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Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 1 FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA Centro:________ Disciplina:_______________________ Turma:_________________ Data:___/___/___ Aluno(a):_______________________________________________Matrícula:_________ ENSAIOS MECÂNICOS – ENSAIO DE TRAÇÃO 2 - TRAÇÃO 2.1 Introdução A facilidade de execução e a reprodutibilidade dos resultados tornam o ensaio de tração o mais importante de todos os ensaios mecânicos. 2.2 Técnica do ensaio A aplicação de uma força num corpo sólido promove uma deformação do material na direção do esforço e o ensaio de tração consiste em submeter um material a um esforço que tende esticá-lo ou alongá-lo como pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Ensaio de tração antes e depois da aplicação da carga Geralmente o ensaio é realizado em um corpo de prova de dimensões padronizadas, para que os resultados possam ser comparados ou reproduzidos. Este corpo de prova é fixado numa máquina de ensaio que aplica esforços crescentes na sua direção axial. Os esforços ou cargas são medidos na própria máquina de ensaio e o corpo de prova é levado até a ruptura. 2.3 Ensaio de tração convencional A força de tração atua sobre a área da seção transversal do corpo de prova. Tem-se assim uma relação entre essa força aplicada e a área da seção do corpo de prova que está sendo exigida, denominada tensão. Esse corpo de prova tracionado se deforma no sentido da aplicação da força, permitindo a medição de sua deformação longitudinal (comprimento) e transversal (área). • Tensão ⇒ σ = F (kgf/mm2) ou MPa So A cada tensão promovida no corpo de prova corresponde uma deformação (definida como a variação de uma dimensão qualquer desse corpo por unidade da mesma dimensão). • Deformação ⇒ ε = ∆L (mm/mm) ou % Lo Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 2 Quando um corpo de prova é submetido a um ensaio de tração, a máquina de ensaio fornece um gráfico que mostra as relações entre a força aplicada e as deformações ocorridas durante o ensaio. Mas o que interessa para determinação das propriedades mecânicas é a relação entre tensão e deformação. A tensão corresponde à força dividida pela área da seção sobre a qual a força é aplicada. No ensaio de tração convencional a área da seção utilizada para os cálculos é a área inicial (So). Assim é possível construir um gráfico ou diagrama σ x ε. Os valores de deformação são indicados no eixo das abscissas (x) e os valores de tensão são indicados no eixo das ordenadas (y). A curva resultante apresenta certas características que são comuns a diversos tipos de materiais usados na área de mecânica. No diagrama da Figura 2 pode-se observar três zonas distintas: • Zona elástica; • Zona de transição; • Zona plástica. Figura 2 – Diagrama σ x ε mostrando as zonas elástica, de transição e plástica ZONA ELÁSTICA Corresponde à parte linear do diagrama. A relação linear entre tensão (σ) e deformação (ε) pode ser expressa por σ = E x ε onde E representa uma constante de proporcionalidade conhecida como Módulo de Elasticidade. O ponto A marcado no gráfico da Figura 2 representa o limite elástico do material. O limite elástico recebe este nome porque, se o ensaio for interrompido antes ou até este ponto e a força de tração for retirada, o corpo de prova volta à sua forma original, sem deformação permanente, como faz um elástico. Na fase elástica (parte linear do diagrama) os metais obedecem à lei de Hooke onde: σ α ε → σ = E x ε O Módulo de Elasticidade (E) é o coeficiente angular da parte linear interna do diagrama σ x ε, como pode ser visto na Figura 3 e é diferente para cada material, pois depende da força de ligação entre os átomos em cada um. Figura 3 – Determinação do módulo de elasticidade Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 3 Porém, a Lei de Hooke só vale até um determinado valor de tensão, denominado limite de proporcionalidade, que é o ponto representado pela letra A’ no gráfico da Figura 4, a partir do qual a deformação deixa de ser proporcional à carga aplicada. ����Na prática, considera-se que o limite de proporcionalidade e o limite elástico são coincidentes. Figura 4 – Identificação do limite de proporcionalidade ZONA DE TRANSIÇÃO Terminada a fase elástica tem início a fase plástica, onde não há mais proporcionalidade entre tensão e deformação. No início da fase plástica ocorre o fenômeno do escoamento (zona de transição entre a fase elástica e a fase plástica). A zona de transição é caracterizada pelo fenômeno do escoamento que é um tipo de transição heterogênea e localizada, apresentando um aumento relativamente grande da deformação com variação pequena da tensão. Durante o escoamento a carga oscila entre valores muito próximos uns aos outros, como pode ser visto na Figura 5. O ponto onde ocorre o primeiro pico de tensão no escoamento é denominado tensão de escoamento. Para todos os fins práticos, esse valor determina o início da zona plástica. Figura 5 – Identificação do escoamento ZONA PLÁSTICA Após o escoamento ocorre o encruamento, que é um endurecimento causado pela deformação dos grãos que compõem o material quando deformados a frio. O material resiste cada vez mais à tração externa, exigindo uma tensão cada vez maior para se deformar. Nessa fase, a tensão começa a subir, até atingir um valor máximo suportado pelo material, denominado tensão de resistência e representada pela letra B no gráfico da Figura 6. Na zona plástica, não existe mais proporcionalidade entre tensão e deformação e, havendo descarregamento do material até tensão igual a zero, o material apresenta uma deformação permanente ou residual. Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 4 Figura 6 – Visualização da tensão de resistência Continuando a tração, chega-se à ruptura do material, que ocorre num ponto chamado de tensão de ruptura, representado pela letra C no gráfico da Figura 7. Figura 7 – Visualização da tensão de ruptura Pode-se notar que a tensão de ruptura é menor que a tensão de resistência, devido à diminuição da área que ocorre no corpo de prova depois que se atinge a carga máxima. 2.4 Propriedades mecânicas obtidas no ensaio Nos ensaios industriais, as propriedades efetivamente medidas no ensaio de tração são: • Tensão de escoamento ⇒ σe =Fe (kgf/mm2) ou N/mm2 ou MPa So • Tensão de resistência ⇒ σr = Fmax (kgf/mm2) ou N/mm2 ou MPa So • Alongamento ⇒ A = Lf - Lo mm/mm ou % Lo • Estricção ou redução de Área ⇒ ϕ = So - Sf mm2/mm2 ou % So ����Alongamento e estricção são medidas da ductilidade de um material num ensaio de tração. 2.5 Tipos de diagramas σσσσ x εεεε Dependendo do tipo de material ensaiado à tração, é possível obter diferentesdiagramas σ x ε, como pode ser observado na Figura 8. Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 5 Figura 8 – Tipos de diagramas σ x ε • (a) Diagrama representativo de material dúctil; • (b) Diagrama representativo de material resistente; • (c) Diagrama representativo de material frágil. 2.6 Resiliência x Tenacidade Apesar do ensaio de tração não ser o tipo de ensaio mais adequado para o estudo das propriedades Resiliência e Tenacidade (propriedades relacionadas a ensaios dinâmicos), pode- se compará-las entre dois materiais mediante a análise do diagrama σ x ε, como pode ser visto na Figura 9. Figura 9 – Resiliência x Tenacidade em um ensaio de tração 2.7 Medida de Resiliência A resiliência é uma propriedade relacionada com a zona elástica do material e a tenacidade uma propriedade relacionada com a zona plástica do mesmo. É possível determinar a rigidez de um material através do diagrama σ x ε, como pode ser visto na Figura 10. Figura 10 – Avaliação da resiliência entre dois materiais Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 6 σA = EA x εA e σB = EB x εB Como σA = σB tem-se que EA x εA = EB x εB Como εA < εB → EA > EB ����Isto significa que o material A é mais resiliente que o material B. 2.8 Determinação do limite convencional de escoamento (“n”) Nos ensaios de tração em geral, a probabilidade de não ser possível a observação do escoamento nítido é grande de modo que se deve estar sempre preparado para a determinação do limite “n”. O desaparecimento do patamar de escoamento pode ocorrer em função: • Da composição química; • Do processo de fabricação. O limite convencional “n” de escoamento é um valor convencionado internacionalmente para substituir o limite de escoamento. O limite “n” define mais realisticamente a plasticidade em termos de tensão necessária para produzir uma deformação mensurável ou que seja praticamente significante. Para determinação do limite “n” de escoamento é necessário o uso de um extensômetro e a deformação n% é calculada tomando-se por base o tamanho do braço do extensômetro usado. Quando o desvio de proporcionalidade é expresso em termos de um aumento de deformação, tem-se o chamado “limite de desvio” ou “limite n” que é calculado por meio de um aumento percentual (n%) na deformação, após a fase elástica. Geralmente, o valor de “n” é especificado: • 0,2% → ligas metálicas em geral (aço, alumínio); • 0,1% → aços ou ligas não ferrosas muito duras; • 0,01% → aços para molas; • 0,5% → ligas de cobre. O método de determinação do limite convencional de escoamento é gráfico. • Para “n” = 0,01%, 0,1% e 0,2% traça-se, a partir do valor de “n” arbitrado, uma reta paralela à reta da zona elástica até atingir a curva σ x ε. Nesse ponto traça-se uma reta perpendicular ao eixo das tensões para determinar a tensão de escoamento convencional. • Para “n” = 0,5% traça-se, à partir do valor de “n” arbitrado, uma reta perpendicular ao eixo das deformações até atingir a curva σ x ε. Nesse ponto traça-se uma reta perpendicular ao eixo das tensões para determinar a tensão de escoamento convencional. A Figura 11 mostra o método para determinação do limite convencional de escoamento com base nos valores de “n”. Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 7 Figura 11 – Representação gráfica da determinação do limite convencional de escoamento O índice n% deve aparecer quando da explicitação do resultado de ensaio para identificar o escoamento convencional. Ex: σe = 250 MPa (escoamento nítido) ou σe0,2% = 250 MPa (escoamento convencional). 2.9 Encruamento A zona plástica caracteriza-se pelo endurecimento por deformação a frio, ou seja, pelo encruamento do material. Quanto mais o material é deformado, mais ele se torna resistente (até certo ponto). Esse fenômeno do encruamento mostra que ao se ensaiar um metal, uma interrupção do ensaio só pode ser admitida desde que a carga não tenha atingido o escoamento. Caso contrário, as propriedades mecânicas obtidas terão sido afetadas pelo encruamento. 2.10 Corpos de prova Os ensaios de tração são feitos em corpos de prova normalizados pelas várias associações de normas técnicas. Essa normalização é necessária para que se utilizem corpos de prova de tamanhos compatíveis com as máquinas de ensaio e para que seja possível a comparação dos resultados. Os corpos de prova podem ter seção circular ou retangular, como mostra a Figura 12. A parte útil do corpo de prova, identificada por Lo, é a região onde são feitas as medidas das propriedades mecânicas do material. As cabeças são as regiões extremas, que servem para fixar o corpo de prova à máquina de ensaio de modo que a força de tração atuante seja axial. Devem ter seção maior do que a parte útil para que a ruptura do corpo de prova não ocorra nelas. Suas dimensões e formas dependem do tipo de fixação à máquina. Entre as cabeças e a parte útil há um raio de concordância para evitar que a ruptura ocorra fora da parte útil do corpo de prova (Lo). Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 8 Figura 12 – Modelos de corpos de prova normalizados ���� Se um produto acabado for uma barra ou um arame (fio), um segmento deste poderá ser ensaiado diretamente, bastando que o segmento tenha um comprimento suficiente para que possa ser preso nas garras da máquina de ensaio e permita medir o alongamento (Ex: barras de aço para concreto armado). 2.11 Determinação do alongamento Para determinação do alongamento, deve-se riscar o corpo de prova, isto é, traçar as divisões no comprimento útil. Em um corpo de prova de 50mm as marcações devem ser feitas de 5 em 5mm como mostrado na Figura 13. Figura 13 – Marcações no corpo de prova O comprimento inicial (Lo) é medido antes de se submeter o corpo de prova ao ensaio. Portanto, para calcular o alongamento, resta saber qual o comprimento final (Lf). Após o término do ensaio, junta-se, da melhor maneira possível, as duas partes do corpo de prova. Depois, procura-se o risco mais próximo da ruptura e conta-se a metade das divisões (n/2) para cada lado. Mede-se então o comprimento final, que corresponde à distância entre os dois extremos dessa contagem. A Figura 14 mostra o método para determinar o comprimento final quando ruptura ocorre no centro da parte útil do corpo de prova. Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 9 Figura 14 – Forma de medição do comprimento final com n/2 para cada lado Mas, se a ruptura ocorrer fora do centro, de modo a não permitir a contagem de n/2 divisões de cada lado, deve-se adotar o seguinte procedimento, mostrado na Figura 15: • Toma-se o risco mais próximo à ruptura; • Conta-se n/2 divisões de um dos lados; • Acrescentam-se ao comprimento do lado oposto quantas divisões forem necessárias para completar as n/2 divisões; • A medida de Lf será a somatória de L’ + L’’, conforme mostrado na Figura 15. Figura 15 – Forma de medição do comprimento 2.12 Ensaio de tração real (verdadeiro) A resistência à tração ou o limite de resistência à tração corresponde à tensão nominal obtida pelo quociente entre o valor máximo da cargaobtida no ensaio e a área da seção transversal do corpo de prova. No caso de metais e ligas dúcteis, ocorre um grande estrangulamento ou estricção na área da ruptura, de modo que, a rigor, a resistência à tração convencional é menor que a tensão máxima real, conforme pode ser vista na Figura 16. Pela facilidade de execução, nos ensaios industriais utiliza-se o ensaio de tração convencional. Os resultados obtidos levam em conta a área inicial do corpo de prova (maior que a área final) o que proporciona resultados de tensões menores (a favor da segurança). Ensaio de Tração – Revisão 04 Profa. Lucia Barbosa Página 10 Figura 16 - Curvas de tração real e convencional Referências SENAI – Telecurso 2000 Profissionalizante. São Paulo. SOUZA, S. A. Ensaios mecânicos de materiais metálicos. Edgar Blücher, São Paulo. 1982.
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