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Resumo O que é o terceiro Estado

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A Constituinte Burguesa – Qu’est-ce que le Tiers État?1 
Emmanuel Joseph Sieyès 
4ª edição, 2001 
Lumen Juris – Rio de Janeiro, Brasil 
Ano da primeira publicação: 1789 
 
A leitura de Qu’est-ce que le Tiers État?, publicada no Brasil com o título de “A 
Constituinte Burguesa – Qu’est-ce que le Tiers État?” pela editora Lumen Juris, leva à 
reflexão acerca do porquê de a obra ser inexplicavelmente inédita no Brasil e em língua 
portuguesa até pouco menos de duas décadas atrás. O conteúdo da obra, de forma 
incontestável, continua sendo atual na medida em que contribui para o debate no país sobre a 
natureza de um processo constituinte, que resultou tão recentemente na Constituição que 
orquestra o Brasil desde 1988. O pensamento de Sieyès é de extrema importância para a 
compreensão da teoria acerca do Poder Constituinte e o pouco conhecimento de seu legado 
constitui uma lacuna presente na bibliografia de diversos cursos nas áreas jurídica e de 
ciência política. 
A utilidade didática e a relevância do livro residem no fato de que este constitui um 
ótimo aprendizado sobre informações referentes à transição institucional e sobre 
experiências imprescindíveis para todos aqueles que tenham a pretensão de estudar ou até 
mesmo de liderar mudanças políticas. Mesmo após mais de duzentos anos de história, o 
evento da Revolução Francesa ainda não alcançou o lugar de consenso na historiografia. 
Suas interpretações são diversas e tal processo revolucionário constitui um ponto não 
apaziguado em relação à história mundial. O livro de Sièyes auxilia na compreensão de um 
novo ponto de vista acerca da Revolução que se passou na França e as suas consequências 
diretas no que tange à vida política, social e econômica de todo o globo, já que foi um 
exemplo paradigmático das mudanças pelas quais sociedades que viviam sob um regime 
absolutista acabariam passando. 
Uma das particularidades e aspectos mais interessantes da obra é o fato de que suas 
páginas discorrem sobre a Revolução Francesa e ao mesmo tempo são pura expressão deste 
processo revolucionário. Sieyès apresenta um quadro político do qual faz parte, mas que 
deseja modificar, sendo, portanto, a sua própria escrita um motor de transformações do 
panorama que ele explicita ao longo do livro. Segundo Aurélio Wander Bastos, professor 
 
1
 V. 1, N. 2 (2014): ALUMNI - A REVISTA JURÍDICA DO CACO 
 2 
convidado pela Editora Lumen Juris para se encarregar da organização geral e da introdução 
da obra, “o livro não antecede à Revolução nem ao menos lhe sucede: sua dinâmica é a 
dinâmica da própria Revolução. (...) Este é um livro de época: no presente, é a proposta 
futura vista do seu próprio passado.”2 
Assim como a sua obra, Emmanuel Joseph Sieyès, também possuiu uma trajetória 
singular. Filho de um coletor de direitos reais, Sieyès nasceu em Frèjus, em 1748, e morreu 
em Paris, em 1836. Fez os estudos eclesiásticos no Seminário de Saint-Sulpice e entrou para 
a carreira eclesiástica, que enxergou como a única via para a ascensão social dentro de uma 
família detentora de poucas posses e bastante numerosa. 
Em 1775 foi nomeado Cônego de Tréguier e em 1784, Vigário Geral de Chartres. 
Foi nessa qualidade que Sieyès deu início à sua atuação no processo revolucionário a partir 
de 1789, ao contribuir para a campanha eleitoral da convocação dos Estados Gerais e para a 
produção da obra por ora objeto desse trabalho, que o notabilizou. 
Em 1787 foi nomeado, embora fosse abade, para representar o Terceiro Estado como 
Deputado nos Estados Gerais. Sieyès escreveu e publicou outros trabalhos após esse, 
todavia, a sua autoridade política cresceu, principalmente, a partir de sua participação nos 
Estados Gerais, na antevéspera da Revolução Francesa. O autor participou ativamente da 
desarticulação dos Estados Gerais na luta pela instalação de uma Assembleia Nacional que 
recuperasse a nação francesa da ilegitimidade e do caos financeiro. 
Tendo em vista o contexto da Revolução Francesa, Sieyès se levanta contra os 
abusos das ordens privilegiadas sobre o chamado Terceiro Estado. Os privilegiados, nessa 
sociedade, são o Primeiro e o Segundo Estados: a nobreza e o clero, que estão isentos do 
pagamento de impostos, têm o direito de cobrar tributos e possuem direitos políticos 
desequilibrados em relação a pouca representatividade dos demais cidadãos. 
O contexto imediatamente prévio à revolução, no qual Sieyès escreveu sua obra, era 
de extrema crise econômica acompanhada de grande insatisfação social e política. O rei 
francês Luís XVI tentou solucionar a crise primeiro através da convocação da Assembleia 
dos Notáveis, em 1787, onde aristocratas, nobres e eclesiásticos foram convocados para a 
possível aprovação de reformas, no entanto, não quiseram abrir mão de nenhum de seus 
privilégios. A segunda brecha ao absolutismo se deu em maio de 1789, com a convocação 
dos Estados Gerais, uma assembleia consultiva que não era convocada desde 1614, com 
 
2
 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte burguesa – Qu’est-ce que le Tiers État?. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2001, página XXVII. 
 3 
representantes das três grandes ordens sociais, que também buscava reformas que fossem 
capazes de trazer soluções à crise. 
A expectativa em torno da convocação dos Estados Gerais é um dos motivos que 
leva Sieyès a escrever Qu’est-ce que le Tiers État?, uma vez que o problema da 
representação política nessa assembleia era concreto, evidente e imediato: a votação das 
propostas era feita por ordens, o que implicava uma necessária derrota dos projetos do 
Terceiro Estado, contra os outros dois que manteriam seus privilégios. Tendo em vista o ato 
de convocatória dos Estados Gerais de julho de 1788, cujo teor autorizava aos franceses a 
apresentação de suas ideias acerca da reforma de Estado, se insere a obra elaborada por 
Sieyès. 
A estrutura da obra, que possui, no total, sete capítulos, é bem delineada. Sieyès 
dispende os três primeiros capítulos apresentando a situação na qual se encontrava o 
Terceiro Estado, tendo em vista a conjuntura descrita anteriormente. Em cada um dos 
capítulos um aspecto é analisado: o primeiro se dedica à definição do que seria o Terceiro 
Estado e a sua importância, o segundo aborda o tema da nulidade política do Terceiro Estado 
e, por fim, o terceiro capítulo, de extrema relevância, apresenta as reivindicações do grupo a 
fim de ampliar a sua influência nos rumos da política francesa. 
O quarto capítulo relata, em contrapartida aos anseios do Terceiro Estado, mostrados 
no capítulo anterior, as propostas que partiram do governo e das ordens privilegiadas para 
solucionar o problema da representatividade. Já o bloco composto pelos três últimos 
capítulos pretende abarcar as proposições do autor relativas à problemática e, aqui, está a sua 
maior contribuição e que persiste até a atualidade: os seus postulados acerca do poder 
constituinte. Tendo em vista a estrutura do livro, passemos agora para a análise dos 
conceitos e argumentos mais relevantes de Qu’est-ce que le Tiers État?. 
Na abertura da obra, Sieyès define o Terceiro Estado como sendo a nação, excluindo 
a nobreza e o clero do escopo conceitual do que seria esse estamento. A equivalência entre a 
nação e o Terceiro Estado é posta por Sieyès devido ao fato de o Terceiro Estado carregar 
sozinho todo o peso, o trabalho e as funções necessárias à sobrevivência do todo social, que 
as ordens privilegiadas dispensariam, sendo estas, portanto, estranhas à nação devido à sua 
ociosidade. 
Além do fato de a nobreza consistir em uma carga para a nação sem fazer parte delado ponto de vista laboral e administrativo, outro fator que tornaria essa ordem incompatível 
com a nação seriam as suas prerrogativas civis e políticas. A definição de “nação” para 
 4 
Sieyès seria a de “um corpo de associados que vivem sob uma lei comum e representados 
pela mesma legislatura
3”. Uma vez que a nobreza é um grupo à parte por ser detentora de 
privilégios que em muito se afastam da noção de lei comum e por possuírem seus próprios 
representantes, sendo defendidas com base no interesse particular e não no interesse geral, 
elas não podem ser consideradas parte integrante da nação. 
De forma geral, o conceito de nação se confunde com o Terceiro Estado, para Sieyès. 
O autor defende que o Terceiro Estado é “tudo”, é a própria nação, embora se encontrasse 
entravado e oprimido pelos membros das ordens de privilégios que ocupavam os postos 
lucrativos e honoríficos. As interdições impostas ao Terceiro Estado traziam malefícios ao 
governo e este cada vez mais ampliava sua faceta privatista conforme a livre concorrência 
era afastada. Vê-se, portanto, uma atrofia estatal gerada pelo monopólio dos cargos públicos 
por parte das camadas privilegiadas da população em detrimento do Terceiro Estado, que era 
responsável pela grande massa dos trabalhos que sustentam uma sociedade. 
Embora o Terceiro Estado detenha a grande importância sublinhada acima, 
paradoxalmente ele não tem influenciado em nada na ordem política. Nesse ponto da 
argumentação, já é facilmente identificável ao leitor qual o alvo de combate do autor: os 
ditos notáveis, que desautorizavam o Terceiro Estado de participar e opinar sobre a coisa 
pública. Os notáveis, mais do que um grupo improdutivo e que gera ônus à nação, são os 
responsáveis por afastar o Terceiro Estado das decisões de caráter político e por usurpar os 
direitos políticos daqueles que deveriam detê-los com a vil motivação de atender demandas 
privadas, que em nada dizem respeito ao interesse geral que supostamente deveriam 
defender. 
Ao analisar a falta de representatividade do Terceiro Estado, Sieyès identifica um 
colapso institucional na França. Os Estados Gerais, que se pretendiam intérpretes da vontade 
geral, na realidade, não passavam de uma “tripla aristocracia”, isto é, de uma assembleia 
eminentemente clerical, nobiliárquica e judicial, assim como todas as ramificações do Poder 
Executivo também se encontravam sob o domínio da Igreja, da Toga e da Espada. Dessa 
forma, seria um equívoco acreditar cegamente no sistema político francês como sendo uma 
monarquia. No plano prático, é a Corte que estende o seu poder à tudo e à todos e em prol de 
sua própria categoria. 
Uma das riquezas da obra, feita no exato momento em que os eventos que fizeram 
parte do processo revolucionário ocorreram, é a mobilização de práticas ou de discursos 
 
3
 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte burguesa – Qu’est-ce que le Tiers État?. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2001, página 4. 
 5 
cotidianos, corriqueiros da época, que corroboravam com os argumentos apresentados pelo 
autor. No caso da crise institucional que se montava, Sieyès afirma que, na oralidade 
popular, o monarca sempre estava à parte dos verdadeiros mentores do poder. Para a 
população, o ministro era o rei, nada era creditado à monarquia. 
A conclusão mais imediata é a de que o Terceiro Estado não teria tido, até aquele 
momento, verdadeiros representantes nos Estados Gerais, sendo, portanto, seus direitos 
políticos nulos. 
A fim de reverter este quadro, as demandas do Terceiro Estado se fizerem presentes. 
O autor as analisa, no terceiro capítulo do livro, a partir de petições escritas com as 
reivindicações das municipalidades dirigidas ao governo. Por meio da primeira petição, 
Sieyès procura demonstrar a falta de lógica por detrás dos argumentos daqueles que 
insistiam em manter o “velho hábito” de que, para representar o Terceiro Estado, fosse feita 
a sua exclusão da representação. Para tal, fazia-se necessário a presença de verdadeiros 
representantes nos Estados Gerais, isto é, de deputados que fizessem parte do Terceiro 
Estado e que compartilhassem da mesma visão de mundo e dos mesmos interesses, sendo 
capazes de defendê-los perante os demais. Para ser um representante, seria vedada a 
detenção de qualquer tipo de privilégio, visto que era esse aspecto que diferenciava o 
Terceiro Estado das outras ordens. 
Contudo, de nada adiantaria caso se mantivesse a votação por câmara e o Terceiro 
Estado continuasse a exercer menos influência do que as outras duas ordens, mesmo que 
contivesse 95% da população. Para complementar a proposição da primeira petição, Sieyès 
apresenta uma segunda e uma terceira, cujas propostas geraram a indignação das ordens 
privilegiadas devido à intensidade das transformações que trariam caso viessem a ser 
implementadas. O foco destas era ampliar a zona de influência do Terceiro Estado em 
relação aos assuntos políticos. 
A segunda petição propunha a igualdade numérica de deputados, seja para o Terceiro 
Estado, seja para a nobreza e o clero. A importância desta proposição reside nos princípios 
que são mobilizados a fim de justificá-la e que demonstram a maturidade da teoria do abade 
francês. A igualdade de representação é posta, aqui, como um direito necessário à 
qualificação como cidadão e os direitos políticos, assim como os direitos civis, devem 
independer da detenção de posses ou de qualquer outro fator extrínseco. Tudo se resumiria a 
seguinte questão: se a lei é a expressão da vontade geral, isto é, da maioria, como a situação 
vigente, em que dez indivíduos são responsáveis por representar mil vontades particulares, 
poderá se perpetuar? 
 6 
A terceira petição é uma consequência necessária das duas outras demandas: exige-
se a votação não mais por ordens, mas por cabeça. Para Sieyès, a negativa em relação à 
votação por cabeça é equivalente ao desconhecimento da verdadeira maioria, um paradoxo 
que torna as leis nulas por consequência lógica. 
Dando continuidade à sua argumentação, Sieyès elenca as promessas do governo e 
dos privilegiados com a pretensa finalidade de auxiliar o Terceiro Estado na sua busca por 
maior participação política. As propostas são consideradas como insuficientes e como meros 
paliativos, sobretudo a proposição de imitação da Constituição Inglesa. A despeito do caráter 
revolucionário do ordenamento e dos princípios jurídicos trazidos no bojo do advento da 
Constituição britânica, para Sieyès os produtos da arte política devem ser contemporâneos à 
realidade presente e devem responder diretamente aos problemas da atualidade. 
Para Sieyès era perceptível a insuficiência das três demandas do Terceiro Estado, 
visto que estas, mesmo se adotadas em conjunto, não alcançariam sucesso quanto ao 
objetivo principal, que seria “ligar a totalidade dos representantes por uma vontade 
comum”.4 Os capítulos quinto e sexto do livro visam preencher as lacunas deixadas pelas 
petições apresentadas anteriormente e, por esse motivo, esta é a seção da obra mais 
claramente propositiva. 
Nesta, Sieyès expressamente postula que o Terceiro Estado constitui a plenitude da 
nação em si mesma, e que, por esse motivo, deve ser a fonte de toda soberania e todo direito. 
O autor persegue a representação política como o primeiro e mais importante direito político 
necessário ao Terceiro Estado, por ser entendida como o meio pelo qual a vontade da nação 
será ouvida e praticada no poder legislativo e executivo. Além de uma viabilidade de 
aplicação concreta maior, essa concepção se enquadra perfeitamente no contexto pré-
revolucionário de total exclusão política do Terceiro Estado, inclusiveem torno da questão 
específica ao qual se volta a obra, que consiste na convocação dos Estados Gerais. 
A vontade da nação seria inerente e auto-evidente a todos os seus membros, portanto 
a delegação da mesma a representantes provenientes do próprio Terceiro Estado, 
inicialmente nos órgãos do poder absoluto, e posteriormente em assembleias próprias, é um 
passo fundamental e necessário ao estabelecimento do poder da nação. A convocação dos 
Estados Gerais não permitiria tal feito e, nesse ponto, Sieyès ressalta a importância de uma 
 
4
 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A Constituinte burguesa – Qu’est-ce que le Tiers État?. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2001, página 27. 
 7 
Constituição promulgada pelos representantes da maioria da nação para que a França 
pudesse reencontrar a sua identidade nacional. 
A Constituição na teoria de Sieyès é mais do que o pilar de normas e o centro do 
ordenamento jurídico de uma determinada sociedade: ela é o fundamento legítimo da nação 
e caberia aos administradores preservá-la e mantê-la em sua totalidade, visto que nenhum 
tipo de poder delegado teria a competência necessária para alterá-la. A Constituição não é 
originária de um poder constituído, mas sim de um poder constituinte. É da nação que 
emana toda a série de leis positivas e, é por esse motivo, que as leis constitucionais jamais 
poderão ser derivadas de um poder constituído ou alteradas pelo mesmo. 
A concepção de Sieyès acerca das origens das leis constitucionais, além de 
extremamente moderna para a época de seus escritos, traz, portanto, em seu bojo a 
importante distinção entre poder legislativo e poder constituinte. Não caberia ao legislativo, 
como um poder delegado, organizar uma nova Constituição. Para o autor, somente da 
Assembleia Nacional, que é expressão desse poder constituinte e o local onde os 
representantes se encontram alienados de seus privilégios, poderiam emanar as novas leis 
fundamentais para a convivência social. 
Em tom de conclusão, esse é o contexto imediato sobre o qual Sieyès elabora seu 
panfleto: a crise econômica, social e política generalizada na França, baseada numa estrutura 
absolutista e, em certo sentido, feudal, pautada por privilégios ditados pela tradição, que não 
mais atendiam aos anseios da classe média ascendente. Qu’est-ce que le Tiers État? contribuiu 
para consolidar propostas concretas de mudanças sócio-políticas e jurídicas revolucionárias 
em seu contexto, nas quais está nítida a influência dos ideais iluministas, adaptados aos 
interesses específicos do grupo e atualizados conforme as condições e necessidades 
concretas da França de 1789. 
Ao longo de sua obra, Sieyès faz às vezes de um ativista político. Fica evidente, ao 
longo de sua exposição, seus radicais objetivos políticos que envolviam o destino do 
Terceiro Estado. A força dos seus argumentos permeia todas as páginas de Qu’est-ce que le 
Tiers État? e a obra assume um caráter cada vez mais propositivo a cada seção. Seu texto 
segue claramente uma progressão e, metaforicamente, cada capítulo funcionaria como um 
degrau escalado até o ápice, que seria a consubstanciação da proposta da igualdade de 
direitos do Terceiro Estado em relação às duas ordens privilegiadas: o clero e a nobreza.

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