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psicopatas homicidas e o direito penal brasileiro

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PSICOPATAS HOMICIDAS E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
LEMES, Érika Camargos[1: Acadêmico do 10º período do Curso de Direito do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde. E-mail: chrysthyanesb@gmail.com.]
1 INTRODUÇÃO
O estudo da relação entre a psicopatia e a forma como o Direito Penal Brasileiro trata o comportamento do indivíduo psicopata é, indubitavelmente, uma importante questão a ser abordada no que se refere à aplicabilidade da lei penal em casos concretos, principalmente quando se trata de homicídio cometido por esses indivíduos.
Tanto a psiquiatria forense, voltada para o ramo da criminologia, quanto o Direito Penal Brasileiro, elencam elementos que podem fornecer material de extrema relevância para que os magistrados possam realizar uma análise acirrada do delinquente psicopata. Assim, a atuação do Direito Penal Brasileiro em relação aos crimes cometidos por psicopatas homicidas é o tema central do presente estudo. A pesquisa foi dividida em seções para o maior entendimento do leitor. 
Na primeira seção do artigo, encontra-se abordado o que é a psicopatia, seus diversos nomes ao longo da história, bem como as suas principais características.
Posteriormente, na segunda seção, a pesquisa está focada na definição do que é considerado crime pelo Direito Penal Brasileiro e o que abrange em sua conduta. A seção aborda, ainda, os conceitos e aplicabilidades da imputabilidade, da semi-imputabilidade e da inimputabilidade, tanto em relação ao psicopata como em relação ao doente mental, visto que essas são duas condições extremamente diferentes. 
O psicopata tem plena consciência de seus atos, enquanto o doente mental não possui discernimento sobre o que é certo e errado. A terceira seção ressalta também a questão de medida de segurança e as instituições de exclusão, como forma de ressocialização desses indivíduos. 
Na quarta seção, bastante influenciada pela anterior, trata-se da responsabilidade penal do psicopata, bem como da resposta que o Direito Penal vem oferecendo para os crimes, principalmente em casos de homicídios.
2 PSICOPATIA
2.1 CONCEITOS GERAIS
A psicopatia e a sociopatia, desde que foram descritas pela primeira vez, em 1835, vêm recebendo nomes diversos, entre os quais estão loucura moral; loucura lúcida, nome cunhado no século XIX e criminoso nato. Essas nomenclaturas, para Palomba (2016), relatam exatamente o significado de transtorno. Independentemente da nomenclatura usada, o quadro clínico desses indivíduos é sempre o mesmo. Palomba (2016) assinala que o psicopata se encontra em uma zona fronteiriça entre a normalidade e a loucura, uma vez que esses indivíduos não são mentalmente normais e nem totalmente doentes mentais. O psicopata não rompe com a realidade, assim, ele não sofre de nenhuma psicose. É um indivíduo inteligente, com capacidade articular e de viver em sociedade, manipulando-a de acordo com as suas vontades, tendo em vista sua baixa moralidade. (PALOMBA, 2016).
Silva (2014) ensina que o psicopata já nasce com suas características de ser e de enxergar o próximo. Dessa forma, enxergar o outro, sem atribuir a este nenhum valor, faz com que o psicopata aja de forma a considerar qualquer um como objeto de seu prazer, de sua diversão e de seu poder. Ele se isenta de qualquer sentimento de culpa em relação aos seus atos. 
Devido à falta de moralidade, esses indivíduos são pessoas inescrupulosas, podendo inclusive assumir altos cargos na política, em empresas privadas, na Igreja, entre outros setores. O psicopata pode evoluir em seu quadro, tornando-se um pedófilo ou um político corrupto e manipulador, chegando até a cometer crimes hediondos e assassinatos em série. (SILVA, 2014).
2.2 CARACTERÍSTICAS DO PSICOPATAS
Segundo Palomba (2016), os psicopatas nascem com determinadas características e vivem toda sua vida com elas. Sua personalidade é alternante, pois são, aparentemente, indivíduos bons, sedutores, entretanto eles atacam quando a situação em que se encontram se mostra favorável a eles. Assim, podem escoar toda a maldade inerente à sua personalidade. São também indivíduos covardes nas situações que os ameaça e se as suas possíveis vítimas forem pessoas que podem se defender, eles não fazem absolutamente nada.
Para Garrido (2005), os psicopatas são indivíduos muito racionais, com plena consciência de suas atitudes e motivação para praticá-las. Por essa razão, estão muito distantes, conceitualmente, dos portadores de psicoses. Os psicopatas agem de acordo com as escolhas realizadas livremente por eles mesmos, sendo capazes de diferenciar entre certo e errado. Porém, emocionalmente, eles não possuem a sensação do que é certo e errado. 
Segundo Silva (2014, p. 19):
É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e grave. Os primeiros dedicam-se a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não “sujarão as mãos de sangue” nem matarão suas vítimas. Já os últimos botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer em seus atos brutais.
Nesse sentido, pode-se perceber que por onde um indivíduo com características de psicopatia passar, ele deixará um rasto de destruição, independentemente do grau de sua psicopatia.
Os psicopatas são inteligentes e de raciocínio rápido, porém quando comparados a pessoas com cérebros normais, apresentam deficiência no campo afetivo, com menor atividade nas estruturas ligadas às emoções e maior atividade nas estruturas ligadas à razão. Assim, não podem ser considerados loucos. (SGARIONI, 2009).
Segundo Sabatini (1998), dentre as principais características dos psicopatas estão: charme superficial, boa inteligência, mentiras, apatia geral sobre relacionamentos; e impulsividade. Dentre os comportamentos apresentados por esses indivíduos contam: extravagância após a ingestão de bebidas alcóolicas; comportamento antissocial desmotivado; falta de aceitação de erros próprios; inaptidão em aprender com experiências; e egocentrismo patológico. Todos esses comportamentos fazem parte do rol de seus comportamentos inadequados.
3 O PSICOPATA NO ATUAL REGIME JURÍDICO BRASILEIRO
3.1 DEFINIÇÃO DE CRIME
O conceito analítico de crime é entendido como a conduta típica, por existir dispositivo legal prevendo que determinada que a conduta é vedada, antijurídica, por ser fato ilícito, contrário ao ordenamento jurídico, e culpável. Assim crime é caracterizado pela imputabilidade, consciência da antijuricidade e exigibilidade da conduta segundo o Direito (GRECO, 2017).
Dessa forma, quando o indivíduo pratica uma conduta típica, antijurídica e culpável, diz-se que ele praticou um crime. E, para que seja responsabilizado penalmente pelo crime que cometeu, é necessário que seja imputável (GRECO, 2017).
Segundo Puig (2007), o crime se define como a conduta que pode vir a ameaçar ou a lesionar a integridade dos bens jurídicos tutelados, ações consideradas criminosas e sujeitas a sanções previstas em Lei.
O crime abrange os comportamentos agressivos, cruéis e merecedores de punição, determinados pelo Direito Penal, que também se responsabiliza por aplicar as penas e avaliar as medidas de segurança atribuídas aos responsáveis pelos comportamentos indevidos e criminais. (GRECO, 2017).
3.2 IMPUTABILIDADE, SEMI-IMPUTABILIDADE E INIMPUTABILIDADE 
Os fatos sociais da vida comum são, em sua maioria, sem grande importância penal. Contudo, quando esses fatos ameaçam lesionar ou lesionam algum dos bens como a vida, a incolumidade físico-psíquica e a propriedade alheias, eles passam a ser passíveis de punição e previstos nas leis penais. Dessa forma, conforme o núcleo penal incriminador, o indivíduo está cometendo um crime. (GRECO, 2017).
O termo imputável consiste em tornar possível outorgar o fato indevido ao praticante, assim como a capacidade de compreender as proibições ou determinações jurídicas, conferindo reconhecimento ao praticante do ato, para que este possa ser responsabilizado penalmente (GRECO,2017).
A compreensão dos fatores morais e estímulos que conduzem um indivíduo a cometer um crime integram um respeitável assunto tratado pelo Direito Penal, instituído com o intuito de defender os bens primordiais para a sobrevivência do indivíduo e da comunidade que o cerca. A extensão da culpa se encontra restringida à maturidade mental, buscado compreender o caráter criminoso do fato, por meio do estudo das condições pessoais que levam o indivíduo praticante ao estado completo da capacidade intelectual. Dessa forma, a maturidade e a sanidade mental são fatores efetivos na averiguação dos níveis de culpabilidade penal. (FRANÇA, 2004).
Segundo o artigo 26 do Código Penal Brasileiro:
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Nesse sentido, pode-se perceber que o indivíduo portador de doença mental incompleta ou desenvolvimento mental atrasado é absolutamente incapaz de compreender o perfil ilícito do fato ou mesmo de determinar-se segundo esse entendimento, ficando, assim, isento de pena.
Dessa forma o legislador deverá adotar o critério biopsicológico para que possa aferir a inimputabilidade ao agente criminoso. Entretanto, o código legal não prevê quais são as doenças mentais, ficando a cargo de um psiquiatra forense deliberá-las. A consequência prática para os indivíduos que cometem atos criminosos, mas que são considerados incapazes de responder por si mesmos, é a sujeição de uma medida de segurança, que pode se caracterizar por: tratamento ambulatorial; internação em hospital de custodia; e tratamento para casos típicos que a Lei previa detenção, mas não a condenação penal. (GOMES, 2010).
Ainda embasado no artigo 26 do Decreto-lei 2.848/1940, do Código Penal Brasileiro, semi-imputáveis são todos os indivíduos que possuem sua capacidade de entendimento diminuta ou reduzida, porém que não são totalmente incapazes de entender o caráter ilegítimo do fato e também não podem ou conseguem se comportar de acordo com esse entendimento. Entretanto, esses indivíduos não chegam também a ser inteiramente capazes. Destarte, a imputabilidade é a consequência da semi-imputabilidade, na qual o infrator sofre a condenação, porém com pena reduzida de um a dois terços. (GOMES, 2010).
Para Silva (2014), os psicopatas são indivíduos muito racionais e inteligentes dentro de suas articulações; são possuidores de plena consciência de seus atos e de suas motivações ao praticá-las. Dessa forma, estão muito distantes conceitualmente dos portadores de psicoses. Os psicopatas agem de acordo com as escolhas motivadas por seu livre-arbítrio, pois eles possuem a capacidade de diferenciar entre certo e errado. No entanto, são emocionalmente indiferentes aos sentimentos alheios e não possuem a sensação do que é certo ou errado. 
Ao contrário dos esquizofrênicos ou dementes, os psicopatas entendem que suas ações são contraditórias às Leis, mas isso não é motivo suficiente detê-los de cometer um crime. Eles afirmam que matar é errado, possuem consciência do sentido desse ato para as pessoas comuns e, ainda assim, matam, justamente pela falta de emoções pertencentes à sua natureza. (SILVA, 2014).
A inimputabilidade prevista no artigo 26 do Código Penal, não pode ser aplicada em casos de psicopatia, pois esta não é entendida como doença mental. Isso faz com que o psicopata seja condenado pelo ordenamento jurídico brasileiro caso seja comprovado que ele cometeu crime. Entretanto, a aplicação da condenação é bastante duvidosa por dispor sobre os semi-imputáveis, pois a psicopatia pode ser classificada como transtorno de personalidade, o que põe em dúvida se o criminoso tem ou não a capacidade de entender sobre ato cometido (GOMES, 2010).
3.3 MEDIDA DE SEGURANÇA
Uma outra forma de ressocialização que não surte efeitos para os psicopatas é a medida de segurança, pois esta acaba quando o indivíduo está curado. E para a psicopatia não há cura. Além disso, no Brasil, a prisão perpétua infringe os Direitos Humanos e não pode ser aplicada. (MITJAVILA, 2015).
As medidas de segurança estão previstas nos artigos 96 e 97 do Código Penal e abrangem internação ou tratamento ambulatorial. O que determina o tratamento adequado é a periculosidade do sujeito.
Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Imposição da medida de segurança para inimputável.
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
A medida de segurança surgiu a partir do diagnóstico do perigo que cerca os psicopatas, como instrumento confirmatório da necessidade de punição para esses indivíduos semi-imputáveis, quando necessitam de tratamento especial curativo. Para os psicopatas, a medida de segurança é diferenciada da demais sanções no que se refere ao espaço e ao tempo de cumprimento. Em homicídios simples, a pena mínima é de seis anos e a máxima é de vinte anos. A medida de segurança possui um tempo mínimo de um a três anos, ela não possui tempo máximo limite, podendo se prolonga até a verificação do perigo oferecido pelo indivíduo (GOMES, 2010).
3.4 INSTITUIÇÕES DE EXCLUSÃO
Para Mitjavila (2015), a prisão só serve para potencializar as maldades do psicopata, pois nesse ambiente ele pode provocar rebeliões, induzir outros presos a cometerem diversos delitos e utilizar de suas artimanhas para conseguir redução de pena. O Brasil ainda não é um país suficientemente desenvolvido para fazer testes em todos os delinquentes de forma a separá-los dos criminosos comuns. Essa condição gera uma grande lacuna na punição dos psicopatas. Dessa maneira, é perceptível que as medidas adotadas até o momento são ineficazes, existindo milhões de psicopatas à solta devido à falta de punição. (MITJAVILA, 2015).
4 PSICOPATAS HOMICIDAS E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
4.1 A RESPONSABILIDADE PENAL DOS PSICOPATAS
O Direito Penal foi criado com o objetivo de proteger os bens mais necessários e importantes para a sobrevivência da própria sociedade, bem como dos indivíduos que compõem a sociedade. (GRECO, 2017).
Bens jurídicos como a vida, a incolumidade física e psíquica e a propriedade, são totalmente tutelados pelo Direito Penal como última ratio, assim como a maioria de outros bens já protegidos por outras áreas do Direito. Dessa forma, é o Direito Penal que define o que são crimes, cominando penas e prevendo medidas de segurança que podem ser aplicadas aos autores de condutas indiscriminadas. (SANTOS, 2008).
Como já dito anteriormente, nem todos os psicopatas cometem crimes como homicídio, entretanto podem causar diversas perturbações em seus trabalhos, negócios e até mesmo entre seus familiares. Para esses indivíduos, existem as medidas judiciais, que podem prevenir a presença próxima de alguns psicopatas. Porém, de forma geral, o Direito Brasileiro não tem muitas respostas para graus de psicopatia em que o sujeito não chega a cometer propriamente um crime, mas também não consegue viver harmoniosamente com seus pares. (CAMARA, 2010).
Assim, tanto a jurisprudência quanto a doutrina no Brasil pouco se manifestam sobre a imputabilidade do psicopata. Porém, para Mirabete (1999), os psicopatas, assim como os portadores de neuroses e de personalidades psicopáticas, de forma geral, são psiquicamente capazesde entender e autodeterminar suas ações conforme as regras sociais, mesmo que não de maneira plena, como indivíduos tidos como normais. Essa situação os deixa vulneráveis à condenação, porém, em muitas vezes, com a pena reduzida conforme o artigo 26 do Código Penal.
A crise vivida nos parâmetros brasileiros, sobre como aplicar uma pena ao indivíduo que apresenta personalidade antissocial, corrobora para atual posição da justiça que, por sua vez, entende que, pelo fato se tratar de um semi-imputável, pode-se aplicar a medida de segurança. As principais punições dadas a esses indivíduos são inócuas, pois eles não conseguem aprender com os próprios erros para se ressocializarem e aprenderem a viver em sociedade. (SZKLARZ, 2010).
Dessa forma, para Garrido (2005), encarar o psicopata como imputável é a melhor alternativa. Eles compreendem a ilicitude de seus atos e agem com tal conhecimento. Sua capacidade intelectual e volitiva é perfeitamente intacta, o que torna inaplicável a isenção penal, pois esta requer a isenção da cognição da ilicitude da ação. O psicopata sabe claramente o que é certo e errado, entendem que as ações criminosas, principalmente nos casos de homicídio doloso, são contra a lei e agem, mesmo assim, de forma intencional e voluntária. 
Visto que a psicopatia está entre as anormalidades da personalidade que mais apresentam riscos à sociedade, a junção entre psiquiatria e o Poder Judiciário, mesclando tratamento e punição, certamente seria mais eficaz no controle social desses indivíduos, cujos comportamentos são irregulares e prejudiciais à sociedade. (SZKLARZ, 2010).
Um dos fatores que torna moroso o sistema penal brasileiro é a inexistência de verbas suficientes para contratar peritos qualificados e capazes de utilizar a tabela PCL-R ou alguma outra parecida, para constatar a psicopatia no indivíduo. Além da sobrecarga de processos no Judiciário, a ausência de máquinas de ressonância, geralmente importadas, e o alto custo de preparo de operadores qualificados para a análise cerebral do indivíduo impedem o prognóstico de um psicopata, o que impossibilita dar a necessária atenção para cada caso de suspeita de psicopatia. (SZKLARZ, 2010).
O Juiz pode condenar o psicopata como infrator e possuidor de plena consciência de seus atos, porém é incapaz de controlá-lo. A Justiça pode reduzir sua pena de um a dois terços ou enviá-lo para um hospital de detenção, caso considere que existe tratamento. Contudo, no Brasil, não existe prisão especial para o psicopata, que deve permanecer preso junto aos criminosos comuns. Percebe-se, então, que o Judiciário Brasileiro é completamente despreparado para fazer uso das técnicas da Psicologia Forense, uma vez que as penas podem ser reduzidas em casos nos quais os criminosos se comportem bem (SZKLARZ, 2010).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde que foi descrita pela primeira vez, em 1835, a psicopatia vem recebendo diversos nomes, tais como loucura moral e sociopatia. Entretanto, o termo sociopatia foi cunhado no século XIX, quando se acreditava que o indivíduo nascia bom, sendo a sociedade e vida as responsáveis por moldá-lo. Atualmente, sabe-se que nem todas as pessoas nascem dotadas de bondade e o psicopata já nasce com suas características próprias e modo de enxergar tanto o mundo quanto o próximo.
O psicopata não é um doente mental, pois não rompe com a realidade como o fazem os esquizofrênicos e dementes. Ele possui plena capacidade de entendimento de seus atos, articulando e manipulando a realidade conforme as suas vontades. São possuidores de discernimento sobre o que é certo e errado e podem, inclusive, afirmar que matar é errado, pois possuem plena consciência do sentido desse ato. No entanto, ele não possui emoção que o impeça de matar. 
No Brasil, há alguns impeditivos para aplicar sanções aos psicopatas: não há recursos para realização de exames; as máquinas de ressonância são importadas e de custo alto; e não há verbas para contratação de peritos qualificados para utilizar a tabela PCL-R (de diagnóstico da psicopatia) ou qualquer outra similar. Assim, fica a cargo do Juiz a melhor forma de julgar esses indivíduos. Tanto a jurisprudência quanto a doutrina no Brasil pouco se manifestam sobre a imputabilidade do psicopata. Inclusive, em diversos casos mostrados na mídia nacional, esses indivíduos são jugados e condenados como sujeitos imputáveis que são. 
Visto que a psicopatia não tem cura, atribuir penas leves aos portadores desse transtorno e classificá-los como doentes mentais, sabendo que eles são conscientes de seus atos e desprezam a dor e sofrimento dos demais seres vivos, apenas abrandaria a pena para esses criminosos, principalmente quando se trata dos psicopatas homicidas. 
Por outro lado, as instituições de exclusão, como as prisões e hospitais psiquiátricos, não agregam melhoras a essas pessoas. O regime carcerário no Brasil apenas funciona como escola para os psicopatas, de onde eles saem piores e mais refinados do que entraram. Geralmente, eles não se arrependem do mal que fizeram, mas se arrependem do erro que cometeram e que os levaram à prisão enquanto cometiam alguma maldade.
Dessa forma, diante da justiça brasileira, não há nada que impeça o juiz de julgar e condenar o psicopata por seus erros cometidos, possuidor de discernimento, porém incapaz de controlar seus impulsos, reduzindo assim sua pena de um a dois terços do total. Entretanto como não existem prisões especiais, o único recurso são as prisões comuns, junto com demais criminosos, o que mostra o despreparo da justiça brasileira no que tange aos homicídios cometidos pelos psicopatas. 
PSICOPATAS HOMICIDAS E O DIREITO PENAL BRASILEIRO
RESUMO
O presente estudo busca mostrar a resposta dada pelo Direito Penal Brasileiro à sociedade, no que se refere às inúmeras atrocidades criminosas, especialmente os crimes de homicídio, cometidos pelo indivíduo psicopata. A princípio, a pesquisa de cunho bibliográfico aborda o que é a psicopatia bem como suas principais características, definindo o indivíduo psicopata e elucidando que a psicopatia não é uma doença mental. Posteriormente, o trabalho aborda a psicopatia sob a ótica do Direito Penal Brasileiro, no que tange às leis bem como sua ausência, demostrando o tratamento dispensado pelo ordenamento jurídico brasileiro. O trabalho foi realizado por meio de revisão de literatura. É uma pesquisa de cunho qualitativo, na qual foram levantados diversos trabalho de autores renomados e conceituados, tanto nacional quanto internacionalmente. 
Palavras-chave: Psicopatas. Imputabilidade. Direito Penal Brasileiro. Inimputabilidade.
PSYCHOPATAS HOMICIDAS AND THE BRAZILIAN CRIMINAL LAW
ABSTRACT
The present study seeks to show the response given by the Brazilian Criminal Law to the society, regarding the numerous criminal atrocities, especially the crimes of homicide, committed by the individual psychopath. At first, bibliographic research deals with what is psychopathy as well as its main characteristics, defining the psychopathic individual and elucidating that psychopathy is not a mental illness. Subsequently, the work approaches psychopathy from the point of view of Brazilian Criminal Law, regarding the laws as well as their absence, demonstrating the treatment provided by the Brazilian legal system. The work was carried out through a literature review. It is a qualitative research, in which several works of renowned and respected authors were raised, both nationally and internationally.
Keywords: Psychopaths. Imputability. Brazilian Criminal Law. Incomputability.
PSICOPATAS HOMICIDAS Y EL DERECHO PENAL BRASILEÑO
RESUMEN
El presente estudio busca mostrar la respuesta dada por el Derecho Penal Brasileño a la sociedad, en lo que se refiere a las innumerables atrocidades criminales, especialmente los crímenes de homicidio, cometidos por el individuo psicópata. En principio, la investigación de cuño bibliográfico aborda lo que es la psicopatía así como sus principales características, definiendoal individuo psicópata y aclarando que la psicopatía no es una enfermedad mental. Posteriormente, el trabajo aborda la psicopatía bajo la óptica del Derecho Penal Brasileño, en lo que se refiere a las leyes así como su ausencia, demostrando el tratamiento dispensado por el ordenamiento jurídico brasileño. El trabajo fue realizado por medio de revisión de literatura. Es una investigación de cuño cualitativo, en la cual se levantaron diversos trabajos de autores renombrados y conceptuados, tanto nacional como internacionalmente.
Palabras clave: Psicopatas. Responsabilidad. Derecho Penal
Érika Camargos Lemes /erikacamargos30@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-4480-2710
Engenheira Mecânica - UNIRV –Universidade de Rio Verde
Pedagoga – Faculdade Geremário Dantas
MBA em Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental –Faculdade Alfa 
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional
Rua RG 08 Qd 18 Lt 12 Residencial Gameleira 2 Rio Verde – Goiás
CEP: 75906-860
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