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ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO

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ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO 2
Sumário: 62. Considerações prévias. 63. Origem histórica do Direito. 64. Caracteres do Direito primitivo. 65. O progresso jurídico. 66. Conclusões.
62. CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
O estudo sobre a origem do Direito comporta as análises ontológica e histórica. A primeira aborda a fonte geral e essencial do Direito Positivo como um todo, perspectiva que leva o pesquisador às doutrinas voluntaristas, naturalistas e ecléticas, que situam o Direito, respectivamente, como emanação da vontade, produto da natureza ou síntese integradora de ambas. Tal ordem de indagação será considerada em estudo à parte, limitando-se o presente capítulo à análise histórica, cujo tema oferece extenso painel de enfoques e constitui objeto da disciplina História do Direito. A análise, do ponto de vista histórico, promove o levantamento de dados pertinentes às primeiras manifestações práticas do fenômeno jurídico e a sua variação no tempo, com abrangência dos fatos sociais circundantes e indução de princípios e leis da evolução jurídica.
As análises ontológica e histórica exercem, entre si, recíproca influência. De um lado, a pesquisa histórica, ofertando subsídios fáticos, ajuda a clarificar a noção do Direito, que não pode ser compreendido como algo dissociado da práxis. A análise histórica, que não se restringe a descrever as mutações que se operam no campo do Jus Positum, pois esclarece os critérios e constantes da evolução jurídica, pressupõe opções ontológicas sobre o Direito. O estudo histórico tanto revela substratos jurídicos que Del Vecchio, no objeto da Filosofia do Direito, incluiu a pesquisa fenomenológica, que se desenvolve, segundo o autor, pelo exame da história jurídica da humanidade e tem por escopo a demonstração das causas genéricas e universais da formação e existência do Direito Positivo.1
63. ORIGEM HISTÓRICA DO DIREITO
Embora não se tenha, hoje, uma base científica segura para a descrição do teor e forma das manifestações originais do Direito, havendo muito de conjetural a respeito, algumas conclusões fundamentais se impõem como resultado do conhecimento atual sobre a natureza humana e por inferências registradas na observação do quadro evolutivo do Direito.2
A ordem natural das coisas nos revela que os grupos sociais, inicialmente restritos ao âmbito da família, eram regidos por normas internas, cuja imposição se fazia pela autoridade do pai de família. A tese sobre a existência do estado de natureza, exposta pela Escola do Direito Natural, durante os séculos XVII e XVIII, segundo a qual os homens primitivamente teriam vivido isolados e que apenas em um segundo estádio, mediante o pacto de união, teriam se agrupado, não é reconhecida atualmente como um fato histórico, mas como suposto lógico a explicar a teoria do contrato social.
No que concerne à primitiva forma de convivência humana, predomina o entendimento segundo o qual a horda, o matriarcado e o patriarcado foram, sucessivamente, as três fases iniciais, não obstante a doutrina tradicional, fundada em fontes bíblicas, indique o patriarcado como a primeira etapa. A horda se caracterizaria pela vida nômade do grupo, onde imperava o regime de promiscuidade, com os indivíduos se dedicando à caça e à pesca e sem regras predeterminadas de convivência. Abandonando o nomadismo, os homens passaram a trabalhar na agricultura, originando-se a fase do matriarcado, pela qual o parentesco se definia pela mulher e já não se adotavam práticas promíscuas. Foi Bachofen, em 1861, em seu livro Matriarcado, quem apresentou estudo sistemático sobre essa etapa. Na observação de Del Vecchio, com o matriarcado a mulher não assumiu a hegemonia política, mas apenas a condição de centro da família pela designação do parentesco.3 Em fase histórica subsequente o homem assumiu a chefia da família e passou a ser o elemento de referência na definição do parentesco. Era o patriarcado.
Quando as primeiras sociedades se formaram, com elas surgiram também as regras de convivência, não inteiramente novas, pois muitas já eram consagradas nos grupos sociais. Em sua fase inicial, o Direito que se formou com os grupos primitivos era aplicado pelo sistema da vingança privada, pelo qual cumpria aos particulares a retribuição do mal. Inicialmente a represália não seguia critérios definidos, mas em uma fase mais adiantada estabeleceu-se a chamada pena de talião, pela qual a vítima ou seus familiares reagiam à ofensa com igual intensidade e forma: olho por olho, dente por dente. Em estádio que se seguiu, as pessoas envolvidas em litígio já não ficavam abandonadas a uma solução de caráter pessoal, de vez que o rei ou o pai de família assumia a incumbência de decidir a causa. Logo, porém, as sentenças eram confiadas à classe dos sacerdotes ou aos juízes, que pacificavam as partes e castigavam os culpados. A partir dessa etapa o Direito se reveste de formas e cerimônias, em uma iniciativa dos julgadores e como maneira de valorizar a sua tarefa. Na observação de Pietro Cogliolo, “criado o órgão está assegurada a função”.4 As formalidades passaram a atribuir caráter jurídico aos atos praticados. Quando as partes desejavam limitar a obrigação assumida apenas ao plano religioso, dispensavam o emprego dos símbolos. Pretendendo, todavia, impor efeitos jurídicos ao ato, recorriam a mancipatio que, na expressão de Cogliolo, “era um complexo de formas sem conteúdo”.5 Surge, assim, a fase da composição, pela qual os povos substituem a vingança privada, que se identificava com a força bruta, em favor de critérios racionais que beneficiavam tanto o lado da vítima quanto o da comunidade. Com a compositio tem-se a criação do processo judicial, caracterizado pela figura do julgador, existência do litígio e de regras sociais a serem aplicadas.
Historicamente, a passagem de uma fase para a seguinte não se processou na mesma época em todos os lugares. Enquanto os romanos abandonaram a vingança privada já ao início de sua história, os germanos somente o fizeram ao final da Idade Média, conforme anotação do jurista alemão Sternberg.6
Em meio a inúmeras dúvidas que a retrospectiva jurídica apresenta, uma conclusão é certa, como declara Giorgio Del Vecchio: “A organização jurídica primitiva baseia-se no vínculo de sangue.”7 Tal parentesco criava uma unidade, com repercussão no Direito, pois os que possuíam uma ascendência comum mantinham recíproca tutela. A unidade estabelecida simbolizava-se por um totem, objetivado geralmente em um animal e, em raras vezes, pelas plantas. Denominava-se gens ou clan o grupo formado pelo vínculo de sangue, sendo que se admitiam a participação de estranhos mediante a adoção. Os grupos, assim constituídos, possuíam uma grande força, tal a solidariedade que neles imperava. Quando um elemento da gens era atacado por um forasteiro o grupo é quem reagia, fazendo-o não em relação ao ofensor, mas contra o grupo a que este pertencia.
Qual a causa fundamental do Direito? Do ponto de vista filosófico teria surgido em razão da imperfeição humana. Para a Igreja Católica essa condição seria irreversível, porquanto derivada do pecado original. O Direito seria, assim, na observação de Felice Battaglia, remedia peccati, que não sanava o pecado e nem devolvia a perfeição ao homem.8 Para os marxistas a imperfeição poderia ser convertida, pois a sua origem estava ligada à distinção de classes sociais. Com o desaparecimento dessas, cessaria a imperfeição humana e a razão de ser do Direito.
Em sua Sociologia Giuridica, Nardi-Greco sustentou a tese de que o Direito surgiu no grupo social quando um de seus membros provocou nos demais companheiros um sentimento de vingança ou de temor pelo futuro. O jurista-sociólogo aponta três causas explicativas da reação do grupo: a) a tendência geral de todo ser vivo reagir a estímulos dolorosos; b) os sentimentos que induzem o ser vivo à reação atual ou futura contra o que lhe provoca a dor e, em segundo plano, o medo de um dano futuro; c) os sentimentos que impelem à reação contra quem ataca um companheiro.A simples existência do grupo não levava, porém, à formação do Direito. Seria preciso que se alcançasse determinada extensão numérica no grupo e que as atividades sociais não se limitassem a desordenadas reações coletivas, mas compreendessem também os fatos da produção e exigissem a proteção efetiva de regras heterônomas. Nardi-Greco acrescenta, ainda, a necessidade da atuação de algumas faculdades psíquicas, especialmente a linguagem e a reflexão, aplicada esta às reações coletivas e seus efeitos.9
64. CARACTERES DO DIREITO PRIMITIVO
Ainda que distintos os caracteres dos ordenamentos antigo e contemporâneo, entre eles podem ser apontados alguns denominadores comuns. Em todo o correr da história o Direito se revelou como processo de adaptação social, como fórmulas utilizadas pelos homens para a garantia da convivência interindividual. Objeto cultural que é, já que produto da experiência humana, o Direito sempre expressou a compreensão alcançada pela sociedade em relação ao valor justiça. O entendimento humano sobre esse valor é evolutivo. Desde a época do Direito primitivo até o presente, embora períodos de retrocessos, vem-se registrando um aprimoramento no conceito de justiça. À medida que o homem evoluía espiritualmente, avanços importantes eram assinalados no âmbito da estimativa jurídica. Esse processo evolutivo, segundo o jurista alemão Ihering, estaria caracterizado pela luta constante do homem na afirmação de seus direitos fundamentais.10
O paralelo entre o ordenamento antigo e o atual mostra, ainda, como denominador comum, que os usos e costumes têm sido historicamente a grande fonte do Direito. Malgrado a aparência racionalista, tais as inovações que apresentam, os códigos atuais refletem princípios e critérios que se formaram ao longo do tempo, espelhando o pensamento e as aspirações sociais. Enquanto o Direito antigo se manteve costumeiro, o contemporâneo se apresenta tecnicamente evoluído através de códigos, onde as regras de organização e de comportamento social se interdependem e formam um corpo sistemático de disposições. Alguns povos, todavia, se adaptaram ao Direito não escrito e com ele se identificaram e conservam até o presente essa forma de expressão jurídica. Isto ocorre com os países filiados ao sistema do Common Law.
O legislador moderno sabe identificar o território do Jus e dispor sobre as relações que se inserem naquele domínio, com lúcida distinção das classes de normas sociais. Isto não ocorreu no passado, onde as regras jurídicas não se limitavam a ordenar o convívio social dentro de uma finalidade de paz e garantia da ordem. O preceito, muitas vezes, era de fundo estritamente religioso, moral ou expressava simples convencionalismo social. Sternberg, com procedência, suscitou a existência de uma lei “de diferenciação progressiva” relativa às classes de normas sociais.11 Em sua fase primitiva o Direito foi dominado pela Religião, sob a crença generalizada de que as leis possuíam origem divina e, como tal, não deviam ser reformuladas pela ação humana. O processo de secularização do Direito foi lento e dependeu menos dos estudiosos das leis do que da mentalidade dos povos, cuja fé no absoluto comando da religião foi progressivamente diminuindo por força do advento do pensamento científico. A partir do momento em que os fenômenos de ordem material passaram a ser explicados por seus nexos de causa e efeito, o poder da religião entrou em declínio, com reflexos no campo do Direito.
Primitivamente, o Direito Positivo não possuía divisões em classes ou ramos. Em sua fase pré-científica sequer se cogitou sobre a diferenciação entre o Direito Público e o Privado, que adveio apenas com o Direito Romano. Os códigos primitivos disciplinavam, indistintamente, todo tipo de relações sociais, englobando questões de família, trabalho, tributo, comércio, pena. Se tais códigos, comparados aos sistemas jurídicos atuais, revelam-se inexpressivos, não se deve deixar de reconhecer que naquelas normas estava localizado o embrião do Direito moderno.
Embora se afirme que os códigos antigos se limitavam à compilação dos costumes, o Código de Hamurábi (2000 a.C.) pode ser indicado como exceção, de vez que diversas inovações, ditadas pelo sentimento de justiça social daquele imperador, foram introduzidas no Direito da Babilônia.
65. O PROGRESSO JURÍDICO
Ainda que se possa falar em crise do Direito não será contraditória a reflexão sobre o progresso jurídico. Via de regra, no âmbito do Direito a crise não exclui o progresso. Este se define pelos avanços na axiologia e na técnica. A crise jurídica pode manifestar-se de diferentes modos: pela defasagem entre os institutos jurídicos e o avanço social; pelo não acatamento aos postulados básicos do Estado de Direito; pela não efetividade de leis fundamentais. Ainda que padeça de alguma dessas deficiências, considerando-se os ordenamentos antigos, o sistema jurídico adotado pelos países civilizados revela-se Direito evoluído.
Ao analisarmos o tema em foco consideramos o Direito universal e o seu desenvolvimento histórico. Comparando-se períodos históricos próximos é admissível que se constate a estagnação e até o retrocesso, fenômeno este que se registrou no último quartel do século XX, no Irã, com o retorno à vigência do livro religioso Alcorão.
Identificamos o progresso jurídico com uma espiral infinita, pois constitui um aperfeiçoamento que não se exaure, que não possui um termo final. A renovação contínua no campo social enseja renovação correspondente no Direito Positivo, movimentos esses que não têm fim e fazem do progresso jurídico dualidade de presente e futuro: progresso que se alcança e progresso a ser alcançado.
Pode-se falar em progresso jurídico na medida em que o Direito, por consagrar princípios sólidos e conectados com a ordem natural das coisas, alcança universalidade e se revela estável. Não é necessário o pleno amadurecimento dos institutos jurídicos e permanência de suas regras. A área jurídica sensível às mudanças sociais, desde que fundada em princípios ajustados aos direitos humanos, revela-se parte do progresso jurídico. Com a evolução social surgem, em motocontínuo, institutos jurídicos que poderão expressar progresso jurídico, desde que garantam os direitos básicos da pessoa humana.
O progresso jurídico não é um alvo a ser atingido por esforço exclusivo dos juristas. Ele depende fundamentalmente do avanço social em termos de cultura. Não pode haver expectativa quanto ao advento de um Direito aperfeiçoado se a sociedade correspondente se revela atrasada em relação às conquistas universais do homem. Direito evoluído pressupõe sociedade evoluída. É imprescindível que a mentalidade social se identifique com os valores que dizem respeito à dignidade humana. Ainda que o Direito exerça uma função pedagógica e corretiva, ele será impotente para transformar o espírito de uma época. É necessário, preliminarmente, o crescimento moral do ente humano; a agudização de sua sensibilidade ética. Não havendo deficiência dessa ordem, o processo de aperfeiçoamento do Direito será algo afeto à Política e aos juristas. À Política, porque a ela compete a escolha das diretivas sociais e a escolha dos modelos jurídicos; aos juristas, porque a elaboração dos sistemas jurídicos não é tarefa a ser executada por leigos, visto que Direito é ciência. O próprio Direito Costumeiro, para ser evoluído, requer o comando dos juristas, que atuam ocultamente, induzindo a adoção de certos princípios e regras. O aperfeiçoamento de um sistema não se opera necessariamente em todas as áreas do Direito Positivo. Este evolui, às vezes, em determinados ramos apenas, como ocorreu com os romanos, notáveis no campo do Direito Privado e modestos na área do Direito Público.
Finalizando, podemos concluir que o progresso jurídico não é um alvo a ser atingido por esforço exclusivo dos juristas, mas da sociedade como um todo, e que requer apuro técnico, esquemas normativos com espírito lógico, adequação à realidade social subjacente e respeito aosdireitos inalienáveis do homem.
66. CONCLUSÕES
Entre os povos mais evoluídos o Direito Positivo se acha ajustado aos postulados básicos do Direito Natural e direitos humanos. Seu objetivo não é apenas, como no passado mais distante, o de promover a pacificação, mas o de satisfazer os múltiplos interesses da sociedade e do homem, de acordo com os valores justiça e segurança. Embora deva disciplinar somente os fatos que influenciem no equilíbrio social, progressivamente o Direito vai ampliando o seu comando nas relações de vida. É certo que deva intervir o mínimo possível no contexto social e absorver o mínimo de moral necessário ao bem-estar dos homens, mas ainda assim observamos que os ordenamentos jurídicos se ampliam e ganham complexidade. Esse crescimento gradativo que se verifica decorre de dois fatores básicos. De um lado a crescente celeridade que se registra no campo dos fatos sociais, em razão do avanço na área das comunicações, tecnologia e ciência. De outro lado, em decorrência da maior conscientização quanto à natureza e à dignidade do homem, que induz a criação de mecanismos adequados de proteção efetiva, seja no plano da garantia da vida, liberdade ou patrimônio. Os atos legislativos que se editam no âmbito do Direito Aeronáutico e Direito de Eletricidade ou, ainda, sobre ecologia e saúde revelam a pluralidade de tarefas cometidas ao Direito na atualidade, em contraste com o primitivo, que visava apenas a pacificação.
Não é preciso recorrer à pesquisa histórica para se constatar que é um equívoco atribuir a um só fator o motivo determinante da criação e evolução do Direito. A experiência ou lição dos fatos nos esclarece que importantes conquistas no âmbito jurídico foram alcançadas mediante a luta e que, conforme pretendia Savigny, a ação lenta e imperceptível dos costumes induz a formação de regras e princípios jurídicos. A doutrina tem contribuído com a sua parcela para o desenvolvimento do Direito, não apenas sob o estímulo de consultas formuladas por órgãos administrativos, mas também por suas ofertas, ao legislativo, de esboços de novos institutos jurídicos. Inegável, também, o papel desempenhado pelos juízes e tribunais, seja no aperfeiçoamento da legislação vigente, seja em atuação de vanguarda, quando criam novos modelos jurídicos. O Direito pátrio, relativamente ao direito da concubina, por exemplo, limita-se a disposições da lavra de nossos tribunais, que se mostraram sensíveis a um novo fato social relevante e improvido de amparo legal. Desconhecer as contribuições dessas diversas fontes e localizar subjacentemente a luta, em tais iniciativas, é armar o espírito de preconceitos e contemplar a realidade social de maneira distorcida. 
Capítulo 12
A FILOSOFIA DO DIREITO NA ANTIGUIDADE
Sumário: 67. A história da Filosofia do Direito. 68. Fase pré-helênica. 69. Filosofia grega pré-socrática. 70. Os sofistas. 71. O pensamento socrático. 72. A Filosofia Jurídica de Platão. 73. O pensamento aristotélico. 74. A Escola Estoica. 75. A Escola Epicurista. 76. A Filosofia do Direito em Roma. 77. Observações finais.
67. A HISTÓRIA DA FILOSOFIA DO DIREITO
A pesquisa histórica de nossa disciplina revela conhecimentos que serviram de base para desenvolvimentos ulteriores e outros que, ainda hoje, conservam atualidade plena. Haveria também aquele saber que não logrou nenhuma forma de projeção, configurando apenas opiniões. O presente estudo se limitará àqueles conhecimentos, pois as simples opiniões não devem ter acesso aos compêndios. Segundo Hegel, o significado de um dado histórico advém de seu liame com algum fato geral e tão somente por isso. Não se pode compreender, pensa o filósofo alemão, uma história que se limite à exposição de opiniões, pois essas podem formar unicamente “um objeto de inútil curiosidade”. A investigação apenas erudita possui esse sentido, porque “consiste em saber quantidade de coisas inúteis desprovidas de interesse intrínseco, a não ser o interesse de serem conhecidas”.1
A investigação histórica favorece a compreensão da cultura contemporânea, pois o grande livro da sabedoria foi escrito ao longo dos séculos, cujas primeiras páginas antecederam ao pensamento helênico. A sua importância nas disciplinas filosóficas é notória, pois, como anota Del Vecchio, “(…) o presente, sem o passado, carece de sentido; e o passado revive no presente”.2 A sabedoria humana foi alcançada pela soma de experiências de sucessivas gerações. Foi a herança cultural, ou transmissão de conhecimentos entre as gerações, que permitiu a formação das ciências. A sedimentação do saber foi constante. Em algumas épocas o processo se fez mais veloz, por intermédio de notáveis sábios, enquanto em outras registrou-se lentidão, seja em decorrência da falta de cientistas de expressão, seja pelas condições adversas do momento histórico, que ocorrem, por exemplo, em períodos de guerra e quando o regime político cerceia a liberdade em suas diversas formas de manifestação.
A análise histórica é rica em perspectivas e, entre outras lições, revela os fatores que induziram as fases de apogeu e de declínio, significando isso, para os contemporâneos da ciência, a oferta de dois modelos básicos: o de êxito e o de fracasso. Os ensinamentos que a história do pensamento consigna não se limitam, portanto, à apresentação de conhecimentos específicos, pois se estendem também aos fatos relevantes que margearam o saber.
Sendo a Filosofia do Direito uma reflexão sobre um objeto flexível, uma vez que a realidade a que se refere modifica-se continuamente com adaptação às condições de cada povo e de cada época, seria útil a sua pesquisa histórica? O conjunto de informações teria algo a oferecer na atualidade? Se o homo juridicus adota um positivismo radical, por certo responderá negativamente. Os autores que seguem orientação espiritualista tendem a responder de modo afirmativo, pois o Direito, embora seja móvel, possui elementos invariáveis, comuns aos povos na diversidade do tempo e do espaço. É que nem tudo é convencional no Direito. Há certos princípios e normas que necessariamente devem ser consagrados pelo Estado, de vez que refletem a própria dignidade do ser humano. Há valores básicos que foram cultivados pelos cidadãos atenienses e romanos e que hoje são preservados tanto em nosso meio como em regiões estranhas, justamente porque se referem à parte estável do homem, à sua natureza.
68. FASE PRÉ-HELÊNICA
É na Grécia antiga onde vamos encontrar, propriamente, o início da Filosofia do Direito, malgrado as primeiras reflexões dessa natureza tenham precedido ao pensamento helênico, pois o Direito, de maneira empírica, envolto ainda com a Religião, Moral, Regras de Trato Social, surgira concomitante ao florescimento das civilizações do passado e, como se sabe, o pensamento jurídico exerce uma vis atractiva em relação ao filosófico. Como precioso arquivo do saber, a História da Filosofia do Direito deve registrar tão somente fatos significativos do pensamento, ideias pioneiras que levaram subsídios às ulteriores correntes jurídico-filosóficas que se formaram.3
Onde o espírito religioso predominou pouco se pode cogitar a respeito de um pensamento jusfilosófico, pois a lei era considerada a expressão da vontade divina, e o seu acatamento, uma imposição de fé. Tal dogmatismo atuava como obstáculo ao pensamento filosófico, que requer liberdade plena, nenhum condicionamento além dos ditames da razão e da experiência. Apesar do sentido religioso da cultura dos egípcios, indianos, chineses, hebreus, é comum aos autores reportarem-se ao pensamento desses povos, vislumbrando ali meditações jusfilosóficas.
No Egito antigo, o famoso Livro dos Mortos tanto revela o sentimento de justiça daquele povo quanto o domínio da Religião sobre o Direito. Perante o Tribunal de Osíris, conforme a narrativa, para obter a felicidade eterna o morto precisava proferir, diante da deusa Maat, vocábulo que significa lei, uma oração, cujo teor mostra o sentido religioso do dever de justiça, bem como a percepção de princípiose regras devidamente ajustados ao Direito Natural.
Na Índia primitiva destacaram-se as doutrinas do bramanismo, budismo e jainismo. Um dos princípios filosóficos que se eternizaram no âmbito social, hoje desdobrado em várias diretrizes do pensamento, foi o da igualdade da natureza humana, proclamado por discípulos de Buda (563-484 a.C.), ao combaterem o regime de castas.
Conhecido no mundo ocidental por Confúcio (551-479 a.C.), Kung-fu-tsé, ou “Mestre Kung”, projetou o pensamento chinês no âmbito da Filosofia, escrevendo algumas obras jurídico-filosóficas: Ta-hio, ou Grande Estudo; Chon-yung, ou Da Invariabilidade do Justo Médio; Lin-yu, ou Conversas Filosóficas. Para ele o valor do justo era fundamental: “Se se dispõe de homens justos, o governo prosperará; sem eles, o governo desaparecerá”; “pode-se obrigar ao povo a seguir os princípios da justiça e da razão, mas não se pode obrigar a compreendê-los” (Lin-yu, VIII, 9). Além de Confúcio, destacou-se o pensamento de seu discípulo Mêncio e de Lao-tsé, sendo que este, ao lado de Chuang-tsé, criou a chamada filosofia do taoísmo.
Entre os hebreus, a reflexão jurídica se manifestou em livros religiosos, basicamente no Pentateuco, também denominado Torá ou Lei. Atribuída a Moisés, aquela obra apresenta cinco livros: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, que reúnem preceitos religiosos e legais, dispersos em narrativas históricas. Alguns historiadores colocam em dúvida a autoria desses escritos. Para Jorge Weber eles “procedem sem dúvida do próprio Moisés”.4 Em frase que encerra sentido ambíguo, Ampère revela a sua admiração pela obra de Moisés: “Ou Moisés possuía uma cultura científica igual à que temos no século XIX, ou era inspirado.”5 Da maior significação foi o Decálogo de Moisés, que contém regras gerais baseadas na ordem natural das coisas, e por isso, em grande parte, possui atualidade. Convencido de que as leis que elaborara eram justas, Moisés perguntou: “E que gente há tão grande, que tenha estatutos e juízes tão justos como toda esta lei que hoje dou perante vós?” (Deuteronômio. 4, v, 8.) No livro dos Salmos, que teria sido elaborado por David, encontram-se também numerosas referências à justiça e equidade, refletida esta no critério de atenuação da lei por um gesto de misericórdia divina. Referida em 58 versículos dos Salmos, a justiça se apresentava como ordenamento divino e a sua observância propiciava a perfeição individual e coletiva.

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