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JURISDIÇÃO e COMPETÊNCIA - aula dia 03.09.2014

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JURISDIÇÃO 
Aula dia 03.09.2014
INTRODUÇÃO
Para o Estado desempenhar sua função jurídica, necessita de se ater a duas ordens de atividades: a legislação e a jurisdição. 
A primeira ordem estabelece as normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que é lícito e o que é ilícito, atribuindo direitos e obrigações. 
Já a segunda ordem se caracteriza pela atuação do Estado, com o intuito de solucionar os conflitos de interesses, declarando qual é o preceito que se aplica ao caso concreto. Dada a forma com que o Estado brasileiro é organizado, especialmente em relação ao Poder Judiciário, é necessário definir quem tem competência legal para aplicar a norma vigente ao caso concreto.
DEFINIÇÃO DE JURISDIÇÃO
Juris + dictio = dizer o direito
Muitos autores, para definir o que é jurisdição, levam em conta apenas o significado literal da palavra, assim, para defini-la, apoiamo-nos em Coelho (2004, p. 180).
Pode-se considerar, num primeiro momento, que é a função do Estado, concretizada pelo Poder Judiciário, de dizer o direito. 
Boa parte da doutrina prefere conceituar a jurisdição da seguinte forma: função do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve com justiça.
JURISDIÇÃO ENQUANTO PODER
A jurisdição, enquanto manifestação do poder estatal, pode ser conceituada, segundo Grinover e outros (2001, p. 131), como “a capacidade de decidir imperativamente e impor decisões”. 
Assim, a jurisdição gera um poder de império, no qual as decisões, quando não acolhidas espontaneamente, são impostas (substituição), a fim de gerar eficácia atingindo sua finalidade.
JURISDIÇÃO ENQUANTO FUNÇÃO
A jurisdição é uma função estatal, visto que, salvo em casos especiais, não se permite a autotutela, como visto nas unidades anteriores. Ela representa o poder de julgar, que decorre do imperium pertencente ao Estado.
A jurisdição, como função do Estado, representa, de acordo com Coelho (2004, p. 181): 
a) poder: manifestação do imperium (autoridade, domínio) do Estado, por meio do qual impõe e determina o cumprimento coativo (através da força se necessário) de suas decisões; 
b) função: atribuição própria dos órgãos jurisdicionais de prestarem a tutela jurisdicional, para que ocorra a pacificação social; 
c) atividade: complexo de atos praticados no processo pelos juízes e auxiliares como representantes do Estado.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
Várias são as características da jurisdição. Dentre elas, Coelho (2004, p 181 e182) destaca as seguintes:
a) imparcialidade do juiz: o juiz, como agente ou representante do Estado, age de forma imparcial no processo;
b) inércia: como decorrência da adoção do princípio da ação ou da demanda, é preciso acionar (INVOCAR), movimentar o Poder Judiciário, pois seus órgãos são inertes, de acordo com os brocardos jurídicos que ilustramos a seguir: Nemo judex sine actore = não há juiz sem autor Ne procedat judex ex officio = o juiz não deve proceder de ofício.
c) observância do contraditório: no exercício da atividade jurisdicional do Estado, está presente a possibilidade de contrariar, contradizer, contestar o que foi alegado pela parte contrária. O contraditório aqui se perfaz por dois elementos: (i) informação e (i) reação;
d) coisa julgada e irrevogabilidade dos atos jurisdicionais pelos outros poderes: a coisa julgada é definida em nosso direito como sendo a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso;
e) atividade substitutiva: conforme Chiovenda citado por (Coelho, 2004, p. 182), a jurisdição é:
[...] a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade dos órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei [processo de conhecimento], já no torná-la, praticamente efetiva, [processo de execução].
f) atividade voltada para a solução de uma lide: a existência de uma lide ou litígio corresponde ao conflito de interesses caracterizado por uma pretensão resistida, é o fator que, para Carnelutti, identifica a jurisdição e serve para diferenciá-la das demais funções estatais;
g) caráter público: essa característica decorre do fato, de a jurisdição estar relacionada ao Estado e ser voltada para a satisfação dos interesses públicos; h) instrumental: a jurisdição é o instrumento para a realização do direito material. Sua existência liga-se à suposta existência de uma relação jurídica material, servindo para tornar efetivo os comandos normativos que regulam os relacionamentos disciplinados pelo direito;
 
i) inafastabilidade ou indeclinabilidade: O art. 5º, XXXV da CF dispõe que “a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito”. Assim, não há como afastar o controle jurisdicional e os juízes; por outro lado, não podem declinar de suas atribuições, já que atuam em nome do Estado e não para a satisfação de interesses pessoais;
j) presença do juiz natural: o juiz natural é aquele que se liga ao litígio antes mesmo de sua ocorrência. Sua competência para solucionar determinados tipos de conflitos é previamente estabelecida em lei;
 l) territorialidade: a atividade de dizer o direito adere a determinado território, consoante a ideias de soberania.
FINS DA JURISDIÇÃO
Fredie Didier Junior (2003, p. 39) apresenta-nos os fins da jurisdição.
Segundo o autor, a jurisdição encontra-se arrimada em três fins. São eles:
I - O escopo jurídico: atuação da vontade concreta da lei. A jurisdição tem por fim primeiro, portanto, fazer com que se atinjam, em cada caso concreto, os objetivos das normas de direito objetivo substancial. A aplicação ou a realização do Direito objetivo não é uma atividade privativa ou específica da jurisdição. Os particulares, quando cumprem a lei, realizam o direito objetivo; I - O escopo social: Promover o bem-comum, com a pacificação com justiça, pela eliminação dos conflitos além da consciência dos direitos próprios e respeito aos alheios. Como forma de expressão de poder do estado, deve-se canalizar fins do Estado. Perceba que, aqui, o fim é jurisdição em si mesma, não das partes, pois ninguém seria ingênuo de afirmar que alguém entra com uma ação condenatória contra outrem por interesses altruístas; I - O escopo político: O Estado busca a afirmação de seu poder, além da participação democrática (ação popular, ações coletivas, presença de leigos nos juizados etc.) e a preservação do valor liberdade, com a tutela das liberdades políticas por meio dos remédios constitucionais (tutela constitucional da liberdade).
Desta forma, a atuação da vontade concreta da lei, a promoção do bem-comum, e a busca da afirmação do poder estatal, são os pilares do instituto jurídico da jurisdição.
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
O instituto jurídico da jurisdição é fundado em diversos princípios, tais como:
a) Princípio da investidura: o Estado atua por meio de seus órgãos. E, assim sendo, somente os agentes políticos investidos do poder estatal de aplicar o direito ao caso concreto é que podem exercer a jurisdição. A investidura se dá, em regra, por aprovação em concursos públicos de títulos e conhecimento jurídico. Além desta via, a investidura poderá ocorrer, também, pela nomeação direta, por ato do chefe do Poder Executivo, nos casos previstos em lei, de pessoas com prévia experiência e notável saber jurídico, por exemplo, o ingresso na magistratura pelo quinto constitucional, ou nomeação dos ministros dos tribunais superiores.
b) Princípio da aderência ao território: o exercício da jurisdição, por força do princípio da territorialidade da lei processual, está atrelado a uma prévia delimitação territorial. Grinover e outros (2001, p. 138) leciona que, por existirem muitos juízes no mesmo país, distribuídos em comarcas, pode-se daí inferir que “cada juiz só exerce sua autoridade nos limites do território sujeito por lei à
sua jurisdição”;
c) Princípio da indelegabilidade: como a jurisdição é investida após preenchimento de rigorosos critérios técnicos, como nos concursos públicos, por exemplo, não podem os investidos na função delegar o ônus que a própria Constituição lhe atribuiu com exclusividade.
d) Princípio da inevitabilidade: a situação das partes (autor e réu) será a de sujeição quanto ao decidido pelo órgão jurisdicional, independentemente da vontade das partes ser contrária à decisão proferida pelo Estado-juiz. 
e) Princípio do juiz natural: apregoa que todos têm direito de ser julgados por um juízo independente e imparcial, previsto como órgão legalmente criado e instalado anteriormente ao surgimento da lide. 
Obs. É diametralmente oposto aos Tribunais de Exceção. Ex.: Tribunal de Nuremberg, criado após a Segunda Guerra, para julgamento dos delitos praticados pelos nazistas.
UNICIDADE DA JURISDIÇÃO
Quando falamos em espécies de jurisdição, temos em vista não uma pluralidade de funções jurisdicionais, mas a diversidade das matérias sobre as quais se exerce a jurisdição, ou outras particularidades, que impõem a repartição das atribuições jurisdicionais entre diferentes órgãos, o que, contudo, não informa a tese de sua unidade, vez que em todas essas situações a jurisdição é, sempre, a mesma função soberana do Estado de dizer ou executar coativamente o direito no caso concreto, em última instância, e de modo definitivo e irrevogável.
Reforçando a ideia de unidade da jurisdição, resultado do fato de ser esta uma atribuição fundamental do Estado exercida por ele em regime de exclusividade significa, “que só o Estado a exerce, através dos órgãos por ele instituídos, e que só esses órgãos podem prestar o serviço público da justiça, com aquelas características de criatividade, definitividade e irrevogabilidade”.
No nosso sistema jurídico, o princípio da unidade da jurisdição encontra-se expresso no art. 5º, incisos XXXV e XXXVII, e no art. 93 da Constituição Federal. No ordenamento infraconstitucional, este princípio está insculpido no art. 345 do Código Penal.
JURISDIÇÃO COMUM E ESPECIAL
A jurisdição comum, como leciona Rocha (2005, p. 92), “é aquela que tem caráter geral; portanto, diz respeito à generalidade dos interesses por tutelar”. 
Ensina, ainda, o autor que à jurisdição comum: cabe conhecer de todas as controvérsias, excluídas apenas aquelas que a lei reserva às jurisdições especiais. A jurisdição comum só está limitada no sentido negativo, pois conhecem todas as causas, menos as que são cometidas a outras jurisdições.
A jurisdição especial: ao contrário, é aquela que só conhece as matérias que a lei expressamente assim reconhece. De acordo com Rocha (2005, p.92), “só opera em relação a certos interesses, tendo em vista sua natureza, a qualidade de seus titulares, etc.”
A própria Constituição Federal dispõe sobre as justiças que exercem a jurisdição especial e as justiças que exercem a jurisdição comum. Entre as que exercem jurisdição especial estão: a Justiça Militar (arts. 122 a 124); a Justiça Eleitoral (arts. 118 a 121); a Justiça do Trabalho (arts. 1 a 117); e a Justiça Militar Estadual (art. 125, § 3.º). 
No âmbito da jurisdição comum, estão: a Justiça Federal (art. 106 a 110); e a Justiça Estadual Ordinária (art. 125 e 126).
JURISDIÇÃO PENAL E CIVIL
A jurisdição penal: cuida dos conflitos disciplinados pelo Direito Penal comum e especial. É, pois, preposta à atuação das normas penais, que se caracterizam por definirem os fatos puníveis (crimes e contravenções) e lhes cominarem penas, que são as mais graves das sanções.
A jurisdição civil: por seu turno, define-se, segundo Rocha (2005, p. 93), “por exclusão da jurisdição penal. Tudo quanto não cabe na jurisdição penal, por exclusão, é jurisdição civil. Tem, pois, por objeto, todas as matérias que a lei não confia à jurisdição penal”.
JURISDIÇÃO SUPERIOR E INFERIOR
Ada Grinover, menciona que é próprio da natureza humana o inconformismo, perante as decisões desfavoráveis do judiciário. Na maioria das vezes, a parte vencida quer nova oportunidade, para demonstrar suas razões e reivindicar novamente os seus direitos.
A classificação da jurisdição em superior e inferior se dá por conta da posição verticalizada dos órgãos judiciários na estrutura organizacional do Poder Judiciário.
Grinover e outros (2005, p. 155) resumem em breves linhas essa estrutura organizacional do Poder Judiciário. Ensinam eles que chama-se jurisdição inferior àquela exercida pelos juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início (competência originária): trata-se na Justiça Estadual, dos juízes de direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos órgãos a que cabem os recursos contra as decisões proferidas pelos juízes inferiores. O órgão máximo, na organização judiciária brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal.
ATENÇÃO:
Essa divisão não possui conotação hierárquica, mas apenas distribuição de trabalho, conforme a competência de cada um desses órgãos. E se dá por conta da observação do princípio do duplo grau de jurisdição.
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA
Didier (2003, p. 50) conceitua a jurisdição voluntária como “a atividade jurisdicional que integra a vontade das partes; sem a participação do Estado-juiz, tal interesse não poderia ser tutelado. Aqui, o órgão judicial atua como fiscalizador da produção de vontade”.
Assim a jurisdição voluntária se dá, no dizer do autor, como uma atividade integrativa e fiscalizadora, uma vez que há determinados atos jurídicos dos particulares que se revestem de tal importância, que os mesmos não poderiam se dar sem a participação do Estado-juiz.
Didier (2003, p. 50-52) fornece argumentos para os que entendem a jurisdição voluntária como administração pública de interesses privados e para os que entendem a jurisdição voluntária como atividade jurisdicional. A seguir, apresentamos os argumentos presentes na defesa da jurisdição voluntária como administração pública dos interesses privados.
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE INTERESSES PRIVADOS (NATUREZA)
a) insuficiência de critério orgânico: não é por se tratar de atividades desenvolvidas pelo juiz que poderiam ser consideradas jurisdicionais; 
b) não atuação do direito: não se visa à atuação do direito ao caso concreto, mas sim à constituição de situações jurídicas novas;
c) não haveria substitutividade: o magistrado se insere entre os participantes do negócio jurídico, não os substituindo; 
d) não existência de lide: não há lide e sim concurso de vontades; 
e) interessados: como não há conflito, não haveria partes e sim interessados; 
f) não haveria ação: pois esta consiste no poder de exercitar o judiciário; 
g) não há processo: não havendo ação, também não haveria processo e sim procedimento; 
h) não haveria produção de coisa julgada material: os atos em jurisdição voluntária só produzem coisa julgada formal. O juiz nada declara com eficácia para fazer coisa julgada material.
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA COMO ATIVIDADE JURISDICIONAL
a) redação legal: o art. 1º do CPC fala em jurisdição voluntária: Art. 1º do CPC: “A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”; 
b) outros escopos: a jurisdição possui outros escopos que não a simples atuação do direito (que não lhe é característica exclusiva); 
c) preventividade: a lide jamais poderia ser da essência da jurisdição, pois, se assim o fosse, apenas as hipóteses de tutelas repressivas teriam esta qualidade. A jurisdição voluntária possui certa natureza preventiva; 
d) processo: a jurisdição voluntária se exerce por meio das formas processuais (petição inicial; sentença etc.), além do que, não seria razoável defender-se a inexistência de relação jurídica entre os interessados
e o juiz; e) coisa julgada: não se trata de critério diferenciador do ato jurisdicional, pois há hipóteses de jurisdição contenciosa que não fazem coisa julgada material; 
f) conceito processual de parte: não há parte em sentido substancial, porquanto não haja conflito de interesse material. Mas parte é aquele que postula, daí ser inadmissível não ser parte nesta situação; 
g) substitutividade: o juiz intervém para assegurar a tutela de um interesse a que ele se mantém estranho, como terceiro imparcial mantendo sua independência.
A jurisdição contenciosa, na lição de Coelho (2004, p. 191), “é a exercida em função de um conflito, litígio, ou, nas palavras de FRANCESCO CARNELUTTI, de um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”. 
A doutrina costuma traçar um paralelo realçando as diferenças entre a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa, que transcrevemos a seguir:
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA Atividade jurisdicional Atividade administrativa Composição de litígios Administração pública do direito privado Bilateralidade da causa Unilateralidade da causa, questionam-se os direitos ou obrigações de outrem, há contraditório ou possibilidade de contraditório, há jurisdição, há ação, há processo, Legalidade estrita, há coisa julgada, há revelia, qualquer prova pode ser determinada de ofício Fonte
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA Não se questionam obrigações ou direitos de outrem, não envolve partes, envolve apenas interessados, não há contraditório, não há jurisdição, não há ação, não há processo, mas apenas uma medida administrativa, não há obrigatoriedade de legalidade estrita, não há coisa julgada, não há revelia em regra, não há provas determinadas de ofício.

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