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Resumão Teoria Geral do Estado

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TEORIA	
  GERAL	
  DO	
  ESTADO	
  –	
  Aulas	
  para	
  o	
  1º	
  semestre	
  
LEITURA-­‐BASE/OBRIGATÓRIA:	
  Elementos	
  de	
  Teoria	
  Geral	
  do	
  Estado	
  (DALLARI,	
  Dalmo	
  de	
  Abreu).	
  
	
  
AULA	
  1	
  –	
  INTRODUÇÃO	
  À	
  TEORIA	
  GERAL	
  do	
  ESTADO	
  
	
  
	
  	
  	
  Faz-­‐se	
   necessária	
   a	
   compreensão	
   do	
   Direito	
   além	
   da	
   mera	
   aplicação	
   de	
   leis.	
   O	
   acadêmico	
   deve	
   entender	
   as	
  
instituições	
  para	
  que	
  possa,	
  também,	
  ser	
  ferramenta	
  de	
  alterações	
  na	
  sociedade.	
  	
  
	
  	
  	
  Conhecendo	
  as	
  instituições,	
  permite-­‐se	
  que	
  o	
  jurista	
  não	
  seja	
  apenas	
  um	
  autômato,	
  sem	
  inteligência	
  ou	
  vontade.	
  
Além	
  disso,	
  possibilita-­‐se	
  a	
  criação	
  de	
  visão	
  para	
  que	
  os	
  problemas	
  sociais	
  sejam	
  corrigidos,	
  sem	
  que	
  seja	
  a	
  partir	
  de	
  
meros	
  transplantes	
  de	
  ideias	
  prontas,	
  mas	
  com	
  a	
  devida	
  adaptação	
  às	
  questões	
  locais.	
  E	
  por	
  fim,	
  a	
  matéria	
  trata	
  de	
  
vários	
  aspectos	
  que	
  interferirão	
  na	
  própria	
  elaboração	
  do	
  Direito.	
  
	
  
	
  	
  	
  A	
  TGE	
  é	
  vista	
  como	
  uma	
  disciplina	
  sintética	
   ligada	
  aos	
  pensamentos	
   jurídicos,	
  históricos,	
   filosóficos,	
  sociológicos,	
  
políticos,	
  antropológicos,	
  econômicos,	
  psicológicos,	
  com	
  fim	
  no	
  aperfeiçoamento	
  do	
  Estado.	
  A	
  disciplina	
  em	
  si	
  surge	
  
somente	
  no	
  fim	
  do	
  século	
  XIX,	
  porém,	
  já	
  há	
  indícios	
  do	
  estudo	
  de	
  seu	
  campo	
  na	
  Antiguidade	
  (Platão,	
  Aristóteles	
  e	
  
Cícero);	
  há	
  ecos	
  na	
  Idade	
  Média	
  (Santo	
  Agostinho	
  e	
  São	
  Tomás	
  de	
  Aquino)	
  e	
  se	
  laicifica	
  com	
  Maquiavel,	
  no	
  início	
  do	
  
século	
  XVI.	
  Depois,	
  a	
  partir	
  da	
  ideia	
  de	
  um	
  direito	
  natural,	
  surgiram	
  Hobbes,	
  Locke,	
  Montesquieu,	
  Rousseau.	
  Ao	
  fim	
  
do	
  século	
  XIX,	
  ocorreu	
  a	
  sistematização	
  jurídica	
  dos	
  fenômenos	
  políticos	
  por	
  Gerber	
  e	
  Jellinek.	
  
	
  
	
  	
  	
  No	
  Brasil,	
  o	
  ensino	
  da	
  TGE	
  iniciou	
  nos	
  anos	
  1940	
  como	
  Direito	
  Constitucional	
  I,	
  o	
  que	
  possui	
  imprecisão	
  acadêmica,	
  
apesar	
   da	
   grande	
   relação.	
   Depois,	
   consagrou-­‐se	
   a	
  matéria	
   Teoria	
  Geral	
   do	
   Estado	
   em	
   correlação	
   expressa	
   com	
  o	
  
Direito	
  Constitucional.	
  Em	
  1994,	
  surge	
  a	
  obrigatoriedade	
  da	
  matéria	
  no	
  Direito	
  como	
  “Ciência	
  Política	
  (com	
  Teoria	
  do	
  
Estado)”.	
  Ocorrido	
  isto,	
  deve-­‐se	
  observar	
  que	
  o	
  desenvolvimento	
  da	
  Ciência	
  Política	
  só	
  ocorre	
  a	
  partir	
  da	
  existência	
  
de	
   um	
   Estado,	
   sendo	
   este	
   o	
   interesse	
   daquela.	
   Inclusive,	
   sendo	
   o	
   Estado	
   pessoa	
   jurídica	
   com	
   manifestação	
   de	
  
vontade	
  a	
  partir	
  de	
  seus	
  órgãos,	
  poderes	
  e	
  pessoas,	
  além	
  de	
  limitado	
  juridicamente,	
  é	
  um	
  poder	
  jurídico	
  de	
  essência	
  
política.	
  Então,	
  aí	
  reforça-­‐se	
  a	
  essencialidade	
  do	
  estudo	
  da	
  Teoria	
  do	
  Estado	
  nos	
  cursos	
  de	
  Direito.	
  A	
  Ciência	
  Política	
  
estuda	
   a	
   organização	
   e	
   os	
   comportamentos	
   políticos,	
   independente	
   dos	
   elementos	
   jurídicos,	
   o	
   que	
   a	
   torna	
  
insuficiente	
  quando	
  fora	
  da	
  Teoria	
  do	
  Estado.	
  
	
  
	
  	
  	
  O	
   objeto	
   da	
   Teoria	
   Geral	
   do	
   Estado	
   é	
   o	
   estudo	
   do	
   Estado	
   sob	
   todos	
   seus	
   aspectos	
   (origem,	
   organização,	
  
funcionamento	
   e	
   finalidades,	
   por	
   exemplo),	
   sendo	
   possível	
   estuda-­‐lo	
   com	
   diversas	
   ideias	
   diferentes,	
   podendo	
  
agrupá-­‐las	
  principalmente	
  em	
  três:	
  (a)	
  a	
  busca	
  da	
  justificativa	
  do	
  Estado	
  (filosófico);	
  (b)	
  o	
  estudo	
  dos	
  fatos	
  concretos	
  
(sociológico);	
  e	
   (c)	
  o	
  Estado	
  como	
  realidade	
  normativa	
   (jurídico).	
  Como	
  o	
  estudo	
  das	
   três	
   linhas	
   isoladamente	
  não	
  
permite	
   uma	
   visão	
   ampla	
   do	
   Estado,	
   Miguel	
   Reale	
   propôs	
   um	
   culturalismo	
   realista,	
   fundindo	
   as	
   vertentes	
   e	
  
considerando-­‐as	
   indissociáveis,	
   tendo	
   Alexandre	
   Groppali	
   uma	
   ideia	
   semelhante.	
   Apesar	
   de	
   todas	
   essas	
   formas	
  
propostas,	
  é	
  impossível	
  estudar	
  seguindo	
  apenas	
  uma	
  linha	
  metodológica,	
  podendo	
  a	
  análise	
  do	
  Estado	
  ser	
  indutiva	
  
(com	
  fim	
  em	
  generalizações),	
  dedutiva	
  (a	
  partir	
  das	
  análises	
  de	
  fatos	
  particulares)	
  ou	
  analógica	
  (comparativos).	
  
	
  	
  	
  Ainda	
  que	
  utilizadas	
  formas	
  diferentes	
  de	
  se	
  estudar	
  o	
  Estado,	
  todas	
  elas	
  podem	
  ser	
  fundidas	
  para	
  que	
  seja	
  criada	
  
uma	
  noção	
  mais	
  completa	
  do	
  objeto	
  de	
  estudo	
  da	
  Teoria	
  Geral	
  do	
  Estado.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  2	
  –	
  DA	
  SOCIEDADE	
  
	
  
	
  	
  	
  A	
  vida	
  em	
  sociedade	
  é	
  benéfica	
  ao	
  humano,	
  porém,	
  cria	
  uma	
  série	
  de	
   limitações	
  que	
  chega	
  a	
  afetar	
  a	
   liberdade	
  
humana,	
  fato	
  este	
  que	
  traz	
  perguntas	
  visando	
  os	
  porquês	
  do	
  homem	
  se	
  subordinar	
  à	
  vida	
  em	
  sociedade.	
  
	
  	
  	
  Existem	
  duas	
  grandes	
  ideias,	
  ambas	
  com	
  grandes	
  defensores	
  e	
  boas	
  teses,	
  que	
  podem	
  responder	
  a	
  essa	
  pergunta:	
  
o	
  da	
  sociedade	
  natural	
  e	
  o	
  da	
  escolha	
  humana.	
  
	
  
A	
  ideia	
  da	
  sociedade	
  natural	
  
	
   Aristóteles	
  (Grécia	
  Antiga):	
  “o	
  homem	
  é	
  naturalmente	
  um	
  animal	
  político”	
  (in:	
  A	
  Política).	
  Apenas	
  alguém	
  de	
  
	
   natureza	
   vil	
   ou	
   superior	
   à	
   do	
   humano	
   é	
   que	
   seria	
   capaz	
   de	
   se	
   isolar	
   da	
   sociedade.	
   Para	
   ele,	
   os	
   animais	
  
	
   irracionais	
  que	
  se	
  agrupam	
  o	
  fazem	
  apenas	
  por	
  instinto,	
  enquanto	
  o	
  homem	
  o	
  faz	
  racionalmente.	
  
	
   Cícero	
  (Roma	
  Antiga):	
  é	
  menos	
  a	
  insuficiência	
  individual	
  e	
  mais	
  o	
  instinto	
  inato	
  de	
  sociabilidade.	
  Ainda	
  que	
  
	
   vivendo	
  sozinho	
  e	
  abundantemente,	
  sente	
  a	
  necessidade	
  da	
  vida	
  social.	
  
	
   Santo	
  Tomás	
  de	
  Aquino:	
  converge	
  com	
  Aristóteles	
  e	
  cria	
  uma	
  classificação	
  de	
  “tipos”	
  que	
  vivem	
  sozinhos.	
  
	
   	
  	
  	
  Excellentia	
  naturae:	
  indivíduo	
  notavelmente	
  virtuoso,	
  que	
  vive	
  apenas	
  com	
  a	
  própria	
  santidade;	
  
	
   	
  	
  	
  Corruptio	
  naturae:pessoas	
  com	
  anomalia	
  mental;	
  
	
   	
  	
  	
  Mala	
  fortuna:	
  quando	
  o	
  indivíduo,	
  por	
  acidente	
  (náufragos	
  etc.),	
  passa	
  a	
  viver	
  sozinho	
  
	
   Ranelletti:	
  desde	
  sempre	
  o	
  ser	
  humano	
  convive	
  com	
  outros,	
  ainda	
  que	
  sua	
  origem	
  seja	
  rude	
  ou	
  selvagem.	
  
	
   Aquele	
  que	
  vive	
  só	
  não	
  se	
  encontra	
  na	
  realidade	
  da	
  vida.	
  Só	
  unido	
  que	
  o	
  homem	
  consegue	
  os	
  meios	
  para	
  
	
   satisfazer	
  suas	
  necessidades,	
  melhorar	
  a	
  si	
  mesmo	
  e	
  atingir	
  os	
  fins	
  de	
  sua	
  existência.	
  
	
  	
  	
  Ainda	
   que	
   a	
   ideia	
   seja	
   da	
   inerência	
   da	
   sociedade	
   ao	
   homem,	
   não	
   se	
   pode	
   dispensar	
   a	
   vontade	
   humana	
   nessa	
  
dinâmica,	
  pois	
  o	
  ser	
  é	
  consciente	
  que	
  necessita	
  da	
  vida	
  social.	
  
	
  
A	
  ideia	
  contratualista	
  
	
  	
  	
  Muitos	
  são	
  os	
  autores	
  que	
  sustentam	
  que	
  a	
  sociedade	
  é	
  tão	
  somente	
  a	
  prática	
  de	
  um	
  acordo	
  de	
  vontades.	
  
	
  	
  	
  Nega-­‐se	
  que	
  o	
  humano	
  socializa	
  por	
  impulso	
  natural;	
  afirma-­‐se	
  que	
  apenas	
  a	
  vontade	
  sustenta	
  a	
  sociedade.	
  
	
   Platão	
   (Grécia	
   Antiga):	
   teorizou,	
   em	
   “A	
   República”,	
   um	
   modelo	
   ideal	
   da	
   vida	
   social,	
   como	
   Moore	
   e	
  
Campanella.	
  
	
   Thomas	
   Hobbes:	
   em	
   Leviatã,	
   propôs	
   e	
   sistematizou	
   o	
   contratualismo.	
   Tratou	
   do	
   homem	
   no	
   estado	
   de	
  
	
   natureza,	
   em	
  que	
  o	
   ser	
   se	
   encontra	
   no	
   caos	
   quando	
   a	
   paixão	
   é	
   superior	
   à	
   razão	
   ou	
   quanto	
   a	
   autoridade	
  
	
   fracassa.	
  O	
  humano,	
  graças	
  ao	
  descontrole	
  do	
  estado	
  de	
  natureza,	
   vive	
  em	
  permanente	
   “guerra	
  de	
   todos	
  
	
   contra	
   todos”.	
   A	
   despeito	
   disso,	
   sendo	
   a	
   espécie	
   racional,	
   ela	
   sabe	
   quais	
   os	
   princípios	
   para	
   entrar	
   no	
  
	
   estado	
   social,	
   com	
   base	
   em	
   duas	
   leis	
   fundamentais:	
   (i)	
   cada	
   indivíduo	
   se	
   esforçando	
   pela	
   paz	
   e	
   (ii)	
   se	
  
necessário	
  	
   pela	
  paz	
  mútua,	
  dá-­‐se	
  a	
  renúncia	
  ao	
  direito	
  a	
  todas	
  as	
  coisas,	
  com	
  a	
  mesma	
  liberdade	
  a	
  si	
  concedida.	
  
Ciente	
  	
   de	
  tudo	
  isso,	
  o	
  homem	
  fez	
  o	
  contrato	
  para	
  possibilitar	
  a	
  vida	
  em	
  sociedade	
  e,	
  também,	
  um	
  ente	
  visível	
  que	
  
	
   vincule	
  e	
  obrigue	
  as	
  pessoas	
  a	
  obedecê-­‐lo	
  pelo	
  medo	
  da	
  punição.	
  Criou-­‐se	
  o	
  Estado.	
  É	
  necessário	
  mantê-­‐lo	
  
	
   com	
   fim	
  na	
   preservação	
   do	
   homem,	
   ainda	
   que	
   seja	
  mal	
   administrado:	
  melhor	
   um	
  mal	
   governo	
   do	
   que	
   o	
  
estado	
  	
  de	
  natureza.	
  O	
  governante	
  não	
  pode	
  ser	
  contestado:	
  o	
  que	
  ele	
  diz	
  é	
  lei	
  e	
  representa	
  o	
  Estado	
  (absolutismo).	
  
	
  
Disso	
   tudo	
   resulta	
   o	
   conceito	
   de	
   Estado	
   como	
   “uma	
   pessoa	
   de	
   cujos	
   atos	
   se	
   constitui	
   em	
  
autora	
  uma	
  grande	
  multidão,	
  mediante	
  pactos	
  recíprocos	
  de	
  seus	
  membros,	
  com	
  o	
  fim	
  de	
  que	
  
essa	
   pessoa	
   possa	
   empregar	
   a	
   força	
   e	
   os	
   meios	
   de	
   todos,	
   como	
   julgar	
   conveniente,	
   para	
  
assegurar	
  a	
  paz	
  e	
  a	
  defesa	
  comuns”.	
  	
  O	
  Estado	
  dessa	
  pessoa	
  se	
  denomina	
  soberano	
  e	
  se	
  diz	
  
que	
   tem	
  poder	
   soberano,	
   e	
   cada	
   um	
  dos	
   que	
   o	
   rodeiam	
   é	
   seu	
   súdito.	
   (DALLARI,	
   Dalmo	
  de	
  
Abreu.	
  Elementos	
  de	
  Teoria	
  Geral	
  do	
  Estado,	
  32ª	
  edição,	
  2ª	
  tiragem,	
  p.	
  26).	
  
	
  
	
   Locke,	
   no	
   século	
   XVII,	
   passou	
   a	
   questionar	
   fortemente	
   o	
   contratualismo	
   de	
  Hobbes,	
   porém	
   só	
   um	
   século	
  
mais	
  	
   tarde	
   que	
  os	
   teóricos	
   refutaram	
   totalmente	
   o	
   absolutismo	
  para	
   conter	
   a	
   “guerra	
   de	
   todos	
   contra	
   todos”,	
  
ainda	
  	
   que	
  com	
  uma	
   ideia	
  contratualista	
  para	
  a	
  origem	
  da	
  sociedade:	
  Montesquieu,	
  em	
  sua	
  obra	
  “O	
  Espírito	
  das	
  
Leis”,	
  	
   acredita	
   no	
   homem	
   num	
   estado	
   de	
   natureza,	
   entretanto	
   não	
   nos	
  moldes	
   hobbesianos	
   de	
   um	
   subjugar	
   o	
  
outro,	
  	
   mas	
  sim,	
  de	
  que	
  o	
  indivíduo	
  reconheceu	
  sua	
  hipossuficiência	
  (o	
  que	
  não	
  encorajaria	
  o	
  ataque	
  a	
  outrem)	
  no	
  
	
   meio	
  natural	
  e,	
  assim,	
  achou	
  conveniente	
  associar-­‐se	
  com	
  os	
  demais.	
  Sob	
  esta	
  ótica,	
  ele	
  também	
  estruturou	
  
	
   leis	
  naturais	
  ao	
  homem,	
  que	
  são	
  quatro:	
  (i)	
  o	
  desejo	
  de	
  paz;	
  (ii)	
  o	
  sentimento	
  das	
  necessidades;	
  (iii)	
  a	
  atração	
  
	
   ao	
  sexo	
  oposto;	
  e	
   (iv)	
  consciência	
  do	
  seu	
  estado	
  natural,	
  que	
  o	
   leva	
  a	
  querer	
  a	
  vida	
  em	
  sociedade.	
  Com	
  o	
  
	
   surgimento	
  da	
  sociedade	
  e	
  o	
  sentimento	
  de	
  fortalecimento	
  dos	
  indivíduos	
  advindo	
  disso,	
  aí	
  sim,	
  o	
  humano	
  
	
   entra	
  no	
  estado	
  de	
  guerra	
  com	
  a	
  diferenciação	
  e	
  a	
  criação	
  de	
  desigualdades.	
  Não	
  aprofundou	
  na	
   ideia	
  do	
  
	
   contrato	
  social	
  e	
  apreciou,	
  direto,	
  a	
  formação	
  das	
  leis.	
  
	
   Rousseau	
  voltou	
  a	
  estudar	
  o	
  contratualismo	
  à	
  maneira	
  de	
  Hobbes,	
  porém,	
  absorvendo	
  a	
  noção	
  de	
  bondade	
  
	
   humana	
   teorizada	
   por	
  Montesquieu,	
   em	
   “O	
  Contrato	
   Social”.	
   Foram	
  as	
   ideias	
   desse	
   livro,	
   no	
   contexto	
   da	
  
	
   Revolução	
   Francesa,	
   as	
   praticadas	
   de	
   fato	
   nos	
   novos	
   governos	
   que	
   seriam	
   implantados.	
   A	
   soberania	
   dos	
  
povos,	
  	
  a	
  busca	
  incessante	
  pela	
  igualdade	
  e	
  a	
  ideia	
  de	
  interesse	
  coletivo	
  como	
  pertencente	
  a	
  cada	
  indivíduo	
  vieram	
  
	
   por	
  essa	
  obra	
  e	
  até	
  a	
  contemporaneidade	
  são	
   inspirações.	
  A	
   sociabilidade	
  não	
  é	
  um	
   impulso	
  natural,	
  mas	
  
sim,	
  	
   racional	
  do	
  ser	
  humano:	
  o	
  estado	
  natural	
  dele	
  é	
  bondoso	
  e	
  apenas	
  interessado	
  na	
  autopreservação,	
  o	
  que	
  
	
   encontrou	
  limites	
  e,	
  para	
  quebra-­‐los,	
  passou	
  a	
  associar-­‐se	
  com	
  os	
  iguais.	
  Os	
  direitos	
  individuais	
  passam	
  a	
  ser	
  
	
   pensados	
   pelo	
   bem	
   comunitário.	
   A	
   comunidade	
   gera	
   o	
   Estado,	
   mero	
   executor	
   da	
   vontade	
   coletiva,e	
   é	
  
	
   soberana	
  quando	
  toma	
  um	
  poder	
  de	
  decisão.	
  A	
  soberania	
  é,	
  portanto,	
  coletiva,	
  não	
  de	
  um	
  governante,	
  e	
  é	
  
	
   inalienável	
  e	
  indivisível,	
  expressada	
  pela	
  vontade	
  geral,	
  uma	
  síntese	
  das	
  ideias.	
  A	
  vontade	
  geral	
  sempre	
  visa	
  
o	
  	
   interesse	
  comum,	
  enquanto	
  a	
  vontade	
  de	
  todos	
  (uma	
  mera	
  soma)	
  releva	
  mais	
  os	
  anseios	
  particulares,	
  o	
  que	
  
	
   demonstra	
  a	
  possibilidade	
  de	
  diferenças	
  entre	
  uma	
  e	
  outra.	
  A	
  sociedade	
  visa	
  proteger	
  a	
  liberdade	
  individual,	
  
	
   para	
   que	
   ela	
   seja	
   bem	
   praticada,	
   e	
   garantir	
   a	
   igualdade	
   individual.	
   Portanto,	
   as	
   bandeiras	
   pelas	
   quais	
   a	
  
vontade	
  	
   geral,	
   portanto,	
   o	
   povo	
   soberano	
   e	
   o	
   Estado,	
   devem	
   zelar	
   são	
   a	
   liberdade	
   e	
   a	
   igualdade,	
   dois	
  
fundamentos	
  da	
  	
   democracia.	
  
	
  	
  	
  Feito	
  todo	
  esse	
  histórico,	
  podemos	
  visualizar	
  que	
  a	
  sociedade	
  é	
  a	
  soma	
  de	
  um	
  impulso	
  natural	
  somado	
  ao	
  uso	
  da	
  
razão,	
  e,	
   graças	
  a	
   isso,	
   jamais	
  pode-­‐se	
   considerar	
  o	
  homem	
   fora	
  de	
   seu	
   contexto,	
   individualmente,	
  mas	
   sim,	
  nele	
  
encrustado	
  no	
  grupo	
  formado,	
  ou	
  seja,	
  o	
  homem	
  social.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  3	
  –	
  DOS	
  ELEMENTOS	
  que	
  CARACTERIZAM	
  a	
  SOCIEDADE	
  
	
  
	
  	
  	
  Estudadas	
  as	
  duas	
  ideias	
  que	
  teorizam	
  o	
  objeto	
  de	
  estudo,	
  deve-­‐se	
  estabelecer	
  qual	
  agrupamento	
  é	
  a	
  sociedade,	
  
afinal,	
  dentro	
  dela	
  há	
  a	
  chamada	
  pluralidade	
  social,	
  com	
  diversas	
  manifestações	
  existentes	
  internamente,	
  o	
  que	
  não	
  
causa,	
  necessariamente,	
  a	
  quebra	
  da	
  sociedade.	
  Para	
  tanto,	
  três	
  elementos	
  devem	
  ser	
  estabelecidos:	
  (i)	
  a	
  finalidade	
  
ou	
  o	
  valor	
  social,	
  (ii)	
  as	
  manifestações	
  de	
  conjunto	
  ordenadas	
  e	
  (iii)	
  o	
  poder	
  social.	
  
	
  
FINALIDADE	
  SOCIAL	
  
	
  	
  	
  Detectam-­‐se	
  objetivos	
   comuns	
   àquela	
   sociedade,	
   havendo	
  a	
  necessidade	
  de	
   estabelecer	
   atos	
   espontaneamente	
  
obedecidos	
  para	
  alcançá-­‐los.	
  Há	
  quem	
  negue	
  a	
  possibilidade	
  de	
  escolher	
  a	
  finalidade	
  da	
  sociedade	
  (os	
  deterministas)	
  
e	
  os	
  que	
  creem	
  que	
  é	
  possível,	
  pela	
  vontade	
  (os	
  finalistas).	
  	
  
	
  	
  	
  Os	
   deterministas	
   creem	
   no	
   homem	
   subordinado	
   às	
   leis	
   naturais,	
   sujeitas	
   ao	
   princípio	
   da	
   causalidade,	
   o	
   que	
   é	
  
arriscado,	
  pois,	
  não	
  seriam	
  visadas	
  mudanças	
  e	
  melhorias	
  na	
  sociedade.	
  
	
  	
  	
  Os	
   finalistas	
   são	
  o	
  oposto,	
  pois	
   creem	
  que	
  a	
   sociedade	
  pode	
  definir	
   suas	
   finalidades,	
   livremente	
  escolhidas	
  pelo	
  
humano,	
  a	
  partir	
  da	
  inteligência	
  e	
  da	
  vontade.	
  
	
  	
  	
  A	
   finalidade	
  social	
  deve	
  ser	
  o	
  bem	
  comum.	
  Este	
   foi	
  definido	
  pelo	
  Papa	
   João	
  XXIII	
   como	
  o	
  “conjunto	
  de	
   todas	
  as	
  
condições	
   de	
   vida	
   social	
   que	
   consistam	
   e	
   favoreçam	
   o	
   desenvolvimento	
   integral	
   da	
   personalidade	
   humana”.	
  
Portanto,	
  são	
  as	
  ações	
  coletivas	
  que	
  tem	
  como	
  finalidade	
  o	
  favorecimento	
  do	
  indivíduo.	
  
	
  
ORDEM	
  SOCIAL	
  e	
  ORDEM	
  JURÍDICA	
  
	
  	
  	
  Não	
  basta,	
  na	
  sociedade,	
  saber	
  que	
  é	
  necessário	
  a	
  batalha	
  pelo	
  bem	
  comum	
  como	
  sua	
  finalidade.	
  Deve-­‐se	
  definir	
  a	
  
ação	
  coordenada	
  dos	
  indivíduos	
  para	
  o	
  alcance	
  daquele	
  fim.	
  Para	
  ela	
  ocorrer,	
  três	
  requisitos	
  devem	
  ser	
  atendidos:	
  
	
   Reiteração:	
   reiteradamente,	
  os	
  membros	
  da	
  sociedade	
  devem	
  se	
  manifestar	
  em	
  conjunto,	
  pois	
   só	
  assim	
  o	
  
	
   bem	
  comum	
  permanecerá	
  como	
  busca,	
  cada	
  vez	
  mais,	
  e	
  de	
  acordo	
  com	
  o	
  surgimento	
  de	
  novos	
  fins	
  sociais.	
  
	
   Ordem:	
  nos	
  tempos	
  cientificistas	
  (fim	
  do	
  século	
  XVIII	
  até	
  o	
  começo	
  do	
  século	
  XIX),	
  havia	
  o	
  entendimento	
  de	
  
	
   que	
   todas	
   as	
   leis	
   e	
   fatos	
   sociais	
   seguiam	
   os	
   anseios	
   da	
   natureza.	
   Durkheim,	
   nesse	
   tempo,	
   desenvolveu	
   o	
  
	
   pensamento	
  de	
  que	
  os	
  fatos	
  sociais	
  devem	
  ser	
  estudados	
  como	
  coisas,	
  compreendidas	
  por	
  fatores	
  internos	
  
	
   ao	
   indivíduo	
   (psicológico)	
   e	
   externos	
   a	
   ele	
   (fatos	
   sociais),	
   sendo	
   a	
   soma	
   delas	
   a	
  matéria	
   da	
   vida	
   social	
   e	
  
	
   inconfundíveis	
  com	
  as	
  leis	
  da	
  natureza,	
  possuindo	
  leis	
  próprias.	
  
	
   A	
  partir	
  disso,	
  veio	
  a	
  diferenciação	
  entre	
  a	
  ordem	
  da	
  natureza	
   (Mundo	
  Físico)	
  e	
  a	
  ordem	
  humana	
   (Mundo	
  
	
   Ético)	
   que,	
   estudada	
   por	
   Hans	
   Kelsen	
   na	
   Teoria	
   Pura	
   do	
   Direito,	
   mostra	
   que	
   a	
   primeira	
   ordem	
   é	
   “se	
   A,	
  
portanto,	
  	
   B”,	
  enquanto	
  na	
   segunda,	
   “se	
  A,	
  portanto,	
  deve	
  ser	
  B”,	
   sendo	
  este	
  caso	
  bem	
   ilustrado	
  pelos	
   fatos	
  
jurídicos,	
  	
   nos	
  quais	
  uma	
  pessoa	
  pode	
  ou	
  não	
  passar	
  por	
   consequências	
  de	
  certas	
  ações.	
  Tais	
  estudos	
   foram	
  
devidamente	
  	
   aprofundados	
  e	
  aperfeiçoados	
  pelo	
  finado	
  professor	
  da	
  Fadusp,	
  Goffredo	
  da	
  Silva	
  Telles	
  Júnior.	
  
	
   Dentro	
  do	
  Mundo	
  Ético	
  há	
  uma	
  segunda	
  divisão,	
  conforme	
  García	
  Máynez,	
  que	
  é	
  a	
  unilateralidade	
  da	
  moral	
  
e	
  	
   a	
  bilateralidade	
  do	
   direito,	
   sendo	
  o	
   caráter	
   distintivo	
  das	
   regras	
   sociais.	
   A	
   primeira	
   é	
   a	
   não	
  obrigação	
   em	
  
	
   obedecer	
  aos	
  preceitos	
  morais,	
  ainda	
  que	
  estes	
  sejam	
  de	
  aceitação	
  majoritária	
  ou	
  até	
  coletiva.	
  A	
  segunda	
  dá	
  
	
   a	
  possibilidade	
  da	
   vítima	
  da	
  ofensa	
  ou	
  de	
   terceiro	
  obrigar	
  o	
  ofensor	
   a	
   cumprir	
   norma	
  ou	
   ser	
  punido	
  pelo	
  
	
   seu	
  descumprimento.	
  O	
  mesmo	
  autor	
  complementa	
  dizendo	
  que	
  há	
  uma	
  terceira	
  linha	
  de	
  regras,	
  que	
  são	
  os	
  
	
   convencionalismos	
  sociais,	
  que	
  englobam	
  decoro,	
  etiqueta,	
  moda,	
  cortesias	
  etc.,	
  ligadasà	
  exterioridade	
  dos	
  
	
   atos	
  do	
  indivíduo,	
  sem	
  relação	
  com	
  a	
  idoneidade	
  das	
  intenções	
  dele.	
  
	
   Mas	
  o	
  que	
  fazer	
  para	
  os	
  indivíduos	
  obedecerem	
  a	
  todo	
  ordenamento	
  que	
  a	
  sociedade	
  impõe?	
  
	
   Adequação:	
  devem	
  ser	
  levadas	
  em	
  conta	
  toda	
  realidade	
  social	
  para	
  que	
  as	
  ações	
  não	
  sejam	
  contrariadas	
  ou	
  
	
   pervertidas.	
  Para	
  início,	
  os	
  próprios	
  membros	
  da	
  sociedade	
  devem	
  ser	
  levados	
  em	
  conta	
  para	
  a	
  construção	
  
de	
  	
   sua	
  ordem.	
  Todo	
  ato	
  humano,	
  conforme	
  Heller,	
  é	
  direcionado	
  por	
  fenômenos	
  naturais,	
  históricos	
  e	
  culturais,	
  
	
   conforme	
  padronização	
  de	
  Duverger	
  no	
  conjunto	
  cultural,	
  que	
  são	
  os	
  elementos	
  compositores	
  da	
  sociedade	
  
	
   	
  (geográficos,	
   demográficos,	
   técnicos,	
   econômicos,	
   institucionais	
   etc),	
   mesclado	
   ao	
   cotidiano.	
   A	
   não	
  
	
   adequação	
   da	
   ordem	
   jurídica	
   à	
   social	
   causa	
   graves	
   problemas	
   para	
   a	
   concretização	
   do	
   bem	
   comum,	
  
	
   principalmente	
   na	
   atualidade,	
   em	
   que	
   os	
   indivíduos	
   se	
   preocupam	
   muito	
   mais	
   com	
   o	
   crescimento
	
   (quantidades)	
   do	
   que	
   com	
   o	
   desenvolvimento	
   (qualidades),	
   com	
   aquele	
   sendo	
   inútil	
   ou,	
   até	
   mesmo,	
  
prejudicial	
  	
   para	
  o	
  alcance	
  do	
  bem	
  comum.	
  
	
  	
  	
  Mas	
  como	
  conciliar	
  esses	
  três	
  fatores	
  para	
  alcançar	
  o	
  bem	
  comum	
  sem	
  afetar	
  a	
  liberdade	
  dos	
  indivíduos	
  (um	
  dos	
  
fins	
  desse	
  bem)?	
  A	
  resposta	
  encontra-­‐se	
  em	
  seguida.	
  
	
  
PODER	
  SOCIAL	
  
	
  	
  	
  O	
  poder	
  é	
  um	
  fenômeno	
  vindo	
  pelos	
  fenômenos	
  sociais	
  e	
  é	
  bilateral	
  (correlação	
  de	
  duas	
  ou	
  mais	
  vontades,	
  sendo	
  
algumas	
  delas	
  as	
  submetidas).	
  O	
  estudo	
  realmente	
  relevante	
  do	
  poder	
  na	
  Teoria	
  Geral	
  do	
  Estado	
  é	
  o	
  do	
  poder	
  social.	
  
	
  	
  	
  Os	
  definidos	
  genericamente	
  como	
  anarquistas	
  são	
  aqueles	
  que	
  creem	
  na	
  dispensa	
  do	
  poder	
  social,	
  crendo-­‐se	
  que	
  
as	
   pessoas	
   devem	
   viver	
   na	
   natureza,	
   sem	
   submissão	
   aos	
   artifícios	
   que	
   a	
   sociedade	
   cria.	
   No	
   Cristianismo	
   são	
  
encontrados	
  muitos	
  elementos	
  anarquistas,	
  que	
  foram	
  refutados	
  na	
  própria	
  Bíblia,	
  porém,	
  Santo	
  Agostinho,	
  em	
  sua	
  
obra	
  “Da	
  Cidade	
  de	
  Deus”,	
  aprofundou	
  a	
  ideia	
  anarquista	
  de	
  sociedade	
  natural,	
  sem	
  submissões,	
  dentro	
  de	
  moldes	
  
cristãos	
   e	
   idealizados.	
   Era	
   finalidade,	
   a	
   partir	
   disso,	
   fazer	
   com	
  que	
   a	
   Igreja	
   Católica	
   dominasse	
  o	
  poder	
   temporal,	
  
unificasse	
   todos	
  os	
  povos	
  do	
  mundo	
  sob	
  o	
  Cristianismo	
  e,	
  então,	
   fizesse	
  um	
  mundo	
  perfeito,	
   anarquista,	
  ou	
   seja,	
  
sem	
  relações	
  de	
  poder	
  entre	
  os	
  homens.	
  
	
  	
  	
  Há	
   o	
   anarquismo	
   de	
   cátedra,	
   que	
   crê	
   que	
   as	
   relações	
   de	
   poder	
   apenas	
   são	
   consequência	
   das	
   diferenciações	
  
materiais	
   que	
   existem	
   na	
   sociedade,	
   e	
   não	
   de	
   uma	
   necessidade	
   real	
   dela.	
   Léon	
  Duguit	
   entende	
   que	
   duas	
   são	
   as	
  
teorias	
  que	
  explicam	
  as	
  relações	
  de	
  poder:	
   (i)	
   teorias	
  religiosas,	
  que	
  creem	
  numa	
  força	
  muito	
  poderosa	
  que	
   influa	
  
nas	
  ações	
  humanas	
  (não	
  religiosas	
  no	
  sentido	
  estrito,	
  mas	
  também,	
  de	
  adoração	
  às	
  crenças	
  científicas	
  próprias)	
  e	
  (ii)	
  
teorias	
  econômicas,	
  que	
  diferenciam	
  materialmente	
  a	
  relação	
  entre	
  governantes	
  e	
  governados.	
  Ele	
  crê	
  que	
  o	
  poder	
  
é	
   dispensável	
   porque	
  os	
   indivíduos	
  possuem	
   sentimentos	
   de	
   justiça	
   e	
   sociabilidade	
  que	
   levariam	
  à	
   solidariedade.	
  	
  
Godwin,	
   defendendo	
   essa	
   mesma	
   linha	
   de	
   pensamento,	
   crê	
   na	
   bondade	
   fundamental	
   do	
   homem,	
   sendo	
   a	
  
autoridade	
   política	
   e	
   a	
   propriedade	
   privada	
   os	
   corruptores	
   dele,	
   além	
   da	
   religião,	
   conforme	
   adicionava	
   Bakunin,	
  
divergente	
  de	
  Marx,	
  o	
  qual	
  acreditava	
  nas	
  agremiações	
  políticas	
  tomando	
  o	
  poder	
  e	
  instalando	
  o	
  comunismo.	
  
	
  	
  	
  Ainda	
  que	
  exista	
  essa	
  linha	
  anarquista,	
  a	
  maioria	
  dos	
  autores	
  crê	
  na	
  necessidade	
  da	
  existência	
  do	
  poder,	
  com	
  um	
  
grande	
  leque	
  de	
  justificativas	
  para	
  tal.	
  Um	
  grande	
  argumento	
  é	
  a	
  da	
  eterna	
  existência	
  humana	
  sob	
  o	
  jugo	
  do	
  poder.	
  
Creem	
   que	
   sempre	
   é	
   necessário	
   algum	
   tipo	
   de	
   poder	
   para	
  manter	
   a	
   unidade	
   da	
   sociedade	
   e	
   a	
   possibilidade	
   de	
  
alcançar	
  os	
  seus	
  fins	
  (resumidos	
  no	
  bem	
  comum).	
  Por	
  um	
  tempo,	
  foi	
  a	
  força	
  física.	
  Depois,	
  a	
  crença	
  no	
  direito	
  divino	
  
dos	
  reis,	
  reforçado	
  pela	
  religião	
  cristã.	
  Porém,	
  ao	
  final	
  da	
  Idade	
  Média,	
  surgem	
  estudiosos	
  afirmando	
  que	
  o	
  povo	
  é	
  a	
  
grande	
  origem	
  de	
  direitos	
  e	
  poder.	
  Com	
  os	
   contratualistas,	
   isso	
   se	
   reafirma	
  com	
  a	
  adição	
  da	
  vontade	
  geral	
  e	
  dos	
  
direitos	
  sociais,	
  basilares	
  à	
  organização	
  social.	
  
	
  	
  	
  Hoje,	
  o	
  poder	
  utiliza	
  a	
  força,	
  mas	
  sem	
  poder	
  se	
  confundir	
  com	
  ela.	
  Além	
  disso,	
  o	
  poder	
  legítimo	
  cada	
  vez	
  mais	
  anda	
  
junto	
  com	
  o	
  poder	
   jurídico.	
  Ainda	
  que	
  o	
  poder	
  esteja	
  cada	
  vez	
  mais	
  conforme	
  o	
  direito,	
  diz	
  Miguel	
  Reale,	
  não	
  há	
  
direito	
  que	
  seja	
  produzido	
  sem	
  um	
  poder.	
  Portanto,	
  poder	
  e	
  direito	
  são	
  realidades	
  concomitantes.	
  
	
  	
  	
  Fazendo	
  outra	
  distinção,	
  legitimidade	
  e	
  legalidade	
  não	
  podem	
  ser	
  confundidos.	
  O	
  primeiro,	
  conforme	
  Max	
  Weber,	
  
pode	
  ser	
  sustentado	
  pela	
  tradição	
  (monarcas),	
  pelo	
  carisma	
  (tradução	
  do	
  povo	
  no	
  líder,	
  ainda	
  que	
  sem	
  legalidade)	
  e	
  
pela	
  razão	
  (quando	
  necessariamente	
  coincide	
  legalidade	
  e	
  legitimidade).	
  Georges	
  Burdeau	
  diz	
  que	
  o	
  poder	
  legítimo	
  
é	
   aquele	
   que	
   é	
   consentido	
   pela	
   sociedade,	
   quando	
   o	
   investido	
   nele	
   representa	
   os	
   anseios	
   dos	
   investidores.	
   Se	
   o	
  
poder	
   político	
   não	
   estiver	
   aserviço	
   dos	
   anseios	
   da	
   sociedade,	
   ou	
   seja,	
   do	
   bem	
   comum,	
   com	
   permanente	
  
consentimento	
  social,	
  o	
  governante	
  se	
  torna	
  um	
  autoritário.	
  
	
  
SOCIEDADES	
  POLÍTICAS	
  
	
  	
  	
  Não	
  se	
  pode	
  confundir	
  quais	
  são	
  as	
  sociedades	
  com	
  fins	
  particulares	
  da	
  com	
  fins	
  gerais,	
  afinal,	
  as	
  primeiras	
  tem	
  um	
  
caráter	
  volitivo	
  e	
  possuem	
  uma	
  finalidade	
  limitada	
  e	
  de	
  interesse	
  àquele	
  grupo	
  específico	
  de	
  associados;	
  as	
  últimas,	
  
são	
  as	
  de	
  fins	
  gerais	
  e	
  tem	
  um	
  objetivo	
  genérico,	
  indefinido,	
  e	
  o	
  pertencimento	
  independe	
  (na	
  maioria	
  das	
  vezes)	
  da	
  
vontade	
  de	
  seus	
  integrantes,	
  trabalhando	
  ao	
  coletivo	
  em	
  prol	
  de	
  finalidades	
  individuais	
  e	
  associativas.	
  Elas,	
  em	
  geral,	
  
são	
  denominadas	
  como	
  sociedades	
  políticas,	
  pois	
  não	
  se	
  prendem	
  a	
  uma	
  finalidade	
  específica,	
  mas	
  pelo	
  elo	
  entre	
  
todas	
   as	
   atividades	
   internas	
   a	
   si.	
   A	
   política	
   é	
   a	
   gestão	
   de	
   negócios	
   da	
   comunidade	
   (Heller),	
   afinal,	
   ela	
   afeta	
   a	
  
totalidades	
  dos	
  fatores	
  do	
  homem.	
  Pelos	
  seus	
  membros,	
  as	
  sociedades	
  políticas	
  ocupam-­‐se	
  da	
  totalidade	
  das	
  ações	
  
humanas.	
  	
  Estudaremos	
  a	
  sociedade	
  política	
  mais	
  importante:	
  o	
  Estado.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  4	
  –	
  DA	
  ORIGEM,	
  FORMAÇÃO	
  e	
  EVOLUÇÃO	
  HISTÓRICA	
  do	
  ESTADO	
  
	
  
PARTE	
  I	
  
	
  
	
  	
  	
  A	
  palavra	
  “Estado”	
  surgiu,	
  como	
  definição	
  de	
  uma	
  sociedade	
  política,	
  pela	
  primeira	
  vez	
  em	
  1513,	
  n’O	
  Príncipe,	
  de	
  
Maquiavel,	
  sempre	
  utilizada	
  em	
  relação	
  a	
  uma	
  cidade	
  italiana	
  independente.	
  A	
  expressão	
  logo	
  se	
  espalhou	
  à	
  França,	
  
Alemanha	
  e	
  Inglaterra.	
  Existe	
  quem	
  teorize	
  a	
  origem	
  do	
  Estado	
  apenas	
  a	
  partir	
  do	
  surgimento	
  do	
  nome	
  ou	
  próximo	
  
disso,	
  ou	
  desde	
  (muito)	
  antes	
  dessa	
  definição	
  surgir.	
  
	
  	
  	
  Para	
   uns,	
   o	
   Estado	
   sempre	
   existiu	
   na	
   humanidade,	
   desde	
   quando	
   ela	
   se	
   organizou	
   socialmente,	
   com	
   poder	
   e	
  
autoridades	
  determinadoras	
  do	
  comportamento	
  grupal.	
  
	
  	
  	
  A	
  outros,	
  a	
  sociedade	
  humana	
  não	
  teve	
  o	
  Estado	
  por	
  um	
  período.	
  Depois	
  ele	
  surge	
  para	
  atender	
  conveniências	
  ou	
  
necessidades	
  de	
  certos	
  grupos	
  sociais.	
  Esta	
  é	
  a	
  linha	
  de	
  pensamento	
  majoritária.	
  
	
  	
  	
  Há	
  uma	
  terceira	
  posição,	
  que	
  é	
  o	
  Estado	
  como	
  sociedade	
  política	
  e	
  com	
  características	
  bem	
  definidas,	
  as	
  quais,	
  se	
  
houver	
  alguma	
  exceção,	
   tirariam	
  sua	
  presença.	
  Conforme	
  Karl	
  Schmidt,	
  que	
  segue	
  tal	
   linha,	
  o	
  Estado	
  surge	
  com	
  o	
  
conceito	
   de	
   soberania,	
   no	
   século	
   XVII.	
   Balladore	
   Pallieri	
   especifica	
   que	
   o	
   Estado	
   surgiu	
   apenas	
   em	
   1648,	
   com	
   a	
  
assinatura	
  da	
  Paz	
  de	
  Westfália.	
  	
  
	
  	
  	
  Podemos	
  analisar	
  a	
  formação	
  do	
  Estado	
  por	
  duas	
  questões:	
  
	
  	
  	
  a)	
  ORIGINÁRIA:	
  parte-­‐se	
  do	
  agrupamento	
  humano	
  não	
  integrado	
  pelo	
  Estado.	
  
	
   i)	
  Formação	
  natural	
  ou	
  espontânea:	
  Estado	
  surge	
  naturalmente,	
  não	
  voluntariamente;	
  
	
   ii)	
  Formação	
  contratual:	
  a	
  vontade	
  de	
  alguns	
  ou	
  de	
  todos	
  os	
  homens	
  é	
  que	
  formou	
  o	
  Estado.	
  	
  
	
   As	
  causas	
  determinantes	
  para	
  o	
  surgimento	
  estatal	
  podem	
  ser:	
  
	
   	
  	
  	
  -­‐	
  Familial	
  ou	
  patriarcal:	
  famílias	
  primitivas	
  se	
  ampliando	
  e	
  formando	
  um	
  Estado;	
  
	
   	
  	
  	
  -­‐	
   Força,	
   violência	
   ou	
   conquista:	
   um	
   grupo	
   social	
  mais	
   forte	
   submeteu	
   outro,	
  mais	
   fraco,	
   ao	
   seu	
   Estado,	
  
tendo	
  	
   como	
  fim	
  principal	
  a	
  submissão	
  do	
  mais	
  fraco	
  ao	
  mais	
  forte	
  para	
  exploração	
  econômica;	
  
	
   	
  	
  	
  -­‐	
   Economia	
   e	
   patrimônios:	
   veio	
   para	
   aproveitamento	
   dos	
   princípios	
   da	
   divisão	
   do	
   trabalho,	
   além	
   de	
  
garantir	
  	
   que	
   os	
   grandes	
   proprietários	
   mantivessem	
   seus	
   domínios	
   e	
   finanças	
   e	
   as	
   multiplicassem.	
  
Fundamenta	
  a	
  teoria	
  	
   marxista	
  do	
  Estado	
  ao	
  dizer	
  que	
  ele	
  é	
  material	
  da	
  burguesia	
  para	
  exploração	
  do	
  proletariado	
  
e,	
  então,	
  que	
  	
   poderá	
  ser	
  extinto	
  por	
  ter	
  sido	
  criação	
  em	
  benefício	
  apenas	
  a	
  uma	
  minoria;	
  
	
   	
  	
  	
  -­‐	
  Desenvolvimento	
  social	
  interno:	
  em	
  qualquer	
  sociedade	
  o	
  Estado	
  tem	
  potencial	
  para	
  surgir,	
  mas	
  somente	
  
	
   ocorre	
  a	
  partir	
  de	
  um	
  momento	
  específico	
  do	
  desenvolvimento	
  de	
   sua	
   sociedade,	
  pelas	
  necessidades	
  que	
  
vem.	
  
	
  	
  	
  b)	
   DERIVADA:	
   crê-­‐se	
   na	
   formação	
   do	
   Estado	
   a	
   partir	
   de	
   outros.	
   É	
   o	
  mais	
   comum	
   atualmente	
   e	
   há	
  muito	
  mais	
  
interesse	
  prático	
  em	
  estuda-­‐las.	
  
	
   i)	
   Fracionamento:	
   desmembramento	
   de	
   uma	
   parte	
   de	
   um	
   Estado	
   com	
   fim	
   na	
   formação	
   de	
   outro.	
   O	
  
separatista	
  	
   tem	
  povo,	
  território,	
  ordem	
  jurídica	
  e	
  soberania	
  próprias,	
  todas	
  em	
  detrimento	
  do	
  Estado	
  anterior;	
  
	
   ii)	
  União:	
  ocorreu	
  muito	
  quando	
  da	
  constituição	
  de	
  federações.	
  Somam-­‐se	
  vários	
  Estados	
  existentes	
  em	
  prol	
  
	
   de	
  um	
  novo,	
  maior,	
  mais	
   forte,	
   superior,	
   formando	
  novos	
  povo,	
   território,	
  ordem	
   jurídica	
  e	
   soberania.	
  Os	
  
	
   Estados	
  formadores	
  perdem	
  esse	
  status	
  em	
  prol	
  do	
  novo.	
  
	
   iii)	
   Atípicas:	
   por	
   consequência	
   de	
   guerras,	
   negociações	
   ou	
   tratados	
   surgem	
   novos	
   Estados,	
   como	
   ocorreu	
  
	
   quando	
  da	
  separação	
  da	
  Alemanha	
  pós-­‐II	
  GM	
  e	
  do	
  surgimento	
  dos	
  Estados	
  do	
  Vaticano	
  e	
  de	
  Israel.	
  
	
  
PARTE	
  II	
  
Uma	
  breve	
  revisão	
  de	
  conceitos	
  aprendidos	
  durante	
  o	
  Ensino	
  Básico	
  (Fundamental	
  e	
  Médio).	
  
	
  
Estado	
   Antigo:	
   também	
   chamado	
   de	
   Oriental	
   ou	
   Teocrático.	
   Presente	
   fortemente	
   no	
   Mediterrâneo	
   e	
   na	
  
Mesopotâmia.	
   Família,	
   religião,	
   Estado,	
   economia,	
   tudo	
   isso	
   se	
   confundia.	
   Era	
   sempreunitário,	
   não	
   admitindo	
  
divisões	
  interiores.	
  Era	
  sempre	
  teocrático,	
  podendo	
  ele	
  ser	
  unitário,	
  com	
  o	
  líder	
  do	
  Estado	
  sendo	
  uma	
  divindade,	
  ou	
  
sendo	
  ele	
  limitado	
  pelos	
  sacerdotes	
  da	
  religião	
  oficial.	
  
	
  
Estado	
  Grego:	
   nunca	
   houve	
   unidade,	
   eram	
   cidades-­‐Estado.	
   A	
   finalidade	
   era	
   a	
   autossuficiência	
   e	
   a	
   autarquia.	
   Tais	
  
características	
  determinaram	
  que,	
  ainda	
  que	
  houvesse	
  dominação	
  de	
  povos,	
  nunca	
  houvesse	
  expansão	
   territorial.	
  
Adiciona-­‐se	
  a	
  isso	
  que	
  a	
  faixa	
  dos	
  cidadãos	
  que	
  administravam	
  o	
  núcleo	
  estatal	
  grego	
  era	
  muito	
  pequena,	
  então,	
  em	
  
caso	
  de	
  crescimento,	
  seria	
  difícil	
  suportá-­‐lo	
  administrativamente.	
  
	
  
Estado	
  Romano:	
  assemelhava-­‐se	
  muito	
  ao	
  Estado	
  Grego,	
   inclusive	
  no	
   formato	
  de	
  cidade-­‐Estado,	
  de	
   sua	
   formação	
  
lendária	
   até	
   sua	
   queda	
   com	
   Justiniano.	
   Porém,	
   era	
  muito	
   peculiar	
   que	
   todo	
   o	
   império	
   fosse	
   administrado	
   pelas	
  
famílias	
  fundadoras,	
  originalmente	
  romanas	
  (os	
  patrícios).	
  O	
  povo	
  que	
  participava	
  do	
  governo,	
  e	
  esse	
  povo	
  era	
  uma	
  
faixa	
  muito	
   restrita	
   da	
   população.	
  Outras	
   camadas	
   sociais	
   se	
   desenvolveram,	
  mas	
   os	
   privilégios	
   continuavam	
   aos	
  
patrícios.	
  A	
   abertura	
  progressiva	
  da	
   sociedade	
   romana	
   com	
  a	
   “patriação”	
  dos	
  plebeus	
   (como	
  uma	
  grande	
   técnica	
  
administrativa	
   de	
   Caracala)	
   e	
   a	
   liberdade	
   religiosa	
   vinda	
   com	
   Constantino	
   marcaram	
   o	
   início	
   do	
   fim	
   do	
   Império	
  
Romano.	
  
	
  
Estado	
  Medieval:	
   três	
   são	
  os	
   itens	
  que	
  colaboram	
  com	
  o	
  estudo	
  sobre	
  esse	
  período	
   tão	
   instável	
  para	
  o	
  Estado:	
  o	
  
cristianismo,	
  as	
  invasões	
  bárbaras	
  e	
  o	
  feudalismo.	
  	
  
.	
  O	
  primeiro	
   fator	
   tinha	
  como	
  fim	
  principal	
  o	
  universalismo	
  religioso	
  para,	
  então,	
   formar	
  um	
  Estado	
  propriamente	
  
universal,	
  o	
  que	
  justifica	
  a	
  centralização	
  do	
  poder	
  na	
  religião.	
  A	
  Igreja	
  instituiu	
  um	
  Imperador,	
  mas	
  ele	
  não	
  respondia	
  
devidamente	
   ao	
   que	
   a	
   instituição	
   gostaria,	
   havendo	
   constantes	
   choques	
   entre	
   os	
   anseios	
   papais	
   e	
   os	
   anseios	
  
imperiais,	
   sem	
   contar	
   que	
   estes	
   não	
   eram	
   totalmente	
   atendidos	
   pelos	
   súditos,	
   graças	
   às	
   mais	
   diversas	
  
descentralizações	
  e	
  batalhas	
  por	
  independência	
  e	
  poder.	
  
.	
  O	
  segundo	
  fator	
   foi	
  decisivo	
  para	
  a	
  descentralização	
  das	
  diversas	
  regiões	
   invadidas,	
  afirmando	
  unidades	
  políticas	
  
independentes.	
  Além	
  disso,	
  o	
  enfraquecimento	
  dos	
  povos	
  encorajou	
   invasões	
  até	
  o	
  século	
  VI	
  e,	
   também,	
  alianças	
  
com	
   fins	
   de	
  poder	
   e	
   economia	
   entre	
   bárbaros	
   (nórdicos	
   ou	
   árabes)	
   e	
   cristãos,	
   principalmente	
  na	
   Itália	
   e	
   no	
   Imp.	
  
Bizantino.	
  
.	
   O	
   terceiro	
   e	
   não	
   menos	
   importante	
   fator	
   tem	
   relação	
   com	
   a	
   dificuldade	
   do	
   desenvolvimento	
   do	
   comércio,	
  
obrigando	
  um	
   forte	
  patrimonialismo	
  dos	
   senhores	
   feudais	
  e	
  um	
  desenvolvimento	
  militar	
   com	
   fim	
  na	
  proteção	
  da	
  
posse.	
  Os	
  próprios	
   agentes	
  públicos,	
   com	
   relações	
   como	
  vassalagem,	
  benefício	
  e	
   imunidade,	
   conseguiam	
  garantir	
  
sua	
  independência	
  de	
  demais	
  autoridades	
  graças	
  ao	
  exercício	
  de	
  suas	
  funções	
  na	
  terra,	
  tendo	
  o	
  feudo	
  suas	
  próprias	
  
relações	
  jurídicas.	
  
	
  	
  	
  Portanto,	
  caracterizado	
  tudo	
  isso,	
  o	
  Estado	
  Medieval	
  se	
  encontra	
  mais	
  como	
  uma	
  aspiração	
  do	
  que	
  uma	
  realidade,	
  
causadora	
   de	
   permanente	
   instabilidade	
   política,	
   econômica	
   e	
   social,	
   gerando	
   intensa	
   necessidade	
   de	
   ordem	
   e	
  
autoridade,	
  sendo,	
  elas	
  sim,	
  germes	
  do	
  Estado	
  Moderno.	
  
	
  
Estado	
  Moderno:	
   surgiu	
   uma	
   aspiração	
   pela	
   unidade	
   semelhante	
   ao	
   do	
   Império	
   Romano.	
   Houve	
   uma	
   crescente	
  
divisão	
  dos	
  feudos.	
  Os	
  senhores	
  feudais	
  já	
  não	
  suportavam	
  as	
  exigências	
  dos	
  monarcas.	
  Cada	
  vez	
  mais	
  ansiou-­‐se	
  pela	
  
centralização	
   do	
   poder	
   estatal	
   e	
   isso	
   se	
   tornou	
   marcante	
   quando	
   da	
   Paz	
   de	
   Westfália,	
   em	
   1648,	
   que	
   fixou	
   a	
  
soberania	
  dos	
  Estados	
   sobre	
  os	
   territórios	
  que	
  possuíam,	
  ou	
   seja,	
  unidade	
   territorial	
   e	
  poder	
   soberano.	
  Há	
  quem	
  
diga	
   que	
   apenas	
   esses	
   dois	
   elementos	
   bastam	
  para	
   a	
   formação	
   do	
   Estado.	
   Porém,	
   dizem	
  que	
   há	
   dois	
   elementos	
  
materiais	
   (território	
  e	
  povo)	
  e	
  elementos	
  formais	
   (ou	
  autoridade,	
  e/ou	
  governo,	
  e/ou	
  soberania).	
  Diversos	
  autores	
  
adicionam	
   ou	
   refutam	
   elementos	
   que	
   caracterizem	
   o	
   Estado	
   desde	
   a	
   Idade	
  Moderna.	
   Seguiremos	
   estudando	
   as	
  
quatro	
  mais	
   relevantes:	
  a	
  soberania,	
  o	
  povo,	
  o	
   território	
  e	
  a	
   finalidade.	
  A	
  noção	
  de	
  ordem	
  jurídica	
   já	
  é	
   implícita	
  à	
  
própria	
  realidade.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  5	
  –	
  SOBERANIA	
  
	
  
	
  	
  	
  É	
   um	
   conceito	
  que	
   chama	
  muita	
   atenção	
  dos	
   estudiosos	
   sobre	
  o	
   Estado.	
   Com	
   farta	
   bibliografia,	
   foi	
   prejudicado	
  
graças	
  à	
  criação	
  de	
  distorções	
  e	
  divergências	
  teóricas.	
  A	
  significação	
  política	
  colaborou	
  muito	
  para	
  sua	
  distorção.	
  É	
  
muito	
   utilizado	
   para	
   justificar	
   opiniões	
   opostas	
   em	
  prol	
   da	
   soberania,	
   portanto,	
   tornou-­‐se	
   um	
   símbolo	
   altamente	
  
emocional,	
  principalmente	
  por	
  parte	
  de	
  tendências	
  nacionalistas.	
  
	
  	
  	
  Na	
  Antiguidade,	
  a	
  noção	
  de	
  soberania	
   inexistia,	
  pois	
  não	
  existia	
  oposição	
  entre	
  os	
  poderes	
  estatal	
  e	
  os	
  diversos	
  
outros	
  existentes.	
  As	
  intervenções	
  econômicas	
  eram	
  sobretudo	
  em	
  tributos,	
  e	
  diversas	
  outras	
  eram	
  pela	
  segurança.	
  
Na	
   Idade	
  Média	
   esses	
   fatores	
   (tributos	
   e	
   segurança)	
   passaram	
  a	
   causar	
   problemas	
   e,	
   então,	
   surgiriam	
  problemas	
  
relacionadosà	
  soberania	
  (pois	
  não	
  havia	
  diferença	
  entre	
  Estado	
  e	
  outras	
  entidades,	
  como	
  feudos	
  ou	
  comunas).	
  Até	
  
o	
   século	
  XII,	
   surgiram	
  duas	
   soberanias	
   concomitantes	
   (senhorial	
   e	
   real).	
  No	
  XIII,	
   o	
  monarca	
   começou	
  a	
   se	
  afirmar	
  
com	
  poder	
  supremo	
  sobre	
  todo	
  reino,	
  inclusive	
  independentes	
  do	
  Imperador	
  e	
  do	
  Papa.	
  Ao	
  final	
  da	
  Idade	
  Média,	
  o	
  
rei	
  já	
  é	
  considerado	
  soberano,	
  ilimitado	
  dentro	
  de	
  seus	
  territórios.	
  
	
  	
  	
  O	
   primeiro	
   a	
   desenvolver	
   um	
   conceito	
   de	
   soberania	
   foi	
   Jean	
   Bodin,	
   em	
   “Les	
   Six	
   Livres	
   de	
   la	
   République”	
  
(provavelmente,	
  1576):	
  soberania	
  é	
  o	
  poder	
  absoluto	
   e	
  perpétuo	
   de	
  uma	
  República,	
  palavra	
  que	
   se	
  usa	
   tanto	
  em	
  
relação	
  aos	
   particulares	
   quanto	
   em	
   relação	
  aos	
   que	
  manipulam	
   todos	
  os	
   negócios	
   de	
   estado	
  de	
  uma	
  República	
   –	
  
onde	
   lê-­‐se	
  República,	
  pode-­‐se	
  entender,	
  muito	
  bem,	
  por	
  Estado.	
  Por	
  ser	
  absoluto,	
  não	
  é	
   limitado	
  nem	
  em	
  poder,	
  
nem	
   por	
   cargo	
   ou	
   tempo.	
   Sem	
   leis,	
   sem	
   tempo	
   certo	
   e,	
   se	
   alguém	
   recebe	
   um	
   poder	
   absoluto,	
   ele	
   é	
   apenas	
  
depositário	
  e	
  guarda	
  do	
  poder,	
  não	
  um	
  soberano.	
  Em	
  um	
  Estado	
  aristocrático	
  e	
  popular,	
  o	
  titular	
  do	
  poder	
  é	
  o	
  povo	
  
ou	
   uma	
   classe;	
   nas	
   monarquias,	
   a	
   soberania	
   só	
   existe	
   com	
   hereditariedade.	
   Por	
   mais	
   que	
   não	
   tenha	
   citado	
   a	
  
inalienabilidade,	
  Bodin	
  esclarece	
  que	
  o	
  soberano	
  não	
  concede	
  tanto	
  que	
  não	
  retenha	
  sempre	
  mais.	
  
	
  	
  	
  Para	
  Rousseau,	
  o	
  contrato	
  social	
  gera	
  o	
  corpo	
  político,	
  composto	
  por	
  Estado	
   (passivo),	
  Soberano	
   (ativo)	
  e	
  Poder	
  
(quando	
   comparado	
   aos	
   semelhantes).	
   Demonstra	
   que	
   a	
   soberania	
   é	
   inalienável	
   (por	
   ser	
   o	
   exercício	
   da	
   vontade	
  
geral)	
  e	
  indivisível	
  (porque	
  a	
  vontade	
  só	
  é	
  geral	
  quando	
  o	
  todo	
  participa).	
  É	
  o	
  pacto	
  social	
  que	
  dá	
  ao	
  corpo	
  político	
  
um	
  poder	
  absoluto	
  e	
  ele	
  se	
  chama	
  soberania.	
  
	
  	
  	
  No	
  século	
  XIX,	
  como	
  consequência	
  da	
  Revolução	
  Francesa,	
  surge	
  a	
  noção	
  de	
  soberania	
  como	
  expressão	
  de	
  poder	
  
político,	
   sustentando	
   sua	
   imunidade	
   a	
   qualquer	
   limitação	
   jurídica.	
  No	
  meio	
   do	
   século	
   XIX,	
   surge,	
   na	
  Alemanha,	
   a	
  
teoria	
  da	
  personalidade	
  jurídica	
  do	
  Estado,	
  que	
  é	
  o	
  verdadeiro	
  titular	
  da	
  soberania.	
  	
  
	
  	
  	
  No	
  século	
  XX,	
  a	
  soberania	
  se	
  torna	
  uma	
  das	
  notas	
  características	
  do	
  Estado.	
  Há	
  quem	
  diga	
  que	
  a	
  soberania	
  seja	
  o	
  
poder	
  do	
  Estado,	
  outros,	
  que	
  seja	
  a	
  qualidade	
  do	
  poder	
  dele	
  e,	
  para	
  Kelsen,	
  ela	
  seria	
  a	
  expressão	
  da	
  unidade	
  de	
  uma	
  
ordem.	
   Em	
   síntese,	
   a	
   noção	
   de	
   soberania	
   é	
   sempre	
   ligada	
   a	
   uma	
   concepção	
   de	
   poder,	
   ainda	
  mais,	
   um	
  poder	
   de	
  
unificação.	
  
	
  	
  	
  Em	
   termos	
   políticos,	
   soberania	
   expressava	
   a	
   plena	
   eficácia	
   do	
   poder,	
   um	
   poder	
   incontrastável	
   de	
   querer	
  
coercitivamente	
   e	
   de	
   fixar	
   as	
   competências,	
   não	
   havendo	
   importância	
   pela	
   legitimidade	
   ou	
   juridicidade,	
   não	
  
admitindo	
   confrontações,	
   o	
   que	
   estimulou	
   um	
   egoísmo	
   entre	
   os	
   Estados,	
   pelo	
   qual	
   somente	
   os	
   mais	
   fortes	
  
conseguiam	
  afirmar	
  a	
  sua	
  soberania.	
  
	
  	
  	
  Em	
  termos	
  jurídicos,	
  o	
  conceito	
  de	
  soberania	
  é	
  o	
  poder	
  de	
  decidir	
  em	
  última	
  instância	
  sobre	
  a	
  atributividade	
  das	
  
normas,	
  ou	
  seja,	
  sobre	
  a	
  eficácia	
  do	
  direito.	
  Portanto,	
  a	
  soberania	
  é	
  um	
  poder	
  jurídico	
  utilizado	
  para	
  fins	
  jurídicos.	
  
Decide-­‐se	
  qual	
  a	
  regra	
  aplicável	
  a	
  cada	
  caso	
  (ou	
  podendo	
  negar	
  a	
  aplicabilidade).	
  Nisso,	
  não	
  há	
  superioridade	
  entre	
  
os	
  diversos	
  Estados.	
  Até	
  os	
  mais	
  fortes	
  podem	
  ser	
  questionados	
  e	
  agir	
  de	
  forma	
  antijurídica,	
  o	
  que	
  permite	
  a	
  reação	
  
dos	
  demais	
  Estados	
  diante	
  de	
  uma	
  questão	
  jurídica	
  de	
  um	
  Estado.	
  
	
  	
  	
  Em	
  termos	
  culturais,	
  não	
  há	
  admissão	
  das	
  noções	
  política	
  ou	
  jurídica	
  em	
  separado,	
  afinal,	
  os	
  fenômenos	
  do	
  Estado	
  
seriam	
  sociais,	
  jurídicos	
  e	
  políticos,	
  simultaneamente.	
  Para	
  Reale,	
  dentro	
  dessa	
  linha	
  (que	
  ele	
  admitia	
  como	
  política),	
  
soberania	
  é	
  o	
  poder	
  de	
  organizar-­‐se	
  juridicamente	
  e	
  de	
  fazer	
  valer	
  dentro	
  de	
  seu	
  território	
  a	
  universalidade	
  de	
  suas	
  
decisões	
  nos	
  limites	
  dos	
  fins	
  éticos	
  de	
  convivência.	
  O	
  uso	
  do	
  poder	
  deve	
  ser	
  compreendido	
  dentro	
  da	
  noção	
  de	
  bem	
  
comum,	
  e	
  a	
  coação,	
  para	
  atender	
  a	
  tal	
  noção,	
  é	
  limitada	
  pelos	
  fins	
  éticos	
  de	
  convivência.	
  
	
  
CARACTERÍSTICAS	
  da	
  SOBERANIA	
  
	
  	
  	
  UNA:	
  não	
  se	
  admite,	
  num	
  mesmo	
  Estado,	
  a	
  coexistência	
  de	
  duas	
  soberanias;	
  
	
  	
  	
  INDIVISÍVEL:	
  além	
  de	
  impor	
  sua	
  unidade,	
  ela	
  se	
  aplica	
  à	
  universalidade	
  dos	
  fatos	
  ocorridos	
  no	
  Estado;	
  
	
  	
  	
  INALIENÁVEL:	
  o	
  Estado	
  que	
  a	
  detém	
  desaparece	
  quando	
  fica	
  sem	
  ela;	
  
	
  	
  	
  IMPRESCRITÍVEL:	
  jamais	
  seria	
  superior	
  se	
  tivesse	
  prazo	
  certo	
  para	
  acabar.	
  
	
  
O	
  autor	
  Marco	
  Tulio	
  Zanzucchi,	
  em	
  “Istituzioni	
  di	
  Diritto	
  Pubblico”,	
  acrescenta:	
  
	
  	
  	
  ORIGINÁRIO:	
  nasce	
  no	
  momento	
  que	
  nasce	
  o	
  Estado,	
  sendo	
  um	
  inseparável	
  do	
  outro;	
  
	
  	
  	
  EXCLUSIVO:	
  só	
  o	
  Estado	
  o	
  possui;	
  
	
  	
  	
  INCONDICIONADO:	
  só	
  encontra	
  limites	
  no	
  que	
  o	
  próprio	
  Estado	
  limita;	
  
	
  	
  	
  COATIVO:	
  o	
  Estado	
  não	
  só	
  ordena,	
  como	
  tem	
  meios	
  para	
  fazer	
  cumprir	
  suas	
  ordens	
  coativamente.	
  
	
  
Léon	
  Duguit,	
   em	
  “Leçons	
  de	
  Droit	
  Public	
  Général”,	
   acrescenta,	
   fazendo	
  uma	
  síntese,	
  que	
  é	
  um	
  poder	
  de	
  vontade	
  
comandante	
  (superior	
  a	
  todas	
  as	
  vontades	
  submetidasa	
  ela)	
  e	
  independente	
  (que	
  se	
  assemelha	
  ao	
  incondicionado	
  
de	
   Zanzucchi).	
   Essa	
   independência	
   é	
   muito	
   mais	
   relacionada	
   nas	
   relações	
   internacionais	
   (nenhuma	
   convenção	
  
internacional	
  seria	
  obrigatória	
  a	
  um	
  Estado,	
  o	
  que	
  inviabilizaria	
  um	
  direito	
  internacional).	
  
	
  
A	
  essa	
  teorização	
  de	
  Duguit,	
  Ihering	
  defendeu,	
  em	
  primeira	
  mão,	
  a	
  teoria	
  da	
  autolimitação	
  do	
  Estado,	
  crendo	
  que	
  
as	
  convenções	
  internacionais	
  não	
  diminuem	
  a	
  soberania	
  do	
  Estado,	
  pois	
  este	
  só	
  as	
  aceita	
  se	
  achar	
  conveniente,	
  da	
  
mesma	
  maneira	
  que	
  pode	
  limitar	
  a	
  sua	
  própria	
  atuação	
  com	
  regras	
  internas.	
  
	
  
TEORIAS	
  JUSTIFICADORAS	
  do	
  PODER	
  SOBERANO	
  
	
  	
  	
  -­‐	
  TEOCRÁTICAS:	
  predominaram	
  no	
  fim	
  da	
  Idade	
  Média	
  e	
  no	
  período	
  absolutista	
  do	
  Estado	
  Moderno,	
  conforme	
  o	
  
princípio	
  atestado	
  por	
  São	
  Paulo:	
  omnis	
  potestas	
  a	
  Deo,	
  ou	
  seja,	
  todo	
  poder	
  vem	
  de	
  Deus.	
  Pode	
  ser	
  o	
  direito	
  divino	
  
sobrenatural,	
  quando	
  a	
   soberania	
   vem	
  de	
  Deus,	
  ou	
  providencial,	
   quando	
  ela	
   vem	
  de	
  Deus,	
   como	
   todas	
  as	
   coisas,	
  
mas	
   indiretamente	
   vem	
  do	
  povo,	
  o	
  que	
   justificaria	
   imperfeições	
  diversas.	
   Independentemente	
  da	
  diferença	
  entre	
  
essas	
  duas	
  definições,	
  o	
  titular	
  da	
  soberania	
  é	
  o	
  monarca.	
  
	
  	
  	
  -­‐	
  DEMOCRÁTICAS:	
  a	
  soberania	
  se	
  origina	
  do	
  próprio	
  povo.	
  Possuem	
  três	
  fases	
  sucessivas.	
  
	
   i)	
  O	
  próprio	
  povo,	
  como	
  massa	
  amorfa,	
  é	
  titular	
  da	
  soberania;	
  
	
   ii)	
  A	
  partir	
  da	
  Revolução	
  Francesa	
  a	
  titularidade	
  passa	
  à	
  nação,	
  que	
  é	
  o	
  povo	
  numa	
  ordem	
  integrante;	
  
	
   iii)	
   Por	
  último,	
   a	
   titularidade	
  pertence	
  ao	
  Estado	
   (meados	
   século	
  XIX).	
   Sendo	
  a	
   soberania	
  um	
  direito,	
   este	
  
deve	
  	
   pertencer	
  apenas	
  a	
  uma	
  personalidade	
  jurídica.	
  Como	
  o	
  povo	
  não	
  a	
  possui	
  mas	
  participa	
  do	
  Estado	
  e	
  forma	
  
	
   sua	
  vontade,	
  é	
  este	
  quem	
  deve	
  detê-­‐la.	
  Portanto,	
  atende	
  às	
  exigências	
  jurídicas	
  e	
  democráticas.	
  
	
  	
  	
  Ela	
   é	
  denominada	
   como	
   legitimista,	
   pois	
   legitima-­‐se	
  o	
   soberano	
   (Estado)	
   e	
   se	
   consegue	
   consolidar,	
   com	
  caráter	
  
permanente,	
  todo	
  o	
  ordenamento	
  colocado	
  diante	
  do	
  povo.	
  
	
  
OBJETO	
  e	
  SIGNIFICAÇÃO	
  da	
  SOBERANIA	
  
	
  	
  	
  O	
   poder	
   soberano	
   se	
   exerce	
   sobre	
   os	
   indivíduos,	
   que	
   são	
   a	
   unidade	
   elementar	
   do	
   Estado.	
   Os	
   cidadãos	
   estão	
  
sempre	
  submetidos	
  ao	
  poder	
  soberano,	
  ainda	
  que	
  haja	
  hipóteses	
  do	
  Estado	
  agir	
  fora	
  de	
  seu	
  território.	
  Quanto	
  aos	
  
estrangeiros	
  que	
  se	
  encontram	
  num	
  Estado,	
  ainda	
  que	
  exista	
  exceções,	
  este	
  também	
  exerce	
  poder	
  sobre	
  aqueles.	
  
	
  	
  	
  Quando	
  comparado	
  com	
  os	
  demais	
  Estados,	
  a	
  soberania	
  de	
  um	
  o	
  coloca	
  em	
  pé	
  de	
  igualdade	
  aos	
  demais.	
  Admite-­‐
se	
  a	
  existência	
  de	
  outros	
  poderes	
  iguais	
  mas,	
  jamais,	
  superiores.	
  
	
  	
  	
  Em	
  conclusão,	
  a	
  soberania	
  é	
  símbolo	
  de	
  independência	
  e	
  poder	
  jurídico	
  máximo.	
  Portanto,	
  a	
  prevalência	
  da	
  força	
  
de	
  um	
  Estado	
  dentro	
  de	
  outro	
  mais	
  fraco	
  é	
  sempre	
  um	
  ato	
  irregular,	
  antijurídico	
  e	
  configurador	
  de	
  uma	
  violação	
  de	
  
soberania,	
   passível	
   de	
   sanções	
   jurídicas.	
   Ainda	
   que	
   a	
   sanção	
   não	
   ocorra,	
   será	
   uma	
   lembrança	
   para	
   futuras	
  
reivindicações	
  ou	
  aquisição	
  da	
  solidariedade	
  de	
  demais	
  Estados.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  6	
  –	
  TERRITÓRIO	
  
	
  
	
  	
  	
  A	
  noção	
  de	
  território	
  como	
  componente	
  necessário	
  do	
  Estado	
  só	
  apareceu	
  com	
  sua	
  versão	
  moderna.	
  Na	
  cidade-­‐
Estado	
   não	
   era	
   necessária	
   uma	
   clara	
   delimitação,	
   por	
   exemplo.	
   Quando	
   surge	
   a	
   Idade	
   Média	
   e	
   seus	
   diversos	
  
conflitos,	
  a	
  demarcação	
  territorial	
  urgiu	
  e	
  surgiu	
  junto	
  com	
  a	
  noção	
  de	
  soberania	
  –	
  pois	
  esta	
  seria	
  praticada	
  dentro	
  
dos	
  territórios	
  demarcados.	
  Apesar	
  disso,	
  tal	
  ideia	
  ainda	
  é	
  limitada,	
  mesmo	
  que	
  assegurasse	
  a	
  eficácia	
  do	
  poder	
  e	
  a	
  
estabilidade	
  da	
  ordem.	
  
	
  	
  	
  Para	
  alguns,	
  o	
  território	
  é	
  elemento	
  constitutivo	
  do	
  Estado,	
  enquanto	
  a	
  outros	
  é	
  uma	
  condição	
  exterior	
  necessária	
  
a	
  ele.	
  Conforme	
  Georges	
  Burdeau,	
  conquanto	
  necessário,	
  o	
  território	
  é	
  apenas	
  o	
  quadro	
  natural	
  dentro	
  do	
  qual	
  os	
  
governantes	
   exercem	
   suas	
   funções.	
   Já	
   para	
   Hans	
   Kelsen,	
   a	
   territorialidade	
   é	
   necessária	
   para	
   tornar	
   possível	
   a	
  
vigência	
  simultânea	
  de	
  muitas	
  ordens	
  estatais.	
  
	
  	
  	
  Existem	
  duas	
  grandes	
  posições	
   sobre	
  o	
   relacionamento	
  dos	
  Estados	
  com	
  seus	
   territórios:	
  a	
  primeira,	
   sustentada	
  
por	
  Laband,	
  é	
  a	
  de	
  que	
  o	
  Estado	
  seria	
  o	
  proprietário	
  do	
  território,	
  podendo	
  usar	
  e	
  dispor	
  dele	
  com	
  poder	
  absoluto,	
  
mas	
  não	
  da	
  mesma	
  maneira	
  que	
  a	
  propriedade	
  privada	
  (direito	
  real	
  de	
  natureza	
  pública);	
  a	
  segunda,	
  por	
  Burdeau,	
  e	
  
levemente	
  discordante	
   (crente	
   na	
   inexistência	
   da	
   propriedade	
   estatal,	
   pois	
   incompatibilizaria	
   as	
   privadas),	
   é	
   o	
   de	
  
direito	
  real	
  do	
  Estado	
  como	
  instituição,	
  não	
  como	
  proprietário	
  (direito	
  real	
  institucional).	
  Na	
  verdade,	
  nenhum	
  dos	
  
dois	
  resolveriam	
  a	
  essência	
  do	
  problema,	
  mas	
  surgiu	
  uma	
  conciliação	
  entre	
  domínio	
  eminente	
  e	
  domínio	
  útil,	
  sendo	
  
o	
  primeiro	
  estatal	
  e	
  o	
  segundo,	
  privado.	
  
	
  	
  	
  Em	
  oposição,	
  Jellinek	
  crê	
  na	
  inexistência	
  de	
  domínio	
  estatal	
  sobre	
  o	
  território.	
  Este	
  é	
  onde	
  há	
  expressão	
  do	
  poder	
  
de	
  império	
  estatal	
  sobre	
  o	
  território	
  e	
  que	
  ocorre	
  sobre	
  as	
  pessoas,	
  portanto,	
  como	
  direito	
  reflexo,	
  no	
  território.	
  Por	
  
isso,	
  invasões	
  territoriais	
  são	
  ofensas	
  à	
  personalidadejurídica	
  estatal	
  e	
  não	
  violação	
  de	
  direito	
  real.	
  E	
  nos	
  territórios	
  
desabitados?	
  Nesses,	
  o	
  poder	
  do	
  Estado	
  age	
  sempre	
  que	
  alguém	
  aparecer	
  ou	
  quando	
  achar	
  necessário.	
  
	
  	
  	
  Ranelletti,	
   procurando	
   superar	
   as	
   deficiências	
   dessas	
   ideias,	
   propôs	
   uma	
   terceira	
   posição,	
   afirmando	
   que	
   o	
  
território	
  é	
  o	
  espaço	
  no	
  qual	
  o	
  Estado	
  exerce	
  seu	
  poder	
  de	
  império:	
  não	
  só	
  sobre	
  as	
  pessoas,	
  como	
  também	
  sobre	
  as	
  
coisas,	
  que	
  se	
  encontrem	
  em	
  seu	
  território	
  –	
  não	
  havendo	
  o	
  problema	
  do	
  local	
  desabitado,	
  como	
  com	
  Jellinek,	
  nem	
  
da	
  concorrência	
  de	
  propriedades,	
  como	
  com	
  Laband	
  ou	
  Burdeau.	
  
	
  	
  	
  Paulo	
  Bonavides,	
  prosseguindo	
  nos	
  estudos	
  sobre	
  o	
  território,	
  cria	
  uma	
  classificação	
  quádrupla:	
  
	
  	
  	
  i)	
   Território-­‐patrimônio:	
   característico	
   do	
   Estado	
  Medieval,	
   não	
   diferencia-­‐se	
   imperium	
   do	
  dominium,	
   ou	
   seja,	
   o	
  
poder	
  do	
  Estado	
  sobre	
  o	
  território	
  é	
  o	
  mesmo	
  do	
  proprietário	
  sobre	
  um	
  imóvel;	
  
	
  	
  	
  ii)	
  Território-­‐objeto:	
  o	
  território	
  é	
  um	
  objeto	
  de	
  direito	
  real	
  de	
  caráter	
  público,	
  sendo	
  só	
  relação	
  de	
  domínio;	
  
	
  	
  	
  iii)	
  Territóro-­‐espaço:	
  território	
  é	
  a	
  extensão	
  espacial	
  da	
  soberania	
  do	
  Estado,	
  baseado	
  no	
  direito	
  estatal	
  de	
  império.	
  
Seria	
  parte	
  da	
  personalidade	
  jurídica	
  do	
  Estado,	
  portanto,	
  também	
  chamado	
  de	
  território-­‐sujeito;	
  
	
  	
  	
  iv)	
  Território-­‐competência:	
  idealizado	
  por	
  Kelsen,	
  é	
  onde	
  vale	
  a	
  ordem	
  jurídica	
  do	
  Estado.	
  
	
  
Algumas	
  conclusões	
  generalistas:	
  	
  
	
  	
  	
  (a)	
  não	
  há	
  Estado	
  sem	
  território,	
  são	
  duas	
  ideias	
  indissociáveis,	
  e	
  não	
  há	
  limitação	
  para	
  suas	
  dimensões;	
  	
  
	
  	
  	
  (b)	
  o	
  território	
  estabelece	
  a	
  delimitação	
  da	
  ação	
  soberana	
  do	
  Estado,	
  com	
  sua	
  ordem	
  jurídica	
  e	
  as	
  aceitas	
  por	
  si,	
  
quando	
  provindas	
  do	
  exterior;	
  e	
  	
  
	
  	
  	
  (c)	
  o	
  território	
  é	
  objeto	
  de	
  direitos	
  do	
  Estado,	
  além	
  de	
  elemento	
  constitutivo	
  necessário,	
  com	
  ele,	
  por	
  interesse	
  do	
  
povo,	
  podendo	
  alienar	
  parte	
  do	
  território	
  e	
  usá-­‐lo	
  sem	
  limitações.	
  
	
  	
  	
  Como	
  consequência	
  dessas	
  colocações,	
  temos,	
  
	
  	
  	
  i)	
  o	
  princípio	
  da	
  impenetrabilidade,	
  no	
  qual	
  um	
  Estado	
  possui	
  monopólio	
  na	
  ocupação	
  territorial	
  e	
  soberana,	
  sendo	
  
impossível	
  duas	
  desta	
  coexistirem	
  num	
  mesmo	
  local;	
  
	
  	
  	
  ii)	
   que	
   o	
   território	
   possui	
   uma	
   significação	
   jurídica	
   negativa,	
   pois	
   exclui	
   outras	
   ordenações	
   e	
   torna	
   o	
   Estado	
  
obrigado	
  a	
  agir	
  quando	
  em	
  seu	
  âmbito	
  e	
  de	
  acordo	
  com	
  determinadas	
  circunstâncias;	
  
	
  	
  	
  iii)	
  que	
  também	
  possui	
  uma	
  significação	
  jurídica	
  positiva,	
  assegurando	
  ao	
  Estado	
  a	
  ação	
  soberana	
  em	
  seu	
  território.	
  
	
  	
  	
  Apesar	
  da	
  existência	
  do	
  princípio	
  da	
   impenetrabilidade,	
  este	
  passou	
  a	
   ser	
   relativizado	
  com	
  o	
  ganho	
  de	
   força	
  do	
  
Direito	
   Humanitário	
   quando	
   ocorrem	
   violações	
   dos	
   direitos	
   fundamentais	
   dos	
   civis,	
   muitas	
   vezes	
   praticadas	
   por	
  
governos	
  totalitários,	
  o	
  que	
  reconheceria	
  a	
   legitimidade	
  de	
  ação	
  de	
  um	
  ou	
  diversos	
  Estados	
  sobre	
  o	
  violador.	
   Isso	
  
suscita	
   novos	
   debates,	
   com	
   aqueles	
   Estados	
   absolutamente	
   contrários	
   ou,	
   ainda	
   que	
   favoráveis,	
   criar-­‐se-­‐ia	
   a	
  
discussão	
  sobre	
  quem	
  seria	
  o	
  legitimo	
  para	
  interferir,	
  com	
  que	
  meios	
  e	
  quais	
  os	
  limites.	
  
	
  
	
  	
  	
  A	
  Teoria	
  Geral	
  do	
  Estado	
   já	
  se	
  ocupou	
  bastante	
  com	
  a	
  classificação	
  dos	
   territórios	
  e	
  das	
   fronteiras,	
  mas	
  hoje	
  há	
  
pouca	
  significação	
  prática.	
  	
  
	
  	
  	
  Antes,	
  diferenciavam-­‐se	
  os	
  territórios	
  entre	
  metropolitano	
  e	
  colonial,	
  mas	
  com	
  a	
  Carta	
  das	
  Nações	
  Unidas	
  (1945),	
  
as	
   colônias	
   não	
   poderiam	
  mais	
   existir,	
   com	
   elas	
   ou	
   sendo	
   integradas	
   ao	
   Estado,	
   ou	
   constituindo	
   novos,	
   ou	
   com	
  
alguns	
  possuindo	
  status	
  de	
  província,	
  ou,	
  ainda,	
  sendo	
  um	
  Estado	
  com	
  ordem	
  jurídica	
  soberana	
  mas	
  contando	
  com	
  
outro	
  Estado	
  para	
  a	
  proteção	
  de	
  sua	
  soberania.	
  
	
  	
  	
  Sobre	
   as	
   fronteiras,	
   elas	
   poderiam	
   ser	
   naturais	
   (quando	
   estabelecidas	
   por	
   acidentes	
   geográficos),	
   artificiais	
  
(quando	
  estabelecidas	
   por	
   tratados)	
   ou	
   esboçadas	
   (quando	
  estabelecidas	
   imprecisamente)	
   que,	
   com	
  a	
   tecnologia	
  
atual,	
  não	
  existem	
  mais	
  –	
  o	
  que	
  não	
  impede	
  os	
  conflitos	
  fronteiriços	
  resultantes	
  de	
  pretensões	
  expansionistas.	
  Além	
  
disso,	
  ainda	
  que	
  sejam	
  fronteiras	
  naturais,	
  não	
  se	
  dispensa	
  a	
  firmação	
  de	
  tratados.	
  
	
  
E	
  quanto	
  aos	
  limites	
  territoriais,	
  quando	
  tratamos	
  do	
  uso	
  do	
  mar,	
  seu	
  solo	
  e	
  subsolo,	
  e	
  do	
  espaço	
  aéreo.	
  
	
  	
  	
  Considera-­‐se,	
   há	
  muito	
   tempo,	
   uma	
   prática	
   justa	
   e	
   necessária	
   a	
   incorporação	
   de	
   uma	
   faixa	
   de	
  mar,	
   seu	
   solo	
   e	
  
subsolo,	
  pelo	
  Estado.	
  O	
  mar	
  territorial	
  tomou	
  cada	
  vez	
  mais	
  importância	
  nos	
  debates	
  políticos	
  quando	
  discutida	
  sua	
  
extensão.	
   Antes,	
   apenas	
   por	
   questões	
   de	
   segurança	
   –	
   tendo,	
   como	
   início	
   de	
   sua	
   limitação,	
   o	
   alcance	
   das	
   armas	
  
(Terra	
  potestas	
  finitur	
  ubi	
  finitur	
  armorum	
  vis)	
  como,	
  no	
  século	
  XVII,	
  o	
  de	
  um	
  tiro	
  de	
  canhão.	
  Com	
  o	
  avanço	
  bélico	
  do	
  
século	
   XX,	
   tal	
   critério	
   inutilizou-­‐se,	
   propondo-­‐se	
   a	
   fixação	
   em	
  número	
   de	
  milhas	
   (inicialmente,	
   em	
   três).	
   Diversos	
  
Estados,	
   que	
   por	
   fins	
   adversos	
   ao	
   da	
   segurança,	
   recusaram	
   essa	
   limitação,	
   estabelecendo,	
   por	
   tratados	
   ou	
   atos	
  
unilaterais,	
  aumentos.	
  Os	
  conflitos	
  se	
  agravaram	
  com	
  o	
  aumento	
  da	
  exploração	
  do	
  mar	
  e	
  territórios	
  submersos.	
  Os	
  
motivos	
   desegurança	
   tornaram-­‐se,	
   praticamente,	
   secundários,	
   com	
   o	
   fortalecimento	
   dos	
   motivos	
   econômicos,	
  
como	
   também	
   as	
   razões	
   fiscais,	
   sanitárias	
   ou	
   de	
   proteção	
   à	
   fauna	
  marítima.	
   Então,	
   o	
  mar	
   territorial	
   fixou-­‐se	
   em	
  
duzentas	
  milhas.	
  Na	
  atualidade,	
  a	
  questão	
  do	
  mar	
  territorial	
  limitado	
  é	
  impraticável,	
  pois	
  não	
  pode-­‐se	
  uniformizar	
  a	
  
todos	
  os	
  Estados,	
  cada	
  qual	
  com	
  suas	
  necessidades	
  e	
  anseios.	
  
	
  	
  	
  	
  Já	
   sobre	
   o	
   espaço	
   aéreo,	
   surge	
   a	
   questão	
   no	
   século	
   XX	
   com	
   o	
   desenvolvimento	
   aeronáutico.	
   Tornou-­‐se	
  
indispensável	
  assegurar	
  a	
  passagem	
   inocente	
  de	
  aeronaves	
  sobre	
  o	
   território	
  de	
  qualquer	
  Estado,	
   sendo	
  que	
  este	
  
deve	
   ser	
   previamente	
   noticiado	
   da	
   passagem.	
   Celebrou-­‐se	
   essa	
   ideia	
   na	
   Convenção	
   de	
   Chicago,	
   em	
   1944,	
   sem	
  
limitações	
  de	
  altitude	
  –	
  porém,	
  com	
  o	
  surgimento	
  de	
  aviões	
  que	
  alcançam	
  grandes	
  altitudes	
  (com	
  fins	
  espiões)	
  e	
  a	
  
utilização	
  de	
  satélites	
  artificiais	
  e	
  naves	
  espaciais,	
  o	
  assunto	
  complexou-­‐se,	
  ainda	
  que	
  nada	
  possa	
  se	
  fazer	
  para	
  deter	
  
estes.	
  Muitos	
  critérios	
  surgem	
  para	
  limitação,	
  como	
  o	
  limite	
  de	
  altura	
  para	
  soberania	
  estatal.	
  
	
  	
  	
  Com	
  o	
   desenvolvimento	
   das	
   conquistas	
   espaciais,	
   e	
   tendo	
   em	
   vistas	
   os	
   riscos	
   à	
   paz	
  mundial	
   e	
   à	
   segurança	
   dos	
  
povos,	
  a	
  ONU	
  vem	
  prometendo	
  entendimentos	
  à	
  matéria.	
  Em	
  1963	
  e	
  1966	
  foram	
  constituídos	
  tratados,	
  sendo	
  que	
  o	
  
último,	
  do	
  Espaço	
  Exterior,	
  negou	
  a	
  possibilidade	
  de	
  qualquer	
  Estado	
  se	
  apossar	
  do	
  espaço	
  ultraterrestre,	
  inclusive	
  a	
  
Lua	
  ou	
  qualquer	
  outro	
  satélite	
  ou	
  planeta.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
AULA	
  7	
  –	
  POVO	
  
	
  
	
  	
  	
  Mais	
   um	
   termo	
   utilizado	
   com	
   muita	
   conotação	
   emocional	
   (como	
   soberania)	
   e	
   que	
   tornou-­‐se	
   equívoco.	
   É	
  
necessário	
  depurá-­‐lo	
  das	
  deformações	
  e,	
  só	
  então,	
  estabelecer	
  uma	
  noção	
  jurídica.	
  
	
  	
  	
  É	
  unânime	
  a	
  necessidade	
  do	
  elemento	
  pessoal	
  para	
  o	
  Estado	
  existir,	
  pois	
  não	
  há	
  Estado	
  sem	
  povo	
  e	
  é	
  para	
  este	
  que	
  
aquele	
  se	
  forma.	
  	
  
	
  
	
  	
  	
  Há	
  quem	
  designe	
  de	
  população,	
  mas	
  esta,	
  conforme	
  Marcello	
  Caetano,	
  é	
  mera	
  expressão	
  numérica,	
  demográfica	
  
ou	
  econômica,	
  que	
  apenas	
  abrange	
  o	
  conjunto	
  que	
  vive	
  no	
  território	
  do	
  Estado.	
  Alguém	
  se	
  incluir	
  na	
  população	
  não	
  
significa,	
  necessariamente,	
   ter	
  vínculo	
   jurídico	
  com	
  o	
  Estado.	
  Portanto,	
  população	
  não	
  tem	
  sentido	
   jurídico	
  e	
  nem	
  
pode	
  ser	
  utilizada	
  como	
  sinônimo	
  de	
  povo.	
  
	
  
	
  	
  	
  No	
  século	
  XVIII,	
  com	
  a	
  Revolução	
  Francesa,	
  surgiu	
  o	
  termo	
  nação,	
  que	
  seria	
  o	
  povo	
  em	
  unidade	
  homogênea.	
  No	
  
contexto	
   de	
   afirmação	
   dos	
   Estados	
   para	
   um	
  povo	
   uno,	
   falava-­‐se	
   em	
  governo	
   da	
   nação	
   ou	
   soberania	
   nacional.	
   O	
  
termo	
  nacionalidade	
   indica	
  o	
  membro	
  de	
  uma	
  nação,	
  mas	
   sendo	
  esta	
  considerada	
  como	
  um	
  Estado.	
  Passados	
  os	
  
períodos	
  apaixonados	
  do	
  uso	
  desse	
  termo	
  das	
  revoluções	
  e	
  unificações,	
  já	
  existe	
  um	
  termo	
  preciso	
  para	
  nação	
  e	
  que	
  
nada	
   tem	
   relacionado	
   com	
   a	
   área	
   jurídica.	
   Não	
   perdeu	
   a	
   conotação	
   de	
   origem	
   comum	
   ou	
   comunidade	
   de	
  
nascimento,	
   que,	
   conforme	
   Reale,	
   faz-­‐se	
   quando	
   há	
   laços	
   histórico-­‐culturais	
   e	
   sobre	
   um	
   sistema	
   de	
   relações	
   de	
  
ordem	
   objetiva.	
   Para	
   diversos	
   outros	
   autores,	
  nação	
   é	
   para	
   uma	
   comunidade	
   de	
   base	
   histórico-­‐cultural	
   feito	
   de	
  
tradições	
   e	
   costumes,	
   geralmente	
   expresso	
   em	
   língua	
   comum,	
   com	
   aspirações	
   de	
   futuro	
   e	
   ideais	
   coletivos	
  
semelhantes.	
   Portanto,	
   nem	
   nação,	
   nem	
   nacionalidade,	
   conotam	
   uma	
   situação	
   jurídica,	
   mas	
   tão	
   somente	
   uma	
  
comunidade	
  histórico-­‐cultural.	
  
	
  
	
  	
  	
  É	
  recente	
  a	
  noção	
  jurídica	
  de	
  povo.	
  O	
  cidadão,	
  conforme	
  a	
  Grécia	
  Antiga,	
  é	
  o	
  membro	
  ativo	
  da	
  sociedade	
  política	
  e,	
  
junto	
  desses,	
  os	
  homens	
  livres	
  e	
  os	
  escravos	
  compunham	
  a	
  cidade-­‐Estado	
  grega.	
  Na	
  Roma	
  Antiga,	
  seu	
  povo	
  também	
  
era	
   limitado	
   a	
   certas	
   definições.	
   Não	
   há,	
   nesses	
   casos,	
   a	
   conotação	
  moderna	
   de	
   povo,	
  mas	
   já	
   é	
   uma	
   conotação	
  
jurídica.	
  	
  
	
  	
  	
  Na	
  Idade	
  Média	
  não	
  existia	
  uma	
  definição	
  de	
  povo	
  graças	
  às	
  dinâmicas	
  existentes	
  na	
  época,	
  mas	
  foi	
  um	
  espaço	
  útil	
  
para	
  separar	
  a	
   ideia	
  aristocrática	
  da	
   ideia	
  moderna	
  sobre	
  povo.	
  No	
  século	
  XIV,	
  por	
  Marsílio	
  de	
  Pádua,	
   surgiu	
  uma	
  
noção	
  unitária	
  e	
  ampla	
  de	
  povo,	
  sendo	
  este	
  a	
  fonte	
  da	
  lei.	
  Os	
  direitos	
  políticos	
  vão	
  aos	
  cidadãos,	
  mas	
  eles	
  não	
  são	
  
necessariamente	
  uma	
  camada	
  superior	
  da	
  população,	
  fazendo	
  parte,	
  também,	
  os	
  membros	
  das	
  corporações.	
  
	
  	
  	
  No	
  período	
  de	
  prevalência	
  absolutista	
  da	
  Idade	
  Moderna,	
  o	
  significado	
  de	
  cidadão	
  ampliou-­‐se,	
  como	
  também	
  a	
  de	
  
povo,	
  com	
  esta,	
  nas	
  revoluções	
  do	
  século	
  XVIII,	
  sendo	
  livre	
  de	
  qualquer	
  noção	
  de	
  classe	
  ou	
  discriminação,	
  como	
  se	
  
vê	
  pela	
  consagração	
  do	
  sufrágio	
  universal.	
  Na	
  prática	
  não	
  desapareceram,	
  mas	
  buscou-­‐se	
  a	
  ampliação	
  da	
  cidadania,	
  
com	
  Gerber	
  fixando	
  isso	
  no	
  século	
  XIX	
  (e	
  depois	
  Jellinek,	
  em	
  1900),	
  fixando	
  a	
  noção	
  jurídica	
  de	
  povo	
  e	
  disciplinando	
  
sua	
  participação	
  na	
  vida	
  do	
  Estado.	
  
	
  	
  	
  Jellinek	
  distingue	
  o	
  aspecto	
  subjetivo	
  do	
  objetivo	
  sobre	
  o	
  povo.	
  O	
  aspecto	
  subjetivo	
  de	
  povo	
  é	
  o	
  de	
  sua	
  participação	
  
no	
  poder	
  público	
  do	
  Estado,	
  pois