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Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 1 SUMÁRIO • Introdução ao metabolismo. • Principais nucleotídeos envolvidos na transferência de energia em seres vivos. • Cadeia Respiratória e de transporte de elétrons. • Glicólise ou Via de Embden Meyerhof: é a quebra da glicose até piruvato. Ocorre no citosol. • Glicogênese: síntese de glicogênio a partir da glicose. • Glicogenólise: é a conversão de glicogênio em glicose. • Ciclo do Ácido Cítrico (Ciclo de Krebs). • Gliconeogênese (ou neoglicogênese): é a a síntese da glicose a partir de fontes não glicídicas, como aminoácidos, glicerol e outros. • Via das Pentoses-fosfato (shunt das pentoses ou via do fosfogliconato): é uma via alternativa da glicólise e do ciclo do ácido cítrico onde, novamente, a glicose é oxidada até CO2 e H2O. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 2 Introdução ao Metabolismo Todas as células vivas possuem uma elevada organização interna que é composta pela associação de substâncias orgânicas e inorgânicas. O estado de organização interna não é espontâneo nem permanente e, por ser instável, pode reverter muito facilmente ao estado inanimado. O que mantém as características que diferem o vivo do não-vivo é uma entrada constante de energia. Segundo a Termodinâmica, há duas formas de energia: a energia livre ou utilizável e a entropia ou energia não utilizável. O máximo de entropia resulta na morte do sistema. Em qualquer transformação de energia, a energia livre (mais organizada e concentrada) tende a passar para uma forma menos organizada e menos concentrada, a entropia. As células precisam de energia para não se desestruturarem e para promoverem seus processos mecânicos, elétricos, osmóticos, bioquímicos. Mas, ao utilizar esta energia, a célula a desorganiza e a dissipa, de modo que não pode voltar a usá-la. Portanto, as células, como unidades metabólicas, precisam de um fluxo de energia exterior que venha de uma fonte até elas. Pela natureza destas fontes, dividimos os seres vivos em autótrofos e heterótrofos. Os autótrofos têm a capacidade metabólica de sintetizarem, para o seu sustento, moléculas orgânicas a partir de substâncias inorgânicas de baixo peso molecular, como a água e o gás carbônico. A fotossíntese é um exemplo de processo anabólico realizado por seres autótrofos. Os seres heterótrofos não têm esta capacidade metabólica e por isso precisam obter matéria orgânica pronta para sua nutrição. Catabolismo e Anabolismo A degradação (lise, quebra, digestão) de compostos orgânicos com a finalidade de obtenção de energia é denominada catabolismo. O catabolismo libera energia química potencial, parte da qual dá na forma de calor. Um mamífero adulto, com massa de aproximadamente 78 Kg, consome cerca de 2.500 kcal por dia. Esta energia é necessária para a contração muscular, para o transporte de substâncias e íons através da membrana plasmática, para a produção de proteínas, enzimas, ácidos nucléicos, etc. Por exemplo, a formação de uma ligação peptídica necessita de 0,5 a 4 kcal de energia, dependendo dos aminoácidos que serão ligados quimicamente. Transfira essas quentidades para um animal, de massa relativa. Já o conjunto de reações que sintetizam (produzem, formam) matéria orgânica e protoplasma é conhecido como anabolismo. A síntese de proteínas é exemplo de atividade anabólica importante nos processos de crescimento, substituição tecidual e desenvolvimento do ser vivo. A fotossíntese também é um importantíssimo processo bioquímico anabólico. Principais nucleotídeos envolvidos na transferência de Energia química em sistemas vivos Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 3 Nas células, a oxidação da glicose ocorre em etapas, sendo um processo parcelado de degradação. Deste modo, a glicose é quebrada por uma série de reações bioquímicas, envolvendo um quantitativo numeroso de enzimas e produzindo uma série igualmente numerosa de compostos intermediários. Durante a oxidação da glicose, a energia é transferida para nucleotídeos fosforilados: o trifosfato de guanosina (GTP), o trifosfato de citosina (CTP), o trifosfato de uracila (UTP) e o trifosfato de adenosina (ATP). Destes, o mais importante é o ATP. Os outros nucleotídios fosforilados são convertidos em ATP. A coenzima A, também um nucleotídio, é substância importante nos processos oxidativos da glicose. A figura a seguir (retirada de Alberts et al., 1997, p. 59) representa a fórmula estrutural do trifosfato de adenosina e da coenzima A. 1) Adenosina Trifosfato (ATP) 2) Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 4 3) Flavina Adenina Dinucleotídeo Tem como base nitrogenada a flavina. Cadeia Respiratória e a Fosforilação Oxidativa A maior parte do ATP formado na respiração celular provém do processo de fosforilação oxidativa que ocorre nas cristas mitocondriais. Nas membranas internas da mitocôndria existe uma série de enzimas contendo ferro (chamadas citocromos) que constituem a cadeia respiratória. Os citocromos da cadeia respiratória, inicialmente, transferem os elétrons do NADH2 e do FADH2 de um nível maior de energia para um nível menor de energia, ou seja, de um citocromo para outro e, ao término desse processo, cedem estes elétrons para o oxigênio, reduzindo-o a água. No processo de transporte de elétrons ao longo da cadeia respiratória, acontece liberação de energia. Parte dessa energia é perdida (dissipada) sob a forma de calor, outra parte é usada para transportar prótons (H+), através da membrana interna, da matriz até o espaço intermembranoso. Deste modo, a energia é guardada sob a forma de um gradiente de prótons entre a matriz e o espaço intermembranas. Os prótons acumulados tendem a voltar para a matriz e o fazem atravessando a enzima ATP- sintase, situada na membrana interna mitocondrial. A ilustração a seguir (retirada de Alberts et al., 1997, p. 673) esquematiza a enzima ATP-sintase:Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 5 Quando os prótons atravessam a enzima, sua energia é utilizada para produzir ATP a partir de ADP e um fosfato inorgânico (PO4). Esta teoria que procura explicar a síntese de ATP a partir da energia do gradiente de prótons é conhecida como hipótese quimiosmótica. O fluxo de prótons do gradiente pode ser comparado à água de uma represa que tem sua energia potencial transformada em energia elétrica quando da passagem da água por uma turbina. Glicólise (Via de Ambden Meyerhof Parns) Um processo muito generalizado entre os seres vivos (desde bactérias até mamíferos) para obtenção de energia é a oxidação da glicose até dióxido de carbono e água. Se a glicose fosse queimada num forno, sua total oxidação liberaria 686 kcal/mol. Sendo a glicólise a primeira via do metabolismo energético da glicose. A glicólise ocorre totalmente por enzimas dissolvidas no hialoplasma. Este processo metabólico não exige oxigênio molecular e pode ocorrer na sua ausência. A glicólise produz duas moléculas de ATP (por fosforilação pelo nível de substrato) para cada molécula de glicose consumida. Em geral, nas células, a concentração de glicose é muito menor que a do líquido extracelular. Essa diferença de concentração (gradiente de concentração) é mantida por regulação homeostática. Quando as moléculas de glicose adentram no hialoplasma muito rapidamente, vão para a via de oxidação (glicólise) ou são armazenadas sob a forma de glicogênio. Como resultado final, a concentração hialoplasmática de glicose é muito baixa, o que faz com que exista sempre um gradiente de concentração que favorece a difusão de glicose para o interior da célula. A glicose é uma molécula muito polar, de modo que, mesmo havendo um gradiente de concentração, ela não atravessa a membrana plasmática. Na maioria dos tecidos, o transporte de glicose exige a ação do hormônio pancreático insulina, que regula a entrada de glicose e aminoácidos nas células. Primeiramente, na glicólise, a molécula de glicose é convertida em glicose-6-fosfato, numa reação dependente do gasto de ATP. A segunda reação é a conversão da glicose-6- fosfato em frutose-6-fosfato, com o gasto de uma segunda molécula de ATP. Nas diversas etapas que seguem, a cadeia de seis carbonos da glicose original é quebrada em dois fragmentos, cada um com três carbonos, as moléculas de gliceraldeído-3-fosfato e estas, por Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 6 fim, em duas moléculas de ácido pirúvico ou piruvato. A conversão de duas moléculas de gliceraldeído em duas de piruvato produz duas moléculas de ATP, duas moléculas de NADH e 56 kcal de calor. Como duas moléculas de ATP foram gastas no início do processo, o resultado efetivo é de duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose. A conversão de um mol de glicose em dois moles de piruvato resulta na produção de dois moles de NADH. Esse NADH deve ser reoxidado para que a glicólise continue. Se o piruvato vai para a mitocôndria (metabolismo aeróbico), o NAD+ será regenerado por essa via. Se a célula não possui enzimas para o metabolismo aeróbico ou não há oxigênio disponível, a célula regenera o NAD + pela conversão de piruvato em ácido láctico, processo em que o NADH transfere o hidrogênio para o piruvato. As células musculares esqueléticas, em ausência de oxigênio molecular, podem realizar esta glicólise anaeóbica com produção final de ácido láctico ou lactato. Após a glicólise, o piruvato vai para a mitocôndria onde é transformado em grupo acetil (molécula com dois carbonos), que, por sua vez, é degradado no ciclo de Krebs, onde se produz mais 36 moléculas de ATP para cada molécula de glicose processada. Segue as respectivas reações: Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 7 D-Glicose D-Glicose-6-fosfato D-Frutose-6-fosfato ATP ADP Mg++ Fosfofrutoquinase 1 (PFK1) Fosfoglicose isomerase ATP ADP Mg++ -D-Frutose-1,6-bisfosfato Hexoquinase Aldolase Di-hidroxi acetona fosfato Gliceraldeído-3- fosfato Triose fosfato isomerase Gliceraldeído-3- fosfato Gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase 2NAD++ 2Pi 2NADH 1,3-Bisfosfo- glicerato 2ADP 2ATP 2-Fosfoglicerato H2O Piruvato quinase Mg++ Piruvato + Mg++ Fosfogli cerato quinase 3- Fosfoglicerato Fosfo- glicerato mutase Enolas eeeeee e Fosfoenolpiruvat oooo 2ADP 2ATP Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 8 Fase preparatória para o Ciclo de Krebs Os piruvatos produzidos na glicólise, podem ser convertidos em gás carbônico e água, no Ciclo de Krebs, para a produção de energia. Isto se dá em condições aeróbias. Para tanto, é necessário primeiramente, a conversão dos piruvatos em acetil-CoA (Acetil Coenzima A), segundo a reação: Complexo piruvato-desidrogenase Piruvato + NAD + + CoA-SH NADH + Acetil-CoA + CO2 Para entrar no ciclo do ácido cítrico, o piruvato deve ser, primeiramente, descarboxilado, liberando CO2 e formando NADH. A molécula de gás carbônico produzida será, tal qual outras resultantes do ciclo de Krebs, excretada no nível dos alvéolos pulmonares, no processo conhecido como respiração sistêmica. A molécula com dois carbonos (grupo acetil) combina-se com a coenzima A, formando a acetil-CoA. radicais acetil provindos de lipídios também entram no ciclo de Krebs como acetil-CoA. Alguns aminoácidos oriundos do catabolismo de proteínas podem ser convertidos em intermediários do ciclo de Krebs. Ciclo do Ácido Cítrico (Ciclo de Krebs ou Ciclo do Ácido Tricarboxílico) A degradação total dos grupos acetil pelo ciclo de Krebs demonstrada na figura extraída do livro “Princípios de Bioquímica” de Alberts et al., 1997, p. 661) Cassia F. D. BassanUNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 9 O ciclo de Krebs, ou ciclo do ácido cítrico, é uma seqüência circular de oito reações que ocorre na matriz mitocondrial. Nessas reações, os grupos acetil (que provêm dos dois piruvatos que, por sua vez, vieram da glicose) são degradados em duas moléculas de gás carbônico, ao mesmo tempo que quatro elétrons são transferidos para três NAD e um FAD, e uma molécula de ATP é formada por fosforilação pelo nível de substrato. Durante as reações do ciclo, são retirados hidrogênios do acetil e estes são passados para os nucleotídios NAD+ e FAD, que levam estes hidrogênios para as cristas mitocondriais, onde acontece a fosforilação oxidativa, que gera ATP. No processo de fosforilação oxidativa ocorrem: o transporte de elétrons; a síntese de ATP por meio de uma enzima; o consumo de oxigênio molecular e a produção de moléculas de água. O Ciclo de Krebs pode ser dividido em oito etapas conseqcutivas: 1. INÍCIO: condensação da acetil-CoA com o oxalacetato, gerando citrato (catalisada pela citrato-sintase). 2. Isomerização do citrato em isocitrato (catalisada pela aconitase). 3. Oxidação do citrato a alfa-cetoglutarato: (catalisada pela isocitrato- desidrogenase, utiliza o NADH como transportador de 2 hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de uma molécula de CO2). 4. Descarboxilação oxidativa do alfa-cetoglutarato a succinil-CoA (catalisada pelo complexo enzimático alfa-cetoglutarato-desidrogenase e utiliza o NADH como transportador de 2 hidrogênios liberados na reação, havendo o desprendimento de mais uma molécula de CO2) 5. Desacilação do succinil-CoA até succinato (catalisada pela succinil-CoA sintase, geraum GTP que é convertido, posteriormente a ATP). 6. Oxidação do succinato a fumarato (catalisada pela succinato-desidrogenase, utiliza o FADH2 como transportador de 2 hidrogênios liberados na reação) 7. Hidratação do fumarato a malato (catalisada pela fumarase). 8. TÉRMINO: desidrogenação do malato com a regeneração do oxalacetato (catalisada pela enzima malato-desidrogenase, utiliza o NADH como transportador de 2 hidrogênios liberados na reação) RESPIRAÇÃO CELULAR Todas as células, portadoras de mitocôndrias, podem efetuar a respiração. É um conjunto de reações de oxirredução para a abtenção de energia a partir de uma fonte energética orgânica e que ocorre obrigatoriamente em todas as células. As reações de oxirredução consistem na transferência de H+ de um composto orgânico para outro com desprendimento de energia. Cada molécula de NADH2 fornecem, através da cadeia respiratória, 3 ATP + H2 e Cada molécula de FADH2 fornecem, através da cadeia respiratória, 2 ATP + H2O. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 10 ***Neoglicogênese Quando há uma queda na concentração de glicose plasmática são ativadas rotas metabólicas que proporcionam uma liberação de glicose para o plasma e o retorno dos níveis normais de glicemia. A glicogenólise hepática é um processo muito eficaz, entretanto as reservas logo são exauridas e o fígado lança mão de uma nova via de síntese de glicose que utiliza substratos não glicídicos. Esta nova via metabólica hepática, a neoglicogênese ou gliconeogênese, fornece glicose para o plasma. Porém quando ocorre em tecidos extra-hepáticos, principalmente no músculo, a glicose formada é utilizada somente no metabolismo energético devido a ausência da enzima glicose-6-fosfatase, exclusiva do hepatócito. Esta síntese de novas moléculas de glicose ocorre a partir de precursores mais simples como o glicerol, lactato, piruvato e aminoácidos glicogênicos. Não é um processo reverso da glicólise, porém utiliza os substratos comuns da via glicolítica para produzir glicose. A razão de a neoglicogênese não poder utilizar a via reversa da glicólise, é que as fosforilações da primeira fase (conversão de glicose em glicose-6-fosfato e a conversão de frutose-1,6-fosfato em frutose-1,6-bi-fosfato) e a formação de piruvato a partir do fosfoenol-piruvato, são reações irreversíveis. A neoglicogênese corresponde, portanto, no contorno dessas três reações em vias específicas da neoglicogênese. Seqüência de reações da neoglicogênese Conversão de piruvato em fosfoenol-piruvato: o piruvato penetra na micotocôndria e é convertido a oxalacetato, que é reduzido pelo NADH em malato e liberado para o citoplasma. No citoplasma, o malato é oxidado a malato pelo NAD+ gerando, novamente, o oxalacetato que é convertido em fosfoenol-piruvato pela enzima fosfoenol-piruvato-carboxiquinase, cujo doador de Pi é GTP. Na carência de NAD+ citoplasmático (típico da glicose anaeróbica) o oxalacetato mitocondrial é convertido diretamente a fosfoenol-piruvato pela ação da enzima fosfoenol-piruvato- carboxiquinase mitocondrial. Conversão de frutose-1,6-bi-fosfato em frutose-6-fosfato: é catalisada pela enzima frutose-1,6-bifosfatase que promove a retirada do Pi do C1 por hidrólise. Conversão de glicose-6-P em glicose livre: ocorre no fígado, pois somente no RE dos hepatócitos encontra-se a enzima glicose-6-fosfatase. Esta reação é comum também a glicogenólise e permite que o fígado regule a concentração de glicose plasmática. Através dessas três reações, todos os intermediários do ciclo de Krebs que são produzidos pelo catabolismo dos aminoácidos (citrato, isocitrato, a-cetoglutarato, succinato, fumarato e malato), assim como os que fornecem piruvato, podem produzir oxalacetato e fornecer glicose através da gliconeogênese. As reações enzimáticas da neoglicogênese são estimuladas pelo glucagon, epinefrina e cortisol. A neoglicogênese estimulada pelo cortisol e epinefrina corresponde a uma ação metabólica derivada não a um estímulo hipoglicêmico mas por uma necessidade metabólica derivada a um estresse energético. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 11 Os aminoácidos são importantes fornecedores de substratos da neoglicogênese, porém aqueles que fornecem acetil-CoA diretamente (cetogênicos) não fornecem substratos para esta via metabólica e sim estimulam a produção de energia para o ciclo de Krebs. Os aminoácidos glicogênicos permitem a formação de glicose que será utilizada como energia por todas as células pela neoglicogênese hepática, evitando os efeitos da hipoglicemia. Os ácidos graxos não fornecem substratos para a neoglicogênese devido ao fato que a acetil-CoA é utilizada direta para a produção de energia ou é deslocada para o citoplasma para a produção de colesterol ou corpos cetônicos. Entretanto, quando os triglicerídeos são degradados, há a liberação de glicerol que pode ser utilizado como substratopara a neoglicogênese, porém convém lembrar que neste estado metabólico (de consumo de ácidos graxos) a grande quantidade de acetil-CoA não permite um acúmulo de oxalacetato devido a grande quantidade de acetil-CoA que estimula o Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 12 São indicados os átomos de carbono e os grupos fosfato Estes passos são os mesmos da glicólise, mais no sentido contrário Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 13 Mitocôndria Transp. de PIRUVATO Piruvato Piruvato (3C) ATP ADP + Pi Oxaloacetato (4C) Piruvato carboxilase CO2 Ciclo de Krebs Malato (4C) Transp. de MALATO Malato (4C) Oxaloacetato (4C) Fosfoenol piruvato carboxi- quinase GTP GDP + Pi CO2 Fosfoenol- piruvato (3C) Gliconeogênese Citossol Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 14 Glicólise e Gliconeogênese Regulação no fígado Glicólise Gliconeogênese Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-bifosfato • Frutose 2,6 bifosfato (+) • AMP (+) • Citrato (-) Piruvato Oxaloacetato Fosfoenol piruvato Várias etapas • Frutose 2,6 bifosfato (-) • AMP (-) • Citrato (+) fosfofruto- cinase frutose1,6 bifosfatase piruvato cinase fosfoenolpiruvato carboxicinase piruvato carboxilas e • Frutose 2,6 bifosfato (+) • ATP (-) • ADP (-) • Acetil CoA (+) • ADP (-) Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 15 ligação - ligação -1,4 glicogênio fosforilase Degradação do glicogênio P Isto é uma fosforolise, não uma hidrólise!! Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 16 ligação -1,6 ligação -1,4 glicogênio fosforilase P glicose 1 fosfato Degradação do glicogênio P glicose 6 fosfato Fosfo glicomutase Glicólise Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 17 Síntese de Glicogênio Ocorre, principalmente no fígado e nos músculos, apesar de a maioria das células possuírem as enzimas necessárias para esta síntese. Os músculos, em razão de sua grande massa, apresentam cerca de 4 vezes mais glicogênio do que o fígado e não liberam glicose para o sangue, ao contrário do fígado. O glicogênio é uma fonte imediata de glicose para as células quando há a diminuição da glicose sangüínea. A síntese de glicogênio ocorre sempre em condições de excesso de glicose e corresponde a importante rota de desvio do metabolismo energético. Como toda reação anabólica, é extremamente endergônica e produz uma macromolécula solúvel que se deposita em grânulos solúveis no citoplasma. Esta propriedade do glicogênio torna o excesso de sua síntese um perigo para a célula, já que por ser solúvel e depositar-se no citoplasma, leva ao aumento da concentração do citoplasma, tornando-o muito “viscoso” e diminuindo a atividade enzimática celular, o que pode levar, inclusive, à morte celular. Por isso, é fundamental que a célula possua um mecanismo de regulação da síntese de glicogênio bem coordenado para impedir os efeitos nocivos de um acúmulo de glicogênio. A síntese de glicogênio é estimulada pela insulina, o que permite a rápida retirada de glicose plasmática e seu depósito quase que imediato como glicogênio. É obvio que a glicose que penetra na célula terá que seguir outras vias metabólicas, além da síntese de glicogênio, uma vez que não possuímos um órgão especializado para esse armazenamento, como é o caso dos vegetais que armazenam o amido nas raízes e sementes. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 18 ligação -1,6 ligação -1,4 Síntese do glicogênio P glicose 1 fosfato + Uridina P P P Uridina trifosfato (UTP) UDP glicose pirofosforilase P P P Uridina P UDP glicose Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 19 ligação -1,6 ligação -1,4 glico gêni o sinta se P Uri- dina P Síntese do glicogênio Cassia F. D. BassanUNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 20 ligação -1,6 ligação -1,4 P Uridina P Síntese do glicogênio + Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 21 Regulação endócrina do metabolismo do glicogênio Adenilil ciclase Adenilil ciclase ATP AMPc Proteína cinase A (PKA) Proteína quinase A (PKA) Fosforilase quinase Fosforilase quinase P Glicogênio fosforilase b Glicogênio fosforilase a P Glicogênio sintase a Glicogênio sintase b P Forma ativa Forma inativa Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 22 AMP ATP Glicose-6P Fosforilase b (forma R ativa) Fosforilase b (forma T inativa) Regulação do metabolismo do glicogênio No músculo P P Glic Glic 2 ATP 2 ADP 2 ATP 2 ADP Fosforil quinase Fosfatase Fosfori- lase a (forma T inativa) P P Fosforilase a (forma R ativa) No fígado Glic Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 23 Via das Pentoses Esta rota metabólica produz NADPH e ribose-5-fosfato a partir da desidrogenação da glicose-6-fosfato pela enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) formando a 6- fosfo-glicocono-lactona que é convertido em 6-fosfogliconato pela ação da lactonase. Este composto é convertido a ribulose-5-fosfato pela retirada de CO2 e por desidrogenação pelo NAD+, catalisada pela enzima 6-fosfogliconato-desidrogenase. A ribulose-5-fosfato formada é isomerisada a ribose-5-fosfato pela enzima fosfopentose- isomerase e é utilizada na síntese de ácidos nucléicos. A formação da pentose, entretanto, não é o principal produto desta via, mas sim a formação de NADPH em tecidos que necessitam de seu poder redutor em reações biológicas (p.ex.: síntese de ácidos graxos, redução do ferro nas hemácias). As hemácias realizam este desvio metabólico de maneira exclusiva (não realiza a síntese de glicogênio, colesterol nem corpos cetônicos). A G6PD está associada ao GLUT1 o que estimula a via das pentoses em grande escala permitindo que o NADPH formado mantenha a enzima glutationa redutase ativa e, em conseqüência, o ferro do grupamento heme reduzido. Este fato permite que a hemoglobina transporte o oxigênio de maneira reversível onde o ferro liga-se ao O2 por atração eletrostática e não por ligação covalente, que aconteceria na ausência da glutationa-redutase. Mutações no gene da G6PD favorecem a destruição da capacidade da hemoglobina em transportar o oxigênio de maneira reversível e a destruição da hemácia precocemente levando a anemias hemolíticas graves. Em casos de extrema carência energética, a ribose formada pode ser requisitada pelo metabolismo celular. Neste caso, a ribose-5-fosfato regenera a glicose-6-fosfato por uma via diferente de sua síntese (não gastando os NADPH produzidos) sob a ação seqüencial de enzimas denominadas transaldolases e transcetolases que proporcionam a formação de trioses, tetroses e heptoses intermediárias. Esses carboidratos se combinam entre si, através da ação dessas enzimas, e geram a glicose de várias maneiras diferentes, sempre reordenando os carbonos disponíveis nas reações. Duas riboses (5C) formam uma heptose (7C) e uma triose (3C). Esses carboidratos formam a glicose (6C) e uma tetrose (4C). A tetrose (4C) liga-se com outra pentose (5C) gerando uma outra glicose (6C) e uma triose (3C). Esta triose liga- Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 24 As vias anabólicas (ou seja, de síntese) precisam de poder redutor sob a forma de NADPH, ao tempo que açúcares como a ribose 5-fosfato são necessários na síntese de nucleotídeos HCOH | HCOH | HOCH | HCOH | HC | CH2 O 2 O P C=O | HCOH | HOCH | HCOH | HC | CH2 O O P NADPH NADP + Glicose 6 fosfato desidrogenase 6 Fosfoglicono-- lactona Glicose 6 fosfato Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 25 C=O | HCOH | HOCH | HCOH | HC | CH2 6 Fosfoglicono-- lactona Lactonase H2O C | HCOH | HOCH | HCOH | HCOH | CH2 O-O O P Mg++ P 6 Fosfogliconato Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 26 CH 2 OH | C=O | HCOH | HCOH | CH2 O P C | HCOH | HOCH | HCOH | HCOH | CH2 O-O O P D-ribulose-5fosfato NADPH NADP + 6 fosfo-gliconato desidrogenase CO2 C | COH | HCOH | HCOH | CH2 O H 6 Fosfogliconato D-ribose-5 fosfato Fosfo pentose isomerase P Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 27 Metabolismo de Outros Monossacarídeos A frutose é convertida em frutose-6-fosfato pela hexocinase no fígado, e a enzima frutoquinase promove a formação de frutose-1-fosfato que é quebrada em gliceraldeído e di-OH-cetona-fosfato pela enzima frutose-1-fosfato aldolase. Esses compostos são comuns a via glicolítica e prosseguem o metabolismo energético normal. A galactose é convertida em galactose-1-fosfato pela enzima galactoquinase. A enzima UDP-glicose-galactose-1-P-uridiltransferase é a responsável pela conversão da galactose-1-fosfato em glicose-6-fosfato e a continuidade do metabolismo celular. A deficiência dessas enzimas proporciona o acúmulo de galactose plasmática (galactosemia) que pode acarretar em danos neurológicos graves. A manose é convertida em manose-6-fosfato pela hexocinase que é isomerizada pela enzima fosfomanose isomerase formando a frutose-6-fosfato que prossegue no metabolismo glicolítico. A sacarose é sintetizada nos vegetais a partir da UDP-glicose sendo a frutose-6-fostato unida à UDP-glicose pela ação da enzima sacarose-6-fosfato- sintase, formando a sacarose-6-fosfato que tem seu Pi removido pela enzima sacarose-6-fosfatase disponibilizando a sacarose no citoplasma dos vegetais. Nos animais, entretanto, há a ação da a enzima sacarase intestinal liberando glicose e frutose para a captação hepática, não havendo sacarose disponível para o metabolismo celular. A lactose é sintetizada na glândula mamária de maneira similar ao glicogênio, ou seja, há a ligação da galactose da UDP-galactose com a glicose, e a respectiva liberação de UDP, a partir da ação da enzima lactose sintase. Entretanto, esta enzima em outros tecidos promove a ligação da galactose com a N-acetil-glicosamina formando a porção carboidrato das glicoproteínas, sendo denominada nesses tecidos de galactosil transferase. A diferença da atividade dessas enzimas é a presença de proteína a-lactoalbumina na galactosil- transferase, que é sintetizada a partir do estímulo hormonal da prolactina. A lactose alimentar é degrada em glicose e galactose no intestino sob a ação da enzima intestinal lactase. Na maioria dos animais ocorre a síntese de ácido ascórbico a partir da UDP- glicose que é desidrogenada em UDP-glicuronato através da enzima UDP-glicose- desidrogenase. O UDP-glicuronato é importante grupamento da detoxificação hepática existindo em todos os animais. Na seqüência de reações que levam a síntese de ácido ascórbico, o UDP- glicuronato é convertido em gulonato pela enzima glicuronato-redutase (NAPH dependente) que é convertido em gulonolactona pela aldonolactonase. A síntese de ácido ascórbico dá-se pela conversão da gulonolactona pela ação da enzima gulono-oxidase, o que não ocorre em alguns poucos animais (alguns primatas, inclusive o homem, pássaros peixes e roedores). Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 28 CARBOIDRATOS: Regulação da Glicemia Após a absorção dos carboidratos nos intestinos, a veia porta hepática fornece ao fígado uma quantidade enorme de glicose que vai ser liberada para o sangue e suprir as necessidades energéticas de todas as células do organismo. As concentrações normais de glicose plasmática (glicemia) situam-se em torno de 70 - 110 mg/dl, sendo que situações de hipergicemia tornam o sangue concentrado alterando os mecanismos de troca da água do LIC com o LEC, além de ter efeitos degenerativos em nervos, rins, vasos etc. Os hormônios pancreáticos insulina e glucagon possuem ação regulatória sobre a glicemia plasmática. Não são os únicos envolvidos no metabolismo dos carboidratos (os hormônios sexuais, epinefrina, glicocorticóides, tireoidianos, GH e outros também têm influenciam a glicemia), porém, sem dúvida, são os mais importantes. A insulina é um polipeptídeo (PM = 5.700d) formado por duas cadeias de aminoácidos (a cadeia A com 21 e a cadeia B com 31), unidas entre si por duas pontes dissulfeto de cistina e uma ponte dissulfeto interna na cadeia. É produzida nas células beta das ilhotas de Langherans e é armazenada em vesículas do Aparelho e Golgi em uma forma inativa (pró-insulina). Quando a concentração de glicose sanguínea atinge níveis acima de 110 mg/dl, há um excesso do metabolismo oxidativo mitocondrial nas células beta o que determina a liberação de insulina para a circulação sanguínea a partir de um mecanismo ainda não esclarecido. Esse excesso do metabolismo mitocondrial nas células beta é devido a pouca atividade das vias de desvio do metabolismo energético comuns nas demais células (síntese de glicogênio, lipídios e corpos cetônicos) o que acarreta uma grande produção de ATP mitocondrial, fato que desencadeia a liberação de insulina para o sangue. As principais funções da insulina são: Estimula a captação de glicose pelas células via GLUT4 Síntese e armazenamento de glicogênio hepático e muscular Síntese de proteínas Síntese de ácidos graxos, triglicerídeos e colesterol Como resultado dessas ações, há um consumo intenso de glicose e a queda gradual da glicemia (hipoglicemia) que estimula as células alfa- pancreáticas a liberar o glucagon, um polipeptídio formado por uma cadeia única de 29 aminoácidos (PM = 3.500d) sintetizado pelas células alfa das ilhotas pancreáticas. Este hormônio possui ação antagônica à insulina, com três efeitos básicos: Mobilização dos depósitos de aminoácidos e ácidos graxos Glicogenólise Neoglicogênse Esses efeitos hiperglicemiantes possibilitam nova ação insulínica, o que deixa a glicemia de um indivíduo normal em torno dos níveis normais de 70 - 110 mg/dl . Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 29 Glicogenólise Quando há a necessidade de glicose (portanto, quando há a hipoglicemia), o glicogênio é mobilizado a partir de uma seqüência de reações que não são o inverso da síntese de gliucogênio, mas uma via metabólica complexa que se inicia a partir da produção de glucagon, estímuloreflexo da hipoglicemia. A epinefrina e o cortisol também possuem ação glicogenolítica idêntica ao glucagon. Esses estímulospossuem como segundo mensageiro o AMP cíclico (AMPc) que ativa a enzima fosforilase-quinase-b em fosforilase-quinase-a, que, por sua vez, retira uma molécula de glicose do glicogênio, na forma de glicose-1-fosfato, liberando-a para a glicólise em uma reação que utiliza a mesma enzima que inicia a glicogênese (fosfoglicomutase), formando glicose-6-fosfato. No fígado, a glicose-6-fosfato pode ser convertida em glicose graças à enzima glicose-6-fosfatase que existe em altas concentrações no hepatócito e é ativada pelo glucagon, epinefrina e cortisol. A consequência disto é o aumento da glicemia, o que faz com que cesse os estímulos hormonais, inibindo a glicogenólise. O AMPc é degradado pela enzima fosfodiesterase e a insulina aumenta a atividade desta enzima, induzindo o bloqueio da glicogenólise. se a outra triose formando uma terceira glicose. Ciclo de Krebs O Ciclo de Krebs (assim denominado em homenagem ao bioquímico alemão Hans Krebs que estabeleceu, em 1937, as seqüências de reações a partir de estudos preliminares), também chamado Ciclo do Ácido Tricarboxílico ou Ciclo do Ácido Cítrico, é a mais importante via metabólica celular. Ocorre sob a regência de enzimas mitocondriais, em condições de aerobiose, após a descarboxilação oxidativa do piruvato a acetil-CoA, após o final da glicólise. A acetil-CoA também é originária da degradação de ácidos graxos (beta- oxidação) a partir da mobilização dos triglicerídeos armazenados nos adipócitos e também dos aminoácidos originários da degradação das proteínas (alanina, treonina, glicina, serina, cisteína, fenilalanina, tirosina, leucina, lisina e triptofano). Corpos cetônicos também podem ser degradados em acetil-CoA e aproveitados pelos músculos e neurônios. Todos esses compostos (principalmente os ácidos graxos) são sintetizados a partir da acetil-CoA e por isso podem ser convertidos nela quando há necessidade energética. Entretanto, isto não é verdade para todas as moléculas originárias da acetil-CoA, como é o caso do colesterol que não possui função energética, correspondendo, portanto a um “beco sem saída” do metabolismo energético a partir da acetil-CoA. O Ciclo de Krebs está associado a uma cadeia respiratória, ou seja, um complexo de compostos transportadores de prótons (H+) e elétrons que consumem o oxigênio (O2) absorvido por mecanismos respiratórios, sintetizando água e gerando ATPs através de um processo de fosforilação oxidativa. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 30 Esses processos ocorrem dentro das mitocôndrias, com as enzimas do Ciclo de Krebs dispersas na matriz e os transportadores de elétrons estão fixos na cristas mitocondriais. As mitocôndrias possuem uma estrutura de membrana peculiar que a assemelha a um organismo particular vivendo dentro de uma célula estranha. De fato, o DNA mitocondrial apresenta diferenças notáveis em relação ao DNA nuclear, assemelhando-se mais com bactérias do que com o próprio organismo na qual estão inseridas, sugerindo que a sua origem é resultante de um processo de endosimbiose ocorrido nos primórdios da evolução. A membrana externa das mitocôndrias é bastante permeável às moléculas que servem de substratos para as reações energéticas (piruvato, acetil-CoA, ácidos graxos ativados), porém a membrana interna corresponde a uma barreira para a entrada dessas moléculas para o interior da mitocoôndria. É na membrana interna que estão localizadas proteínas especializadas em introduzir os substratos citoplasmáticos para o interior, denominadas genericamente como lançadeiras de substratos que proporcionam a seleção das moléculas a serem degradadas pelas enzimas mitrocondriais. Dependendo do tipo de lançadeira, tem-se processos distintos de captação de moléculas do citoplasma, ou de saída de compostos da matriz mitocondrial para o citoplasma. O Ciclo de Krebs inicia-se com a união de uma molécula de acetil-CoA (2C) com uma de oxalacetato (4C) gerando o citrato (6C) que possui três carboxilas. Metabolismo Hepático O fígado é um dos mais complexos órgãos e possui funções essenciais em todas as fases do metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e hormônios. Além disso, exerce papel indispensável na filtração e armazenamento de sangue, degradando xenobióticos (compostos estranhos ao organismo, por exemplo medicamentos e drogas tóxicas) e sintetizando e excretando a bile. Armazena, ainda, vitamina D, A e B12 (por 4, 10 e 12 meses, respectivamente) e ferro (ligado à proteína ferritina) e atuam na síntese das proteínas plasmáticas e fatores da coagulação. A quantidade de sangue que flui para o fígado é muito alta (cerca de 1.450 ml/min), embora a sua resistência física a este fluxo seja relativamente baixa, o que faz com que qualquer problema que aumente a pressão sangüínea hepática acarrete em lesão hepática, bem como uma diminuição do fluxo por processos obstrutivos obriga com que haja desvio do sangue destinado ao fígado para circulações colaterais. Os capilares sinusóides do fígado são bastante permeáveis o que permite um grande fluxo para os dutos linfáticos, sendo responsável por cerca da metade da linfa existente no ser humano. Logo, um aumento da pressão sangüínea hepática induz aumento da formação de linfa. Cassia F. D. Bassan UNIMAR- 2014 __________________________________________________________________________________________________________ Apostila de Química e Bioquímica-------------------------------------------------------------------------------- 31 BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO HEPÁTICA O fígado é o maior órgão do ser humano e é responsável pela síntese da maioria das proteínas plasmáticas, realizando a depuração de substâncias tóxicas das mais diversas origens em virtude da presença de inúmeras enzimas localizadas nos hepatócitos. Está localizado no quadrante superior direito do abdômen e apresenta intensa irrigação sangüínea proveniente da artéria hepática e veia porta. A artéria hepática é responsável pela nutrição dos hepatócitos e a veia porta drena o sangue do trato gastrinestinal, levando ao fígado todos os nutrientes absorvidos no processo digestivo para serem metabolizados (com exceção dos lipídios que são drenados pelo sistema linfático). Vários tipos de células estão envolvidas no funcionamento hepático, como as do sistema circulatório, dos canalículos e canais biliares e células de Kupffer células conjuntivas. porém são os hepatócitos os responsáveis pelo grande número de funções metabólicas hepáticas. Os hepatócitos comunicam-se com a circulação sangüínea (arterial e venoso) e com o sistema digestivo através de canalículos biliares que origina o duto biliar por onde excreta, através da bile, dejetos metabólitos (p.ex.: bilirrubina) ou substâncias digestivas de grande importância biológica (p.ex.: sais biliares). O duto biliar une-se ao duto pancreático recebendo o suco pancreático, o qual despeja seu conteúdo (bile e suco pancreático) no duodeno através do duto hepato-pancreáticoou colédoco. O estudo da concentração plasmática de elementos bioquímicos próprios do hepatócito ou provenientes do metabolismo hepático, fornece parâmetros valiosos na avaliação da função hepática no que diz respeito a doenças direta ou indiretamente relacionadas com o fígado. Os testes laboratoriais mais empregados na avaliação da função hepática são as dosagens das concentrações plasmáticas de bilirrubinas, transaminases (aminotransferaes), fosfatase alcalina, gama-glutamil- transferase (gama-GT ou GGT), proteínas totais, albumina, protrombina, amônia, ácidos biliares. Outras dosagens são auxiliares no diagnóstico da função hepática como é ocaso da pesquisa de marcadores virais para hepatite. Porém, freqüentemente, há a necessidade da execução de exames complementares de diagnóstico por imagem (p.ex.: ultra-som, tomografia computadorizada, raios-x de contraste) ou mais invasivos (p.ex.: biópsia hepática, punção peritoneal), aliados a uma investigação clínica severa, o que torna o diagnóstico clínico-laboratorial da função hepática bastante complexo e sujeito à interpretação clínica como o ponto crucial do diagnóstico, o que torna o papel do laboratório indispensável fornecendo o máximo de dados para a conclusão diagnóstica e para a avaliação da evolução da doença
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