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Universidade Estadual de Campinas 2 a 8 de agosto de 20042 UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (0xx19) 3788-5108, 3788-5109, 3788-5111. Fax (0xx19) 3788-5133. Homepage http://www.unicamp.br/imprensa. E-mail imprensa@unicamp.br. Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes. Assessor Che- fe Clayton Levy. Editor Álvaro Kassab. Redatores Antonio Roberto Fava, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Maria Alice da Cruz, Nadir Peinado, Raquel do Carmo Santos, Roberto Costa e Ronei Thezolin. Fotografia Antoninho Perri, Neldo Cantanti. Edição de Arte Oséas de Magalhães. Diagramação Andre Luis Amarantes Pedro, Luis Paulo Silva. Ilustração Phélix. Arquivo Antonio Scarpineti. Serviços Técnicos Dulcinéia B. de Souza,Edison Lara de Almeida e Hélio Costa Júnior. Impressão Prisma Printer Gráfica e Editora Ltda (19) Fone/Fax: 3229-7171. Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (0xx19) 3295-7569. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju Reitor Carlos Henrique de Brito Cruz. Vice-reitor José Tadeu Jorge. Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva. Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Rubens Maciel Filho. Pró-reitor de Pesquisa Fernando Ferreira Costa. Pró-reitor de Pós-Graduação Daniel Hogan. Pró-reitor de Graduação José Luiz Boldrini. rtigoA Cartas MARIA CRISTINA FABER BOOG os œltimos tempos, expres- sıes como qualidade de vi- da e alimentaçªo saudÆvel vŒm atraindo a atençªo de pesso- as de diferentes idades, classes so- ciais e graus de instruçªo. De igual modo, desperta interesse a possi- bilidade de se desenvolver estilos de vida saudÆveis, para o que ocu- pa posto privilegiado a alimenta- çªo e a educaçªo nutricional. Mas afinal, o que Ø Educaçªo Nutricional? A educaçªo Ø inerente à vida. O ser humano aprende e se desenvol- ve ao longo de sua existŒncia no esforço por responder aos desafi- os cotidianos. A educaçªo aconte- ce nesse cotidiano social e tambØm por intermØdio de açıes de instru- çªo e ensino planejadas por pesso- as capacitadas para tal. Assim, co- mo nªo se faz educaçªo musical, artística ou moral em cursinhos de cinco dias, nªo hÆ nenhuma fór- mula mÆgica para conseguir que as pessoas passem a comer melhor de um dia para outro. Isto nªo jus- tifica, porØm, desconsiderar essa importante açªo em prol da pro- moçªo da saœde. A educaçªo nutricional, enquan- to especialidade de interesse aca- dŒmico, remonta à dØcada de 1940, quando, no período pós-guerra, aventava-se a possibilidade de, perante a sœbita escassez de recur- sos, melhorar a qualidade da ali- mentaçªo de populaçıes paupe- rizadas, por intermØdio de modi- ficaçıes na alimentaçªo que per- mitiriam obter a melhor rela- çªo custo/benefício mediante o em- prego de alimentos mais baratos e nutritivos. Nesta Øpoca, a antro- póloga Margareth Mead foi secre- tÆria executiva do ComitŒ sobre HÆbitos Alimentares do Conse- lho Nacional de Pesquisa dos Esta- dos Unidos, que reunia nutrólogos, antropólogos, psicólogos e educa- dores com o objetivo de agregar conhecimentos, buscando estratØ- gias mais eficazes para melhorar a alimentaçªo. No Brasil, foi criada, no início da dØcada de 40, a funçªo da Visi- tadora de Alimentaçªo, uma pro- fissional de saœde que deveria ir à casa das pessoas para fazer e- ducaçªo alimentar no local onde a alimentaçªo era preparada, ou se- ja, na cozinha. A iniciativa foi con- siderada invasiva pela popu- laçªo, que reprovava a intromis- sªo de profissionais de saœde no âmbito domØstico. Nas dØcadas de 50 e 60, vemos a Educaçªo Nutri- cional ligada sobretudo às campa- nhas que visavam a introduçªo da soja na alimentaçªo. Por ser a soja produto exportÆvel, privilegiava- se o interesse econômico, em detri- mento da preferŒncia nacional pe- lo feijªo. Neste período a educaçªo voltava-se tambØm para a utiliza- çªo dos produtos obtidos atravØs do convŒnio MEC-USAID, por meio do qual eram doados a países po- bres do terceiro mundo os exce- dentes agrícolas dos Estados Uni- dos com o objetivo primeiro de ga- rantir estabilidade dos preços no mercado internacional e fomentar o desenvolvimento de mercados externos, compostos por potenci- ais compradores que se habituari- am a certos produtos recebidos i- nicialmente por intermØdio destas doaçıes. Evidentemente nªo falta- ram críticas a tais iniciativas, o que levou ao descrØdito a Educaçªo Nutricional, por razıes de ordem Educaçªo nutricional: por que e para quŒ? N Øtica e política. Nas dØcadas de 60 e 70, no âmbito internacional, a Educaçªo Nutri- cional distanciou-se de suas raízes sociais e antropológicas. A sociolo- gia cedeu lugar à medicina como mentora dos programas de Educa- çªo Nutricional e o critØrio de Œxito, inspirado nas concepçıes behavio- ristas de educaçªo passou a ser ex- clusivamente a mudança de com- portamento observÆvel. No Brasil, nas dØcadas de 70 e 80, ela passou a ser vista como prÆtica domesti- cadora, repressora e atØ aviltante, reprovada por todos os que pre- zassem a liberdade de expressªo. Comer o que se quer, na hora que se quer e como se quer era uma forma de exercer o direito à liberdade e ensinar o que Ø melhor para a saœ- de era entendido como cerceamen- to desse direito. Autores que ana- lisaram a questªo, referiram-se ao fato dizendo que a Educaçªo Nu- tricional fora para o exílio. No início da dØcada de 90, fatos novos fizeram ressurgir o interes- se pelo assunto: a divulgaçªo dos resultados da Pesquisa Nacional Sobre Saœde e Nutriçªo realizada pelo MinistØrio da Saœde, que a- pontavam para o expressivo au- mento na prevalŒncia de obesida- de, principalmente entre mulhe- res de baixa renda; a comparaçªo dos resultados da Pesquisa de Or- çamento Familiar, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com estudos de dØca- das anteriores, evidenciou incre- mento importante no consumo de alimentos, especialmente daque- les mais calóricos e menos nutriti- vos. No mesmo período, observou- se decrØscimo no consumo de fru- tas, cereais e leguminosas. O tradi- cional arroz e feijªo perdia seu pres- tígio enquanto biscoitos doces, re- frigerantes e embutidos ocupavam terreno nas gôndolas dos super- mercados. Por outro lado, a cons- tataçªo científica do fato de que a alimentaçªo de mÆ qualidade Ø um fator de risco para vÆrias doenças, fez com que a Educaçªo Nutricio- nal fosse lembrada como medida a ser considerada para reverter a tendŒncia ao crescente consumo de gorduras, açœcar e produtos industrializados que nªo trariam benefícios à saœde. Entªo, ensinar a comer Ø necessÆrio? Quem se vŒ às voltas com níveis elevados de colesterol, quem estÆ com a pressªo alta e tem excesso de peso, quem experimenta uma cri- se de gota, busca uma orientaçªo sobre como mudar a alimentaçªo. Escolas começam a contratar nu- tricionistas para oferecer meren- das de melhor qualidade e serviços de alimentaçªo de empresas a pre- ocupar-se em atender às expecta- tivas dos usuÆrios no sentido de oferecer alternativas alimentares mais saudÆveis. HÆ uma notória demanda por orientaçªo profissi- onal na Ærea de alimentaçªo. Ser- viços de saœde que contam com nu- tricionistas sªo muito procurados atualmente porque hÆ uma per- cepçªo de que Ø preciso re-educar- se para tornar a alimentaçªo mais saudÆvel e isso nªo Ø mais visto como imposiçªo, mas como uma chance de ganhar mais vida com qualidade, pondo em prÆtica al- guns conhecimentos gerados pela ciŒncia da nutriçªo, devidamente trabalhados por quem sabe que o fenômeno da alimentaçªo nªo Ø a- penas biológico. Nªo comemos nu- trientes, mas alimentos e o signifi- cado delesna esfera afetiva, psico- lógica e nas relaçıes sociais nªo podem jamais ser desconsidera- dos pela Educaçªo Nutricional. E- ducar no campo da nutriçªo impli- ca em criar novos sentidos e signi- ficados para o ato de comer. Foi-se o tempo em que se puxava da gave- ta dietas prontas de 1200kcal que proibiam o consumo de tudo que nªo fosse arroz, bife grelhado e sa- lada. Educar, no âmbito da alimen- taçªo, implica em conhecer profun- damente o que Ø alimentaçªo. O filó- sofo Edgar Morin, discorrendo a- cerca do respeito à condiçªo huma- na, no seu livro A cabeça bem fei- ta, lembra que: O que hÆ de mais biológico o sexo, o nascimento, a morte Ø tam- bØm o que hÆ de mais impregnado de cultura. Nossas atividades bioló- gicas mais elementares comer, be- ber, defecar estªo estreitamente ligadas a normas, proibiçıes, sím- bolos, mitos, ritos, ou seja, ao que hÆ de mais especificamente cultural; nossas atividades mais culturais falar, cantar, dançar, amar, meditar pıe em movimento nossos corpos, nossos órgªos; portanto, o cØrebro. Educar em nutriçªo Ø tarefa com- plexa que pode ser pensada pelo pa- radigma da complexidade. AlØm da busca por um certo conhecimento necessÆrio à tomada de decisıes que afetam saœde, cabe analisar as atitudes e condutas relativas ao universo da alimentaçªo. Atitudes sªo formadas por conhecimentos, crenças, valores e predisposiçıes pessoais e sua modificaçªo deman- da reflexªo, tempo e orientaçªo competente. E, por fim, mas com o devido des- taque, cabe mencionar que a sina- lizaçªo da segurança alimentar como meta de governo trouxe a esta temÆtica novos desafios. À Educaçªo Nutricional compete de- senvolver estratØgias sistematiza- das para impulsionar a cultura e a valorizaçªo da alimentaçªo, con- cebidas no reconhecimento da ne- cessidade de respeitar, mas tam- bØm modificar crenças, valores, atitudes, representaçıes, prÆticas e relaçıes sociais que se estabelecem em torno da alimentaçªo. Visa-se o acesso econômico e social a uma alimentaçªo quantitativa e quali- tativamente adequada, que aten- da aos objetivos de saœde, prazer, convívio social. Iniciativas relati- vas ao incremento da qualidade da alimentaçªo e à Educaçªo Nutri- cional podem estar contempladas dentro de projetos de promoçªo à saœde tais como criaçªo de ambi- entes favorÆveis à saœde, açıes co- munitÆrias e reorientaçªo dos ser- viços de saœde que ponham em re- levo açıes destinadas a fomentar saœde. TambØm Ø fundamental que os cidadªos problematizem a ques- Maria Cristina Faber Boog, nutricionista, é professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM) tªo da pobreza, da fome e da desnu- triçªo. Doar alimentos quando se vai a shows e outros eventos Ø muito pouco. Discutir essa questªo, espe- cialmente com os jovens de classes mais favorecidas, representa o de- safio de romper a disjunçªo exis- tente entre aqueles que passam fo- me daqueles que jamais experi- mentaram a sensaçªo de nªo saber se amanhª haverÆ o que por na me- sa. Diferente de desastres naturais, a fome atinge exclusivamente um segmento social que permanece à margem da sociedade, justamen- te porque estÆ excluído. Estudar e discutir a fome Ø discutir o proble- ma dos outros, e o desafio que se apresenta Ø de superar essa dis- junçªo nós/outros, desenvolven- do uma educaçªo para a solidari- edade que permita perceber esses outros como fazendo parte da sociedade à qual pertencemos. A alimentaçªo de cada cidadªo, de cada ser humano, nªo pode ser descolada da sociedade que a de- termina e por isso o ensino da nu- triçªo nªo pode ser visto apenas do ponto de vista biológico, separa- damente desse fenômeno rico e ins- tigante que Ø a alimentaçªo huma- na situada no âmbito da ecologia e da cultura. O desafio que se apre- senta hoje à Educaçªo Nutricional Ø o de aproximar esses mœltiplos componentes com a finalidade de promover a saœde e a qualidade de vida por intermØdio da ampliaçªo da compreensªo sobre a multidi- mensionalidade da alimentaçªo humana, cujo estudo encontra es- paço nas ciŒncias biológicas, huma- nas, econômicas, tecnológicas, nas artes e na literatura. E ninguØm conseguiu expressar isso melhor do que Neruda: Pan !CuÆn simple y sublime eres!, Hecho de granos y de fuego; Milagro repetido, Acción del hombre, Voluntad de vida... Todo nasció para ser Entregado, compartido, Multiplicado. Todos los seres tendran derecho a la vida... Así serÆ el pan de maæana, Para todas las bocas, sagrado y consagrado, Porque serÆ el producto De la mas larga Y de la mas dura Lucha humana. Pablo Neruda Ilustração: Phélix nCelular 1 Gostaria de parabenizar o repórter Manuel Alves Filho pela matéria so- bre a interferência de celular em equi- pamentos de UTI. É muito importante a pesquisa de Suzy Cristina Cabral, que se empenhou em estudar essa interferência. Trabalho na UTI –Adul- tos do Hospital das Clínicas, que não fez parte do referido trabalho, e tenho a compreensão da problemática que envolve o uso de celulares aqui den- tro. Este artigo servirá para discus- são nas reuniões administrativas do grupo multiprofissional, inclusive o de humanização, do qual faço parte. Uma orientação para que se evite o uso de celular na Unidade seria um elemen- to agregador da qualidade para nos- sos pacientes. Magdaelei Costa Amorim nCelular 2 Soubemos da pesquisa de Suzy Cristina Cabral por intermédio da rá- dio CBN . Pela internet, lemos a matéria do Jornal da Unicamp, que reforça nosso trabalho sobre a interferência de celulares nas linhas de produção robotizadas de nossa empresa de autopeças, a Aethra Componentes Automotivos, com unidades em Belo Horizonte , Contagem e Betim (Minas Gerais). Maurício Lussy nBio-inpirada Tenho 15 anos, e curso o 1° ano do ensino médio no Instituto Gammon, em Lavras (Minas Gerais). Achei mui- to interessante a reportagem sobre a computação bio-inspirada, conside- rando-se que esse método de “locali- zação”, inspirado na bio-química, po- derá ser útil a profissionais de diver- sos ramos, e aplicado em diversos contextos. Por tomar conhecimento de proje- tos de tamanha importância, que são apresentados pela Unicamp, traço atu- almente, como objetivo principal, o desejo de em 2006 prestar vestibular nesta instituição para o curso de Ci- ências Biológicas. Tendo consciência do grau de concorrência, e do prestí- gio da Unicamp, o que me resta ago- ra é pesquisar e estudar muito, na esperança de me sair bem na prova. Gostaria de agradecer o conjunto de pesquisadores da Unicamp, que tanto se empenham em buscar para a sociedade melhores condições de vida, em todos os setores, e para- benizá-los por tamanha competência. Espero um dia integrar essa equipe. Érica Souza nParto de cócoras É fantástico que o professor Hugo Sabatino tenha conseguido compro- var a eficácia do parto de cócoras e todas as vantagens da posição verti- cal para o nascimento, e agora ser convidado para divulgar esse traba- lho, desenvolvido na Unicamp por ele e sua equipe, na Espanha. Muitas vezes, adotamos este procedimento, mas não conseguimos comprovar, ci- entificamente, as vantagens do méto- do. Sugiro que todo esse trabalho seja melhor divulgado em nosso meio para que mais profissionais da área obsté- trica possam atuar de forma huma- nizada e natural. Deise Serafim.
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