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OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA Artigos 243 ao 246 do Código Civil CONCEITO: Artigo 243, CC. “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.” Indica que a obrigação possui um objeto indeterminado, mas determinável. Portanto, não é coisa totalmente indeterminada. O objeto deve ser indicado, ao menos pelo gênero e pela quantidade. A incerteza gira em torno da sua qualidade. OBS.: Caso falte o gênero ou a quantidade, a indeterminação será absoluta, e a avença com tal objeto, não gerará obrigação. A principal característica dessa modalidade de obrigação reside no fato de o objeto ou o conteúdo da prestação, indicado genericamente (gênero e quantidade) no começo da relação, vir a ser determinado por um ato de escolha, no instante do pagamento. INDICAÇÃO DO GÊNERO E DA QUANTIDADE A indicação ao menos do gênero e quantidade é o mínimo necessário para que exista obrigação. ESCOLHA E CONCENTRAÇÃO O objeto é indeterminado, apenas inicialmente, sendo ela somente indicada pelo gênero e pela quantidade, restando uma indicação posterior quanto à sua qualidade. Concentração = ato unilateral de escolha. Ou seja, a determinação do objeto se faz pela escolha, que é ato unilateral. A quem compete o direito de escolha? Regra: Compete ao devedor. Exceção: O contrato pode estipular o direito de escolha ao credor. Artigo 244, CC: “Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a dar coisa melhor.” Princípio da equivalência das prestações ou Critério da qualidade média ou intermediária A escolha do devedor não pode recair sobre a coisa que seja menos valiosa. E, nem o devedor poderá ser compelido a entregar coisa mais valiosa. Solução: O objeto obrigacional deve recair sempre dentro do gênero intermediário. Obs.: Caso a coisa a ser entregue só existirem duas qualidades, poderá o devedor entregar qualquer delas, até mesmo a pior. Caso contrário, a escolha não haverá. Outras disposições A) Realizada a escolha ou concentração pelo devedor e cientificado o credor, a obrigação genérica é convertida em obrigação específica, portanto, aplica-se, a partir deste instante, as normas relativas a obrigação de dar coisa certa. Artigo 245, CC. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente. B) Regra: o gênero nunca perece (genus nunquam perit) – artigo 246, CC Antes da escolha não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que em decorrência de caso fortuito ou força maior. Artigo 246, CC. “Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito”. OBRIGAÇÕES DE FAZER CONCEITO A obrigação de fazer pode ser conceituada como uma obrigação positiva cuja prestação consiste no cumprimento de uma tarefa ou atribuição por parte do devedor. Na obrigação de fazer pretende o credor a prestação de um fato, consistente na realização de uma atividade pessoal ou serviço pelo devedor ou por um terceiro, de que não resulta imediatamente a transferência de direitos subjetivos. Há um destaque para a conduta do devedor. Ex.: prestadores de serviços e contrato de empreitada de certa obra. Obs.: “O dar não é um fazer, pois, caso contrário, não haveria nunca a obrigação de dar”. ESPÉCIES A) Obrigação de fazer infungível, imaterial ou personalíssima (intuitu personae) É quando se convenciona que o devedor cumpra pessoalmente a prestação. O devedor só se exonerará se ele próprio cumprir a prestação. A contratação ocorreu em razão dos seus atributos pessoais. A convenção pode ser explícita ou tácita. Ex.: convenção tácita – contrata-se um famoso cirurgião plástico para realizar uma cirurgia plástica. B) Obrigação de fazer fungível, material ou impessoal É quando não há exigência expressa, nem se trata de ato ou serviço cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor, ou dos usos e costumes locais, podendo ser realizado por terceiro. Ex.: pedreiro é contratado para construir um muro C) Obrigação de emitir declaração de vontade É quando a obrigação de fazer deriva de um contrato preliminar e, consistir em emitir declaração de vontade. Ex.: Outorgar escritura definitiva em cumprimento a compromisso de compra e venda; endossar o certificado de propriedade do veículo INADIMPLEMENTO Cumprida normalmente, a obrigação extingue-se. Não cumprida espontaneamente, acarreta a responsabilidade do devedor. Tipos do inadimplemento: 1. A prestação tornou-se impossível sem culpa do devedor 2. A prestação tornou-se impossível com culpa do devedor 3. É possível o cumprimento da obrigação, mas o devedor recusa-se a fazê-la OBRIGAÇÕES INFUNGÍVEIS OU PERSONALÍSSIMAS ** Recusa de fazer a obrigação Artigo 247, CC: “Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível”. Conceito: Obrigação de fazer infungível, que é aquela que tem natureza personalíssima ou intuitu personae, em decorrência de regra constante do instrumento obrigacional ou pela própria natureza da prestação. A recusa voluntária induz culpa. A recusa ao cumprimento de obrigação de fazer infungível resolve-se tradicionalmente, em perdas e danos, pois não se pode constranger fisicamente o devedor a executá-la. Portanto, no caso de inadimplemento com culpa do devedor, o credor terá as seguintes opções: 1º) Exigir o cumprimento forçado da obrigação, por meio de tutela específica, com a possibilidade de multa ou „astreintes‟ (artigo 461 do CPC e artigo 84 do CDC, se a relação for de consumo). As astreintes são multas diárias que são cominadas pelo juiz a fim de, indiretamente, obrigar o devedor a cumprir a obrigação de fazer. 2º) Não interessando mais a obrigação de fazer, exigir perdas e danos (artigo 247, CC) Obs.: As perdas e danos constituem o mínimo a que em direito o credor. Este pode, com base nos dispositivos do diploma processual civil, pleiteá-la cumulativamente e sem prejuízo da tutela específica da obrigação. Artigo 461, § 2º, CPC: “A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa”. ** Impossibilidade da prestação sem/com culpa do devedor Artigo 248, CC: “Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos”. Impossibilidade de executar a obrigação sem culpa do devedor - Resolve-se a obrigação. - Ex.: Falecimento de um pintor contratado, que tinha arte única. Ator que fica impedido de se apresentar em um determinado espetáculo por ter perdido a voz ou em razão de acidente a que não deu causa, ocorrido no trajeto para o teatro, sendo hospitalizado, não responde por perdas e danos. Mas a resolução do contrato o obriga a restituir eventual adiantamento da remuneração. Impossibilidade de executar a obrigação com culpa do devedor - Satisfação das perdas e danos Obs.: A dificuldade deve ser permanente e irremovível. A simples dificuldade, embora intensa, que pode ser superada à custa de grande esforço e sacrifício, não se justifica a liberação. A impossibilidade deve ser absoluta, isto é, atingir a todos, indistintamente. A relativa, que atinge o devedor, mas não outras pessoas não constitui obstáculoao cumprimento da avença. OBRIGAÇÕES FUNGÍVEIS OU IMPESSOAIS Conceito: Obrigação de fazer fungível é aquela que ainda pode ser cumprida por outra pessoa, à custa do devedor originário, por sua natureza ou previsão no instrumento. ** Recusa de fazer a obrigação Artigo 249, CC. “Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”. Parágrafo único. “Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido”. - A recusa do devedor faculta ao credor perseguir o adimplemento através da atuação de um terceiro. Incumbirá ao devedor inadimplente não só custear o serviço realizado pelo terceiro (tutela específica), como também indenizar os danos causados ao credor. - Novidade do CC/02 – defere-se ao credor a possibilidade do exercício da autoexecutoriedade, em caso de urgência na obtenção da obrigação de fazer fungível. - Artigo 249, caput, CC – medida existente no plano judicial. - Artigo 249, parágrafo único, CC- medida existente no plano extrajudicial Obs.: STJ: é facultado ao autor pleitear cominação de pena pecuniária tanto nas obrigações de fazer infungíveis quanto nas fungíveis, malgrado o campo específico de aplicação da multa diária seja o das obrigações infungíveis. ** Impossibilidade da prestação sem/com culpa do devedor Impossibilidade da prestação sem culpa do devedor -Artigo 248, CC. - Resolve-se a obrigação. Impossibilidade da prestação com culpa do devedor -Artigo 248, CC. -O devedor responde com perdas e danos. OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER Conceito Nas obrigações de não fazer se impõe ao devedor um dever de abstenção: o de não praticar o ato que poderia livremente fazer, se não se houvesse obrigado. Portanto, o devedor cumpre a sua obrigação ao não prestar determinada conduta ou não se insurgir contra o agir autorizado de outrem. Ocorre, aqui, uma omissão, uma postura negativa. Obs.: Não são lícitas convenções em que se exija sacrifício excessivo da liberdade do devedor ou que atentem contra os direitos fundamentais da pessoa humana. (Ex.: obrigação cujo conteúdo implicasse uma proibição ao casamento, ao ingresso em locais públicos.) A obrigação de não fazer possui natureza infungível, personalíssima e insubstituível, haja vista que toda omissão é uma atitude pessoal e intransferível do devedor. INADIMPLEMENTO O descumprimento da obrigação negativa se dá quando o ato é praticado. Ou seja, o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster. Análise do artigo 251, CC “Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido”. Caput Situação: devedor praticou o ato a que estava obrigado a não realizar. Consequências: A) Devedor desfaz, pessoalmente, o ato e responde por perdas e danos; B) O ato é desfeito por terceiro, por determinação judicial, às custas do devedor e, este responde, também, por perdas e danos. Obs.: Existem situações nas quais não há a possibilidade de desfazimento do ato. Desta forma, só resta ao credor a indenização pelas perdas e danos. Ex.: revelação do segredo de uma fórmula medicinal. Parágrafo único Introduziu a autotutela civil para cumprimento das obrigações de não fazer. Ou seja, em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido. Análise do artigo 250, CC “Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar”. - Obrigação de não fazer tornou-se impossível sem culpa do devedor. - Resolve-se a obrigação. Ex.: Não pode deixar de atender à determinação da autoridade competente, para construir muro ao redor de sua residência, o devedor que prometera manter cercas vivas.
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