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Difusão Atômica AULA 02 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ ENGENHARIA MECÂNICA MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO MECÂNICA 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.1 Introdução A difusão atômica pode ser definida como um mecanismo pelo qual a matéria é transportada através da matéria. Os átomos em gases, líquidos e sólidos estão em constante movimento. Particularmente no caso dos sólidos, o movimento atômico é bastante restrito, em função das elevadas forças de ligação atômica e da existência de posições de equilíbrio bem definidas nesse estado. Todavia, as vibrações atômicas de origem térmica existentes em sólidos permitem movimentos atômicos limitados. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2. Introdução Exemplos de reações de estado sólido ocorrem: na nucleação e crescimento de novas fases em sólidos cristalinos, na cementação dos aços, na produção de semicondutores (difusão de dopantes) etc. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.2 Mecanismos de Movimentos Atômicos Em um cristal, os átomos somente ficam estáticos no zero absoluto (-273,15ºC). Nestas condições, os átomos permanecem na posição correspondente ao mínimo de energia. Acima desta temperatura os átomos começam a vibrar e, à medida que a temperatura se eleva, as vibrações térmicas tornam-se mais intensas fazendo com que os átomos se dispersem ao acaso em torno da posição de menor energia. Existem dois mecanismos básicos de difusão de átomos em um sólido cristalino, ambos envolvendo defeitos pontuais: mecanismo substitucional ou de vazios e mecanismo intersticial. Além desses dois, o movimento atômico pode se dá por meio do mecanismo de anel, de ocorrência mais difícil, pois envolve maior gasto de energia. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.2 Mecanismos de Movimentos Atômicos a) Mecanismo Substitucional ou de Vazios Os átomos podem se mover no interior do cristal, de uma posição atômica para outra, se apresentarem energia de vibração suficiente e se existirem posições atômicas vazias (vazios ou lacunas) ou outros defeitos cristalinos na estrutura atômica. A energia de vibração é resultante da energia térmica dos átomos. Por outro lado, os vazios ou lacunas em metais e ligas são defeitos de equilíbrio e, assim, estão sempre presentes para permitir o movimento atômico pelo mecanismo substitucional. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.2 Mecanismos de Movimentos Atômicos Na Figura 2.1, se um átomo próximo ao vazio tem energia suficiente, ele poderá mover-se até essa posição. a) Mecanismo Substitucional ou de Vazios 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.2 Mecanismos de Movimentos Atômicos b) Mecanismo Intersticial O mecanismo intersticial em sólidos cristalinos ocorre quando um átomo se move de uma posição intersticial para outra posição intersticial vizinha, sem que exista deslocamento de átomos da matriz cristalina, como mostra a Figura 2.2. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.2 Mecanismos de Movimentos Atômicos c) Mecanismo de Difusão em Anel Podem ocorrer movimentos em cristais que não envolvam defeitos pontuais. Esse mecanismo, denominado difusão em anel, envolve o movimento simultâneo de três ou quatro átomos, como mostra a Figura 2.3, e é mais. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.3 Energia de Ativação Em condições uniformes, cada um dos átomos adjacentes ao vazio tem a mesma probabilidade de se mover para ele. Analogamente, o átomo intersticial tem a mesma probabilidade de se mover em cada um dos interstícios à sua volta. Se os átomos devem mudar de posições, as “barreiras de energia” devem ser superadas. Energia de ativação é a energia requerida para superar tais barreiras, somada à energia de formação do defeito, quando houver. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.3 Energia de Ativação A energia de ativação varia com diversos fatores. Abaixo são listados alguns exemplos: • Um átomo pequeno tem uma energia de ativação menor que um átomo grande ou molécula; • Os movimentos intersticiais requerem mais energia que os movimentos de vazios; • São necessárias elevadas energias de ativação para a difusão em materiais fortemente ligados e de alto ponto de fusão, como o tungstênio, o carbeto de boro e outros. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.3 Energia de Ativação Autodifusão Normalmente não se observa difusão em um material puro, monofásico, já que os movimentos atômicos são ao acaso e os átomos são todos idênticos; entretanto, por meio do uso de isótopos radiativos, é possível identificar a difusão dos átomos dentro de sua própria estrutura; a esse fenômeno dá-se o nome de autodifusão. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.4 Gradientes de Concentração Embora haja a mesma probabilidade de um átomo individual se mover em qualquer direção, o gradiente de concentração favorece o movimento preferencial dos átomos, conforme ilustra a Figura 2.4. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.5 Distribuição de Energia Térmica Os átomos de um material, em uma determinada temperatura, apresentam diferentes níveis de energia, sendo esta uma distribuição estatística como mostra a Figura 2.5. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.5 Distribuição de Energia Térmica Usando os fundamentos estatísticos empregados por Boltzmann, pode-se calcular o número de átomos com energia maior que a energia de ativação, como: 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.6 Coeficiente de Difusão Atômica A análise estatística de Boltzmann aplicada ao movimento atômico permite estabelecer a intensidade de difusão atômica em materiais. A difusão de um material A (soluto) dentro da estrutura de um material B (solvente) é representada pelo coeficiente de difusão (D), definido pela equação de Arrhenius: 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.6 Coeficiente de Difusão Atômica A difusividade atômica depende de diversos fatores, sendo que os mais importantes são: a) Tipo de mecanismo de difusão (substitucional ou intersticial) – dependendo dos tamanhos atômicos envolvidos, o mecanismo de difusão influencia a intensidade de difusão (átomos de tamanhos próximos têm difusão elevada quando o mecanismo é substitucional; quando os átomos apresentam tamanhos muito diferentes, o mecanismo apropriado é o intersticial); b) Temperatura na qual a difusão ocorre – como pode ser observado na equação, quanto maior a temperatura, maior será o coeficiente de difusão; c) Tipo de estrutura cristalina do solvente – estruturas compactas dificultam a difusão atômica por serem mais compactas; d) Tipo e quantidade de imperfeições presentes na rede cristalina – defeitos como discordâncias e lacunas aumentam a intensidade de difusão. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.6 Coeficiente de Difusão Atômica 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.7 Primeira Lei de Fick A taxa de difusão dos átomos ou íons em um material pode ser medida por meio do fluxo J, o qual é definido como o número de átomos que atravessa um plano de área unitária por unidade de tempo (Figura 2.6). 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.7 Primeira Lei de Fick A equação acima é denominada de primeira lei de Fick e define que para condições estacionárias ou permanentes (concentrações constantes com o tempo), o fluxo de átomos por difusão atômica é igual à difusividade D multiplicada pelo gradiente de concentração. No sistema SI tem-se: O fluxo de átomos neste tipo de sistema pode ser representado pela equação: onde J = fluxo de átomos; D = difusividade ou coeficiente de difusão; dc/dx = gradiente de concentração. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.7 Primeira Lei de Fick O gradiente de concentração mostra como a composição do material varia com a distância: Δc é a diferença na concentração ao longo da distância Δx (Figura 2.7). O fluxo em uma temperatura particular é constante somente se o gradiente de concentração também é constante, isto é, a composição em cada lado do plano da Figura 2.7 permanece inalterada (regime estacionário). Frequentemente, é encontrado que o fluxo inicialmente é alto e então decresce gradualmente à medida que o gradiente de concentração é reduzido pela difusão.2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick O movimento atômico em condições estacionárias não é comum em engenharia de materiais. Na maioria dos casos, este movimento ocorre em regime transitório ou em situações onde as concentrações variam com o tempo. A Figura 2.8 mostra a variação da concentração, à medida que o tempo de processamento aumenta. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick A segunda lei de Fick descreve a dinâmica, ou o estado não-estacionário, da difusão de átomos, por meio da equação diferencial: Assumindo-se que o coeficiente de difusão D não é função da localização x e da concentração C, a equação acima pode ser reescrita na forma da versão simplificada de Fick, como: A solução desta equação depende das condições de contorno para uma situação particular. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick a) Cementação dos Aços Na construção de máquinas, é freqüente a necessidade de peças dotadas simultaneamente de uma boa resistência ao choque e uma dureza muito elevada pararesistir bem ao desgaste, como por exemplo, os dentes de engrenagens (Figura 2.9), 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick a) Cementação dos Aços Essas duas propriedades são incompatíveis pelo menos nos aços carbono. Mas como a dureza que interessa é sempre a superficial, basta que a peça tenha essa qualidade apenas na parte periférica. Isto se consegue com o auxílio do tratamento de cementação. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick a) Cementação dos Aços O tratamento de cementação dos aços por meio das equações da difusão envolve o emprego da função erro. A solução da equação de Fick para esta situação é dada por: 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick a) Cementação dos Aços Nestas equações, é assumido basicamente um modelo unidirecional, ou seja, átomos ou outras espécies difusionais se movem somente na direção x. A função erro, “erf”, é uma função matemática com valores tabelados. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick a) Cementação dos Aços 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick b) Tratamento de Homogeneização de Fundidos Esta abordagem é aplicada na minimização de microssegregação em peças obtidas pelo processo de fundição. Em geral, a microssegregação de solutos ocorre em torno de braços dendríticos, o que leva o perfil de concentração de solutos a apresentar uma variação senoidal, conforme mostra a Figura 2.11. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick b) Tratamento de Homogeneização de Fundidos 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.8 Segunda Lei de Fick b) Tratamento de Homogeneização de Fundidos 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.9 Difusão Atômica em Contornos de Grão e Discordâncias A existência de defeitos cristalográficos como discordâncias e contornos de grão, pode influir no transporte atômico por difusão. Nos contornos de grão ocorre uma maior concentração de lacunas, o que facilita o movimento de átomo. Nas regiões onde existem discordâncias, a rede cristalina sofre deformações (fica com a estrutura mais aberta), facilitando, da mesma forma, a difusão atômica. Como conseqüência, os coeficientes de difusão em contornos de grão e nas vizinhanças de discordâncias são maiores. Porém, as regiões associadas a contornos de grão e discordâncias são pequenas, comparadas como o volume de material, de modo que, em geral, a contribuição desses defeitos é pequena. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.9 Difusão Atômica em Contornos de Grão e Discordâncias Em temperaturas elevadas, o coeficiente de difusão é alto no cristal, facilitando o movimento de átomos na rede, tornando desprezível, portanto, a difusão em contornos de grão. Por outro lado, se a temperatura é baixa, a difusão na rede cristalina é difícil e a contribuição de contornos de grão passa a ser significativa, conforme pode ser observado na Figura 2.12. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.9 Difusão Atômica em Contornos de Grão e Discordâncias No caso das discordâncias, essa contribuição é, em geral, desprezível nos materiais recozidos (tratamento térmico para recuperar a ductilidade de um material), onde a densidade desse defeito é geralmente baixa. Em materiais com alto grau de deformação plástica, a densidade de discordâncias é elevada e o efeito das mesmas na difusão atômica pode ser significativo. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.10 Exercícios Resolvidos 1) Cálculo do Fluxo de Difusão Uma placa de ferro está exposta a 700 ᵒ C a uma atmosfera carbonetante em um de seus lados e a uma atmosfera descabornetante no outro lado. Se uma condição de regime estacionário é atingido, calcule o fluxo de difusão de carbono através da placa, dado que as concentrações de carbono a 5 e a 10 mm a baixo da superfície carbonetante são 1,2 e 0,8 kg/𝑚3, respectivamente. Considere um coeficiente de difusão de 3x10−11 𝑚2/𝑠 nessa temperatura. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.10 Exercícios Resolvidos 2) Cálculo do Tempo em Regime Não-estacionário I Para algumas aplicações, torna-se necessário endurecer a superfície de um aço a níveis superiores aos que existem no seu interior. Uma das maneiras de se conseguir isso é através de um aumento na concentração de carbono na superfície do material, através do processo denominado carbonetação. A peça de aço é exposta, sob uma temperatura elevada , a uma atmosfera rica em hidrocarboneto gasoso, tal como metano. Considere uma dessas ligas contendo uma concentração inicial uniforme de carbono de 0,25%p e que deve ser tratada a 950 ºC (1750 ºF). Se a concentração de carbono na superfície for repentinamente elevada e mantida em 1,2%p, quanto tempo será necessário para atingir um teor de carbono de 0,8%p em uma posição localizada 0,5 mm abaixo da superfície? O coeficiente de difusão para o carbono no ferro sob essa temperatura é de 1,6 x 10−11 𝑚2/ s. Considere a peça de aço como semi-infinita. 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.10 Exercícios (a) (b) (c) (d) 2. DIFUSÃO ATÔMICA 2.11 Atividade (0,5 Pontos P/ 1ª Avaliação)
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