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TEORIA GERAL DO PROCESSO (CIVIL)

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Meios de solução dos conflitos sociais.
 
            É da natureza do ser humano tanto a sociabilidade quanto a necessidade por mudanças, e justamente em razão dessas duas características é que surgem os conflitos.
 
            Tais conflitos são resolvidos, seja pelo uso da força, pelo ajuste entre os envolvidos ou então pela atuação do Poder Judiciário.
 
            O uso da força (autotutela) não é uma forma de pacificação social efetiva, muito pelo contrário, é uma fonte de violência que perturba a sociedade.
 
São características desse sistema:
· ausência de juiz distinto das partes;
· imposição da decisão por uma das partes à outra;
· Emprego de violência;
 
            Além do mais, a autotutela é considerada crime em nosso atual ordenamento jurídico:
Exercício arbitrário das próprias razões
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
 
            Entretanto, a lei admite em determinadas circunstâncias que o indivíduo se utilize de seus próprios recursos para alcançar suas pretensões, como por exemplo, nas hipóteses do artigo 23, incisos I e II do Código Penal:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
 
            No mesmo sentido os artigos 188, I e 1.210, § 1º do Código Civil:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
 
E
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
 
            Porém existem outras formas de solução de conflitos que não por meio da autotutela, já que a solução de conflitos entre os envolvidos de forma extrajudicial raramente acontece em razão da ausência de uma cultura pacificadora em nosso País.
 
            Dessa forma resta ao Poder Judiciário solucionar a grande maioria dos problemas surgidos em decorrência das relações entre os indivíduos. Contudo essa grande busca pela solução a ser imposta pelo Estado, além de sobrecarregar a estrutura do Poder Judiciário, também não garante a pacificação da sociedade, pois a parte vencida nem sempre se conforma com a sentença proferida.
 
Autocomposição.
 
            A autocomposição é atividade que encontra respaldo no direito, como meio de solução dos conflitos, mediante as atividades consistentes na pacificação.
 
            Em busca da pacificação uma das partes em conflito, ou ambas, abrem mão do interesse ou de parte dele:
 
•          desistência (renúncia à pretensão)
•          submissão (renúncia à resistência oferecida à pretensão)
•          transação (concessões recíprocas)
 
            Na autocomposição a solução do conflito é criada pelas partes. Os exemplos mais comuns são:
 
i. Negociação – é a comunicação voltada à persuasão. As partes têm total controle sobre o processo e seu resultado: i) escolhem o momento e o local da negociação; ii) definem como será feita a negociação; iii) continuam, suspendem, abandonam ou recomeçam as negociações de acordo com a conveniência e interesse das partes; iv) estabelecem os protocolos dos trabalhos na negociação; v) podem ou não chegar a um acordo e têm o total controle do resultado. E mais, a negociação e o acordo podem abranger valores ou questões diretamente relacionadas à disputa e variam, significativamente, quanto à matéria e à forma, podendo, inclusive, envolver um pedido de desculpas, trocas criativas, valores pecuniários, valores não pecuniários. Assim, todos os aspectos devem ser considerados relevantes e negociáveis.
 
i. Conciliação – é um processo consensual breve, envolvendo contextos conflituosos menos complexos, no qual as partes são auxiliadas por um terceiro, neutro à disputa, sem interesse na causa para ajuda-las, por meio de técnicas adequadas, a chegar a uma solução ou acordo. No Código de Processo Civil (CPC) o legislador reservou para a conciliação os casos em que não haja vínculo anterior entre as partes – artigo 165, § 2º:
Art. 165. [...] § 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
 
i. Mediação – é um processo autocompositivo segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por uma terceira parte neutra ao conflito e sem interesse na causa, para se chegar a uma composição por meio da comunicação. A mediação se apoia nos paradigmas das ciências contemporâneas e, não trabalha com verdades absolutas, tem o objetivo de aceitar a complexidade dos fenômenos interpessoais. A mediação é sugerida para os conflitos em que haja um vínculo anterior entre as partes, e sempre que possível seja preservado tal vínculo – artigo 165, § 3º do CPC:
Art. 165. [...] § 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
 
 
 
Heterocomposição.
 
            Heterocomposição é a solução do conflito por um terceiro, que se caracteriza por ser uma pessoa distinta da pessoa das partes. As formas mais comuns de heterocomposição são:
 
i. Arbitragem - é uma forma de solução de conflitos relativo a direitos patrimoniais disponíveis, em que as partes escolhem um árbitro, ou grupo de árbitros, para que este(s) resolva(m) o litígio por meio de uma sentença arbitral. A arbitragem é disciplinada no Brasil pela Lei nº 9.307/96 (Lei de Arbitragem). “É permitida a arbitragem, na forma da lei” nos termos do § 1º do artigo 3º Código de Processo Civil. A arbitragem pode ser instituída por meio de compromisso arbitral judicial ou extrajudicial, nos termos do artigo 9º da Lei de Arbitragem:
Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
§ 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda.
§ 2º O compromisso arbitral extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.
 
i. Jurisdição - Trata-se de uma das funções do Estado. É a realização do Direito por um terceiro imparcial que aplica a norma a uma situação concreta, resolvendo os litígios. O resultado da resolução do conflito pela via jurisdicional consuma-se por intermédio de uma sentença.
 
Meios extrajudiciais de composição de conflitos.
 
            As formas de autocomposição e de heterocomposição podem se dar de forma judicial ou extrajudicial, com exceção da via jurisdicional que obrigatoriamente ocorre por decisão de órgão atrelado ao Poder Judiciário.
 
            Portanto a negociação, a mediação, a conciliação e a arbitragem também são reconhecidas como meios extrajudiciais de composição de litígios.
 
            O Código de Processo Civil demonstra a preocupação do legislador com a necessidade de solucionar os conflitos.
 
            Com uma leitura da exposição de motivos do CPC verificamos que um dos objetivos da novel legislação é criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa. Assim, a ideia foi converter o processo em um instrumento incluído no contexto social que produzirá efeito o seu resultado. Foi dada ênfase à possibilidade das partesporem fim ao conflito por meio da mediação ou da conciliação. Entendeu-se que a satisfação efetiva das partes pode dar-se de modo mais intenso e efetivo se a solução for criada por elas e não imposta pelo juiz.
Direito Processual.
 
            A atividade legislativa estabelece normas que segundo a consciência dominante, deve reger as mais variadas relações, dizendo o que é lícito e o que é ilícito, atribuindo poderes, faculdades e obrigações.
 
            A Constituição Federal reservou, privativamente, para a União a competência para legislar sobre matéria processual. Eis o teor do artigo 22, I:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
 
            Contudo, a própria CF traz a possibilidade dos Estados e do Distrito Federal legislar concorrentemente com a União a respeito de procedimentos em matéria processual quando:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
[...]
XI - procedimentos em matéria processual;
[...]
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
 
 
            E ainda, a Carta Magna veda que o direito processual civil seja disciplinado por meio de medida provisória:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º
 
            De forma simplista podemos dizer que o legislador estabelece normas de direito material e de direito processual.
 
            As normas de direito material tratam de normas de conduta, com as quais o Estado proporciona o controle do comportamento social, ou seja, cria conjunto de normas que disciplinam as relações jurídicas referentes aos bens e utilidades da vida.
 
            As normas de direito processual, por sua vez, formam um sistema de princípios e normas legais que regulam o processo, disciplinando a atividade dos sujeitos da relação processual, dos órgãos jurisdicionais e de seus auxiliares.
 
            Também convém mencionar que o novo CPC sofreu grande influência do direito constitucional.
 
            Com uma leitura da exposição de motivos da nova lei processual civil verificamos a nítida constitucionalização do direito processual:
Um sistema processual civil que não proporcione à sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos, ameaçados ou violados, que têm cada um dos jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias constitucionais de um Estado Democrático de Direito.
 
Sendo ineficiente o sistema processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer de real efetividade. De fato, as normas de direito material se transformam em pura ilusão, sem a garantia de sua correlata realização, no mundo empírico, por meio do processo.
 
[...]
 
            Há mudanças necessárias, porque reclamadas pela comunidade jurídica, e correspondentes a queixas recorrentes dos jurisdicionados e dos operadores do Direito, ouvidas em todo país. Na elaboração deste Anteprojeto de Código de Processo Civil, essa foi uma das linhas principais de trabalho: resolver problemas. Deixar de ver o processo como teoria descomprometida de sua natureza fundamental de método de resolução de conflitos, por meio do qual se realizam valores constitucionais.
 
[...]
 
            A coerência substancial há de ser vista como objetivo fundamental, todavia, e mantida em termos absolutos, no que tange à Constituição Federal da República. Afinal, é na lei ordinária e em outras normas de escalão  inferior que se explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos princípios constitucionais.
 
[...]
 
            Com evidente redução da complexidade inerente ao processo de criação de um novo Código de Processo Civil, poder-se-ia dizer que os trabalhos da Comissão se orientaram precipuamente por cinco objetivos: 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal;
 
            Assim podemos identificar inúmeros dispositivos legais na Constituição Federal que estão relacionados com o Direito Processual, dos quais destacamos os que seguem:
Art. 5º
[...]
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
[...]
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
[...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
[...]
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
 
Conceito.
 
            O direito processual é ramo do direito público. Tem suas características ditadas pelo direito constitucional. As normas de direito processual fixam a estrutura dos órgãos jurisdicionais, que garantem a distribuição da justiça com a aplicação do direito objetivo.
 
            A atividade jurisdicional busca a realização prática daquelas normas em caso de conflitos de pessoas, declarando qual é o preceito pertinente ao caso concreto e desenvolvendo medidas para que esse preceito seja efetivado.
 
            Assim podemos definir o direito processual como sendo um conjunto de princípios e normas jurídicas que normatizam e organizam a atividade jurisdicional, bem como disciplinam a solução das lides por meio do exercício da jurisdição.
 
            O processo civil tem caráter instrumental, e concretiza a efetividade das leis materiais.
 
            O direito processual é assim, do ponto de vista de sua função puramente jurídica, um instrumento a serviço do direito material.
 
Autonomia.
 
            Muito embora o direito processual sirva de instrumento para que o Estado exercite o Poder Jurisdicional ele é autônomo em relação ao direito material.
 
Denominação.
 
            Ao longo da história diversos nomes foram atribuídos ao direito processual.
 
            No século XI falava-se em “práticas”, o que demonstra que o entendimento era limitado ao aspecto pragmático da solução do conflito, sem qualquer análise ou preocupação científica com o tema.
 
            Mais adiante se tratou do direito processual como sendo “direito judiciário”, focando apenas na figura do juiz, deixando de lado os demais sujeitos envolvidos no processo e também todos os demais temas relevantes.
 
            Finalmente, no século XIX, surge a nomenclatura direito processual, que hoje é a dominante.
 
            Assim hoje em dia podemos indicar que o direito processual é o ramo que estuda o conjunto de normas e princípios que regulam a função jurisdicional do Estado em todos os seus aspectos (procedimentos + sujeitos).
 
Divisão.
 
            As principais divisõesdo direito processual são Direito Processual Civil, Direito Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, e cada uma destas divisões atua como suporte para as demandas que tenham como causa subjacente matérias civil, penal e trabalhista.
 
Relações com outras disciplinas jurídicas.
 
            Muito embora o direito processual seja um ramo autônomo do Direito, devemos entender que ele não se apresenta de forma isolada.
 
            Íntima é a sua ligação com outros ramos do direito como, por exemplo:
 
Direito Constitucional - os princípios processuais mais importantes se encontram na Constituição Federal. Além disso, também encontramos na CF os direitos e garantias fundamentais, a organização e competência dos órgãos do Poder Judiciário, etc.
 
Direito Penal – levando em consideração vários fatos penais relevantes, acaba por nos remeter ao citado ramo do direito, para que sejam retirados os conceitos necessários à compreensão dos institutos positivados no âmbito do direito processual civil, como por exemplo, falso testemunho, falsa perícia, etc.
 
Direito Administrativo – relaciona-se com o processo civil em relação às normas relativas aos auxiliares da justiça.
 
Direito Empresarial – o direito empresarial trata títulos executivos extrajudiciais, que podem ser executados em caso de inadimplemento de acordo com o CPC.
 
Direito Civil – o direito material trata de vários temas de relevante importância como, por exemplo: capacidade das pessoas, provas, prescrição, decadência, etc.
 
 
Objetivo.
 
            O direito processual civil tem por finalidade regular a atividade Estatal no sentido de se buscar a composição das lides, a fim de aplicar o direito ao caso concreto.
 
            Essa visão implica numa postura publicística do processo, em que a jurisdição seria o instrumento utilizado para que o Estado alcance um dos fins que lhe são próprios, a pacificação social.
 
            Assim podemos dizer que a pacificação é o escopo maior da jurisdição e, por consequência, de todo o sistema processual.
 
            Com efeito, todo o sistema processual estaria voltado para a consecução deste objetivo, que é próprio da jurisdição, que corresponde ao Poder Estatal de resolver os conflitos sociais.
 
            A doutrina moderna aponta ainda outros objetivos do processo, como por exemplo: a educação para o exercício de direitos; a preservação da liberdade; o respeito pelo ordenamento jurídico; a atuação da vontade concreta do direito, etc.
Fontes
            São fontes do Direito os meios de produção ou expressão da norma jurídica.
            O artigo 4º da Lei de Introdução às normas do direito brasileiro (LINDB) tem a seguinte redação:
Art. 4º  Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
           Assim temos que são fontes do direito a lei, a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
         Especificamente em relação ao novo Código de Processo Civil, o legislador também incluiu como fonte do direito processual outros ramos do Direito:
Art. 15.  Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.
Classificando de forma hierárquica, a principal fonte do direito é a lei e as fontes secundárias são a analogia (não é fonte mas sim um método de integração), costumes e princípios gerais de direito. Há ainda quem considere a doutrina, a jurisprudência e os brocardos jurídicos como fontes secundárias do direito. Entre as fontes secundárias não existe hierarquia, mas sim cronologia.
A lei é o preceito jurídico escrito, emanado do legislador e dotado de caráter geral e obrigatório. Ela tem como características:
i) a generalidade – dirigida a todos os cidadãos de forma indistinta. Porém podem ser dirigidas a uma determinada categoria. Ex: funcionários públicos;
ii) imperatividade -  impõe uma conduta, uma ordem, um comando;
iii) autorizamento -  autoriza ao lesado a exigência de seu cumprimento ou reparação pelo mal experimentado;
iv) permanência – duram até que sejam revogadas. Exceto as leis temporárias; e
v) emanadas pela autoridade competente – Ato exclusivo do Poder Legislativo.
            Ainda podemos considerar que as normas estão hierarquicamente organizadas nos termos do artigo 59 da Constituição Federal:
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
            Quanto à especialidade podemos classificar as normas considerando a amplitude das mesmas:
i) normas gerais – são normas que discorrem sobre todo um ramo do Direito. Ex: Código Civil, CLT; e
ii) normas especiais – são aquelas que regulam algum ramo do Direito. Ex: Lei de locações.
            Como fonte secundária do Direito, a analogia trata da aplicação a um caso não regulado de modo direto por uma norma jurídica, de uma prescrição normativa prevista por uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e não do fato.
            A analogia pode ser dividida em:
i) legis – aplicação da norma jurídica semelhante ao caso concreto não contemplado por lei; e
ii) iuris – aplicação de qualquer forma existente.
            Outra fonte do direito são os costumes. Podemos definir costume como sendo uma norma aceita como obrigatória pela consciência do povo, sem que o Poder Público a tenha estabelecido. Para que seja reputada uma fonte do direito são necessários dois requisitos:
i) subjetivo – é a crença da obrigatoriedade, pois em caso de descumprimento incide sanção; e
ii) objetivo – é a constância na realização do ato.
            Convém apontar que o costume difere do hábito, pois nesse não existe o elemento subjetivo, ou seja, a crença na obrigatoriedade.
            E quanto aos princípios gerais de direito temos que os mesmos são fontes de caráter geral que regem um conjunto de fenômenos fundamentais admitidos como base da ciência do direito. São considerados como a espinha dorsal de todos os ramos do Direito no ordenamento jurídico, portanto são normas elementares que dão base estrutural ao Direito, definindo a conduta a ser tida em qualquer relação jurídica.
 
Interpretação.
            É a função de descobrir o sentido e o alcance da norma, buscando o significado dos conceitos jurídicos.
            O artigo 5º da LINDB foi redigido da seguinte forma:
“Art. 5º  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.”
            Existem inúmeras técnicas utilizadas para interpretar as normas, sendo as mais comuns:
i) Gramatical/literal – verificação do sentido dos vocábulos do texto;  
ii) Lógica – análise para tentar verificar a existência de antinomias;  
iii) Sistemática – interpretação que leva em consideração o sistema em que se insere a norma, relacionando-a com outras que tem o mesmo objetivo;
iv) Histórica – baseia-se no estudo do antecedente da norma; e
v) Sociológico/Teleológica – interpretação que busca atingir os fins sociais da norma.
 
Eficácia da Norma Processual.
            A norma jurídica tem a sua eficácia limitada tanto no espaço quanto no tempo, isto é, aplica-se apenas dentro de dado território e por certo período do tempo.
            A eficácia da norma processual no espaço é regulada pelo principio da territorialidade.
            A lei processual, em relação ao território, tem por finalidade disciplinar a atividade jurisdicional, que é uma das formas de manifestação do Poder soberano do Estado.
            Obviamente o juiz não deve ignorar a aplicação da lei estrangeira, porém deve atentar para qual caso ela poderá ser aplicada, nos termos do artigo 13 do Código de Processo Civil vigente:
Art. 13.  A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicasprevistas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.
            Assim, tal artigo reconhece a regra da validade espacial do ordenamento jurídico interno para a regulamentação da jurisdição civil brasileira e ressalta a possibilidade de influência das normas de Direito Internacional no exercício da jurisdição interna, quando ratificadas pelo Brasil.
            Exemplo claro de soberania da lei processual brasileira pode ser encontrado no § 1º do artigo 10 da LINDB:
Art.  10.  A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
            Tal dispositivo legal foi praticamente repetido no inciso II do artigo 23 do novo CPC:
Art. 23.  Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
[...]
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
            Por sua vez, a eficácia da norma processual no tempo importa em dizer que as normas processuais estão sujeitas à eficácia temporal das leis, constantes da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro:
Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
§ 2o        (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3o  Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4o  As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
                                   E
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
            Além daquilo que está disposto na LINDB, o CPC atual também dispõe que o novo regramento processual terá aplicação imediata, ainda que o feito tenha se iniciado sob a vigência da lei revogada.
            Assim, em relação às normas processuais, temos que as mesmas atingem o processo no estado em que ele se encontra, nos moldes do artigo 14 do CPC:
Art. 14.  A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
            Portanto os atos processuais validamente realizados à luz do sistema processual anterior não serão prejudicados, nem refeitos.
            O novo CPC trata da aplicação temporal da lei processual, em conformidade com a previsão do artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição Federal, e do art. 6º da LINDB sobre o respeito da lei nova ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada, pois conforme o princípio do isolamento dos atos processuais, a norma processual aplica-se imediatamente aos processos em curso, no ponto em que estiverem não retroagindo aos atos processuais realizados ou às situações jurídicas consolidadas na vigência da lei anterior.
Princípios Constitucionais do Processo.
            A palavra princípio, de forma genérica e simples, nos dá a ideia de começo, origem.
            Contudo de forma mais aprofundada e relacionada com o Direito, devemos entender que princípio é o mandamento nuclear de um sistema, que se irradia sobre as normas formando o espírito e também servindo de critério para sua compreende-lo.
            Os princípios podem ser considerados como a coluna vertebral do Direito, tudo parte deles e neles terminam, portanto eles não podem ser ignorados nem relegados a um segundo plano, ao contrário, se faz necessária uma grande importância aos princípios para uma melhor compreensão do direito processual.
            O novo Código de Processo Civil (CPC) traz grande relação com a Constituição Federal (CF).
            Na exposição de motivos a comissão responsável pela elaboração da nova legislação apontou que um dos cinco objetivos era “estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal”.
            Assim todos os atos processuais devem ser regidos, realizados e interpretados em estrita simetria com os princípios contemplados na Constituição Federal.
            Podemos concluir que o Código de Processo Civil traz inúmeros princípios constitucionais.
 
Tutela constitucional do processo.
            Convém lembrar que a Constituição Federal situa-se no topo da hierarquia de todas as fontes do Direito, contendo os fundamentos institucionais e políticos de todo ordenamento jurídico.
            Em seu texto são inseridas as garantias constitucionais do processo.
            Tal assertiva foi expressa no artigo 1º do Código de Processo Civil:
Art. 1o O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
 
Princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.
            O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional tem previsão tanto na Constituição Federal (art. 5º, XXXV) quanto no novo Código de Processo Civil (art. 3º):
Art. 5º. [...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
E
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
            O CPC praticamente repete o teor do art. 5º, XXXV, da CF.
            O legislador confirmou o compromisso firmado pelo ordenamento jurídico em ofertar ao indivíduo não apenas prestação jurisdicional de cunho repressivo, mas também a prevenção a qualquer ameaça ou lesão a direito.
 
Princípio do juiz natural.
 
Art. 5º [...]
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
            O princípio do juiz natural proíbe a existência dos Tribunais de Exceção, que são juízos criados para julgar fatos já ocorridos, com parcialidade, para prejudicar ou beneficiar alguém (coincide com os regimes ditatoriais).
            Assim, a cláusula do juiz natural representa a garantia de que alguém somente será condenado por órgão jurisdicional preexistente ao ato praticado por essa pessoa, vale dizer, por órgão judicante pré-constituído, proibindo a constituição de órgão ex post facto, sendo consequência do Estado de Direito.
            A Constituição ainda, em decorrência do juiz natural, para que o magistrado não seja influenciado, internamente ou externamente, contemplou a magistratura com as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.
            Não devemos confundir juízo natural e juízo especializado, pois o último indica a existência de órgãos jurisdicionais dotados de competência específica (em contraposição à competência comum), como é o caso da Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar, mas já previstos anteriormente para julgar matéria específica na lei.
            Também não se deve confundir juízo de exceção e prerrogativa de foro, que se constitui em razão da lei, levando em conta certo interesse público, define a competência do órgão jurisdicional segundo o foro. Ex: ações em face da União perante a Justiça Federal; ação de alimentos no foro do domicílio do alimentando; ação de separação ou anulação de casamento no foro da residência da mulher; julgamento do Presidente da República nos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal, etc...;
            Portanto, o princípio do juiz natural se traduz no seguinte conteúdo: a)exigência de determinabilidade, consistente na prévia individualização do juízes por meio de leis gerais; b) garantia de justiça material (independência e imparcialidade dos juízes); c) fixação de competência absoluta, vale dizer, a existência de critérios objetivos para a determinação de competência dos juízes; d) observância das determinações de procedimento referentes à divisão funcional interna, ficando vedado o mecanismo de substituição, designação e convocação de juízes pelo Poder Executivo, tarefa reservada exclusivamente ao Judiciário, em virtude do princípio do autogoverno da magistratura.
 
Princípio do devido processo legal.
 
Art. 5º [...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
            O devido processo legal (due process of law) é o direito ao processo, que não pode ser entendido somente como uma simples ordenação dos atos, através de qualquer procedimento; este há de realizar-se em contraditório, cercando-se de todas as garantias necessárias para que as partes possam sustentar suas razões, produzir provas, influir sobre a formação do convencimento do juiz, legitimando o exercício da função jurisdicional.
            Princípio fundamental do processo, sobre o qual todos os outros se sustentam (super princípio).  Configura gênero do qual todos os demais princípios constitucionais são espécies.
            Do Princípio do devido processo legal decorre, por exemplo: contraditório e ampla defesa (LV); igualdade processual (I); publicidade das decisões (LX); dever de motivar as decisões (art. 93,IX); inviolabilidade do domicílio (XI).
            Na área processual penal: presunção de não culpabilidade do acusado (LVIII); indenização por erro judiciário e prisão que supere os limites da condenação;  Prevista na Constituição Americana (Emenda nº 5), caracteriza-se pelo trinômio vida-liberdade-propriedade.
            No Brasil, a CF faz referência ao binômio liberdade-propriedade, porquanto não é permitida a pena de morte, salvo em caso de guerra (art. 5º., XLVII, “a”).
            Princípios Processuais derivados do due process na Constituição Federal de 1988. (OBS: Para a maioria da doutrina, a amplitude da cláusula do devido processo legal tornaria desnecessária qualquer outra dogmatização principiológica relativamente ao processo civil).
 
Princípio do contraditório e da ampla defesa.
            O princípio constitucional do contraditório e o da ampla defesa repousa na impossibilidade de restrição da participação ativa  e contraditória das partes e ainda na produção de ampla defesa.
            O referido princípio está previsto tanto na CF quanto no CPC:
Art. 5º . [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
 
            É a imposição legal de audiência bilateral, ou seja, a necessidade de o juiz, caso tenha ouvido uma das partes, também ouvir a outra, traduzindo-se na imposição legal de dar conhecimento da ação (ao réu) e de todos os atos processuais às partes, e de assegurar-lhes a possibilidade de reagir juridicamente aos atos que lhes forem desfavoráveis (ciência bilateral dos atos contrariáveis); Esse princípio não deve, todavia, ser interpretado como uma exigência de que os litigantes se manifestem, efetivamente, acerca dos atos e termos do processo, mas sim lhes seja concedida a oportunidade para essa manifestação.
            O contraditório se aplica a todo e qualquer tipo de processo, inclusive nos processos que permite a concessão de liminares. O fato de o juiz poder conceder medida liminar sem audiência do réu, não configura uma transgressão a este princípio, pois tal situação se dá justamente é para evitar que o réu, sendo citado, torne a medida ineficaz, ou na própria demora do provimento jurisdicional, acabe frustrando os objetivos desta, aliado ao fato de que o contraditório será estabelecido posteriormente (contraditório diferido).
 
Princípio da inadmissibilidade de provas ilícitas.
            A utilização de prova ilícita é expressamente vedada por dispositivos contidos tanto na Constituição Federal quanto no Código de Processo Civil que seguem:
Art. 5º [...] LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
Art. 369.  As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
 
            O tema é controvertido. No Brasil os Tribunais costumeiramente adotam a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (fruits of the poisonous tree). Tal teoria sustenta que a prova obtida mediante violação de norma jurídica contaminará todas as outras provas obtidas a partir daquela. Essas provas são consideradas ilícitas por derivação.
            Embora o texto constitucional proíba a utilização no processo de provas obtidas por meio ilícitos, a doutrina se manifesta de forma bastante controvertida, sendo que vem ganhando força uma corrente intermediária, que se denomina modernamente de princípio da proporcionalidade.
            Esta corrente defende que a ilicitude do meio de obtenção de prova seria afastada quando, por exemplo, houver justificativa para a ofensa a outro direito por aquele que colhe a prova ilícita. É o caso, por exemplo, do acusado que, para provar sua inocência, grava clandestinamente conversa telefônica entre outras duas pessoas.
 
Princípio da presunção de inocência.
            Em conjunto com as demais garantias constitucionais, o princípio da presunção da inocência, relacionado com o processo penal, garante ao acusado pela prática de uma infração penal um julgamento justo.
            A CF apresenta o princípio da presunção de inocência no artigo 5º, LVII:
Art. 5º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
 
            O princípio da presunção de inocência é um dos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, e visa tutelar a liberdade pessoal, pois cabe ao Estado provar a culpabilidade do indivíduo, que é constitucionalmente presumido inocente.
            O instituto da inocência presumida é, portanto, garantia fundamental e instituto essencial ao exercício da jurisdição imparcial.
 
Princípio do duplo grau de jurisdição.
            A parte que não obteve a satisfação de sua pretensão pode provocar um novo exame de seu pedido por um órgão jurisdicional diverso.
            Portanto esse princípio prevê a possibilidade de revisão, por via de recurso, das decisões proferidas, garantindo, assim, um novo julgamento, por parte dos órgãos da jurisdição superior.
            A origem desse princípio encontra-se na história do homem que insatisfeito com o resultado obtido sempre busca a decisão.
            Na CF o princípio do duplo grau de jurisdição está implícito nos artigos 5º, 102, 105 e 108.
            Com a leitura de tais dispositivos legais constata-se a previsão constitucional de se recorrer das decisões proferidas por órgãos inferiores do Poder Judiciário.
 
Princípio da publicidade.
 
Art. 11.  Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único.  Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
 
            A publicidade do processo constitui verdadeiro instrumento de controle da atividade dos órgãos jurisdicionais.
            A garantia em tela justifica-sena exigência política de evitar a desconfiança popular na administração da justiça.
            Esclareça-se que publicidade é aquela que permite o acesso, na realização dos atos processuais, não só das partes, mas ainda do público em geral.
            Contudo necessário destacar a existência de exceção que vem prevista no parágrafo único do art. 11 em relação aos casos que demandam o segredo de justiça. Coerente com tal enunciado, o artigo 189 dispõe que:
Art. 189.  Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
 
Princípio da fundamentação das decisões judiciais.
            Fundamentar a decisão significa a exigência de que o juiz indique as razões de fato e de direito, com base nas quais formou sua convicção jurídica acerca dos fatos da causa.
            Possui ainda este princípio estreita ligação com os postulados do regime democrático do Estado de Direito, que repugna a possibilidade de decisões judiciais arbitrárias, trazendo consequentemente a exigência da imparcialidade do juiz, a publicidade das decisões judiciais, passando pelo princípio constitucional da independência do magistrado, que pode decidir de acordo com a sua livre convicção, desde que motive as razões de seu convencimento.
            Podemos encontrar na CF e no CPC a previsão expressa do princípio da fundamentação das decisões judiciais:
Art. 93. [...] IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
E
Art. 11.  Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único.  Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público.
 
            O CPC não admite pronunciamento judicial despido fundamentação. E, assim, preceitua o art. 489, inciso II, que a sentença deve conter “os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito” como pressuposto de validade dos atos decisórios, pois a falta de exteriorização da razão do pronunciamento judicial acarreta a sua invalidade.
Princípios informativos do procedimento.
            Conforme apontado anteriormente, de forma simples a palavra princípio se refere a início, começo, origem.
            Para o Direito, princípio é o mandamento central de um sistema, que se espalha sobre as normas formando a alma do ordenamento e também serve como  critério de interpretação.
            No módulo anterior estudamos os princípios constitucionais do direito processual.
            Agora estudaremos os princípios informativos do direito processual, ou seja, os princípios eminentemente técnicos, estruturais do direito processual.
 
Princípio da oralidade.
            O princípio da oralidade aponta que na prática dos atos processuais deve prevalecer a comunicação oral, muito embora estes atos venham a ser documentados posteriormente.
            A oralidade deve objetivar a praticidade e efetividade do processo. Assim a oralidade deve prevalecer a fim de proporcionar maior celeridade e efetividade à prestação jurisdicional.
            Contudo, não se deve ter o entendimento equivocado de que esse princípio exige que os atos processuais sejam praticados oralmente. Ao contrário, esta forma é uma faculdade apresentada às partes no processo, quando lhes for conveniente o uso da palavra não escrita.
            Deparamo-nos com inúmeros dispositivos legais que demonstram a presença do princípio da oralidade no Código de Processo Civil, como por exemplo:
Art. 166.  A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.
Art. 205.  Os despachos, as decisões, as sentenças e os acórdãos serão redigidos, datados e assinados pelos juízes.
§ 1o Quando os pronunciamentos previstos no caput forem proferidos oralmente, o servidor os documentará, submetendo-os aos juízes para revisão e assinatura.
 
Princípio da economia.
            O princípio da economia processual prega o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego de atos processuais.
            Se o processo é um instrumento para a aplicação do direito material, não pode exigir um gasto exagerado com relação aos interesses em disputa.
            Típica aplicação desse princípio encontra-se em institutos como a reunião de processos em casos de conexão, litisconsórcio, etc.
            Eis alguns exemplos encontrados no CPC:
Art. 113.  Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
E
Art. 286.  Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza:
I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;
            Assim, extrai-se que o objetivo do princípio é obter o máximo de resultado com o mínimo emprego possível de atividades processuais.
 
Princípio da eventualidade ou da preclusão.
            De acordo com o princípio da eventualidade (ou da preclusão) os atos processuais devem ser praticados na época oportuna, sob pena de não poderem pratica-lo posteriormente, buscando, assim, a celeridade e eficiência da tutela jurisdicional.
            Assim devem as partes alegar, no momento próprio, todas as pretensões ou decisões de mérito, ou de defesa, ou de rito, não o podendo fazê-lo em outra oportunidade, no mesmo processo.
            Portanto em atenção ao princípio da eventualidade,  determina a concentração, na contestação, de todas as defesas úteis ao réu, tanto as processuais quanto as substanciais, estabelecendo prazo geral de 15 (quinze) dias úteis para tanto.
            Eis o disposto pelo artigo 336 do CPC:
Art. 336.  Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir.
 
Princípio da identidade física do juiz.
            Polêmica alteração trazida pelo novo CPC foi a supressão do princípio da identidade física do juiz.      
            De acordo com o artigo 132 do antigo Código de Processo Civil:
Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. o juiz que colhe as provas deve proferir a sentença.
            Referido princípio mostrava-se de suma importância para o deslinde justo da demanda, o juiz que participou da instrução processual possui meios mais adequados para julgar o caso.
            Contudo, referido princípio, contudo, foi excluído do novo Código de Processo Civil. Contudo a atual CPC determina que encerrado o debate ou oferecidas às razões finais, o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta) dias.
 
Princípio da cooperação.
            O princípio da cooperação está previsto no artigo 6º do CPC:
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devemcooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
            Tal princípio foi inspirado no dever de cooperação recíproca em prol da efetividade do processo. O legislador buscou desarmar todos os sujeitos do processo, fazendo com que cada um haja pautado pela boa-fé, para que a colaboração esteja a serviço da celeridade do processo no caminho da apreciação do mérito.
            Para o Poder Judiciário a cooperação se dá pelos deveres:
· de prevenção (por exemplo: apontar as falhas nas postulações das partes, para que possam ser corrigidas a tempo);
· de esclarecimento (por exemplo: determinar às partes esclareçam as alegações obscuras);
· de consulta (v.g. cabe ao juiz colher previamente a manifestação das partes sobre questões de fato ou de direito que influenciarão o julgamento); e
· de auxílio às partes (facilitar às partes a superação de obstáculos que impeçam o exercício de direitos).
            Já o dever de cooperação entre as partes repousa na conduta pautada pela  probidade e boa-fé, de por exemplo, apresentarem os esclarecimentos determinados pelo juiz e de cumprirem as intimações para comparecimento em juízo.
 
Princípio dispositivo.
            Denomina-se poder dispositivo a faculdade que cada indivíduo tem de exercer ou não seus direitos. Em direito processual tal poder é caracterizado pela disponibilidade de requerer ou não sua pretensão em juízo.
            O princípio dispositivo está expresso no artigo 2º do CPC:
Art. 2o O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.
            O processo cível tem início a partir de iniciativa da parte, assim se faz necessário ao surgimento de uma relação processual que uma das partes abandone seu estado de inércia, requerendo uma providência ao Poder Judiciário.
            Instaurada a relação processual cabe ao Estado-Juiz incumbe impulsiona-la até a final prestação jurisdicional.
 
Princípio inquisitivo.
            De acordo com o princípio inquisitivo ao juiz é conferido um papel maior do que o de mero expectador do processo, o qual passa a ser instrumento não mais somente construído pelas partes, mas também por aquelas que o juiz entender importantes para a solução da lide.
Jurisdição. Conceito.
Jurisdição é:
1) É o poder, função ou atividade de aplicar o direito a um fato concreto, pelos órgãos públicos destinados a tal, obtendo a justa composição da lide (Vicente Greco Filho).
· Poder: manifestação do poder estatal, porque atua cogentemente (manifestação de força) como manifestação de potestade do estado e o faz definitivamente em face das partes em conflito;
· Função: cumpre a finalidade de fazer valer a ordem jurídica posta em dúvida em virtude de uma pretensão resistida;
· Atividade: consiste numa série de atos e manifestações externas de declaração de direitos e de concretização de obrigações consagradas num título.
 
2) É o poder que toca ao Estado, entre as suas atividades soberanas, de formular e fazer atuar praticamente a regra jurídica concreta que, por força do direito vigente, disciplina determinada situação jurídica (Enrico Túllio Liebman).
3) É a função do Estado de realizar e declarar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma situação jurídica controvertida. (Humberto Theodoro Jr.)
· Vimos que a função jurisdicional só atua em casos concretos de conflito de interesses (lide ou litígio) e sempre na dependência da invocação dos interessados, contrariamente, por ex., da função legislativa, que é exercida em abstrato.
· Não são todos os conflitos de interesses que se compõe por meio de jurisdição, mas apenas aqueles que configuram a lide ou litígio.
· Lide ou Litígio é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida. Sem lide não há interesse de se instaurar uma relação jurídica processual.
· A Jurisdição é função precípua do Estado, através do Poder Judiciário. Foi Montesquieu que propôs uma divisão correspondente à atividade do Estado. Não há divisão de poderes, pois este é uno; O que existe é divisão dos órgãos para exercer as distintas funções do Estado: Poder Executivo; Legislativo e Judiciário.
· distinção entre as funções: a legislativa é a elaboração da lei; a jurisdicional é a aplicação da lei, sendo que em alguns casos o juiz pode “criar’o direito, ao utilizar a analogia e a equidade; da executiva, o Estado administra seus próprios interesses, sendo que a jurisdição é substitutiva, ou seja, atua em substituição a atividade das partes para a tutela de direitos subjetivos lesados.
 
Objetivos do Estado ao exercer a jurisdição.
            O Estado tem por objetivo exercer a jurisdição das seguintes formas: pela decisão, pela execução e pelas medidas preventivas ou cautelares.
a. Tutela Jurisdicional de Conhecimento ou de declaração: é aquele que o juiz conhece a lide colocada e a soluciona através da aplicação da lei ao caso concreto, proferindo uma decisão. Instaura um processo, chamado de processo de conhecimento.
b. Tutela Jurisdicional de Execução: dá força ao comando da sentença caso o vencido não satisfaça sua obrigação espontaneamente. Instaura o processo de execução.
c. Tutela Jurisdicional Cautelar ou Preventiva: é uma tutela emergencial, devido a grande demora das demais tutelas. Instaura o processo cautelar.
 
Características da jurisdição.
            A jurisdição apresenta as seguintes características:
a. Substitutiva ou secundária: pois o Estado substitui a atividade das partes (atividade primária), que estão em conflito na lide, e são proibidas de fazer “justiça pelas próprias mãos”. No penal, esta característica é absoluta, pois nunca o direito de punir pode ser exercido independente do processo e o acusado submeter-se voluntariamente a aplicação da pena, o que já não ocorre no processo civil, que é possível a autocomposição.
b. Instrumental: torna efetiva e concreta a atuação prática das regras de direito, abstratas e genéricas, previstas no ordenamento jurídico.
c. Definitiva e imutável: impossibilidade da mudança da sentença proferida durante o processo, não admitindo revisão por outro poder, diferentemente das decisões administrativas (art. 5o. XXXVI CF/88).
d. Natureza Declaratória: O Estado, ao exercer a jurisdição, não cria direitos subjetivos, mas tão somente reconhece os direitos preexistentes.
e. Escopo jurídico: é a atuação (cumprimento, realização) das normas de direito substancial (direito objetivo) e a pacificação social.
f. Lide: a função da jurisdição é a justa composição da lide, buscando o mesmo resultado quanto à pretensão deduzida que poderia ter sido satisfeita pelo obrigado.
 
Princípios fundamentais da jurisdição.
            Muito embora o tema já tenha sido abordado em outros módulos, alguns dos princípios do direito processual estão intimamente ligados com a jurisdição.
i. Inércia: a atividade jurisdicional desenvolve-se somente quando provocada. (Art. 2 do CPC - Garantia de Imparcialidade do juiz - Ne procedat iudex ex-officio.) Como os direitos subjetivos, em princípio, são disponíveis, podendo ser ou não exercidos, também o acesso aos órgãos jurisdicionais fica entregue ao poder dispositivo do interessado. Contudo existem exceções à regra da inércia: execução trabalhista; decretação de falência no curso da concordata; abertura de inventário etc.
ii. Inevitabilidade: não se pode opor qualquer instituto para impedir que a jurisdição alcance os seus objetivos e produza os seus efeitos; independe da vontade das partes aceitarem os eventuais efeitos do processo.
iii. Indelegabilidade: as atribuições do Judiciário só podem ser exercidas pelos seus respectivos órgãos. O juiz não pode delegar sua atividade a outro, externa ou internamente.
iv. Juiz Natural: só pode atuar como juiz somente quem se enquadre em órgão judiciário previsto de modo expresso em norma jurídica constitucional. Proíbe os tribunais de exceção - art.5, XXXVII CF
v. Duplo Grau de Jurisdição: a parte que não obteve a satisfação de sua pretensão em primeiro grau pode provocarum novo exame de seu processo por um órgão de segundo grau, diverso daquele que julgou anteriormente. Juízes mais experientes, órgãos colegiados, menor probabilidade de erro, etc.
vi. Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem se ache legitimamente investido do poder jurisdicional.
vii. Aderência ao Território: os Magistrados só possuem poder dentro dos limites territoriais, só podendo praticar atos processuais dentro de um determinado limite territorial, e quando necessária a prática de atos fora dos limites territoriais os atos são praticados por cartas (precatórias e rogatórias).
viii. Inafastabilidade: também chamado de princípio do controle jurisdicional, visa garantir a todos o acesso ao Poder Jurisdicional, nem mesmo o juiz pode deixar de decidir alegando lacuna ou obscuridade da lei. (art. 5º. XXXV – art. 3º CPC).
 
Espécies de jurisdição. Limites da jurisdição.
            Embora a atividade jurisdicional seja una, tendo em vista o princípio da divisão do trabalho e a diferença de matéria jurídica a ser manipulada pelo juiz, didaticamente se fala em espécies de jurisdição.
 
· Quanto à matéria: (conforme a natureza da pretensão)
a. Penal: versa sobre as lides de natureza penal, que são reguladas pelo direito penal, sendo o instrumento de composição o processo penal;
b. Especial: versa sobre as lides de natureza especial, ou seja, trabalhista, militar penal e eleitoral;
c. Civil: por exclusão, que versa sobre lides de natureza não penal, excluídas as lides especiais, cujo instrumento é o processo civil.
A Jurisdição Penal e Civil formam a chamada Jurisdição Comum, ao lado da Jurisdição Especial.
 
· Quanto ao grau em que é exercida: (Princípio do duplo grau de jurisdição)
a. Jurisdição Inferior: exercida pelo primeiro órgão a conhecer da causa submetida ao Estado-juiz. Fala-se em competência originária; (1ª Instância);
b. Jurisdição Superior: exercida pelo órgão que conhece da causa em grau de recurso. Fala-se em competência recursal. (2ª Instância); (competência originária dos Tribunais);
 
· Jurisdição Contenciosa e Voluntária ou Graciosa
            Com relação a Jurisdição, vimos que:
a. seu objetivo é a composição dos conflitos de interesses qualificados por uma pretensão resistida, ou seja, existe a ideia de contenda, contestação, litígio, oposição;
b. pressupõe a existência de partes, o sujeito ativo, titular da pretensão subordinante ou protegida pelo direito e o sujeito passivo ou titular da pretensão subordinada, denominados autor e réu;
c. possibilidade do contraditório, ou seja, ao réu é dada a oportunidade de defender-se, contrariar a sujeição pretendida pelo autor;
d. decisões fazem coisa julgada, ou seja, as decisões proferidas em decorrência do conflito de interesses torna-se imutável ou irrevogável, quando transitada em julgado, tendo assim colocado fim ao exercício da função jurisdicional;
 
Dessas características podemos definir a jurisdição voluntária ou graciosa:
1) É a atividade aditiva do Poder Judiciário destinada a tutela direitos individuais em determinados negócios ou atos jurídicos, segundo previsão taxativa em lei;
2) Administração de interesses privados pelos órgãos jurisdicionais;
 
            A Jurisdição Voluntária versa sobre interesses que não estão em conflito.
            O Estado intervém na administração de vários interesses privados, conquanto isso venha a limitar a atuação de seus titulares. Ex: tutela do nascimento e do óbito; reconhecimento de filhos; formação de pessoas jurídicas através de seus atos constitutivos; formação de fundações com supervisão do Ministério Público, etc..
            Mas há certa categoria de interesses privados cuja tutela foi deixada a cargo dos órgãos jurisdicionais, tendo em vista as suas condições peculiares: a) nomeação de tutores ou curadores; b) autorização para venda de bens de menores; c) suprimento do consentimento para casamento; d) separação consensual; e) abertura de testamento... Tais interesses tutelados pelos órgãos judiciários não estão em conflitos, mas somente para a proteção dos seus respectivos titulares.
            Na jurisdição voluntária: não existem interesses em conflito, não se fala em partes, mas em interessados; não há contraditório, pois não há o que contestar; chamada de Jurisdição Graciosa, pois a jurisdição é uma espécie de graça, um favor, um benefício do Estado ao Interessado;  chamada também de jurisdição administrativa, pois é administração pública de interesses privados pelos órgãos jurisdicionais, devendo entretanto ser evitada tal denominação para não confundir com o contencioso administrativo.
 
Ação.
            O Direito objetivo tutela certas categorias de interesses. Ao conflito de interesses regulado pelo direito, temos a relação jurídica:
i)  sujeito ativo ou titular do interesse protegido - direito subjetivo (concorrência da sua vontade); e
ii) sujeito passivo ou do interesse subordinante - obrigação.
            Os conflitos de interesse são regulados pelo direito, devendo os sujeitos se submeter à ordem jurídica. Entretanto, pode ocorrer a resistência de um dos sujeitos em ter o seu interesse subordinado ao outro. Configura-se a lide, que é o conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida, pretensão essa de subordinação de um interesse ao outro.
           Como a lide perturba a paz social, temos que o Estado, ao vedar a autodefesa, reservou para si a função de dirimir a lide e aplicar o direito, ou seja, a função jurisdicional.
            Mas a jurisdição só pode ser exercida quando provocada, ou seja, é necessário que o sujeito exponha a sua pretensão a ser tutelada pelo juiz (art. 2° do CPC). Ao deduzir a sua pretensão, invoca a jurisdição, que aplicará o direito ao caso concreto.
            Esse direito que o indivíduo tem de invocar a tutela jurisdicional do Estado corresponde ao direito de ação.
 
Generalidades.
            O CPC atual abandona a teoria eclética adotada no CPC anterior e assim afasta as regulamentações do código anterior em que havia alguma referência à categoria “condições da ação” e adota o estudo do exame do interesse de agir e da legitimidade vinculado ao exame dos pressupostos processuais e a da possibilidade jurídica do pedido junto ao mérito.
            Porém não podemos dizer que o exame da legitimidade da parte, do interesse de agir e da possibilidade jurídica do pedido deixe de existir no novo código de processo civil, mas apenas que as condições da ação serão eliminadas como um conceito autônomo.
            Na novel legislação o exame funde-se ao binômio admissibilidade/mérito, portanto as questões que compõem o conceito de condições da ação passam, assim, a ser analisadas enquanto questões de mérito, no caso da possibilidade jurídica, ou como pressupostos processuais, na hipótese da legitimidade e interesse.
 
Conceito de ação.
            Esse pedido de tutela jurisdicional, essa provocação da jurisdição é chamada de direito de ação. A doutrina conceitua ação como:
i. o direito subjetivo que consiste no poder de produzir o evento a que está condicionado o efetivo exercício da função jurisdicional (Enrico Tulio Liebman);
ii. o direito de invocar a função jurisdicional (Moacyr Amaral dos Santos); ou ainda
iii. o direito ao exercício da atividade jurisdicional (Ada Pellegrini)
 
Natureza Jurídica.
            A doutrina costuma classificar as teorias que tratam da ação em teorias monistas (unitária) e dualista, tomando por critério pertencer tal conceito tão somente ao plano do direito material ou tão somente ao direito processual (teorias unitárias), confrontando-se a formulação que a identifica em ambos os planos jurídicos (teoria dualista).
 
· Teoria Civilista - Com base no direito romano a ação era o direito de pedir em juízo o que se é devido (nihil aliud est actio quan ius, quo sibi debeatur, in indicio persequendi), ou seja, a ação, como processo, era simples capítulo do direito privado, do direito civil. Disso era possível extrair três consequências inevitáveis: não há ação sem direito; não hádireito sem ação; e a ação segue a natureza do direito.
 
Polêmica entre Windscheid e Müther - Na Alemanha surgiu uma polêmica que se tornou famosa, entre Windscheid e Müther sobre incorporação da actio romana no direito contemporâneo. Para Windscheid, a actio era o próprio direito material e não um novo direito, surgido da violação daquele. Müther, confrotando as idéias de Windscheid, diferenciou o direito lesado do direito de ação. Segundo ele, a ação seria o direito à tutela do Estado, competindo tal direito a quem teve seu direito ofendido. Desta forma, distinguiu-se o direito subjetivo (direito a ser tutelado), do direito de ação (direito subjetivo público).
 
As principais críticas à teoria civilista dizem respeito à ação declaratória. Verifica-se que muitas são julgadas improcedentes, pois a sentença julgada infundada à pretensão do autor, isto é, houve exercício da ação até a improcedência, portanto existiu ação sem direito material.
 
· Teoria do Direito Concreto à Tutela - Adolpho Wach defendeu que ação é um direito autônomo, pois não tem por base um direito subjetivo ameaçado ou violado, assim também é possível a existência da ação para se obtiver uma simples declaração da existência ou inexistência de uma relação jurídica. A ação é dirigida contra o Estado (direito de exigir proteção jurídica) e também contra o adversário (do qual se  exige a sujeição). Porém  o direito de ação só existiria quando a sentença fosse favorável. A ação seria um direito público e concreto, ou seja, um direito existente em casos concretos em que existisse direito subjetivo a ser tutela.
 
Tal teoria não pode ser aceita, pois com a improcedência da demanda nada poderia se dizer a respeito dos atos processuais praticados até a sentença. E ainda não se pode conceber que toda ação seja dirigida contra o Estado propriamente dito.
 
· Teoria da Ação como direito potestativo – Para Chiovenda a ação é um direito autônomo, mas a ação não se dirige contra o Estado, mas sim contra o adversário (direito de provocar a atividade jurisdicional contra o adversário). Dessa forma o direito de ação seria um direito potestativo (direito de poder) tendente à produção de um efeito jurídico a favor de um sujeito e com ônus para outro, o qual nada pode fazer para evitar a atuação da lei. Tal teoria falha, pois os direitos potestativos caracterizam-se mais por serem meras faculdades quanto ao exercício do direito e não uma obrigação.
 
· Teoria da Ação no sentido abstrato – De acordo com Degenkolb (Alemanha) e com Plosz (Hungria), a chamada teoria da ação no sentido abstrato em confronto com as teorias que concebem a ação como direito de obter uma providência jurisdicional favorável no sentido concreto. Para eles o direito de ação independe da existência efetiva do direito invocado, pois basta apenas uma referência a um interesse a ser tutelado em abstrato pelo direito, para que o Estado exerça sua atividade jurisdicional, proferindo uma sentença, mesmo que contrária.
 
· Teoria Eclética da Ação - Tal teoria aponta que o direito de ação é autônomo e abstrato, e que ele só existirá se no processo estiverem presentes condições que o legitimem, isto é, que exista uma situação de fato, que só possa ser resolvida elas vias jurisdicionais. As condições da ação para a teoria eclética são: possibilidade jurídica do pedido, o legítimo interesse, e a legitimação para agir.
 
            A doutrina dominante até o CPC de 1973 era ligada a teoria eclética da ação, contudo o atual código se afastou dela ao excluir a possibilidade jurídica das hipóteses de condições da ação, e ao tratar o exame do interesse e da legitimidade como pressupostos para apreciação do mérito.
 
Condições da Ação. Conceito.
            Para Frederico Marques condições da ação são os “requisitos necessários, conexos à pretensão formulada pelo autor, para que o Estado-Juiz dê por legítimo o exercício do direito de ação, com a justa composição da lide (se atendidos os pressupostos processuais)”.
            “São requisitos que a ação deve preencher para que se profira uma decisão de mérito.” nos dizeres de Moacyr Amaral dos Santos.
            Para Antonio Carlos Marcato as condições da ação “são os requisitos de existência do direito de ação”.
            Contudo convém relembrar que no novo CPC as condições da ação deixam de ser um conceito autônomo e passam a ser analisadas como pressuposto processual.
 
Carência da ação.
            A Ação é o direito de se invocar a tutela jurisdicional.
            A Jurisdição, por sua vez, tem a função de aplicar o direito ao caso concreto.
            Entretanto, para que a jurisdição seja exercida, necessária a provocação do Estado-Juiz, com a consequente instauração do processo, formação da relação jurídica processual e regular processamento com a final prolação de uma sentença de mérito.
            Mas para que esse exercício ocorra são necessários certos requisitos ou condições, que dão existência ao direito de ação, para que seja proferida uma sentença de mérito, ou seja, antes de analisar o próprio pedido do autor, necessário se faz verificar se esse pedido pode ser conhecido pelo Estado.
O anterior CPC indicava como condições da ação: a possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das partes (legitimatio ad causam).
Contudo atual CPC inovou e excluiu a possibilidade jurídica do pedido como uma das condições da ação, e manteve apenas o interesse a legitimidade das partes como condições da ação/pressuposto processual.
Isso é o que se depreende da redação do artigo 17 do CPC vigente:
Art. 17.  Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
            Interesse de agir – pode ser basicamente definido como a verificação da necessidade e da utilidade da tutela jurisdicional requerida.
            Legitimidade para a causa – é o elemento verificador da pertinência subjetiva da ação. A legitimação indica para cada processo as partes legítimas, ou seja, as pessoas que devem estar presentes, para que o juiz possa enfrentar o mérito.
 
Classificação das ações.
            A doutrina conhece vários critérios de classificações das ações, mas o que permanece, a tendência moderna é a classificação tendo em vista a providência jurisdicional.  Isto porque a ação é o meio de provocar a tutela jurisdicional, ou seja, de solicitar uma providência jurisdicional.
            Conforme se trate de tutela jurisdicional de conhecimento, de execução, preventiva ou cautelar, classificam-se as ações em de conhecimento, de execução e cautelares.
 
· Ações de Conhecimento - provocam uma providência jurisdicional que reclama um processo regular de conhecimento. O processo se diz de conhecimento, pois é através dele que o juiz conhecerá da pretensão do autor, o motivo da resistência do réu, tomará contato com as provas para só então proferir uma sentença.
 
As ações de conhecimento subdividem-se em três grupos:
 
· ações meramente declaratórias: buscam apenas e tão somente uma declaração, quanto a existência ou inexistência de uma relação jurídica. O conflito entre as partes está na incerteza da relação jurídica;
· ações condenatórias - são as que buscam a imposição de uma sentença condenatória, ou seja, que imponha uma sanção ao réu.; e
· ações constitutivas – nas ações constitutivas a parte busca a criação, modificação ou extinção de uma relação jurídica.
 
· Ações Executivas - São as que provocam providências jurisdicionais de execução, ou seja, pede-se a realização da atos executórios que tornem efetiva a sanção.
· Ações Cautelares - visam providências urgentes e provisórias, tendentes a assegurar a possibilidade de realização do direito no futuro. Em razão da providência solicitada pela ação cautelar visar assegurar os efeitos da sentença a ser proferida no processo de conhecimento, ou do ato executório no processo de execução, aquela providência é provisória, portanto vigorará apenas enquanto se aguarda a sentença.
 
A doutrina também apresenta outras classificações:
a) Quanto à natureza do direito - açõesreais: visam a tutela de um direito real;  ações pessoais: visam a tutela de um direito pessoal, isto é de uma obrigação.
b) Quanto ao objeto – ações mobiliárias: são as que versam sobre coisas móveis, bens móveis; ações imobiliárias: versam sobre bens imóveis.
 
Competência. Conceito.
            A jurisdição como Poder Estatal é una e exercida por todo o território nacional.
            Para o cumprimento desta função, são escolhidos indivíduos para atuar como julgadores, nos moldes das qualificações estabelecidas na CF e também na legislação processual, os quais exercerão sua competência nos limites autorizados, em com estrita atenção às formalidades processuais exigidas.
       Assim para que atividade jurisdicional seja exercida de forma eficiente e organizada, é feita a distribuição do poder, por meio de diversos órgãos, de acordo com critérios legais previamente estabelecidos.
     Dessa forma podemos dizer que a competência é a medida da jurisdição, e decorre do resultado da combinação entre os critérios de distribuição do poder jurisdicional, nos termos do quanto estabelecido pelo ordenamento jurídico.
 
Critérios determinativos.
            A competência é distribuída por intermédio de vários critérios, que estão disciplinados na CF, no CPC, em eventual legislação especial, nas normas de organização judiciária e ainda nas Constituições Estaduais. Assim é o que determina o artigo 44 do CPC:
Art. 44.  Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados.
            De acordo com a doutrina os critérios são classificados em três grupos principais:
i. o critério objetivo
i. em razão da matéria – depende da relação jurídica substancial,
ii. em razão do valor da causa e
iii. em razão da pessoa - a fixação da competência tendo em conta as partes envolvidas rationae personae;
ii. o critério funcional – regula a atribuição dos diversos órgãos do Poder Judiciário.
i. horizontal – mesmo grau de jurisdição;
ii. vertical – graus diversos de jurisdição, como por exemplo as hipóteses de competência originária dos Tribunais; e
iii. o critério territorial – limites territoriais de cada órgão judicante.
            Além do mais, dois são os regimes jurídicos aos quais se submetem as regras da competência, quais sejam o absoluto e o relativo, que se relacionam com o interesse a ser tutelado seja ele público ou particular.
            A competência absoluta, norma cogente, tutela o interesse público. Ela pode ser questionada em qualquer momento e grau de jurisdição; pode ser conhecida de ofício; não gera preclusão para as partes nem para o juiz, de modo que a competência não se prorroga nem se modifica e não se sujeita à negociação das partes. Estão submetidas ao regime da competência absoluta as hipóteses em que esta é fixada por critério em razão da pessoa, da matéria, funcional e, de forma peculiar e excepcional, por critério territorial prescrito no art. 47, § 1º do CPC.
            A competência relativa tutela interesse privado, portanto não pode ser conhecida de ofício, deve ser alegada pelas partes no prazo legal (na própria contestação como preliminar), sob pena de preclusão e consequente prorrogação da competência; as partes podem convencionar o foro, por meio de negócio jurídico processual típico (cláusula de foro de eleição). Estão submetidas a este regime as hipóteses em que a competência é fixada em razão do valor da causa e do território.
            Com relação ao critério do valor da causa para a distribuição da competência, a regra do regime relativo não se aplica no contexto do Juizado Especial, pois os Juizados Especiais Estaduais, não detêm competência para o processamento de causas cujo valor seja superior a 40 salários mínimos, salvo hipótese de conciliação. Por outro lado, nos Juizados Especiais Federais o regime adotado é o da competência absoluta nos termos do artigo 3º, § 3º da Lei nº 10.259/01).
            A fixação da competência para o processamento e julgamento de determinada causa é determinada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, e segue até o final do processo. Assim, definida a competência tornam-se irrelevantes quaisquer modificações do estado de fato ou de direito, de acordo com o artigo 43 do CPC:
Art. 43.  Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
            O princípio da perpetuação da competência (perpetuatio jurisdictionis) implica no reconhecimento de que a análise da competência deve ser feita tendo em vista a situação de fato e de direito no momento de seu ajuizamento (sistema de estabilidade do processo). Tal princípio comporta duas exceções: supressão de órgão judiciário (redistribuição da causa para o órgão que sucedeu aquele extinto) e alteração de competência absoluta (é definido em função do interesse público, a sua alteração deve ser acompanhada pela demanda, a fim de atendê-lo).
            São de competência da Justiça Federal as ações em que a União, suas empresas públicas (sociedade de economia mista não atrai a competência da Justiça Federal), entidades autárquicas, fundações ou conselhos de fiscalização profissional intervierem na qualidade de parte ou de terceiro interveniente. São exceções as ações de: recuperação judicial, falência, insolvência civil, acidente de trabalho, e as sujeitas à justiça eleitoral e trabalhista, nos termos do artigo 45 do CPC:
Art. 45.  Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
            Por fim se faz importante a leitura dos artigos que seguem para a identificação da competência:
Art. 46.  A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.
§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
Art. 47.  Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
§ 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.
Art. 48.  O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único.  Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;

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