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Ana Lygia Cunha Maria Cristina Lobato PORTUGUÊS Linguagem, língua e texto 1ª Edição 2019 Belém - Pará Todo conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Copyright © 2018 Editora EditAedi Todos os direitos reservados. REITOR Dr. Emmanuel Zagury Tourinho VICE-REITOR Dr. Gilmar Pereira da Silva COMITÊ EDITORIAL Presidente: Dr. José Miguel Martins Veloso Diretora: Dra. Cristina Lúcia Dias Vaz Membros do Conselho: Dr. Aldrin Moura de Figueiredo Dr. Iran Abreu Mendes Dra. Maria Ataide Malcher AUTORAS Ana Lygia Cunha Maria Cristina Lobato CAPA Andreza Jackson de Vasconcelos DIAGRAMAÇÃO Andreza Jackson de Vasconcelos Nayara Amaral Araújo EDITORA EditAedi Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Cunha, Ana Lygia; Lobato, Maria Cristina Português: Linguagem, língua e texto Módulo Português - Vol. I/ Ana Lygia Cunha, Maria Cristina Lobato. Belém: EDITAEDI/ UFPA, 2018 ISBN: 1. Português 2. Linguagem MÓDULO I PORTUGUÊS Linguagem, língua e texto Atividade 1 Objetivos Refletir sobre a importância da linguagem em nossas vidas; Reconhecer a língua como um conjunto de variedades. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 5 Afinal, o que é a linguagem? É comum a definição de linguagem como sistema, como conjunto de regras que permite que os seres humanos expressem suas ideias, se comuniquem. Mas, hoje, sabe- se que a linguagem é muito mais do que isso: é o processo pelo qual interagimos com outros seres humanos. Isso significa que, por meio da linguagem verbal, agimos conforme nossas intenções: pedimos, ordenamos, seduzimos, convencemos, alegramos, ofendemos, etc. A depender do efeito que buscamos causar em nossos interlocutores e da situação em que interagimos com eles, fazemos escolhas, isto é, decidimos de que forma vamos dizer o que queremos. Não há dúvida de que é pela linguagem que somos indivíduos únicos. A língua é uma das realidades mais fantásticas da nossa vida. Sua presença absoluta em nossas atividades permite-nos estabelecer relações e limites, dizer quem somos, quem são os outros, onde estamos, o que vamos fazer. Nossas emoções, nossos sonhos, nossos sentimentos se revestem de palavras. As línguas se manifestam por uma variedade de linguagens e formas linguísticas, que dominamos muito bem nas situações cotidianas, mas nos tornamos, muitas vezes, inseguros nas situações em que a chamada língua padrão é exigida: nos textos escritos, nas provas escolares, nos discursos oficiais, nas falas em público, etc. O que é escrever bem? Quem de nós não tem algum “trauma” por ter dúvidas em relação a uma concordância diferente ou não passou vergonha por ter usado uma regência fora dos padrões, um vocábulo inadequado, uma “esseção” caprichada? Em nosso cotidiano, vivemos sob o império do certo e do errado – mas nem sempre sabemos com relação a quê. E para você, escrever é fácil? Será que só quem tem talento produz bons textos? Para começar, leia o texto seguinte: Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 6 Texto 1 O GIGOLÔ DAS PALAVRAS Quatro ou cinco grupos de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava com as suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa (“Culpa da revisão! Culpa da revisão!”). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente. Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer “escrever claro” não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir comover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática). A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral muito pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra Necrólogo - aquele que faz necrológio (seção de periódicos em que se publicam notícias de óbito e elogios fúnebres). Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 7 para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele sozinho não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura. Claro que eu não disse tudo isso para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas — isso eu disse — vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas a exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que os outros já fizeram com elas. Se bem que não tenha também o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isso. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito. Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em Gigolô - homem que vive à custa de meretriz ou de mulher mantida por outrem. Cáften - o que vive à custa de prostituta. Escrúpulo - hesitação ou dúvida de consciência. Calão - gíria com o uso de termos baixos. Plantel - grupo de animais de raça, de boa qualidade, reservados para produção. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 8 sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias para ver quem é que manda. Luis Fernando Verissimo Lexicógrafos - autor de dicionários, dicionarista. Etimologistas - aquele que estuda o étimo (a origem) das palavras. Reflita sobre as questões abaixo a) Você conhece Luis Fernando Verissimo? b) Que tipo de texto ele escreve? c) Você acha que é difícil ler um texto desse autor? Por quê? O autor de “O gigolô das palavras” consegue produzir textos de fácil acesso, bem- humorados, gostosos de ler. Graças a isso ganhou espaço na mídia (no Brasil é difícil viver de literatura) e sabe aproveitar esse espaço inclusive para criticar instituições “intocáveis”. Uma delas, como se pode ver nacrônica acima, é a Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Luis Fernando declara ter sido um péssimo aluno de gramática e parece ter com esta uma relação independente, ou seja, ele usa dela aquilo que precisa usar, mas não deixa que suas regras o atrapalhem, dispensando o que considera excessivo. Quem dera que todo mundo conseguisse fazer isso e pudesse sair por aí, expressando-se (principalmente por escrito) sem dificuldade. Mas o que acontece é que, por terem Luis Fernando Verissimo O autor é natural de Porto Alegre, de onde, ainda hoje, observa a vida brasileira com seu olhar atento de cronista. Escritor que encanta seus leitores com a ironia inteligente de seus textos, Verissimo se consagrou como uma das vozes mais respeitadas do país. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 9 estudado a vida inteira a gramática como se fosse uma bíblia (incluindo aí a punição pelo pecado), as pessoas se deixam intimidar por ela e chegam a ter medo de escrever por acharem que vão errar sempre. Acontece que “aquela gramática” que estudamos na escola é apenas a descrição de uma das modalidades do português, que é chamada de norma culta ou padrão e que goza de prestígio social por ser considerada a mais “correta”. Ela é usada pelos escritores e é ensinada nas escolas porque, em nossa sociedade, ter o domínio dessa modalidade significa saber. Mas suas regras devem servir para nos ajudar na produção de nossos textos, e não para atrapalhar. Observe o que diz o texto a seguir: Texto 2 QUE LÍNGUA, A NOSSA Já faz algum tempo, dei com um texto de um sociólogo brasileiro muito prestigiado na época, que começava assim: “Os problemas que obstaculam o desenvolvimento do Brasil...” Consultei o dicionário: o verbo obstacular simplesmente não existia. Em compensação, descobri que existia obstaculizar, no sentido de criar obstáculos, impedir, dificultar. Por que não falar nos problemas que impedem, dificultam o desenvolvimento do Brasil? Mania de complicar as coisas. Resultado: o nosso sociólogo acabou cassado. Estávamos ainda nos primórdios do tecnolês. Hoje em dia a coisa chegou a tal ponto que deixou para trás aquela pessimista observação de George Orwell sobre a linguagem técnica do nosso tempo. O escritor inglês ousou imaginar como seria escrito atualmente um trecho bíblico — e tomou como exemplo esta passagem do Eclesiastes: Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 10 “Voltei-me para outra coisa, e vi que debaixo do sol não é o prêmio para os que correm, nem a guerra para os que são mais fortes, nem o pão para os que são mais sábios, nem as riquezas para os que são mais hábeis, nem o crédito para os melhores artistas — mas que depende do tempo e das circunstâncias” (IX-11). Agora a mesma coisa na linguagem do nosso tempo: “Uma objetiva consideração dos fenômenos contemporâneos leva-nos à conclusão de que o sucesso ou o fracasso nas atividades competitivas não encerra possibilidade de ser comensurável pela capacidade inata, senão que um considerável elemento de imprevisível deve invariavelmente ser levado em conta.” Pois muito bem: de lá para cá as coisas pioraram muito. George Orwell, se ainda estivesse vivo, poderia imaginar hoje a mesma ideia expressa mais ou menos assim: “Ao equacionarmos o posicionamento das formulações de uma unidade comunitária, inseridas no contexto de suas propostas de relacionamento social, somos levados, pela conotação irreversível de sua sistemática, a concluir que a operacionalização das atividades intelectuais, uma vez deflagrada, gera um remanejamento pouco gratificante de suas virtualidades intrínsecas, pois a adequação de suas fantasias à realidade circunstante não corresponde à expectativa inicialmente enfatizada, senão na medida de sua reciclagem em face de fatores não-comensuráveis”. Só mesmo repetindo aquela exclamação de Jânio Quadros, depois de uma frase em que me dizia “a inteligência, Deus no-la deu...” — e subitamente interrompida, jamais terminada: No-la deu. Que língua, a nossa! Fernando Sabino Eclesiastes - livro do antigo testamento. Comensurável - que se pode medir. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 11 Compare as três diferentes redações de um mesmo trecho que o texto nos oferece e reflita: a) Qual delas apresenta vocabulário mais culto? b) Em qual delas as frases são mais complexas? c) Qual delas é mais fácil de ser lida e entendida? d) Qual delas é mais difícil de ser lida e entendida? e) Qual das três redações é mais eficiente? O que é, no seu entender, o tecnolês? Como você viu, há várias maneiras de se dizer a mesma coisa e, às vezes, as pessoas se dão mal (não conseguem se expressar bem ou não são compreendidas) justamente por escolher a maneira mais difícil, provavelmente por acharem que quanto mais eruditos forem, melhor será o seu texto. Isso não é verdade. “Falar difícil não garante sucesso na interação com o nosso interlocutor, pois ele pode não nos compreender”. Eis aí uma boa ilustração para a afirmação de Luis Fernando de que a gramática pode atrapalhar e “precisa apanhar todos os dias para ver quem é que manda”. Não devemos nos deixar dominar por ela, e sim tentar dominá-la, sem deixar que nos atrapalhe. 1 2 Fernando Sabino Nascido e criado em Belo Horizonte, começou a escrever contos quando ainda estava no ginásio. Em sua terra natal, publicou seu primeiro trabalho (uma história policial) aos treze anos. Seu nome está entre os dos principais cronistas brasileiros. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 12 Língua falada e língua escrita Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante variado de formas linguísticas, cada uma delas com a sua gramática, a sua organização estrutural. Do ponto de vista científico, não há como dizer que uma forma linguística é melhor que outra, a não ser que a gente se esqueça da ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como critério. Entretanto, é fato que há uma diferenciação valorativa, que nasce não da diferença desta ou daquela forma em si, mas do significado social que certas formas linguísticas adquirem nas sociedades. Mesmo que nunca tenhamos pensado objetivamente a respeito, nós sabemos (ou procuramos saber o tempo todo) o que é e o que não é permitido. Nós costumamos “medir nossas palavras”, entre outras razões, porque nosso ouvinte vai julgar não somente o que se diz, mas também quem diz. E a linguagem é altamente reveladora: ela não transmite só informações neutras; revela também nossa classe social, a região de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a linguagem também é um índice de poder. A primeira coisa que devemos fazer, ao pensar sobre a realidade da língua, é separá-la em duas categorias básicas: língua falada e língua escrita. Na verdade, a realidade primeira da língua é a fala, tanto na história da humanidade como na nossa história pessoal. Isto é, a escrita surgiu depois, e fundamentada na realidade da fala. Considerando a fala, observe os exemplos seguintes: “Eu admiro ele dês que eu era criança.” “Eu o admiro desde o tempo em que éramos crianças.” “Tu fizesse o que eu te pedi?” “Cara, você deu uma dentro.” “Excelência, vós poderíeis repetir a sentença?” 1 4 3 2 5 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 13 Como você pode verificar, as ocorrências acima, apesar de todas serem exemplos de língua falada, não são iguais. O que há de diferente entre elas? Poderíamos dizer que a primeira construção pode ter sido emitida por um falante numa situação de fala descontraída, bem informal. A segunda já é característica de uma fala mais cuidada, mais próxima do nível formal da língua, diferentemente do terceiro exemplo, que apresenta um desvio de concordância no verbo, ocorrência essa muito comum entre falantes em situações bem informais. Observa-se no quarto exemplo que o emprego da palavra “cara” caracteriza provavelmente afala de um jovem, já que se trata de uma gíria muito usada por esse grupo. A última frase é usada numa situação formal, que exige o emprego do pronome de tratamento “Excelência” e do pronome pessoal “vós”. Trata-se de uma fala dirigida provavelmente a um juiz. Eis aí cinco enunciados bastante diferentes entre si, diferentes não apenas pelas informações veiculadas, mas também pelas formas empregadas. Às vezes, a mesma pessoa, dependendo do meio em que se encontra, da situação sócio- cultural dos indivíduos com quem se comunica, usará níveis diferentes de língua. Considerando esse critério, podemos reconhecer, num primeiro momento, dois tipos de língua: a falada e a escrita. A língua falada pode ser culta, coloquial, vulgar ou inculta, regional, grupal (gíria e técnica). A língua escrita pode ser não literária — língua padrão —, coloquial, vulgar ou inculta, regional, grupal. Nesse primeiro momento, já temos um ponto de partida para definir a língua: toda língua é um conjunto de variedades. Enunciados - Frase, parte de um discurso ou um discurso (oral ou escrito) em associação com o contexto em que ocorre. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 14 Vejamos agora outra crônica: Texto 3 RECADO AO SENHOR 903 Vizinho, Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal — devia ser meia-noite — e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia todo tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito, a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 — que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 15 Bramimos- soltar bramidos, berrar. incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas — e prometo silêncio. ...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela.” E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. Rubem Braga Rubem Braga Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, em 12 de janeiro de 1913, começou a trabalhar em jornal ainda estudante. A partir de então, publicou suas crônicas em diversos jornais e revistas do Brasil, tendo morado em São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Morreu no Rio de Janeiro em dezembro de 1990. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 16 Você gostou da carta escrita pelo morador do edifício? Você acha que o autor da carta tinha outra intenção além de pedir desculpas? Explique. Agora, que já conversamos bastante, que tal ler o texto abaixo e responder às questões de 1 a 7, para verificar o seu desempenho enquanto leitor? 1 2 Texto 4 As Mulheres de 80 O Vinicius de Moraes, agora com 90 anos, poderia cantarolar “olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é uma velhinha que vem e que passa, no doce balanço, a caminho do lar”. Se ainda existe uma mulher do lar, ela tem 80 anos. Principalmente no nosso lar. Me responda: existe alguma coisa mais bonita do que ver uma senhora de 80 anos, aqueles cabelos brancos (mulher honesta de 80 não pinta mais os cabelos), caminhando pela rua de mãos dadas com o marido, bem mais trôpego do que ela? Quantas vidas existem naquelas duas mãos entrelaçadas? Quantos filhos, netos e bisnetos? Quanta vida, quanta história. Quanta gente aquela mulher de 80 colocou no mundo? E agora lá vai ela, caminhando, sem pressa nenhuma, sabe lá pra onde. Ela e o Produção de Texto Assim como Luis Fernando Verissimo, certamente você tem algumas dificuldades em se expressar (principalmente por escrito). Conte-nos, em poucas linhas, quais são essas dificuldades, como você tenta superá-las e como você acha que este curso poderá ajudá-lo(a) a tornar-se um(a) melhor produtor(a) de textos. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 17 homem dela. Eternos enquanto duraram. É, já não se fazem mais mulheres como as de 80. Perdemos a fórmula e esquecemos, quase sempre, que elas existem. Mulher de um só amor, de uma só dedicação. As mulheres de 80 se dividem basicamente em três categorias: as ainda casadas (como sofreram com seus maridos há algumas décadas), as viúvas (como sofreram com a morte do marido) e as com o mal de Alzheimer (que não sofrem, porque não sabem mais). O incrível é que a gente olha para uma velhinha e pensa que ela não saca mais nada. Que está apenas sentada ali na porta esperando o próprio enterro passar. Ledo e lerdo engano. Aquela que faz aniversário, com filhos, netos e bisnetos em volta. Olha ela lá, na dela, sentada na cadeira, olhando o nada. Engana-se, minha filha. Ela está percebendo tudo. Ela sabe o que está rolando na festinha da bisa. Sabe quem trai quem, quem deve pra quem, quem odeia quem, dentro de seus próprios descendentes. Mas ninguém dá bola pra ela. A mulher de 80 é a mais sábia das mulheres. Ela já teve 30, achando que sabia de tudo. Chegou aos 40 pensando: agora é que eu sei. E aí foi indo até chegar ali. Cada vez conhecendo mais o mundo e as pessoas do mundo. Quando vê o Bush dizendo besteira na televisão, ninguém lhe pergunta o que achou. Têm certeza que ela vai dizer bobagem. Mas se ousarem, vão ouvir uma frase curta, perfeita, exata. Quase filosófica. As mulheres de 80 filosofam. Infelizmente ninguém as ouve. Ah, as mulheres de 80 com seus cabelos brancos, seus óculos redondos, seu terço e sua caixinha de remédios. Sábias, filósofas, boas. Gente finíssima. Mario Prata (Revista Época, nº 300, 16/02/2004. Texto adaptado.) Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 18 Depreende-se do texto que as mulheres de 80 anos a) filosofam muito, mas todas já estão caducas. b) são mais sábias do que as mulheres mais jovens. c) dizem muita bobagem por causa da idade avançada. d) quase sempre não percebem o que se passa em sua volta. e) vivem do passado e não se apercebem do presente. No que se refere aos relacionamentos amorosos, depreende-se do texto que a) não importa a idade, as mulheres amam um único homem durante toda a vida. b) as mulheres de 80 anos, ao contrário das mais jovens, não conhecem a fórmula do amor. c) atualmente as mulheres mais jovens não se casam porque não acreditamno amor. d) as mulheres de 80, por terem se dedicado a vários homens, sabem tudo sobre o amor. e) as mulheres de 80, quase sempre, se dedicam a um único amor na vida. No texto, o autor demonstra pelas mulheres de 80 anos a) indignação e desconfiança. b) desprezo e medo. c) confiança e solidariedade. d) admiração e respeito. e) pena e indiferença Entende-se do 5º parágrafo que a) a mulher de 80 anos não consegue mais participar das reuniões familiares. b) a mulher de 80 sofre muito porque os familiares não se importam mais com ela. c) aos 80 anos é impossível uma mulher perceber tudo o que se passa ao seu redor. d) as pessoas enganam-se com a percepção que ainda pode ter uma mulher de 80 1 2 3 4 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 19 anos. e) por não ter mais perspectiva de vida, a mulher de 80 só espera o próprio enterro passar. No texto, o autor a) disserta sobre as mulheres de 80 anos. b) narra a vida de uma mulher de 80 anos. c) disserta e descreve o caminho que leva aos 80 anos. d) narra e descreve os 80 anos de uma mulher. e) descreve as limitações de uma mulher de 80 anos. O trecho que apresenta registro de linguagem coloquial (informal) é a) “O incrível é que a gente olha para uma velhinha e pensa que ela não saca mais nada”. b) “Quanta gente aquela mulher de 80 colocou no mundo?” c) “É, já não se fazem mais mulheres como as de 80”. d) “As mulheres de 80 se dividem basicamente em três categorias”. e) “A mulher de 80 é a mais sábia das mulheres”. No trecho “E aí foi indo até chegar ali”, o termo “ali” retoma a) a idade de 30 anos de uma mulher. b) a idade de 40 anos de uma mulher. c) a idade de 80 anos de uma mulher. d) a festinha da bisa na casa da família. e) a cadeira da velhinha de 80 anos. 7 6 5 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 20 Resumo da Atividade 1 É importante termos consciência da importância da linguagem em nossas vidas. Nesse sentido, não podemos nos esquecer de que As línguas se manifestam de formas diferentes em situações diferentes; A língua constrói-se na interação, mas também pode ser vista como produto acabado, estruturado nas gramáticas e dicionários; A primeira coisa que devemos fazer, ao pensar sobre a realidade da língua, é separá-la em duas modalidades: língua falada e língua escrita; A língua constitui-se como o domínio do homem pelo homem, logo, esse ato linguístico, em seu uso, é, também, poder. Sobre a Atividade 2 A próxima atividade o(a) levará a refletir sobre o poder das palavras e a importância da seleção vocabular na produção de textos. MÓDULO I PORTUGUÊS Objetivos Refletir sobre o poder das palavras; Reconhecer a importância da adequação vocabular para a precisão e a clareza das ideias do texto; Compreender que a posição dos termos na frase pode gerar ambiguidade. Linguagem, língua e texto Atividade 2 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 22 Vamos agora centrar a atenção nas palavras, essas peças multifacetadas que compõem as construções sintáticas como ingredientes significativos das mensagens linguísticas. Para começar nossa reflexão sobre o poder das palavras, leia a crônica seguinte. Texto 5 Meditação sobre o Calor das Palavras Costumo ter pesadelos com elevadores sem freios, anjos privados de asas e jatos comerciais desgovernados, sofro de alergia a doninhas, salgadinhos, cuecas de seda e mertiolate e nem sempre aceito minha imagem quando me olho no espelho. Sou hipocondríaco, é verdade, então metade desses males deve ser imputada à força de minha imaginação. Metade não. A outra parte, a mais importante, talvez mereça uma explicação bem simples. Sou, como qualquer homem, uma vítima das palavras, de seu fulgor, de seu poder de desgaste, do modo como elas podem nos submeter e governar. Ocorre-me, a meu favor, que é ridículo pensar que sou hipocondríaco se me compararem, por exemplo, ao repórter Bartolomeu Sáurio, que trabalhou comigo no Mundo Ilustrado. Era um sujeito manso, que jogava basquete, não comia carne vermelha e, mesmo quando o provocavam, e apesar dos olhos redondos, O Poder da Palavra Não existe “repouso” no poder das palavras, porque nelas se espelha, se empenha, se renova o que há de mais profundo na condição humana. E como explicar “as palavras doces”, “as falinhas mansas”, “o palavreado”? Poder-se-á falar do poder de sedução das palavras? Muitas vezes elas não passam de alívio para quem as diz, de música para o ouvido de quem as escuta, ou, simplesmente, leva-as ao vento. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 23 conservava uma placidez tibetana. Era sempre escalado para casos impossíveis e se saía bastante bem. Um dia, ganhou de presente um dicionário da língua portuguesa. Maldita hora. Bartolomeu entregou- se ao jogo, muito estimulante para quem mexe com palavras, de abrir o livro ao acaso e, fazendo-o de oráculo, encontrar revelações. Um acaso malicioso o levou à palavra sáurio, seu sobrenome, e Bartolomeu Sáurio fez uma expressão murcha, de esgotamento, quando descobriu o significado nela contido. Os sáurios, ele passou a saber, são répteis cordados, escamados, com um osso quadrado, vértebras móveis, língua partida e órgão copulador duplo, que se arrastam pelas pedras e se dissimulam nas frestas dos desfiladeiros. São, numa expressão mais simples, os lagartos. Depois dessa revelação, Bartolomeu Lagarto (assim passou a ser chamado) nunca mais foi o mesmo. Sua pele adquiriu, aos poucos, um tom esverdeado; algumas vezes, enquanto escrevia suas reportagens, era visto com a boca aberta, a língua imensa circulando pelos lábios, como um chicote. Foi vítima, mais que da hipocondria, das palavras, açoitado por um nome que já carregava, mas que, até aquele dia, era apenas um invólucro vazio; preenchido, o sobrenome passou a moldar a vida de Bartolomeu Sáurio, que começou a sofrer dele, como sofremos de uma alergia, ou um vício. Algumas dúvidas ainda o consolaram quando, num restaurante, conheceu uma certa Magali Gamarra que, apesar do sobrenome, que aliás divide com um zagueiro célebre, jamais se deixou afetar por seu significado. Gamarra é a correia que se amarra à cabeça do cavalo para que ele não a levante em demasia; Magali, apesar disso, sempre andou de cabeça erguida e, ainda mais, recusa-se a usar gargantilhas, colares de pérolas e lenços de pescoço Desmente assim seu sobrenome, até o ironiza. Bartolomeu pensou que podia fazer o mesmo, mas percebeu manchas difusas surgirem em sua pele, as unhas cresceram, a cabeça ficando mais quadrada.. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 24 Nunca mais o vi, mas me disseram que mudou-se para os Andes e se tornou alpinista, o que não deixa de ser outra maneira de se sujeitar ao nome que carrega. Bartolomeu Sáurio é uma prova viva do que as palavras podem fazer com um sujeito. Um amigo, que se analisa como um lacaniano, me disse que tenho pesadelos com elevadores porque o elevador “eleva a dor”. Não, não me refiro a esses jogos de palavras tão franceses. Falo de algo que se passa mais por baixo, que é mais simples. E que é mais devastador. O problema é que as palavras fixam os significados – basta ver o que fazem com elas os dicionários. E ali, congelam, perdem seu calor, transformando-se em etiquetas, dessas que grudam para sempre. Ao passar a saber o que é um sáurio, Bartolomeu arrastou para dentro de si uma série de significados fixos, que colaram em seu espírito; e, porque é impressionável (mas quem não é?), tratou de encontrar dentro de si provas da existência de tais atributos – e, no abismo das palavras, todas as ideias se relacionam, qualquer coisa pode estar em qualquer lugar, então tudo é possível. Pobre Bartolomeu, que deixou escapar o calor das palavras, perdeu-o, e fez delas cubos de gelo. Que esqueceu que palavras podem ser mastigadas, retorcidas, desdobradas, e deixou, ao contrário, que elas o asfixiassem, pois, em vez de saboreá-las, ele as engoliu. JoséCastello. O Estado de São Paulo, 20/07/1999. Doninhas- mamífero carnívoro. Hipocondríaco- pessoa com doentia preocupação com a própria saúde. Placidez Tibetana- serenidade. Oráculo- objeto cuja palavra inspira muita confiança. Cordados- filo animal. Órgão compulador- órgão sexual. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 25 Como você pode observar nas palavras de José Castello, “no abismo das palavras todas as ideias se relacionam, qualquer coisa pode estar em qualquer lugar, então tudo é possível”. No trato com as palavras, o importante é “saboreá- las”, conhecê-las, usá-las adequadamente. Ao produzir seu texto, não se esqueça dessas observações, afinal é você quem irá escolher as palavras “certas” para o fim pretendido. Se você conhece algum fato curioso sobre o poder das palavras, como o que acabamos de ler, conte-o num pequeno texto escrito. A importância do vocabulário na produção de textos Quando falamos ou escrevemos, empregamos palavras selecionadas entre aquelas que conhecemos e de que nos lembramos. Essa seleção obedece a critérios de adequação vocabular: adequação ao referente, adequação ao ponto de vista, adequação aos interlocutores, adequação à situação de comunicação, adequação ao código, adequação ao contexto. Para nos adequarmos às situações com que nos deparamos frequentemente, precisamos ser cuidadosos com a seleção vocabular que iremos fazer. Vamos exercitar um pouco essa adequação vocabular que acabamos de falar. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 26 Questões - bloco 1 O verbo ter costuma ser empregado, no Brasil, com muitos significados diferentes. Em nosso país, é tratado como um curinga, capaz de substituir vários outros verbos. Seguindo o modelo, substitua o verbo ter por outro, de sentido mais específico, fazendo as adaptações necessárias. Modelo: Tenho alguns dias para terminar este trabalho. Disponho de alguns dias para terminar este trabalho. a) Este advogado tem muita experiência. b) Na minha rua, tinha muitos assaltos. c) Cada caixa tinha apenas dez flores. d) Meu amigo tinha asma desde a infância. e) A palestra teve poucos assistentes. f) Os passageiros do ônibus tiveram momentos de desespero. g) Tenha a gentileza de me comunicar a decisão. h) A garota tinha uma boneca nos braços. i) Teve, por longo tempo, muita freguesia. j) Ela teve o primeiro filho ainda com 15 anos. Você deve ter se surpreendido, ao fazer o que pedem os comandos das questões acima, com sua capacidade de empregar verbos diferentes em lugar de um mesmo verbo! O verbo fazer, também, é comumente empregado em lugar de outros. Substitua o verbo fazer, nas frases abaixo, por outro, de significado mais específico. a) A árvore faz sombra no carro. b) Hoje meu irmão faz 15 anos. c) A prefeitura vai fazer as escolas prometidas. 1 2 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 27 d) O namorado fez a carta em pedacinhos. e) A camareira ainda não fez a cama. f) Não devemos fazer mal a ninguém. Agora leia o texto a seguir e responda às questões de múltipla escolha: Conheça o criador da frase “GENTILEZA GERA GENTILEZA” Se você for às ruas do Rio de Janeiro e perguntar por José Datrino, certamente, a imensa maioria dos cariocas não ligará o nome à pessoa. Mas experimente procurar pela história do Profeta Gentileza e, em troca, receberá dezenas de sorrisos e lembranças. Nascido em uma família de 11 irmãos no interior de Cafelândia, São Paulo, desde menino Datrino se destacava por seu comportamento atípico para a idade (13 anos): fazia questão de espalhar na escola e aos amigos que “tinha uma missão na Terra”. Ele só viraria Profeta Gentileza anos depois, na década de 1960, depois do incêndio do Gran Circus Norte-Americano de Niterói (dezembro de 1961), no qual morreram mais de 500 pessoas – a maioria, crianças. No Natal daquele ano, morando no Rio, Datrino disse ter ouvido “vozes astrais” e dirigiu-se ao terreno do circo para plantar um jardim sobre as cinzas. Ali morou por quatro anos e trabalhou como “consolador voluntário”, confortando com palavras de bondade as famílias das vítimas da tragédia. Recebeu dois apelidos: “José Agradecido” e “Profeta Gentileza”. O último prevaleceu. Na década seguinte, Gentileza passou a percorrer as ruas da capital fluminense para levar sua palavra de amor, bondade e respeito ao próximo. Era assim em ônibus, praças, pontes, praias, calçadões e até nas apinhadas barcas da travessia Rio-Niterói. Nem todos entediam a mensagem do Profeta. Os mais exaltados o chamavam de “maluco”. Para estes, a resposta estava sempre na ponta da língua: “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”. 3 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 28 Após uma rápida passagem por Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, Gentileza voltou ao Rio, nos anos de 1980, para dar início ao seu legado: em 56 pilastras do viaduto da Av. Brasil, entre o Cemitério do Caju e o Terminal Rodoviário do Rio de Janeiro, Gentileza preencheu muros com seus escritos sobre o mal-estar da civilização. Para uns, textos proféticos, para outros, poesia, as mensagens em tons de azul, verde e amarelo nunca passaram despercebidas. Foram cantadas por músicos como Gonzaguinha e Marisa Monte, citadas em filmes, novelas e trabalhos acadêmicos. Disponível em bit.ly/2jPISgF. O autor do texto Conheça o criador da frase “gentileza gera gentileza” a) conta a história de uma personagem fictícia. b) homenageia uma pessoa desconhecida. c) resume a biografia de uma celebridade. d) ironiza as atitudes de um cidadão comum. e) tece comentários sobre uma pessoa gentil. No primeiro parágrafo do texto, a conjunção mas, que indica oposição, foi empregada porque a) José Datrino não era famoso. b) a maioria das pessoas nunca ouviu falar do Profeta. c) o Profeta era uma pessoa engraçada. d) o Profeta não era conhecido pelo verdadeiro nome. e) o Profeta morreu há muito tempo. Em ”Mas experimente procurar pela história do Profeta Gentileza e, em troca, receberá dezenas de sorrisos e lembranças.”, a expressão em troca poderia ser substituída por a) como resposta. 3.3 3.2 3.1 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 29 b) a propósito. c) de preferência. d) em permuta. e) geralmente. Do segundo parágrafo do texto compreende-se que o comportamento do Profeta era atípico porque a) tinha uma família grande. b) nasceu no interior. c) era muito jovem. d) não tinha amigos. e) dizia ter uma missão. O terceiro parágrafo do texto indica que a razão pela qual o Profeta tornou- se famoso foi o fato de ter a) causado o incêndio de um grande circo. b) salvado vítimas de um grande incêndio. c) ouvido vozes que considerava “astrais”. d) plantado um jardim no local de um incêndio. e) evitado muitas mortes no incêndio de um circo. O autor do texto empregou linguagem coloquial em a) “Se você for às ruas do Rio de Janeiro e perguntar por José Datrino, certamente, a imensa maioria dos cariocas não ligará o nome à pessoa.” b) “Ele só viraria Profeta Gentileza anos depois, na década de 1960, depois do incêndio do Gran Circus Norte-Americano de Niterói (dezembro de 1961), no qual morreram mais de 500 pessoas – a maioria, crianças.” c) “Ali morou por quatro anos e trabalhou como ‘consolador voluntário’, confortando com palavras de bondade as famílias das vítimas da tragédia.” 3.6 3.5 3.4 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 30 d) “Na década seguinte, Gentileza passou a percorrer as ruas da capital fluminense para levar sua palavra de amor, bondade e respeito ao próximo.” e) “Para uns, textos proféticos, para outros, poesia, as mensagens em tons de azul, verde e amarelo nunca passaram despercebidas.” As aspas indicam a voz de alguém que não é o autor do texto (discurso direto) em a) ... fazia questão de espalhar na escola e aos amigos que “tinha uma missão na Terra. b) No Natal daquele ano, morando no Rio, Datrino disse ter ouvido “vozes astrais” e dirigiu-se aoterreno do circo para plantar um jardim sobre as cinzas. c) Recebeu dois apelidos: “José Agradecido” e “Profeta Gentileza”. d) Os mais exaltados o chamavam de “maluco”. e) Para estes, a resposta estava sempre na ponta da língua: “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”. Em “Após uma rápida passagem por Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, Gentileza voltou ao Rio, nos anos de 1980, para dar início ao seu legado”, o pronome seu tem como referente a) Conselheiro Lafaiete. b) Minas Gerais. c) Gentileza. d) Rio. e) anos de 1980. No trecho “em 56 pilastras do viaduto da Av. Brasil, entre o Cemitério do Caju e o Terminal Rodoviário do Rio de Janeiro, Gentileza preencheu muros com seus escritos sobre o mal-estar da civilização.”, o autor do texto quis dizer que o Profeta 3.7 3.8 3.9 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 31 a) trabalhou na construção das pilastras de um viaduto. b) escreveu suas mensagens em pilastras e muros. c) limpou muitos muros que haviam sido pichados. d) registrou seu mal-estar em pilastras e muros. e) criticou a civilidade em pilastras e muros cariocas. O texto Conheça o criador da frase “gentileza gera gentileza” apresenta a) uma imagem positiva da personagem de quem trata. b) uma crítica às pessoas que não levavam Gentileza a sério. c) apenas o relato de passagens pitorescas da vida do Profeta. d) o respeito da administração do Rio de Janeiro por Gentileza. e) a denúncia da falta de civilidade por parte dos cariocas. 3.10 Vale a pena saber! Quem produz textos enfrenta algumas dificuldades referentes à ortografia, à acentuação, à pontuação, à crase, à regência, à concordância, ao emprego de certas palavras etc. Alguns dos problemas mais comuns podem, no entanto, ser evitados com um pouco de cuidado e atenção. Vamos discutir algumas especificidades da língua que, a partir de agora, serão tratadas em cada atividade com o objetivo de abordar a língua portuguesa com toda a sua riqueza e originalidade, desvendando alguns recursos que geram insegurança ou dúvida ao serem usados. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 32 A posição dos termos na frase pode gerar duplo sentido A inversão sintática é um recurso estilístico muito usado no idioma. Criador de ênfase, o procedimento é um poderoso aliado dos poetas que se propõem a criar versos rimados com métrica preestabelecida. Mas nem sempre alterar a posição de uma palavra na frase traz bons resultados. É relativamente corriqueiro que uma sentença acabe apresentando dupla interpretação. Isso decorre de descuido do autor do texto ou, mais frequentemente, da pressa, situação comum atualmente. Um exemplo retirado de uma revista recentemente publicada diz: “... ele prefere esconder que está enfrentando um problema até o fim”. A intenção do redator era dizer que a pessoa preferia esconder até o fim, até o último momento, que estava enfrentando um problema. Do modo como a frase foi escrita, a expressão “até o fim” parece estar ligada ao verbo “enfrentar” (enfrentando até o fim o problema). Nesse caso, com base no contexto, o leitor pode chegar à correta interpretação do enunciado, mas nem sempre é possível depreender o sentido a partir do contexto. Cabe, porém, ao texto escrito possibilitar a leitura fluente, sem embaraços. Às vezes, dessas leituras duplas advém acidentalmente um efeito cômico. É o que se vê no texto, também de jornal, que diz: “É preciso deixar essa história para boi dormir de lado”. É certo que não se trata de uma história que faça o boi dormir nesta ou naquela posição. Melhor seria, então, “deixar de lado essa história para boi dormir”. Com um pouco de atenção, é possível evitar as desagradáveis ambiguidades. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 33 Questões - bloco 2 No trecho que segue há uma passagem estruturalmente ambígua. Identifique essa passagem, transcreva-a, aponte as duas interpretações possíveis e explique o que a torna ambígua do ponto de vista estrutural. E se os russos atacassem agora? Perguntou certa ocasião [...] Judith Exner, uma das incontáveis amantes de Kennedy, que, simultaneamente, mantinha um caso com o chefão mafioso Sam Giancana. A leitura literal do texto abaixo produz um efeito de humor. As videolocadoras de São Carlos estão escondendo seus filmes de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam filmes pornográficos a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais. a) Transcreva a passagem que produz efeito de humor. Qual a situação engraçada que essa passagem permite imaginar? b) Reescreva o trecho de forma a impedir tal interpretação. Desfaça a ambiguidade do texto: As Forças Armadas brasileiras já estão treinando 3.000 soldados para atuar no Haiti depois da retirada das tropas americanas. A ONU solicitou o envio de tropas ao Brasil e a mais quatro países, disse ontem o presidente da Guatemala. 1 2 3 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 34 Resumo da Atividade 2 Nesta atividade, refletimos sobre as palavras como ingredientes significativos nas mensagens linguísticas e sobre seu poder para nomear, caracterizar, incluir ou excluir etc. O importante, no trato com as palavras, é “saboreá-las”, conhecê-las e usá-las, obedecendo a critérios de adequação ao referente, ao ponto de vista, aos interlocutores, à situação de comunicação, ao código e ao contexto. Vimos, também, que é importante termos cuidado com a posição das palavras nas frases para evitar ambiguidades. Sobre a Atividade 3 Na próxima atividade, discutiremos alguns aspectos referentes ao processo de leitura, suas diferentes acepções e a importância das práticas leitoras significativas. Também faremos algumas considerações sobre o emprego de palavras estrangeiras em nossa língua. MÓDULO I PORTUGUÊS Objetivos Refletir sobre as diferentes acepções de leitura; Compreender a leitura como um processo de produção de sentidos, que envolve o leitor e o texto; Reconhecer que a leitura proveitosa enriquece a experiência humana. Linguagem, língua e texto Atividade 3 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 36 Muitas são as crenças que povoam o imaginário coletivo sobre leitura. Dentre elas, duas, em especial, merecem destaque. A primeira refere-se à existência de um leitor formado, desconsiderando a leitura como um processo de produção de sentidos que envolve um “tornar-se leitor” e um “tornar-se texto”. Barthes, em seu livro intitulado O prazer do texto, expressa esse processo quando compara o leitor a uma aranha que, ao mesmo tempo em que tece, segrega a substância com a qual vai tecendo sua teia. Assim também o leitor, à medida que lê e, portanto, que projeta sobre o texto seu conhecimento de mundo, seu conhecimento textual e linguístico, vai tecendo com o outro, por meio do texto, sua individualidade. A segunda crença diz respeito ao fato de que precisamos desenvolver o “hábito de leitura”. Os que se contrapõem a essa crença ressaltam que hábito envolve repetição frequente de um ato, logo ninguém lê hoje porque leu ontem, assim como ninguém ama hoje porque amou ontem. O amor e a leitura, porque têm em comum o prazer, requerem um exercício diário de conquista, de envolvimento, de diálogo com o outro, por isso a importância das práticas leitoras significativas. Pela leitura reconhecemo-nos parte da humanidade, e não seres isolados, somos capazes de tecer a própria individualidade a partir do outro e com o outro. Muitas pessoas costumam também relacionar a capacidade de escrever bem às leituras realizadas; na verdade, nada comprova essa maneira de ver. Ler com frequência não leva necessariamente a escrever bem. Ler muito – e de forma proveitosa – com certeza enriquece indiretamente a experiência humana e amplia a capacidadevocabular, mas, para daí chegarmos a escrever bem, é indispensável que reaprendamos a ler e a interpretar o que lemos, procurando detectar nos textos as estratégias produtoras dos efeitos que sentimos ao lê-los. Devemos ultrapassar a barreira do significado para atingirmos a produção da significação. Aprendendo as estratégias textuais, poderemos certamente aplicá-las aos novos textos de forma quase inconsciente, o que nos leva a escrever bem: escrever sempre, sem medo, entregando nosso modo de ver o mundo aos demais. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 37 É muito comum encontrarmos pessoas que dizem ter muita dificuldade na leitura e interpretação de textos. Esses problemas se apresentam porque as pessoas não foram orientadas a compreenderem o texto com todas as suas facetas. Observe os quadrinhos abaixo e reflita Por que ler histórias em quadrinhos é, em geral, mais “fácil” do que ler um texto sem imagens? Agora, vamos nos transportar para o mundo das intenções do texto a seguir, de modo a extrair dele o sentido pretendido. Mãos à obra! Leia o texto na página seguinte para responder às questões de 01 a 11. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 38 Texto 6 A MELHOR ARMA DA POLÍCIA É A CABEÇA Sem informação e inteligência, nada vai adiantar A última do tráfico no Rio de Janeiro: usar idosos para vender drogas, levando as encomendas das favelas para o asfalto. A novidade, descoberta pela repórter Vera Araújo, tem muitas vantagens sobre a estratégia anterior, de uso da mão-de-obra juvenil. Os coroas cobram mais barato pelo serviço, passam despercebidos pela polícia e, quando são presos, se beneficiam da redução de pena, um direito que têm os com mais de 65 anos. Os traficantes não param de inventar. Além disso, estão investindo em marketing e implantando estruturas empresariais em seus negócios. Porque são delinquentes com pouca instrução e nenhum escrúpulo, a tendência é achar que nossos bandidos também não têm inteligência, como se só houvesse inteligência para o bem. Aí reside o engano. É duro dizer, mas eles têm de sobra o que em geral falta à polícia, com as exceções de praxe. Se estão ganhando a guerra é porque exercem seu métier com sagacidade e competência. A britânica Scotland Yard talvez tenha sido a primeira a descobrir o que hoje parece ser descoberta americana – que só existem duas armas eficazes contra o crime: inteligência e informação. O resto – armamento, tecnologia, equipamentos – é complementar. Sem o binômio, nem o dinheiro adianta. O melhor dos piores exemplos ainda é São Paulo: está como está não por falta de recursos financeiros. A Folha de S. Paulo calculou que a verba destinada à segurança saltou de R$ 2,04 bilhões em 1995 para R$ 4,20 bilhões em 2001, um aumento de 106% que só não foi maior que a explosão de sequestros, que cresceram mais de 300% no período. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 39 Não se sabe até quando vai durar essa repentina disposição das autoridades em combater a violência, se até o Carnaval, até o esclarecimento dos crimes recentes ou até as próximas eleições. É sempre assim: há a comoção imediata, a indignação e em seguida a inação. Lembram-se daquele Plano Nacional de Segurança Pública, lançado há menos de dois anos, logo depois do sequestro do ônibus 174 no Rio? E os 118 projetos que estão parados no Congresso? Tomara que agora seja diferente, que, antes de o carnaval chegar, alguma coisa seja feita no sentido de instituir uma verdadeira política de segurança pública – não medidas emergenciais e ações descontínuas e desarticuladas. Tudo bem que se pense em jogar mais policiais nas ruas, construir mais presídios de segurança máxima, reequipar as polícias, unificá-las, comprar novos carros e armas. São medidas úteis, mas que dependem de como serão aplicadas. Sempre é bom recordar que o programa mais eficaz contra sequestros foi adotado no Rio, graças a uma parceria empresários- governo que resultou na criação do Disque-Denúncia, entre outras providências como a moralização da polícia. Perguntem aos idealizadores do projeto quais foram os fatores do sucesso e eles responderão: as informações fornecidas pela sociedade e a inteligência policial nas ações de prevenção e repressão. Zuenir Ventura (Revista Época, 04/04/2002) Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 40 Segundo o texto, a ação mais eficaz da polícia contra o crime deve ser a) o investimento em armamento. b) a ampliação de verba destinada à segurança. c) o uso da inteligência e da informação. d) o aumento do salário dos policiais. e) a criação de medidas emergenciais. Segundo o autor, os traficantes do Rio de Janeiro estão usando os idosos para vender drogas por várias razões, entre elas porque a) a sociedade normalmente não denuncia os idosos. b) os idosos não têm instrução. c) os idosos têm competência para o serviço. d) os idosos não são violentos. e) é uma mão-de-obra mais barata. Zuenir Ventura, em seu texto, apresenta a descoberta da repórter Vera Araújo como argumento para a tese de que a) os idosos também estão consumindo drogas. b) só há inteligência para o bem. c) a mão-de-obra juvenil é mais barata. d) traficantes estão sendo mais inteligentes que a polícia. e) está difícil vender drogas no Rio de Janeiro. No trecho “A última do tráfico no Rio de Janeiro: usar idosos para vender drogas, levando as encomendas das favelas para o asfalto”, as palavras destacadas significam, respectivamente, a) drogas e cidade. b) drogas e fábrica de asfalto. c) armas e delegacia. d) dinheiro e cidade. e) armas e Carnaval. 1 2 3 4 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 41 A partir do trecho “A Folha de S. Paulo calculou que a verba destinada à segurança saltou de R$ 2,04 bilhões em 1995 para R$ 4,20 bilhões em 2001, um aumento de 106% que só não foi maior que a explosão de sequestros, que cresceram mais de 300% no período.” podemos depreender que, entre 1995 e 2001, na cidade de São Paulo a) o aumento de investimento financeiro não significou mais segurança. b) os sequestros diminuíram com o aumento da verba destinada à segurança. c) as verbas destinadas à segurança foram suficientes para conter a onda de sequestros. d) não houve mais investimentos financeiros para segurança. e) não houve explosão de sequestros nesse período. A palavra destacada no trecho “Sem o binômio, nem o dinheiro adianta” está retomando a) “armamento”. b) “tecnologia” e “equipamentos”. c) “armas” e “crimes”. d) “descoberta”. e) “inteligência” e “informação”. No trecho “O melhor dos piores exemplos ainda é São Paulo: está como está não por falta de recursos financeiros”, o autor utilizou os dois pontos para a) fazer uma enumeração. b) explicar sua afirmação. c) introduzir uma citação. d) introduzir uma frase exclamativa. e) descrever uma cena. 6 5 7 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 42 A expressão destacada no trecho “É duro dizer, mas eles têm de sobra o que em geral falta à polícia, com as exceções de praxe” significa que a) todos os bandidos são iguais. b) todos os policiais são iguais. c) não existem exceções. d) toda regra tem exceção. e) só há exceção entre os bandidos. A frase em que o autor do texto se dirige ao leitor é a) “Aí reside o engano”. b) “Sem o binômio, nem o dinheiro adianta”. c) “Os coroas cobram mais caro pelo serviço ...”. d) “Além disso, estão investindo em marketing e implantando estruturas empresariais em seus negócios”. e) “Lembram-se daquele Plano Nacional de Segurança Pública, lançado há menos de dois anos, logo depois do sequestro do ônibus 174 no Rio?”. No trecho “... um direito que têm os com mais de 65 anos”, a palavra destacada refere-se a a) “traficantes”. b) “idosos”. c) “jovens”. d) “empresários”. e) “policiais”. No trecho “Sempre é bom recordar que o programa mais eficaz contra sequestros foi adotado no Rio, graças a uma parceria empresários-governoque resultou na criação do Disque-Denúncia...”, o pronome relativo que refere-se a a) “parceria”. b) “governo”. c) “empresários”. d) “programa”. e) “sequestros”. 10 9 8 11 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 43 Produção de texto No texto “A melhor arma da polícia é a cabeça”, Zuenir Ventura defende a tese de que usar a inteligência é a melhor arma para vencer a violência. Você já parou para pensar quantas situações cotidianas podem ser resolvidas usando apenas a inteligência? Escreva um texto, em prosa, narrando uma situação que foi resolvida com inteligência. O título de sua redação deve ser: “Agir com inteligência ainda é a melhor opção.” Vale a pena saber! A questão dos estrangeirismos A quem confessarei meu pecado por ter pensado em comer num self- service? Ou por ficar ansioso, durante uma palestra, pelo coffee-break? Ou por gostar de viajar de van? A luta contra os estrangeirismos é uma bandeira que, de tão velha, já está mais do que esfarrapada. Ora, a língua muda porque a sociedade muda... Querer uma língua pura é o mesmo que querer uma raça pura, e já sabemos a que tipo de tragédias ideias desse tipo podem nos levar. No texto A melhor arma da polícia é a cabeça, você deve ter notado o emprego das palavras marketing e métier, exemplos dos chamados estrangeirismos, isto é, as palavras e expressões de outras línguas, usadas corretamente em algumas áreas do nosso cotidiano. O uso desses estrangeirismos não descaracteriza a língua, ao contrário, as línguas se enriquecem pelo mútuo contato. Como as culturas são necessariamente híbridas, as línguas são, todas elas, caracterizadas também pela hibridização vocabular. O português brasileiro se enriqueceu com empréstimos do latim, do grego, do francês, do italiano, do alemão, do árabe, Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 44 etc. No caso do inglês – que parece ter se tornado o “inimigo” do momento –, incorporamos, nos últimos 100 anos, desde o vocabulário do futebol até a terminologia da informática e do setor financeiro. Há um cálculo que estima em quatro centenas as palavras de origem inglesa presentes no português. É interessante destacar que o vocabulário do português tem algo em torno de 500 mil palavras. Outra coisa importante é lembrar que a importação ininterrupta de palavras estrangeiras ao longo da história não altera as estruturas da língua, a sua gramática. Por isso, não são capazes de destruí-la, como juram os conservadores. É o mesmo que temer que alguns desenhos coloridos pintados na fachada de um prédio possam fazê-lo desmoronar. Os estrangeirismos contribuem apenas no nível mais superficial da língua, que é o léxico. Um exemplo: O office-boy flertava com a baby-sitter no hall do shopping-center. Embora os substantivos sejam todos de origem inglesa (e a raiz do verbo flertar também), a sintaxe e a morfologia são perfeitamente portuguesas, como se verifica pela desinência do verbo, pelas preposições e pelos artigos. A ordem das palavras no enunciado – primeiro o sujeito, depois o verbo, depois o objeto e por fim os adjuntos adverbiais – corresponde integralmente à ordem normal da sintaxe portuguesa. Em resumo: as línguas são abertas no seu vocabulário, que se enriquece continuamente, e bastante fechadas em sua organização gramatical (a organização gramatical da língua se modifica ao longo do tempo, mas antes por uma lógica interna da própria língua que por pressão de sistemas gramaticais estrangeiros). De forma simples, podemos dizer que quem faz a língua são seus falantes (nesse sentido, a história mostra que qualquer tentativa de legislação é sempre absolutamente inócua; é como se quiséssemos legislar sobre a direção dos ventos e o movimento dos oceanos). Então, a luta contra os estrangeirismos é uma bandeira que, de tão velha, já está mais do que esfarrapada. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 45 Tudo bem: mas o que fazer quando escrevemos? Este é um terreno simplesmente de bom senso. É claro que chamar “intervalo para o café” de coffee break é uma bobagem completa; não é apenas uma má escolha de vocabulário, mas sinal de uma atitude que atribui a palavras estrangeiras, em geral de origem inglesa, uma superioridade intrínseca. No caso da língua padrão escrita, algumas regras simples podem ser seguidas para você não passar por pedante (ou simplesmente por ignorante, como no caso de coffee break). Veja: 1. Em textos formais, jamais empregue uma palavra estrangeira se há em uso uma expressão equivalente em português. O bom leitor percebe quando você quer apenas “enfeitar” o texto. Escreva “intervalo para o café”, em vez de coffee break, “dar um tempo” em vez de “dar um time” etc. 2. Se não há solução senão usar uma palavra estrangeira, destaque-a graficamente (negrito, itálico ou aspas). Se a palavra não é muito conhecida, é interessante traduzi-la entre parênteses, em respeito ao leitor. Um exemplo da revista Superinteressante: “A produção de ‘O Quatrilho’ é boa, mas sua maior novidade não aparece na tela. O storyboard (esboço das cenas) foi feito em computador, em programas tridimensionais”. 3. Muitas palavras já se popularizaram em inglês mesmo: skate, site, mouse, videogame, rock, shopping. Nesse caso, não há necessidade de destacá-las. É possível que, com o tempo, elas acabem recebendo forma gráfica portuguesa, como xampu (de shampoo), máuser (do alemão mauser), etc. Em outros casos, a forma original resiste e se consolida: show e rock, por exemplo – mas ninguém precisa se preocupar, porque a língua não será destruída por isso. Neste caso, aliás, parece bem mais adequado manter a grafia estrangeira do que gerar Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 46 formas gráficas esdrúxulas (chou por show; por exemplo ou roque por rock, muito embora já tenhamos criado a palavra roqueiro). Às vezes, assumem- se atitudes de substituição que são interessantes. Um exemplo: o manual da Conectiva Linux, que distribui um sistema operacional para computadores alternativo ao célebre Windows, grafa sempre em português “sítio” no lugar do inglês site (pronuncia-se “saite”). Em Portugal, essa atitude parece ser geral: eles escrevem “rato” em vez de mouse, por exemplo. 4. No caso de textos técnicos destinados a especialistas, não há mesmo solução senão usar os termos estrangeiros que não disponham de tradução corrente, sem destaque gráfico (ou o texto ficaria poluído de tantas aspas, negritos, itálicos...). Isso acontece muito na área da informática. O exemplo do manual, que vimos acima, é um caso desses. Observe a expressão curiosa “clicar estrelas do rock”, em que o inglês click, já perfeitamente abrasileirado, convive com o resistente rock. Mais adiante, há um picture-show que poderia ser traduzido (“mostra de fotos”, por exemplo). Já strip-teasers é outro dos exemplos resistentes. O interessante no exemplo é que a intercalação de palavras inglesas não afeta, em absolutamente nada, a estrutura sofisticada das orações, o ritmo do texto e o seu coloquial brasileirismo. 5. Uma última dica: na transcrição de títulos de filmes, livros, discos etc., prefira sempre a tradução corrente em português; se necessário, acrescente entre aspas o título original. Exemplo: “No filme O poderoso chefão (“The Godfather”), o diretor...” Veja o que dizem outros estudiosos da área sobre o uso dos estrangeirismos: Jonh Robert Schmitz A presença de vocábulos estrangeiros contribui para enriquecer qualquer idioma. Os idiomas são palco de mestiçagem e de interculturalidade e não devem ser vistos como baluartes de nacionalidade. É praticamente impossível regulamentar a língua humana. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 47 Pedro M. Garcez e Ana Maria S. Zilles Seriam imprescindíveis os estrangeirismos? Não. Desejados? Sim. Fazem mal? Tanto quanto as ondas que vieram antes, como a dos galicismos. Reprimi-los, por quê? Resumo da Atividade 3 A leitura é um processo de produçãode sentido e não é uma questão de hábito, mas um exercício diário de conquista, de envolvimento, de diálogo com o outro, por isso a importância das práticas leitoras significativas. Para que a leitura seja proveitosa, não basta ler muito, é preciso compreender o que está sendo lido, procurando detectar nos textos as estratégias produtoras dos efeitos que sentimos ao lê-los. O emprego de palavras estrangeiras não é uma ameaça a nossa língua e não nos tira nossa identidade. Elas devem ser empregadas apenas em situações particulares e é preciso ter alguns cuidados com seu uso na língua escrita. Sobre a Atividade 4 Na Atividade 4, conversaremos um pouco sobre a qualidade dos textos que produzimos, considerando a clareza das ideias como ingrediente essencial para a receita de um bom texto. MÓDULO I PORTUGUÊS Objetivos Reconhecer a importância de se cultivar algumas qualidades na produção de um texto e apontar os defeitos mais comuns que interferem na clareza das ideias. Reconhecer a língua como um conjunto de variedades. Linguagem, língua e texto Atividade 4 Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 49 Gramática e Compreensão Em nossa primeira conversa (na Atividade 1), nós tentamos, por meio da leitura de três textos, levá-lo(a) a uma reflexão sobre o que é necessário para se produzir boas redações, lembra-se? Pois bem, vamos conversar, agora, sobre as conclusões às quais você chegou. Em seu texto (O Gigolô das Palavras), Verissimo diz que não se preocupa com gramática ao escrever suas crônicas. Segundo o autor, a gramática deve ser usada como um recurso, para ajudar, e não para atrapalhar, fazendo-nos ficar tão preocupados com a correção que não conseguimos ser criativos. Para isso, é preciso desmistificar a gramática, ou seja, fazer com que ela deixe de ser vista como a carta magna do português, à qual devemos submissão e respeito absoluto, sob pena de sermos punidos ao desobedecermos a qualquer uma de suas leis. É importante observar, no entanto, que muitas dessas leis são lógicas e, na medida em que nos afastamos delas, comprometemos a qualidade da interação com o nosso interlocutor. Trata-se de regras que realmente precisam ser obedecidas para não causar problemas na compreensão do que escrevemos. Por exemplo, quando dizemos Os trabalhadores e o patrão decidiram, na primeira reunião, que a fábrica seria objeto de auditoria para que fossem apuradas suas denúncias de irregularidades, não deixamos claro quem fez as denúncias — se os trabalhadores ou o patrão. Isso, você há de concordar, torna mais difícil compreender o que se quis dizer. Mais lógico seria escrever, por exemplo, Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 50 Os trabalhadores e o patrão decidiram, na primeira reunião, que a fábrica seria objeto de auditoria para que fossem apuradas as denúncias de irregularidades feitas pelos primeiros, ou Os trabalhadores e o patrão decidiram, na primeira reunião, que a fábrica seria objeto de auditoria para que fossem apuradas as denúncias de irregularidades feitas por este. Observe que há maneiras diferentes de se resolver um problema que decorre da falta de cuidado com a clareza das ideias que se quer expressar no texto. Há um outro tipo de regra que pode, com bom senso, ser desobedecida sem causar problemas para a compreensão do que escrevemos. Se deixamos um bilhete para alguém de casa dizendo: Fui no cinema. Não demoro, estamos desobedecendo a uma regra da gramática (que diz que vamos a lugares e não em lugares), mas na situação em que fizemos isso, dotada de informalidade, pois é um bilhete para alguém da família, o uso da contração da preposição em com o artigo o (que resulta em no) não compromete a compreensão do leitor, que, com certeza, vai entender que o cinema é o nosso destino. Portanto, devemos ter cuidado em sermos claros e não em escrevermos apenas com correção. Aliás, no primeiro exemplo não encontramos desvios formais, porém não se trata de um texto claro, já que dá margem à ambiguidade. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 51 Verissimo, aqui e ali, em suas crônicas, desobedece a regras gramaticais (ele chega a comentar um exemplo disso no texto, você se lembra?), mas costuma escrever com clareza, fazendo com que não tenhamos dificuldades em entender suas ideias. Já o texto de Sabino, que também lemos na Atividade 1, nos leva a refletir sobre outra coisa importante para nós: escrever bem não tem nada a ver com “escrever difícil”. Quanto mais rebuscada é a linguagem empregada em um texto, mais difícil é compreendê-lo. Muita gente acha que se sairá melhor em uma prova de concurso (como, por exemplo, o ENEM), empregando palavras que não são usadas no cotidiano, na linguagem coloquial. Esse é um raciocínio perigoso, pois o leitor desse texto pode encontrar dificuldade em compreendê-lo, justamente por causa do vocabulário escolhido ou da organização das palavras para formar frases, orações. O próprio texto de Fernando Sabino nos traz exemplos disso. O texto de Rubem Braga, por sua vez, nos leva a pensar que o autor da carta é muito hábil, pois, justamente por escrever bem (não só correta como claramente), consegue ir além do mero pedido de desculpas, fazendo uma crítica ao modo de vida do vizinho e, ainda mais, afirmando, implicitamente, que é mais feliz do que seu interlocutor, apesar de admitir que o incomoda. Rubem Alves também chama atenção para a necessidade de sermos claros ao dizer o que realmente queremos dizer. Veja o que ele diz a respeito no trecho do texto “Interpretar e compreender”: “‘O que é que o autor queria dizer?’ Note: o autor queria dizer algo. Queria dizer, mas não disse. Por que será que ele não disse o que queria dizer? Só existe uma resposta: ‘Por incompetência linguística’. Ele queria dizer algo, mas o que saiu foi apenas um gaguejo, uma coisa que ele não queria dizer...” (...) “É preciso compreender que o escritor nunca quer dizer alguma coisa. Ele simplesmente diz. O que está escrito é o que ele queria dizer. Se me perguntam ‘O que é que você queria dizer?’, eu respondo: ‘Eu Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 52 queria dizer o que disse. Se eu quisesse dizer outra coisa, eu teria dito outra coisa, e não aquilo que eu disse’”. Pode-se dizer, portanto, que escrever bem é ser claro — escolhendo não palavras difíceis e fórmulas complexas — e usar recursos linguísticos que nos ajudem a conseguir atingir os efeitos pretendidos. Questões - bloco 1 Um texto mal redigido é, muitas vezes, aquele que não consegue definir corretamente as situações que pretende descrever. Veja, por exemplo, estas infrações, previstas no novo código nacional de trânsito: “Dirigir com fones de ouvido conectados a aparelho de som ou telefone celular” (por esta redação, seria possível multar alguém que responde a uma chamada do telefone celular enquanto guia?). “Ultrapassar veículo em movimento que integre cortejo ou desfile, sem autorização” (quem ultrapassa um dos veículos autorizados a integrar o desfile comete uma infração?) 1 Clareza, objetividade e precisão não são apenas qualidades de um bom texto; são, sobretudo, necessidades da vida cotidiana, qualquer que seja o nível de linguagem empregado. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 53 Agora, elabore uma definição menos desastrada das duas infrações que o novo código pretende coibir. As necessidades da vida cotidiana exigem que saibamos construir textos claros e precisos para que possamos ser eficientes. Veja, por exemplo, a falta de clareza e os problemas de pontuação no comunicado abaixo, enviado aos moradores de um edifício: 2 COMUNICADO A comissão de administração deste condomínio, vem através desta: comunicar aos Srs. Condôminos, que mudamos de empresa de manutenção dos elevadores deste condomínio, passamos para a empresa Atlas, que é a fabricante dos nossos elevadores, estamos enviando cópia do orçamento de consertodo elevador social, juntamente com o valor do contrato de manutenção mensal. Informamos ainda que o valor da taxa extra, arrecadada este mês, vai ser repassado para a empresa contratada, e mensalmente durante 10 meses teremos uma taxa extra de aproximadamente R$ 25,00 (vinte e cinco reais), o que vai depender do arrecadado neste mês, e somente após este prazo é que iremos consertar o elevador de serviço. Informamos também que a empresa está fazendo o possível para resolver o problema, é por falta de algumas peças do elevador que não tem em Belém, e estamos aguardando a chegada das mesmas. Pedimos a compreensão de todos. Agradece a Comissão Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 54 Reflita: O que você achou desse comunicado? Veja se as respostas para as questões abaixo estão esclarecidas no texto: a) Para quem estão sendo enviados a cópia do orçamento e o valor do contrato? b) Quantas taxas extras possui este condomínio? c) O que vai depender do arrecadamento neste mês? d) Qual é o prazo para o conserto do elevador? e) Que empresa está fazendo o possível para resolver o problema? Imagine que você é um dos condôminos desse edifício. Redija uma resposta à comissão de administração, reclamando da falta de clareza desse comunicado e solicitando mais cuidado na elaboração das correspondências do condomínio. As Qualidades de um Texto Não existem fórmulas mágicas para construir um bom texto. O exercício contínuo, aliado à prática da leitura de bons autores, e a reflexão são indispensáveis para a criação de textos. Nosso objetivo aqui não é transformá-lo(a) em escritor consagrado, mas apontar algumas qualidades que você deve observar na produção de seu texto. CLAREZA A clareza consiste na expressão da ideia de forma que possa ser rapidamente compreendida pelo leitor. Ser claro é ser coerente, não se contradizer, não confundir o leitor. Para que a comunicação se faça clara, é preciso que o pensamento de quem comunica também seja claro. Portanto, de uma cabeça confusa, com ideias emaranhadas, será praticamente impossível brotar uma mensagem clara. Outros fatores que poderão concorrer para uma comunicação imperfeita são pontuação incorreta, má disposição das palavras na frase, omissão de alguns Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 55 termos (principalmente pronomes), imprecisão vocabular, excesso de intercalações, ambiguidade causada pelos pronomes possessivos, relativos etc. Exemplos de mensagens defeituosas: a) Eu, parece-me que o rapaz que eu fui ao escritório dele na semana passada, é fã ardoroso do Flamengo. (pensamento confuso, ideias desordenadas) b) Perdoas? Não discordo. Perdoas? Não! Discordo. (mudança de sentido, pela mudança de pontuação) c) Vendem-se cobertores para casal de lã. (má disposição das palavras na frase) d) O velhinho tomou aquele remédio dentro do vidrinho. (má disposição das palavras na frase) e) Precisa-se de babá para cuidar de criança de 17 a 25 anos. (má disposição das palavras na frase) f) Estamos liquidando pijamas para homens brancos. (má disposição de palavras na frase) g) A ordem do ministro que veio de Brasília... (ambiguidade provocada pelo emprego do pronome relativo que) h) Subindo a serra, avistei vários animais. (ambiguidade provocada pelo gerúndio: quem subia?) i) Eu noivaria com você, Verinha, se tivesse um pouco de dinheiro. (ambiguidade ocasionada por omissão de termos: “eu” ou “você”?) j) Ele pensava no antigo amor e julgava que a sua agressividade teria contribuído para o término do romance. (ambiguidade ocasionada pelo emprego de um pronome – sua – que é válido tanto para fazer referência a “ele” como a “ela”). CORREÇÃO Todo idioma tem um conjunto de regras que devem, na medida do possível, ser respeitadas. Conhecer as normas que regem o uso da língua é fundamental para a produção de um texto correto. Evidentemente, a maioria das pessoas não Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 56 conhece de cor todas as regras gramaticais. Por isso, em caso de dúvidas, não hesite em consultar um bom livro de gramática. Para que a correção se imponha é preciso evitar seus grandes inimigos, os vícios de linguagem: a) Vícios prosódicos: cacofonia – união das sílabas finais de uma palavra com as sílabas iniciais de outra, originando uma terceira, de sentido ridículo ou obsceno. Ex: Pedro tem fé demais; na boca dela; na vez passada; por cada vez. hiato – encontro de duas vogais no fim de uma palavra e no princípio de outra. Ex: ela ama a mãe; Ivani irá à Roma. colisão – repetição de consonâncias iguais ou semelhantes. Ex: a fada malfadada; o Papa Paulo; Clemente mente frequentemente. ambiguidade – duplicidade de sentido em uma construção sintática. Ex: O bom governante o povo ama. Quem ama quem, afinal? Às vezes, a ambiguidade resulta da colocação imprópria de uma simples vírgula. Ex: Um fazendeiro tinha um bezerro, e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro. (!) Vejamos, agora: Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe, do fazendeiro era também o pai do bezerro. Ex: Disseram os cristãos, referindo-se à ressurreição de Jesus: “Ressuscitou, não está aqui”. Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 57 Os ateus, porém, retrucaram: “Ressuscitou não, está aqui”. pleonasmo – redundância, repetição desnecessária de ideias. Ex: Eu o vi com estes olhos. b) Vícios léxico-sintáticos: solecismo – desvio de sintaxe de concordância, de regência ou de colocação. Exemplos de concordância: haviam pessoas; fazem 10 anos; tu pensastes; - de regência: vi ele; para mim fazer; eu lhe vi; entre eu e tu; - de colocação: “me dá o livro”; “poderemos te ajudar”; “este é um trabalho que fez-se”. provincianismo – vícios decorrentes de sentidos diversos que um mesmo vocábulo possui em diferentes regiões do país. Ex: Rapariga na região sul é, simplesmente, mulher jovem, mas ao norte é mulher de vida dissoluta. preciosismo – vício que consiste em tornar obscuro qualquer texto, peculiar a certos bacharéis que pensam, com o emprego de palavras difíceis, ainda ser possível cativar juizes e clientes e colocam os termos na ordem inversa, criam períodos muito longos, retratando bem esta anomalia. Trata-se, portanto, da verborragia dos pretensiosos, que confundem redigir bem e claramente com escrever difícil. Consta do anedotário forense o pedido que certo bacharel formulou a um delegado de polícia, pedindo providências quanto a um furto de algumas galinhas Módulo I Português: Linguagem, língua e texto 58 pertencentes ao seu cliente. Eis um trecho da petição: “Altas horas da noite, amigos do alheio invadiram o sacrossanto recesso do lar de _________, para de lá, à sorrelfa, subtraírem algumas aves que o vulgo cognomina penosas. Não é pelo valor pecuniário dos bens semoventes que se arrazoa, mas porque a ilustre consorte do peticionário pretendia imolá-las em efeméride grata e natalícia”(!) Ex: Isso é uma prova conclusiva de que o criminoso aqui esteve; O Procurador nos autos exarou um parecer concludente; Os prédios foram destruídos pelo vôo 581 da Aerobel. CONCISÃO Ser conciso significa que não devemos abusar das palavras para exprimir uma ideia. Deve-se ir direto ao assunto, não ficar “enrolando”, “enchendo linguiça”. Significa, enfim, eliminar tudo aquilo que é desnecessário. Para se obter a concisão, sintetizada na brevidade e na clareza, devemos: a) evitar episódios ou opiniões supérfluas, irrelevantes para o objetivo do texto; b) evitar expressões inúteis, em especial adjetivos, pois a adjetivação abusada obscurece o texto e enfraquece o estilo; c) evitar perífrases (emprego desnecessário de muitas palavras na expressão de uma ideia) ou circunlóquios: o astro rei fazia incidir seus dourados raios sobre a superfície terrestre, em vez de “o sol brilhava” ou, pior, os canoros músicos da mata faziam seus gorjeios, em vez de “os pássaros cantavam”; d) evitar redundâncias (repetições desnecessárias de episódios
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