério ponderação do grupo peso fonte 1 dano ao meio ambiente na extração de materiais brutos: 3 2 extensão do dano relativamente à quantidade de material produzido: 2 3 abundância da fonte ou renovabilidade materiais brutos: 4 4 conteúdo de reciclado: 3 12 manufatura 5 resíduos sólidos e líquidos na manufatura e produção: 3 6 poluição aérea na manufatura e produção 4 7 conteúdo energético: 5 12 construção 8 energia de transporte ao local: 3 9 energia empregada no local para montagem e verticalização: 1 10 desperdícios no local, incluindo embalagem: 2 6 uso 11 manut. requerida durante o ciclo de vida: 3 12 efeitos amb. durante o ciclo de vida (i.e. emissões tóxicas): 3 6 demolição 13 energia usada e efeitos da demolição ao final do ciclo de vida: 2 14 reciclabilidade dos materiais de construção:4 6 Para o julgamento de um material, um escore de 0 a 5 foi atribuído a cada critério, 0 se não ocorre impacto algum e 5 significando o impacto ambiental mais severo. Tabelas de “Ajuda” são disponíveis para orientação na atribuição de escores. Os escores podem ser elevados ao quadrado (para melhor resolução), multiplicados pelo fatores de ponderação e somados. Esta soma corresponde ao “fator ecológico” (EF) para o material. O uso deste sistema de avaliação ecológica pode ser estendido a materiais compostos, ou elementos da edificação. O EF é Resíduos considerado apenas como um número de orientação quantitativa, mas o sistema proporciona o conjunto de critérios mais completo com o qual julgar um material de construção. Vale notar que os critérios são fortemente interconectados, por exemplo, embora a madeira tenha um baixo nível de conteúdo energético, ela somente terá um valor EF se ela for originária de recursos renováveis, isto é, de florestas plantadas. Se ela provém de florestas nativas, originárias de métodos de limpeza por tombamento, possivelmente causando a erosão do solo, então o seu EF poderá ser bastante elevado. As edificações produzem resíduos de muitas formas, tais quais gases, líquidos ou sólidos. Cada um destes tem um efeito nocivo sobre o ambiente. Resíduos gasosos produzem poluição local e muitos efeitos adversos (odores, neblinas fotoquímicas, etc.), as quais podem afetar a saúde humana ou simplesmente constituir um incômodo, mas a nível planetário eles contribuem para o efeito estufa (com as conseqüentes modificações climáticas) e para a destruição da camada de ozônio. O dióxido de carbono, o metano, os óxidos nitrosos e sulfurosos são os gases mais significantes como contribuintes para o efeito estufa. Os cloro- fluor-carbonos (CFC) e os hidro-cloro-fluor-carbonos (HCFC) são também contribuintes para o efeito estufa, mas o seu efeito mais nefasto é a destruição da camada de ozônio.As edificações causam emissões de CO2 principalmente em locais distantes daquele da construção, como resultado do uso de energia elétrica. Cada kWh de eletricidade usada causa emissões de cerca de 1 kg de CO2 na estação geradora (6). Assim, a melhor maneira de reduzir tais emissões é a conservação de energia. O mesmo é aplicável a edificações projetadas onde óleo combustível ou gás é utilizado para caldeiras e geradores. O processo de substituição de CFCs usado na refrigeração de máquinas está se processando gradualmente. Nenhum arquiteto responsável permitiria atualmente a instalação de sistemas de ar condicionado que ainda façam uso de CFCs. Um problema ainda não satisfatoriamente resolvido é o uso de extintores de incêndio que utilizam halogênio em locais onde o uso de água pode causar mais dano que o fogo (por exemplo em bibliotecas e galerias de arte). Resíduos líquidos incluem esgoto, águas residuárias de banhos, toaletes ou lavanderias, mas também águas de precipitação. Deve-se tentar reter o máximo de águas de precipitação no local, através do uso de superfícies porosas ao invés da pavimentação de modo a promover a percolação: a penetração da água no solo. Isto contribui para a conservação do solo: reduzindo o escorrimento superficial, evitando a erosão, mas também auxiliaria na retenção de um lençol de água, contribuindo para as reservas subterrâneas. As águas residuárias podem ser recicladas como águas cinzas para muitos propósitos (uso na descarga de vasos sanitários, irrigação), que devem ser seguidos onde quer que possível. A água também constitui um precioso recurso, o seu uso de ser reduzido de todas as maneiras possíveis (reduzindo a água de descarga de vasos sanitários, usando chuveiros ao invés de banheiras, usando redutores de vazão nos chuveiros, etc.). A disposição dos esgotos é normalmente uma responsabilidade ECONOMIA das municipalidades, mas os indivíduos (incluindo os arquitetos) podem ter uma influência no instigar o uso não único de tratamento primário (anaeróbio) e secundário (aeróbio), mas também terciário, o que removeria a presença de nitratos e fosfatos do efluente. O uso de produtos secundários, tais quais o gás metano (da fase anaeróbia) para estações de geração de energia, deve ser encorajada (de outra forma estes seriam dispersos no ar e contribuiriam para o efeito estufa). Após tratamento terciário o efluente não causa dano aos cursos d’água naturais, podendo ser ainda utilizados para propósitos de irrigação. Sob certas circunstâncias o projeto de edificações pode ter a sua própria estação de tratamento de esgotos (a partir da escala de tanques sépticos domésticos), caso em que o uso de tratamentos primário e secundário é imperativo, mas o tratamento secundário nesta pequena escala é difícil. O efluente rico em fosfatos e nitratos não deve ser descarregado em cursos d’água naturais, mas podem ser usados com o propósito de irrigação. Resíduos sólidos, tais quais o lixo doméstico, são usualmente coletados e depositados, quer pelas autoridades municipais (ou por empresas contratadas), mas as suas quantidades, especialmente em cidades e grandes aglomerações, tem crescido com tal ímpeto que o seu gerenciamento vem se tornando cada vez mais difícil. É interessante notar que algumas autoridades, que há 40 anos atrás insistiram na implementaçãode incineradores em cada projeto (mesmo a uma escala doméstica) tentando reduzir a quantidade de resíduos sólidos, agora proíbem o seu uso, por causa da poluição por eles provocada. O gerenciamento racional dos resíduos incluiria a reciclagem de muitos componentes de tais resíduos, tais quais metais, vidro, plásticos e papel. Isto novamente constitui um empreendimento de escala, mas o projetista deve contribuir para prover recursos de fácil uso para a seleção dos resíduos, assim como para a sua coleta para reciclagem. O projetista também deve prestar atenção para os resíduos sólidos gerados durante a construção. O retorno de materiais de embalagem (incluindo palets e engradados) pode ser especificado e integrar o contrato de suprimento de materiais. A seleção de resíduos da construção permitiria a reciclagem de metais, plásticos ou papel, o uso de serragem (no mínimo como material para queima em lareiras), e o uso de materiais inorgânicos como aterro. Especificações cuidadosamente pensadas podem forçar o construtor a assim agir. Os resíduos sólidos produzidos na demolição de edificações pode ser substancialmente reduzidos através da reciclagem. Muito pode ser feito no estágio de projeto para assegurar que pelo menos alguns materiais e componentes possam ser reciclados e reusados quando a edificação alcançar o término de sua vida útil, assim também reduzindo a quantidade de resíduos de demolição. Ecologia e economia freqüentemente são colocadas em oposição uma à outra. Vale a pena lembrar que tais palavras possuem uma origem no Grego, oikos (oikos), significando casa, habitat ou moradia. O final -logia significa estudo de ... enquanto o sufixo -nomia implica em lei (ou leis) da ... Assim, ecologia é o estudo de, e economia incorpora as leis de nossa casa e da administração doméstica. Talvez os dois lados da mesma moeda. Freqüentemente se alega que todo esse “ambientalismo” pode ser desejável, mas nós não podemos pagá-lo. Eu contesto dizendo que isso é uma expressão de uma visão extremamente curta e um ponto-de-vista de uma mente limitada. Há muitas instâncias em que um pequeno custo adicional de capital resultaria em substanciais economias de manutenção. É fácil convencer a um cliente com uma mente racional, de que na construção para o seu uso, o investimento de algum dinheiro extra, digamos: no isolamento térmico, reduzirá os custos de aquecimento. A análise custo/benefício pode ser realizada usando métodos de fluxo de caixa para comparar o valor presente de futuras economias com o investimento extra requerido. O custo no ciclo de vida deve ser a ferramenta usual para as decisões. Problemas podem emergir quando um incorporador estiver produzindo uma edificação para venda imediata sem interesse em redução nos custos correntes. Isto, entretanto, não é exclusivo na conservação de energia, o mesmo problema ocorre quando se tenta usar materiais mais caros mas com baixo custo de manutenção. A resposta depende muito na maturidade do mercado. Na Austrália as casas de fibra (de madeira, com chapas de fibro-cimento) dos anos 50 não conseguem ser vendidas hoje: os compradores aprenderam o custo de freqüentes re-pintura, que podem ser evitados pelo uso de tijolo-madeira (casas de madeira com tijolos não-portantes com 11 cm de espessura na face externa). O resultado é não somente um reconhecimento das vantagens financeiras do uso de alvenaria externa, mas também (e talvez mais importante) o valor associado à aparência mais nobre. Ninguém mais quer uma casa de “aparência barata” identificada pelas casas de fibra. Isto está começando a acontecer com os custos energéticos na área habitacional. Muitos compradores estão agora preparados a pagar um preço mais elevado por uma casa que é bem orientada, que possui um sombreamento adequado e isolamento térmico no telhado. O mercado de salas de escritório deverá seguir o mesmo rumo. Os baixos custos operacionais já fazem com que o inquilino aceite pagar um maior aluguel. E os valores de venda de um bloco de escritórios seja função do aluguel total recebido. Muito depende da percepção e valor de prestígio, mas tais percepções variam continuamente e podem ser influenciadas. Todos podemos contribuir para tais mudanças em vez de perpetuar concepções errôneas resultantes de sua aceitação por nós. Nos anos 60 era quase impensável ter-se um escritório sem ar condicionado. Eu provei em Nairobi (quase no equador, a 1500 m de altitude) que conforto térmico pode ser assegurado em escritórios através de simples meios passivos, sem ar condicionado. O cliente excepcional pode concordar hoje em construir tal edifício e obter como retorno uma satisfação CONCLUSÃO interna por ter “feito a coisa certa” para a ecologia global. Isto, entretanto, não é suficiente. Nós precisamos trabalhar sobre isso para criar um valor de prestígio para edificações condicionadas por meios naturais. Reconheçamos que tal edificação é aceita como sendo mais saudável, livre da síndrome das edificações doentes e não oferecendo o risco das doenças associadas a tais edificações. Isto também é mais gratificante psicologicamente para os ocupantes. Entretanto, a questão é mais ampla que isso. Um processo de educação longa e penosa apresenta-se diante de nós para que tenhamos nossos princípios ecológicos reconhecidos pelos seus valores inerentes. Inumeráveis exemplos mostram que práticas ecológicas podem ser também propostas atrativas de negócios e são também rentáveis à curto prazo. Por exemplo, freqüentemente uma mudança de hábitos sem custo algum, economiza energia e reduz custos. A remoção de fosfatos e nitratos de esgotos produz produtos comercialmente viáveis. A reciclagem de papel, que começou há alguns anos atrás com subsídios, é agora uma indústria lucrativa. Há um crescente risco causado pelo fato de que ecologia, ambiente e o movimento verde tenham um poder tão grande que muitos charlatões “embarquem” no movimento e descrevam os seus produtos ou mesmo o projeto de suas edificações, como conservando energia e ambientalmente conscientes. Em alguns casos existe alguma proposta que funciona, mas a edificação é basicamente falha. Tais edificações freqüentemente são incluídas em revistas populares e podem enganar ao leitor mal informado. Isto é particularmente pernicioso quando um arquiteto renomado é o seu autor. Existe uma grande quantidade de veneração aos “heróis” na arquitetura, os grandes “mestres” ditam o rumo, ditam a moda. É bom se tais heróis produzem edificações genuinamente ecológicas, mas uma aguda atitude crítica tem de ser desenvolvida e tais propagandas não devem ser aceitas pela sua aparência, pelo que diz ser, elas devem ser examinadas antes de serem aceitas como exemplos a serem seguidos. No todo eu sou otimista. Eu gostaria de usar a analogia com um sistema de controle, por exemplo um sistema de ar condicionado. Este consiste de três componentes principais: um sensor, uma unidade que toma a decisão e um “ativador”- um servo mecanismo. Quando o sensor indica um sobreaquecimento em uma sala, a unidade de decisão emitirá o sinal apropriado ao motor para ajustar (abrir) o damper VAV, assim aumentando o fluxo de ar. Meteorologistas, ecologistas e pensadores entre nós são os “sensores” da sociedade, emitindo sinais de alerta. Os governos podem ser os principais órgãos decisórios, mas nós - como uma profissão - tambémtemos o nosso papel no processo decisório. E somos - de certa maneira - também ativadores, servo mecanismos para executar as decisões corretas. Acredito que nós começamos a receber os sinais apropriados e podemos ter tempo para realizar os ajustes necessários. Este seminário - se eu puder continuar a analogia - serve como um amplificador para os sinais percebidos. Estamos entrando no terceiro milênio com mais sabedoria e entendimento do que na entrada do último século. Teremos a força para agir de REFERÊNCIAS APÊNDICE 1: DECLARAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIA PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL acordo? · R. Buckminster Fuller: Operating manual for spaceship Earth. Sth. Illinois Uni. Press, 1968. · Michael Keating: Agenda for change (a plain language version for Agenda 21 and the other Rio Agreement). Centre for Our Common Future. Geneva, 1993. · National Greenhouse Response Strategy (draft), AGPS (Aus. Gov. Publ. Service), Canberra, 1992. · S F Pullen: Embodied energy and operational energy of house. p. 155-164, ANSAScA’94 Conf. Proc. Aus&NZ.Arch.Sc.Assoc. Deakin Uni.Geelong, 1994. · H Partridge & Bill Lawson: Quantitative assessment of ecological sustainability of building materials. Solar ‘94 Conf.Proc. Aus&NZ.Sol.En.Soc. Uni.of NSW. Sydney, 1994. · S V Szokolay: Architecture and climate change. RAIA Education Division, Canberra, 1992. IUA/AIA World Congress of Architects, Chicago, 18-21 Junho, 1993 Reconhecendo que: · Uma sociedade sustentável recupera, preserva e aperfeiçoa a natureza e cultura para o bem de toda a vida, presente e futura; · Um ambiente diverso e saudável é intrinsicamente valioso e essencial para uma sociedade saudável; · A sociedade do momento está degradando seriamente o ambiente e não é sustentável; · Nós somos ecologicamente interdependentes com o todo do ambiente natural; · Nós somos socialmente, culturalmente e economicamente interdependentes com toda a humanidade; · Sustentabilidade, no contexto desta interdependencia, requer associação, equidade e equilíbrio entre todas as partes; · Edificações e o ambiente construído desenvolvem uma papel significativo no impacto humano sobre o ambiente natura e na qualidade de vida; · Um projeto sustentável integra consideração dos recursos e eficiência energética, edificações e materiais saudáveis, uso ecológico e socialmente sensível do solo e uma sensibilidade estética que inspira, afirma e enobrece; · Um projeto sustentável pode reduzir significativamente os impactos humanos adversos sobre o ambiente natural, enquanto simultaneamente melhorar a qualidade de vida e o bem estar econômico; Nós nos comprometemos: · Como membros das profissões de arquitetura e projetistas de todo o globo, individualmente e através de nossas organizações profissionais a: · Colocar a sustentabilidade ambiental e social no centro de nossas práticas e responsabilidades profissionais; · Desenvolver e aperfeiçoar continuamente práticas, procedimentos, produtos, currrículos, serviços e normas técnicas que permitam a implementação de projetos sustentáveis; · Educar a nossos colegas profissionais, a indústria da construção, clientes, estudantes e ao público em geral a APÊNDICE 2: POLÍTICA AMBIENTAL DO ROYAL AUSTRALIAN INSTITUTE OF ARCHITECTS (versão abreviada) respeito da importância crítica e oportunidades substanciais de projetos sustentáveis; · Estabelecer políticas, normas e práticas no governo e negócios que assegurem que projetos sustentáveis se transformem em prática normal; · Conduzir todos os elementos presentes e futuros do ambiente construído - em seu projeto, produção, uso e eventual reuso - a padrões de projeto sustentáveis; A profissão da arquitetura está comprometida com a sustentabilidade ambiental e social. Tal compromisso contribuirá para a preservação e reestabelecimento de processos ecológicos dos quais a vida depende, desse modo provendo oportunidades para manter ou melhorar a qualidade de vida para as gerações presentes e futuras e manter os valores intrínsecos do ambiente natural. Os seguintes cinco princípios específicos devem ser adotados na realização deste compromisso: 1. Manter e restabelecer a biodiversidade, através: a) da consideração do impacto das decisões projetuais e seleção de materiais em ecossistemas distantes do local; b) da avaliação dos ecossistemas no local e na região; c) da recomendação contrária a edificações em áreas onde a implantação provavelmente tenha conseqüências ambientais negativas significantes; d) da manutenção e melhoria dos ecossistemas locais, preservando a vegetação e o solo superficial, e) do restabelecimento de corredores-habitat; f) da promoção de edificações inovadoras e de desenvolvimento que conduzam a uma sociedade sustentável; 2. Minimizar o consumo de recursos através: a) de práticas de conservação da terra e do solo; b) da recomendação de construção em terras já degradadas reabilitando-as; c) do uso de recursos “renováveis” de preferência a recursos finitos, encorajando a redução de consumo de energia (por exemplo, através de controles térmicos passivos e melhorando a eficiência); d) da prática de controle de resíduos e evitando elementos descartáveis; e) da reciclagem de edificações e usando componentes recicláveis; f) do uso de técnicas de gerenciamento cíclico de águas; g) do desenvolvimento de densidades maiores em formas urbanas e construídas, considerando alternativas de desenvolvimento, tais quais a opção de “sem desenvolvimento”; h) da participação a formulação das necessidades do cliente para assegurar a eficiência do espaço e a provisão de serviços; i) de projetos formulados para durabilidade, assegurando adaptabilidade através do conceito “loose fit”; j) de recomendação do uso de materiais e equipamentos de vida longa, baixa manutenção e qualidade e acabamento apropriados; 3. Minimizar a poluição do ar, solo e água através: a) da minimização de emissões de gases contribuintes para o efeito estufa (por exemplo, CO2 e CFCs); b) da redução de necessidade de transporte e do uso de todas as formas de energia baseados em combustíveis fósseis; c) do incremento da absorção de CO2 através da vegetação e do plantio de árvores; d) do não-uso de CFCs na refrigeração, assim como em aerosóis e materiais de embalagem e extintores de incêndio Questionário sobre o texto usando halogênio; e) da minimização de todas as formas de poluição, erosão, inundações e escorrimento superficial, incluindo a poluição que possa ser causada na extração, processamento e manufatura de materiais e componentes da edificação; 4. Maximizar saúde, segurança e conforto considerando a saúde ocupacional e a segurança na extração, processamento e manufatura de componentes, no local de construção (por exemplo, ruído, solventes nocivos) e evitando o uso de materiais tóxicos no controle de pestes e ervas daninhas; através de projetos que contemplem uma boa localização (relativamente a ofuscamento, ruído, acesso solar, privacidade visual); através da integração das edificações com o ambiente natural, evitando materiais com emissões nocivas; através da qualidade no ambiente interior; 5. Incrementar a consciência sobre questões ambientais entre clientes, autoridades, consultores, organizações, fabricantes, colegas arquitetos e estudantes dando assistência a processoseducacionais, desenvolvendo novas soluções, encorajando produtos com preocupação ambiental e defendendo o papel do arquiteto na contribuição por uma sociedade sustentável; 1. Como você descreveria uma comunidade sustentável? 2. Comente sobre os resíduos gasosos gerados pelo processo de produção de edificações. 3. Comente sobre os resíduos líquidos gerados pelo processo de ocupação de edificações. 4. Comente sobre os resíduos sólidos gerados pelos processos de produção e uso de edificações. 5. Comente sobre a importância da escolha do local na preservação ambiental. 6. Comente sobre a importância de considerações energéticas na produção de edificações. 7. Comente sobre a importância da seleção de materiais na produção de edificações, na minoração de impactos ambientais.
Compartilhar