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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ECONOMIA Macroeconomia - Turma A Prof. Jacileno José Delgado Correia Jackson Ribeiro Souza 170069834 Lara Liz Freire 170015297 Nathália Nádya Serafim 17/0042677 Raíssa Rodrigues Alves 170071596 OS CICLOS ECONÔMICOS DA DITADURA MILITAR Brasília 2017 1. INTRODUÇÃO O período da Ditadura Militar foi um evento que marcou a história brasileira, inclusive economicamente. Esses efeitos ainda compõem a economia brasileira e faz parte do ciclo econômico brasileiro. Ao estudar os ciclos econômicos, as pesquisas e teorias fornecem dados que ajudam a compreender analiticamente os efeitos dos ciclos, as causas e os possíveis erros das experiências obtidas durante o mundo Pós Primeira Guerra Mundial e Grande Depressão e por conseguinte os efeitos que atingiram o Brasil na época da Ditadura e as medidas governamentais adquiridas diante do contexto vivido. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Ciclos Econômicos Pode-se notar, hodiernamente, o crescimento não contínuo da economia e sim períodos de oscilações entre recessão e prosperidade. Esse fato é estudado na matéria de política anticíclica, em meados do século XIX, pelo economista John Maynard Keynes cujo foi instigado pela teoria das sete vacas gordas e sete vacas magras de José, a partir do registro bíblico. Diante disso, postulou-se que apenas oscilações, ou seja, eventos isolados, não são suficientes para construir uma teoria anticíclica e cada evento econômico é influenciado pelo histórico passado. A partir do começo desse estudo, desenvolvido por Keynes, houve avanços sobre pesquisas e postulados relacionados a ciclos econômicos. As primeiras teorias sobre os ciclos econômicos aceitas se deram em meados de 1890 com grande influência da física por causa dos avanços das pesquisas nessa área. Dessa forma, a primeira teoria econômica, chamada de Manchas Solares, foi comparada a movimentos periódicos das ondas de luz e som por William Stanley Jevons. Essa teoria relaciona os ciclos de radiação desencadeando efeitos meteorológicos que explicariam a alternância de épocas de sete vacas gordas e sete vacas magras. Por considerar somente a base da agricultura como fator determinante no ciclo econômico, essa tese caiu em desuso e novas linhas de pensamento começaram a surgir. Os economistas começaram a estudar as oscilações da oferta e demanda de moeda em meados de 1950, seguindo essa linha e efeitos diretos e indiretos até atualmente. Nesse momento inicial, consideraram-se dois raciocínios: o primeiro que os bancos teriam dificuldade de descobrir uma taxa de juros de equilibro, sendo que nessa época o regime padrão-ouro era vigente, mantendo a taxa de câmbio fixa. E o segundo raciocínio, desenvolvido por Gottfried Haberler, é as flutuações da moeda afetando a quantidade de produto antes de afetar o nível de preços. Essa última hipótese ficou mais clara quando houve o surgimento da curva de Phillips (Gráfico 1.1) em que houve a possibilidade de estudar analiticamente o raciocínio. Além disso, atualmente, podemos perceber essa linha de pensamento por meio do gráfico de política de estabilização cuja quantidade de produção é alterada em curto prazo e o nível de preço em longo prazo por meio de choques na demanda ou na oferta agregada (Gráfico 1.2). Na mesma época de desenvolvimento da Curva de Phillips, houve o caso da experiência britânica como exemplo mais claros dos efeitos da assimetria de inflação- deflação e os choques na oferta e demanda agregada (SIMONSEN e CYSNE, 1995). Após a Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra tentou voltar com o padrão-ouro, sem levar em consideração o aumento no nível de preços e por consequente a inflação. Nessa mesma época, o Brasil sentia os impactos das políticas na Europa, vivenciando a crise do café em 1929 por causa da sua economia, predominantemente, primária exportadora. Logo após esse evento econômico, a transição brasileira para uma economia mais industrializada com a exploração do mercado interno deu- se mais forte. Gráfico 1.1 – Curva de Phillips Gráfico 1.2 – Equilíbrio de longo prazo Fonte: Instituto de Economia, 2016 Fonte: Mankiw, 2013, p. 208 Na mesma linha de raciocínio de alterações na oferta de moeda, Joseph Schumpeter por volta de 1911, desenvolveu a teoria do desenvolvimento econômico relacionando as variações no investimento privado e seus efeitos reais levando em conta não somente efeitos monetários e introduzindo as inovações tecnológicas como causa. Além disso, Schumpeter muda a ótica de estudo ao pesquisar os períodos de prosperidade e recessão como efeito e não como uma causa do ciclo econômico. Essa tese ganhou mais validade com o surgimento do modelo Keynesiano cujo analisa a renda total, em curto prazo, sob a ótica dos gastos das famílias, governo e empresas (Gráfico 1.3 e Gráfico 1.4). Gráfico 1.3 – Gasto planejado Gráfico 1.4 – Cruz Keynesiana Fonte: Mankiw, 2013, p. 217 Fonte: Mankiw, 2013, p. 218 O princípio da aceleração surgiu na mesma época, desenvolvida por Aftalion e John Maurice Clark em que subdividia a demanda em duas classificações: demanda de reposição e expansão, relacionando essa última com o nível de renda. Essa teoria interage com o artigo “O Modelo de Interação do Multiplicador e Acelerador de Samuelson” que resulta em soluções cíclicas efeitos de amortecedores e explosivos na economia. De forma geral, esse modelo gera um contexto mais instável que a realidade e superestima os ciclos econômicos (SIMONSEN e CYSNE, 1995). Os modelos mais atuais de ciclos econômicos estudam o comportamento do consumo e seus efeitos na produção geralmente baseados no modelo de ciclos de estoques desenvolvido por Lloyd Metzler. Essa tese estuda os atrasos na demanda causada pelas expectativas adaptativas quanto ao comportamento do consumo, diminuindo a quantidade de produção quando há excesso de demanda e aumentando-o quando a demanda cai. De forma geral, os modelos não costumavam considerar os aspectos de marginal a poupar, a possível acomodação da taxa de juros e sua relação com a tecnologia e vida útil das máquinas e das relações entre capital e consumo. A introdução da ideia de política fiscal compensatória de Keynes, desenvolvida na da Teoria Geral do Emprego, ajudou a mudar a teórica clássica dos ciclos econômicos e a considerar mais estudos a respeitos das ideias de Metzler. Os estudos de ciclos econômicos passaram a ter mais pesquisas após a Primeira Guerra Mundial, analisando o sistema padrão-ouro e falta de contrapeso no regime capitalista. Com a Grande Depressão, começaram-se estudos sobre políticas fiscais e econômicas e a consideração de ciclos de curto e longo prazo foi instigada com o choque do Petróleo em 1947. Desse modo, a economia mundial, conhecida atualmente, passou a enfrentar flutuações econômicas (SIMONSEN e CYSNE, 1995). 2.2 Contexto socioeconômico do Brasil na ditadura militar (1964-1973) A partir da análise do governo brasileiro entre 1964 e 1985, denominado como regime ou ditadura militar, tem-se a presença de dois ambientes favoráveis para que tal regime autoritário se sustentasse por tanto tempo sobre uma população que se manteve pacificada durante grande parte do período. O cenário econômico internacional foi essencial para elevaçãoe manutenção do Brasil em um período de rápido crescimento contínuo. Além disso, o contexto brasileiro do Pós Guerra demonstrava um país fraco economicamente e majoritariamente agrário, dando espaço para que políticas de curto prazo funcionassem no país. Junto à urbanização, outros aspectos foram responsáveis pelo favorecimento do “milagre econômico” no regime militar, como a implementação de programas, por exemplo, o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) e de políticas econômicas fiscais e monetárias. 2.2.1. Crescimento econômico interno (1964-1973) Analisando o contexto do Brasil nas décadas de 50 e 60, pouco antes do Golpe Militar, percebe-se que o país tinha uma economia baseada fortemente no setor agrário (Gráfico 2.1), possuindo com isso, a maior parte da população brasileira morando na zona rural. A partir da implementação de políticas econômicas que fomentavam a industrialização no país, houve uma intensa urbanização, devido ao aumento da oferta de novos empregos no setor secundário. De acordo com Ferreira e Veloso, esse excessivo aumento da mão de obra nas cidades e o aumento contínuo da população mundial foram fundamentais para o crescimento do capital humano e, consequentemente, do PIB no período (Gráfico 2.2). Gráfico 2.1 (Taxa de Urbanização Brasileira 1940 – 2010) Com isso, destaca-se que a ditadura ocorreu num momento de transição de setores, ou seja, o Brasil era um país que estava saindo de uma economia baseada na agropecuária a caminho para uma de base industrial. Segundo Ferreira e Veloso, países que estão nessa transição de setores da base econômica têm a tendência de aumentar sua produção, visto que o setor secundário naturalmente gera uma renda maior que o primário. Assim, evidenciou-se que tal mudança de setores, causou um impacto positivo momentâneo na renda do país. Com o objetivo de desenvolver altamente o país, durante o governo Castelo Branco, foi adotado o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) entre 1964 e 1967 responsável pelo combate da inflação, que se apresentava alta em 1964. Para isso, de acordo com Veloso, Villela e Giambiagio, o governo aplicou uma política fiscal na qual os reajustes salariais, que ocorriam anualmente de acordo com o crescimento da inflação, foram abolidos a fim de que a inflação se estabilizasse e a renda do governo aumentasse. No entanto, segundo Hermann, essa medida só causava efeito positivo quando a inflação abaixava, pois os salários se valorizavam diante do preço dos produtos. Assim, tais políticas foram bem sucedidas no Brasil, havendo uma redução da inflação de 45,5% para 19,1% em nove anos (Gráfico 2.2), o que favoreceu a continuação desse ajuste fiscal durante parte do período ditatorial. Ademais, também foi adotada uma política tributária, na qual as taxas de impostos se elevaram, aumentando a poupança pública. E, segundo Cysne, houve medidas tarifárias como a extinção das taxas de exportações e a ampliação da linha de créditos para os demais países, nas quais aumentaram exponencialmente as exportações do país (Gráfico 2.2) a fim de possibilitar um potencial de compra do Brasil em relação aos produtos importados. Dessa forma, o país adquiria produtos e tecnologias externas que eram vistos como essenciais ao desenvolvimento contínuo do país almejado na época. Gráfico 2.2 (Economia Brasileira: Síntese de Indicadores Macroeconômicos) Fonte: Hermann, 2011, Cap. 3. p. 59 Diante de tais melhorias associadas às ações do governo militar, o PAEG e o cenário de mudança estrutural brasileira favoreceram o desenvolvimento econômico do país e precederam o período conhecido como “milagre econômico” ou “milagre brasileiro”, de 1968 até 1973. Segundo Hermann, tal período ocorreu dentre os governos Costa e Silva (1968-1969) e Médici (1969-1973), momento em que a economia colhia os resultados de seu crescimento com o PAEG e com as políticas econômicas anteriores. Dessa forma, houve um intenso investimento interno na infraestrutura, através de obras que ficaram conhecidas por “obras faraônicas” devido a sua grandiosidade em tamanho e custos, sendo exemplo delas: a usina de Itaipu, a estação nuclear de Angra dos Reis, a rodovia Transamazônica. Além disso, segundo Cysne, a manipulação do governo e a concentração de poder no governo federal facilitaram a imposição do Ato Institucional 5. Tal Ato permitiu o ápice da censura em 1968 e a livre “caça” àqueles que se opunham ao governo. Com isso, a economia obteve um crescimento acima da média a medida que apenas dados positivos eram divulgados pelo governo, compondo o ambiente ideal para um regime autoritário alcançar seu auge. 2.2.2. Crescimento econômico externo (1964-1973) A partir do período Pós Guerra, houve um crescimento generalizado dos países europeus e americanos em recuperação, ocorrendo uma expansão do comércio internacional. De acordo com Hermann, foi-se criado o mercado de eurodólares, aumentando a disponibilidade de créditos aos demais países, junto a um aumento da liquidez internacional, através da aplicação de juros baixos para empréstimos entre os países. Portanto, cabe ainda um favorecimento especial que os EUA tinham com o Brasil, devido ao seu posicionamento na Guerra Fria, ao qual o regime militar brasileiro, junto aos demais países latino-americanos, contribuiu para a ascensão do capitalismo posteriormente. Além disso, o cenário de expansão do volume do comércio internacional, devido à tendência de crescimento exacerbado da população mundial no período Pós Guerra, e o favorecimento dos termos de troca também foram importantes para o crescimento da economia durante o regime militar, afirmam Veloso, Villela e Giambiagio. Tais fatos macroeconômicos causaram um aumento da demanda mundial que gerou, consequentemente, um aumento na oferta de produtos, potencializando a produção mundial. Assim, o Brasil obtinha um ambiente propício para sua abertura econômica no cenário mundial, favorecendo a arrecadação da poupança pública por meio das exportações líquidas e, posteriormente, a ascensão no investimento externo direto e no Brasil como um todo. 2.3. Os efeitos econômicos na ditadura 2.3.1. A Inflação Sempre quando surge uma crise no Brasil, por menor que ela seja, com viés político ou econômico, por incrível que pareça, os arautos do conservadorismo e da desinformação adoram afirmar: “na época dos militares isso não teria acontecido” ou, “o melhor período da economia brasileira ocorreu com os militares”. É importante constatar que após o famoso Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, no início da década de 60, a economia brasileira, de certa maneira, vinha mantendo sua trajetória de crescimento, mas em 62 o nível de investimentos e de crescimento industrial apontavam para a recessão no ano seguinte. Era um momento conturbado tanto do ponto de vista político, quanto econômico. A economia brasileira estava estagnada quando os militares começaram a governar. As finanças públicas estavam em frangalhos e a inflação anual se aproximava de 100%. A inflação chegava a taxas recordes, em torno de 51%, no setor externo, sucessivos déficits no balanço de pagamentos e a dívida externa acumulava-se. No final de 62, poucos meses antes do plebiscito que confirmaria o regime presidencialista foi apresentado por Celso Furtado, então ministro extraordinário para assuntos de Desenvolvimento Econômico, o Plano Trienal, uma reposta política à aceleração inflacionária e a vulnerabilidade externa brasileira e, ao mesmo tempo, objetivava a continuidade ao desenvolvimento do país. O Plano apresentado tinha fortes contornos ortodoxos, redução do gasto público, política monetária contracionista,para se ter uma ideia, em pronunciamento divulgado no início de 63, a própria CNI (Confederação Nacional da Indústria) manifestava seu integral apoio as medidas tomadas pelo governo. Para alguns economistas isso demonstrava as próprias limitações do enfoque estruturalista, já para outros, devido o contexto político e econômico, não havia outra saída, senão a aplicação de medidas ortodoxas. A tentativa de estabilização fracassou e em 63 a economia cresceu míseros 0,6% e com taxa de inflação anual superior a 83%. Gráfico 3.1 – IPCA e INPC – 1980 – 1990 Fonte: IBGE 2.3.2. PAEG Com a desestabilização política interna e externa do governo democraticamente eleito, impediu a implementação de qualquer política de gestão econômica articulada, o resultado, infelizmente, todos nós sabemos, golpe militar. Com o regime militar, desenvolveu-se através do PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) políticas de estabilização econômica e, em conjunto, com transformações institucionais, principalmente no mercado financeiro, como por exemplo; a criação da correção monetária e do Banco Central, de certa maneira, prepara a economia para o milagre econômico e, também, aprofunda as características de um modelo econômico dependente e associado ao capital estrangeiro mantendo a matriz industrial implementada com o Plano de Metas. A literatura econômica considera milagre econômico, entre 68 e 73, período mais funesto da ditadura militar brasileira, taxas de crescimento acima de 10% ao ano, isso se deveu a reorganização do sistema financeiro brasileiro bem como a alta liquidez internacional e beneficiou-se do grande crescimento do comércio mundial e sua abertura comercial e financeira em relação ao exterior. Paralelamente, agravaram-se as questões sociais, com o aumento da concentração de renda e deterioração de importantes indicadores de bem-estar social. O milagre aprofundou as contradições estruturais e aprofundou e os problemas decorrentes de sua enorme dependência em relação ao capital internacional. Gráfico 3.2 – Variação anual do PIB Fonte: IBGE A partir de 74, com a posse do general Geisel, seu grande desafio era dar prosseguimento ao crescimento econômico obtido no período anterior, mas internamente, havia clamores e manifestações para distensão política e, externamente, ocorreu o primeiro choque dos preços do petróleo e mais adiante uma elevação da taxa de juros norte-americana e outro choque dos preços do petróleo, mas a decisão de governo era a chamada “fuga para frente” ou como afirmaria o saudoso professor Barros de Castro, decidiu-se conduzir a economia brasileira em “marcha forçada”, com objetivos claros, inclusive, de justificar o golpe, haja vista, as tensões políticas e socais. O financiamento para viabilizar o Brasil potência em boa parte era realizado com empréstimos externos, via “petrodólares”, estava direcionado em sua grande maioria, as empresas produtores de bens de capital com forte apoio e regulação estatal. 2.3.3. A População A década de 80 foi para os países da periferia e para o Brasil, um período adverso, caracterizado pelo que se convencionou chamar de crise da dívida. Ou seja, principalmente durante o milagre ocorreu uma captação de recursos no exterior e seu repasse para empresas de dentro do país, sem uma necessidade estrita de empréstimos externos. A entidade internacional World Population apurou que, em 1979, morriam 52 crianças por hora no Brasil. A desnutrição foi responsável, neste mesmo ano, por 52,4% dos óbitos entre crianças de até cinco anos de idade. O IBGE registrou, em 1981, que 70% da população não comia o necessário, e reconhecia de forma oficial a existência de 71 milhões de subnutridos no Brasil. Tudo isso em pleno período de “milagre econômico”. Ou seja, enquanto o “milagre econômico” registrava um aumento no PIB de 11,4%, em 1973, 13 milhões de crianças e 28 milhões de adultos passavam fome no Brasil. Este ano também registrou a maior baixa salarial da história do Brasil, escancarando a contradição entre crescimento econômico e crescimento da miséria. Em 1979, um documento do Banco Mundial apontou que a saúde do brasileiro piorava a cada ano. No Nordeste, 30% dos menores de 18 anos se alimentavam com 400 calorias diárias, enquanto a cota mínima seria de 3 mil, e que cerca de 80% dos nortistas e nordestinos tinham uma expectativa de vida 14 anos abaixo daquela das elites sociais.Segundo dados do IBGE, entre 1960 e 1968, a mortalidade infantil subiu de 62,9 para 83,8 (por mil habitantes) em São Paulo. Em Belo Horizonte, de 1960 a 1972, o índice pulou de 74,2 para 105,3. Mesmo diante desse quadro, os investimentos da Ditadura Militar na área da saúde diminuíram com o passar dos anos. Em 1966, o Ministério da Saúde recebia 4,29% do orçamento federal; essa porcentagem foi caindo progressivamente, até atingir o percentual de 0,99% do orçamento, em 1974. Portanto, o grande legado deixado pela ditadura, além é claro, da ausência de políticas públicas e sociais sem contar a censura, torturas, concentração de renda e da riqueza, atos institucionais etc., foram também, os constantes constrangimentos externos e forte processo inflacionário em ascensão. A crise da dívida externa desestruturou profundamente a economia brasileira, desestruturação essa, que sentimos e vivemos seus resquícios até os dias atuais. 3.4. Consequências do “Milagre Econômico” As consequências das ações que geraram o “milagre econômico” brasileiro, foram percebidas ainda durante o período anterior a recessão mundial por conta da crise do petróleo. Uma das principais delas observada ainda nesse momento, foi um aumento na concentração de renda do país, ou seja, um favorecimento das pessoas de faixa de renda mais elevada. O Índice de gini (Gráfico 4.1), que é um indicador que meda o nível de desigualdade do país, apontou um aumento significativo dos anos 60 para os anos 70, evidenciando um impacto gerado pelos anos de chumbo, além de impactar os anos seguintes. Uma das razões para o aumento dessa desigualdade, além do investimento na criação de industrias e módulos comerciais, foi a diminuição salarial, que tinha como objetivo baratear os custos de produção das empresas. Gráfico 4.1 – Visão de Longo Prazo (Gini) O gráfico 4.2 fomenta essa afirmativa, a partir do indicador que mede a fração monetária recebida por 1% da população mais rica do país, é possível notar um crescimento incomum após 1965. Já o gráfico 4.3 evidencia a lenta recuperação ao longo dos anos rumo a uma distribuição maior de renda entre a população. O principal problema ligado a essa desigualdade gerada pelas ações durante o período militar é um retrocesso relacionado ao desenvolvimento humano do país. Gráfico 4.2 – Fração recebida pelo 1% mais rico (1927-1975) Gráfico 4.3 – Fração recebida pelo 1% mais rico (1927-1975) Outro resultado das ações, esse mais relacionado as questões econômicas do Brasil, foi o aumento da dívida externa, com o acelerado desenvolvimento econômico nos anos que perduraram o milagre econômico, foi necessário que o governo tomasse empréstimos para financiar suas ações, ela passou de US$ 3,7 bilhões em 1968 para 12,5 bilhões em 1973, ou seja, quadruplicou em um período de 6 anos. A dívida feita com FMI, ainda teve outros problemas posteriores a recessão no ano de 1982,foi necessário que o Brasil recorresse novamente ao fundo como última alternativa para enfrentar a crise. A ascensão econômica ruiu com a crise do petróleo que trouxe consequências como um déficit na balança comercial do Brasil, somando isso a dívida externa, ao aumento da desigualdade no país, as duas décadas seguintes foram marcadas por altas taxas inflacionárias, constantes remarcações de preços em decorrência da baixa estabilidade da moeda e dois planos econômicos fracassados. 3. CONCLUSÃO Até o século XIX, os fenômenos econômicos de crescimento e recessão eram estudados em uma matéria denominada políticas anticíclicas, na qual se baseavam na teoria das Sete Vacas Gordas e Sete Vacas Magras contida em textos bíblicos. Na física, no período de 1890, começaram a desenvolver teorias sobre movimentos periódicos e contínuos, mas foi a partir de 1950, com a Curva de Phillips, que surgiram as teorias de que os períodos de recessão estariam intrinsecamente relacionados a outros fatores históricos, sendo tanto a queda quanto a subida na economia composição de ciclos. Dentro dessa evolução da Economia, destacam-se os teóricos Metzler e Keynes como propulsores da visão dos ciclos econômicos a partir da relação entre o consumo e comportamento humano e a oferta e demanda do mercado, abrangendo políticas específicas para longo e curto prazo. Nesse contexto de ciclos econômicos, nota-se os efeitos destes na economia brasileira, principalmente na análise do período da ditadura militar. Referências Bibliográficas CYSNE, Rubens Penha. A economia brasileira no regime militar. São Paulo, v.23, n.2, 1993. p. 185-225. Disponível em: <http://www.fgv.br/professor/rubens/HOMEPAGE/publica%C3%A7%C3%B5es/Artigos%20 Publicados/A%20Economia%20Brasileira%20no%20Regime%20Militar.pdf>. Acesso em: 03 Fev. 2018. HERMANN, Jennifer. Reformas, Endividamento externo e o “milagre” econômico. In: GIAMBIGI, V, C, H et al. Economia brasileira contemporânea [1945-2010]. 2 Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. Cap. 3. p. 49-71. 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