Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Superior Tribunal de Justiça AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 656.830 - RS (2015/0016028-0) RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI AGRAVANTE : VRG LINHAS AEREAS S.A. ADVOGADOS : EDUARDO MACHADO DE ASSIS BERNI KARINA GROSS MACHADO AGRAVADO : ALEXANDRE AUGUSTO SELK AGRAVADO : RENATA PAIVA SELK AGRAVADO : NATHALIA PAIVA SELK ADVOGADO : CRISTINA REINDOLFF DA MOTTA INTERES. : GOL LINHAS AÉREAS INTELIGENTES S/A DECISÃO Trata-se de agravo (art. 544 do CPC) interposto por VRG LINHAS AEREAS SA, em face de decisão denegatória de seguimento ao recurso especial. O apelo extremo, fundamentado no artigo 105, inciso III, alínea "a", da Constituição Federal, desafia acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado (fls. 258, e-STJ): APELAÇÃO CÍVEL. TRANSPORTE. ATRASO EM VOO DOMÉSTICO. PERDA DE CONEXÃO, COM REACOMODAÇÃO EM OUTRO VOO E PERNOITE NO RIO DE JANEIRO. 1. Restou incontroversa a má prestação do serviço de transporte aéreo pela requerida, em face do atraso injustificado de voo Porto Alegre-Rio de Janeiro, com conseqüente perda da conexão Rio de Janeiro-Dallas, que levou à reacomodação dos autores em outro voo, com necessidade de pernoite na capital fluminense. Eventual necessidade de realização de manutenção na aeronave não exonera a transportadora do ressarcimento dos prejuízos sofridos por seus passageiros. 2. A reparação de danos morais deve proporcionar a justa satisfação à vítima e, em contrapartida, impor ao infrator impacto financeiro, a fim de dissuadi-lo da prática de novo ilícito, porém de modo que não signifique enriquecimento sem causa do ofendido. No caso sob comento, vai confirmada a verba indenizatória fixada na sentença (R$ 3.000,00 para cada requerente), com correção monetária pelo IGPM a partir da intimação da sentença e juros moratórios de 12% a contar da citação. 3. Quanto aos danos materiais, tem os demandantes direito ao ressarcimento do valor referente à diária paga, e não utilizada, no estabelecimento Las Vegas Bellagio Hotel Resort e, também, à diária relativa à locação de carro junto à empresa Dollar Rent a Car. Tais valores deverão, ainda, ser atualizados na forma definida em sentença, porque ausente impugnação específica quanto aos critérios utilizados. APELAÇÃO DESPROVIDA. UNÂNIME. Opostos embargos de declaração (fls. 269/274, e-STJ), estes foram desacolhidos. Em suas razões de recurso especial (fls. 287/297, e-STJ), a recorrente Documento: 45296165 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 1 de 5 Superior Tribunal de Justiça aponta violação aos arts. 4º e 5º da LICC; 403, 884, 886, 944 e 946 do Código Civil e 333, I e 535 do Código de Processo Civil, sustentando, em síntese: i) ter havido negativa de prestação jurisdicional por parte do Tribunal de origem ao se omitir sobre os dispositivos legais tidos por violados, até mesmo para fins de prequestionamento; ii) inexistência de prova a ensejar a reparação civil; iii) não cometeu qualquer ato ilícito que ensejasse o direito dos recorridos à indenização pretendida; iv) a condenação em danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), para cada um dos autores monstra-se desproporcional, razão pela qual pugna por sua redução. Sem contrarrazões (fl. 303, e-STJ). O Tribunal de origem inadmitiu o recurso (fls. 305/312, e-STJ), sob os seguintes fundamentos: i) ausência de negativa de prestação jurisdicional; ii) incidência da Súmula 7 do STJ. Daí o presente agravo (fls. 316/323, e-STJ), buscando destrancar o processamento daquela insurgência, no qual o insurgente refuta os óbices aplicados pela Corte estadual. Sem contraminuta (fls. 326, e-STJ). É o relatório. Decido. A irresignação não merece prosperar. 1. Quanto à apontada violação do artigo 535 do CPC, não assiste razão a recorrente, porquanto clara e suficiente a fundamentação adotada pelo Tribunal de origem para o deslinde da controvérsia, revelando-se desnecessário ao magistrado rebater cada um dos argumentos declinados pela parte (Precedentes: AgRg no Ag 1.402.701/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 01.09.2011, DJe 06.09.2011; REsp 1.264.044/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 01.09.2011, DJe 08.09.2011; AgRg nos EDcl no Ag 1.304.733/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 23.08.2011, DJe 31.08.2011; AgRg no REsp 1.245.079/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 16.08.2011, DJe 19.08.2011; e AgRg no Ag 1.407.760/RJ, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 09.08.2011, DJe 22.08.2011). Ademais, não se acolhe a alegada negativa de prestação jurisdicional face a ausência de explicitação, pelo Tribunal a quo, dos artigos de lei sobre os quais assentados os fundamentos de decidir, uma vez que basta a análise das teses jurídicas para fins de prequestionamento. 2. O Tribunal local decidiu, com base na análise dos elementos de convicção acostados aos autos, pela presença dos requisitos ensejadores da reparação civil pleiteada nos autos, consoante se observa no seguinte trecho extraído do acórdão hostilizado (fls. 262, e-STJ): Dito isso, com relação aos danos morais, verifica-se que os requerentes, em razão do atraso no voo Porto Alegre - Rio de Janeiro, com partida originalmente prevista para 28/12/2011, às 18h27min (fl. 23), perderam a sua conexão em voo da American Airlines, com destino a Dallas, nos Estados Unidos, com saída às 23h05min do dia 28/12/2011 (fl. 17), de onde então viajariam a Las Vegas. Da mesma forma, restou incontroverso que, em virtude do ocorrido, pernoitaram os requerentes na Cidade do Rio de Janeiro e foram realocados em voo operado pela companhia aérea TAM, com partida do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, às 21h58min do dia 29/12/2011 (fl. 25), rumando para Miami e, Documento: 45296165 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 2 de 5 Superior Tribunal de Justiça de lá, a Las Vegas. Destarte, em sendo presumível o abalo sofrido pelos requerentes, que viram os seus planos de viagem prejudicados em razão da conduta da demandante, tem-se por devida a reparação por danos morais pleiteada. Nesse sentido, aliás, assim já decidiu esta Corte: Sendo assim, para acolhimento do apelo extremo, seria imprescindível derruir a afirmação contida no decisum atacado, o que, forçosamente, ensejaria em rediscussão de matéria fática, incidindo, na espécie, o óbice da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça, sendo manifesto o descabimento do recurso especial. Não fosse isso, destaca-se que a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça orienta-se pela prescindibilidade de prova do dano moral em casos como este, reputando-o in re ipsa , senão vejamos: AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OVERBOOKING. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL PRESUMIDO. PRECEDENTES. DANOS MATERIAIS. OCORRÊNCIA. REEXAME MATÉRIA FÁTICA. INVIABILIDADE. SÚMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. VALOR. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. FIXAÇÃO COM BASE NO CRITÉRIO DA RAZOABILIDADE. 1.O dano moral decorrente de atraso de voo, prescinde de prova, sendo que a responsabilidade de seu causador opera-se, in re ipsa , por força do simples fato da sua violação em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro.(REsp 299.532/SP, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), DJe 23/11/2009) 2. A reapreciação por esta Corte das provas que lastrearam o acórdão hostilizado é vedada nesta sede especial, segundo o enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. 3. O valor da indenização por danos morais deve ser fixado com moderação, considerando a realidade de cada caso, sendo cabível a intervenção da Corte quandoexagerado ou ínfimo, fugindo de qualquer parâmetro razoável, o que não ocorre neste feito. 4.O agravo regimental não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a conclusão alvitrada, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 5.AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no Ag 1410645/BA, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe 07/11/2011) 3. Por outro lado, incide o enunciado da Súmula 7 do STJ relativamente ao exame da pretensão voltada à redução da condenação em danos morais fixados em R$ 3.000,00 (três mil reais) para cada um dos insurgentes. Não obstante o grau de subjetivismo que envolve o tema, uma vez que não existem critérios predeterminados para a quantificação do dano moral, esta Corte Superior tem reiteradamente se pronunciado no sentido de a indenização deve ser suficiente a restaurar o bem estar da vítima, desestimular o ofensor em repetir a falta, não podendo, ainda, constituir enriquecimento sem causa ao ofendido. Com a apreciação reiterada de casos semelhantes, concluiu-se que a intervenção desta Corte ficaria limitada aos casos em que o quantum fosse irrisório ou excessivo, diante do quadro fático delimitado em primeiro e segundo graus de Documento: 45296165 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 3 de 5 Superior Tribunal de Justiça jurisdição. Assim, se o arbitramento do valor da compensação por danos morais foi realizado com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico do recorrido e, ainda, ao porte econômico do recorrente, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, fazendo uso de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, o STJ tem por coerente a prestação jurisdicional fornecida (RESP 259.816/RJ, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 27/11/2000). Nesse sentido: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. COMPANHIA AÉREA. CONTRATO DE TRANSPORTE. OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS. ATRASO DE VOO. SUPERIOR A QUATRO HORAS. PASSAGEIRO DESAMPARADO. PERNOITE NO AEROPORTO. ABALO PSÍQUICO. CONFIGURAÇÃO. CAOS AÉREO. FORTUITO INTERNO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. 1. Cuida-se de ação por danos morais proposta por consumidor desamparado pela companhia aérea transportadora que, ao atrasar desarrazoadamente o voo, submeteu o passageiro a toda sorte de humilhações e angústias em aeroporto, no qual ficou sem assistência ou informação quanto às razões do atraso durante toda a noite. 2. O contrato de transporte consiste em obrigação de resultado, configurando o atraso manifesta prestação inadequada. 3. A postergação da viagem superior a quatro horas constitui falha no serviço de transporte aéreo contratado e gera o direito à devida assistência material e informacional ao consumidor lesado, independentemente da causa originária do atraso. 4. O dano moral decorrente de atraso de voo prescinde de prova e a responsabilidade de seu causador opera-se in re ipsa em virtude do desconforto, da aflição e dos transtornos suportados pelo passageiro. 5. Em virtude das especificidades fáticas da demanda, afigura-se razoável a fixação da verba indenizatória por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). 6. Recurso especial provido. (REsp 1280372/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 10/10/2014) AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO DE VÔO. PERNOITE DE PESSOA IDOSA NO AEROPORTO. DANO CONFIGURADO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DO VALOR ARBITRADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A conclusão a que chegou o Tribunal de origem, acerca do valor da indenização por dano moral, decorreu de convicção formada em face dos elementos fáticos existentes nos autos. Alterar esta conclusão demandaria reexame de provas, o que atrai a incidência da Súmula 7/STJ. Ademais, o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) fixados a título de reparação moral em virtude de pernoite no exterior, em razão do atraso do vôo, e descumprimento quanto ao traslado para o aeroporto, Documento: 45296165 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 4 de 5 Superior Tribunal de Justiça não se distancia dos parâmetros desta Corte. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 452.080/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 03/06/2014, DJe 12/06/2014) AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO DE VÔO. PERNOITE DE PESSOA IDOSA NO AEROPORTO. DANO CONFIGURADO. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO DO VALOR ARBITRADO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A conclusão a que chegou o Tribunal de origem, acerca do valor da indenização por dano moral, decorreu de convicção formada em face dos elementos fáticos existentes nos autos. Alterar esta conclusão demandaria reexame de provas, o que atrai a incidência da Súmula 7/STJ. Ademais, o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais) fixados a título de reparação moral em virtude de uma pessoa idosa pernoitar no aeroporto, em razão do atraso do vôo, não se distancia dos parâmetros desta Corte. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 68.966/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 14/02/2013) Dessa forma, para modificar as conclusões consignadas no acórdão impugnado e concluir estar exagerado o quantum indenizatório como quer a parte recorrente, seria necessária a incursão no conjunto fático-probatório das provas e nos elementos de convicção dos autos, o que é vedado em sede de recurso especial (Súmula nº 7 do STJ). 4. Do exposto, nego provimento ao agravo. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 16 de junho de 2015. MINISTRO MARCO BUZZI Relator Documento: 45296165 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 18/06/2015 Página 5 de 5
Compartilhar