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Apostila - parte 2

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38 
UNIDADE III 
Modalidades de discurso 
 
Formações ideológicas e formações discursivas 
 Uma formação ideológica deve ser entendida como a visão de mundo de uma determinada classe social, isto 
é, um conjunto de representações, de ideias que revelam a compreensão que uma dada classe tem do mundo. 
Como não existem ideias fora dos quadros da linguagem, entendida no seu sentido amplo de instrumento de 
comunicação verbal ou não-verbal, essa visão de mundo não existe desvinculada da linguagem. Por isso, a cada 
formação ideológica corresponde uma formação discursiva, que é um conjunto de temas e de figuras que 
materializa uma dada visão de mundo. Essa formação discursiva é ensinada a cada um dos membros de uma 
sociedade ao longo do processo de aprendizagem linguística. É com essa formação discursiva assimilada que o 
homem constrói seus discursos, que ele reage linguisticamente aos acontecimentos. Por isso, o discurso é mais o 
lugar da reprodução que o da criação. Assim como uma formação ideológica impõe o que pensar, uma formação 
discursiva determina o que dizer. Há, numa formação social, tantas formações discursivas quantas forem as 
formações ideológicas. Não devemos esquecer-nos de que assim como a ideologia dominante é a da classe 
dominante, o discurso dominante é o da classe dominante. 
 
 As visões de mundo não se desvinculam da linguagem porque a ideologia vista como algo imanente à 
realidade é indissociável da linguagem. As ideias e, por conseguinte, os discursos são expressão da vida real. A 
realidade exprime-se pelos discursos. 
 
 Dizer que não há ideias fora dos quadros da linguagem implica afirmar que não há pensamento sem 
linguagem. Engels dizia que não há realmente um pensamento puro desvinculado da linguagem. Ao opor-se à 
ideia de Dühring de que quem não era capaz de pensar sem o auxílio da linguagem não tinha conhecido o 
verdadeiro pensamento, afirma, com ironia, que, se isso fosse verdade, os animais seriam os pensadores mais 
abstratos e autênticos, porque seu pensamento jamais é perturbado pela interferência da linguagem. 
 
 Alguns linguistas e psicólogos julgam que existe um pensamento puro pré-linguístico e, ao lado dele, a 
expressão linguística que lhe serve de envólucro. Outros afirmam que é impossível pensar fora dos quadros da 
linguagem. 
 
 O problema começa com o próprio conceito de pensamento. Se imaginarmos que pensamento seja a 
“faculdade de se orientar no mundo”, ou o “reflexo subjetivo da realidade objetiva”, ou ainda “ a faculdade de 
resolver problemas”, então podemos concluir que há um pensamento verbal e um pré-verbal, pois todos os 
animais fundam seu comportamento numa certa orientação no mundo, num certo reflexo subjetivo da realidade 
objetiva ou numa certa capacidade de solucionar problemas. Mas se dissermos que o que caracteriza o 
pensamento humano é seu caráter conceptual, o pensamento não existe fora da linguagem. [...] 
 
 Não há, porém, identidade entre linguagem e pensamento. O que há é uma indissociabilidade de ambos, que 
não se apresentam jamais de uma forma pura. Por isso, as funções da linguagem e do pensamento não podem 
ser dissociadas e, muito menos, opostas. O pensamento e a linguagem, diz Schaff, são dois aspectos de um único 
processo: o do conhecimento do mundo, da reflexão sobre esse conhecimento e da comunicação de seus 
resultados. [...] 
 
 Por causa dessa indissociabilidade, pode-se afirmar que o discurso materializa as representações ideológicas. 
As ideias, as representações não existem fora dos quadros linguísticos. Por conseguinte, as formações 
ideológicas só ganham existência nas formações discursivas. [...] 
 
 FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. SP. Ática, 1998. p32-34 
 
 
 
 
 39 
1) Leia os quadrinho seguintes antes de responder ao que se propõe: 
 
 
 
 
Releia: “As visões de mundo não se desvinculam da linguagem porque a ideologia vista como algo imanente à 
realidade é indissociável da linguagem. As ideias e, por conseguinte, os discursos são expressão da vida real”. 
(FIORIN, 1998, p.33) 
 
 
Explique de que forma se percebe a questão da indissociabilidade entre linguagem e ideologia no texto de Lula 
Branco Martins. 
_________________________________________________________
_________________________________________________________ 
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________ 
_________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 40 
2) Observe: 
 
 
 
 
Determine as formações ideológicas que motivaram a criação dos textos acima. Considere, em sua análise, não 
apenas o texto verbal, mas também o não verbal. 
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_________________________________________________________ 
_________________________________________________________ 
_________________________________________________________
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_________________________________________________________
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 41 
A tradição retórica: verdade e verossimilhança 
 
 
Informação sem persuasão? 
 
 A revista americana Newsweek se fazia anunciar, em cartazes publicitários afixados em alguns pontos-de-
vendas, como aquela que não persuadia, mas informava. Afora querer convencer-nos acerca do conhecido mito da 
neutralidade jornalística, a revista parecia desejosa de exorcizar (-se de) um demônio que vincula à persuasão 
alguns qualificativos como fraude, engodo, mentira. Deixar claro, nesse caso, uma atitude antipersuasiva tem por 
objetivo fixar uma imagem de respeitabilidade/credibilidade junto aos leitores. Supondo-se que a revista espelhasse 
a mais completa lisura, o mais profundo aferramento aos princípios de uma informação não contaminada pela 
presença de interesses vários, ainda assim estaria ela isenta de persuasão? A resposta é negativa. Afinal, o próprio 
slogan da revista, aquela que não persuade, já nos remete à ideia de que estamos diante de um veículo marcado 
pela correção marcado pela correção e honestidade, diferente de outras, e no qual o leitor pode confiar 
plenamente. De certo modo, o ponto de vista do receptor/destinatário é dirigido por um emissor/enunciador que, 
mais ou menos oculto, e falando quase impessoalmente, constrói sob a sutil forma da negação uma afirmação cujo 
propósito é o de persuadir alguém acerca da verdade de outrem. Isso nos revela a existência de graus de 
persuasão: alguns mais visíveis, outros mais ou menos mascarados. 
 Generalizando um pouco a questão, é possível afirmar que o elemento persuasivo está colado ao discurso 
como a pele ao corpo. É muito difícil rastrearmos organizações discursivas que escapem à persuasão; talvez a 
arte, algumas manifestações literárias, jogos verbais, um ou outro texto marcado pelo elemento lúdico. 
 [...] 
CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.5-6 
____________________________________________________________________________________________ 
 
“Os soldados israelenses foram apanhados, sequestrados ou capturados pelos militantes do Hezbollah? Os que 
pertencem a esse movimento são terroristas, militantes ou soldados? A entrada do exército de Israel no Líbano é 
uma invasão ou uma resposta a um ataque? Os sem-teto invadiram ou ocuparam um prédio vazio? A escolha de 
uma palavra implica uma interpretação, feita a partir de um dado ponto de vista”. José Luiz Fiorin 
 
 
 
 
Verdade e verossimilhança 
[...] Persuadir é, sobretudo, a busca de adesão a uma tese,perspectiva, entendimento, conceito etc. evidenciado a 
partir de um ponto de vista que deseja convencer alguém ou um auditório sobre a validade do que se enuncia. 
Quem persuade leva o outro a aceitar determinada ideia, valor, preceito. É aquele irônico conselho que está 
embutido na própria etimologia da palavra: per + suadere = aconselhar. Essa exortação possui um conteúdo que 
deseja ser verdadeiro: alguém “aconselha” outra pessoa acerca da procedência daquilo que está sendo afirmado. 
 É possível que o persuasor não esteja trabalhando com uma verdade ― entendido o termo naquele sentido de 
construção social e não de pretensa referência positiva, muitas vezes carregada de maniqueísmo e moralismo ―, 
mas apenas com verossimilhança. Isto é, algo que brinca de verdade; que se assemelha ao verdadeiro, processo 
garantido através de uma lógica que faz o símile (similar, parecido) confundir-se com o vero (verdadeiro, original). 
 Consideremos a seguinte cena: é véspera de Páscoa, você está na rua e vê um outdoor . Lá está estampado o 
 42 
peru da Sadia, todo avermelhado, brilhante, pedindo para ser comido. Ninguém considera que o peru a ser 
degustado em casa tenha as características cromáticas e de brilho daquele mostrado no cartaz. Porém, não ocorre 
que aquilo que vemos é uma mentira. Ao contrário, sabemos que os processos fotográficos operam verdadeiros 
milagres, acentuando detalhes que redefinem a imagem do produto. O que ocorre ao olharmos a fotomontagem é 
ficarmos convencidos, pela própria imagem, acerca da excelência do peru da Sadia. Ou seja, conquanto o que 
estejamos vendo não seja verdadeiro, é verossímil, e pode nos convencer. [...] 
 Verossímil é, pois, aquilo que se constitui em verdade a partir de sua própria lógica. Daí a necessidade, para 
se construir o “efeito de verdade”, da existência de argumentos, provas, perorações, exórdios, conforme certas 
proposições já formuladas por Aristóteles na Arte retórica. Persuadir não é apenas sinônimo de enganar, mas 
também o resultado de certa organização do discurso que constitui como verdadeiro para o destinatário. 
 CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.14-15 
 
ATIVIDADES 
 
Questão 1 
 
Analise a peça publicitária seguinte, considerando o texto verbal e o não verbal como recursos persuasivos. 
 
 
 
 
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 43 
Questão 2 
 
Explique a questão da verdade e verossimilhança, baseando-se na propaganda: 
 
 
 
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Questão 3 
 
Leia: 
Muitos jornais dizem que buscam a objetividade, a imparcialidade e a neutralidade na transmissão de notícias. 
Afirmam que expressam seus pontos de vista apenas nos editoriais. A maioria dos manuais de jornalismo explica 
que as matérias jornalísticas se dividem em informativas e opinativas. Estas apresentam a opinião do jornal ou 
colaboradores. Aquelas relatam informações. Tal distinção supõe que as notícias sejam narradas de maneira 
imparcial, neutra e objetiva. Em qualquer construção lingüística, a objetividade, a neutralidade e a imparcialidade 
são impossíveis, pois a linguagem está sempre carregada de pontos de vista, da ideologia, das crenças de quem 
produz o texto, como, aliás, reconhece o Manual da Redação da Folha de São Paulo (2001, p.45). 
(Fiorin. Revista Língua Portuguesa. Ano 1. Nº 11. 2006) 
 
 
 
 
De que maneira a notícia seguinte comprova o segmento em destaque no texto de Fiorin? Desenvolva sua 
resposta. 
 
 
 44 
Um grande ibope nas livrarias 
 
A adaptação televisiva de Os Maias, do escritor Eça de Queiroz, se revelou mais promissora para as 
editoras de livros do que para a Rede Globo. A emissora, que no horário ultrapassa facilmente os 20 pontos no 
Ibope em São Paulo, mal tem chegado aos 15 com a exibição da minissérie. Já nas livrarias, os resultados 
surpreenderam. Afinal, antes de a minissérie ir ao ar, a mesma obra vendia míseros 3 mil exemplares por ano. Nos 
últimos três meses, houve um estouro: alcançou a marca dos 40 mil livros vendidos. Está certo que um ponto de 
audiência na TV representa, segundo o Ibope, 44 mil domicílios só na Grande São Paulo. Mesmo assim, o 
mercado editorial agradece a ótima audiência. 
 
 (Tudo o que eu quero, n.3, 18/2/01) 
 
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O discurso dominante 
 
 É importante considerar o discurso persuasivo não apenas como realização de um indivíduo solitário, como se 
fosse algo criado e posto em circulação por uma única pessoa. Certamente, quando um deputado se manifesta na 
tribuna da Câmara, atrás dele estão posições do partido ao qual pertence, a expressão de interesses de eleitores e 
grupos de pressão que representa, a convicção nascida de envolvimentos ideológicos etc. O mesmo se pode dizer 
do padre, do pastor, do aiatolá, do rabino, cada um deles explicando a Bíblia, o Alcorão, a Tora, segundo a tradição 
dos discursos religiosos nos quais estão imersos, ponderando valores que ensejam, dando continuidade a 
referências propostas pelos grandes textos que iluminam as religiões professadas. O deputado ou os religiosos, ao 
se manifestarem, é como se estivessem, também, sendo falados por discursos precedentes. E isso ocorre com 
todos nós, que ― com maior ou menor grau de consciência ― ativamos um complexo jogo dialógico de onde 
podem irromper temas, (pré-)conceitos, valores, conhecimentos, lugares-comuns. Tal processo decorre do caráter 
social que a linguagem possui e que permite circular, através dela, os fluxos comunicativos que integram diferentes 
tipos de vozes e lugares onde os discursos são produzidos (venham de grandes instituições, dos campos 
profissionais, do cotidiano ou das tribos urbanas). 
 Em síntese, os discursos persuasivos, conquanto manifestados através de um enunciador, seja ele individual ou 
coletivo (considere-se uma campanha publicitária ou um editorial jornalístico em que não aparece assinatura de 
ninguém e, portanto, não sabemos exatamente quem produziu), devem ser vistos como resultantes de conjuntos 
maiores, a que chamaremos formações discursivas. 
 São as grandes formações discursivas que dão alguma unidade aos discursos das instituições, entendidas aqui 
como o judiciário, a igreja, o exército, a escola, a medicina etc. Compreende-se porque existem recorrências nas 
 45 
falas dos advogados, dos religiosos, dos professores, dos médicos. Tal recorrência resulta do fato de os sujeitos 
tenderem a atualizar em seus discursos, textos ou pronunciamentos, as formações discursivas com as/nas quais 
convivem. Engenheiros não fazem plantas de edifícios usando linguagem jurídica, assim como advogados não se 
atrevem a apresentarao juiz uma petição em forma de diagramas, cálculos matemáticos, desenhos de salas, 
quartos, edículas. As formações discursivas, de certo modo, regulam as retóricas profissionais, incluindo os jargões 
delas, e com isto permitem identificar os campos de atividades que são do engenheiro ou do advogado. 
 Certamente existem cruzamentos, hibridizações, resultantes dos vários diálogos permitidos pela linguagem, o 
que dá certa plasticidade às formações discursivas. Para o que nos interessa no momento é importante fixar a ideia 
de que, ao falarmos, somos também falados por grandes unidades de linguagem, que carregam consigo temas, 
problemas, valores, conceitos. Deste modo, “nossas opiniões” podem não ser tão “nossas” como imaginamos. A 
“nossa opinião” quase sempre resulta dos cruzamentos antes referidos, muitos deles pouco percebidos, outros nem 
sequer identificados, mas presentes neste enorme fluxo representado pelas formações discursivas e seus múltiplos 
envolvimentos. [...] 
 Daí a insistência na necessidade de identificar discursos dominantes que ajudam a formar muitas das 
convicções, opiniões, crenças que manifestamos. A tentativa de se reproduzir dominância discursiva faz parte das 
lutas pela construção de hegemonias de poder que se afirmam na sociedade. [...] 
 Ainda que não haja intuito de ampliar esse ponto, convém lembrar que junto com as lutas sociais, com os 
embates pela afirmação de interesses de grupos e classes, desenvolvem-se os conflitos discursivos, e entre eles a 
vontade de afirmar a dominância de um discurso sobre o outro. Sabe-se, ademais, que sendo maior a 
produtividade persuasiva, mais intensa será a possibilidade de construção dos discursos que se pretendem 
hegemônicos. 
 Para observar a presença desse fenômeno, é só atentar para os jornais, as revistas, os telejornais, as 
campanhas publicitárias e reconhecer como agem os partidos políticos, as autoridades do judiciário, do executivo, 
aqueles que, de alguma maneira, representam interesses de corporações, instituições, empresas, associações etc. 
Estamos, neste aspecto, vivendo, cotidianamente, num grande cenário onde se desenvolvem, pela via da 
persuasão, lutas pela hegemonia e pela busca de formas discursivas dominantes. 
CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.36-41 
 
O discurso autorizado 
 
 Segundo Marilena Chauí, “O discurso competente é o discurso instituído. É aquele no qual a linguagem sofre 
uma restrição que poderia ser assim resumida: não é qualquer um que pode dizer a qualquer outro qualquer coisa 
em qualquer lugar e em qualquer circunstância. O discurso competente confunde-se, pois, com a linguagem 
institucionalmente permitida ou autorizada, isto é, um discurso no qual os interlocutores já foram previamente 
reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir, no qual os lugares e as circunstâncias já foram predeterminados 
para que seja permitido falar e ouvir e, enfim, no qual o conteúdo e a forma já foram autorizados segundo os 
cânones da esfera de sua própria competência. 
[...] aceita-se a ideologia da competência, a partir da ideia de que há, na sociedade, os que sabem e os que não 
sabem, que os primeiros são competentes e têm o direito de mandar e de exercer poderes, enquanto os demais 
são incompetentes, devendo obedecer e ser mandados. A sociedade é dirigida e comandada pelos que sabem e 
 46 
os demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas. Assim surge a crença na mitologia da ciência como 
se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às 
religiões, como um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis". 
CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2003 
 
O discurso lúdico 
 
 Consideremos que esta seria a forma mais aberta do discurso. Residiria aqui um menor grau de persuasão, 
tendendo, em alguns casos, ao quase desaparecimento do imperativo e da verdade única e acabada. Lúdico 
significa jogo. Seria, pois, um tipo discursivo marcado pelo jogo de interlocuções. Ou seja, o movimento dialógico 
eu-tu-eu torna-se dinâmico e passa a conviver com signos mais abertos: há menos verdade de um, logo, menos 
desejo de convencer. Aqui, o signo ganha dimensão múltipla, plural, de forte polissemia: os sentidos se estilhaçam, 
expondo as riquezas de novos sentidos. Os signos se abrem e revelam a poesia da descoberta; a aventura dos 
significados passa a ter o sabor do encontro de outros significados. 
 O discurso lúdico compreenderia boa parte da produção artística, por exemplo, a música, a poesia. [...] 
 A própria descoberta da linguagem pela criança tem muito desse caráter de jogo com as palavras: há prazer e 
encantamento com os mistérios dos sons, com a arbitrária relação entre certas sílabas ou palavras e objetos e 
situações. 
CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.48-49 
 
Poesia 
Gastei uma hora pensando um verso 
Que a pena não quer escrever. 
No entanto, ele está cá dentro 
Inquieto e vivo. 
Mas a poesia deste momento 
Inunda minha vida inteira. [...] 
 
ANDRADE, Carlos Drummond de. 
Carlos Drummond de Andrade: poesia e prosa. 
8. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 20) 
 
Tinha suspirado, tinha beijado o papel 
devotamente! Era a primeira vez que lhe 
escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu 
orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía 
delas, como um corpo ressequido que se estira 
num banho tépido; sentia um acréscimo de estima 
por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim 
numa existência superiormente interessante, 
onde cada hora tinha o seu encanto diferente, 
cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se 
cobria de um luxo radioso de sensações! 
 
Primo Basílio - Eça de Queiroz (1878) 
 
O discurso polêmico 
 
 Cria um novo centramento na relação entre os interlocutores, aumentando o grau de persuasão. Agora, os 
conceitos enunciados são dirigidos como num embate/debate. Há luta onde uma voz tentará se impor a outra. 
Nesse caso, o grau de polissemia tende a baixar, dado existir o desejo do eu em dominar o referente. O discurso 
polêmico possui certo grau de instigação, visto apresentar argumentos que podem ser contestados. [...] 
 O discurso polêmico pode ser encontrado em situações variadas: defesa de tese, avaliações sobre problemas 
nacionais, encaminhamento de posições políticas etc. As discussões sobre o andamento das reformas 
previdenciária e tributária, os debates sobre clonagem humana, os problemas envolvendo a luta entre israelenses e 
palestinos têm permitido acumular vasto material polêmico posto em circulação. [...] 
(CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.49-50) 
 
 47 
O discurso autoritário 
 
 Essa formação discursiva registra forte marca persuasiva. Conquanto no discurso polêmico também haja 
persuasão, é aqui que se instalam todas as condições para o exercício da dominação pela palavra. O processo de 
comunicação (eu-tu-eu) praticamente desaparece, visto que o tu se transforma em receptor com pouca ou 
nenhuma capacidade de interferir e modificar o que está sendo dito. É um discurso exclusivista, pouco afeito a 
aceitar mediações ou ponderações. O signo se fecha e irrompe a voz da “autoridade” sobre o assunto, aquele que 
irá ditar verdades como num ritual entre a glória e a cataquese. O discurso autoritário lembra um circunlóquio: 
como se alguém falasse para um auditório composto por ele mesmo. É nessa forma discursiva que o poder mais 
escancara suas formas de dominação. 
 O discurso autoritário pode ser encontrado, de forma mais ou menos mascarada, na família: o paique manda, a 
despeito de usar, muitas vezes, a máscara/disfarce escondida sob o nome de conselho; na igreja: o padre ou o 
pastor que ameaçam os pecadores com o fogo do inferno – para que os pecadores não conheçam a ira do Senhor, 
é preciso retornar ao rebanho convertendo-se, seguindo os ensinamentos da igreja etc.; no quartel: a retórica 
carregada de chamados patrióticos e recomendações visando preservar o princípio da hierarquia; na comunicação 
de massa: o apelo publicitário que tem por objetivo racionalizar as vendas e tornar imperativa a necessidade de se 
consumir determinado produto, bem ou serviço etc. 
(CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 16ª ed. SP, Ática, 2005. p.50-51) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 48 
ATIVIDADES 
Leia o texto seguinte: 
O olhar crítico sobre o Brasil 
 Arnaldo Jabor 
Como exercer o quarto poder do jornalismo na democracia 
Domingo passado, participei de um seminário organizado pelo "Jornal da Globo" sobre nossa vida de 
jornalistas, esse quarto poder tão importante num país onde a crise cresce como um maremoto. No domingo, tentei 
abrir a alma e dizer o que penso da função crítica dos jornais e da mídia eletrônica. Falei para jovens jornalistas e 
perguntei a eles: 
Sabemos que empresas querem lucro, profissionais querem viver, comer, aparecer, sim, mas afinal o que 
nos move? Que grão de esperança ou romantismo treme em nossos textos? Amor à pátria, esperança de 
harmonia, combate ao crime e à mentira? O quê? 
A imprensa democrática cumpre um papel imenso, nesse vazio reflexivo em que nos meteram há quatro 
séculos. Temos uma população mergulhada na ignorância e no a-criticismo. A grande maioria é fácil de enganar. 
Vejam as multidões de vítimas de evangélicos corruptos e os milhões de votos do neocabresto moderno: os 
"bolsistas da família". 
Nunca me esqueci da formulação de Brecht, o "efeito de estranhamento", ou seja, "ver por trás do familiar o 
que existe de estranho, desumano". Que fatos sinistros há embaixo dos fatos que nos parecem normais? Que 
doença se disfarça de saúde? Isso sempre me moveu, desde o Cinema Novo até hoje. Disse a eles, portanto, que 
a imprensa deve ser "crítica" em primeiro lugar. E "crítica" não quer dizer "ataque" ou "denúncia" apenas, mas 
avaliação, busca de entendimento, que pode ir da mais amarela bile de ódio até propostas de positividade. Disse 
também a eles: tentemos a difícil tarefa de pensar sem ideologia. Isso. Entender os fatos sem um pré-conceito. O 
pensamento ideológico distorce a realidade para fazê-la caber num a priori, numa certeza anterior ao fato. Dificílimo 
isso, pois somos todos seres "ideológicos". Se alguma forma de ideologia quer ter (para além de esquerda ou 
direita, essa velha dualidade), é procurar a presença do que é humanizante ou civilizatório, o que pode aumentar a 
qualidade da vida pessoal e do interesse público. Como dizia Marco Aurélio (não o Garcia, nem o de Mello, claro), 
o imperador: "O que é bom para a abelha tem de ser bom para a colmeia". Disse a eles que a denúncia pura no 
Brasil é muito fácil, porque há um excesso inacreditável de absurdos no dia-a-dia. Vivemos em um momento 
histórico em que tudo parece desabar, o que pode nos levar ao que os psiquiatras chamam de "delírio de ruína". 
Disse-lhes do meu medo de que a denúncia mecânica, o trágico espetacular, o horror como rotina pode ser até 
mais lucrativo para quem denuncia do que para quem o sofre. 
 Acho que o catastrofismo beneficia o atraso e os reacionários, aqueles que vivem do erro nacional, dos 
buracos das instituições, da fraqueza de nossa formação. Falei que somos todos parte do "grande erro" e que 
devemos nos incluir no que criticamos. Há certos articulistas que se salvam do abismo, que falam como se não 
fizessem parte do país. 
Vivemos um momento perigosíssimo, com as velhas doenças brasileiras se agravando em ritmo veloz, 
diante da impotência dos poderes públicos. Os fatos estão cada vez mais além das interpretações, os crimes 
ocorrem numa velocidade de jatos e as formas de combatê-los se arrastam. Os criminosos da violência ou da 
corrupção já perceberam essa lentidão impotente e estão curtindo a anomia progressiva com o descaro de se 
saberem impunes. Essa espantosa crise institucional pode ameaçar a democracia, tão mal entendida no país, 
como falou Sergio Buarque. Há o perigo de contaminação pela estupidez populista dos países liderados pelo 
fascista Chavez, já que nada se resolve. Também falei que ficar na dualidade antiga e burra de esquerda x direita 
não esgota a análise dos fatos. O que nos paralisa não é a malignidade de grupos, mas velhos vícios endógenos, 
velhos vícios ibéricos que nos incluem e que nos impedem de progredir. 
Lembrei-lhes que nossas doenças são a corrupção endêmica, o burocratismo paralisante, o clientelismo 
cordial, o personalismo ridículo, o salvacionismo messiânico, o arcaísmo das leis, a ausência de noção de 
"república". O jornalismo tem de ser uma espécie de psicanálise de nossos vícios e não a mera procura de 
culpados. 
Também disse que, no seio do romantismo revolucionário dos anos 60, havia uma "finalidade" a se atingir, 
uma utopia que substituía o presente e o "possível" pelo imaginário. Esse pensamento mágico destrói a 
 49 
administração da vida real em nome de um futuro que não chega nunca. Hoje, temos de aceitar a impossibilidade 
de uma harmonia final. Nunca teremos um país perfeito, resolvido. Nunca chegaremos "lá". 
Um dos "bons" (sic) legados da ditadura é que ela mostrou que o Brasil era muito mais complexo do que se 
pensava. O fracasso da esquerda em 64 e, depois, o suicídio da guerra urbana de 69 em diante mostraram o 
absurdo do voluntarismo burro da velha esquerda. Houve um real espasmo de democracia nos anos seguintes a 
85, mesmo com as tragédias que começaram com a morte de Tancredo até a hiperinflação dos anos 80 até 94. 
Agora, estamos em uma fase em que o perigo é o eterno pêndulo entre liberalismo e Estado centralizador. Temos 
uma atávica fixação no Estado salvador. 
A complexidade lenta da democracia está a nos trazer saudades do simplismo velho de guerra. Na primeira 
fase da era-Lula, o petismo "corrupto-bolchevista" tentou tomar o Estado mas, espantosamente, fomos salvos pelo 
Jefferson, com sua legitimidade de corrupto confesso. 
Agora, corremos o perigo do deslumbramento messiânico do Lula, achando que é um santo milagreiro. 
 O perigo atual é o regressismo à burrice de quatro séculos. Aos poucos, o rabo do lagarto do atraso se 
recompõe. Com um leve sabor de sacrilégio, disse-lhes que só um "choque de capitalismo" poderá destruir o 
estamento patrimonialista que nos anestesia. Não adianta anunciar catástrofes. É preciso ensinar a população a se 
defender do Estado vampírico, do "Leviatã anêmico", como bem definiu Eduardo Gianetti da Fonseca. O resto - 
disse-lhes - é papo morto. 
 
Jornal O Globo – Segundo Caderno - 20/3/2007 
QUESTÕES 
1) Releia: “A imprensa democrática cumpre um papel imenso, nesse vazio reflexivo em que nos meteram há quatro 
séculos. Temos uma população mergulhada na ignorância e no a-criticismo. A grande maioria é fácil de enganar. 
Vejam as multidões de vítimas de evangélicos corruptos e os milhões de votos do neocabresto moderno: os 
‘bolsistas da família’”. 
Explique de que maneira o posicionamento de Arnaldo Jabor explicitado acima se relaciona à seguinte afirmação: 
→ O discurso não reflete uma representação sensível do mundo, mas uma abstração efetuada pela prática 
social. 
 
 
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2) Jabor afirmou no 4º parágrafo que “O pensamento ideológico distorce a realidade para fazê-la caber num a 
priori, numa certeza anterior ao fato. Dificílimo isso, pois somos todos seres ‘ideológicos’...” 
 Comente essa opinião, apontando exemplos práticos, do dia-a-dia, que a deixem mais evidente aos olhos de um 
suposto leitor de sua resposta. 
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3) Considerando o contexto em que Arnaldo Jabor discutiu questões relativas ao jornalismo, poderíamos afirmar 
que o seu discurso é polêmico ou autoritário? Comente sua resposta. 
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QUESTÕES LINGUÍSTICAS 
PONTUAÇÃO 
 
 1) As vírgulas do texto seguinte foram retiradas. Coloque-as onde achar necessário: 
 
 
Cúmplices da onda 
 Mil anos atrás o sábio rei Canute soberano da Inglaterra e Dinamarca cansou-se de ouvir os 
aspones1 da corte dizerem que ele jamais seria desobedecido. Levou-os a uma praia e lá ordenou à maré que 
parasse de subir. Quando todos já estavam com água pelas canelas os cortesãos entenderam o recado e pararam 
de encher a paciência de Sua Majestade com elogios impossíveis. 
 Como a maré tsunamis não atendem a ordens humanas. Saltam sobre suas vítimas com fúria destruidora 
porque essa é a sua natureza.Nem por isso a tragédia é desacompanhada de vilões de todo tipo e tamanho. No Sri 
Lanka agem grupos de estupradores de mulheres e crianças nos abrigos improvisados enquanto guerrilheiros de 
um movimento separatista se dedicam ao sequestro de menores. Na Indonésia funcionários locais distribuem a 
ajuda estrangeira apenas para parentes e amigos. Ao largo de Sumatra piratas atacam barcos que chegam com 
suprimentos. Os casos de crianças roubadas são centenas talvez milhares. 
 Ainda há lugar no banco dos réus humanos? Claro: por exemplo para os governos que jamais ensinaram 
em suas escolas o que é tsunami — fenômeno certamente raro mas que pode acontecer a qualquer momento na 
região. Poucos cidadãos e autoridades em todos os países atingidos sabiam que o mar só recua daquela forma 
para logo em seguida voltar com fúria. Filmes mostram pessoas correndo alegremente atrás da água que parecia 
fugir. 
 Não acaba aí a lista dos vilões. Se valem os precedentes mais uma vez estão em cena governantes que 
pegam carona em tragédias: prometem mundos e fundos ganham manchete no jornal e imagem na TV — e no fim 
das contas o mundo fica sem fundos. Como em exemplo citado pelo secretário-geral da ONU Kofi Annan: depois 
de arrasada por um terremoto em 2003 a cidade iraniana de Bam recebeu promessa de ajuda internacional de US$ 
1,1 bilhão. Até hoje só recebeu US$ 17,5 milhões. 
 O presidente dos Estados Unidos não foi um dos vilões mas tem escalação no time dos simplórios sempre 
perigosos. Ao saber da tragédia ofereceu US$ 15 milhões para serem divididos entre todos os países vitimados. O 
mundo inteiro e seus próprios eleitores reclamaram e dias depois a promessa de ajuda subiu para US$ 350 
milhões. O pulo denuncia leviandade inapelável: quem anuncia 15 e pouco depois pula para 350 obviamente não 
pensa antes de falar. O presidente deveria se livrar do leviano que calculou o valor do socorro — exceto claro se 
puder encontrá-lo apenas no espelho. (...) 
 Repetindo: é tão inútil esbravejar contra fenômenos físicos quanto dar ordens às marés. Mas quando o 
mar recua e sobram apenas as imagens da destruição não é impossível e deveria ser obrigatório identificar os 
facilitadores de tragédias e os aproveitadores do horror. 
 
Luiz Garcia – Texto extraído do jornal O Globo, do dia 7/1/05 – Caderno Opinião – p. 7. 
 52 
 
 
2) Elimine as vírgulas acrescentadas equivocadamente no texto seguinte: 
 
 
Poluição ambiental 
 
Carro fechado, mesmo com ar-condicionado, concentra poluentes além do recomendado pela OMS, e faz motorista respirar pior ar 
que pedestre 
Relógios alertando para a má qualidade do ar, não são novidade. O que poucos sabem, porém, é que os 
motoristas estão mais vulneráveis a gases tóxicos do que os pedestres. 
Um estudo feito para a Folha pelo Eco Quest do Brasil, que monitora a qualidade do ar em interiores, avaliou 
o ar em um carro fechado com duas e quatro pessoas durante uma hora na região central de São Paulo. 
Em apenas quatro minutos, o valor de CO (monóxido de carbono) em um carro com o motorista e um 
passageiro, superou em até quatro vezes o limite estabelecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) 
para ambientes fechados. E usar o ar-condicionado não adianta. Os testes foram feitos com o equipamento 
ligado e admitindo o ar externo. 
"Mesmo com o ar-condicionado, o carro fechado ganha pouco ar de fora. Melhora só se abrirmos os vidros", 
explica Maria José Silveira, da Brasindoor (Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle de Qualidade 
do Ar de Interiores). 
"O carro é uma espécie de câmara de intoxicação. A poluição entra e não sai", diz Paulo Saldiva, 
coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP (Universidade de São Paulo). 
Segundo ele, testes revelam, que a concentração de partículas tóxicas no interior do veículo fechado, é o 
quádruplo do que na calçada ao lado. 
Para Silveira, o problema é não haver, em nenhum lugar do mundo, uma norma específica para os carros. 
Por isso as montadoras mantêm, os filtros de ar-condicionado antipólen. "Eles evitam crises alérgicas em 
época de polinização, e não a entrada de gases tóxicos." 
Procurada pela Folha, a Anfavea (associação de fabricantes de veículos), não comentou. [...] 
 Folha de São Paulo – veículos - 05 de maio de 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 53 
TEXTOS PARA DISCUSSÃO 
 
 
ESTILO 
 
Como escreve um jornalista? Numa palavra: depressa. 
Não apenas isso, é claro, mas há razão para mencioná-lo de saída: em nenhum outro ofício de escritor a 
pressão dos horários é tão cruel e inevitável. Relatórios têm de ser informativos e precisos, a obra literária pede 
elegância de estilo; só o jornalismo requer tudo isso, e depressa, sem que a rapidez seja desculpa válida para o 
erro ou a mediocridade. 
A qualquer velocidade, exige-se fidelidade a três requisitos: exatidão (para não enganar o leitor), clareza 
(para que ele entenda o que lê) e concisão (para não desperdiçar nem o tempo dele nem o espaço do jornal). É 
claro que, se isso bastasse, o jornal pareceria um enorme telegrama: conciso,claro, exato e enfadonho. 
Para que o seu texto escape desse horrível destino, o jornalista conta com normas técnicas (algumas 
universais, outras peculiares a cada jornal) que orientam a redação. Bem aprendidas, elas levam o profissional até 
certo ponto. A partir daí, entra em jogo o talento de cada um. 
Em muitas situações, pede-se ao jornalista apenas que seja bom artesão, competente, aplicado, honesto. 
Em outras, há espaço para a qualidade literária, e será imperdoável desperdiçar a oportunidade. No terreno do 
apuro literário, nenhum manual tem muito a ensinar. Basta lembrar: só escreve bem, acima da pura habilitação 
técnica, quem lê muito e escolhe bem o que lê. 
Em qualquer caso, a preocupação com o estilo ― no artesão e no artista que convivem em cada jornalista 
― é indispensável para atrair a atenção do leitor. 
Este, ao passar os olhos pelo jornal, seleciona o que vai ler procurando aquilo que sente ser importante e 
o que lhe desperta a curiosidade. Só lerá de cabo a rabo aquilo que entender e de que gostar. 
É por isso que escrever bem é tão fundamental para o jornalista quanto apurar bem: de que vale a notícia 
cuja apresentação não faz lida, compreendida, apreciada? 
[...] Vale a pena lembrar o que George Orwell escreveu em 1946, expressando sua irritação com os maus 
hábitos estilísticos de ensaístas ingleses daquele tempo: 
“Um homem pode ser levado a beber porque se considera um fracassado, e a seguir fracassar mais ainda 
porque bebe. Mais ou menos a mesma coisa está acontecendo com a língua inglesa. Torna-se feia e imprecisa 
porque nossas idéias são tolas, mas a falta de apuro da linguagem contribui para que tenhamos idéias tolas... 
Nada tem de frívola a guerra ao mau uso da língua”. 
 
LINGUAGEM 
 
Não convém estabelecer parâmetros sobre o que seria uma linguagem própria do texto jornalístico: 
acaba-se chegando a um estilo padronizado, fiel seguidor de receitas e destituído de imaginação [...] Quanto a 
receitas, algumas são citadas, mas um princípio vale para todas: é bom conhecê-las bem, para saber desprezá-las 
na hora certa. 
 
► As profissões, atividades e ramos do conhecimento têm vocabulários próprios, com expressões que o leitor 
médio ignora. Muitas vezes é preciso usá-las, mas sempre explicando do que se trata. Essa precaução oferece 
dupla vantagem: torna a matéria inteligível e impede que o repórter escreva sobre o que não entende. Se nem 
sempre é possível fugir dos termos técnicos, não há desculpa para adotar modismos e maneirismos verbais. O 
economista se preocupa com “reversão negativa de expectativas”; o jornalista resumirá para “decepção”. O 
advogado faz rapapé com “egrégia corte”; o jornalista secamente dirá “tribunal”. [...] 
 
► Não é difícil manter-se vigilante contra a linguagem complicada dos outros. Só um jornalista muito ingênuo 
acha que valoriza o seu texto quando recorre a expressões como “jornalismo enquanto profissão” (dando à 
conjunção “enquanto” função que “como” sempre exerceu muito bem) ou “a nível de” (variação gratuita de “em 
nível de”). E a questão não é apenas de pureza de estilo. Com muita frequência, termos empolados, técnicos ou 
pseudotécnicos são usados por burocratas, economistas, políticos etc. para esconder a realidade; às vezes, para 
impedir que se descubra que não conhecem os fatos ou não sabem o que dizer sobre eles. O jornalista que adota 
o palavreado alheio sem espírito crítico corre o risco de estar sendo cúmplice numa conspiração contra a 
informação. [...] 
 
► O texto deve mesmo ser elegante ― e não há elegância sem simplicidade, o que significa desprezo ao enfeite 
gratuito, ao falso intelectualismo, à cópia da banalidade alheia. [...] 
 
► Usa-se também a sabedoria popular para enriquecer o estilo. Mas é bom lembrar: o que prende o leitor é o 
 54 
inusitado; o banal dá sono. Ele bocejará ao ser informado que numa casa de ferreiro havia espeto de pau, mas 
talvez ache graça em conhecer a história de dois bicudos que se beijaram, ou da água mole que não conseguiu 
furar a pedra dura. 
 
► Resumindo, aqui vai um lista de virtudes do bom texto: originalidade, cor local, ambiente, detalhes que ajudem 
o leitor a visualizar uma situação, simplicidade na explicação, ironia (sempre leve, jamais ofensiva em nível 
pessoal e sempre acessível a inteligências medianas), referências históricas e literárias (para enriquecer a 
informação, nunca para mostrar erudição), respeito pela inteligência do leitor, respeito pela ignorância do leitor. 
 E um rol de defeitos do mau texto: pedantismo, verborragia, editorialização (enxerto de opinião em texto 
supostamente noticioso), ambiguidade, inexatidão, exagero, nariz-de-cera (abertura de texto que se perde em 
divagações e comentários genéricos), lugar-comum, repetição, redundância, contradição, detalhes inúteis ou 
óbvios, falta de ritmo, humor grosseiro (trocadilhos, principalmente). 
 
O GLOBO. Manual de redação e estilo/ organizado e editado por Luiz Garcia. 7ª ed. SP: Globo, 1992. 
____________________________________________________________________________________________ 
 
MANCHETES 
 
1) SOLDADO VILLA-LOBOS DÁ BAIXA DA LEGIÃO 
 
Guitarrista estréia solo em CD e DVD e deixa a tarefa de administrar a herança da banda para seus advogados 
O Globo, Segundo Caderno - 27/11/2005. 
 
2) SEXO NA CABEÇA 
O psiquiatra Simon Baron-Cohen acredita que a diferença entre homens e mulheres está no cérebro. GRECO, 
Alessandro. In: Superinteressante, nº 186. 
3) REPORTAGEM DO “CIDADE ALERTA” ATROPELA E MATA 
 
Uma moto do “Cidade Alerta”, da Record, atropelou duas pessoas ontem, na Barra Funda. Uma delas morreu. 
Segundo a polícia, um carro bateu na moto, causando o acidente. 
São Paulo Agora, 21/10/2003. 
 
4) KIRCHNER PÕE MULHER PARA TOCAR ECONOMIA 
A Notícia, 29/11/05. 
 
5) CAÇADOR CONFUNDE HOMEM COM PERU E ATIRA NOS EUA 
 Portal do Terra, 15/12/2005. 
 
6) BOCHÓFILA DO OESTE REPRESENTA BRASIL NOS EUA 
A Notícia, 15/09/2005, p. B1. 
 
7) CELSO FURTADO É ENTERRADO NO RIO, SEM LULA 
O Globo, 22/11/2004. 
 
8) NÃO LAVAR O BILAU PROVOCA CÂNCER 
Meia Hora, 10/05/2007 
 
9) POLICIAS E MANIFESTANTES FERIRAM-SE NA PASSEATA 
Jornal do Brasil, 10/01/2009 
 
10) POLÍCIA CATA RESTOS DE ELIZA NO BUCHO DO CÃO DO DIABO 
Meia Hora, 14/7/2010 
 
11) DOENÇA FAZ MANDIOCÃO DE AGRICULTOR CRESCER SEM PARAR 
Meia Hora, 07/4/2011 
 
12) DOIS MORTOS ANDAVAM PELO ELEVADO DE 120t, QUE DESABOU SOBRE DOIS CARROS 
Folha de São Paulo, 29/01/2014 
 55 
 
 
A FACA DOS EDITORES 
 
Dos dois maiores fantasmas da vida nas redações, o tamanho do texto e o prazo de fechamento, o 
primeiro é aterrador porque toca no ego do autor. Texto jornalístico é concreto, passível de ser medido em 
centímetros ou em tempo de leitura. Se não couber no espaço reservado para ele, entra na faca dos editores. 
“Corta pelo pé”, gritavam editores dos anos 70. A ordem tinha uma lógica. Esperava-se que as informações mais 
importantes estivessem no início do texto. Assim, se estava grande demais, cortavam-se as linhas finais ― o pé da 
matéria. 
Hoje, nem sempre se corta pelo pé, porque a organização dos textos mudou, mas ainda se corta sem a 
menor consideração pelos talentos literários de que o repórter se julga depositário. Entregar a matéria no tamanho 
pedido é tão importante quanto descobrir um furo de reportagem. Não adianta reclamar. Os diagramadores, 
responsáveis pelo desenho das páginas, mandam nos jornais. O espaço, limitado assim como o tempo dos 
telejornais e dos programas de rádio, é uma das maiores fontes de insatisfação nas redações. 
A ditadura do espaço, como toda ditadura, é danosa também quando tem efeito contrário. Há situações ― 
raras, é verdade ― nas quais o jornalista precisa aumentar o texto em vez de reduzi-lo. Acredite: encher linguiça é 
a pior praga do trabalho. Na falta do que dizer, repórteres publicamdeclarações das fontes na íntegra, incluem 
descrições pouco importantes e cedem à tentação literária. Tomam o tempo do leitor, irritam-no e ocupam espaço 
precioso com informações de quinta categoria. Mas não há nada a fazer. O jeito é caprichar na apuração para a 
eventualidade. 
 
A PRESSÃO DO FECHAMENTO 
 
 O processo industrial também funciona sob rigoroso controle de horários. Atrasos no fechamento causam 
efeito dominó desastroso e caro. As empresas pagam horas extras aos trabalhadores das gráficas e 
comprometem todo o sistema de logística para a distribuição dos exemplares às bancas. Os prejuízos são altos 
para os veículos de circulação nacional, dependentes de horários de vôos. Se os jornais desembarcarem nas 
bancas depois das 7h30, os compradores avulsos terão seguido para o trabalho sem o exemplar do dia debaixo do 
braço. 
 O resultado do atraso é trágico. Assinantes telefonam raivosos. Cobram o cumprimento do horário de 
entrega e ameaçam cancelar a assinatura. Os leitores eventuais comprarão o jornal do concorrente. Há ainda 
perda de credibilidade. Autoridades, empresários e outros profissionais, leitores diários por dever de ofício, 
iniciarão a jornada de trabalho sem as informações do veículo. Resultado: matérias não serão lidas nem trarão 
repercussão pública. [...] 
 A ditadura dos prazos industriais cria eterno conflito entre dar bem uma matéria e fechar no horário. No 
corre-corre, os repórteres se empenham em incluir informações atualizadas (ou “quentes”, no jargão jornalístico) 
nas matérias do dia. Alguns eventos começam pela manhã e só terminam na hora de ir para casa. Essa situação 
exige rapidez do profissional na apuração e, principalmente, na hora de escrever. Não há tempo para revisões 
cuidadosas nem para reescrever o texto. A margem do risco para ocorrência de erros aumenta à medida que o 
prazo final se aproxima. 
 Resultado: jornais e revistas estão cheinhos de pérolas. Os leitores atentos as anotam. Depois, não 
deixam por menos. Soltam relações na internet. Eis algumas preciosidades: 
 
► Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério para satisfação dos habitantes. 
 A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano. 
 Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente. 
 
 Mais: 
 
► Os sete artistas compõem um trio de talento. 
 A vítima foi estrangulada a golpes de facão. 
 Os nossos leitores nos desculparão por esse erro indesculpável. 
 Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis a suas origens. 
 No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos. 
 Ela contraiu a doença na época em que ainda estava viva. 
 
 Mais ainda: 
 
► O aumento do desemprego foi de 0% em novembro. 
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 As circunstâncias da morte do chefe de iluminação permanecem rigorosamente obscuras. 
 O presidente de hora é um jovem septuagenário de 81 anos. 
 Parece que ela foi morta pelo assassino. 
 Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça. 
 A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço. 
 O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das Bermudas. 
[...] 
 Quer mais? Leia o jornal que está a seu lado. E acredite: na disputa entre fechamento e boa edição, a 
qualidade sai perdendo. 
 
SQUARISI, Dad. A arte de escrever bem: um guia para jornalistas e profissionais do texto/ Dad Squarisi, Arlete Salvador. São Paulo: 
Contexto, 2004. 
 
 
QUESTÕES LINGUÍSTICAS 
USO DOS PRONOMES DEMONSTRATIVOS 
1- Os pronomes demonstrativos demonstram a posição de um elemento qualquer em relação às pessoas do 
discurso, situando-os no espaço, no tempo ou no próprio discurso. 
Eles se apresentam em formas variáveis (gênero e número) e não-variáveis. 
 Pronomes Demonstrativos 
Primeira pessoa Este, estes, esta, estas, isto 
Segunda pessoa Esse, esses, essa, essas, isso 
Terceira pessoa Aquele, aqueles, aquela, aquelas, aquilo 
→ As formas de primeira pessoa indicam proximidade de quem fala ou escreve: 
 Este senhor ao meu lado é o meu avô. 
→ Os demonstrativos de primeira pessoa podem indicar também o tempo presente em relação a quem fala 
ou escreve. 
Nestas últimas horas tenho me sentido mais cansado que nunca. 
 
→ As formas de segunda pessoa indicam proximidade da pessoa a quem se fala ou escreve: 
Essa foto que você tem na mão é antiga? 
 
→ Os pronomes de terceira pessoa marcam posição próxima da pessoa de quem se fala ou posição distante 
dos dois interlocutores. 
Aquela foto que ele tem na mão é antiga. 
2- Os pronomes demonstrativos, além de marcar posição no espaço, marcam posição no tempo. 
→ Este (e flexões) marca um tempo atual ao ato da fala. 
Neste instante minha irmã está trabalhando. 
 
→ Esse (e flexões) marca um tempo anterior relativamente próximo ao ato da fala. 
No mês passado fui promovida no trabalho. Nesse mesmo mês comprei meu apartamento. 
 
 
→ Aquele (e flexões) marca um tempo remotamente anterior ao ato da fala. 
Meu avô nasceu na década de 1930. Naquela época podia-se caminhar à noite em segurança. 
3- Os pronomes demonstrativos servem para fazer referência ao que já foi dito e ao que se vai dizer, no interior do 
discurso. 
→ Este (e flexões) faz referência àquilo que vai ser dito posteriormente. 
Espero sinceramente isto: que seja muito feliz. 
 57 
→ Esse (e flexões) faz referência àquilo que já fio dito no discurso. 
Que seja muito feliz: é isso que espero. 
→ Este em oposição a aquele quando se quer fazer referência a elementos já mencionados, este se refere ao 
mais próximo, aquele, ao mais distante. 
Romance e Suspense são gêneros que me agradam; este me deixa ansioso, aquele, sensível. 
PRÁTICA 
Empregue, adequadamente, nas lacunas os demonstrativos: 
1 – Tenha sempre lembrança _______ : eu o amo e sempre o amarei. 
2 – Por que você está usando _______ calça rasgada? 
3 – Como são difíceis ________ dias que estamos atravessando! 
4 – O perdão e a vingança se opõem frontalmente: _______ degrada os homens; _______ os eleva. 
5 – Senhor Presidente: em resposta ao ofício nº 5/92 _______ Presidência, peço vênia para esclarecer que 
_______ Divisão que me cabe dirigir não pode ser responsabilizada por todas _______ irregularidades a que V. 
Exa. se refere. 
6 - _______ mês em que estamos está passando rápido. 
7 – ______ documentos que envio anexos no email solucionarão suas dúvidas. 
8 – Má escovação causa inflamação na gengiva e ______ todos deviam saber. 
9 - Você quer ______ lápis que está comigo? 
10- Passe-me ______ caneta que está perto de você. 
11- Passe-me depressa ______ solução, você já resolveu o problema e eu não. 
12- Decidi fazer ______ em benefício de minha saúde: não bebo nem fumo mais. 
 
 
HOMÔNIMOS E PARÔNIMOS 
 
Complete as lacunas com a palavra adequada: 
 
1) Guardando o nosso segredo, você agirá com _______________.(descrição – discrição) 
 
2) Participaremos amanhã da primeira __________________do filme de Robert De Niro. (seção – sessão – 
cessão) 
 
3) O _________________da Filarmônica de Moscou foi de música moderna. (concerto – conserto) 
 
4) Os bancos transacionam somas ____________________. (vultosas – vultuosas) 
 
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5) Aquele sujeito era tão mal-educado, que _____________sua mãe em presença de todos. (destratava – 
distratava) 
 
6) ______________________o _____________________do deputado. (caçaram – cassaram/ mandado – 
mandato) 
 
7) As pessoas surdas não conseguem _____________________os sons. (descriminar – discriminar) 
 
8) O criminoso foi apanhado em ______________________. (flagrante – fragrante) 
 
9) O presidiário dirigiu-se a sua __________________. (cela – sela) 
 
10) Segundo o último _________, a população de Juiz de Fora está em tornode 500 mil habitantes. (censo – 
senso) 
 
11) O professor foi _____________________de subversivo. (tachado – taxado) 
 
12) O calor _____________________os corpos. (delata – dilata) 
 
13) Os enlatados estão guardados na ___________________. (despensa – dispensa) 
 
14) Aquele é um _____________________conferencista. (eminente – iminente) 
 
15) A nossa _____________________na serra foi divertida e alegre. (estada – estadia) 
 
16) A lâmpada __________________ilumina bem. (florescente – fluorescente) 
 
17) A escolha do candidato ________________________os prognósticos do partido. (retificou – ratificou) 
 
18) Um enxadrista ____________________deve observar partidas de jogadores experientes. (incipiente – 
insipiente) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 59 
 
 
 
Resumo 
 
Um resumo é uma síntese das ideias, fatos e argumentos contidos num texto. Para fazê-lo, você deverá empregar 
suas próprias palavras, evitando, na medida do possível, fazer cópias do texto original. Aprender a resumir vai 
auxiliá-lo(a) bastante na redação de textos dissertativos, na seleção de informações e no estudo de várias 
disciplinas. 
A- O resumo de fatos 
Para resumir qualquer texto, em especial o narrativo, é fundamental que, antes de fazê-lo, observe a diferença 
entre uma informação central e as informações adicionais referentes a ela.. 
Entendemos por informações adicionais referências ao tempo, ao lugar, à frequência com que o fato ocorre, às 
características das pessoas envolvidas, à causa do fato, a instrumentos utilizados para sua realização etc. 
 
B- O resumo de ideias 
Para resumir um texto dissertativo, é aconselhável seguir alguns procedimentos básicos: 
- ler o texto sem interrupções para ter uma noção geral do que o autor pretende expressar; 
- reler, de preferência, o primeiro e o último parágrafos para descobrir a ideia central do texto. Sublinhe o que você 
achar mais importante; 
- ler, com bastante atenção, parágrafo por parágrafo, procurando a ideia básica de cada um. Escreva com suas 
próprias palavras o que você achou fundamental, tentando eliminar as expressões que julgar desnecessárias para 
a compreensão global do texto; 
- redigir o resumo a partir das frases que escreveu sobre cada parágrafo. 
 
 Recomendações 
 
Um resumo bem elaborado dispensa consulta ao original para compreensão do assunto. Por isso, além das 
recomendações já feitas, deve-se estar atento aos seguintes itens: 
 
1. O resumo não é uma enumeração de informações ou uma citação das informações principais. Assim, como 
todo texto, é necessário utilizar conectivos, elementos de coesão. 
 
2. Resumir é apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. Sendo assim, não se 
transcrevem frases ou trechos do original: “colagem” de fragmentos não é resumo. 
 
3. As opiniões e os pontos de vista do autor devem ser respeitados, sem acréscimo de qualquer comentário ou 
julgamento pessoal de quem elabora o resumo. 
 
4. Os elementos essenciais do texto devem ser expressos em estilo objetivo e em linguagem clara. 
 
5. De maneira geral, num resumo reduz-se o texto a 1/3 ou 1/4 de sua extensão original, abolindo-se gráficos, 
citações, exemplificações abundantes, mantendo-se, porém, a estrutura e os pontos essenciais. 
 
6. No início do resumo, deve haver uma indicação clara do título e do autor do texto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 60 
PRÁTICA 
 
Faça um resumo do texto abaixo em, no mínimo, 12 e, no máximo, 14 linhas. 
 
Leitura turbina o cérebro e combate a insônia 
 
Quantos livros você já leu ao longo da vida? Se você consegue contá-los na ponta dos dedos, foram poucos. Uma 
pesquisa realizada pelo Ibope Inteligência, sob encomenda do Instituto Pró-Livro, mostrou que 45% da população 
do país não têm o costume de ler. Quem engrossa esse percentual provavelmente não tem ideia dos benefícios 
que a leitura traz. 
Uma pesquisa realizada pela Clínica Mayo, em Minnesota, nos Estados Unidos, mostrou que ler livros como 
passatempo pode adiar a perda da memória associada à idade. O estudo contou com 200 pessoas entre 70 e 89 
anos com leves lapsos de memória. Aqueles que, na meia idade, se ocuparam com leitura, jogos ou hobbies 
apresentaram 40% menos risco de ter o problema. "Uma boa leitura pode relaxar, aguçar a criatividade, aumentar 
o vocabulário e o conhecimento", explica a psicóloga e psicanalista Claudia Finamore. 
Muita gente atribui leitura escassa à falta de tempo. Nas horas vagas, as pessoas dão preferência a outros 
hábitos, como ver televisão. A leitura, principalmente de livros, é algo relacionado à infância: aquela história que 
os pais contavam antes de dormir ou o livro cheio de figuras que era obrigatório na escola. 
Por isso também ler se torna uma atividade magnífica. Libera a imaginação e faz você ser criança novamente. 
"Livros de ficção nos fazem viajar por um mundo de possibilidades ainda não exploradas. Os romances que 
descrevem viagens por lugares antes desconhecidos nos levam para longe da nossa rotina, deixando-nos por 
algum tempo relaxados e dando asas à nossa imaginação", complementa a psicóloga Marina Vasconcellos, 
especialista em psicodrama terapêutico. 
A leitura ainda é um ótimo remédio para quem tem problemas para dormir. "Ler algo por distração é extremamente 
relaxante e calmante, por isso é indicado para quem sofre de insônia", afirma a psicóloga. Por todos esses 
motivos, realizar uma leitura com frequência pode fazer maravilhas pela sua vida. A psicóloga Claudia Finamore 
explica que ler é um trabalho mental grandioso, pois exige uma atividade bem estimulada que traz muitos 
benefícios para a saúde cerebral. 
 
http://yahoo.minhavida.com.br/conteudo/12067-Leitura-turbina-o-cerebro-e-combate-a-insonia.htm 
 
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 61 
Leitura, texto e sentido 
 
Concepção de leitura 
Frequentemente ouvimos falar – e também falamos – sobre a importância da leitura na nossa vida, sobre 
a necessidade de se cultivar o hábito de leitura entre crianças e jovens, sobre o papel da escola na 
formação de leitores competentes, com o que concordamos prontamente. 
 
Mas, no bojo dessa discussão, destacam-se questões como: O que é ler? Para que ler? Como ler? 
Evidentemente, as perguntas poderão ser respondidas de diferentes modos, os quais revelarão uma 
concepção de leitura decorrente da concepção de sujeito, de língua, de texto e de sentido que se adote. 
[...] 
Foco na interação autor-texto-leitor 
[...] na concepção interacional (dialógica) da língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores 
sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto, considerado o 
próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores. Desse modo, há lugar, no texto, para toda 
uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de 
fundo, o contexto sociocognitivodos participantes da interação. 
 
Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeitos e não algo que 
preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de 
sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície 
textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no 
interior do evento comunicativo. 
 
A título de exemplificação do que acabamos de afirmar, vejamos a tirinha a seguir: 
 
 
 
Fonte: Folha de S.Paulo, 13 abr. 2005. 
 
Na tirinha, Garfield representa bem o papel do leitor que, em interação com o texto, constrói-lhe o 
sentido, considerando não só as informações explicitamente constituídas, como também o que é 
implicitamente sugerido, numa clara demonstração de que: 
• a leitura é uma atividade na qual se levam em conta as experiências e os conhecimentos do leitor; 
• a leitura de um texto exige do leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o 
texto não é simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo. 
 
Fundamentamo-nos, pois, em uma concepção sociocognitivointeracional de língua que privilegia os 
sujeitos e seus conhecimentos em processos de interação. O lugar mesmo de interação – como já 
dissemos – é o texto cujo sentido “não está lá”, mas é construído, considerando-se, para tanto, as 
“sinalizações” textuais dadas pelo autor e os conhecimentos do leitor, que, durante todo o processo de 
leitura, deve assumir uma atitude “responsiva ativa”. Em outras palavras, espera-se que o leitor, 
concorde ou não com as ideias do autor, complete-as, adapte-as etc., uma vez que “toda 
compreensão é prenhe de respostas e, de uma forma ou de outra, forçosamente, a produz” 
(BAKHTIN, 1992:290). 
 
KOCH, I.V. Ler e compreender: os sentidos do texto/ Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. 2ed. São Paulo: Contexto, 2006. p.9-11 
 62 
ATIVIDADES 
 
Texto 1 
 
Penso, logo existo 
 
“Penso, logo existo” está em um dos textos mais conhecidos do francês René Descartes: O Discurso do Método 
traz a autobiografia intelectual do filósofo e a metodologia por ele criada para a busca de um conhecimento 
verdadeiro. 
 
Publicado em 1637, O Discurso do Método, de René Descartes, é um dos textos mais conhecidos daquele que 
hoje é considerado o fundador da Filosofia moderna e do racionalismo, doutrina que atribui à razão humana a 
capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade. O racionalismo privilegia o pensamento lógico como 
forma de explicação da realidade – algo novo para o homem recém-saído da Idade Média e ainda submetido à 
autoridade intelectual eclesiástica. “A obra foi originalmente escrita em francês, um idioma popular na época, 
enquanto os textos filosóficos eram comumente publicados em latim. Tal atitude demonstra a preocupação de 
Descartes em popularizar os conceitos ali manifestos”, explica Alexandre Sech Júnior, professor de Filosofia do 
Curso e Colégio Acesso. (...) 
 
Em O Discurso do Método, Descartes lança ainda uma de suas sentenças mais conhecidas (“penso, logo, 
existo”), como explica o professor do Acesso. “Uma vez estabelecidas as regras do método, Descartes passa a 
rejeitar tudo o que se apresente a ele como incerto. Esse é o chamado momento da dúvida radical, no qual nada 
que venha através dos sentidos, ou dos nossos pensamentos, deve ser considerado indubitável, pois aqueles 
podem nos enganar e estes manifestarem-se tanto no sono quanto na vigília. É do próprio ato de duvidar que 
surge a primeira verdade para Descartes: se eu duvido, penso; e se penso, logo existo”, afirma Alexandre, 
lembrando que a segunda certeza para o filósofo é a existência de Deus. 
 
Fonte: http://www.mundovestibular.com.br/articles/5340/1/Penso-logo-existo/Paacutegina1.html 
Acesso em 5 de nov 2011 
 
QUESTÃO 1 
 
Explicite a principal intenção comunicativa do texto 1 e transcreva dois fragmentos que justifiquem sua resposta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 2 
 
Releia: 
 
“Esse é o chamado momento da dúvida radical, no qual nada que venha através dos sentidos, ou dos nossos 
pensamentos, deve ser considerado indubitável, pois aqueles podem nos enganar e estes manifestarem-se tanto 
no sono quanto na vigília”. (3º parágrafo) 
 
Explique de que forma se estabeleceu a coesão textual no fragmento acima, considerando os referentes dos 
pronomes demonstrativos “aqueles” e “estes”. 
 
 
 
 
 
 63 
Texto 2 
 
QUESTÃO 3 
 
Explique a temática desenvolvida por Martha Medeiros em sua crônica, comentando a intertextualidade que ela 
estabeleceu no título “Pareço, logo existo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pareço, logo existo 
Martha Medeiros 
 
Foi-se o tempo em que a disputa se resumia ao clássico Ser x Ter. Dizem que ninguém mais dá a mínima para o 
que é, só para o que tem. Exagero. As pessoas ainda se preocupam com o que são. O problema é que não 
gostam do que são. Gostariam de ser outra coisa. E aí entra o verbo que está no topo das paradas hoje em dia: 
parecer. 
 
Tem gente que quer parecer rica, e adota um padrão de vida que não condiz com a sua realidade. Pra manter a 
fachada de bem-nascida, acaba colecionando dívidas e queimando seu nome na praça. Nos eventos sociais, pode 
até ser a mais fotografada, mas para os comerciantes é bola preta na certa. A rica mais sem crédito das colunas. 
 
Tem aqueles que querem parecer mais bem relacionados do que são, e se enturmam, forçam intimidade e grudam 
feito chiclete em pessoas que mal conhecem, só para descolar um convite para uma festa, um show, uma estreia, 
qualquer lugar que projete. 
 
Os que querem parecer mais cultos do que são, você sabe, são aqueles que nunca foram além do prólogo do livro 
e é o que basta para olharem a ralé de cima para baixo, como se fossem portadores da sabedoria universal. 
 
Há os que querem parecer mais jovens do que são: bom, quem não gostaria? É uma dádiva parecer ter cinco anos 
menos, sem esforço. A genética é mais generosa com uns do que com outros. Há muito tempo que eu não tento 
mais adivinhar a idade de ninguém: sempre erro, já que todo mundo parece ter bem menos. Mas se você tem 56 e 
parece ter 56, não é caso para enfiar a cabeça dentro do forno. 
 
Os casos mais patéticos, no entanto, são os daquelas pessoas que querem parecer mais felizes do que são. O 
recurso adotado: mentem. O casamento delas está uma lua de mel, os filhos só dão alegrias, são muito 
requisitadas no trabalho, os amigos não param de telefonar, a vida tem sido um passeio num campo florido, e fica 
sem explicação aquele olhar melancólico, o sorriso forçado, a exaustão de ter que passar o falso entusiasmo 
adiante, como se não tivéssemos condições de perceber seu verdadeiro estado de ânimo, que é coisa que se 
transmite sem palavras. Ver alguém se esforçando para parecer feliz é das situações mais constrangedoras que se 
pode testemunhar. 
 
Está triste? Esteja! Não é rico, nem jovem, nem belo? Nem por isso ficará sozinho. Pessoas não se apaixonam por 
estereótipos, mas pela singularidade de cada um, pela capacidade de ser surpreendido, pela sedução que o 
inusitado provoca. Uma pessoa que se preocupa em “parecer” já está derrotada no primeiro minuto de jogo. Dá 
valor demais à opinião dos outros, não age conforme a própria vontade, não se assume do jeito que é, inventa 
personagens para si mesmo e acaba se perdendo justamente deste “si mesmo”, que fica órfão. Quer parecer mais 
inteligente? Comece admitindo que não sabe nada sobre nada e toque aqui: ninguém sabe. 
 
Texto extraído da Revista O Globo, do jornal O Globo – 23/10/2011. 
 64 
QUESTÃO 4 
 
Embora a linguagem do texto 2 seja predominantemente culta, é possível perceber que a cronista faz uso também 
de alguns vocábulos e expressões típicosda informalidade. 
Transcreva 3 exemplos que evidenciem essa linguagem popular. 
 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 5 
 
Releia dois fragmentos extraídos do texto 2 e observe o uso da conjunção “e”: 
 
“O casamento delas está uma lua de mel, os filhos só dão alegrias, são muito requisitadas no trabalho, os amigos 
não param de telefonar, a vida tem sido um passeio num campo florido, e fica sem explicação aquele olhar 
melancólico, o sorriso forçado, a exaustão de ter que passar o falso entusiasmo adiante”. (6º parágrafo) 
 
“Quer parecer mais inteligente? Comece admitindo que não sabe nada sobre nada e toque aqui: ninguém sabe”. 
(7º parágrafo) 
 
 
É possível afirmar que a conjunção “e”, nesses fragmentos, estabelece a mesma relação semântica entre os 
períodos? Comente sua resposta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 65 
Texto 3 
ONDE ESTÁ O VERBETE "BOM-SENSO"? 
Houaiss está na mira da patrulha politicamente correta, que acredita lutar contra o preconceito apagando palavras e 
definições 
 
Dicionário, diz o Aurélio, é o "conjunto de vocábulos duma língua ou de termos próprios duma ciência ou arte, 
dispostos, em geral, alfabeticamente, e com o respectivo significado". Dicionário é o celeiro do idioma, o banco 
central da linguagem formado por palavras compiladas segundo um único critério, o de estarem em uso ou terem 
sido usadas no passado. Censurar ou podar palavras dos dicionários é uma estupidez que se equipara à loucura 
de rasgar dinheiro por ser contra o capitalismo ou ao desatino de queimar florestas nativas para matar serpentes 
venenosas. Pois foi exatamente isso que o procurador da República Cleber Eustáquio Neves, do Ministério 
Público Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, tentou ao ajuizar uma ação civil pública pedindo a remoção das 
livrarias do dicionário Houaiss, o mais completo do país, com 228.500 verbetes, publicado pela editora Objetiva. 
 
Neves deu guarida a um pedido bizarro feito em 2009 por uma pessoa que sustentava que duas definições da 
palavra "cigano", mesmo que devidamente registradas no dicionário como sendo de uso pejorativo, são ofensivas 
à etnia e devem ser banidas. Enquanto isso não fosse feito e novas edições devidamente "higienizadas" do 
dicionário não fossem produzidas, o Houaiss deveria ser retirado das livrarias, e sua venda, proibida. O Houaiss 
registra que, pejorativamente, cigano é "aquele que trapaceia; velhaco; burlador" e "aquele que faz barganha, que 
é apegado ao dinheiro; agiota, sovina". Pode incorrer em preconceito quem utiliza a palavra cigano nas acepções 
acima, mas incorre em um desvio muito pior quem propõe censurar esses registros por seu potencial ofensivo. 
Empobrecer o idioma é um dos instintos automáticos das mentes totalitárias. No livro 1984, de George Orwell, um 
Ministério da Verdade se dedica justamente à supressão das palavras consideradas inadequadas pelos ditadores 
e à sua substituição por termos novos criados justamente para suprimir a verdade. 
 
"Quem pede a suspensão de uma obra por ela conter um termo considerado discriminatório está assassinando a 
cultura brasileira, que a cada dia é torpedeada por novas empreitadas da patrulha do politicamente correto", diz o 
imortal Evanildo Bechara, membro da comissão de lexicógrafos - como são chamados os fazedores de dicionários 
- da Academia Brasileira de Letras. Os dicionários de outras editoras, a Melhoramentos e a Globo, há dez anos 
suprimiram a informação de que a palavra "cigano" foi usada no passado com sentido pejorativo. Diz Breno 
Lemer, superintendente da Melhoramentos, responsável pelo dicionário Michaelis, que é contra a intervenção do 
procurador: "À medida que a sociedade se toma mais politicamente correta, cabe ao dicionário retratar isso com o 
maior rigor possível. É como a fotografia de uma paisagem - se a paisagem muda, é nosso dever fazer um novo 
retrato, com a maior exatidão".[...] 
 
O diretor-geral da Objetiva, que edita o Houaiss, Roberto Feith, não concorda com a tese de que a maneira de se 
atualizar passe pela higienizaçao do conteúdo dos dicionários e de outras obras literárias ou culturais. No caso de 
"cigano", as próximas edições vão informar que as definições ofensivas "resultam de antiga tradição europeia, 
pejorativa e xenófoba". A tentação de reescrever o passado é resistente. Há mais de dez anos, outra ação contra 
o Houaiss tentou apagar a definição pejorativa de judeu como "pessoa usurária, avarenta". [...]. 
 
Concebido para facilitar a comunicação entre pessoas que falavam línguas diferentes, o primeiro dicionário de que 
se tem notícia é o Elya, do século III a.c., com 2094 palavras. Os dicionários costumam ser revistos por equipes 
de lexicógrafos a cada cinco ou dez anos, quando se montam novas edições que incluem palavras incorporadas 
ao idioma (exemplos no novo Houaiss: "blogosfera", "tubaína", "blogar", "pitaco", "empoderamento"). Resume o 
acadêmico Bechara: "O dicionário tem a função de ser o espelho vivo da língua, o repertório da memória cultural e 
histórica do idioma". 
 
Luís Guilherme Barrucho 
 Fonte: Revista Veja. Edição de 7/3/2012. p .94-95 
 
 
1) O título do texto, formado por uma pergunta ao mesmo tempo irônica e retórica, antecipa o posicionamento do 
jornalista Luís Guilherme Barrucho em relação ao assunto que será posteriormente discutido. 
 Explicite a opinião do jornalista que se pode depreender a partir da leitura do texto, levando em conta a temática 
apresentada. 
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2) Releia o subtítulo: “Houaiss está na mira da patrulha politicamente correta, que acredita lutar contra o 
preconceito apagando palavras e definições”. 
 Explique de que forma o uso do verbo “acredita” deixa subentendida a opinião do autor em relação à patrulha 
politicamente correta. 
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3) Releia o fragmento extraído do texto e observe a palavra destacada: 
 
“Enquanto isso não fosse feito e novas edições devidamente "higienizadas" do dicionário não fossem produzidas, 
o Houaiss deveria ser retirado das livrarias, e sua venda, proibida”. (2º parágrafo) 
a) Esse vocábulo foi usado no sentido denotativo ou conotativo? 
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b) Baseando-se na temática do texto lido, explique o que significa “edições higienizadas”. 
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QUESTÕES LINGUÍSTICAS 
CONCORDÂNCIA VERBAL 
 
A) Faça como nos exemplos a seguir: 
 
Os tratores destruíram árvores centenárias. 
→ Destruíram-se árvores centenárias. 
 
Várias pessoas precisam de saneamento básico urgentemente. 
→ Precisa-se de saneamento básico urgentemente.. 
 
 
1. O público vaiou os atores. 
 
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2. A construtora construiu péssimas casas. 
 
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