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Resenha Manifesto Ciborgue

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A Ironia na Construção de Um Mito Político
Resenha do texto:
HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue Ciência: tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomas. Antropologia do ciborgue: As vertigens do pós-humano. 2ª edição. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2000. cap. 3, p. 35-46. Disponível em: https://we.riseup.net/assets/128240/ANTROPOLOGIA+DO+CIBORGUE.pdf>. Acesso em: 08 dez. 2017.
Warlison Cavichioli da Silva¹
O que a autora nos introduz sobre seu texto é que ele um ensaio na tentativa de construir um mito político, pleno de ironia e que seja fiel ao feminismo, socialismo e ao materialismo. Para ela a blasfêmia não é apostasia e a ironia está ligada às contradições que não se resolvem e sua fé irônica de blasfêmia está presente em uma imagem de ciborgue.
A explicação sobre o que é ciborgue para a autora logo no início já nos é apresentado híbrido humano e máquina está associado ao mundo da ficção que todos já conhecemos muito bem e está relacionado com o movimento das mulheres que são chamados de “experiência das mulheres”, que é um tanto ficcional e um tipo mais crucial e político. Assim como “o ciborgue é uma matéria de ficção e também de experiência vivida”. A ficção científica e a fronteira entre a realidade social é uma ilusão de ótica para Haraway. 
A suposta ficção sobre os ciborgues se confunde assim com a própria medicina moderna com suas junções de organismos e máquinas onde “uma intimidade e com um poder que nunca, antes, existiu na história da sexualidade”. A autora fala que o conceito Biopolítico de Foucault era uma premonição do que ocorre hoje mas que o Ciborgue não está sujeito a ela.
Essa grande confusão que se forma ao tratar em fronteira á algo prazeroso por Haraway, porém o manifesto está em favor da responsabilidade em sua construção. Além de estar em favor do movimento feminista da “tradição utópica de se imaginar um mundo sem gênero, que será talvez um mundo sem gênese, mas, talvez, também, um mundo sem fim”. E nesse mundo sem gênero está presente o ciborgue que não tem nenhum compromisso para com a bixessualidade. Ironicamente são essas formas que Haraway fala sobre o ciborgue sobre ele ser comprometido pela parcialidade ironia e a perversidade os colocando como um oposicionista utópico e nada inocente, parece ser referir a vários movimentos esquerdistas um deles já mencionados inclusive pela autora e essas mudanças estão presentes desde a polis como um todo e até no Eikos dentro dos lares familiares onde existe uma drástica mudanças em suas relações. Um ser sem reverência que anseia por conexão mas desconfiam de qualquer holismo e como principal problema, eles “são filhos ilegítimos do militarismo e do capitalismo patriarcal, isso para não mencionar o socialismo de estado. Mas os filhos ilegítimos são, com frequência, extremamente infiéis às suas origens. Seus pais são, afinal, dispensáveis”.
A separação sobre humano e natureza são completamentes rompidas na ciência estadunidense no século XX e de certa feita muitos já não vem essa necessidade e a muitas correntes feministas afirmam que tem prazer na existência de uma conceção entre humanos e outras criaturas vivas. Entre as correntes que afirmam a animalidade humana está a biologia-determinista mas não é a única e esse espaço é muito amplo. 
O que a autora está fazendo é nada mais do que uma criação de um mito fazendo crítica ao marxismo e ao feminismo radical, invocando a utilização de novas tecnologias e criando um debate sobre essa visão dualista sempre presente entre humano e não humano. Para isso ela faz uso de muita ironia como o próprio título já sugere. A autora ainda faz uma avaliação de como é que o mundo com suas novas tecnologias estão redigindo uma restruturação do lugar de trabalho e a forma como isso age nas relações sociais, pois a forma de como as mulheres são definidas por Haraway é a forma de integração/exploração. 
Por Edmar M. Braga Filho
“O ciborgue é nossa ontologia; ele determina nossa política”, afirma Donna Haraway, em seu instigante ensaio “Manifesto ciborgue. Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX.” Publicado originalmente no periódico Socialist Review, no ano de 1985, o texto propõe uma nova estratégia política feminista, que se relaciona com a ciência e a tecnologia.
Recorrente não só nas ficções científicas da atualidade, mas também na medicina e na guerra, a imagem do ciborgue surge como um “mito político”. Híbrido de máquina e organismo, ele invoca, para Haraway, dois pontos: I) uma ficção que mapeia nossa realidade social e corporal; e II) um recurso imaginativo que pode desencadear uma prática política, através de múltiplos acoplamentos. Além desses dois aspectos, o ciborgue corporifica o rompimento de algumas fronteiras, tão caras à ontologia e à epistemologia ocidentais: a existente entre natureza e cultura, humano e animal, homens e mulheres, primitivo e civilizado e entre mente e corpo. Haraway celebra, desta forma, “o prazer da confusão de fronteiras”, como também “a responsabilidade em sua construção”. Ao fim e ao cabo, Haraway usa a imagem do ciborgue para estabelecer uma contribuição para a teoria e para a cultura socialista-feminista, de uma forma “pós-modernista, não naturalista, na tradição utópica de se imaginar um mundo sem gênero, que será talvez um mundo sem gênese, mas, talvez, também, um mundo sem fim.”
A partir de uma crítica ao marxismo e ao feminismo radical, sobretudo no que tange à naturalização da “mulher” e da concepção de uma identidade única que as uniria, Haraway defende a heterogeneidade que um movimento feminista deve abarcar. “Não existe nada no fato de ser ‘mulher’ que naturalmente una as mulheres.”Ela propõe, assim, a substituição da categoria identidade por afinidade, ou, em outras palavras, uma identidade “pós-modernista, não totalizante, nem imperialista”. Um feminismo calcado na ideia de uma “mulher essencial” não deixaria espaço para a questão da raça (e eu acrescentaria que nem para as identidades trans*). Haraway diz que as “feministas-ciborgues têm que argumentar que ‘nós’ não queremos mais nenhuma matriz identitária natural e que nenhuma construção é uma construção totalizante”.
Após explanar sobre o ciborgue enquanto metáfora e mito político e estabelecer um projeto feminista que esteja fundamentado nas diferenças e afinidades, Haraway dá continuidade ao seu argumento, esboçando uma reflexão acerca da centralidade da tecnociência na estruturação das relações sociais da atualidade, e sobre o lugar em que as mulheres se encontram na atual divisão internacional do trabalho. A esses rearranjos das relações sociais, que são da ordem mundial, nas áreas da ciência e tecnologia, Haraway dá o nome de “informática da dominação”. A eletrônica, segundo a autora, desempenha uma função central nesta ordem do capitalismo multinacional:
“As tecnologias da comunicação dependem da eletrônica. Os estados modernos, as corporações multinacionais, o poder militar, os aparatos dos estados de bem-estar, os sistemas de satélite, os processos políticos, a fabricação de nossas imaginações, os sistemas de controle do trabalho, as construções médicas de nossos corpos, a pornografia comercial, a divisão internacional do trabalho e o evangelismo religioso dependem, estreitamente, da eletrônica.” (: 66)
Uma vez que, para Haraway, “a situação das mulheres é definida através de sua integração/exploração em um sistema mundial de produção/reprodução” com essas características, faz-se necessário uma teoria de uma prática “dirigida para as relações sociais da ciência e da tecnologia, incluindo os sistemas de mito e de significado que estruturam nossas imaginações.” Com “relações sociais de ciência e tecnologia”, Haraway aponta para o fato de que não estamos lidando com determinismos tecnológicos, mas sim um “sistema histórico que depende das relações estruturadas entre pessoas.” Além disso, também indica que a ciência e a tecnologia fornecem fontesrenovadas de poder. Como e onde ficam, neste cenário, as mulheres?
Para responder a essa questão, Haraway faz uso do termo, já cunhado anteriormente, “economia do trabalho caseiro”, todavia, “fora de casa”, indicando a chamada “feminização da pobreza” (que pode, inclusive, ser exercido por homens e mulheres, na maioria das vezes envolvendo questões de raça. O termo “feminização” se refere a um conjunto de características ditas feminina transpostas para o mundo do subtrabalho – o trabalho caseiro em larga escala). Esta expressão expressa uma posição extremamente vulnerável do trabalhador e da trabalhadora, capazes de ser “montado e remontado e explorado como uma força de trabalho reserva”. Há mais uma relação de servidão do que de trabalho propriamente dito. Essa massa de homens e mulheres, especialmente as “pessoas de cor” (person of color, em inglês, que designa todos aqueles que não são brancos), além de ficarem confinados à economia do trabalho caseiro, também correm o risco de ficarem presos ao analfabetismo, à impotência, alvos de aparatos repressivos high-tech, que vão do “entretenimento à vigilância e ao extermínio”. Para a autora, a ciência e a tecnologia desempenham papel crucial nesta arquitetura maldita:
“Uma vez que grande parte desse quadro está conectado com as relações sociais da ciência e da tecnologia, é óbvia a urgência de uma política socialista-feminista dirigida para a ciência e para a tecnologia.”(:81)
A cultura high-tech, paradoxalmente e de forma intrigante, contesta os dualismos citados anteriormente (mente/corpo, natureza/cultura, homem/mulher) – essenciais à lógica e à prática da dominação sobre as mulheres, as pessoas de cor, a natureza, os animais. Em suma, “a dominação de todos aqueles que foram constituídos como outros e cuja tarefa consiste em espelhar o eu [dominante].”
“A replicante Rachel no filme Blade Runner, de Ridley Scott, destaca-se como a imagem do medo, do amor e da confusão da cultura-ciborgue.”
Por fim, Haraway defende a escrita como uma forma de tecnologia ciborgue, sendo a linguagem um veículo essencial da luta política. Ela não estabelece uma estratégia prática claramente, priorizando o uso imaginativo. A imagem do ciborgue, segundo a autora, expressa dois argumentos centrais do ensaio: a de que uma teoria universal e totalizante é um grande equívoco, deixando de apreender a maior parte da realidade. Em segundo lugar, que “assumir a responsabilidade pelas relações sociais da ciência e da tecnologia significa recusar uma metafísica anticiência, uma demonologia da tecnologia”. Haraway finaliza dizendo que, “embora estejam envolvidas, ambas, numa dança em espiral, prefiro ser uma ciborgue a uma deusa.”
por Marcella Alencar
e melhorados a partir das tecnologias. A relação do homem e da máquina parece retirar, a priori parte da humanidade que existe e afastar o cyborg da realidade social. Quando partirmos da concepção de cyborg, já produzimos mentalmente uma relação de forma que aquele ser “menos humano” possui.
Não obstante, longe de ser apenas um ser ficcionalizado (no sentido imaginário e irreal do termo), o cyborg corresponde às experiências vividas e a realidade social por meio pelo qual construímos a política contemporânea. É possível que, desde o início da humanidade, já não possamos distinguir onde começa o humano e onde começa a máquina, visto que o próprio humano não é totalmente orgânico e natural, principalmente ao verificarmos este ser dentro da perspectiva antropológica, que determina que todo humano já nasce imbricado em uma cultura – cultura esta que possui uma série de aparelhos ideológicos, como colocaria Althusser – que modifica e molda aquilo que temos de ‘natural’. Não permanecendo só na passividade, o cyborg também poderia ser considerado um ser que possui em sim uma série de relações culturais e históricas, mas que também modifica a si próprio a partir do uso de meios técnicos.
Duas características marcantes do cyborg são a sua ubiquidade, isto é, sua capacidade de estar em tudo e todos e sua invisibilidade, que o torna de difícil a distinção entre o que é humano/máquina/natureza (ou se de fato existe essa diferenciação), já que as coisas não são dadas como ordem agnoseológicas, ou seja, naturalizadas, pois “assim é a ordem natural”.
É neste sentido que Donna Haraway, filósofa e cientista estadunidense, desenvolve a concepção de cyrborg, problematizando uma das categorias que é vista como mais natural: o gênero e o sexo a partir de uma perspectiva socialista feminista, pois seria, para ela, necessário imaginar e construir “um mundo sem gênero, talvez um mundo sem gênese, mas que pode ser também um mundo sem fim.” ( p. 245). É no gênero e no sexo, visto como dois pontos que se unem para tornar o sujeito inteligível, que as tecnologias parecem mais invisíveis e mais ubíquas.
Desde antes do nascimento do sujeito que somos regulados pela medicina, pelas máquinas de ultrassom e demais aparelhos técnicos, que os médicos determinam qual o nosso sexo (e, automaticamente, o nosso gênero), ao exprimir que o feto “é um menino(a)”. A tecnologia já incide e é por nos modificada para regularmos e modificarmos as coisas com o propósito de regular e estilizar nossos corpos e nossas formas para que estas possam equivaler a um ideal tido dentro do binário “feminino” e “masculino”, ou como diria Judith Butler, tornarmos nossos corpos inteligíveis a partir de regimes de poder que partem de normas heterossexistas (ou seja, que consideram o indivíduo hétero como o ‘normal’ e ‘natural’) e masculinos (que vê a mulher/feminino como complementar ou em oposição ao homem/masculino).
A partir da concepção de cyborg, é que Donna Haraway desconstrói essa ideia de que o gênero e o sexo são consoantes “por natureza”. Partindo do feminismo socialista, a autora coloca que as tecnologias “são instrumentos cruciais no readestramento de nossos corpos. Estes instrumentos incorporam e reforçam as novas relações sociais para as mulheres do mundo inteiro” (p. 262). Mas estes mesmos instrumentos podem servir para subverter e promover uma nova maneira de perceber a identidade, já que a própria categoria não deve ser encarada como natural, pois, no momento em que se delimita o “ser mulher” ou “ser homem”, delimitamos também as possibilidade de vida dos seres humanos e as regulamos no sentido de reafirmar a ordem do patriarcado, que considera todos aqueles que não têm sua identidade de gênero consoante com seu sexo, como seres anormais e que precisam ser afastados e ‘curados’ para adentrar na ‘normalidade social’.
Desta forma, o cyborg feminista que Haraway sugere, trata a identidade de gênero e o sexo como categorias complexas, construídas por meio de discursos e relações de poder que podem ser modificados por tecnologias, ou por outras práticas sociais questionáveis. Para ela “não existe nada no fato de ser ‘mulher’ que naturalmente uma as mulheres. Não existe nem mesmo uma tal situação – ser ‘mulher’.”, pois esta categoria já seria exclusiva a um grupo restrito, assim como foi há algumas décadas, logo no surgimento do feminismo, em que as mulheres negras, trans ou de classe baixa não possuíam lugar dentro do movimento. Destarte, o conceito de cyborg e o manifesto escrito, reposicionam o sujeito como histórico e social e técnico e sugere que nos apropriemos destas tecnologias para redirecionar o sentido que é dado para modificar as estruturas sociais.
___________________________________
¹Discente do Curso de Antropologia junto a Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA sob o número de matrícula 201400384.

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