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DIREITO CIVIL – CONTRATOS TEORIA GERAL DOS CONTRATOS CONCEITO Contrato é o acordo entre a manifestação de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. (Washington de Barros Monteiro, Caio Mário, Antunes Varella apud Maria Helena Diniz) REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO São elementos essenciais à existência do ato negocial, pois forma sua substância; podem ser: GERAIS – se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possível e o consentimento dos interessados, e PARTICULARES – Particulares à determinadas espécies de contratos por serem pertinentes à sua forma. Imprescindível que um contrato jurídico obedeça aos ditames legais dispostos no Artigo 104 do Código Civil, sendo eles: Agente Capaz, objeto Lícito, possível, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. Desta forma, teremos os requisitos subjetivos, objetivos e formais, para atestar a validade de um contrato REQUISITOS SUBJETIVOS Generalidades: Os requisitos subjetivos são: a) Existência de manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos contraentes; b) Aptidão Específica para Contratar; c) Consentimento a1) Quanto a manifestação de vontade, temos que o contrato pode ser analisado sob dois aspectos, o Aspecto Estrutural e o Aspecto Funcional. Quanto ao Aspecto Estrutural, o contrato possui alteridade (dependência da outra parte para sua existência – exceto o autocontrato que veremos a diante), pois o contrato, como negócio jurídico bilateral ou plurilateral, requer a fusão de duas ou mais vontades contrapostas; Quanto ao Aspecto Funcional, ou seja, a composição de interesses contrapostos, mas harmonizáveis, entre as partes, constituindo, modificando ou solvendo direitos e obrigações na área econômica. Isto é assim ante a função econômico-social do contrato, que constitui razão determinante de sua tutela jurídica. *Autocontrato: Nas palavras de Orlando Gomes, o Autocontrato é uma possibilidade jurídica, de uma contraposição de interesses ser conciliada por apenas uma pessoa. Importante estabelecer critério de prudência, como a sua permissão somente quando o representante das partes não tenha possibilidade de determinar o conteúdo da relação jurídica. Isto evitaria o conflito de interesses decorrente do abuso do poder de representação. Veja que apesar de existir apenas uma pessoa, a sua representação é de duas ou mais vontades. Por isso válido no nosso ordenamento, pois não conflita com o conceito ante estudado. Ocorrendo este fenômeno, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em que os poderes houverem sido substabelecidos. Na representação legal, os motivos éticos, dever-se-á repelir a autocontratação, a não ser que demonstre uma vantagem ou benefício ao representado. Ex.: Brício da Silva é sócio numa sociedade empresária com poderes constante no contrato social de assinar contratos isoladamente e é proprietário particular de um veículo caminhão e resolve pactuar um contrato de aluguel com sua empresa. Desta forma o contrato será de locação de um bem móvel entre uma Pessoa Jurídica e uma Pessoa Natural, contudo como assinantes deste contrato, tanto no campo Contratante (Locatário) como campo Contratado (Locador) será o próprio Brício. a2) Capacidade genérica dos contraentes; é necessário que os contratantes possuam capacidade genérica de praticar os atos da vida civil, as quais devem se enquadrar nos artigos 3º e 4º do Código Civil (Com alterações pela Lei 13.146 – Estatuto da Pessoa com Deficiência - Publicada em 06/07/2015 que entrou em vigor em ??) Código Civil Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) Lei 13146/2015 Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. Brasília, 6 de julho de 2015; 194o da Independência e 127o da República. LC 95/98 Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1º A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. (Incluído pela Lei Complementar nº 107, de 26.4.2001) Estatuto da Pessoa com Deficiência - Publicada em 06/07/2015 que entrou em vigor em 02/01/2016) Vídeo Professor Ederson Félix A não observância dos artigos 3º e 4º do Código Civil trará a pena de Anulação ou Nulidade na forma expressa nos artigos 120 1ª Parte, 166, I e 171, I do CC) Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código. Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; Assim, os absolutamente incapazes serão representados em seus interesses por seus pais, tutores ou curadores, conforme estejam sob o poder familiar, tutela ou curatela. Os relativamente incapazes, embora possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos, deverão ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar, salvo nas hipóteses em que a norma expressamente, permitir que ajam sem tal assistência (CC. 1634 V, 1747 I e 1781) Aptidão específica para contratar; Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014) V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade,nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014) Diferença entre Representar e Assistir? No caso dos menores, até os 16 anos são representados pelos seus pais ou tutores legais, que decidem todos os assuntos relativos a esse menor. Já com 16 anos, ele poderá decidir sobre alguns assuntos. Ex: com qual dos pais deseja permanecer após uma separação Obs.: Na incapacidade relativa observar o artigo 105 do CC (Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.) Isto é, Por ser a incapacidade relativa uma exceção pessoal, ela somente poderá ser formulada pelo próprio incapaz ou pelo seu representante. Como a anulabilidade do ato negocial praticado por relativamente incapaz é um beneficio legal para a defesa de seu patrimônio contra abusos de outrem, apenas o próprio incapaz ou seu representante legal o deverá invocar. Assim, se num negócio um dos contratantes for capaz e o outro incapaz, aquele não poderá alegar a incapacidade deste em seu próprio proveito, porque devia ter procurado saber com quem contratava e porque se trata de proteção legal oferecida ao relativamente incapaz. Se o contratante for absolutamente incapaz, o ato por ele praticado será nulo (CC, art. 166, 1), pouco importando que a incapacidade tenha sido invocada pelo capaz ou pelo incapaz, tendo em vista que o Código Civil, pelo art. 168, parágrafo único, não possibilita ao magistrado suprir essa nulidade, nem mesmo se os contratantes o solicitarem, impondo-se-lhe até mesmo o dever de declará-la de ofício. (Negócio Jurídico Comentado) As Pessoa Jurídica intervirão por seus órgãos, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente. O órgão da pessoa jurídica é uma ou um conjunto de pessoas naturais que exprime sua vontade. (Orlando Gomes), na forma prevista em seu contrato social ou em seu estatuto social. A Representação é a relação jurídica pela qual determinada pessoa se obriga diretamente perante terceiro, através de ato praticado em seu nome por um representante ou intermediário. (Washington de Barros Monteiro). Três são as espécies de Representantes: Representante legal: Aquele que a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios, como os pais, em relação aos filhos menores (115 1ª Parte, 120 1ª Parte, 1634, I e 1690), tutores quanto ao tutelados (1747, I) e curadores quanto aos curatelados (120, 1ª Parte); Representante Judicial: É o nomeado pelo juiz para exercer certo cargo no foro ou no processo, v.g. O administrador judicial em processo de recuperação judicial. Representante Convencional: Aqueles munidos de mandato expresso ou tácito, verbal ou escrito, do representado, como os procuradores, no contrato de mantato (Art. 115 2ª Parte, 653 e 120 2ª Parte CC) Assim, via de regra, quem pratica ato sem poderes, ou seja, se agir em nome de outrem, deve- deve se verificar se o representante possui poderes para tal ato, sob pena do ato ser considerado Nulo ou Anulável. NULIDADE ABSOLUTA é uma penalidade que, ante a gravidade do atentado à ordem jurídica, consiste na privação da eficácia jurídica que teria o negócio, caso fosse conforme a lei. De maneira que um ato negocial que resulta em nulidade é como se nunca tivesse existido desde sua formação, pois a declaração de sua invalidade produz efeito EX TUNC, retroagindo à data de sua celebração. Pontifica Maria Helena Diniz que: “é nulo o ato negocial inquinado por vício essencial, não podendo ter, obviamente, qualquer eficácia jurídica. Por exemplo (CC, art. 166, I a VII): quando lhe faltar qualquer elemento essencial , ou seja, se for praticado por pessoa absolutamente incapaz sem a devida representação (CC, art. 3º); se tiver objeto ilícito (RT, 705:184, 708:171), impossível ou indeterminável, quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; se não revestir a forma prescrita em lei ou preterir alguma solenidade imprescindível para a sua validade (RT, 707:143, 781:197);quando, apesar de ter elementos essenciais, for praticado com o objetivo de fraudar lei imperativa, apresentando, p. ex. simulação (CC, art. 167)e quando a lei taxativamente p declarar nulo (CC, art. 167).” A NULIDADE RELATIVA, ou anulabilidade, “refere-se a negócios que se acham inquinados de vícios capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado, restabelecendo- se a sua normalidade” A declaração judicial de sua ineficácia opera EX NUNC, de modo que o negócio produz efeitos até aquele momento (CC, arts. 177 e 183). São anuláveis os atos negociais: I) se praticados por pessoa relativamente incapaz (CC, art. 4º) sem a devida assistência dos seus legítimos representantes; II) se viciados por erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo ou fraude contra credores; III) se a lei assim o declarar tendo em vista a situação particular em que s encontra determinadas pessoas. A nulidade absoluta ou relativa só repercute se for decretada judicialmente. O problema reside em definirmos o que seja NEGÓCIO JURÍDICO INEXISTENTE, pois esse existe tão somente doutrinariamente. Consiste no ato que não tem aptidão para existir, por faltar-lhe requisitos essenciais à sua existência. Ou seja, não pode gerar efeitos no mundo jurídico. Na vida prática, este se assemelha muito com o negócios jurídico nulo, pois ambos acabam por depender de declaração judicial, embora se faça a distinção entre um e outro afirmando que: inexistente é ato que não possui eficácia jurídica e ato nulo é ato eficaz até que se declare o contrário. b) Aptidão Específica para contratar (Legitimação) Exige-se aptidão específica para contratar, pois, a ordem jurídica impõe certas limitações à liberdade de celebrar determinados contratos. “Além da capacidade genérica de contratar, exige-se a especial (Específica) para certos negócios em dadas circunstâncias. Ex.: Se a pessoa é casada é plenamente capaz, embora não tenha capacidade para vender o imóvel sem outorga conjugal (Outorga Uxória ou Outorga Marital) ou suprimento judicial, salvo se o regime de bens for na de separação total de bens ou bem fruto de doação. Neste caso não basta a capacidade genérica, necessária a capacidade especial. Uma pessoa que contrata uma pessoa para defender seus interesses em juízo, deve contratar uma pessoa capaz juridicamente, e que esteja regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, sob pena de ausência de capacidade especial. Há certas representações que são proibidas no ordenamento jurídico: Compra e venda entre ascendentes e descendentes, sem o consentimento dos demais descendentes e do cônjuge do alienante, exceto se casado sob o regime de separação obrigatório(496) . Da mesma forma o tutor de adquirir bens do tutelado, ainda que em hasta pública, apesar de ser plenamente capaz, o mesmo ocorrendo com, curador , testamenteiro e administrador ( 497, I CC), no que diz respeito aos bens guardados à sua guarda e administração. A legitimação dependerá, portanto, da particular relação do sujeito com o objeto do ato negocial, logo os contratantes deverão ter, portanto, legitimação para efetuar o negócio jurídico. c) Consentimento - Manifestação da vontade das partes contratantes “Consentimento é a anuência válida do sujeito a respeito do entabulamento de uma relação jurídica sobre determinado objeto”. R. Limongi França. É imprescindível o consentimento das partes contratantes, visto que o contrato é originário do acordo de duas ou maisvontades isentas de Vícios de Consentimento (erro, dolo, coação, lesão, estado de perigo) e/ou de Vícios Sociais (simulação absoluta ou relativa e fraude contra credores) sobre a existência e natureza do contrato, o seu objeto e as cláusulas que o compõem. Pode ser expresso ou tácito desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa (Doação). Será expressa se declarado por escrito ou oralmente, de modo explícito. Será tácito se resultar de um comportamento do agente, que demonstre, implicitamente, sua anuência. Ex. Contrato de Transportes (parada de ônibus). Até mesmo o silêncio é fato gerador de negócio jurídico, com força de manifestação volitiva, pois em certas circunstâncias e usos indica um comportamento hábil para produzir efeitos jurídicos e não for necessária a declaração expressa de vontade (art. 111 cc). Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. Ex. Doação Pura (Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.) REQUISITOS OBJETIVOS Os requisitos objetivos dizem respeito ao objeto do contrato, ou seja, à obrigação constituída, modificada ou extinta. A validade e eficácia do contrato, com um direito creditório, dependem da: a) Licitude de seu objeto O objeto contratual (coração do contrato) não pode ser contrário à lei, à moral, aos princípios da ordem pública e aos bons costumes. Assim, ilícitos e inválidos serão os negócios que ajustem pagamento pelo assassinato de alguém, a usura, a venda de coisas objeto de furto ou roubo, os jogos de azar, etc... b) Possibilidade Física ou Jurídica do Objeto Se o negócio tiver objeto física e materialmente impossível, de modo que o agente jamais possa vencer o obstáculo à sua realização, por contrariar as leis físico-naturais (Ex. Venda de um terreno na lua, transporte de uma montanha, empreender uma volta ao mundo em 2 horas.) Configuram hipóteses em que se têm a exoneração do devedor e a invalidade do contrato, pois aquele se obriga a executar coisa insuscetível de realização a nada se obrigou. Importante salientar que a impossibilidade deve ocorrer no momento da constituição do contrato, pois se aparecer em momento ulterior, ter-se-á a inexecução do contrato com ou sem perdas e danos, conforme ocorrera ou não a culpa do devedor. (234,238,239,248,393,399 e 402 usque 404 do CC). Observar que a contratação de coisa inexistente atualmente mas suscetível de existir torna o contrato válido, por exemplo a contratação de safra futura nas seguintes condições: Emptio rei speratae – Ex. Em caso de uma colheita de café futura, se nada se colher, desfazer- se-á o negócio. Emptio spei – Ex. As partes têm por objetivo uma esperança, se esta não se realizar, não se terá a rescisão contratual, de maneira que o contraente deverá pagar o peço convencionado. Já a impossibilidade jurídica decorre geralmente de uma vedação legal, gerando ineficácia do contrato, por exemplo a venda de um bem de família (1717 cc); a estipulação de pacto sucessório, também chamado de pacta corvinae ou pacto de abutres contrariando a norma de que não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva, devido à presunção de que possa eventualmente haver votum coptandae mortis. c) Determinação de Seu Objeto O objeto deve ser certo ou, pelo menos, determinável. O contrato, em caso de venda de coisa incerta (CC 243) deverá conter, portanto, os elementos necessários (especificação do gênero, da espécie, da quantidade ou dos caracteres individuais) para que se possa determinar o seu objeto, de modo que a obrigação do devedor tenha sobre que incidir. Se indeterminável o objeto, o contrato será inválido e ineficaz. d) Economicidade de seu Objeto O contrato deve ser economicamente viável. Neste aspecto, o objeto deverá versar sobre interesse economicamente apreciável, capaz de converter, direta ou indiretamente, em dinheiro. Por exemplo, a compra e venda de um simples grão de arroz é irrelevante ao Direito, pois tão irrisória a quantidade que jamais levaria o credor a mover um ação judicial para reclamar do devedor o inadimplemento contratual. REQUISITOS FORMAIS - Forma dos Contratos Os requisitos formais são atinentes à forma do contrato. A regra não é o rigorismo formal dos contratos, bastando em regra a simples manifestação volitiva para estabelecer o liame obrigacional entre os contraentes, gerando efeitos jurídicos independentemente da forma de que se revista, seja ela oral ou escrita (por meio de instrumento particular ou público (escritura), de tal sorte que o elemento formal, na seara contratual, constitui uma exceção nos casos em que a lei exige, para a validade do negócio, a observância de certa forma. O art. 107 do CC presvreve “Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.” Logo não vale o ato se não revestir a forma especial, determinada em lei. “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: IV - não revestir a forma prescrita em lei.” Ex. Contrato de Compra e Venda de imóvel se não for celebrado mediante escritura pública ou instrumento particular, ou , ainda, verbalmente e até tacitamente. Será expressa, se dada verbalmente ou por escrito, e tácita, se decorrer de fatos que autorizem o seu reconhecimento. (Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.) Nas lições de Limongi França existem três espécies de forma contratual: 1) Forma Livre ou Geral – É qualquer meio de exteriorização de vontade nos negócios jurídicos, desde que não previsto em norma jurídica como obrigatório. O negócio se perfaz por qualquer meio, pelo qual se apure a emissão volitiva: palavra escrita ou falada, mímica, gestos e até mesmo o silêncio, que, como declaração tácita da vontade, conforme o caso, tem a mesma validade das manifestações expressas. Admite-se a forma verbal p. Ex. Para os contratos cujo valor não exceda certo limite, não ultrapassando o décuplo do maior salário mínimo vigente no país ao tempo em que foram celebrados. (D. 8681/15 = R$ 880,00 desde 01/01/2016 portanto contratos inferiores a R$ 8.880,00 desde que não exija forma prevista em lei, poderá ser verbal); ou para doação de móveis de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição (Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.) Um contrato de transporte de taxi. 2) Forma especial ou Solene – É o conjunto de solenidades que a lei estabelece como requisito para a validade de determinados negócios jurídicos; tem o escopo de garantir a autenticidade dos negócios, assegurar a livre manifestação de vontade das partes, chamando a atenção para a seriedade dos negócios que estão praticando e facilitar a sua prova. 3) Forma Contratual – É a eleita pelas partes, pois o artigo 109 do CC estabelece que os contraentes num contrato podem determinar, mediante uma cláusula, o instrumento público para validade do negócio, desde que não haja imposição legal (Forma especial ou solene) quanto à forma daquele contrato. - Prova da Relação Jurídica Contratual Não se pode confundir a forma do contrato com sua prova. A forma é o conjunto de solenidades que se devem observar para quea declaração de vontade tenha eficácia jurídica, enquanto que a prova é o conjunto de meios empregados para demonstrar legalmente, a existência de negócios jurídicos. Ex.:Se a forma pública (escritura) é essencial para o contrato, esta será o único meio de prova. Negócio Jurídico Formal (CPC Art. 366. Quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta.) (NCPC Art. 406. Quando a lei exigir instrumento público como da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta.) À partir de 03/2016 Ex.: Se se trata de negócio jurídico não formal, qualquer meio de prova será permitido pela ordem jurídica, desde que não seja por ela proibido ou restringido. (CPC Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.) (NCPC Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.) Em regra a prova deve ser admissível, não proibida por lei. Sendo aplicável ao caso em tela; pertinente. Idônea para demonstrar os fatos relacionados com a questão discutida; e concludente, apta a esclarecer pontos controversos ou confirmar alegações feitas. Sendo que o ônus da prova incumbe a quem alega e não aquém contesta. (CPC Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.) Idêntico texto no NCPC ARt. 373) O Artigo 212 enumera os meios de prova dos negócios jurídicos a que não se impõe forma especial sendo: 1) Confissão: O ato pelo qual a parte admite, judicial ou extrajudicialmente, a verdade de um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. (CPC 348 e 354) CPC Art. 348. Há confissão, quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial. NCPC Art. 389. Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário. CPC Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. NCPC Art. 395. A confissão é, em regra, indivisível, não podendo a parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, porém cindir-se-á quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção. 2) Documentos Públicos Particulares: Enquanto a escritura pública (feita perante o oficial público e na presença de testemunhas , observando os requisitos do art. 108 e 215 caput do CC) e instrumentos particulares (realizados somente com a assinatura dos próprios interessados, mesmo sem autenticação, farão prova plena, salvo se impugnados, caso em que se apresentará o original . (CC Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.) (CC Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena.) Desta forma, serão particulares quando feitos por pessoas naturais ou jurídicas não investidas na função pública. Serão públicos quando elaborados por autoridade pública no exercício de suas funções: Atos notariais, portarias, avisos, constantes de livros oficiais, certidões. 3) Testemunhas: As testemunhas podem ser Judiciárias, pessoas naturais ou jurídicas representadas, estranhas à relação processual, que declaram em juízo conhecer o fato alegado, por havê-lo presenciado ou por ouvir dizer algo a seu respeito e Instrumentárias, quando se pronunciam sob o conteúdo do instrumento que subscrevem. Ex. Testamento e Escritura pública. A testemunha deve preencher os requisitos de admissibilidade, sendo a Capacidade de Testemunhas, a compatibilidade de certas pessoas com a referida função (sigilo profissional) e a idoneidade da testemunha. Via de regra, a prova testemunhal apenas será admitida em atos negociais cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no país ao tempo de sua celebração (CC 207 e CPC Art. 401). E será admissível, qualquer que seja o valor do negócio como prova subsidiária ou complementar, havendo começo de prova por escrito. CC Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito. CPC Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados. Novo CPC revogou tal dispositivo do CC (Art. 1072 II), não havendo correspondência ao artigo 401 do CPC. 4- Presunção - Presunção é um processo racional do intelecto, pelo qual do conhecimento de um fato infere-se com razoável probabilidade a existência de outro ou o estado de uma pessoa ou coisa”. Cândido Rangel Dinamarco; que pode ser: Legal – Decorre da Lei e pode ser: Absoluta juris et jure – Se a norma estabelecer a verdade legal, não admitindo prova em contrário ao fato presumido. Ex. Um menor de 15 anos, mesmo sendo arrimo de família, presume-se absolutamente incapaz; as dívidas pelas compras em comum do casal de presumem-se de ambas, mesmo que não tenha autorização do outro cônjuge. (CC Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro: I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica; presunção de conhecimento do terceiro sobre a penhora de imóvel que fora transcrita na matrícula do bem (art. 659, § 4o, CPC) § 4o A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação do executado, providenciar, para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, a respectiva averbação no ofício imobiliário, mediante a apresentação de certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial Relativa juris tantum) – Se a lei estabelecer um fato como verdadeiro até prova em contrário. Ex. CC Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras em relação aos signatários; Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos; Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento. Simples – É a presunção deixada a critério e prudência do magistrado, que se funda naquilo que ordinariamente acontece ou em atos habituais do cotidiano. 4) Periciais – São provas decorrentes de análises de especialistas ou peritos que abrangem Exames (apreciação de alguma coisa pelo perito. Ex. Exame grafotécnico, Perícia contábil, Perícia Médica; Vistorias (Inspeção Ocular pelo Perito); Arbitramento(valoração de uma coisa ou obrigação) e Inspeções Judiciais (inspeção ocular pelo magistrado). Art. 1.072. Revogam-se: I - o art. 22 do Decreto-Lei no 25, de 30 de novembro de 1937; II - os arts. 227, caput, 229, 230, 456, 1.482, 1.483 e 1.768 a 1.773 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil); III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de fevereiro de 1950; IV - os arts. 13 a 18, 26 a 29 e 38 da Lei no 8.038, de 28 de maio de 1990; V - os arts. 16 a 18 da Lei no 5.478, de 25 de julho de 1968; e VI - o art. 98, § 4o, da Lei no 12.529, de 30 de novembro de 2011. Brasília, 16 de março de 2015; 194o da Independência e 127o da República.
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