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1 Jean Carlos Lima, Ph.D Professor titular da Trinity College – Seychelles Professor titular da Universidade Salgado de Oliveira- Campus Recife Curso Elementar de Linguagem e Argumentação Jurídica Um apelo à emoção, à sensibilidade e à inteligência ρητορικὴ São Paulo Editora Adsumus- 2012 2 SUMÁRIO LINGUAGEM JURÍDICA - Parte I Dedicatória, 06 Apresentação, 15 Capítulo I - TEORIA DA COMUNICAÇÃO JURÍDICA 1. Considerações iniciais, 17 2. O poder da palavra, 18 3. Língua ou linguagem jurídica, 19 4. O que é linguagem jurídica?, 20 5. Níveis de linguagem, 21 6. Funções da linguagem, 24 7. Juridiquês em bom português, 28 8. Dicas para uma boa comunicação, 29 Capítulo II - COMUNICAÇÃO EFICAZ E EFICIENTE 1. Considerações iniciais, 31 2. Clareza, precisão e ordem lógica, 36 2.1. Posso tratá-lo por ―tu‖?, 36 3. A linguagem da sentença, 39 4. Juridiquês em bom português, 43 5. Dicas para uma boa comunicação, 44 3. O que é Silogismo?, 167 4. O que é Entemima?, 168 5. Juridiquês em bom português, 170 6. Dicas para uma boa comunicação, 171 3 Capítulo I Teoria da Comunicação Jurídica 1. Considerações iniciais ―Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado.‖ Mateus 12, 37. O jurista, o cientista jurídico, o acadêmico do direito vive da arte da fala, sendo assim, pode-se afirmar que a Teoria da Argumentação Jurídica é um componente determinante para o sucesso do profissional da área jurídica. A comunicação só existe quando a mensagem transmitida é compreendida pelo auditório, isto é, pela pessoa que está recebendo a mensagem. Mesmo quando o emissor da mensagem usa de todos os recursos disponíveis da linguagem ou da língua para se comunicar, ainda assim, se não houve compreensão da outra parte, o receptor, não houve comunicação, pois comunicação é um processo de ação e reação de entendimento, podendo ser em níveis de linguagem distintos. Peter Tiersman, autor da obra The Nature of Legal Language, afirma que um dos grandes paradoxos sobre a profissão jurídica é que os advogados são, por um lado, entre os usuários mais 4 eloquentes do idioma Inglês, enquanto, por outro lado, eles são, talvez, seus agressores mais notórios. Por que é que os advogados, que podem se destacar em comunicação com um júri parece incapaz de escrever uma simples sentença compreensível Inglês em um contrato, ato ou testamento? E o que podemos fazer sobre isso? 2. O poder da palavra Já ouvi muito esta frase ―palavra tem poder‖, e acredito ser uma das afirmações mais eficazes que criaram. Basta lermos na Bíblia Sagrada, em Provérbios 15.1-2, está assim escrito: ―A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. A língua dos sábios adorna a sabedoria, mas a boca dos tolos derrama a estultícia‖. Conta-se uma história sobre um homem que era um palestrante muito famoso. Um excelente orador. Este homem já havia proferido diversas palestras, participado de congressos internacionais e nacionais, nos quais ele sempre falava sobre o poder da palavra, e certa vez ele foi convidado para ministrar uma palestra em uma grande empresa, uma multinacional com mais de seiscentos funcionários. Chegando lá, todos já o estavam esperando no auditório, então ele foi apresentado ao público, leram o seu currículo e tudo mais. Daí, ele inicia a sua fala com a seguinte pergunta: ―Vocês acreditam que palavra tem poder?‖ Várias pessoas responderam que sim, no entanto, um funcionário que estava sentado no final do auditório, com uma fisionomia fechada, parecia estar ali obrigado, respondeu da seguinte forma: ―Eu acho tudo isso uma balela, uma verdadeira conversa pra boi dormir; uma enrolação‖. Naquela hora todos ficaram perplexos com as palavras do colega. E, ele, o funcionário, acrescentou: ―Você vem aqui, nos tirar dos nossos afazeres, em uma sexta-feira para falar besteiras‖. Foi então que o palestrante ficou irritado e bradou: ―Vejo que você é um coitado, pobre de espírito e, sobretudo, um imbecil, pois não sabe dar valor a instrução, nem tão pouco ao investimento que a sua empresa está fazendo na sua profissão‖. E as coisas ficaram feias, o clima 5 esquentou, o funcionário levantou-se e partiu para bater no palestrante, não conseguiu porque os colegas o seguraram. Então o palestrante, tomou um copo com água, e falou ao microfone assim: ―Amigo, por favor, perdoe-me. Entendo que não deveria ter falado com você dessa forma. Fui muito rude, peço-lhe desculpas diante de todos: você me perdoa?‖, perguntou. O homem que estava furioso acalmou-se, sentou-se e falou: ―Tudo bem, sem problemas, eu também sei que fui mal educado com você, me desculpe, por favor.‖ E em um instante o palestrante falou com uma voz bem calma e branda: ―Está vendo meu amigo, palavra tem poder, pois quando eu o insultei, propositalmente, você ficou enfurecido, depois que pedi perdão você ficou calmo‖. Depois dessa estoriazinha, não há mais o que falar sobre o poder da palavra. Somos aquilo que falamos que somos. Sendo assim, é preciso que tenhamos muita cautela ao falarmos e ao escrevermos, sobretudo, nós que vivemos do direito e pelo direito, pois a palavra é a nossa arma de defesa e de ataque, de pedir e de recusar, de concordar e discordar, de acusar e de inocentar, de elogiar e de criticar. É preciso sempre elaborar os nossos pensamentos, como bem disse o filosófo Horácio ―As palavras brotam espotâneas de um pensamento elaborado com antecedência‖. 3. Língua ou linguagem jurídica Esta é uma pergunta clássica. Por falar em ―clássica‖, o que vem a ser uma coisa ―clássica‖, uma música clássica? Bem, é clássico tudo aquilo que se refere há um período clássico, ou seja, um período em que se tornou conhecido por ter normas bastante formais e fundamentadas. Como bem diz Priscilla Adria Velosso em sua obra Oh! Dúvida Cruel 2, quando falamos sobre música clássica o correto é falarmos música erudita, incluindo os períodos medieval, renascentista barroco, romântico etc. 6 Voltando a pergunta: o correto é língua ou linguagem? Bem, o dicionário da Academia Brasileira de Letras, por acaso você já viu um? Sempre que eu faço esta pergunta os meus alunos respondem ―não‖. Sim, este dicionário afirma que língua, no sentido linguístico quer dizer: sistema de símbolos convencionais, orais por meio dos quais os seres humanos, como membros de um grupo social e participantes de sua cultura, comunicam-se e expressam pensamentos, desejos emoções; (idioma). Segundo Dino Petri, citado por Maria José Constantino Petri, em sua obra Manual de Linguagem Jurídica (2009, p. 02), ―A língua funciona como um elemento de interação entre o indivíduo e a sociedade em que ele atua. É através [sic] dela que a realidade se transforma em signos, pela associação de significantes, com os quais se processa a comunicação linguística‖. Também, o dicionário da ABL assevera que linguagem, no campo da linguística, é a faculdade (a capacidade) de que dispõem os seres humanos de se expressarem por meio de sons vocais. Sendo assim, prefiro ficar com a expressão ―linguagem jurídica‖ para me referir a comunicação que há entre os juristas de todo mundo. Há quem prefira falar linguagem forense. 4. O que é linguagem jurídica? É uma ferramenta técnico-linguística que os juristas usam para se comunicar entre si,e por vezes com a sociedade organizada. São palavras, expressões usadas especificamente no direito, da mesma forma como os médicos usam uma linguagem médica, os engenheiros, os economistas que usam o ―economês‖, ou seja, são expressões de uso particular das pessoas que trabalham na área jurídica, que usam o ―juridiquês‖. Como você pode perceber em nenhum momento eu usei a palavra ―operador do direito‖, pois entendo que o correto é chamarmos de juristas ou acadêmico do direito (para os estudantes). Ora, você pode dizer: ―mas todo mundo fala operador do direito‖. Tudo bem, e por que ninguém fala: Operador da medicina? Operador 7 da engenharia? Operador da administração? Operador da Economia? Operador dentista? Aristóteles nos ensina que devemos nos acautelar dos hábitos. Existem muitas palavras, coisas, crenças, que certamente vamos falar mais adiante, que fazemos por repetição, sem sabermos se está certo ou errado. Por exemplo: advogados, juízes, desembargadores, ministros da justiça, todos da ceara do judiciário falam ―Audiência de Conciliação‖, quando o correto, de acordo com o que estabelece a Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no art. 17 é ―Sessão de Conciliação‖ e no art. 20 ―Audiência de Instrução e Julgamento‖, portanto, todo mundo fala, mas está errado e muito errado. 5. Níveis de linguagem Dizem que se conhece a cultura de uma pessoa pela sua forma de falar, pelo seu vocabulário. Já percebeu que as pessoas que falam palavras que não são do cotidiano são pessoas que falam ―bonito‖? E logo se diz: ―Poxa, como fulano é inteligente e culto!‖ A propósito eu gostaria de saber o que significa mesmo ―falar bonito‖. Muitas vezes quando as pessoas querem parecer intelectuais, eruditas tentam falar palavras que não são de uso comum, aí, metem os pés pelas mãos. As palavras novas ou que têm sentidos diferentes do que são normalmente conhecidas são resultados de um fenômeno linguístico denominado neologismo. Quando Fernando Collor de Melo foi Presidente do Brasil, houve um episódio, ou seja, uma tragédia linguística. O ex- sindicalista, e então Ministro do Trabalho, da década de 1990, Antônio Rogério Magri, foi ridicularizado por toda nação quando respondeu a um repórter que perguntou se o salário também seria reduzido, com a seguinte frase: ―O salário do trabalhador é imexível‖. Todos caíram na risada. Por outro lado, ninguém ridicularizou o nosso também ex-presidente do Brasil, Doutor Fernando Henrique Cardoso, que disseminou de forma ampla e irrestrita o uso da locução e advérbio ―enquanto‖, pois assim falava: ―Enquanto Presidente‖. Ora, para usar ―enquanto‖ é 8 requerido um verbo, por exemplo: ―Enquanto estou presidente‖, sendo assim se não existir um verbo o correto é usar ―como‖, e a frase ficaria assim: ―Como Presidente‖. A maneira de falar de uma pessoa está ligada diretamente ao meio social em que ela vive, a sua região, bem como a sua profissão, desta forma vê-se que o modo de falar tem muito a ver com o que essa pessoa pretende com a sua fala. No Brasil há uma enorme variação linguística, como se fosse ―dialetos‖, isto é, maneira de falar própria de uma região ou país. É uma variante dialetal, conhecida também como diatópica ou geolinguística. Vocabulário, expressões, vestuário, modo de andar, relação interpessoal têm influência do meio social em que uma pessoa vive daí podendo surgir os níveis de linguagem dos sons e significados das palavras. Quando duas comunidades, da mesma região, conseguem compreenderem-se ao usarem seu sistema linguístico, elas falam a mesma língua, é a chamada compreensão mútua. As características da língua que não são específicas de um grupo regional são consideradas socioletos (variedades próprias de diferentes grupos sociais, etários ou profissionais) ou idioletos (variedades próprias de cada indivíduo). Voltando aos níveis de linguagem, abaixo vamos classificá- los mediante cada conceito, sendo assim são eles: Linguagem padrão ou culta - é a preferida na linguagem escrita, sobretudo, em documentos oficiais e não oficiais, segue rigorosamente as regras da gramática normativa. Inegavelmente, o domínio eficiente da língua, em seus diversos registros e em suas inesgotáveis possibilidades de variação, é uma das condições para uma boa aceitação na sociedade. Talvez você que está lendo este livro diga: ―Não concordo, pois para ser jogador de futebol, por exemplo, não precisa falar corretamente, só precisa jogar bem‖. Tudo bem, vou fazer uma pergunta para você, espero que seja sincero: quando alguém muito rico ou famoso aparece em um programa de televisão e fala algo que não está correto de acordo com a linguagem 9 culta, imediatamente você fala: ―Oh, pra ai! Tem tanto dinheiro, mas é burro, num sabe nem falar?‖ Não é isso que você fala ou pensa? Exemplos de língua culta: a) Era para eu fazer este trabalho. b) Pediram para eu trazer a lixeira. c) Para eu comer não é fácil. d) Vou enviar o livro. Linguagem coloquial - às vezes denominada ―a língua do povo‖. É aquela que usamos no nosso dia-a-dia, sem observância das regras da gramática normativa, nesta reside a criatividade, a espontaneidade. Carregada de vícios de linguagem (solecismo - erros de regência e concordância; barbarismo - erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleonasmo. É também a língua dos grupos (gírias), da família. É a preferida da comunicação verbal e seu uso independe do grau intelectual das pessoas. Contudo, é importante salientar, quem usa a língua coloquial geralmente é criticado e exposto ao ridículo, principalmente pelos defensores do ―fale como quiser, o importante é se comunicar‖, pois essas pessoas falam e escrevem seguindo a norma culta, sempre. Exemplos de linguagem coloquial: a) Era para mim fazer este trabalho. b) Pediram para mim trazer a lixeira. c) Para mim comer não é fácil. d) Vou tá enviando o livro. Nos exemplos acima se observa o uso do pronome oblíquo ―mim‖ errado, pois ―mim‖ não conjuga verbo. Linguagem técnica ou instrumental - usada por profissionais em suas áreas de atuação. 10 6. Funções da Linguagem Para falarmos sobre as funções da linguagem, antes é necessário saber um pouco sobre o processo de comunicação. Pensamos que a comunicação propriamente dita ocorre somente quando falamos, estabelecemos um diálogo ou redigimos um texto, contudo, ela está presente em nossa vida praticamente em quase tudo o que fazemos. A nossa comunicação ocorre com nossos colegas na faculdade, com os nossos familiares, ao lermos uma literatura, ao interpretarmos uma lei, ao lermos uma sentença, quando gesticulamos, quando abraçamos, quando estamos com raiva, em resumo, em toda ação há uma forma de comunicação. O mestre Juan Diaz de Bordenave (1997, p.17) em sua obra ―O que é comunicação? ensina que, a comunicação confunde-se com a própria vida. Temos tanta consciência de que comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua essencial importância quando, por acidente ou uma doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. Comunicação é uma palavra de origem latina communis que quer dizer ―tornar comum‖. Para Sodré, em sua obra Reinventando a Cultura (1996, p. 32) comunicação é ―Ação de por em comum tudo aquilo que, social, política ou existencialmente não deve permanecer isolado.‖ É no momento do processo de comunicação, que percebemos a existência dos seguintes elementos essenciais: a) emissor: é aquele que envia amensagem, pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas. b) mensagem: é o conteúdo, assunto, tema das informações que estão sendo transmitidas. 11 c) receptor: é aquele para quem a mensagem é dirigida, pode ser um indivíduo ou um grupo, também conhecido como destinatário. d) canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida. e) código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos, utilizado para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor decodificará. f) contexto: é o objeto ou a situação a que a mensagem se refere. 12 A seguir demonstraremos um esquema das funções da linguagem que foi criado pelo linguista russo Romann Jakobson. Referente ou Contexto EMISSOR------ MENSAGEM------RECEPTOR Código Canal 1. Função referencial ou denotativa: é aquela centralizada na mensagem real, sem subterfúgios, fala sobre o contexto, cujo fim é transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função predomina nos textos de caráter científico e jornalísticos. Ela é denotativa por que não se trata de uma linguagem figurada como é o caso da linguagem conotativa. 2. Função emotiva ou expressiva: é aquela que o emissor imprime no texto as marcas de sua opinião: emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a presença do emissor. Essa linguagem é feita na primeira pessoa (eu) do singular, interjeições e exclamações, biografias, memórias, poemas. 3. Função apelativa ou conativa: essa função busca influenciar, persuadir o receptor da mensagem, convencendo-o e seduzindo-o. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da pessoa, além de vocativos e imperativos. É geralmente usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor e no caso da linguagem jurídica, procura influenciar e convencer os jurados, ou o juiz. 4. Função fática: a palavra ―fático‖ significa ―ruído, rumor‖. Foi utilizada inicialmente para designar certas formas usadas para chamar a atenção (ruídos como: psiu, ahn, ei). Tem como objetivo 13 prolongar ou não o contato com o receptor, até mesmo verificar a eficiência do canal. Por exemplo, a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares. Interjeições, Lugar comum, Saudações, Comentários sobre o clima. 5. Função metalinguística: quando a linguagem fala sobre si mesma, por exemplo a poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto, os dicionários são repositórios de metalinguagem. 6. Função poética: ocorre quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. É aquela que apela para imaginação do emissor e do receptor. Afetiva, sugestiva, conotativa, metafórica. O foco é a combinação das palavras. É também a linguagem de obras literárias, letras de música, de algumas propagandas. É importante lembrar que um texto pode-se ter várias funções da linguagem. 14 7. Juridiquês em bom português Peça - todo documento elaborado pelo jurista com relação a um processo, tais como: Petição, Recurso etc. Parte - pessoa que participa de um processo. Pode ser a parte que provocou (autor) o processo ou a parte que se defende (réu). Litígio - questão judicial; pleito, demanda, pendência, disputa, contenda. Petição - de forma geral, é um pedido escrito (peça) dirigido ao Tribunal. A Petição Inicial é o pedido para que se comece um processo. Outras petições podem ser apresentadas durante o processo para requerer o que é de interesse ou de direito das partes. Postulante - aquele que postula uma solução para o seu problema na Justiça requer, em geral, por meio de um advogado, documentando a alegação. Preposto - Representante de alguém em uma ação. Processo - atividade por meio da qual se exerce concretamente, em relação a determinado caso, a função jurisdicional, e que é instrumento de composição das lides; pleito judicial; litígio; conjunto de peças que documentam o exercício da atividade jurisdicional em um caso concreto; autos. Prescrever - perder a validade, ou a vigência; incidir em prescrição; ser atingido por prescrição. Ação - meio pelo qual um cidadão usa para reivindicar ou defender um direito na Justiça. Acordo - combinação, ajuste, pacto. Ajuizar - propor uma ação na justiça. Data Venia - (com o devido respeito) usa-se quando se principia uma argumentação divergente da de outro. Assentada - documento em que é anotado tudo o que acontece em uma audiência: a presença das pessoas, os fatos. 15 8. Dicas para uma boa comunicação ERRADO: a garota delinqua todos os dias. CERTO: A garota comete delito todos os dias. O verbo ―delinquir‖ é defectivo, isto é, não se conjuga em todos os modos, tempos e pessoas. Esses verbos só devem ser conjugados nas formas arrizotônicas, ou melhor, nas formas cuja vogal tônica permanece fora do radical. ERRADO: É uma opção a nível nacional. CERTO: É uma opção em nível nacional. Na verdade é desnecessário usar ―em nível‖, basta falar: ―É uma opção nacional‖, mas se quiser usar, por favor, use ―em nível‖, nunca ―a nível‖. ERRADO: Vamos conseguir junto a Prefeitura. CERTO: Vamos conseguir na Prefeitura. Mais um uso desnecessário de palavra. Por que ―junto a‖, quem sabe pode ser distante. Sendo assim, evite o uso dessa palavra. Junto a significa também: agregado, emprestado. ERRADO: Através do meu advogado vamos conseguir. CERTO: Por meio do meu advogado vamos conseguir. Esta locução preposicional significa ―de um lado para o outro‖, ―passar por‖, ―atravessar‖ ―transpor‖, ―de lado a lado‖. 16 17 Capítulo II Comunicação Eficaz e Eficiente 1. Considerações iniciais Sabemos que para existir uma boa comunicação é necessário que o meu receptor, isto é, a pessoa para quem eu estou enviando a mensagem, entenda tudo o que eu quis transmitir. Por mais eloquente que uma pessoa seja, se o receptor não entender o teor integral da mensagem não houve comunicação. Se você é da turma do ―deu pra entender‖, é melhor começar a mudar a sua forma de ver o processo de comunicação humana, bem como a sua forma de comunicação. Algo que me aflige no processo de comunicação da área jurídica é que, a maioria das pessoas fala por imitação, repetem palavras, expressões, sobretudo em latim, sem se quer saber que existem as terminações ablativo, nominativo, acusativo, genitivo e dativo do idioma, faz isso porque ouviu essas frases de alguém denominado o ―supra-sumo do saber jurídico‖. É sempre bom, quando não tiver certeza do que está falando ou pronunciando, estudar um pouco sobre o tema. O título do nosso capítulo fala sobre comunicação eficiente e eficaz, e possivelmente você esteja curioso para saber qual é a diferença, pois bem, no mundo da administração ser eficiente é fazer certo tudo aquilo que nos propomos a fazer, e ser eficaz é fazer a 18 coisa certa. Vamos fazer uma ilustração por meio de uma estória hipotética. Cena 01 Bob é um advogado muito dedicado, meticuloso, faz tudo bem certinho, numa segunda-feira, à noite, estava preparando uma peça (uma defesa na áreatrabalhista). Construiu tudo com muito esmero, fez tudo certo. A peça estava impecável em relação a sua redação. Ele foi eficiente. Cena 02 Quando Bob recebeu a decisão do juiz percebeu que foi favorável ao seu pedido, isto é, o cliente de Bob ganhou a causa, porque Bob em sua defesa escreveu com clareza, precisão e ordem lógica, não deixou nenhuma dúvida para o juiz que julgou o processo sobre o seu pedido, sendo assim Bob fez a coisa certa. Ele foi eficaz. Suponhamos que Bob tivesse feito tudo certo em relação a redação da peça da sua defesa, no entanto, se o seu pedido fosse sem fundamento sólido, ou seja, se o seu pedido não tivesse lógica de pedir, se ele estivesse pedindo algo que não era devido, não era correto, daí, sim, Bob havia feito tudo certo em relação a elaboração do que ele escreveu, mas, por outro lado, havia feito a coisa errada, pois pediu o que não podia nem devia ter pedido, ele não teria sido eficaz. A nossa comunicação diária tem que ser assim: eficiente e eficaz. Quantas vezes nós lemos alguns textos e não conseguimos entender o que o autor realmente quer dizer. Interessante é que ainda hoje, muitas pessoas, para serem vistas como intelectuais, eruditas, escutam músicas com letras complexas dos grandes mestres Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Milton Nascimento, contudo, às vezes não entendem o que o autor da letra quis dizer com a aquela 19 composição e se você perguntar sobre a música, ela fala, a pessoa que está escutando ou escutou: ―É simplesmente linda, perfeita!‖ Certa vez uma amiga escutava a canção de Caetano Veloso ―Qualquer Coisa‖, então eu perguntei o que a letra dessa música quer dizer. Bem, eu perguntei por que sabia que ela havia terminado o relacionamento com o namorado e estava ouvindo aquela música, daí, ela respondeu: ―Essa letra mexe muito comigo, com o momento que estou vivendo‖. Porém eu insisti na pergunta: sim, mas o que a letra quer dizer? E a minha amiga respondeu: ―É um negócio diferente, uma coisa assim que me deixa em êxtase.‖ Eu falei: ―tá bom‖! Naquele momento, se fosse hoje, eu lembraria o palhaço Tiririca quando fala: ―Essa música é coisada, é um negócio coisado, é assim meia coisada‖. Segue a letra da música. Esse papo já tá qualquer coisa Você já tá pra lá de Marrakesh Mexe qualquer coisa dentro doida Já qualquer coisa doida dentro mexe Não se avexe não, baião de dois Deixe de manha, deixe de manha, pois Sem essa aranha, Sem essa aranha, Sem essa aranha Nem a sanha arranha o carro Nem o carro arranha a Espanha Meça: tamanha, Meça: tamanha Esse papo seu já tá de manhã Berro pelo aterro, pelo desterro Berro por seu berro, pelo seu erro Quero que você ganhe Que você me apanhe Sou o seu bezerro gritando mamãe Esse papo meu tá qualquer coisa E você tá pra lá de Teerã; qualquer coisa Você já tá pra lá de Marrakesh 20 Sugiro a você, caro leitor, fazer uma interpretação da letra da música acima. É preciso que na comunicação haja clareza, precisão e ordem lógica, por sinal, este é um tema que estudaremos mais adiante. Uma das inquietudes mais comum na população é saber por qual razão as leis são feitas com uma linguagem tão rebuscada, e por vezes de difícil compreensão. Usam-se palavras que confundem a população, o maior exemplo disso é o art. 134 do Código de Processo Civil Brasileiro que está assim escrito: ―É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário...‖, porque não escreve: “É proibido ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário...” Seria muito mais fácil, pois a palavra ―defeso‖ quer dizer ―proibido‖. Também no art. 13 , do Código Civil Brasileiro está assim escrito: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”. Deveriam escrever em lugar de ―defeso‖, ―proibido‖. O mundo do Direito é assim, repleto de ―folia‖ da linguagem. Uma dessas beldades é o uso da expressão “eis que”. Na frase: ―Na verdade houve intempestividade, (porque não se fala ―fora do prazo?) eis que a ação foi simplesmente julgada de forma sem observância”. Se você trocar ―eis que‖, por “uma vez que” fica bem mais fácil de compreender, além do mais ―eis que‖ não é uma conjunção causal. Existe uma passagem muito interessante que se conta sobre Rui Barbosa. Todos nós sabemos que ele foi um mestre da oratória e era muito erudito. Segue então uma estória entre as dezenas sobre este brilhante advogado. Rui Barbosa e o ladrão de patos Rui Barbosa, ao chegar a sua casa, ouviu um barulho esquisito vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou que 21 havia um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo, surpreendendo-o tentando pular o muro com seus amados patos. Batendo nas costas do tal invasor, disse-lhe: Ô bucéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes e sim pelo ato vil e sorrateiro de galgares as profanas de minha residência. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha alta prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de tua sinagoga que reduzir-te-á à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada. E o ladrão, confuso, disse: Ô moço, eu levo ou deixo os patos? Depois da leitura desse texto é possível compreender que fundamentalmente no processo da comunicação humana, a clareza na mensagem é o mais importante. De nada adianta ser muito culto, erudito, intelectual, se não se fizer entender. Lembre-se que comunicação é o ato de tornar comum, simples a mensagem que se transmite. 2. Clareza, Precisão e Ordem Lógica Esses são os passos necessários para uma boa comunicação. O emissor precisa entender que esses passos devem figurar a todo o momento que ele estiver se comunicando. Muitas vezes não somos entendidos por faltar um desses elementos: clareza, precisão e ordem lógica. Em diversas leis brasileiras e de outros países ocorre em sua redação a falta desses elementos, daí a necessidade de interpretação 22 da lei, que por muitas vezes causa a criação de outra lei. Quando a mensagem não está clara em seu conteúdo e falta-lhe precisão das palavras, os resultados são devastadores. Vamos ler a ilustração a seguir para entender o que a falta desses elementos pode acarretar. O texto abaixo trata do uso de ―tu‖ ou ―você‖. 2.1. Posso tratá-lo por “tu”? Conta-se que havia um Diretor que tinha uma empresa pequenina, e que era muito amigo do seu gerente comercial. Todos os dias eles almoçavam juntos, desde que abriram a empresa, há mais de 10 anos. Acontece que o gerente já estava há dois meses com um comportamento muito estranho, isto é, não almoçava mais com o chefe. Então ele, o Diretor, preocupado com o amigo, decidiu contratar um detetive para saber o que estava realmente acontecendo. Pois bem, depois de uma semana de investigação, o detetive volta a empresa para falar com o Diretor e faz o seguinte relato: Detetive: Senhor Diretor, o Gerente Comercial sai normalmente ao meio-dia, pega seu carro, vai a sua casa almoçar, faz amor com a sua mulher, fuma um dos seus excelentes charutos cubanos e regressa ao trabalho. Diretor: Ah, bom, antes assim! Não há nada de mal nisso. Detetive: Diretor, me desculpe, mas posso tratá-lo por ―tu‖? Diretor: ―Sim, claro‖! Mas o que há? Detetive: Então vou repetir: O seu Gerente Comercial sai normalmente ao meio-dia,pega teu carro, vai a tua casa almoçar, faz amor com a tua mulher, fuma um dos teus excelentes charutos cubanos e regressa ao trabalho. Observe como o emprego do ―tu‖ pode esclarecer o verdadeiro teor do relatório. Muitas vezes uma vírgula, muda todo rumo da frase. A imperatriz russa Maria Fyodorovna em uma determinada ocasião salvou a vida de um homem, apenas por mudar de lugar a vírgula de sua sentença. 23 Sabiamente, por não concordar com a decisão de seu marido, Alexandre II, usou o artifício a seguir: O Imperador enviou o prisioneiro para a prisão e morte no calabouço da Sibéria. No fim da ordem de prisão vinha escrito: ―Perdão impossível, enviar para Sibéria‖. Maria ordenou que redigissem nova ordem, e fingindo ler o documento original, mudou uma vírgula, 38 transformando a ordem em: ―Perdão, impossível enviar para Sibéria‖ e o prisioneiro foi libertado. 24 Preste atenção que o uso da vírgula após a palavra ―perdão‖ modificou toda a sentença. Outro caso em que a vírgula causa a grande diferença é que em algumas edições da Bíblia Sagrada do rei James, no evangelho de Lucas 23:32 é alterado inteiramente pelo uso inadequado da vírgula. Não exatamente pelo seu uso, contudo, pela falta dela. Na passagem que descreve os outros homens crucificados com Jesus Cristo, as edições erradas dizem: ―E havia mais dois outros malfeitores.‖ A falta da vírgula colocou Jesus Cristo como malfeitor na própria Bíblia. O correto seria ―E havia mais dois outros, malfeitores.‖ Uma vírgula já causou uma confusão e prejuízo terrível para o governo dos EUA. Na lei de tarifa alfandegária aprovada pelo congresso em 06 de junho de 1872, uma lista de artigos livres de impostos incluía: ―plantas frutíferas, tropicais e semi-tropicais‖. Na hora de escrever o documento, um funcionário público distraído acrescentou sem perceber uma nova vírgula, deixando o texto assim: ―plantas, frutíferas, tropicais e semi-tropicais‖. Isso fez com que todos os importadores de plantas americanos pleiteassem o direito de importação livre de impostos. A lei só foi reescrita em 9 de maio de 1894. Existem algumas coisas que causam estranheza, pelo menos a mim, e uma delas é quando alguém está conversando comigo fala que está estudando uma língua estrangeira, como, por exemplo, ―Inglês’ e diz que está cursando o nível intermediário. Então eu pergunto: qual é o seu nível em língua Portuguesa?‖ E você sabe qual é o seu nível? É incrível como as pessoas se preocupam com o idioma dos outros e se esquecem do idioma pátrio. E ainda pior, querem ter uma pronúncia perfeita, escrita perfeita, falar e escutar perfeitamente. Costumo falar para meus alunos: ―fale em inglês tão ruim quanto você fala em Português‖. Ora, poucas pessoas, com raríssimas exceções, pronunciam as palavras da língua portuguesa corretamente, pelo menos as mais usuais. Veja abaixo algumas pronúncias mais comuns que as pessoas cometem erros, e são pessoas tidas como ―cultas‖, de nível superior, o famoso ―dotô‖. 25 Correto Errado Família familha Óleo ólho Mesmo mermo Mentira mintira Próprio própio Manteiga mantega Cadeira cadera Caixa caxa Xícara xícra Doutor dotô. Borracha Burracha Reivindicar Reinvidicar 3. A linguagem da sentença Este é um assunto bastante interessante no contexto da linguagem jurídica. É por meio da sentença que o julgador, em nosso caso o juiz, emite a sua opinião sobre o caso que lhe foi apresentado para que ao final aponte a solução. A sentença proferida pelo juiz deve seguir os requisitos que estão estabelecidos no art. 458 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, denominada Código de Processo Civil que está assim redigido: Art. 458. São requisitos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; 26 III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem. Importa lembrar que todo ―requisitos‖ é ―essencial‖, sendo assim temos uma redundância própria do mundo dos eruditos do direito. Acredito que o legislador queria dizer ―pré-requisito‖, funcionando a expressão como uma parafrástica. Se é uma redundância, por que as pessoas usam? Para responder esta pergunta Nietzsche faz a seguinte reflexão: ―Por que duas palavras para dizer a mesma coisa? É que aquele que a diz, é sempre o outro‖. Ainda falando sobre pré-requisito, quero destacar a diferença deste para ―presuposto‖. Pré-requesito é algo que não pode faltar, sem ele o processo não se movimenta, não tem proseguimento, por outro lado, presuposto é algo que deveria existir, porém mesmo sem a sua existência, o processo prossegue. Por exemplo: os nomes das pessoas em um processo devem existir, doutra forma ele não pode iniciar. A Câmara dos Deputados apresentou a redação final do Projeto de Lei nº 7. 448, a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC); um projeto de lei que modifica o texto do art. 458, do Código de Processo Civil Brasileiro (CPCB). O projeto visa acrescentar o inciso IV e seus parágrafos, no qual obriga o juiz a usar uma linguagem urbana, coloquial quando escrever a sua sentença, de modo que ela possa ser entendida pelo povo. Vamos ler a seguir o texto do projeto de lei na íntegra: Art. 1º Esta Lei altera o artigo 458 da Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973- Código de Processo Civil. Art. 2º O artigo 458 da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973, passa a vigorar com a seguinte alteração: ―Art. 458.............................................................. IV — a reprodução do dispositivo da sentença em linguagem coloquial, sem a utilização de termos exclusivos da Linguagem técnico-jurídica e acrescida das considerações que a autoridade Judicial entender necessárias, de modo que a 27 prestação jurisdicional possa ser plenamente compreendida por qualquer pessoa do povo. (grifo nosso) § 1º A utilização de expressões ou textos em língua estrangeira deve ser sempre acompanhada da respectiva tradução em língua portuguesa, dispensada apenas quando se trate de texto ou expressão já integrados à técnica jurídica. § 2º O disposto no inciso IV deste artigo aplica-se exclusivamente aos processos com participação de pessoa física, quando esta seja diretamente interessada na decisão Judicial. § 3° A reprodução coloquial do dispositivo da sentença deverá ser enviada ao endereço pessoal, físico ou eletrônico, da parte interessada até a data da publicação da sentença. Não ensejará recurso nem poderá ser utilizada como fundamento recursal, não repercutindo de qualquer forma sobre os prazos processuais. § 4º Para fins do disposto no inciso IV deste artigo, a parte interessada deve manter atualizada a informação de seu endereço físico ou eletrônico, cabendo à secretaria do órgão judiciário, independentemente de manifestação do juiz, certificar nos autos cada alteração informada. Art. 3°. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICAÇÃO Diferentemente das decisões interlocutórias, que são destinadas ao conhecimento dos advogados, a decisão final do processo dirige-se principalmente às partes. A exemplo do texto constitucional, cuja técnica de redação prioriza o uso de palavras de conhecimento geral e cuja hermenêuticarecomenda a opção pelo sentido comum, assim também deve ser concebida a sentença judicial, já que tanto a Constituição como a sentença não podem ser reduzidas a um texto técnico. Embora não se desconsidere a importância do advogado enquanto interlocutor técnico autorizado, o Estado tem o 28 compromisso político de dirigir-se diretamente ao cidadão que o procura para a solução de uma Lide (conflito). Nesse passo, deve-se considerar que o Direito, de forma corriqueira, utiliza-se de linguagem normalmente inacessível ao comum da população, apresentando, no mais das vezes, um texto hermético e incompreensível. Assim, de pouco ou nada adianta às partes a mera leitura da sentença em seu texto técnico. Desse modo, a tradução para o vernáculo comum do texto técnico da sentença judicial impõe-se como imperativo democrático, especialmente nos processos que, por sua natureza, versem interesses peculiares às camadas mais humildes da sociedade, como as ações previdenciárias e relacionadas ao direito do consumidor. 29 4. Juridiquês em bom português Carga - é o ato do advogado de retirar o processo do cartório Cartório - é o local onde vai correr o processo, também é chamado de Vara. Autuação - Ato de cadastrar e encapar a petição inicial, formando o processo. Baixa dos autos - é a remessa do processo para a instância (tribunal ou fórum) inferior. Processo autuado - o processo foi recentemente distribuído e foi organizado com capa e numeração de folhas, tendo recebido uma numeração. Concluso - quando o Processo está no gabinete do juiz aguardando alguma determinação. Despacho - ato do juiz para determinar providências no processo. Escaninho do Juiz - local onde é colocado o processo antes de ser remetido ao juiz. Acórdão- é a decisão proferida pelo Tribunal de Justiça. Baixa na distribuição - é o ato de cancelar a ação quando ela ainda não foi ao conhecimento do juiz. Mandado de citação ou citação - meio de dar conhecimento ao réu da ação que foi proposta contra ele, informando o prazo que terá para ofertar sua defesa. Contestação- é a defesa do Réu. Contra-razões - resposta ao Recurso. Aguardando outros - quando o processo está no cartório para que os serventuários (funcionários) pratiquem alguma determinação do juiz. Exemplo: expedir o mandado de intimação ou citação; incluir a determinação do juiz (despacho) na relação que vai ser publicada no diário de justiça etc. Agravo de Instrumento - tipo de recurso contra decisão do juiz proferida durante o andamento do processo. 30 5. Dicas para uma boa comunicação ERRADO: Eu não entendi posto que estava preocupado. CERTO: Eu não entendi porque estava preocupado. É muito importante lembrar que a locução ―posto que‖ significa ―embora‖, ―ainda que‖, ― mesmo que‖. Esta expressão não é sinônima de ―porque‖. ERRADO: A estadia dele foi longa na prisão. CERTO: A estada dele foi longa na prisão. Os dois têm sentidos iguais, contudo, o uso é diferente. Para pessoas usa-se ―estada‖, para embarcações, aviões e veículos é obrigatório o uso de ―estadia‖. ERRADO: Ele estava com duzentas gramas de cocaína. CERTO: Ele estava com duzentos gramas de cocaína. Cuidado com o uso do substantivo quando representa unidade de medida como é o caso de ―grama‖, pois neste caso ele é masculino. ERRADO: Ele não tem nada a dizer. CERTO: Ele não tem nada que dizer. ERRADO: Ele foi preso em fragrante. CERTO: Ele foi preso em flagrante. A palavra ―fragrante‖ vem de fragrância: cheiro, perfume. 31
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