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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL PROJETO DE CONTENÇÃO DE TALUDE Franciele Lorenzi Lajeado, dezembro de 2016. 2 Franciele Lorenzi PROJETO DE CONTENÇÃO DE TALUDE Projeto de pesquisa apresentado na disciplina de Metodologia de Pesquisa, do curso de Engenharia Civil, do Centro Universitário Univates, como requisito para obtenção da nota do semestre. Orientador: Prof. M.Sc. Rodrigo Santiago Silveira Lajeado, dezembro de 2016. 3 RESUMO O estudo sobre a estabilização de taludes é componente importante dos projetos de rodovias, pois escorregamentos podem causar sérios problemas, principalmente em épocas chuvosas. Através de estudos sobre o solo, o clima, a vegetação, e os limitantes geométricos, foi possível definir a melhor solução para a estabilização do talude em um trecho da rodovia RS 129, onde ocorreu um escorregamento de massa que provocou o bloqueio total da via. O método utilizado para a contenção do talude foi o muro de gabião do tipo caixa que se mostrou eficiente, não só pela questão econômica, mas também pela rápida execução, não exigindo mão de obra especializada e podendo entrar em funcionamento logo após o preenchimento dos gabiões, causando pouco impacto ao meio ambiente, e permitindo que o ecossistema do local se recupere rapidamente. Palavras-chave: Talude. Estabilização. Muro de gabião. Rodovia. 4 ABSTRACT The study on slope stabilization is an important component of road projects, as slides can cause serious problems, especially in rainy seasons. Through soil, climate, vegetation, and geometric constraints studies, it was possible to define the best solution for slope stabilization in a section of the RS 129 highway, where a mass slippage occurred that caused total blockage of the roadway. The method used to contain the slope was the box-type gabion wall that proved to be efficient, not only for the economic issue, but also for the fast execution, not requiring skilled labor and can be put into operation soon after filling gabions, causing little impact to the environment, and allowing the local ecosystem to recover quickly. Keywords: Slope. Stabilization. Gabion wall. Highway. 5 LISTA DE FIGURAS Figura 01: Elementos constituintes dos gabiões tipo caixa. .................................................... 16 Figura 02: Elementos constituintes dos gabiões tipo saco ....................................................... 16 Figura 03: Elementos constituintes dos gabiões tipo colchão .................................................. 16 Figura 04: Representação de um muro de gabiões ................................................................... 17 Figura 05: Localização da área de estudo ................................................................................. 18 Figura 06: RS 129 bloqueada após o escorregamento de massa .............................................. 19 Figura 07: Vista frontal do talude ............................................................................................. 20 Figura 08: Vista lateral do talude ............................................................................................. 21 Figura 09: Esquema demonstrando as dimensões do talude. ................................................... 21 Figura 10: Distribuição dos gabiões ......................................................................................... 23 6 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Classificação quanto à velocidade do movimento de massa .................................. 10 Tabela 02: Classificação quanto à profundidade da massa deslocada...................................... 11 Tabela 03: Características do gabião. ....................................................................................... 22 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8 2 METODOLOGIA .................................................................................................................. 9 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 10 3.1 Tipos de movimento de massa ......................................................................................... 10 3.1.1 Rastejamento .................................................................................................................. 11 3.1.2 Corridas de massa ......................................................................................................... 11 3.1.3 Escorregamento ............................................................................................................. 12 3.1.4 Queda de bloco ............................................................................................................... 12 3.2 Tipos de estruturas de contenção .................................................................................... 12 3.2.1 Muro de arrimo de concreto armado .......................................................................... 13 3.2.2 Muro de pneus ............................................................................................................... 13 3.2.3 Muros com reforços poliméricos .................................................................................. 14 3.2.4 Solo Grampeado ............................................................................................................ 14 3.2.5 Cortina Atirantada ........................................................................................................ 14 3.2.6 Muro de Gabiões ............................................................................................................ 15 4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 18 5 ELABORAÇÃO DO PROJETO DE CONTENÇÃO ..................................................... 20 5.1 Estudo Preliminar............................................................................................................. 20 5.2 Dimensionamento da estrutura de contenção ................................................................ 21 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 26 7 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 27 8 1. INTRODUÇÃO Escorregamento de talude é um problema rotineiro para profissionais da Engenharia Civil, seja em uma encosta natural, ou então em intervenções humanas, muitas vezes causando sérios problemas principalmente em épocas chuvosas, quando as encostas tornam-se mais vulneráveis a escorregamentos, devido ao aumento da poro-pressão, que consequentemente reduz a resistência do solo ao cisalhamento. Principalmenteem rodovias a ocorrência de escorregamento de encostas é muito elevada, causando destruição e muitos prejuízos financeiros, sendo de suma importância a escolha do melhor projeto de contenção e estabilização de taludes nesses locais. Os projetos de contenção e estabilização de taludes são elaborados a partir de estudos geotécnicos, características do terreno, e recursos financeiros disponíveis. Dentre as possíveis soluções podemos adotar estruturas de alvenaria ou concreto como, por exemplo, muros de arrimo, estruturas chumbadas ou ancoradas, ou ainda, dispositivos de reforço como, por exemplo, telas de aço galvanizado, chumbadores e tirantes protendidos, gabiões, geotêxteis, geossintéticos, materiais recicláveis ou vegetação. O presente estudo tem o objetivo de definir a melhor solução de estabilização para determinado trecho de uma rodovia, apresentando a estrutura executada, e avaliando se o método empregado foi a melhor solução para o local. 9 2. METODOLOGIA Para alcançar o objetivo apresentado foram realizadas visitas ao local de estudo, elaboração de um estudo preliminar do local, e posteriormente a definição do projeto de uma estrutura de contenção para o talude exposto. 10 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Tipos de movimento de massa Os movimentos de massa são todos os deslocamentos de determinado volume de solo ou rocha, e podem ser desencadeados por fatores físicos e bióticos que diminuem sua resistência, podendo ser influenciados pela vegetação, pelo clima e pela declividade e estabilidade das encostas. Os movimentos de massa são classificados de acordo com a velocidade e o tipo de material transportado, podendo ser um rastejamento, corridas de massa, escorregamento ou queda de blocos. Abaixo (tabelas 01 e 02) são apresentadas as classificações dos movimentos de massa quanto à velocidade, e quanto à profundidade da massa deslocada. Tabela 01 - Classificação quanto à velocidade do movimento de massa. Nomenclatura Velocidade Extremamente rápido > 3 m/s Muito rápido 0,3 m/mim a 3 m/s Rápido 1,5 m/dia a 0,3 m/mim Moderado 1,5 m/mês a 1,6 m/dia Lento 1,5 m/ano a 1,6 m/mês Muito lento 0,06 m/ano a 1,6 m/ano Extremamente lento < 0,6 m/ano Fonte: Varnes (1978). 11 Tabela 02 - Classificação quanto à profundidade da massa deslocada. Nomenclatura Profundidade Superficial < 1,5 m Raso 1,5 m a 5m Profundo 5 m a 20 m Muito profundo > 20 m Fonte: GeoRio (1999; apud Rocha, 2009). 3.1.1 Rastejamento O rastejamento apresenta movimentos lentos (1,5 m/ano a 1,6 m/mês) e contínuos, e sem superfície de ruptura bem definida, podendo atingir grandes áreas. Os movimentos são provocados pela ação da gravidade, associada à variação da temperatura e umidade (GERSCOVICH, 2012). De acordo com Guidicini e Nieble (1984), regiões com cobertura generalizada de solos residuais e acumulações de tálus representam um meio ambiente ideal à existência de rastejamentos. Os rastejamentos apresentam prejuízos somente no setor agropecuário, sem perigo à vida humana. 3.1.2 Corridas de massa As corridas de massa apresentam movimentos de alta velocidade (1,5 m/dia a 0,3 m/min) e de grandes volumes, causados pelo excesso de água em períodos de precipitação intensa, onde o solo perde todas as características de resistência, passando a se comportar como um fluido. A movimentação do solo se divide em três elementos, a região que concentra o material que se deslocará, é denominada raiz, a parte central, denomina-se corpo, e a área de acumulação final do material transportado, localizada na região mais baixa do vale, denomina- se base (GERSCOVICH, 2012). 12 As corridas de massa oferecem perigo de vida para residências em áreas a jusante do movimento, e ao longo de arroios e rios. 3.1.3 Escorregamento Guidicini e Nieble (1984) afirmam que os escorregamentos “são rápidos, de duração relativamente curta, de massas de terreno geralmente bem definidas quanto ao seu volume, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora do talude”. A infiltração da água da chuva associada à execução de cortes com altura ou inclinação incorreta, podem ser as causas de muitos escorregamentos. Nesses casos a cobertura vegetal pode ser desfavorável para a estabilidade da encosta, pois aumenta significativamente o peso sobre o talude, ainda, a ação do vento sobre as copas e caules quando transmitido ao solo pode gerar uma tensão adicional, contribuindo para a instabilidade. Os escorregamentos oferecem perigo de vida somente em áreas adjacentes. 3.1.4 Queda de bloco Na queda de bloco os movimentos são verticais e geralmente em alta velocidade, envolvendo a ruptura de um bloco de rocha exposto, normalmente em cortes de estradas. São movimentos de massa ocasionados pela ação do intemperismo ou por ação da gravidade. As quedas de bloco possuem perigo de vida somente na parte localizada junto à parede vertical. 3.2 Tipos de estruturas de contenção A estrutura de contenção tem a função de conter o solo ou a rocha, que passou por algum tipo de escavação, corte ou aterro, evitando que o mesmo deslize ou rompa. A estrutura deve ser dimensionada para suportar o empuxo da terra e as pressões da água, utilizando sempre um sistema de drenagem eficiente que impeça o acumulo de água entre o reaterro e o muro. A contenção é feita pela introdução de uma armadura ou de elementos estruturais compostos, que apresentam rigidez distinta daquela do terreno o qual conterá. Abaixo são 13 apresentadas algumas soluções para contenção e estabilização de taludes e suas principais características. 3.2.1 Muro de arrimo de concreto armado O muro de arrimo de concreto armado é um dos mais usados, embora tenha um custo bem mais elevado que as demais soluções, sendo recomendado em caso de necessidade de um muro mais resistente. Utilizam fundação direta, porém em casos especiais necessitam de fundações profundas como, por exemplo, estacas ou tubulões. Podem ser em forma de T invertido ou L, com base enterrada e face vertical. Sua estabilidade é garantida pelo peso do reaterro, que age sobre a laje da base, dependendo fundamentalmente do peso do solo situado acima da fundação. Para muros com altura superior a 5 metros, é conveniente a utilização de contrafortes, para aumentar a estabilidade contra o tombamento. 3.2.2 Muro de pneus Construídos em camadas horizontais, os pneus são amarrados com arrame ou corda e preenchidos com solo compactado. A construção do muro é bem simples, podendo ser realizada com equipamentos leves, sem a necessidade de mão de obra qualificada. Com o terreno nivelado lança-se a primeira camada de pneus diretamente na superfície, em seguida procede- se a amarração do pneu, recomenda-se a utilização do nó de amarração do tipo “marinheiro”, que fica mais apertado na medida em que é solicitado. Após a fase de amarração os espaços vazios do pneu são preenchidos com solo compactado, a compactação pode ser executada com compactador manual. As demais camadas são posicionadas observando-se a disposição descasada dos pneus, obtendo um melhor entrosamento e menos espaços vazios, essa sequência se repete até que o muro atinja a altura especificada no projeto (SIEIRA, 2009). Uma das limitações desse muro é que não podem ultrapassar a altura de 5 metros, sendo que necessitamde espaço para a base na ordem de 40 a 60% da altura do muro. Esse tipo de muro de contenção possibilita a reutilização, reciclagem e reaproveitamento de pneus, que antes não teriam utilidade e possivelmente seriam descartados inadequadamente na natureza. 14 3.2.3 Muros com reforços poliméricos A técnica de estabilização de solo com a utilização de poliméricos vem crescendo nos últimos anos, possibilitando a construção de muros íngremes, e também de aterros sobre fundações de solos moles. A execução é feita de baixo para cima, e a cada camada de solo compactado, é feito o intercalamento com uma camada de reforço, sempre executando um revestimento na face do talude para evitar a erosão. Os poliméricos empregados com maior frequência são as mantas (geotêxteis) ou as telas (geogrelhas). 3.2.4 Solo Grampeado A técnica de solo grampeado pode ser executada tanto em taludes naturais, quanto em escavações, e consiste na inclusão de grampos que podem ser barras ou tubos de aço. Os grampos devem ser posicionados horizontalmente ou inclinados no maciço, de forma a introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento (Ortigão, 1993). A execução é bem simples, perfura-se o terreno e introduz-se uma ou duas barras de aço, após a introdução das barras injeta-se nata de cimento, tomando cuidado para que o cimento usado não seja agressivo aos grampos. A proteção da superfície é executada através de um revestimento, sendo geralmente de concreto projetado com uma malha de tela soldada, podendo também ser utilizados painéis pré-fabricados, em taludes com menor inclinação, ainda é possível utilizar revestimento vegetal. Os grampos promovem a estabilidade geral do maciço de solo, e o concreto projetado dá a estabilidade local junto ao paramento. Na técnica de solo grampeado é necessário prever em projeto um sistema de drenagem, executando dispositivos de drenagem profunda e de superfície, evitando o fluxo interno de água, devendo ser instalados antes da construção da parede de concreto. 3.2.5 Cortina Atirantada A técnica da cortina atirantada é executada com placas de concreto armado que são ancoradas no terreno por tirantes, que são instalados de cima para baixo, associados a um 15 sistema de drenagem. A espessura da cortina pode variar de 15cm a 30cm, sendo definida de acordo com o dimensionamento da carga de contenção. A execução da técnica da cortina atirantada deve seguir os seguintes passos: perfuração do talude, seguindo os parâmetros determinados em projeto; limpeza do interior do furo; introdução dos tirantes de forma lenta; injeção da calda de cimento que deve garantir a ancoragem do tirante; colocação das peças que compõem a cabeça do tirante; execução da cortina de concreto armado que fará a contenção do talude; e pôr fim a concretagem da cabeça dos tirantes. A técnica da cortina atirantada é bem semelhante a técnica do solo grampeado, o que os diferencia, é que enquanto os tirantes da cortina atirantada trabalham ativamente, não necessitando de movimentação para começarem a atuar, os tirantes do solo grampeado necessitam de uma movimentação inicial do talude para passar do estado passivo para o estado ativo, podendo gerar danos na estrutura. 3.2.6 Muro de Gabiões São constituídos por gaiolas metálicas de aço galvanizado com dupla torção, preenchidas com pedras que são arrumadas manualmente. As principais características dos muros de gabiões são a flexibilidade e a permeabilidade, sendo de fácil execução, dispensando mão de obra especializada. O gabião tipo caixa é o mais comum no mercado, porém existem também o gabião tipo saco e gabião tipo colchão. O gabião tipo caixa é uma estrutura monolítica, flexível e autodrenante, usado em barragens, canalizações, apoios de pontes e defesa contra erosão (TÉCHNE, 2006). Como o próprio nome diz é formado por uma caixa com base, paredes laterais e tampa, sendo preenchido por pedras bem distribuídas e com dimensões variadas. Em estruturas de contenção os gabiões são sobrepostos e alinhados em toda a extensão, dependendo do projeto podem atingir grandes alturas. O gabião tipo saco é o único tipo que não é montado no local de aplicação, sendo transportado por gruas ou guindastes. É indicado para obras emergenciais, ou em locais de difícil acesso com presença de água (TÉCHNE, 2006). O gabião tipo colchão apresenta superfície maior do que sua espessura podendo ser revestido com argamassa. Utilizado principalmente em obras hidráulicas, adequado para o revestimento das margens e leitos de cursos de água (TÉCHNE, 2006). 16 Figura 01 - Elementos constituintes dos gabiões tipo caixa. Fonte: Maccaferi, 2016. Figura 02 - Elementos constituintes dos gabiões tipo saco. Fonte: Maccaferi, 2016. Figura 03 - Elementos constituintes dos gabiões tipo colchão. Fonte: Maccaferi, 2016. 17 Independente do tipo de gabião utilizado, a escolha do material é fundamental para que a estrutura seja realmente eficiente, a malha deve possuir resistência a corosão e boa flexibilidade. Figura 04 - Representação de um muro de gabiões. Fonte: Maccaferi, 2016. 18 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo está situada no Km 89 da RS 129, entre os municípios de Muçum e Vespasiano Corrêa no estado do Rio Grande do Sul. O solo da região de estudo apresenta textura argilosa, associado à formação Serra Geral, com relevo ondulado. O clima predominante da região é subtropical úmido, ocorrendo o período mais chuvoso do ano entre os meses de setembro e outubro, com precipitações diárias de até 50mm. A vegetação apresenta porte alto. Figura 05 - Localização da área de estudo. Fonte: Google Earth. 19 No dia 17 de outubro ocorreu um escorregamento de massa nesse local provocando o bloqueio total da via, impedindo a passagem de veículos e pessoas. O escorregamento ocorreu por volta da 14h00min, e o trânsito foi liberado somente a partir das 21h00min, não houve vítimas e nem danos materiais. Figura 06 - RS 129 bloqueada após o escorregamento de massa. Fonte: Comando Rodoviário da Brigada Militar/Divulgação. 20 5. ELABORAÇÃO DO PROJETO DE CONTENÇÃO 5.1 Estudo Preliminar Foram realizadas visitas ao local, e efetuados registros fotográficos que permitiram a caracterização da área afetada, e a determinação de parâmetros importantes para a elaboração do projeto. Para a seleção da melhor solução de estabilização foram levadas em consideração algumas questões como o prazo de execução, a viabilidade econômica e os limitantes geométricos. Dentre as soluções analisadas e levando em consideração os itens mencionados anteriormente, a solução que melhor atendeu o objetivo foi muro de gabião do tipo caixa. Figura 07 - Vista frontal do talude. Fonte: Autor, 2016. 21 Figura 08 - Vista lateral do talude. Fonte: Autor, 2016. 5.2 Dimensionamento da estrutura de contenção Para o correto dimensionamento do muro de contenção foi necessária a obtenção de todas as dimensões do talude, que podem ser verificadas na figura 09 (todas as dimensões estão em metros). Figura 09 - Esquema demonstrando as dimensões do talude. Fonte: Autor, 2016. 22 1 Liga de zinco/alumínio com adição de TerrasRaras. Os gabiões que serão utilizados para contenção do talude são da marca MACCAFERI, suas características e especificações podem ser observadas na tabela 03. Tabela 03 - Características do gabião. * Admite-se uma tolerância no comprimento do gabião de ± 3% e na largura e altura de ± 5%. ** Admite-se uma tolerância no diâmetro do fio galvanizado de ± 2,5cm. Fonte: Maccaferi, 2016. De acordo com o Manual Técnico do fabricante Maccaferi, os gabiões são fabricados em malha hexagonal de dupla torção, com revestimento Galfan1 (ATSM A856M-98, classe 80) e recobrimento adicional em material plástico com espessura de 0,40mm, garantindo maior durabilidade ao produto e menor custo de manutenção, as arestas dos painéis são reforçadas com arames de maior diâmetro. Os gabiões serão preenchidos por pedra britada, que serão adquiridas de uma britagem na cidade de Muçum/RS, que fica a uma distância de aproximadamente 5km do local da obra, fato que minimiza o custo total do muro de contenção. Através das dimensões do talude e das dimensões de cada gabião foi possível determinar que serão necessários 38 gabiões para a contenção do talude da RS 129. Na figura 10, é mostrado como serão distribuídos os gabiões. Próximo ao local de execução do muro existe um recuo no acostamento da rodovia, que poderá ser utilizado como espaço para o enchimento dos gabiões e estacionamento dos veículos que carregarão as pedras, sendo necessário o fechamento da rodovia somente para a colocação dos gabiões. Antes da execução do muro deve-se fazer a limpeza e regularização da base, para que se tenha uma superfície plana, escavações ou aterros podem ser necessários para a implantação da estrutura. Diafragma Comp. Largura Altura 2,00 1,00 0,50 1,00 1 8x10cm 2,70mm 3,40mm 2,20mmArame de Amarração** Gabião Caixa Medidas (m)* Volume (m³) Malha Hexagonal Arame de Malha** Arame de Borda** 23 Figura 10 - Distribuição dos gabiões. Fonte: Autor, 2016. Para garantir a boa execução do muro é importante seguir todas as instruções do fabricante quanto a montagem e instalação dos gabiões. A seguir será descrito todas as etapas de execução do muro, conforme as informações disponibilizadas pelo Manual Técnico do fabricante Maccaferi. Os gabiões são fornecidos em fardos e previamente dobrados, e sua montagem consiste em abrir o fardo, desdobrar o gabião sobre uma superfície rígida e plana e, com os pés, tirar todas as irregularidades. Em seguida dobra-se os gabiões para se obter o formato da caixa, juntando os fios de borda e torcendo os arames que saem dos painéis. Estando o formato da caixa já definido, ponteiam-se as arestas externas da caixa e, para os diafragmas, corta-se um pedaço de arame com comprimento necessário, fixando-o na parte inferior dos cantos e costurando os painéis em contato, alternando voltas simples e duplas a cada malha. Com um certo número de gabiões já ponteados em forma prismática, faz-se a ligação entre eles com firmes costuras ao longo das arestas em contato, como as costuras dos diafragmas, obtendo-se grupos que serão dispostos no local definitivo (MACCAFERI, 2016). Após a colocação das caixas em posição, antes de enchê-las, deve-se puxá-las com um gabarito de madeira, para se conseguir um bom alinhamento e acabamento. A seguir, inicia-se a fase de enchimento das caixas, preenchendo-as inicialmente, até a metade da altura da caixa e fixando dois tirantes, em faces opostas para evitar que ocorra o "embarrigamento" dessas faces. Completa-se o enchimento até 3 a 5 cm acima da altura da caixa, para não haver folgas e para compensar o inevitável assentamento devido ás cargas transmitidas pelas fiadas 24 sucessivamente sobrepostas. O enchimento deverá ser com material de granulometria variada, com menor índice de vazios possível, pois o enchimento ruim, pode elevar a deformação das caixas, influenciando negativamente na estabilidade do muro pela redução do peso específico. Terminada a fase de enchimento das caixas, dobram-se as tampas, amarrando-as sempre com a mesma costura (MACCAFERI, 2016). Os gabiões serão distribuídos em degraus, conforme figura 10, e os gabiões que serão colocados acima de uma camada já executada serão costurados ao longo de todas as arestas em contato com as camadas dos gabiões já preenchidos. Por se tratar de um talude relativamente pequeno não foi necessário prever um projeto de fundação, sendo necessário somente a regularização da base com uma camada niveladora de concreto magro na cota de apoio da estrutura. Devido a alta permeabilidade, as estruturas com gabiões não necessitam de sistemas específicos de drenagem, sendo necessário somente drenagem superficial. O sistema de drenagem superficial realiza a captação do escoamento das águas superficiais através de canaletas, valetas, sarjetas ou caixas de captação e, em seguida, conduz estas águas para local conveniente (MACCAFERI, 2016). Na contenção do talude da RS 129, o sistema de drenagem superficial será através de canaletas e tubulações que serão responsáveis por captar a água superficial, conduzindo-a para as valetas de proteção da rodovia, não afetando a segurança e durabilidade da via. Foi necessário prever também um sistema de filtros de proteção com a utilização de geotêxteis, para impedir a passagem de partículas de solo para o interior do muro, auxiliando no reforço do talude. De acordo com o fabricante Maccaferi, deve-se ter cuidado para que o geotêxtil permaneça limpo durante o manuseio, pois caso contrário isso poderia comprometer sua permeabilidade. Segundo o fabricante Maccaferi o geotêxtil deve ser fixado com dois pontos a cada metro, na aresta superior ou posterior do gabião, ajustando-o ao paramento interno. Para manter a continuidade do filtro, deve-se prever uma sobreposição mínima de 30 cm, ao final de cada pano ou, com equipamento adequado, proceder a costura entre os painéis de geotêxtil. O aterro deve ser realizado à medida em que a estrutura de contenção é construída, ou seja, a cada camada de gabião, o aterro deve ser lançado em camadas de espessura não superiores a 25cm, até atingir a altura dos gabiões, e compactado com compactadores manuais. A sequência deve ser repetida até completar a altura total do muro (MACCAFERI, 2016). O aterro do muro da RS 129 será executado com o solo que foi retirado da rodovia e depositado 25 em seu entorno após o escorregamento, por se tratar de um solo de boa qualidade, que facilita a compactação e minimiza ainda mais o custo da obra de contenção. 26 6. CONCLUSÃO O projeto de contenção no talude da RS 129 é de grande importância, visto que em determinados horários a via recebe grande fluxo de veículos, causando grandes transtornos não somente para a população que vive nas proximidades, mas também para a população de cidades vizinhas, principalmente estudantes que precisam se deslocar para as cidades de Lajeado e Guaporé. A estrutura de contenção executada se mostrou eficiente, pois não exigiu mão de obra especializada, se tornando muito mais econômica se comparada a outras soluções. A execução de reparos e serviços de manutenção nas telas danificadas também é muito simples, podendo ser realizada de maneira rápida amarrando-se um novo painel a estrutura danificada. Para as estruturas de contenção com gabião não é necessário o tempo de cura e desforma, podendo a estrutura entrar em funcionamento após o preenchimento dos elementos, permitindo a finalização rápida da contenção, causando baixo impacto ao meio ambiente. Outro pontoque foi levado em consideração para a escolha do sistema de contenção do tipo gabião é que a estrutura não apresenta obstáculo impermeável para águas de infiltração e percolação, fazendo com que o ecossistema do local da obra se recupere rapidamente. 27 REFERÊNCIAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILERA DE NORMAS TÉCNICAS. Estabilidade de encostas. NBR 11682, 2008. AVELAR, André de Souza; LACERDA, Willy Alvarenga; NETTO, Ana Luiza Coelho. Mecanismos de iniciação de fluxos detríticos no maciço da tijuca, Rio de Janeiro/RJ: o caso da encosta do soberbo. Revista Brasileira de Geomorfologia, Abr./ 2010, Vol.7. BARBOSA, Michele C. Rufino; DE LIMA, Hernani Mota. Resistência ao cisalhamento de solos e taludes vegetados com capim vetiver. Rev. Bras. Ciênc. Solo vol.37 no. 1 Viçosa Jan./Fev. 2013. BARONI, Magnos. Estudo da viabilidade do aproveitamento de pneus como material de construção de estruturas de contenção. 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