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ANÁLISE DA CONDUTA DELITUOSA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM FOCO NAS CIFRAS NEGRAS NA CIDADE DE BARREIRAS/BA

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ANÁLISE DA CONDUTA DELITUOSA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM FOCO NAS CIFRAS NEGRAS NA CIDADE DE BARREIRAS/BA
“Quando percebi o menor já estava na minha frente. E com a arma apontada para minha cabeça, anunciando o assalto. E deixei que levasse meu celular. A gente não pode fazer nada, em um caso desses a gente fica “frouxo”, sem poder fazer nada.” (A. C. F.)
Bruna Fontes Fernandes[1: Estudante do Curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: brunecahtinha@hotmail.com]
David Marques dos Santos[2: Estudante do Curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: frodo.sda123@gmail.com]
Iago Elisiário Ferreira da Silva[3: Estudante do Curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: guinho.elisiario@gmail.com]
Rafhael Dessoto Gomes[4: Estudante do Curso de Direito pela Faculdade São Francisco de Barreiras [FASB] E-mail para contato: dessotinho760@gmail.com ]
Aderlan Messias de Oliveira[5: Professor de Criminologia e Orientador do projeto de pesquisa “Barreiras sob o enfoque Criminológico”]
RESUMO
O presente artigo buscou analisar a conduta delituosa de crianças e adolescentes baseado nas cifras negras, ou seja, na criminalidade real, que inclui dados não registrados pela polícia. Num primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica para poder se verificar a origem e como se dá o fenômeno da criminalidade a partir de diversas teorias que tratam do delito e da criminalidade em si, que é gerada pela mescla do próprio delito, com o indivíduo e o meio social. Nisso constatou-se a presença de crianças e adolescentes nesse fenômeno. Para melhor compreensão estabeleceu-se uma diferenciação legal de crianças e adolescentes, fatores que levam os jovens a delinquir e as medidas cabíveis para com aqueles que estão em conflito com a lei. Mesmo com essas medidas, verificou-se que, muitas permanecem impunes, devido à desorganização e desestruturação do atual sistema prisional brasileiro, ou pelo fato de as vítimas não denunciarem. Adiante, explanou-se sobre as tipologia das cifras criminais, focando nas cifras negras, que engloba todos os outros tipos e pode ser considerado como casos de crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, ou que até chegam, mas o processo decorrido deles não é levado à diante. Num segundo momento, com todo esse estudo, fez-se a aproximação das cifras negras com a criminalidade juvenil na cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, onde se apresentou dados sobre a cidade e o aumento do índice de criminalidade devido ao crescimento, bem como uma teoria que explica esse fato. Para mostrar essa relação foi realizada uma pesquisa na delegacia do complexo policial de Barreiras, em relação às estatísticas de crimes que ocorrem na cidade e como era o trabalho na resolução de tais. Também foi realizada entrevista com uma vítima da criminalidade juvenil, que não denunciou o ocorrido. Com essa pesquisa, percebeu-se que o maior gerador de cifras negras é o fato de as pessoas não denunciarem. Deu-se então ênfase na importância da denúncia por parte da vítima como um meio de ajudar as autoridades na busca da diminuição da criminalidade em todos os âmbitos.
Palavras-chave: Criminalidade. Prática de conduta delituosa por jovens. Cifras negras. Denúncia
Sumário: Introdução, 1. O fenômeno da criminalidade, 1.1 O delito, 1.2 Teorias da criminalidade, 2. Crianças e adolescentes em conflito com a Lei, 3. Tipologia das cifras criminais, 3.1 Cifras negras, 4. As cifras negras na criminalidade juvenil na cidade de Barreiras, 4.1 Pesquisa e resultado, 4.1.1 ROCAM, 4.1.2 Vítima, 4.2 Denúncia, Considerações finais, Referências.
INTRODUÇÃO
Com o aumento da criminalidade, principalmente entre crianças e adolescentes, é importante de que se faça um estudo a respeito, para descobrir o que leva esses jovens a cometerem tais práticas.
Para que se possa entender a criminalidade é necessário um estudo complexo, pois são várias as teorias referentes ao assunto. Estudando um pouco dessas teorias, foi possível se obter um pouco da compreensão necessária para se entender esse fenômeno. A partir disso pôde-se explanar a respeito da atuação dos jovens no âmbito da criminalidade e, também falar dos casos que o poder estatal não tem conhecimento, que caracterizam as cifras negras.
Para se consolidar a relação entre essas cifras negras e a prática de condutas delituosas por crianças e adolescentes, e mostrar a importância da denúncia nesse meio foi realizada pesquisa de campo para se coletar dados que foram complementados com bases em diversos teóricos das searas criminal e criminológicas da atualidade e também do passado, para se ter uma melhor visão entre plano teórico e fático.
O FENÔMENO DA CRIMINALIDADE
Cada sociedade estabelece o seu conjunto de regras e normas que devem ser respeitadas e cumpridas pelos indivíduos que delas fazem parte. Nisso ocorre o surgimento de alguns que irão infringir essas normas, dando início à criminalidade.
O DELITO
Para se entender o fenômeno da criminalidade é necessário estabelecer esclarecimentos sobre o delito (ou conduta desviada, ou crime).
Segundo Molina e Gomes (2010, p. 66)
[...] Existem, com efeito, numerosas – e muito diversas – noções de delito. O Direito Penal, por exemplo, serve-se de um conceito formal e normativo, imposto por exigências inexoráveis de legalidade e segurança jurídica: delito é toda conduta prevista na lei penal e somente a que a lei penal castiga. A Filosofia e a Ética, por sua vez, valem-se de outras pautas e instâncias além do direito positivo: da ordem moral, da natural, da razão etc.
Não dá para se ter uma concepção unificada do que é delito. Cada ciência vai se valer de parâmetros para a construção do seu conceito, observando características próprias ao seu interesse.
O Direito Penal apresenta a teoria do delito, que, na lição de Zaffaroni (apud GRECO, 2011, p. 135), é
a parte da ciência do direito penal que se ocupa de explicar o que é o delito em geral, quer dizer, quais são as características que devem ter qualquer delito. Esta explicação não é um mero discorrer sobre o delito com interesse puramente especulativo, senão que atende à função essencialmente prática, consistente na facilitação da averiguação da presença ou ausência de delito em cada caso concreto.
Nisso, vê-se que a teoria do delito (também conhecida como teoria do crime) busca uma explicação de delito que supra a necessidade do Direito Penal e facilite o processo necessário para se tentar descobrir se houve ou não delito em uma ocorrência real.
Esse processo ocorre por meio da verificação do fato típico, da ilicitude e da culpabilidade, e apurará: se no caso concreto o delito realmente ocorreu; se está tipificado; se não há uma causa para o agente o ter praticado; e se ele é capaz de responder pela sua conduta.
Para Oliveira (1996, p. 49) “o crime é resultante de uma soma de fatores, sendo portanto uma estrutura complexa e jamais o produto de uma única causa”. Na origem do crime existem fatores de ordem individual, que são aqueles predisponentes no indivíduo, e de ordem social, que são os valores transmitidos pela sociedade ao indivíduo.
TEORIAS DA CRIMINALIDADE
Para poder explicar o fenômeno da criminalidade, a doutrina criou diversas teorias, na tentativa de encontrar a sua gênese.
“As teorias da criminalidade inclinaram-se progressivamente para a Sociologia, independente de suas distintas premissas filosóficas e metodológicas (de fato, concorrem no seio da Sociologia criminal diferentes paradigmas: funcionalista, subcultural, conflitual, interacionista etc.).” (MOLINA; GOMES, 2010, p.281)
A Sociologia, assim como a Antropologia, mostrou-se muito importante para o desenvolvimento das teorias sobre a criminalidade, pois o meio social em que o indivíduo está inserido é um fator indispensável para a formação de seu caráter.
Reforçando a importância da Sociologia,Ferri (apud MOLINA; GOMES, 2010, p.180) cria a sua teoria da criminalidade. Para ele, o delito “não é produto exclusivo de nenhuma patologia individual (o que contraria a tese antropológica de Lombroso), senão – como qualquer outro acontecimento natural ou social – resultado de contribuição de diversos fatores: individuais, físicos e sociais.”
Para essa teoria não se deve analisar os fatores criminógenos separadamente, mas em conjunto, pois o delito e a criminalidade advêm de todos eles, sendo que cada um tem a sua participação na constituição dos mesmos. 
Seguindo a teoria da associação diferencial, Maíllo (2007, p. 89) discorre que
[...] a origem da criminalidade não é hereditária, e, por sua vez, qualquer um pode chegar a cometer algum fato delitivo. A aprendizagem do delito – na verdade, de qualquer conduta – ocorre basicamente mediante processos de interação, de comunicação com outras pessoas, em especial nos pequenos grupos íntimos e nas relações diretas, tanto verbais como gestuais.
Partindo dessas considerações, a criminalidade está ligada à junção do crime com o agente. Nessa ótica, entra a criminologia, também em busca de explicações científicas sobre o fenômeno da criminalidade.
A Criminologia “é o conjunto de conhecimentos que estudam as causas (fatores determinantes) da criminalidade, bem como a personalidade, a conduta do delinquente e a maneira de ressocializá-lo”. (OLIVEIRA, 1996, p. 29)
Com o seu objeto de estudo sendo o crime, o criminoso e o controle social sobre o delito, a Criminologia acaba englobando todas as outras áreas que envolvam esses temas, ou seja, todas as chamadas ciências criminais.
Nisto, percebe-se que a Criminologia e a Sociologia Criminal estão interligadas, e essa relação se mostra no fato de que uma das principais teorias criminológicas, que trata da criminogênese, é chamada de Teoria Sociológica, onde o âmbito social em que o agente vive é o fator que gera o seu comportamento delituoso (OLIVEIRA, 1996).
CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) utiliza um critério de idade para fazer a diferenciação entre criança e adolescente, conforme o seu artigo 2.º: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre os doze e dezoito anos de idade.” Estas são penalmente inimputáveis, de acordo com o artigo104 do mesmo dispositivo legal, ou seja, não podem responder penalmente por atos infracionais que venham a ser praticados por elas, pois são consideradas absolutamente incapazes (até os dezesseis anos) ou relativamente incapazes. (BRASIL, 2015)
 Nos casos de atos infracionais cometidos por menores, cabe-se as medidas de proteção previstas no artigo 101 do ECA, que são: o encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; acolhimento institucional; inclusão em programa de acolhimento familiar; e colocação em família substituta. (BRASIL, 2015)
Estas medidas são tomadas para que os delinquentes juvenis possam “pagar” por seus crimes e serem reinseridos socialmente, e, ao mesmo tempo, possam ter os seus direitos assegurados. Mas o que acontece é que, muitas vezes, não acontece como está escrito na lei, pois as instituições governamentais não estão totalmente preparadas para promover e colocar em prática esses direitos.
“É sabido que a delinquência juvenil representa uma preocupação fundamental na Criminologia, histórica e contemporaneamente, o que está mais que justificado; e que, de fato, um grande número das teorias criminológicas mais influentes partiram muito mais do estudo da delinquência juvenil que da adulta.” (MAÍLLO, 2007, p.104)
Hodiernamente é notório o aumento de atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes, o que é uma preocupação para as ciências que estudam esse fenômeno e também para a sociedade. O motivo desse aumento é que pensam que irão permanecer impunes, sem contar que muitas vezes, adultos se utilizam desse “benefício” para tirar proveito dessas crianças a partir de atos infracionais que os mesmos as induzem fazer. Muitas são detidas diariamente pela prática de delitos, mas infelizmente são soltas devido à falta de estrutura para que se possa concretizar os seus direitos. Dentre estes jovens, muitos continuam com essa praxe, o que contribui para o aumento da criminalidade, até a idade adulta.
No contexto da delinquência juvenil, Colvin e Pauly desenvolveram a teoria estrutural-marxista da produção da delinquência juvenil, de acordo a qual “o capitalismo contemporâneo caracteriza-se por uma série de relações de produção e por um sistema de classes específico; e a delinquência é um resultado de dita mescla.” (MAÍLLO, 2007, p.277)
Com o advento capitalista, ocorreu uma nova divisão de classes na sociedade. Essa divisão propiciou a continuidade da discriminação das classes consideradas inferiores, que eram aquelas que possuíam um menor poderio econômico, fazendo com que as chamadas “classes baixas” tivessem menos importância perante o Estado, com um baixo investimento econômico e social vindo do mesmo. Todos esses fatores foram uma das gêneses da delinquência no sentido geral, assim, também, da delinquência juvenil.
Partindo dessa teoria de Colvin e Pauly, a miséria social causada pelo sistema de classes do capitalismo, a precária condição econômica das famílias de classes baixas, são realidades que podem facilitar a entrada de crianças e adolescentes no mundo do crime, iniciando, muitas vezes, pelo uso de drogas, até se chegar à prática de atos mais.
TIPOLOGIA DAS CIFRAS CRIMINAIS
Quando se fala de criminalidade, pode-se considerar duas categorias: a criminalidade registrada e a criminalidade real (GOMES, 2015). Entende-se por criminalidade registrada os dados a respeito dos delitos denunciados, coletados pela polícia. Mas ocorre que a criminalidade registrada quase sempre não corresponde à criminalidade real, que é o verdadeiro índice da criminalidade, e que engloba os crimes que não chegam ao conhecimento estatal.
Em relação a essa criminalidade real, a Criminologia estuda as chamadas “cifras criminais”. Cifra criminal é o termo que se utiliza para os crimes que ocorrem porém não chegam ao conhecimento das autoridades policiais ou deixam de seguirem com os trâmites necessários para que o autor, responsável pela prática do crime seja devidamente responsabilizado civil e penalmente. (PÁDUA, 2015)
Existem diferentes tipos de cifras criminais, dentre elas estão: i) as cifras douradas (referentes aos “crimes do colarinho branco”, termo criado por Edwin H. Southerland, importante criminólogo americano); ii) as cifras cinzas (referentes às ocorrências que até chegam a ser registradas, mas não são levadas à diante por poderem ser resolvidas por meio de conciliação das parte ou por desistência da vítima); iii) cifras amarelas (nessas, a vítima sofre algum tipo de violência por parte de um funcionário público, mas não denuncia ao órgão responsável); iv) cifras verdes (são os crimes cometidos contra o meio ambiente e que não chegam ao conhecimento policial). (PÁDUA, 2015)
Essas tipologias foram criadas para diferenciar os crimes não denunciados, ou que foram, mas o processo não foi levado à diante. É um meio para organizar e facilitar o reconhecimento dos casos de acordo com o tipo criminal que é praticado e de que tipo de criminoso que o praticou sendo uma classificação feita da maneira mais adequada possível.
CIFRAS NEGRAS
Dentre as categorias das cifras criminais também existem as cifras negras. Estas englobamtodas as outras, tratando de todos aqueles crimes cometidos que não chegam ao conhecimento do estado, ou que podem até chegar, mas não é dada continuidade ao processo gerado a partir deles.
“A Cifra Negra consiste na demonstração que o menor número de ocorrências conflitivas em uma sociedade chega ao conhecimento das autoridades públicas. Deste menor número que chega ao conhecimento da polícia, uma ínfima parcela deles chega ao conhecimento do judiciário, e desta ínfima parcela que chega o judiciário, uma pequeníssima parcela é que vai redundar em condenação.” (MURAD, 2014)
Um dos fatores da ocorrência das cifras negras vem devido a um sentimento de impunidade por partes de algumas vítimas em relação ao seu agressor. Existe um histórico longo e bem formado de proteção ao delinquente seja por meio de lei, seja pela incapacidade dos órgãos estatais de agir de forma eficaz e rápida diante das situações.
Tem-se, por exemplo, a ideia equivocada de que o jovem infrator no Brasil não é punido e nem responsabilizado penalmente por as suas ações, isso vem porque, nesse caso específico, aplica-se uma norma especial (Estatuto da Criança e do Adolescente) que responsabiliza o infrator de forma diferenciada devido a sua capacidade biopsicológica natural, pois este não possui, em tese, a capacidade de ter conhecimento e controle total de suas ações e decisões. Além do tratamento da lei, há a influência negativa da mídia televisiva que, de forma errônea, demonstra uma posição de não responsabilidade sobre esse infrator por ser “menor de idade”.
Juntando a essa série de eventos, a deficiência de órgãos estatais na repressão da criminalidade infanto-juvenil de forma efetiva gera um desrespeito da polícia, em seu trabalho, a alguns direitos fundamentais, possibilitando assim a soltura do infrator devido ao fato de, muitas vezes, não se ter uma estrutura para abrigar e ressocializar esse indivíduo.
Com o problema das cifras negras em relação aos atos infracionais cometidos por delinquentes infanto-juvenis e como meio para se tentar amenizar a criminalidade em geral, repercutiu a discussão sobre a redução da maioridade penal. A Proposta de Emenda à Constituição nº 33, de 2012, busca alterar a redação dos artigos 129 e 228 da Constituição Federal, acrescentando um parágrafo único para prever a possibilidade de desconsideração da inimputabilidade penal de maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos por lei complementar.[6: Proposta de Emenda à Constituição nº 33, de 2012. Disponível no site: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106330. Acesso em 03 de nov de 2015.]
Esse é um tema muito polêmico e são diversas as opiniões sobre ele, sendo alguns contra e outros a favor. Nesse caso, deve-se observar qual a eficácia que a proposta teria no plano fático, analisando as leis que dispõem sobre a responsabilização das crianças e adolescentes que praticam atos infracionais, o cumprimento dessas leis e a realidade do sistema prisional brasileiro. Com isso pode-se chegar a uma opinião razoável a respeito desse tema, definindo se a redução da maioridade penal é a solução para a diminuição da criminalidade juvenil e das cifras negras provenientes dela.
AS CIFRAS NEGRAS NA CRIMINALIDADE JUVENIL NA CIDADE DE BARREIRAS/BA
A criminalidade tem se tornado, nas últimas décadas, foco de preocupação para o governo para as grandes cidades e isso não é diferente no município de Barreiras. De acordo com as autoridades, as pessoas já andam assustadas e reclamam dos prejuízos causados com os roubos na cidade.
A movimentação de pessoas em Barreiras é bem grande, pois é uma cidade muito rica economicamente, sendo a maior cidade do oeste baiano. Estima-se que o município está com uma população estimada de 153.918 habitantes, conforme dados do IBGE (2015), e com isso, propícia ao crime.
Essa tendência de se aumentar a criminalidade conforme a cidade vai crescendo pode ser explicada pela teoria ecológica. “A cidade “produz” delinquência. Dentro da grande cidade pode-se verificar inclusive a existência de zonas ou áreas muito definidas (o gangland, as delinquency areas), onde aquela se concentra”. (MOLINA; GOMES, 2010, p.284)
Isso é um efeito criminógeno da grande cidade. Com o seu crescimento , o controle social exercido tende a diminuir, gerando a desorganização. Esses fatos propiciam o aumento da criminalidade, principalmente em bairros onde esse controle social se torna ainda menor (geralmente em bairros mais afastados do centro da cidade), como é verificável em Barreiras.
4.1 PESQUISA E RESULTADO
4.1.1 ROCAM
Não há dados oficiais, mas, segundo pesquisa realizada na delegacia do complexo policial de Barreiras, desde o início do ano estão sendo registradas, em média, de uma a três ocorrências de roubo por dia na cidade, levando em consideração a criminalidade registrada, número este que aumenta se observada a criminalidade real. O horário preferido dos criminosos tem sido à noite. A Polícia Militar (PM) responsável pelo policiamento ostensivo tem realizado um trabalho constante no combate ao crime. Porém os assaltos continuam acontecendo. “Os crimes acontecem geralmente no horário que o cidadão está saindo do trabalho, se deslocando para casa, é nessa hora, no fim do dia e início da noite, que eles aproveitam para roubar”, explica o soldado Campos, da ROCAM (Ronda Ostensiva com o Apoio de Motocicletas).
Isso traz a reflexão se as políticas de segurança pública estão sendo efetivas, pois mesmo com a polícia desempenhando o seu papel o índice de criminalidade continua o mesmo.
4.1.2 VÍTIMA
Foi realizada uma entrevista com uma vítima de ato infracional cometido por um delinquente juvenil e que não fez a denúncia. Ela é manicure e, quando questionada a respeito do ocorrido, disse: “Quando percebi o menor já estava na minha frente e com a arma apontada para minha cabeça, anunciando o assalto. Deixei que levasse meu celular. A gente não pode fazer nada, em um caso desses, a gente fica frouxo, sem poder fazer nada.”
4.2 DENÚNCIA
O papel da polícia é de extrema importância para a redução da criminalidade juvenil, mas a vítima também tem uma atuação vital nesse combate, pois é a partir da denúncia que as autoridades poderão ter o conhecimento desses atos ilícitos, assim como poderão mapear as áreas onde ocorre uma maior incidência, e tomarão as medidas cabíveis para resolver o caso. Isso fará com que ocorra uma baixa nas cifras negras, aproximando os dados da criminalidade registrada com o da criminalidade real, e se desenvolva melhor o policiamento na cidade de Barreiras.
Segundo Gomes e Molina (2010, p.479) “há anos vem a Vitimologia, que nada mais é que uma parte da Criminologia, estudando a vítima e suas relações, seja com o infrator, seja com o sistema.”
Sendo assim, é necessário que se estabeleça a parceria entre a vítima e sistema penal para este possa atuar de forma plena em conseguir que o infrator responda pelos suas infrações.
Para fazer uma denúncia, há meios, como pela internet, telefonema ou presencialmente (indo na delegacia). Todos os dias a polícia de Barreiras recebe denúncias e preserva, sempre que solicitada, a identidade do informante. O disque-denuncia é um serviço centralizado que permite a qualquer um fornecer para a polícia informações sobre delitos com a absoluta garantia de anonimato.
Ao sofrer uma violência de qualquer tipo e que seja motivo de acionamento do Direito Penal, é fundamental que a vítima faça a denúncia do fato para que se inicie o processo penal e de perseguição ao infrator.
A vítima, quando denuncia, está contribuindo para que os atos delituosos que ocorrem na sociedade venham à tona, possibilitando, assim, que as autoridades tomem as devidas providências legais para buscar apreender os indivíduos que cometem tais delitos e até evitar que novos delitos aconteçam por parte desses delinquentes, contribuindo para que se possa aperfeiçoar o sistema de segurança pública, mobilizando mais agentes da lei para as áreascom maior frequência de assaltos, iniciando patrulhas preventivas a fim de minimizar o problema o máximo possível.
Verificou-se na pesquisa que as pessoas não têm o hábito de denunciar. O maior motivo é o sentimento que as pessoas tem de impunidade por parte da justiça para como os delinquentes, principalmente em relação às crianças e adolescentes infratores, pois sentem que, mesmo se denunciarem, não conseguirão de volta os bens materiais que foram subtraídos ou não serão ressarcidas pelo seus bens jurídicos que foram violados. Outros não denunciam por medo, devido a ameaças. É necessário que as vítimas se conscientizem e não tenham medo de denunciar, porque assim estará contribuindo com toda a sociedade para que o índice de criminalidade possa ser reduzido e poderá ajudar os menores infratores, desde que cumpridas as medidas socioeducativas, a se recuperarem e se reestabelecerem na sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Notou-se que a origem da criminalidade vem de diversos fatores, que incluem a análise e estudo em conjunto do delito, do infrator, e do meio social pelas diversas teorias criadas até hoje. Tudo isso culmina no índice da criminalidade.
Ao observar esse índice de criminalidade, uma categoria em especial chamou atenção: os atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes. Essa é uma prática que vem crescendo, e em boa parte dos casos os jovens que cometem esses atos acabam ficando impunes por não poderem ter os seus direitos assegurados, não tendo um lugar específico para a sua ressocialização e por inaplicabilidade da lei que os estabelece.
Outro fator de impunidade acontece pelo fato de algumas vítimas não denunciarem o atentado contra o seu bem jurídico por parte de um desses jovens. Isso constitui as cifras negras da criminalidade, os dados reais que não podem ser colhidos devido a essa deficiência da denúncia por parte das vítimas, geralmente causada por não mais acreditarem no sistema penal “falido” que se tem no Brasil.
O foco de analisar as cifras negras nos casos de atos infracionais cometidos por crianças e adolescentes demonstrou a importância que a vítima tem para que se possa diminuir o índice, tanto da delinquência juvenil, quanto de toda a criminalidade. A partir da denúncia, o indivíduo contribui para que se possam aplicar medidas que melhoraram a segurança pública e procure se fazer cumprir as medidas de ressocialização, diminuindo as cifras negras e, consequentemente, crimes futuros. Mas é imprescindível ao Estado que se faça valer as leis, para que possa recuperar a confiança perdida pela sociedade no mesmo.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente nº 8.069. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial da União em 16 de jul de 1990 e retificado em 27 de set de 1990. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em 11 de out de 2015
GOMES, Luiz Flávio. A impunidade no Brasil: de quem é a culpa? (Esboços de um decálogo dos filtros da impunidade). Disponível no site: http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewFile/433/614. Acesso em 14 de out de 2015.
GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos: introdução às bases criminológicas da Lei 9.099/95, lei dos juizados especiais criminais / Luiz Flávio Gomes, Antonio García-Pablos de Molina; tradução Luiz Flávio Gomes, Yebbin Morote Garcia, Davi Tangerino. 7. ed. Reform., atual. e ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2010. – (Coleção ciências criminais; v. 5 / coordenação Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches Cunha).
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal / Rogério Greco. – 13. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2011.
KROHN, Marvin. Edwin H. Southerland. Disponível no site: http://www.oxfordbibliographies.com/view/document/obo-9780195396607/obo-9780195396607-0148.xml. Acesso em 17 de out de 2015.
MURAD, Rodrigo, O que é a cifra negra e a cifra dourada no direito penal. Disponível no site: http://criminologiaedireitopenal.blogspot.com.br/2014/03/o-que-e-cifra-negra-e-cifra-dourada-no.html. Acesso em 03 de nov de 2015
OLIVEIRA, Frederico Abrahão de, 1949 – Manual de criminologia / Frederico Abrahão de Oliveira. 2. ed. – Porto Alegre : Sagra : DC Luzzatto, 1996.
PÁDUA, Vinícius Alexandre de. Cifras criminais da Criminologia. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 30 mar. 2015. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.52846&seo=1. Acesso em 14 de out de 2015.
Proposta de Emenda à Constituição nº 33, de 2012. Disponível no site: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106330. Acesso em 03 de nov de 2015.
SERRANO Maíllo, Alfonso. Introdução à criminologia / Afonso Serrano Maíllo ; tradução de Luiz Regis Prado. – 1. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001.

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