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Direito Processual Civil Procedimentos Especiais Prof.: Moisés João Rech Problema • Mévio emitiu cheques que foram devolvidos por insuficiência de fundos. • Em razão disso, seu nome foi incluído no cadastro de restrição de crédito da instituição financeira. • Contudo, Mévio quer regularizar sua situação com a instituição financeira, mas desconhece o portador do título (endosso) para regularizar quitação do saldo devedor. • Diante do desconhecimento do credor, o que Mévio poderá fazer? Problema • Caio firmou contrato de mútuo feneratício com Tício, a ser quitado com os devidos juros. • Contudo, sobrevindo o momento do adimplemento, Tício, maliciosamente evade-se, com o propósito de constituir Caio em mora. • Qual deverá ser a postura de Caio? Consignação em pagamento • É o procedimento que visa à liberação do devedor de determinada obrigação. O objetivo do demandante é a obtenção de declaração judicial no sentido de que não se encontra mais obrigado – de que o depósito realizado satisfaz os requisitos legais do pagamento devido. A sentença é declaratória. (Marinoni). Direito obrigacional • A obrigação nasce de um fato jurídico lato sensu, e extingue- se com um ato jurídico bilateral stricto sensu (pagamento). • Contudo, a obrigação não pode perdurar eternamente. • Para isso existe o pagamento (art. 304, CC), ou na sua impossibilidade o procedimento da consignação em pagamento (art. 334 a 345, CC; art. 539 a 549, CPC). • A consignação em pagamento é instituto de direito material, enquanto o procedimento (ação) de consignação é instituto de direito processual. Sujeito e objeto da consignação • Podem ser objeto de consignação (art. 336, CC): (a) quantia; (b) coisas (móveis, imóveis, fungíveis, infungíveis certa e incerta). • Não podem ser objeto de consignação: (a) obrigações de fazer; (b) obrigações de não fazer. • Podem ser sujeitos ativos da consignação (art. 304, CC; art. 539, CPC): (a) devedor; (b) sucessores; (c) terceiro interessado (avalista e fiador); (d) terceiro não interessado (cônjuge com regime de separação total de bens). • Podem ser sujeitos passivos da consignação (art. 308, CC): (a) credor; (b) interessados-incertos; (c) ignorados. Competência • O foro competente é o do lugar do pagamento (art. 540, CPC; art. 337, CC). • É a repetição do disposto no art. 53, III, d. • Contudo, a especificidade da regra busca excluir o foro de eleição contratual ou do domicílio do demandado. • A competência do art. 540 é relativa, admitindo prorrogação (art. 56). Hipóteses de cabimento • O Código Civil regula as hipóteses no art. 335 (art. 539, CPC): (a) se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; (b) se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; (c) se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; (d) se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; (e) se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Requisitos da consignação • Requisitos (art. 336 c/c 397, CC): (a) mora do credor (accipiendi ou creditoris); (b) certeza (existência); (c) tempo devido (exigibilidade); (d) liquidez (quantum). • A mora accipiendi decorre: (a) recusa do pagamento no tempo de vencimento; ou (b) rejeição da purgação da mora solvendi. • Obs.: a mora do devedor (solvendi) não existe concomitante à mora do credor (accipiendi). Apenas a mora do credor autoriza a consignação em pagamento. Problema • Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente. (CPC) Problema • Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente. (CPC) • Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. (CC) Problema • O art. 540 aplica-se somente na hipótese de (a) o devedor tornar-se insolvente e, ao purgar a mora (emendatio morae), o credor recusá-la injustificadamente; (b) credor desconhecido ou haver dúvida do real credor (não computa- se juros de mora). • A regra é a aplicação do art. 400, CC para a consignação em pagamento, em razão da mora do credor. A exceção é a aplicação do art. 337, CC, e art. 540, CPC. • Importante: não é possível exigir mora do devedor na pendência da mora creditoris, pois uma exclui a outra. Consignação do principal e incidental • A cumulação de pedidos (art. 327) possibilita ajuizar ação de consignação com outros pedidos diferentes, em um mesmo processo. • Nesse caso, não se usa o rito especial, mas o comum, desde que o juízo tenha competência para conhecer de todos os pedidos. • Consequência: ação de consignação (a) principal (único objetivo é o depósito da coisa ou quantia); e (b) incidental (quanto além do depósito da coisa, há outros pedidos). • Exemplos: (a) depósito do preço para requere direito de preferência (art. 513); (b) rescisão de contrato com depósito de cláusula penal e encargos contratuais. Prestações periódicas • É possível em um único processo realizar vários depósitos das diversas prestações em que divide uma única obrigação (art. 541). • Os depósitos serão realizados na mesma conta judicial até 5 dias da data do vencimento da prestação. • Após a sentença o autor não poderá mais realizar os depósitos, exceto se solicitar expressamente na petição inicial (art. 67, III da Lei 8.245/91). • Nesse caso a sentença será declarativa in futurum, e liberará o autor da obrigação após o último depósito. • O prazo do art. 541 é preclusivo, mas a interrupção dos depósitos não enseja a extinção do processo, apenas a declaração em sentença da parte quitada do débito. Procedimento extrajudicial • O procedimento extrajudicial é uma faculdade do devedor (art. 539). • O depósito bancário deve seguir a comunicação do credor por AR (aviso de recebimento). • Abre-se prazo de 10 dias para manifestação de recusa após o recebimento do AR (art. 539, §§ 1º e 2º). • O credor deverá manifestar-se por escrito perante o banco (art. 539, §3º); caso não o faça o devedor fica liberado da obrigação (art. 539, §2º). Procedimento extrajudicial • Caso o credor recuse, o devedor tem 30 dias para ajuizar a consignatória (art. 539, §3º). • Após o prazo é possível ajuizar a ação? • Sim, pois o prazo de 30 dias se refere à necessidade de provar novamente a mora do credor. • Assim, não ajuizada a ação em 30 dias o depósito fica sem efeito, e deve-se provar a mora do credor (art. 539, §4º). • Se a ação for ajuizada no tempo legal (30 dias) não é necessário comprovar a mora do credor. Procedimento judicial – Petição inicial • A petição inicial deve conter os requisitos do art. 319, e o pedido de depósito (at. 542, I). • O depósito liminar deve ser feito em até 5 dias contados do deferimento, portanto, antes da citação (art. 542, I). • O depósito é requisito essencial (pena de extinção, art. 542, § único). • O valor da causa é o valor da prestação devida: (a) principal e juros nas obrigações de quantia; (b) valor da coisa nas obrigações de dar; (c) somatório das prestações vencidas e vincendas (art. 292, §1º). Citação e depósito • A citação é posterior ao depósito, e objetiva (art. 542): (a) convocar o credor para receber a prestação; (b)abrir prazo para contestação caso não aceite o depósito; (c) realizar o direito de escolha em 5 dias no caso de obrigação genérica ou alternativa (arts. 543, 324 e 325, CPC; arts. 243, 244 e 252, CC); (d) deferir do depósito no prazo de 5 dias; Respostas do demandado • As respostas do demandado: (a) O réu pode aceitar a oferta, e o processo é extinto com resolução de mérito (reconhecimento da procedência do pedido, art. 546, § único c/c art. 487, III, ‘a’). (b) O réu poderá tornar-se revel, o que também enseja a extinção da obrigação por reconhecimento da procedência do pedido. (c) O réu poderá contestar (art. 544). Comparecimento do credor • O comparecimento do credor para receber a prestação enseja a realização de termo nos autos (recibo de quitação). • Como consequência o processo terá julgamento antecipado da lide com sentença declaratória de extinção da obrigação (546, § único). • O credor (réu) será condenado nos ônus processuais (custas, despesas e honorários, art. 546). Não comparecimento e revelia do credor • O não comparecimento para receber o depósito no prazo de defesa não equivale à revelia ou contestação. • O não comparecimento não impede que o credor levante o depósito posteriormente. • Caso o credor levante o depósito o juiz julgará extinto o processo com resolução de mérito (art. 546, § único). • A revelia do credor ocorre quando não apresenta contestação (art. 344), nesse caso o depósito extingue a dívida (art. 546). Contestação • O réu poderá contestar e/ou reconvir no prazo de 15 dias (art. 335). • Em razão do caráter especial do procedimento, a contestação possui defesa limitada (art. 544). • O prazo para contestar inicia da citação (art. 542, II, 335 231). • Após a contestação segue o rito comum (art. 347 e ss). Matérias de defesa (a) inocorrência de recusa ou mora em receber a prestação. • Nas dívidas quesíveis (quérables) cabe ao credor a cobrança, e nas dívidas portáveis (postables) ao devedor ir ao domicílio do credor. • A mora do credor existe somente em dívidas quesíveis. (b) houver recusa, mas justificada. • Exemplo: descumprimento de cláusula entre as partes. (c) depósito fora do prazo ou do lugar do pagamento. • O pagamento deve ser feito conforme estipulação dos contratantes, conforme art. 394, CC. (d) depósito não integral. • A ausência de depósito integral (juros, correção) configura justa causa. Complementação do depósito • Requisitos para a complementação (art. 545, §§ 1º e 2º): (a) prazo para complementação de 10 dias; (b) negócio jurídico não sujeito à cláusula comissória (art. 1.428, CC). • Após a complementação, o processo é extinto com resolução de mérito e a sucumbência é encargo do autor • Pois ainda que vitorioso (sentença de procedência), foi sucumbente na litiscontestação. • Após a complementação, caso haja mais matéria de defesa, o processo continua até solução final. Não complementação do depósito • O réu poderá levantar o depósito, e o processo seguirá com a parcela controversa (art. 545, §1º). • A sentença poderá reconhecer insuficiência e condenar o autor no remanescente (faz título executivo em favor do réu, art. 545, §2º). • A sentença será cumprida no mesmo processo (cumprimento de sentença). • O art. 545, § 2º não é contraditório com o art. 542, II. • O levantamento do depósito antes da contestação implica o reconhecimento da procedência do pedido. Após a contestação, o remanescente segue controverso. Sentença • A sentença declara extinta a obrigação (pagamento) e condena o réu ao pagamento das custas, despesas e honorários. • Por que a sentença é declaratória? É a sentença ou o ato da parte que extingue a obrigação? • A sentença reconhece a eficácia do ato da parte, e apenas condena no pagamento das custas. • Obs.: é possível haver uma sentença condenatória? Hipótese de insuficiência de depósito (art. 545, §2º). Sentença • A coisa julgada diz respeito à suficiência ou insuficiência do depósito (STJ REsp 56.019/RJ). • Em caso de improcedência por valor insuficiente, como fica o depósito? • O depósito ficará para o réu (credor), e não poderá ser levantado pelo devedor (STJ REsp 984.897/PR). • O remanescente reconhecido em sentença será: (a) objeto de nova ação de consignação; ou (b) reconhecido em sentença e realizado seu cumprimento no mesmo processo. Consignação por dúvida • A consignação ocorre por: (a) mora do credor; ou (b) risco de pagamento ineficaz • O risco de pagamento ineficaz é a dúvida de a quem se deve pagar. • Exemplos: (a) sucessão de credor morto, com herdeiros não conhecidos; ou (b) título ao portador; (c) credor incapaz sem representação. • Nesses casos de dúvida a citação será por edital (art. 256, 257 e 72, II). • A petição deve requerer o depósito e a citação dos interessados para provarem o seu direito (art. 547). Posição dos possíveis credores • Na consignação por dúvida poderá haver: (a) ausência de pretendentes; (b) comparecimento de um só pretendente; (c) comparecimento de mais de um pretendente. • Na ausência de pretendentes o depósito ficará à disposição por tempo indeterminado (art. 548, I). • Com decisão judicial de arrecadação, o depósito converte-se se em coisa vaga (art. 746, CPC; arts. 1.233 a 1.237, CC). • Para o autor (devedor) o processo será extinto. • A sucumbência e as custas processuais são deduzidas do depósito. Posição dos possíveis credores • No comparecimento de um só pretendente o juiz decidirá de plano a manifestação do réu (art. 548, II). • O pretendente deve provar seu direito, caso contrário, aplica- se o inciso I (arrecadação de coisas vagas). • No comparecimento de mais de um pretendente, haverá: (a) uma relação entre o autor (devedor) e o bloco de credores (réus); (b) uma relação de conflito entre o bloco de credores. • Nesse caso, o juiz declara extinta a obrigação para o autor. • E o processo segue o procedimento comum somente com os credores (réus, art. 548, III). Segunda fase do processo • Obs.: a consignação em pagamento poderá, no caso analisado, possuir duas fases: (a) a primeira com o depósito, citação e extinção da dívida; (b) a segunda com o debate entre os credores e nova sentença (STJ, REsp 1.331.170). • Após a sentença de extinção é aberto prazo de 15 dias para a contestação, que seguirá o procedimento até a sentença. • Ambas as fases se encerram com sentença declaratória, sendo a segunda sentença autoriza o levantamento do depósito. Questões • Qual a função prática da ação de consignação em pagamento? • Quais são os requisitos para propor a ação de consignação? • Qual o prazo para realizar o depósito e a contestação na ação de consignação? • Em qual hipótese a ação de consignação é constituída por duas fases? Jurisprudência • STJ, 5ª T., REsp 37.068/MS, Rel. Min. Assis Toledo, ac. 01.12.1993, DJU 13.12.1993, p. 27.482. • STJ, 2ª T., REsp 256.275/GO, Rel. Min. Eliana Calmon, ac. 19.02.2002, DJU 08.04.2002, p. 171. • STJ, 3ª T., REsp 32.813/GO, Rel. Min. Waldemar Sveiter, ac. 04.05.1993, DJU 31.05.1993. • STJ, 3ª T., REsp 886.823/DF, Rel. Min. Ari Pargendler, ac. 17.05.2007, DJU 25.06.2007. • STJ, 1ª T., REsp 984.897/PR, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 19.11.2009, Dje 02.12.2009. • STJ, 3ª T., REsp 1.526.494/MG, Rel. Min. João Otávio Noronha, ac. 26.05.2015, Dje 29.05.2015. Bibliografia MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil comentado. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. NEGRÃO, Theotônio et al. Novo Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 47. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 10. ed. Salvador: Juspodivm, 2018. RODRIGUES, MarceloAbelha. Manual de direito processual civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. THEODORO Jr., Humberto. Curso de direito processual civil: procedimentos especiais: vol. II. 50 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
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