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1 Filosofia Contemporânea – Escola de Frankfurt Aula 17 5 Filosofia Origem da Escola de Frankfurt Fundado em 1924, o Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt teve na revista de mesmo nome seu canal de expressão mais importante. Com a ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha em 1933, o Instituto, cuja maior parte dos membros era de origem judaica, transfere-se para Genebra, depois para Paris e, finalmen- te, para Nova York. Nesta cidade a revista passou a ser publicada com o título de Estudos de Filosofia e Ciências Sociais. Com a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial, os principais diretores da revista puderam regressar à Alemanha e reorganizar o Instituto em 1950. Um de seus mais brilhantes membros, no entanto, su- cumbe ao horror da guerra: Walter Benjamin se suicida ao não conseguir fugir do nazismo. Desenvolveram o que se denominou de Teoria crítica e buscaram refletir o pensamento marxista à luz dos acontecimentos das primeiras décadas do século XX. As guerras e o repensar sobre a razão A Primeira Guerra Mundial, a crise do capitalismo liberal e a ascensão dos fascismos, particularmente o nazismo na Alemanha, causaram um forte abalo na perspectiva da razão iluminista e na ideia de progres- so. O que estava acontecendo era, ao contrário, uma barbárie das ações e das convicções. A Primeira Guerra deixou um saldo de 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, além de terras e economias arrasadas. A Crise de 1929 pôs por terra o mito do crescimento da produção associado ao desenvolvimento tecnológico. Os fascismos demoliram os conceitos de democracia e mesmo de indivíduo, tão duramente construídos ao longo de séculos, desde a ágora grega. E agora, o que fazer? Pensar, pensar tudo de novo. Caricaturas de Félix Weil, Walter Benjamin, Horkheimer e Adorno © Ro be rt o Bo br ow (B ob R ow ) Autores Adorno, Horkheimer, Marcuse e Walter Benjamin foram alguns dos pensadores que tentaram, por meio de uma reflexão partindo da razão iluminista, descobrir como e por qual motivos os europeus acabaram che- gando ao ponto no qual estavam. Para eles, a lógica da Crise de 1929, Oklahoma, Estados Unidos © W ik im ed ia C om m on s/ Li vr ar ia d o Co ng re ss o do s Es ta do s Un id os /D or o- th ea L an ge 2 Extensivo Terceirão política, da ciência e da economia, bem como a lógica da história, que registra todos esses acontecimentos, da filosofia do século XIX e do começo do século XX, é a mesma lógica, mecânica, fixada no princípio da iden- tidade e da causalidade. Ou seja, uma lógica ou razão tradicional em linha reta, absoluta, sem alternativas que não sejam imediatamente denominadas de “irracionais”. Assim, essa razão tradicional, partindo de uma ideia de que com a união dos esforços visando a um fim comum seria possível superar as dificuldades e alcançar um objetivo melhor do que o anterior, transformando a sociedade desigual e autoritária em igual e livre, tudo o que acabou conseguindo alcançar foi o totalitarismo do nazismo e do stalinismo! Essa visão, que Marcuse cha- mará de unidimensional, estaria, segundo os autores, na raiz dos problemas que o século XX conheceu. E a solução? Resgatar uma razão não marcada pelas amarras da continuidade necessária, repensar uma his- tória libertada do tempo em linha reta que só conseguia repetir as catástrofes, como uma reedição do mesmo drama, mas com uma repaginação mais “atualizada”. E, principalmente, resgatar o diferente, romper com a identidade que anula qualquer oposição, qualquer ma- tiz, transformando tudo em projeto comum, encarnado em um poder que fala por todos e defende o “melhor” de todos e só conseguindo ser, em última instância, totalitário e aniquilador de qualquer oposição. A paz, nessa perspectiva, é a destruição dos desviantes e não um acordo de concessões mútuas e respeitos pela diferença. A paz é o holocausto da Alemanha nazista e os gullags na União Soviética stalinista, além de tantas e tantas prisões e porões de torturas das ditaduras latino-americanas. Os pensadores da Escola de Frankfurt, ao debruçarem- -se sobre o pensamento que proporcionou, na visão deles, as catástrofes do século XX, percebem matrizes platônicas no pensamento dialético contemporâneo. Na obra Dialética negativa, Adorno afirma que a ideia de essência de Platão, em oposição ao mundo das aparências, está presente tanto na dialética hegeliana quanto na marxista e essas correntes filosóficas não desejam mais do que realizar a ideia de um mundo perfeito e idêntico na Terra, como o mundo imutável e eterno pensado por Platão. Theodor Adorno, 1960 © ak g- im ag es /A lb re n/ Fo to ar en a A tendência a criar conceitos para ancorar nossas ações e identidades para traduzir nossas posturas contribui para tirar da ação humana sua singularidade. Assim, somos “um povo”, pertencemos “a uma nação”, temos sentimen- to pela “nossa pátria”, etc., e nosso comportamento acaba sempre sendo associado a este conceito. Quando, na Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014, vaiamos, é porque somos impatrióticos; quando reclamamos da realização do evento, não contribuímos para a “nossa imagem lá fora”, como se fosse possível essa identidade tão reducionista. Por isso, afirmam os pensadores da Escola de Frankfurt, o uso desses jargões, “povo, pátria, nação” tem um caráter totalizante e sempre usado para se referir a uma oposição a alguma coisa: “nossa nação contra, nosso povo contra, nossa pátria contra”. É o discurso da guerra, da torcida, do partidarismo. É o discurso da violência. E também aqui, as matizes são eliminadas. Em um discurso de violência, totalizante, as opções são sempre dicotômicas: Ame-o ou deixe-o! Viver ou morrer pela pátria! Os que não aderem são os inimigos, os que titubeiam são os fracos, os que discutem, reagem, são traidores. A visão totalizante busca amparo na Ciência Natural e Jurídica e fala em “lei”. E para aqueles que atentam contra a lei, a visão totalizante resgata a ideia do “julgamento e condenação, detecção e desinfecção”. No nazismo, os judeus eram chamados de vírus que punham em risco a saúde do corpo do Estado. O que aconteceu com eles, a História já contou... Sociedade administrada Para os pensadores da Escola de Frankfurt, o sucesso dessa filosofia da identidade suprimiu o sujeito histórico, integrando-o a uma sociedade totalmente administra- da. E isso não vale somente para os Estados totalitários, como foram a Alemanha nazista e a União Soviética stalinista. Vale para toda sociedade industrializada, na qual a figura do sujeito singular tornou-se o consumidor, o cliente, o cidadão submetido a leis e regras cuja alter- nativa ao conformismo é sempre a exclusão e a condição © Sh ut te rs to ck /b om g Aula 17 3Filosofia 5 de pária. Em sua obra Mínima Moralia, afirma Adorno, em tom lúgubre: A ideia de que o indivíduo está sendo destruído é por demais otimista. Um exemplo marcante destacado por Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse da destruição do indi- víduo é o que eles denominaram de indústria cultural ou sociedade unidimensional. Para eles, a economia moderna, a administração moderna e o Estado moder- no reduziram todas as pessoas a uma relação de troca, liquefazendo as singularidades e colocando os ideias do Iluminismo de liberdade e igualdade em um horizonte teórico e distante. Essa perda de um contraponto em- purra a sociedade unidimensional para um nível sempre mais denso de si mesma, sem a possibilidade de uma antítese que a recoloque no centro. Se só o indivíduo consciente de sua condição pode insurgir-se contra ela, na medida em que todos perdem a identidade de portadores de uma vontade autônoma, a autonomia deixa de ser uma possibilidade real, tornando-se apenas uma expressão grafada em livros de História. A luta por igualdade, que pautou a formação dos Estados contem- porâneos, acabou criando um homem unidimensional. Agora, o que estáem questão para os pensadores da Escola de Frankfurt é a luta pela diferença: tudo o que pode ser comparado, pode ser trocado, tem um preço; o que não pode ser trocado, não tem preço, mas dignida- de: o homem. Reconstruir a noção de indivíduo como um ser singular, dissociado das categorizações e submissões a modelos totalizantes de pátria, nação e Estado é a crítica que compõe a base do pensamento da Escola de Frankfurt. E, para isso, eles defendem a revalorização de toda e qualquer prática, comportamento ou elemento singularizante e mobilizador do indivíduo, em uma sociedade que nos empurra para o conformismo e para a obediência. Daí as temáticas desses autores versarem, entre outras coisas, por temas aparentemente irrelevantes, mas exatamente por serem considerados assim pela “opinião geral”, tremendamente importantes como catalisadores de um olhar de resgate do singular: o amor, a memória, a experiência, o brincar, o flaneur, as coleções, a música, a poesia, a arte, etc. Walter Benjamin nos dá um exemplo muito interes- sante desse olhar singularizante e re-humanizador do mundo, no seu texto O colecionador. Para Benjamin, o colecionador arranca os objetos do falso contexto para inseri-los dentro de uma nova ordem comandada pelos interesses de cada presente, assim como o catador que se volta para o esquecido e considerado inútil, dando ao que foi “jogado fora” uma dignidade nova e, ao mesmo tempo, revelando o que é a própria História, um discurso de barbárie no qual o sistema de consumo mercantil transforma tudo em ruínas e pó. É decisivo na arte de colecionar que o objeto seja desligado de todas as suas funções primiti- vas, a fim de travar a relação mais íntima que se pode imaginar com aquilo que lhe é semelhante. Esta relação é diametralmente oposta à utilidade e situa-se sob a categoria singular da completude. O que é esta “completude”? É uma grandiosa ten- tativa de superar o caráter totalmente irracional de sua mera existência através da integração em um sistema histórico novo, criado especialmen- te para este fim: a coleção. E para o verdadeiro colecionador, cada uma das coisas torna-se nes- te sistema uma enciclopédia de toda a ciência da época, da paisagem, da indústria, do proprietário do qual provém. (Benjamin) O passado como tarefa de colecionador Uma outra imagem poderosa apresentada por Walter Benjamin como crítico da sociedade admi- nistrada é a que se traduz na frase: escovar a História a contrapelo. Contra a visão totalizante da História, da noção de progresso e da lógica dos vencedores como um processo “natural”, Ben- jamin lembra os mortos que deixaram para nós a tarefa de resgatar suas vozes. Assim como tudo o que ficou pelo caminho e que tem história, nossa experiência com o mundo não pode ser apenas a que se coaduna com as regras estabelecidas por um sistema desumanizador. Há mais do que os achados em uma escavação, afirma ele. Há toda a terra revolvida e aquilo que é deixado de lado, marcas de vivências e experiências ricas e desafiadoras. Para Benjamin, quem melhor expressa esse olhar rico sobre as coisas, olhar ainda não treinado para o “útil” e para o “efetivo”, são as crianças. Na obra Infância em Berlim por volta de 1900, o filósofo alemão busca resgatar lugares e entornos pelo olhar das crianças, antes do “aprendizado” da vida adulta. Um olhar infantil que é atraído pelo que se encontra às margens, pelo que tem “estatuto impreciso”, pelo que é fascinante pelo seu mistério e não pela sua função, pelo que ganha dimensão de mundo para elas, alimentada pela fantasia e imaginação e não pela mera repetição das práticas voltadas para fins. Como afirma o próprio autor: © W ik im ed ia C om m on s/ Ak ad em ie d er K ün st e, B er lin - W al te r B en ja m in A rc hi v Walter Benjamin, 1928 4 Extensivo Terceirão As crianças são inclinadas de modo especial a procu- rar todo e qualquer lugar de trabalho onde visivelmente transcorre a atividade sobre as coisas. Sentem-se irresisti- velmente atraídas pelo resíduo que surge na construção, no trabalho de jardinagem ou doméstico, na costura ou na marcenaria. Em produtos residuais reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e para elas unicamente. Neles, elas menos imitam as obras dos adultos do que põem materiais de espécie muito diferente, através daquilo que com eles aprontam no brinquedo, em uma nova, brusca relação entre si. No fragmento “Criança desordeira” Benjamin fala da criança como produtora de cultura e colecionadora: Cada pedra que ela encontra, cada flor colhida e cada borboleta capturada já é para ela princípio de uma coleção, e tudo que ela possui, em geral, constitui para ela uma coleção única. Nela essa paixão mostra sua ver- dadeira face, o rigoroso olhar índio, que, nos antiquários, pesquisadores, bibliômanos, só continua ainda a arder turvado e maníaco. Mal entra na vida ela é caçador. Caça os espíritos cujo rastro fareja nas coisas; entre espíritos e coisas ela gasta anos, nos quais seu campo de visão permanece livre de seres humanos. (…) Seus sonhos de nômade são horas na floresta do sonho. De lá ela arrasta a presa para casa, para limpá-la, fixá-la, desenfeitiçá-la. Suas gavetas têm de tornar-se casa de armas e zooló- gico, museu criminal e cripta. “Arrumar” seria aniquilar. © Sh ut te rs to ck /T on yN g Da mesma forma, o passado é algo que precisa ser resgatado do conjunto de resíduos em que se transfor- mou o fluxo contínuo e ininterrupto de nossas vidas. E é necessário, para isso, o escavador, alguém capaz de realizar esse paciente trabalho de devolver os sentidos das coisas e não apenas organizar as coisas em face dos sentidos que queremos delas no presente. No seu último texto antes de se suicidar, em 1940, As Teses Sobre o conceito de história, Benjamin afirma: “A história universal não tem armação teórica. Seu procedimento é aditivo. Ela utiliza a massa dos fatos para com ele preen- cher o tempo homogêneo e vazio” E opõe essa prática à ideia de escovar a História a contrapelo, escapando “do ritmo mais ou menos rápido com que homens e épocas avançam no caminho do progresso” e construindo o passado a partir de um diálogo do presente, como um encontro entre um acontecido cheio de possibilidades não germinadas e um acontecendo que não precisa, necessariamente, ser a herança de uma linha de fatos, mas que pode ser o resgate desses passados não ger- minados. © Sh ut te rs to ck /m at is Marcuse e a Revolução dos costumes A reflexão da e a partir da perspectiva marxista foi a referência básica do pensamento da Escola de Frankfurt, embora nem todos os pensadores tenham mantido o mesmo grau de aproximação e fidelidade às ideias de Marx. Outras referências filosóficas, como Kant e o seu conceito de indivíduo, ou não filosóficas, como o mes- sianismo judaico no conceito de História em Benjamin, são marcantes. Em Marcuse, autor de Eros e a Civilização, o pensamento de Freud é um destaque. Assim como em Freud, Marcuse afirma que a repressão é o “caminho” para o desenvolvimento da civilização. No entanto, fiel à linhagem marxista, Marcuse rejeita o caráter perma- nente da repressão proposta por Freud e afirma que por meio do desenvolvimento de uma consciência crítica, os homens podem se livrar das formas de alienação e repressão a que estão submetidos e que impedem a realização de seus desejos e prazeres. O Estado, a tec- nologia, a repressão dos costumes e alienação são, para ele, os “inimigos” a serem combatidos. Aula 17 5Filosofia 5 E quem combateria o mundo administrado, a indústria cultural, a sociedade de mas- sas, alienadora? Os proletários, como afirmava Marx? Para Marcuse, o combate seria feito por meio daqueles “rejeitados” pelo sistema, os outsiders, os miseráveis, os despossuídos. Essas ideias tiveram um grande impacto no Ocidente nos anos 60, com a chamada contracultura, o movimento hippie e todosos que se opunham ao imperialismo, aos Estados totalitários – como os jovens latino-americanos – e às guerras, como a do Vietnã. Marcuse, com a morte de Benjamin, tornou-se o mais radical dos pensadores de Frankfurt e inspirador de toda uma geração que vislumbrou, nos anos 60, uma possibilidade de “fazer História com as próprias mãos”. E hoje, qual a atualidade do pensamento dos frankfurtianos? O que você acha? © W ik im ed ia C om m on s/ Ha ro ld M ar cu se Marcuse, 1955 Testes Assimilação 17.01. (UNIOESTE – PR) – O ensaio “Indústria Cultural: o esclarecimento como mistificação das massas”, de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, publicado originalmente em 1947, é considerado um dos textos essenciais do século XX que explicam o fenômeno da cultura de massa e da indústria do entretenimento. É uma das várias contribuições para o pensamento contemporâneo do Instituto de Pesquisa Social fundado na década de 1920, em Frankfurt, na Alemanha. Um ponto decisivo para a compreensão do conceito de “Indústria Cultural” é a questão da autonomia do artista em relação ao mercado. Assim, sobre o conceito de “Indústria Cultural” é correto afirmar: a) A arte não se confunde com mercadoria, e não necessita da mídia e nem de campanhas publicitárias para ser divulgada para o público. b) Não há uniformização artística, pois toda cultura de massa se caracteriza por criações complexas e diversidade cultural. c) A cultura é independente em relação aos mecanismos de reprodução material da sociedade. d) A obra de arte se identifica com a lógica de reprodução cultural e econômica da sociedade. e) Um pressuposto básico é que a arte nunca se transforma em artigo de consumo. 17.02. (ENEM) – Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa. ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a) a) legado social. c) produto da moralidade. e) ilusão da contemporaneidade. b) patrimônio político. d) conquista da humanidade. 17.03. (UEM – PR) – No livro Dialé- tica do Esclarecimento, os filósofos alemães, da Escola de Frankfurt, T. Adorno e M. Horkheimer, cunha- ram a expressão “indústria cultural” para caracterizar a transformação das expressões artísticas a partir do surgimento da sociedade industrial capitalista. Sobre a indústria cultural, é correto afirmar que 01) os meios de comunicação surgi- dos com o desenvolvimento tec- nológico, como o rádio e o cine- ma, contribuíram para a criação de um mercado consumidor dos objetos artísticos. 02) a reprodução técnica das obras de arte tem como finalidade úni- ca promover o acesso universal e democrático aos bens culturais. 04) a indústria cultural transforma em bens de consumo tanto as artes populares, próprias da cul- tura de massa, quanto as artes eruditas, voltadas para um públi- co educado e restrito. 08) as produções artísticas perdem seu caráter crítico, à medida que são submetidas ao domínio eco- nômico das regras do mercado. 16) a massificação das expressões artísticas promove a difusão da cultura, resultando em um pa- drão de gosto “médio”, comum a todo o público. 6 Extensivo Terceirão 17.04. (ENEM) – TEXTO I A melhor banda de todos os tempos da última semana O melhor disco brasileiro de música americana O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos Não importa contradição O que importa é televisão Dizem que não há nada que você não se acostume Cala a boca e aumenta o volume então. MELLO, B.; BRITTO, S. A melhor banda de todos os tempos da última semana. São Paulo: Abril Music, 2001 (fragmento). TEXTO II O fetichismo na música e a regressão da audição Aldous Huxley levantou em um de seus ensaios a seguinte pergunta: quem ainda se diverte realmente hoje num lugar de diversão? Com o mesmo direito poder- -se-ia perguntar: para quem a música de entretenimento serve ainda como entretenimento? Ao invés de entre- ter, parece que tal música contribui ainda mais para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como expressão, para a incapacidade de comunicação. ADORNO, T. Textos escolhidos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. A aproximação entre a letra da canção e a crítica de Adorno indica o(a) a) lado efêmero e restritivo da indústria cultural. b) baixa renovação da indústria de entretenimento. c) influência da música americana na cultura brasileira. d) fusão entre elementos da indústria cultural e da cultura popular. e) declínio da forma musical em prol de outros meios de entretenimento. Aperfeiçoamento 17.05. (UNESP – SP) – Concentração e controle, em nossa cultura, escondem-se em sua própria manifestação. Se não fossem camuflados, provocariam resistências. Por isso, precisa ser mantida a ilusão e, em certa medida, até a realidade de uma realização individual. Por pseudoin- dividuação entendemos o envolvimento da cultura de massas com uma aparência de livre-escolha. A padro- nização musical mantém os indivíduos enquadrados, por assim dizer, escutando por eles. A pseudoindividu- ação, por sua vez, os mantém enquadrados, fazendo-os esquecer que o que eles escutam já é sempre escutado por eles, “pré-digerido”. Theodor Adorno. “Sobre música popular”. In: Gabriel Cohn (org.). Theodor Adorno, 1986. Adaptado. Em termos filosóficos, a pseudoindividuação é um conceito a) identificado com a autonomia do sujeito na relação com a indústria cultural. b) que identifica o caráter aristocrático da cultura musical na sociedade de massas. c) que expressa o controle disfarçado dos consumidores no campo da cultura. d) aplicável somente a indivíduos governados por regimes políticos totalitários. e) relacionado à autonomia estética dos produtores musicais na relação com o mercado. 17.06. (UNESP – SP) – Não somente os tipos das canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo só varia na aparência. O fracasso temporário do herói, que ele sabe suportar como bom esportista que é; a boa palmada que a namorada recebe da mão forte do astro, são, como todos os detalhes, clichês prontos para serem empregados arbitrariamente aqui e ali e completamente definidos pela finalidade que lhes cabe no esquema. Desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado, e, ao escutar a música ligeira, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros com- passos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente- -se feliz quando ele tem lugar como previsto. O número médio de palavras é algo em que não se pode mexer. Sua produção é administrada por especialistas, e sua pequena diversidade permite reparti-las facilmente no escritório. Theodor W. Adorno e Max Horkheimer. “A indústria cultural como mistificação das massas”. In: Dialética do esclarecimento, 1947. Adaptado. O tema abordado pelo texto refere-se a) ao conteúdo intelectualmente complexo das produções culturais de massa. b) à hegemonia da cultura americana nos meios de comu- nicação de massa. c) ao monopólio da informação e da cultura por ministérios estatais. d) ao aspecto positivo da democratização da cultura na sociedade de consumo. e) aos procedimentos de transformação da cultura em meio de entretenimento. 17.07. (UEM – PR) – Utilizando o conceito de indústria cultu- ral, os filósofos Adornoe Horkheimer criticaram os meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio, o cinema e os jornais, afirmando que produzem e vendem mercadorias culturais sem qualidade com os objetivos de obter lucro e de fazer propaganda da forma de vida capitalista e desumanizada. Tendo em vista essa concepção, é correto afirmar que 01) os meios de comunicação contribuem para a conscien- tização política e o senso crítico dos cidadãos. 02) a televisão é um meio completamente inofensivo, já que os espectadores podem mudar de canal. 04) é necessária uma crítica severa aos conteúdos divulga- dos pelos meios de comunicação, visando à libertação dos seres humanos da influência da indústria cultural. 08) através de programas de entretenimento a indústria cul- tural contribui para a qualidade de vida dos indivíduos. 16) os meios de comunicação contribuem para o confor- mismo dos espectadores, que tendem a se tornar pas- sivos diante do mundo. Aula 17 7Filosofia 5 17.08. (UEGO) – Leia a letra da música a seguir. A melhor banda de todos os tempos da última semana Quinze minutos de fama Mais uns pros comerciais Quinze minutos de fama Depois descanse em paz O gênio da última hora É o idiota do ano seguinte O último novo-rico É o mais novo pedinte A melhor banda de todos os tempos da última semana O melhor disco brasileiro de música americana O melhor disco dos últimos anos de sucessos do passado O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos Não importa a contradição O que importa é televisão Dizem que não há nada a que você não se acostume Cala a boca e aumenta o volume então As músicas mais pedidas Os discos que vendem mais As novidades antigas Nas páginas dos jornais Um idiota em inglês Se é idiota, é bem menos que nós Um idiota em inglês É bem melhor que eu e vocês A melhor banda de todos os tempos da última semana O melhor disco brasileiro de música americana O melhor disco dos últimos anos de sucesso do passado O maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos Não importa a contradição O que importa é televisão Dizem que não há nada a que você não se acostume Cala a boca e aumenta o volume então Os bons meninos de hoje Eram os rebeldes da outra estação O ilustre desconhecido É o novo ídolo do próximo verão. TITÃS. Disponível em: <https://www.letras.mus.br/titas/40320>. Acesso em: 21 mar. 2019. A mensagem transmitida pela música aponta para um dos temas fundamentais da sociologia, que foi desenvolvido por vários pensadores, entre eles Theodor Adorno e Max Horkheimer. Nesse sentido, a mensagem remete a) ao caráter passageiro dos produtos culturais elaborados pela indústria cultural. b) à globalização do gosto musical a partir da populariza- ção da televisão nos anos 1970. c) à influência da língua inglesa nas composições musicais dos artistas brasileiros. d) à modernização da produção musical a partir da rees- truturação produtiva. e) ao caráter competitivo das relações sociais na sociedade moderna. 17.09. (UFPA) – “Adorno e Horkheimer (os primeiros, na década de 1940, a utilizar a expressão “indústria cultural” tal como hoje a entendemos) acreditam que esta indústria desempenha as mesmas funções de um estado fascista (...) na medida em que o indivíduo é levado a não meditar sobre si mesmo e sobre a tota- lidade do meio social circundante, transformando-se em mero joguete e em simples produto alimentador do sistema que o envolve.” COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural, São Paulo, Editora Brasiliense, 1987, p. 33. Texto adaptado. Adorno e Horkeimer consideram que a indústria cultural e o Estado fascista têm funções similares, pois em ambos ocorre a) um processo de democratização da cultura ao colocá-la ao alcance das massas o que possibilita sua conscientização. b) o desenvolvimento da capacidade do sujeito de julgar o valor das obras artísticas e bens culturais, assim como de conviver em harmonia com seus semelhantes. c) o aprimoramento do gosto estético por meio da indús- tria do entretenimento, em detrimento da capacidade de reflexão. d) um processo de alienação do homem, que leva o indi- víduo a perder ou a não formar uma imagem de si e da sociedade em que vive. e) o aprimoramento da formação cultural do indivíduo e a melhoria do seu convívio social pela inculcação de valores, de atitudes conformistas e pela eliminação do debate, na medida em que este produz divergências no âmbito da sociedade. 17.10. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. O modo de comportamento perceptivo, através do qual se prepara o esquecer e o rápido recordar da música de massas, é a desconcentração. Se os produ- tos normalizados e irremediavelmente semelhantes entre si, exceto certas particularidades surpreenden- tes, não permitem uma audição concentrada, sem se tornarem insuportáveis para os ouvintes, estes, por sua vez, já não são absolutamente capazes de uma audição concentrada. Não conseguem manter a tensão de uma concentração atenta, e por isso se entregam resignadamente àquilo que acontece e flui acima deles, e com o qual fazem amizade somente porque já o ouvem sem atenção excessiva. ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: Adorno et all. Textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p.190. Coleção Os Pensadores. 8 Extensivo Terceirão As redes sociais têm divulgado músicas de fácil memorização e com forte apelo à cultura de massa. A respeito do tema da regressão da audição na Indústria Cultural e da relação entre arte e sociedade em Adorno, assinale a alternativa correta. a) A impossibilidade de uma audição concentrada e de uma concentração atenta relaciona-se ao fato de que a música tornou-se um produto de consumo, encobrindo seu poder crítico. b) A música representa um domínio particular, quase autô- nomo, das produções sociais, pois se baseia no livre jogo da imaginação, o que impossibilita estabelecer um vínculo entre arte e sociedade. c) A música de massa caracteriza-se pela capacidade de mani- festar criticamente conteúdos racionais expressos no modo típico do comportamento perceptivo inato às massas. d) A tensão resultante da concentração requerida para a apreciação da música é uma exigência extramusical, pois nossa sensibilidade é naturalmente mais próxima da desconcentração. e) Audição concentrada significa a capacidade de apreender e de repetir os elementos que constituem a música, sendo a facilidade da repetição o que concede poder crítico à música. Aprofundamento 17.11. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. As reações mais íntimas das pessoas estão tão com- pletamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abs- tração: personality significa para elas pouco mais que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar li- vres do suor nas axilas e das emoções. Eis aí o triunfo da publicidade na indústria cultural. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 138. A respeito da relação entre Indústria Cultural, esvaziamento do sentido da experiência e superficialização da personali- dade, assinale a alternativa correta. a) A abstração a respeito da própria personalidade é uma capacidade por meio da qual o sentido da experiência, esvaziado pela Indústria Cultural, pode ser reconfigurado e ressignificado. b) A superficialização da personalidade e o esvaziamento do sentido da experiência são efeitos secundários da In- dústria Cultural, decorrentes dos exageros da publicidade. c) A superficialização da personalidade resulta da ação por meio da qual a Indústria Cultural esvazia o sentido da experiência ao concebê-la como um sistema de coisas. d) O esvaziamento do sentido da experiência criado pela Indústria Cultural atesta a superficialidade inerente à personalidade na medida em que ela é uma abstração. e) O poder de reificação exercido pela Indústria Cultural sobre apersonalidade consiste em criar um equilíbrio entre sen- sibilidade (emoções) e pensamento (máxima abstração). 17.12. (UEM – PR) – “As ideias de ordem que ela [indústria cultural] inculca são sempre as do status quo. Elas são aceitas sem objeção, sem análise, renunciando à dialética, mesmo quando não pertencem substancialmente a nenhum daque- les que estão sob sua influência. O imperativo categórico da indústria cultural, diversamente do de Kant, nada tem em comum com a liberdade.” ADORNO, T. W. A indústria cultural. In: COSTA, C. Sociologia – Introdução à ciência da sociedade. 4ª. ed. São Paulo: Moderna, 2010, p. 349. Sobre a indústria cultural e o excerto citado, assinale o que for correto. 01) O resultado da indústria cultural é emancipador, pois coloca em evidência, por meio da razão esclarecida, as estruturas de dominação e alienação da sociedade. 02) A indústria cultural reflete a manipulação da imagem proveniente da técnica. Ao identificar ser e aparência, o recurso à imagem revolucionou a cultura no fim do século XX. 04) Ao reagir contra o domínio dos meios de comunicação de massa, Adorno põe em questão o mecanismo de produ- ção e divulgação da informação, que é responsável, em larga medida, pela manipulação do campo simbólico. 08) São decorrentes da indústria cultural a padronização do gosto popular, a estratificação de culturas dominantes sobre culturas não dominantes e a produção de uma sociedade de consumo. 16) O alvo das críticas de Adorno à indústria cultural é a sociedade unidimensional, em que a imaginação, os desejos e os projetos subjetivos não são críticos, mas unívocos. 17.13. (UEM – PR) – “Desde sempre, o Iluminismo, no sentido mais abrangente de um pensar que faz progres- sos, perseguiu o objetivo de livrar os homens do medo e de fazer dele senhores. Mas, completamente iluminada, a Terra resplandece sob o signo do infortúnio triunfal. O programa do Iluminismo era o de livrar o mundo do feitiço. Sua pretensão, a de dissolver os mitos e anular a ilusão, por meio do saber.” HORKHEIMER, M.; ADORNO, T. Conceito de iluminismo. In: COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 166. Com base nesse excerto e nos seus conhecimentos sobre o Iluminismo, assinale o que for correto. 01) A palavra medo, no texto, diz respeito ao desconhecido. 02) A razão esclarecida depende de Deus, entidade trans- cendente que banha a Terra de luz resplandecente. 04) Pertence ao projeto iluminista a célebre afirmação de Immanuel Kant: “Ousai saber. Tenha a coragem de ser- vir-se da própria razão”. 08) Constituem uma ameaça ao Iluminismo o inatismo, o misticismo e toda forma de pensamento dogmatica- mente estabelecido. 16) O pensamento ilustrado acreditava na autonomia da razão, segundo a qual o homem atingiria maioridade. Aula 17 9Filosofia 5 17.14. (UEM – PR) – “A exigência de que Auschwitz [campo de concentração nazista na Segunda Guerra] não se repita é a primeira de todas para a educação. [...] Mesmo assim é preciso tentar, inclusive porque tanto a estrutura básica da sociedade como os seus membros, responsáveis por termos chegado onde estamos, não mudaram nesses vinte anos [1940-1965]. Milhões de pessoas inocentes – e só o simples fato de citar números já é humanamente indigno, quanto mais discutir quan- tidades – foram assassinadas de uma maneira planejada. Isto não pode ser minimizado por nenhuma pessoa viva como sendo um fenômeno superficial, como sendo uma aberração no curso da história, que não importa, em face da tendência dominante do progresso, do es- clarecimento, do humanismo supostamente crescente. O simples fato de ter ocorrido já constitui por si só expressão de uma tendência social imperativa.” ADORNO, T. Educação após Auschwitz. In ARANHA, M. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: ed. Moderna, 2012, p. 243. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Os campos de concentração mostraram ao mundo a que ponto pode chegar a banalização da vida humana, quando execuções em massa de seres humanos são planejadas. 02) O fato de tratar as mortes apenas do ponto de vista numérico é desumano, porque mesmo que fosse uma única morte injusta, isto já seria trágico. 04) Para o filósofo, um dos problemas dos campos de con- centração nazista foi o alto número de execuções de seres humanos, excessivo para os padrões estatísticos daquele contexto histórico. 08) O texto chama a atenção para o fato de que muitas pessoas morreram de modo planejado pela sociedade, ou seja, o massacre de pessoas revela a falta de huma- nidade por parte dos executores dessa ação. 16) Para o filósofo, um dos problemas que levaram ao ab- surdo dos extermínios nos campos de concentração nazistas foi a falta de preocupação com a vida humana em nome da valorização da ciência e do progresso. 17.15. (UEM – PR) – Sobre o conceito de indústria cultural, assinale o que for correto. 01) O termo indústria cultural foi proposto por Theodor Adorno para explicar a produção seriada e tecnológica de bens simbólicos na sociedade capitalista. 02) A indústria cultural, segundo pesquisadores da Escola de Frankfurt, conduz ao enriquecimento de um grupo específico de empresários capitalistas e também satis- faz o desejo de controle e poder da elite dominante. 04) Para Theodor Adorno, a produção simbólica da indús- tria cultural não possibilitaria a reflexão do público, de- finido como impotente e passivo. 08) Walter Benjamin, apesar de crítico da indústria cultural, reconhecia que a tecnologia aplicada aos bens simbóli- cos tem um efeito democratizador da informação. 16) Walter Benjamin afirma que a arte erudita não foi afe- tada pelo desenvolvimento tecnológico da indústria cultural, pois continuou sendo irreprodutível. 17.16. (UEM – PR) – Assinale o que for correto. 01) Para Adorno, a indústria cultural resulta da submissão da produção artística aos interesses do mercado. 02) Para a maioria dos estudiosos da área, o termo estética refere-se ao tipo de conhecimento que é captado pelos sentidos. 04) Grande parte dos filósofos da escola de Frankfurt consi- dera a cultura de massa e a cultura popular como fenô- menos equivalentes. 08) Baumgarten relacionou o conceito de estética a uma teoria do belo e a suas manifestações por meio da arte. 16) O conceito de estética das vanguardas artísticas do iní- cio do século XX está relacionado à racionalidade que se manifesta na arte. 17.17. (UEL – PR) – Leia o texto a seguir. O programa do esclarecimento era o desencanta- mento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. [..] O mito conver- te-se em esclarecimento, e a natureza em mera objeti- vidade. O preço que os homens pagam pelo aumento de poder é a alienação daquilo sobre o que exercem o poder. [...] Quanto mais a maquinaria do pensamento subju- ga o que existe, tanto mais cegamente ela se contenta com essa reprodução. Desse modo, o esclarecimento regride à mitologia da qual jamais soube escapar. ADORNO & HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.17; 21; 34. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a crítica à racionalidade instrumental e a relação entre mito e esclareci- mento em Adorno e Horkheimer, assinale a alternativa correta. a) O mito revela uma constituição irracional, na medida em que lhe é impossível apresentar uma explicação convin- cente sobre o seu modo próprio de ser. b) A regressão do esclarecimento à mitologia revela um processo estratégico da razão, com o objetivo de ampliar e intensificar seus poderes explicativos. c) A explicação da natureza, instaurada pela racionalidade ins- trumental, pressupõe uma compreensão holística, em que as partes são incorporadas, na sua especificidade, ao todo. d) O esclarecimento implica a libertação humana da submissão à natureza, atestada pelo poder racionalde diagnosticar, prever e corrigir as limitações naturais. e) O esclarecimento se caracteriza por uma explicação ba- seada no cálculo, do que resulta uma compreensão da natureza como algo a ser conhecido e dominado. 17.18. (UEM – PR) – Considerando seus conhecimentos sobre o tema indústria cultural e consumo de massa, assinale o que for correto. 01) O processo de urbanização na Europa, vivenciado a partir de meados do século XVIII, promove a emer- gência de um moderno estilo de vida, ligado tanto às transformações na vida material quanto à expressão de novas sensibilidades e subjetividades. 10 Extensivo Terceirão 02) A estetização da vida cotidiana, decorrente do surgi- mento de um modo de vida moderno, pode ser per- cebida pela significativa importância que o design e a moda ocupam no desenvolvimento capitalista. 04) Para o pensador alemão Walter Benjamin, a experiência da vida urbana e da modernidade não podia ser en- contrada nas formas de consumo e de entretenimento modernas. Segundo sua teoria, a produção de gostos e de estilos de vida decorria da alienação do desenvolvi- mento capitalista e da bestificação das massas. 08) Para os teóricos Theodor Adorno e Max Horkheimer, o surgimento de meios tecnológicos de produção da cul- tura promoveu a democratização do conhecimento e o esclarecimento político das massas, potencializando os processos de resistência à dominação presentes no mundo capitalista. 16) O esporte é uma manifestação característica dos gostos e dos estilos de vida surgidos com a modernidade. Em seus estudos, o sociólogo Norbert Elias o considerou uma das expressões de civilidade típicas dos processos de contenção das emoções e dos sentimentos coleti- vos que marcaram as formações dos estados nacionais. Desafio 17.19. (UEM – PR) – Os filósofos Theodor W. Adorno (1903- 1969) e Max Horkheimer (1895-1973), no ensaio intitulado “A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas”, publicado em 1947, argumentaram que uma das características mais marcantes das sociedades capitalistas foi a transformação das manifestações culturais em mercadorias da indústria cultural, cujos conteúdos são padronizados com o intuito de valorizar o consumo passivo e prazeroso desses produtos culturais, ao mesmo tempo em que atrofiam a ima- ginação, o pensamento crítico e reflexivo dos consumidores. De acordo com o ponto de vista dos autores, é correto afirmar: 01) As manifestações culturais da indústria cultural não contribuem para a formação de consciências críticas quanto aos problemas das sociedades capitalistas. 02) A indústria cultural produz no consumidor uma per- cepção abrangente e crítica através dos bens culturais que lança no mercado. 04) Os produtos da indústria cultural, como o cinema, a música e a literatura de autoajuda, por exemplo, apre- sentam conteúdos com mensagens padronizadas. 08) Ao invés de contribuir para o esclarecimento, a indús- tria cultural gera uma consciência mistificadora nos indivíduos. 16) A produção cultural deixa de ser livremente produzida pelos criadores e passa a sujeitar-se aos interesses do mercado e ao controle dos proprietários da indústria de entretenimento e de seus representantes. 17.20. (UEM – PR) – “Tanto técnica quanto economi- camente, a publicidade e a indústria cultural se con- fundem. Tanto lá como cá, a mesma coisa aparece em inúmeros lugares, e a repetição mecânica do mesmo produto cultural já é a repetição do mesmo slogan propagandístico.” ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 153. Considerando a citação e a perspectiva de Adorno e Horkhei- mer sobre o processo de industrialização da cultura, assinale o que for correto: 01) O conceito de indústria cultural, formulado por Adorno e Horkheimer, se refere ao processo de expansão das relações mercantis sobre as mais diversas formas de produção dos bens culturais. 02) Como observam Adorno e Horkheimer, o progresso da publicidade ajuda as pessoas a se informarem sobre os melhores produtos culturais e a escolherem livremente o que querem comprar. 04) Para Adorno e Horkheimer, o desenvolvimento da in- dústria cultural fez com que os valores culturais pas- sassem a ser gerados pelo mercado e pelas técnicas publicitárias. 08) Segundo Adorno e Horkheimer, o único ramo da indús- tria cultural que não se corrompeu com a lógica capi- talista de produção foi o jornalismo, pois não há como manipular uma notícia. 16) O conceito de indústria cultural define, para Adorno e Horkheimer, o conjunto de práticas capitalistas de pro- dução e consumo que se expressam no modo como as pessoas se relacionam com a cultura. Gabarito 17.01. d 17.02. e 17.03. 29 (01 + 04 + 08 + 16) 17.04. a 17.05. c 17.06. e 17.07. 20 (04 + 16) 17.08. a 17.09. d 17.10. a 17.11. c 17.12. 30 (02 + 04 + 08 + 16) 17.13. 29 (01 + 04 + 08 + 16) 17.14. 27 (01 + 02 + 08 + 16) 17.15. 15 (01 + 02 + 04 + 08) 17.16. 11 (01 + 02 + 08) 17.17. e 17.18. 19 (01 + 02 + 16) 17.19. 29 (01 + 04 + 08 + 16) 17.20. 21 (01 + 04 + 16) 11Filosofia 5 Aula 18 Existencialismo 5 Filosofia Introdução O existencialismo é o resultado da contribuição de muitos pensadores. Destoando de uma razão que busca de- monstrar coisas verdadeiras, o existencialismo pretende descrever, em suas escolhas diárias, cotidianas, o ser humano concreto. Nesse sentido opõe-se ao racionalismo de Hegel, (tudo o que é real é racional), que ignora todos os aspectos que da existência humana e escapam da explicação puramente racional. O Existencialismo se levanta contra a ideia de que razão pode dar conta dos problemas fundamentais da vida. Ca lv in & H ob be s, Bi ll W at te rs on © 1 99 2 W at te rs on /D ist . b y An dr ew s M cM ee l S yn di ca tio n Sören Kierkegaard Na distante Dinamarca, na primeira metade do século XIX, um jovem pensador, atormentado pela religião e pelos dramas familiares, registrou em suas obras as primeiras ideias do que viria a ser chamado de Existencialismo. Sören Kierkegaard (1813-1855) vai refletir sobre a irredutibilidade da existência humana e sobre a responsabilidade de nossos atos, o livre-arbítrio, a busca insubstituível pelo sentido da vida, que não está fora de nós, mas que é resultado de nossa decisão em agir, em dar “um salto”. Diz Kierkegaard: “Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.” Sobre a diferença da sua busca filosófica em relação ao pensamento racionalista hegeliano que fazia sucesso na época: “Trata-se de encontrar uma verdade que seja verdade para mim, de encontrar uma ideia pela qual eu possa viver e morrer. E que utilidade teria para mim encontrar uma verdade chamada verdade objetiva, per- correr os sistemas dos filósofos, e poder, quando exigido, fazer um resumo destes?” Kierkegaard foi um precursor ao destacar a importância do homem em si, e não como peça de um macrossistema especulativo como racionalismo cartesiano ou o idealismo hegeliano. Para ele, é a experiência que ordena nossas idéias, e não o contrário. Assim, na fase juvenil do ho- mem predomina o valor estético (o culto da beleza e da sensualidade); no período adulto, o valor ético (a consciência da prática do bem); na maturidade, o valor religioso (a resignação à vontade de Deus). Sören Kierkegaard (1813-1855) © W ik im ed ia C om m on s/ Bi bl io te ca R ea l d a D in am ar ca 12 Extensivo Terceirão Nós queremos, precisamente, constituir o hino humano como um conjunto de valores distintos do reino material. Sartre busca, com a sua filosofia, reabilitar o homem em sua diferença, criticando e refutando as teorias que se opõem à nossa liberdade, que é indissociável da nossa escolha e que, por isso, implica em uma responsa- bilidade permanente e angustiante. Para Sartre, é nossa consciência que faz nascer o mundo e é ela que faz emergirem realidades no tempo e no espaço. Nosso pensamento recompõeo mundo à sua maneira. A percepção das coisas e das outras pessoas é singular. Assim, estar consciente é estar presente em um mundo singular. Como podemos nos definir? Como um sujeito pen- sante, ostentando perpetuamente uma inconsistência de ser. Ou seja, somos seres livres. Não há um modelo preestabelecido a partir do qual os seres são criados. Somos seres que nos definimos à partir de nossas ações. Somos responsáveis por quem somos, já que somos nós que escolhemos, porque somos livres. Condenados à nossa liberdade. Como diz o filósofo francês: o que significa, aqui, que a existência precede a essência? Significa que o homem existe primeiro, se encontra, surge no mundo, e se define em seguida. Se o homem, na concepção do existencia- lismo, não é definível, é porque ele não é, inicialmente, nada. Ele apenas será alguma coisa posteriormente, e será aquilo que ele se tornar. E em algum momento estaremos satisfeitos? Realiza- dos? Para Sartre, nunca estaremos em perfeita equação conosco próprios. Nunca seremos felizes. Sempre haverá um vazio, uma fonte de insatisfação: O desejo é falta de ser, acha-se impregnado em seu ser mais íntimo pelo ser que deseja. A realidade humana é perpétuo transcender para uma coincidência consigo mesma que jamais se dá. Para Sartre somos assim um eterno projeto. Estamos sempre “em situação”. Somos livres e nos definimos por nossos atos, sem destinos, fados, maktubs. Muitas vezes, porém, não suportamos esse “peso” da liberdade é procuramos um amparo, uma espécie de muleta para justificar nossa falta de determinação. É o que Sartre chamou de má-fé, que ocorre quando a pes- soa nega sua liberdade absoluta preferindo comportar- -se como um objeto, como coisa. Assim, afirmamos que as coisas não são o resultado de nossas escolhas, mas da sociedade, são biologicamente determinadas, frutos de traumas do passado, são dirigidas pelos astros. E muitas vezes ainda os homens enredam as mulheres, as crian- ças, outros homens nessa “crença”, negando a liberdade e odiando quem se ajusta às suas próprias escolhas e sobrevive à angústia que delas resulta. Martin Heidegger © Fr itz E sc he n/ ak g- im ag es /A lb um /F ot oa re na Filósofo Martin Heidegger. A consciência da morte e, portanto, da finitude da vida, coloca-nos diante da necessária questão sobre viver ou não viver uma vida autêntica. Heidegger chama de Dasein o “ser-aí”, aquele que existe mas, ao mesmo tempo, tem a consciência que pode deixar de existir, a qualquer momento, visto que o homem é um “ser- -para-a-morte”. Nós não passamos de seres no mundo, lançados, cuja trajetória depende de nossas decisões. Não há um outro lugar ou tempo, não há um fim ou projeto a priori. A essência é a nossa própria existência, ligada a um mundo, a uma realidade concreta, da qual fazemos parte. Heidegger, pensador alemão (1889-1976) e impor- tante nome do existencialismo, afirma que desde que somos lançados no mundo, sem explicação, vivemos a angústia da inadequação. E é aí que escolhemos levar uma vida autêntica ou não. Se fugirmos desse sentimen- to de angústia e perda, imergindo em atividades para camuflar o tempo e a presença da morte ou se aceita- mos essa condição de estarmos aqui e que é a nossa existência que vai nos conferir a melhor ideia de quem somos, até que sobrevenha a morte. A escolha é nossa. Jean-Paul Sartre Na sua obra “O existencialismo é um humanismo”, o filósofo Jean Paul Sartre, principal referência do Existen- cialismo, afirma: O existencialismo é o único a atribuir ao homem, e o único que não considera um objeto. Todo materialismo tem como efeito tratar todos os homens, inclusive a si mesmos, como objetos, isto é, como um conjunto de reações determinadas em que em nada se distinguem do conjunto de qualidades e fenômenos que constituem uma mesa, uma cadeira ou uma pedra. Aula 18 13Filosofia 5 © Br id ge m an Im ag es /F ot oa re na Em 1945, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir iniciaram um projeto conjunto de grande inspiração social: a revista políti- ca e literária “Les temps modernes”. Simone de Beauvoir Simone inaugura uma nova forma de pensar, partin- do do feminino, da experiência das mulheres em sua es- pecificidade sexual (o que hoje é chamado de teoria de gênero). Memorialista, jornalista , romancista e filósofa, Simone insere nas reflexões existencialistas a condição histórica e cultural da mulher (francesa da metade do século XX). Na sua principal obra, O segundo sexo , lança a frase “ o que é uma mulher”. Como afirma Djanila Ribeiro: A figura do feminino é discutida por meio de um sujeito que não é o que a representa, mas sim outro: o masculino, discurso que é sempre evitado no campo filosófico. Beauvouir, além de romper com a visão que cria uma inferioridade natural da mulher na história, a coloca no centro do debate e re- aliza um estudo esmiuçado de sua situação, apontando para um projeto de emancipação. Simone lembra que , dentro da perspectiva existencia- lista, o fundamento do homem é a liberdade, mas é diferen- te para a mulher, cujo gênero lhe é imposto, tornando-se uma “interioridade irredutível”, como um destino. Por isso Simone afirma: ninguém nasce mulher, torna-se mulher. O importante a destacar na reflexão da autora é que “sem mulher” implica, no contexto de sua época – e do nosso, ainda – ser inferior. Assim, a biologia – o sexo feminino – é uma estratégia para situar a mulher em um papel que é predeterminado e lhe destina uma condição de inferioridade, de objeto dos homens, (enredadas na má-fé dos homens) , de “segundo sexo”. A filósofa questiona: “como pode realizar-se um ser humano dentro da condição feminina? Que caminhos lhe são abertos? Como encontrar a independência no seio da dependência? Que circunstâncias restringem a liberdade da mulher , e quais ela pode superar?” E conclui: “São essas algumas questões fundamen- tais que desejaríamos elucidar. Isso quer dizer que, interessando-nos pelas oportunidades dos indivíduos, não as definiremos em termos de felicidade e sim em termos de liberdade.” Testes Assimilação 18.01. (UFSJ – MG) – A angústia, para Jean-Paul Sartre, é a) tudo o que a influência de Shopenhauer determina em Sartre: a certeza da morte. O Homem pode ser livre para fazer suas escolhas, mas não tem como se livrar da decrepitude e do fim. b) a nadificação de nossos projetos e a certeza de que a relação Homem X natureza humana é circunstancial, objetiva, e pode ser superada pelo simples ato de se fazer uma escolha. c) a certificação de que toda a experiência humana é idealmente sensorial, objetivamente existencial e de- terminante para a vida e para a morte do Homem em si mesmo e em sua humanidade. d) consequência da responsabilidade que o Homem tem sobre aquilo que ele é, sobre a sua liberdade, sobre as escolhas que faz, tanto de si como do outro e da huma- nidade, por extensão. 18.02. (ENEM) – Ninguém nasce mulher; torna-se mu- lher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. c) organização de protestos púbicos para garantir a igualdade de gênero. d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. e) estabelecimento de políticas governamentais para promo- ver ações afirmativas. 14 Extensivo Terceirão 18.03. (UFSJ – MG) – Na obra “O existencialismo é um humanismo”, Jean-Paul Sartre intenta a) desenvolver a ideia de que o existencialismo é definido pela livre escolha e valoresinventados pelo sujeito a par- tir dos quais ele exerce a sua natureza humana essencial. b) mostrar o significado ético do existencialismo. c) criticar toda a discriminação imposta pelo cristianismo, através do discurso, à condição de ser inexorável, carac- terística natural dos homens. d) delinear os aspectos da sensação e da imaginação humanas que só se fortalecem a partir do exercício da liberdade. 18.04. (UFU – MG) – Para J.P. Sartre, o conceito de “para-si” diz respeito a) a uma criação divina, cujo agir depende de princípio metafísico regulador. b) apenas à pura manutenção do ser pleno, completo, da totalidade no seio do que é. c) ao nada, na medida em que ele se especifica pelo poder nadificador que o constitui. d) a algo empastado de si mesmo e, por isso, não se pode realizar, não se pode afirmar, porque está cheio, completo. Aperfeiçoamento 18.05. (UFU – MG) – A luta das mulheres, no Brasil, por igualdade de condições com os homens no mercado de trabalho apresenta hoje os seguintes resultados: I. crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho. II. predomínio da igualdade salarial entre homens e mulhe- res que executam as mesmas tarefas. III. ocupação, pela mulher, de cargos de direção nas empre- sas em proporções iguais às do homem. IV. qualificação profissional da mão de obra feminina em ritmo acelerado. Selecione a alternativa correta. a) I, II e III b) I e IV c) II, III e IV d) III e IV 18.06. (UPE – PE) – Que representa a Filosofia? É uma das raras possibilidades de existência criadora. Seu dever inicial é tornar as coisas mais refletidas, mais profundas (Heidegger, Martin). Nessa perspectiva, é correto afirmar que a Filosofia a) é uma atividade de crítica e de análise dos valores de uma dada sociedade, na perspectiva de reorientação dos sentidos/significados da vida e do mundo. b) começa dizendo sim às crenças e aos preconceitos do senso comum e, portanto, começa dizendo que sabemos o que imaginávamos saber. c) não se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto em todos os setores do conhecimento e da ação. d) é a impossibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a situação dada e não escolhida. e) sempre se confronta com o poder, e sua investigação fica alheia à ética e à política. 18.07. (UEAP) – “A existência precede a essência”. O que melhor define esta frase do filósofo francês Sartre? a) Primeiro o homem existe, depois se define. b) O homem é o que ele concebe e não o que ele faz. c) O homem é “em si” e não “para si”. d) A vida de um homem está ligada a sua essência. e) A vida humana é totalmente determinada por Deus. 18.08. (UFSJ – MG) – Para Sartre, “o Homem é livre, o Ho- mem é liberdade”. Com relação a tal princípio, é CORRETO afirmar que o homem é: a) “a expressão de que tudo é permitido por meio da liber- dade e que provém da existência de Deus”. b) “um animal político no sentido aristotélico e por isso necessita viver a liberdade política em comunidade”. c) “um ser que depende da liberdade divina e necessita que o futuro esteja inscrito no céu”. d) “condenado a ser livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo que faz”. 18.09. (UEMA) – O tema da liberdade é discutido por muitos filósofos. No existencialismo francês, Jean-Paul Sartre, particularmente, compreende a liberdade enquanto escolha incondicional. Entre as afirmações abaixo, a única que está de acordo com essa concepção de liberdade humana é: a) O homem primeiramente tem uma essência divinizada e depois uma existência manifestada na história de sua vida. b) O homem não é mais do que aquilo que a sociedade faz com ele. c) O homem primeiramente existe porque sendo cons- ciente é um ser em si e para o outro. d) O homem é determinado por uma essência superior, que é o Deus da existência, pois, primeiramente não é nada. e) O homem primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. 18.10. (UNICENTRO – PR) – Qual dos argumentos abaixo caracteriza corretamente a relação conceitual entre existen- cialismo e liberdade, no pensamento de Jean-Paul Sartre (1905-1980)? a) O existencialismo de Sartre defende o individualismo, isto é, cada um deve preocupar-se exclusivamente com a própria liberdade e ação. b) O existencialismo de Sartre afirma que se o homem é livre, consequentemente não é responsável por aquilo que faz. c) O existencialismo de Sartre afirma que “disciplina é liberdade”. O homem livre é aquele que recusa o indivi- dualismo para viver o conformismo e a respeitabilidade da tradição. Aula 18 15Filosofia 5 d) Sartre afirma que o homem nada mais é do que “seu projeto”, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho; está, portanto, irremediavelmente condenado a ser livre. e) Sartre afirma que a liberdade só possui significado no pensamento, na capacidade que o homem tem de refletir acerca de sua existência, buscando definir a natureza e a essência humana. Aprofundamento 18.11. (FCM – RS) – Em uma das obras fundantes do feminismo contemporâneo, O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir (1949) constatava a existência de uma relação direta entre o controle dos recursos materiais pelos homens e o valor diferenciado de mulheres e ho- mens, o prestígio social do casamento e o fato de que “elas ainda se encontravam em situação de vassalas” BEAUVOIR, 1949, p. 211. De lá para cá, as sociedades ocidentais que foram objeto de observações de Beauvoir passaram por transformações profundas no que diz respeito à posição social da mulher, EXCETO: a) O controle dos recursos está hoje, em muitos sentidos, me- nos restrito aos homens do que em momentos anteriores. b) O prestígio social do casamento parece ter decrescido na mesma medida em que as formas assumidas pelos arranjos familiares se diversificam. c) Houve transformações importantes nos valores predo- minantes e nas expectativas sociais relativas à ideologia de gênero no sentido da eliminação da hierarquia entre mulheres e homens. d) Uma maior profissionalização das mulheres e de seu acesso, também ampliado em relação ao contexto de meados do século XX, a posições de poder, no mundo do trabalho e no mundo da política. e) O acesso facilitado a meios para o controle da natalidade, como a pílula anticoncepcional, os passos dados para a desnaturalização da dupla moral sexual e doméstica, vinculados ao impacto do acesso ampliado das mulheres ao trabalho remunerado, permitem que se reposicionem nas diferentes esferas da vida social. 18.12. (CPII – RJ) – Até os doze anos a menina é tão robusta quanto os irmãos e manifesta as mesmas capacidades intelectuais; não há terreno em que lhe seja proibido rivalizar com eles. Se, bem antes da pu- berdade e, às vezes, mesmo desde a primeira infância, ela já se apresenta como sexualmente especificada, não é porque misteriosos instintos a destinem imediata- mente à passividade, ao coquetismo, à maternidade: é porque a intervenção de outrem na vida da criança é quase original e desde seus primeiros anos sua vocação lhe é imperiosamente insuflada. BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo (Vol. 2). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p. 9-10. Os estudos de Simone de Beauvoir (1908-1986) contribuí- ram incontestavelmente para os debates acerca da situação da mulher e a luta para a igualdade de gênero. A partir do trecho acima, assinale a opção que melhor demonstra o problema apresentado pela filósofa. a) Beauvoir afirma a distinção entre os sexos e inaugura o pensamento de uma feminilidade que faz parte da condição humana da mulher. A natureza feminina é que compõe seu ser enquanto mulher. b) Beauvoir discute a consolidação da posição social da mulher, pois, biológica e psiquicamente, suas distinções se apresentam de forma clara para um tratamento dife- renciado em relação aos homens. c) Não há, para Beauvoir, qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos.Esse é um mito inven- tado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. d) A ideia de que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher” representa o ápice da filosofia feminista presente em O segundo sexo, afirmando que, por natureza, qualquer um pode-se tornar mulher socialmente. 18.13. (IFSC) – No artigo “Gênero e sexualidade: pedago- gias contemporâneas”, Guacira Lopes Louro (2008) retoma a frase de Simone de Beauvoir “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher” para introduzir as discussões sobre gênero e sexualidade. Ademais, menciona que, atualmente, essa frase poderia ser compreendida também no masculino. Ao fazer isso, ela evidencia seu entendimento em relação ao assunto. Qual das alternativas a seguir expressa a compreensão da autora? a) Tornar-se mulher ou tornar-se homem não resulta de um ato único, inaugural, como o nascimento. Ao invés disso, diz respeito a uma construção que acontece em meio a cultura. b) Ao nascer, o sexo da pessoa não está definido. Em função disso, tornar-se mulher ou tornar-se homem resulta das aprendizagens que são construídas pelo indivíduo ao longo da vida. c) Tornar-se mulher ou tornar-se homem é algo determi- nado pelo sexo da pessoa. d) Como, ao nascer, o sexo da pessoa não está definido, depois de uma certa idade, ela deve optar por tornar-se mulher ou tornar-se homem. e) Tornar-se mulher ou tornar-se homem tem relação direta com a orientação sexual da pessoa. 18.14. (UNIOESTE – PR) – Martin Heidegger (1889-1976) afirmou: “ser homem já significa filosofar”. Sua tese é a se- guinte: o homem se caracteriza pela distinção entre o “é” e as características de qualquer coisa, ou seja, de qualquer ente; com isso, no encontro cotidiano com os entes, antecipada- mente (antes de encontrá-los e conhecê-los) sabemos (a) que eles são e (b) que eles não são o “ser”, que são diferentes de sua “existência”. Eis por que todos podemos, a qualquer 16 Extensivo Terceirão instante, nos lançar às perguntas pelo ser dos entes e pelo sentido do ser em geral, ou seja, às perguntas filosóficas. Independente de filosofarmos expressamente, as questões e a força para a investigação, portanto, estariam na raiz mesma de nosso ser, e precedem todo conhecimento e pensamento aplicado. De modo análogo, a primeira frase da Metafísica de Aristóteles afirma: “Todos os seres humanos tendem essencialmente ao Saber”. Essa tendência essencial significa que uma propensão para o Saber está presente, ainda que inexplorada, em todos os seres humanos. Como Aristóteles escolheu, para o Saber, uma palavra grega que se assemelha ao “Ver” imediato (eidénai), pode-se com- preender que se trata tanto do conhecimento em geral quanto (e principalmente) do Saber metafísico, sobre o princípio essencial ou estrutura metafísica da realidade. Em suma, Aristóteles já estaria dizendo que ser homem significa filosofar. Com base no que foi dito, marque a alternativa CORRETA. a) Uma contradição total reina entre as teses contempo- râneas e gregas, em filosofia. b) Não tem importância central a atenção nem a interpre- tação das formulações e termos filosóficos. c) Segundo Heidegger, a distinção entre o ente e o ser torna possível o pensamento. d) Aristóteles afirma a tendência essencial do ser humano a ficar preso ao sentido da visão, nas sombras. e) Heidegger e Aristóteles têm como tese que filosofar expressamente é um destino humano comum. 18.15. (IFSP) – Ao defender as principais teses do Exis- tencialismo, Jean-Paul Sartre afirma que o ser humano está condenado a ser livre, a fazer escolhas e, portanto, a construir seu próprio destino. O pressuposto básico que sustenta essa argumentação de Sartre é o seguinte: a) A suposição de que o homem possui uma natureza hu- mana, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal. b) A compreensão de que a vida humana é finita e de que o homem é, sobretudo, um ente que está no mundo para a morte. c) A ideia de que a existência precede a essência e, por isso, o ser humano não está predeterminado a nada. d) A convicção de que o homem está desamparado e é impotente para mudar o seu destino individual. e) A ideia de que toda pessoa tem um potencial a realizar, desde quando nasce, mas é livre para transformar ou não essa possibilidade em realidade. 18.16. (UNIOESTE – PR) – “Quando dizemos que o homem se escolhe a si mesmo, queremos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio; mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si pró- prio, ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Escolher isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos. Se a existência, por outro lado, precede a essência e se quisermos existir, ao mesmo tempo em que construímos a nossa imagem, esta imagem é válida para todos e para a nossa época. Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade”. Sartre. Considerando o texto citado e o pensamento sartreano, é INCORRETO afirmar que a) o valor máximo da existência humana é a liberdade, porque o homem é, antes de mais nada, o que tiver projetado ser, estando “condenado a ser livre”. b) totalmente posto sob o domínio do que ele é, ao homem é atribuída a total responsabilidade pela sua existência e, sendo responsável por si, é também responsável por todos os homens. c) o existencialismo sartreano é uma moral da ação, pois o homem se define pelos seus atos e atos, por excelência, livres, ou seja, o “homem não é nada além do conjunto de seus atos”. d) o homem é um “projeto que se vive subjetivamente”, pois há uma natureza humana previamente dada e predefinida, e, portanto, no homem, a essência precede a existência. e) por não haver valores preestabelecidos, o homem deve inventá-los através de escolhas livres, e, como escolher é afirmar o valor do que é escolhido, que é sempre o bem, é o homem que, através de suas escolhas livres, atribui sentido a sua existência. 18.17. (UNIOESTE – PR) – “Só pelo fato de que tenho consciência dos motivos que solicitam minha ação, esses motivos já são objetos transcendentes para mi- nha consciência, estão fora; em vão buscaria agarrar- -me a eles, escapo disto por minha existência mesma. Estou condenado a existir para sempre além de minha essência, além dos móveis e dos motivos de meu ato: estou condenado a ser livre. Isto significa que não se poderia encontrar para a minha liberdade outros limites senão ela mesma, ou, se se prefere, não somos livres de cessar de ser livres. ( ) O sentido profundo do determinismo é o de estabelecer em nós uma continuidade sem falha da existência em si. ( ) Mas em vez de ver transcendências postas e mantidas no seu ser por minha própria transcendência, supor-se- -á que as encontro surgindo no mundo: elas vêm de Deus, da natureza, da “minha” natureza, da sociedade. ( ) Essas tentativas abortadas para sufocar a liberda- de – elas desmoronam quando surge, de repente, a angústia diante da liberdade – mostram bastante que a liberdade coincide no fundo com o nada que está no coração do homem”. Sartre. Aula 18 17Filosofia 5 Com base no texto, seguem as seguintes afirmativas: I. No homem, a existência precede a essência. II. Em sua essência, o homem é um ser determinado quer seja, ou por Deus, ou pela natureza, ou pela sociedade. III. Os limites da minha liberdade são estabelecidos pelos valores religiosos, estéticos, políticos e sociais. IV. “O homem não está livre de ser livre”, pois não é possível “cessar de ser livre”. V. A liberdade humana, em suas escolhas, se orienta por valores objetivos e predeterminados. Assinale a alternativa correta. a) Apenas II está correta.b) Apenas I e IV estão corretas. c) Apenas II e IV estão corretas. d) Apenas III e V estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 18.18. (UNIOESTE – PR) – “O que significa aqui o dizer- -se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é por- que primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. ( ) O homem é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. ( ) Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de por todo o homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade de sua existência. ( ) Quando dizemos que o homem se escolhe a si, queremos dizer que cada um de nós se escolhe a si próprio; mas com isso queremos também dizer que, ao escolher-se a si próprio, ele escolhe todos os homens. Com efeito, não há de nossos atos um sequer que, ao criar o homem que desejamos ser, não crie ao mesmo tempo uma imagem do homem como julgamos que deve ser”. Sartre. Considerando a concepção existencialista de Sartre e o texto acima, é incorreto afirmar que a) o homem é um projeto que se vive subjetivamente. b) o homem é um ser totalmente responsável por sua existência. c) por haver uma natureza humana determinada, no homem a essência precede a existência. d) o homem é o que se lança para o futuro e que é consciente deste projetar-se no futuro. e) em suas escolhas, o homem é responsável por si próprio e por todos os homens, porque, em seus atos, cria uma imagem do homem como julgamos que deve ser. Desafio 18.19. (VUNESP – SP) – Nas minhas pesquisas, tenho constatado que muitas mulheres brasileiras reprodu- zem e fortalecem, consciente ou inconscientemente, a lógica da dominação masculina. É verdade que o discurso hegemônico atual é o de libertação dos papéis que aprisionam a maioria das mulheres. No entanto, os comportamentos femininos não são tão livres assim; muitos valores mais tradicionais permanecem internalizados. Existe uma enorme distância entre o discurso libertário das brasileiras e seu comportamen- to e valores conservadores. Não pretendo alimentar a ideia de que as mu- lheres são as piores inimigas das mulheres, mas provocar uma reflexão sobre os mecanismos que fa- zem com que a lógica da dominação masculina seja reproduzida também pelas mulheres. Nessa lógica, como argumentou Pierre Bordieu, os homens devem ser sempre superiores: mais velhos, mais altos, mais fortes, mais poderosos, mais ricos, mais escolariza- dos. Essa lógica constitui as mulheres como objetos, e tem como efeito colocá-las em um permanente es- tado de insegurança e dependência. Delas se espera que sejam submissas, contidas, discretas, apagadas, inferiores, invisíveis. Em O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir escre- veu que não definiria as mulheres em termos de feli- cidade, e sim de liberdade. Ela acreditava que, para muitas, seria mais confortável suportar uma escra- vidão cega do que trabalhar para se libertar. A filó- sofa francesa afirmou que a liberdade é assustadora, e que, por isso, muitas mulheres preferem a prisão à sua possível libertação. No entanto, ela acreditava que só existiria uma saída para as mulheres: recu- sar os limites que lhes são impostos e procurar abrir para si e para todas as outras o caminho da liberta- ção. Miriam Goldenberg, O inferno são as outras. Veja, 07.03.2018. É correto afirmar que, do ponto de vista da filósofa Simone de Beauvoir, a) embora vivendo como escravas, as mulheres se sentem libertas de obrigações familiares e sociais. b) as mulheres priorizam a liberdade, que lhes garante viver em zona de conforto provida pelo trabalho. c) a tendência feminina é buscar a saída de sua condição de escravidão num impossível sonho de liberdade. d) a liberdade atemoriza, o que explica que muitas mulhe- res escolham viver subjugadas. e) a definição de liberdade feminina está atrelada ao grau de conformismo que o trabalho impõe. 18 Extensivo Terceirão 18.20. (UFU – MG) – Leia o excerto abaixo e assinale a alternativa que relaciona corretamente duas das principais máximas do existencialismo de Jean-Paul Sartre, a saber: “a existência precede a essência” “estamos condenados a ser livres” Com efeito, se a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva; ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Por outro lado, se Deus não existe, não en- contramos já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. [ ] Estamos condenados a ser livres. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. SARTRE, Jean-Paul. O Existencialismo é um Humanismo. 3ª. ed. S. Paulo: Nova Cultural, 1987. a) Se a essência do homem, para Sartre, é a liberdade, então jamais o homem pode ser, em sua existência, condenado a ser livre, o que seria, na verdade, uma contradição. b) A liberdade, em Sartre, determina a essência da natureza humana que, concebida por Deus, precede necessaria- mente a sua existência. c) Para Sartre, a liberdade é a escolha incondicional, à qual o homem, como existência já lançada no mundo, está condenado, e pela qual projeta o seu ser ou a sua essência. d) O Existencialismo é, para Sartre, um Humanismo, porque a existência do homem depende da essência de sua natureza humana, que a precede e que é a liberdade. Gabarito 18.01. d 18.02. c 18.03. b 18.04. c 18.05. b 18.06. a 18.07. a 18.08. d 18.09. e 18.10. d 18.11. c 18.12. c 18.13. a 18.14. c 18.15. c 18.16. d 18.17. b 18.18. c 18.19. d 18.20. c 19Filosofia 5 Filosofia 5 Filosofia Contemporânea – Foucault Aula 19 O homem como objeto de conhecimento Não há fundamentos metafísicos para o pensar, afirmava Foucault. Nossa maneira de pensar é afetada pela história e cada época possui o seu conjunto de matrizes que fundamenta o que se diz. O tempo altera essas matrizes e com elas o próprio pensamento. No entanto, essa sucessão de matrizes deixa marcas, o que permite um estudo, uma arqueologia desses saberes. Na medida em que não há uma matriz única, há a possibilidade de “pensar diferente”, negar o entorno que nos cerca e que, ao mesmo tempo, constitui nosso modo de pensar. Como afirma o próprio Foucault: existem mo- mentos da vida em que a questão de saber se podemos pensar diferentemente do que pensamos, e perceber diferentemente do que vemos, é indispensável para continuar olhando e refletindo. © Br un o de M on ès /R og er -V io lle t/ Gl ow Im ag es Michel Foucault (1926-1984) Assim, as noções de causalidade e continuidade são os primeiros alvos desse pensador. O que há na socie- dade é a construção de práticas discursivas que nos atravessam e nos moldam, definindo o que entendemos por “certo” e “errado” em um dado período histórico. E o que há é que, historicamente, essas práticas vão se modificando e, com elas, as pessoas que somos. Um exemplo dessa abordagem está na sua primeira obra, História da loucura na Idade Clássica, de 1961, na qual Foucault mostra como foi se dando, historicamente, a criação do estatuto de louco e sua consequente asso- ciação aos cuidados médicos e clínicos. Loucura essa que era “normal” na Idade Média e no Renascimento. Já Erasmo de Roterdam, no seu Elogio da Loucura (que estudamos) afirmava: Tudo o que os homens fazem está cheio de loucuras. São loucos tratando de loucos.” © W ik im ed ia C om m on s/ M us eu d e Be la s A rt es , G an te , B él gi ca BOSCH, Hieronymus. Cristo carregando
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